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Vocabulário Teológico do Evangelho de São João Juan Mateos & Juan Barreto

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Juan Mateos*Juan Barreto
VOCABULÁRIO
DE SAO JOAO
Este "Vocabulário" foi redigido para servir de índice- 
resumo do livro: O Evangelho de São João, de Juan Ma­
teos e Juan Barreto [publicado por Edições Paulinas). 
Inserem-se, em ordem alfabética e de forma orgânica, 
os conceitos fundamentais de João, aqueles que pulsam 
ao longo de todo o escri-to e Úie conferem peculiar fi­
sionomia. Ao separá-lo do tomo volumoso, a fim de dar- 
lhe circulação independente, acrescentaram-se novos 
termos no sentido de completar o conjunto,
O comentário ao Evangelho de São João de J. Mateos 
e J. Barreto, de que procede e a que se refere este "Vo­
cabulário'', parte de princípios hermenêuticos muito cla­
ros e peculiares, tão peculiares que talvez signifiquem 
uma mudança inédita na exegese bíblica: a interpreta­
ção do texto pelo próprio texto, dando-se atenção apenas 
à sua linguagem e ao ambiente cultural em que se es­
creveu o texto,
Este "Vocabulário" proporcionará ao leitor: familiari­
dade com a linguagem de João; relação de não poucos 
termos entre si; unidade literária e doutrinal do Evan­
gelho; o seu pano de fundo judaico e o seu sentido 
simbólico.
Juan Mateos e Juan Barreto são form ados em Sagrada Escritura pelo Pon­
tifício Instituto Bíblico e professores de exegese na Espanha,
GD
edEcões pdulínas
Dados de Catalogação na Publicação (CIP) Internacional 
(CSmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Mateos, Juan, S J.
M377v Vocabulário teológico do Evangelho de São loão / 
Juan Mateos, Juan Barreto . . . (et a l.); (tradução Alberto 
Costa; revisão Honótio tJalbosco). — São Paulo: Paulinas 
1989.
ISBN 85-05-00924-X
1. Bíblia. N.T. João — Glossários, vocabulários etc. í. 
Barreto, Juan, II. Título.
88-0960 CDD-226,503
índices para catálogo sistemático;
1. Evangelho de João: Vocabulário teológico 226.503
2. Vocabulário teológico: Evangelho de João 226.503
JUAN MATEOS — JUAN BARRETO
em colaboração com 
Enrique Hurtado, Angel Urban 
e Josep RiuS'Camps
VOCABULARIO TEOLOGICO
DO
EVANGELHO DE SÃO JOÃO
Edições Paulinas
Título original
Voc^ulario teologico del Evangelio de Juan
© Edícíones Crístiandad, Madrid, 1980
Tradução 
Alberto Cesta
Revisão
Honõrlo Dalbosco
EDIÇÕES PAULINAS
TELEX lin 39464 (PSSP BR) 
Rua Dr. Pinto Ferraz, 183 
04117 SAO PAULO - SP 
END. TELEGR.: PAULINOS
Com aprovaçio eclesiástica 
© EDIÇÕES PAULINAS - SÃO PAULO - 1989 
IS B N 85-05-00924-X
INTRODUCE'
Este vocabulário teológico integra, como índice temático, 
o comentário do evangelho de João publicado recente­
mente pela mesma editora. Todavia, no sentido de possi­
bilitar o seu uso independente foram completados os ver* 
betes em que se remetia ao comentário e se acrescentaram 
outros que parecia menos necessários enquanto constituíam 
apêndice à obra.
O vocabulário teológico
O vocabidário teológico propÕe-se sintetizar os dados 
dispersos ao longo de um ou vários escritos do Antigo ou 
Novo Testamento, em benefício do leitor desejoso de co­
nhecer com exatidão o conteúdo dos termos-chave que os 
caracterizam. Por sua índole teológica vai além da mera jus­
taposição de citações, e, por seu caráter sintético, prescin­
de da exegese em pormenores dos textos e utiliza os seus 
resultados. Supõe, pois, trabalho prévio que desentranhe o 
sentido das diversas passagens e descubra o seu significado, 
a fim de construir a síntese referente às correspondências 
ou oposições encontradas. A visão de conjunto assim obtida 
facilita enormemente a compreensão dos escritos: tal é a 
utilidade específica dos vocabulários deste gênero.
Na área do evangelho de João, este vocabulário com­
pleta os existentes, pois aqueles que abarcam o Novo Tes­
tamento inteiro, levando-se em conta a soma de escritos que 
o compõem, não podem prestar a cada um deles a atenção 
que merece. Em seu terreno, apresenta a vantagem de estar 
baseado em minuciosa análise do texto inteiro do evangelho. 
Por outro lado, quando se entrelaça em uma só síntese a 
teologia de diversos escritos, não vem à tona com suficiente 
clareza a concepção própria de cada um.
Depois dos primeiros e necessários ensaios de síntese 
teológica do NT, chega o momento de ser necessário que 
o estudo de cada autor ou escrito por separado preceda à 
síntese global. Este vocabulário, que se restringe a um único 
evangelho, pretende contribuir para a elaboração de uma 
teologia neotestamentária.
O vocabulário que se limita a um só escrito, neste caso 
o evangelho de João, familiariza o leitor com a linguagem 
da obra, a qual, em grande parte, era herdada do ambiente 
e cultura em que nasceu e, em determinada proporão, 
era linguagem “técnica” criada pela comunidade com o fim 
de expressar sua vivência cristã. O leitor daquela época 
aproxímava-se do livro j'á de posse de sua linguagem. O de 
nossos dias, afastado do ambiente original, encontra no voca­
bulário a iniciação a um modo de conceber e expressar-se 
que para ele é alheio, mas que é pressuposto indispensável 
para compreender o texto que lê.
O vocabulário, por outro lado, mostra a coerência do 
autor: os termos de que lança mio são portadores de con­
teúdo semântico que vai aflorando em passagens subseqüen­
tes e adquire matizes segundo os contextos. Indica também 
a relação ou equivalência de vários termos entre si e, de 
modo semelhante, a de imagens e símbolos. Assím o leitor 
evitará a confusão, ao dar-se conta da correspondência ou 
complementariedade dos termos, que expressam com freqüên­
cia a mesma realidade desde diferentes pontos de vista. 
Verá ao mesmo tempo a unidade do conjunto, penetrando 
cada vez mais na intenção do autor. Ela parte do fato da 
morte-exaltação de Jesus, prova máxima do amor de Deus 
para com a humanidade; formula, porém, esta realidade uti­
lizando expressões, alusões e símbolos, cuja variedade e be­
leza dão realce à mensagem que transmite, pondo diante 
dos olhos novas facetas da mesma e evitando a monotonia.
Uma conclusão flui do estudo do vocabulário: a eficácia 
da teologia simbólica de João. O símbolo, ponte entre o 
consciente e o inconsciente, atinge esferas do ser que ultra­
passam a mera compreensão intelectual; sua ressonância não 
se esgota, por ser produto de experiência e convite a parti­
cipar dela. A medida que ela se torna mais profunda, o
símbolo vai desvelando novos aspectos de sua riqueza. En­
quanto o mero conceito tende a se fazer independente do 
vivido, o símbolo vai acompanhando o indivíduo e o grupo 
no itinerário de sua experiência cristã.
Convém completar esta introdução com os pontos da 
introdução que precedem ao comentário, onde se descrevem 
a índole do evangelho de João e suas Hnhas-mestras,
Estrutura histórica ou teológica?
Adotada a hipótese de que este evangelho constitui 
obra unitária, é preciso determinar se sua estrutura responde 
a intenção preferentemente histórico-narrativa ou antes a con­
cepção teológica.
A tentativa de considerar o evangelho como narração 
de caráter puramente histórico tropeça basicamente com di­
ficuldades insuperáveis: anaHsando-se o texto como se fosse 
a obra de cronista, aparecem, por um lado, “saltos” na to­
pografia e incoerência na sucessão dos fatos e, por outro, 
omissão de dados, falta de lógica narrativa ou pormenores 
inverossímeis.
Entre os saltos topográficos sobressai a ordem dos ca­
pítulos 5 e 6. Jesus, que estava em Jerusalém, em plena 
controvérsia com seus adversários, encontra-se de repente, 
sem prévia transição, na Galiléia, à margem oriental do 
lago, acompanhado dos seus discípulos (6,1). Mais tarde, 
a barca que leva os seus discípulos situa-se subitamente “em 
terra”, assim como Jesus andava “sobre o mar” (6,12-21),
A falta de lógica na sucessão dos fatos sobressai no 
convite a sair que Jesus faz na metade do discurso da Ceia 
(14,31), ao passoque ele próprio continua o discurso, sem 
que se indique mudança de lugar ou movimento.
A omissão dos dados vê-se, por exemplo, na solene de­
claração de João Batista (1,29-34), onde está ausente toda 
menção de auditório; paralelamente, o grito final de Jesus, 
quando faz a síntese de sua atividade (12,44-50), ressoa no 
vazio, sem que se indique lugar nem público.
Outras vezes deixa-se a desejar a lógica narrativa: as­
sim, era Caná, a mãe de Jesus, notando a falta de vinho, 
dirige-se a ele, que é convidado, em vez de £azê-lo ao mes- 
tre-sala lá presente, encarregado do andamento do banquete 
(2,1-11), Neste mesmo episódio, Jesus “manifesta sua gló­
ria”, expressão solene, unica no evangelho, convertendo água 
em vinho; não, porém, mais tarde, quando dá vida a um 
moribundo (4,46h), faz andar um inválido (5,lss) ou dá 
a vista a um cego de nascimento (9,lss), obras que se 
diriam de maior importância.
Por outro lado, os números que aparecem em certos 
episódios tornam-se inverossímeis se se consideram somente 
do ponto de vista histórico: assim, era uma casa particular 
há seis talhas de oitenta a cento e vinte litros cada uma, 
destinadas somente à purificação (2,ó); Nicodemos compra 
pata embalsamar Jesus cera libras de aromas (19,39), quase 
quarenta quilos.
Por estes e muitos outros pormenores, o texto, lido em 
perspectiva puramente histórica, revela-se com freqüência des­
cuidado ou incoerente.
Estruturação teológica: suas linhas-mestras
De fato, o plano que estrutura o evangelho de João é 
teológico. Não se trata de biografia de Jesus (20,30), como 
também não se trata sequer de resumo de sua vida, e sim 
de interpretação de sua pessoa e obra, feita por uma comu­
nidade através de sua experiência de fé. Daí que o leitor 
terá que interpretar os fatos que encontra no texto, cuja 
historicidade não se pré-julga, atendo-se à finalidade do evan­
gelho, ou seja, como linguagem teológica.
Ora, uma vez aceito que este evangelho põe em pri­
meiro plano a interpretação teológica e a ela se subordinam 
os dados históricos, seria ilógico continuar considerando co­
mo problemas as dificuldades que o texto apresenta desde 
o ponto de vista histórico. Na leitura de João é ocioso dis­
cutir, por exemplo, se é mais exato que os sinóticos quando 
situa a expulsão dos vendilhões do templo no início da vida
pública de Jesus em vez de no final, O que antes de tudo 
interessa neste ou outros fatos ê o seu significado dentro da 
estrtitura teológica do evangelho e descobrir se, enfocados a 
partir dela, está justificada sua posição no conjunto,
A coerência de Jo não se buscará, portanto, na exatidão 
histórica, e sim na unidade temática, em relação com o seu 
plano teológico, Muitos dos “problemas” que criam difi­
culdade neste evangelho procedem apenas de posicionamento 
inicial defeituoso.
As linhas-mestras da teologia de Jo são duas: o tema 
da criação e o da Páscoa-aliança,
O tema da criação, que se abre no prólogo {l,lss), do­
mina a cronologia e dá uma chave de interpretação da obra 
de Jesus, Em primeiro lugar explica a série cronológica que 
aparece no início do evangelho (1,19: testemunho de João 
Batista; 1,29: no dia segumte; 1,33: no dia seguinte; 1,43: 
no dia seguinte; 2,1: no terceiro dia), cujo objeüvo é fazer 
coincidir o anúncio e início da obra de Jesus com o sexto 
dia, o dia da criação do homem, marcando assim o sentido 
e o resultado de sua obra: terminar esta criado, a qual cul­
minará com sua morte na cruz (19,30: Está terminado)^ 
que ocorrerá também no sexto dia, como o lembra o evan­
gelista em outra série de indicações (12,1: seis dias antes da 
Páscoa; 12,12: no dia segumte; 13,1: antes da Páscoa; 19, 
14,31,43: preparação da Páscoa),
Daí decorre que toda a atívidade de Jesus, até sua
morte, situa-se sob o signo de “o sexto dia”, indicando o
desígnio que a preside: dar remate à obra criadora, com­
pletando o homem com o Espírito de Deus (cf. 19,30;20,
22), O sexto dia abrange dois períodos; o da atividade de 
Jesus, “o Dia do Messias” (2,1-11,54; cf. 8,56), e “a Hora 
final”, que o consuma e coincide com o período da última 
Páscoa (11,35-19,42; cf, 12,23;13,1;17,1;19,14.27), entrela­
çando assim os dois temas principais,
A parte final do evangelho completa o tema da criação
em virtude de situar-se em “o primeiro dia” (20,1), que
indica o princípio e a novidade da criação terminada; é ao 
mèsmo tempo “o oitavo dia” (20,26), indicando sua pleni­
tude e seu caráter definitivo. Também a mensão do horto-jar- 
dim (19,42; cf. 20,15) alude ao do primeiro casal.
Os temas da vida e da luz, centrais no evangelho {l,4ss 
e passim) ^ bem como o do nascimento (l,13;3,3ss), estão 
na linha da criação.
O tema da Páscoa-aliança leva em si o do êxodo e, 
com ele, implica todos os temas subordinados: a presença da 
glória na Tenda da Reunião ou santuário {cf. 1,14;2,19-21), 
o cordeiro (1,29; 19,36), a Lei (3,lss), a passagem do mar
(6,1), o monte (6,3), o maná (6,31), o caminho ou segui­
mento de Jesus (8,12), a passagem da morte para a vida (5,
24), a passagem do Jordão (10,40). Está intimamente rela­
cionado com o tema do Messias (1,17) que, como outro 
Moisés, haveria de realizar o êxodo definitivo e, portanto, com 
o da realeza de Jesus (l,49;6,13;12,13s;18,5.7;18,33-19,22).
“O mundo” inimigo de Jesus e os seus (15,18ss), de 
onde ele ou o Pai tiram ( 15,19;17,6), é elemento do tema 
do êxodo (terra da escravidão).
O tema pascal domina o esquema das seis festas que 
enquadram a atividade de Jesus, Delas, a primeira (2,13ss), 
a terceira ou central (6,4) e a última (11,55; 12,1) são a 
própria festa da Páscoa.
Notar-se-á a insistência de Jo no número seis: sexto dia, 
sexta hora, seis dias antes da Páscoa, seis festas, seis talhas, 
Este numeto indica o incompleto, o preparatório, o período 
de atividade que visa a um resultado, O número sete só 
aparece numa ocasião designando a sétima hora (4,52) que 
segue à sexta e indica o fruto da obra consumada:' a vida 
que Jesus outorga.
O tema da criação e o da aliança (Páscoa) entrelaçam-se 
desde o início da atividade de Jesus (2,1-11), particular­
mente, na figura do Esposo, que é ao mesmo tempo o 
Messias que deverá inaugurar as novas núpcias-aliança (3,28­
29) o primeiro homem da criação nova, que se encontra 
com a esposa (a comunidade) no horto-jardim (20,lss).
A designação de Jesus como o Homem (o Filho do 
homem) pertence ao tema da criação, por designá-lo como 
o modelo de homem, o homem acabado. Também o título de 
“o Filho de Deus” (1,34 etc.), que indica a realização do
projeto divino, A designação “o Filho” abrange os dois e 
os une.
Das duas curas públicas que Jesus faz, a do paralítico 
(5,lss), a quem dá força para andar, situa-se na linha do 
caroinho e do êxodo, ao passo que a do cego (9,lss), a quem 
manifesta a luz, está na linha da criação do homem. Ambas, 
porém, estão unidas entre si pela menção de “cegos” em 
3,3. São numerosas as ramificações destes temas no evan­
gelho.
A união do tema da criação com o do Messias ( a nova 
Páscoa-aliança ) mostra que Jo sintetizou aspectos da teologia 
judaica precedente. O Messias, objeto da expectativa, identi­
fica-se com a Sabedoria-projeto criador (Pr 8,22ss) e com 
a Palavra divina criadora (Gn l,lss), que é também mensa­
gem e interpelação de Deus (Sabedoria que convida). As­
sim, Jesus é o Messias em virtude de ser, por um lado, o 
projeto de Deus realizado, o Homem (cf. 1,14, realidade do 
Messias) e, por outro, a Palavra de Deus criadora e eficaz 
(1,17, a missão do Messias). Assim se explica a correspon­
dência entre os episódios da samaritana e do cego. Ao reco­
nhecimento de Jesus como profeta, comum a ambos (4,19;9, 
17), ocorre, num caso, a sua revelação como Messias (4,25­
26), e, no outro, como o Homem (9,35-37), evidenciando 
a afinidade das duas expressões. Jo demitificaa idéia de 
Messias (cf. 7,27) e concentra a espera, que vê realizada em 
Jesus, na figura do Homem acabado. O modelo de homem 
(tema da criação) é o modelo da humanidade e o seu li­
bertador (Messias-Filho de Deus, tema da Páscoa).
A relação entre as duas linhas teológicas pode-se con­
ceber assim: O desígnio de Deus consiste em dar remate à 
criação do homem comunicando-lhe o princípio de vida que 
supera a morte (o Espírito); em fazer do “homem-carne” o 
“homem-espírito” (3,6), passagem que exige a opção livre 
do homem (3,19). A realização deste desígnio opõe-se, po­
rém, o fato de que o homem, enganado e submetido pelas 
forças maléficas (1,5: as trevas; 8,23: o mundo/esta ordem) 
renunciou à plenitude a que o destina o projeto criador, 
paí a necessidade de salvador (4,42), o Messias ( 1,17), que 
o faça sair da escravidão em que se encontra (1,29: o pecado
do mundo; tema do êxodo), dando-lhe a capacidade de 
opção, e acabe nele a obra criadora (1,17; cf. 1,33: batizar 
com Espírito Santo). A linha primária é, pois, a realização 
do desígnio criador.
Ao pressuposto de um plano teológico estruturante do 
evangelho corresponde uma atitude de desconfiança sistemá­
tica de todo a prtori que pudesse vir a influir em sua leitura. 
Foi feito esforço no sentido de não projetar sobre o texto 
concepções alheias ao mesmo. Por isso, na interpretação de 
João evitou-se, deliberadamente, toda comparação com ou­
tros escritos do NT, cuja visão teológica, elaborada segundo 
plano diferente, ou respondendo a situações diferentes, pu­
desse ter introduzido elementos estranhos à de João. Essa 
precaução foi estendida também aos escritos joaninos (cartas 
de João, Apocalipse) por não constar a identidade de autor 
nem de época entre eles e o evangelho. Por outro lado, na 
primeira carta de João, apesar de suas inegáveis afinidades 
com o evangelho, aparecem também discrepândas; basta ci­
tar a diferente concepção de pecado ou a preocupação da 
carta com os problemas da comunidade, que não encontram 
lugar neste.
A comparação entre os diferentes escritos do NT seria 
certamente muito útü, mas representa passo posterior à aná­
lise de cada obra em separado. De fato, o estudo paralelo de 
perícopes isoladas em diferentes escritos corre perigo de de­
formar o seu sentido, pois, ainda que a temática seja comum, 
encontram-se integradas, de acordo com a obra de que são 
parte, em conjunto ou estrutura teológica diferente que pode 
imprimir-lhes significado ou matíz particular.
O ponto de arranque
A teologia de João parte da realidade humana de Jesus 
que se tornou patente na sua morte. Este é o fato central 
do evangelho; Jesus foi condenado à morte e executado por 
uma instituição que não o aceitou, por considerá-lo perigoso 
para os seus interesses políticos, econômicos e religiosos, de­
fendidos pela interpretação da Lei em que se apoiaram para 
dar-lhe a tnorte-
O evangelista parte dessa realidade de Jesus e utiliza 
para expressá-la e expÜcá-la a linguagem de sua cultura, fa­
miliar para ele e para os seus destinatários, que põe a serviço 
de sua teologia. Sendo esta linguagem somente instrumento, 
cita livremente os antigos textos (13,18) e, se for preciso, os 
muda, omitindo frases ou combinando várias de procedência 
diversa. Em 12,15, por exemplo, reúne passagens de Sf 3 e 
Zc 9 com o fito de elaborar um texto composto que aluda 
ao mesmo tempo à universalidade (Sf 3,9) e à não-violência 
(Zc 9,9) do rei que vem, interpretado pela multidão, se­
gundo Sf 3,15, como o rei de Israel. Embora as citações ex­
plícitas do AT não passem de treze no evangelho, são muito 
numerosas, contudo, as alusões, quer a passagens concretas, 
quer, sobretudo, a temas teológicos. Também a alusão pode 
não ser única; no episódio de Natanael, para citar um caso, 
entram em jogo o texto de Sf 3,12.13 acerca do resto de 
Israel e de seu rei, e o de Os 9,10 {como primeiro fruto na 
figueira), para renovar em Natanael a eleição do antigo povo.
Outras vezes João faz releituras de passagens do AT 
(4,3ss, Oséias; 6,lss, Êxodo: 20,lss, Cântico) ou usa a sim- 
bologia das festas a fim de ilustrar a pessoa e a obra de 
Jesus (festa das Tendas: 7,37-39, motivo da água; 8,12, 
motivo da luz). Visando a sintetizar em tima passagem o 
significado messiânico de várias delas, introduz, por exem­
plo, na terceira Páscoa o motivo dos ramos de palmeira (o 
lulãb, 12,12), próprio da festa das Tendas (7,lss) e da 
Dedicação ou Tendas do inverno (12,22).
O emprego do AT em João é, como se vê, extrema­
mente livre, A razão é que o evangelista não pretende fazer 
uma síntese eclética da diversas correntes teológicas do AT, 
visando a apresentar a figura de Jesus, fabricando um mo­
saico composto de grande quantidade de peças. Para João, a 
novidade de Jesus é radical, e usa, a fim de expressá-la, lin­
guagem elaborada durante séculos e disponível no seu tempo. 
Por isso não leva a nada seguir a linha teológica isolada de 
um texto que cita ou a que alude, como se fosse filão que 
tivesse sentido por si mesmo separado da visão total do
evangelista, Esta tendência a basear-se em tenno isolado foi 
precisamente o que criou tanta dificuldade para a 'interpre­
tação do prólogo. Pelo contrário, é preciso buscar a coerência 
de João no dado primordial, a vida e morte de Jesus, pois 
somente ela permite aferir o sentido exato de sua linguagem.
Considerando, por exemplo, as alusões ao livro apoca­
líptico de Daniel, que aparecem ein 5,28s, é preciso pergun­
tar-se o que significam na pena de João. Tendo-se presente 
que ele, em toda a sua obra, remete-se constantemente à 
realidade humana de Jesus e, em particular, à sua morte 
(2,4: a sua hora), como manifestação definitiva da glória- 
amor de Deus para com a humanidade, vê-se que, para João, 
toda a espera do AT alcança o seu cumprimento nessa rea­
lidade humana e neste fato; as esperanças apocalípticas reali­
zam-se em Jesus, mas no Jesus homem crucificado. Assim de- 
mitifica a escatologia, integrando-a na história. Ou seja, para 
interpretar este texto de João não se pode partir da teologia 
de Daniel, e sim da teologia do evangelista, e ver nas alusões 
ao profeta um modo de expressão de que se.serve, transpon­
do-o para a chave histórica, no sentido de expressar como Je­
sus é a norma não só do presente, mas também do passado.
Ao se concentrar toda a tensão do AT na morte de 
Jesus ou, melhor, em Jesus crucificado, a esperança acumu­
lada na Escritura adquire dimensão histórica e concretude hu­
mana. A cruz de Jesus é o ponto de chegada para onde João 
faz convergir as diversas Unhas teológicas do AT, Repetindo 
o que dissemos antes, podemos dizer que ele não recompõe a 
figura de Jesus a partir do variado espectro teológico vetero- 
testamentário, mas, pelo contrário: olha o AT a partir da 
realidade concreta e tangível do crucificado e daí interpreta o 
antigo ou se serve simplesmente dele como linguagem para 
expressar sua experiência de Jesus.
SIGLAS DOS LIVROS BÍBLICOS
Os livros bíblicos são citados abreviadamente segundo 
A Bíblia de Jerusalém, de Edições Paulinas.
O lnesis............................................................Gn Joe l...................................................................... Jl
ÊJíodo........................................................... Ex Amós............................................................Am
Levitico.........................................................Lv Abdias...........................................................Ab
Números.....................................................Nm Jonaí.............................................................. Jn
Deuteronômio..............................................Dt Miquéias.......................................................Mq
Naum...................................................... ....Na
Josué..............................................................Js Habacuc..................................................... Hab
Juizes.............................................................Sz Sofonias.........................................................Sf
Rute...............................................................Rt Ageu.............................................................. Ag
Samuel............................................. ISm, 2Sm Zacarias.........................................................Zc
Reis....................................................JRs, 2Rs Malaquias..................................................... MJ
Crônicas............................................ iCr, 2Cr
Esdras......................................................... Esd
Neemias........................................................Ne Mateus...........................................................Mt
Tobias.......................................................... Tb Marcos.......................................................... Mc
Judite............................................................. Jt Lucas.............................................................. Lc
Ester............................................................. Est Joâo ................................................................Jo
Macabeus.........................................IMc, 2Mc Atos dos Apóstolos.............. ...................... At
Romanos..................................................... Rtn
J ó .................................................................Jó Coríntios...................................... ICor, 2Cor
Salmos............................................................Si Gálalas............................................................Gl
Provérbios....................................................Pr Efésios........................................... ............... Ef
Eclesiastes (Coéiet)....................................Ecl Rlipenses....................................................... H
Cântico......................................................... Ct Colossenses....................................................Cl
Sabedoria..................................................... Sb Tessaionicenses...................................ITs, 2Ts
Eclesiástico (Sirácida)............................Eclo Timóteo............................................ !Tm, 2Tm
Tito................................................................Tt
Isaías...............................................................[s Filemon......................................................... Fm
Jeremias......................................... ............... Jr Hebreus.........................................................Hb
Lamentações..............................................Lm EpistoladeTiago.........................................Tg
Baruc............................................................. Br Epístolas de Pedro...........................IPd, 2Pd
Ezequiel...................................................... Ez Epístolas de João....................IJo, 2Jo. 3Jo
Daniel...........................................................Dn Epístola de Judas........................ ................Jd
Oséias............................................................Os Apocalipse....................... ............................ Ap
OUTRAS ABREVIATURAS
acus (ativo) ingress (ivo)
adj(etivo) lit(eralmente)
adv(érbio) loc(ução)
aor (isto) oraç(ão)
aram (eu) paral{ elo)
art(igo) part(icípio)
cf. — compare-se partíc(ula)
dat(ivo) pess(oal)
dur{ ativo) pf. = perfeito
ex(emplo) pl. — plural
explicat(ivo) mais que pf.
fut( uro) pres(ente)
genit(ivo) pron(ome)
gr. = grego punt(ual)
hebr(eu) rekt(ivo)
ib. — no mesmo lugar sent (ido)
impf, = imperfeito sg. == singular
Ímper( ativo) subj(untivo)
incoat(ivo) sucess(ivo)
Índicat(ivo) trad(uçlo)
infin(iüvo) V. veja-se
Um número entre colchetes indica as vezes que o ter­
mo grego precedente aparece em Jo, As palavras que le­
vam o sinal remetetn a outros verbetes do índice.
A braão
Gr. Abraam [10], lakôb [3], íôsêph [1], boi pateres, 
os pais/patriarcas/antepassados [5].
I. Abraão. Este nome só aparece na controvérsia de
Jesus com os dirigentes no templo (3,33-58). Ser descenden­
te de Abraão não assegura a condição de homem livre 
(-^ Liberdade I) , pois Abraão teve um filho escravo (8, 
33-34), nem, portanto, o direito à promessa. Ser ÍÜho de 
Abraão significa proceder como ele (8,37-40), Jesus, negan­
do que o modo de agir dos dirigentes seja o de Abraão, 
acusa-os de idolatria, pois se di2ia que quem não realizava 
as obras de Abraão realizava as do seu pai, que era idólatra 
(8,40). _ _ _
Os dirigentes afirmam repetidamente (8,52.53) que 
Abraão morreu; com essa frase Jo indica que a absolutização 
da Lei (—^ Lei Ilb ) levou-os a se esquecerem da promessa, 
anterior à Lei, que imprimia o dinamismo a todo o AT. 
Jesus alude precisamente à promessa do descendente (—^ o 
Messias), que causou a alegria de Abraão (8,56). Os diri­
gentes pretendem ridicularizar a afirmação de Jesus, obje­
tando-lhe sua idade (Abraão é uma figura do passado). 
Jesus lhes declara de novo ser o descendente de Abraão e 
afirma que, enquanto JMessias, é anterior a Abraão no de­
sígnio divino (8,58).
II. Isaac nunca é nomeado neste evangelho, embora exis­
tam várias alusões à sua figura. Em primeiro lugar, a contida 
em 3,16: o dom do Füho único da parte de Deus alude 
ao que fez Abraão do seu filho. Em segundo lugar, Jesus, 
que carrega a cruz, faz referência à figura de Isaac, que, 
segundo os comentadores judeus, carregara voluntariamen­
te a lenha para ir ao sacrifício (19,17).
III. Jacó aparece somente numa narração (4,5,6.12) co­
mo doador do poço aos samaritanos. Sua qualidade de pai 
do povo (4,12) eclipsa-se pela nova paternidade de Deus
(4,21.23), que dá origem a um povo universal (-> Pai II) .
Existe, porém, alusão a Jacó na promessa de Jesus 
aos seus primeiros discípulos (1,51). Apóia-se no episódio
de Betei, quando Jacó viu em sonho a rampa que unia o 
céu com a terra (Gn 28,12s). A interpretação do judaísmo 
vira em Jacó o homem sobre quem repousava a glória de 
Deus: Jesus declara que ele próprio é o Homem em quem 
reside a plenitude da glória (cí. 1,14) e anuncia aos discí­
pulos essa visão, que se verificará na cruz, onde brilhará 
o seu amor (a glória) até ao estremo (cf. 19,37: Verão 
aquele que transpassaram).
IV. José, o filho de Jacó, é mencionado uma só vez 
como aquele que recebeu do seu paí Jacó um terreno perto 
de Sicar, na Samaria (4,3).
V. Os pais designam em uma ocasião os patriarcas, em 
particular Abraão, que recebeu de Deus o preceito da circun­
cisão (Gn 17,12), que Moisés apenas repetiu na Lei (Lv 
12,3 ) e que tinha precedência sobre os preceitos desta, Jésus 
menciona este fato visando a mostrar que há instâncias que 
expressam a vontade de Deus acima da Lei (7,22),
Nos demais casos, “os pais” são os antepassados e re­
presentam o peso da tradição, que pode ser obstáculo para 
reconhecer a Jesus. Assim, para a samaritana, são os antepas­
sados que erigiram o templo de Garizim e aí prestaram culto
(4,20), Nos lábios do povo de Caíarnaum, são os que 
comeram o maná no deserto, ou seja, os que presenciaram 
o prodígio feito por Moisés (6,31); Jesus lhes lembra duas 
vezes que aquele prodígio foi inútil, pois não os livrou de 
morrer no deserto (6,49.58).
Á G U A
Gr, hydôr [21], cf, hydria, vasilha para água, talha, 
cântaro [ 3 ],
I. A água da ruptura. A água caracteriza o batismo de 
João (1,26,31.33), por oposição ao batismo do Messias, que 
batiza com Espírito Santo (1,33). Segundo os dados do tem­
po, o batismo com água, ou seja, a imersão, simbolizava uma 
mudança de situação, em particular a liberdade para o es­
cravo ou a mudança de rdigião para o prosélito. Em todo
caso, expressava a ruptura com um passado,que era sim­
bolicamente sepultado na água.
No ambiente de descontentamento com a instituição ju­
daica próprio da época, o batismo de João, que se coloca 
para além do Jordão (1,28), fora do território propriamente 
judaico (a passagem do Jordão significou a entrada na terra 
prometida, cf. Js 3; —)■ Betânia II) , é sinal de ruptura com 
aquela iastituição, e, ao mesmo tempo, de esperança no Mes­
sias que haveria de se tnanifestar a Israel (1,31) (-» João 
Batista II) .
Os discípulos de João que não seguiam a sua mensa­
gem anunciadora do Messias, por não considerarem o batis­
mo como uma preparação que levaria a Jesus (3,26), o des­
virtuam, assemelhando-o a uma purificação ritual (3,23).
II. A âgua-vinho da purificação. O tema da água apa­
rece pela segunda vez nas núpcias de Caná (2,1-11), As 
talhas de pedra, figura da Lei (tábuas de pedra), destinadas 
a conter água para a purificação, estão vazias (cf. 2,7: 
Enchei as talhas de âgua): a antiga Lei não pode purificar, 
Uma vez que João caracterizava sua missão como a da água 
e a de Jesus como a do Espírito (veja-se antes I), é signifi­
cativo que no começo de sua atividade Jesus transforme a 
água em vinho. Caracteriza assim sua obra como a passagem 
da aliança antiga para a nova.
Fazendo encher as talhas de água, Jesus significa sua 
vontade de purificar (restabelecer a relação com Deus), o 
que a antiga instituição não conseguira fazer; ao converter 
em vinho somente a amostra de água que oferece o mestre- 
-sala (2,9), explica que sua purificação é independente da 
Lei da antiga aliança (a água foÍ tirada das talhas). Sua 
purificação não se fará a partir de fora (água que lava), e 
sim a partir do interior do homem (vínho que se bebe, iO 
Espírito). A purificação, associada sempre à idéia de aflição 
ritual (liturgia penitencial), passa para o campo da alegria 
e da festa, dada pelo vinho do Espírito nas novas núpcias- 
-aliança,
III, A âgua-Esptrito. Além da oposição entre as duas 
alianças que se estabelece em Caná, Jo, assumindo a lingua­
gem dos profetas (cf. Is 32,13-18; Jo 3,12; Zc 12,10), 
faz da água o grande símbolo do Espírito.
A primeira vez que se associam água e Espírito é em
1,33: o que batizará com Espírito Santo; o verbo ‘‘batizar” 
não tem neste caso o significado de “submergir”, mas de 
“embeber'’, como a chuva (cf. Is 44,3: alento = Espírito), 
de acordo com o duplo sentido do verbo grego. Compara-se 
o Espírito com água que penetra no interior do homem e 
lhe dá vida e fecundidade.
A infusão da vida pela água-EspírÍto compara-se com 
novo nascimento que permite entrar no reino de Deus (3,5); 
é princípio de vida definitiva, em oposição à “carne”, que 
produz somente vida transitória (3,6) {-^ Came 1; Espírito 
Vb; Vida IIc).
Essa água-Espírito substitui a Lei, como aparece na ce­
na de Caná (água-vinho = Espírito) e, mais tarde, no epi­
sódio da samaritana, onde o manancial de Jesus (4,6.14) 
substitui o poço de Jacó, também íigura da Lei (4,12); é, 
pois, o guia interior da conduta do homem. A água-Espírito é 
designada agora como a água viva que, em oposição à Lei, 
mata a sede do homem. É de mais a mais fato personalízante, 
por transformar-se em manancial interior que fecunda o seu 
ser (4,14): rega "a terra” de cada um, desenvolvendo nele 
suas próprias capacidades. Assím como em 3,3 se identifica 
com a que jorra do lado de Jesus (3,3.7: de novojdo alto; 
cf. 19,34) (-5C Céu II) , aqui se concebe como água que se 
bebe e se torna princípio interno de vida {4,14), A condição 
para receber esta água é acolher Jesus em sua humanidade 
(4,7: Dá-me de beber). A água que expressa amor e acolhi­
mento Jesus responde com a água do EspírÍto-amor. O con­
trário ocorrerá na cru2, quando, ao pedido de água (19,28: 
Tenho sede) responderão com o vinagre do ódio (19,29). 
Exemplíficam-se assim as reações, positiva e negativa, enun­
ciadas no prólogo (1,12: quantos o acolheram; 1,11: os seus 
não o acolheram).
A água-Espírito aparece também em 7,37-39, onde se 
identifica explicitamente com o Espírito que, neste caso, 
brota de Jesus novo templo, segundo o simbolismo próprio 
da festa das Tendas (7,37) (-» Festa V I). Nos rios de
água que jorram de suas entranhas (7,38) há alusão à rocha 
do deserto que coincide com a água do novo templo, segundo 
a síntese efetuada no judaísmo de todas as fontes de água 
que apareciam no AT; poços dos patriarcas, rocha do deser­
to, novo templo etc. Este simbolismo complexo transfere-se 
para a água que brota do lado de Jesus na cruz (19,34), 
momento da manifestação de sua glória (cf. 7,39).
IV, A âgua do serviço. Na Ceia, Jesus lava os pés de 
seus discípulos com água que ele próprio derrama na bacia
(13,3). Pedro interpreta o lava-pés como purificação ritual
(13,9), mas Jesus corrige essa idéia (13,10). Os iscípulos 
estão puros/limpos por terem aceito sua mensagem (15,3;
13,10), A ação de Jesus é serviço que expressa o seu amor 
até ao extremo (13,1,4) e que deixa como exemplo para os 
seus (13,15), O lava-pés encena o mandamento de Jesus 
(13,34s), que é a mensagem que purifica (13,3) (-> Man­
damento III) .
A única fonte de purificação é o amor de Jesus, expres­
so até ao extremo na cruz, o seu máximo serviço ao ho­
mem, o qual, ao aceitar este amor, que é mensagem (15,3) 
e mandamento (13,34s), ou seja, ao querer conformar sua 
vida à de Jesus no serviço ao homem (13,34: Como eu 
voí amei), recebe o Espírito-amor que o purifica. Respon­
dendo com o seu amor-serviço ao impulso do Espírito, purifi­
ca-se incessantemente, pois as exigências de Jesus comunicam 
o Espírito sem medida (3,34) (-^ Mandamento V),
A água significava em Caná que o Espírito-amor purifica 
o homem; no lava-pés, que o amor serviço o purifica, o 
amor-serviço que é resposta ao Espírito e fonte de Espírito 
(cf. 3,34), que expressa a adesão da comunidade à mensa­
gem de Jesus expressa em sua morte.
V. A água da vã esperança. Além da água da Lei, in­
capaz de matar a sede do homem (4,14), encontra-se no 
evangelho outra água de sentido negativo: a da piscina das 
Ovelhas, que representa a vã esperança de cura (5,7); a 
agitação da água figura as turbulências populares contra a 
insrituição dominante, condenadas ao malogro. O nome de 
SÜòé (o Enviado), aplicado à segunda piscina (9,7), onde
O cego obtém a vísta, alude a Is 8,6: as águas-, de Siloé que 
correm mansamente, e se opõe assím à de 5,7. Sendo a 
piscina do Enviado (Jesus), esta água identífíca-se com o 
Espírito.
A leg r ia
-!► Bodas III; Fruto V, Nascimento III.
A l ia n ça
—> Bodas I; Espírito IV; Lei Ila; Messias III; Moisés 
II; Mulher II, III , IV.
A m ig o
Amor I, IV, VI, IX; Irmão I; Liberdade V III.
A m o r
Gr. cbaris, amor gratuito e generoso, favor, graça, dom 
(4); aga-pê, amor (7); agapaô, amar (36); phÜos, amigo
(6); phileô, querer como amigo (13).
I. Termos. O amor é designado em Jo com dois subs­
tantivos: cbaris, o amor gratuito e generoso que se traduz 
em dom ( l,14.16bis.l7), e agapê, que neste evangelho sig­
nifica o amor enquanto é entrega de si (5,42;13,35;15,9, 
10bis.l3;17,26), praticamente sinônimo de cbaris. O verbo 
correspondente, agapaô, usa-se com freqüência com valor 
manifestativo: mostrar, demonstrar, manifestar o amor (3, 
16; 17,17; 14,21.23; 15,9), Na realidade, dado que agapê, 
agapaô têm em grego vasto campo de significado, o uso de 
cbaris no prólogo serve para determinar o significado de 
agapê, agapaô no corpo do evangelho.
Jo usa também o termo pbilos, amigo, a fim de denotar 
o vínculo de amizade que estabelece relação de iguais (opos-
to a “servo”; cf. 15,15), O verbo phãeô tem a mesma 
conotação.
II. Equivalências. A cbaris, o amor gratuito, qualificado 
de “leal” (1,14: hendíadís cbaris kãi alêtheia), equivale à 
“glória”, a qual, por seu traço de luniinosidade, significa o 
esplendor do amorleal, ou seja, sua visib’Jidade e sua evi­
dência ao ser manifestado (1,14.17) (—>■ Glória II) .
A glória-amor leal que o Pai comunica ao Filho identi­
fica-se, por outro lado, com o pneuma, o Espírito ( l,14.32s); 
ele é cbaris, o dom do amor que os discípulos recebem da 
plenitude de Jesus (1,16: de sua plenitude todos nós temos 
recebido: amor que responde ao seu amor; cf. 20,22: Kece- 
hei Espírito Santo). O Espírito significa o amor enquanto 
é dinamismo e força interior (4,24: Deus ê Espirito), prin­
cípio de vida que tende a comunicar-se e se torna visível 
na atividade.
A identificação de “a glória” ( = amor leal/Espírito) 
com a agapê aparece no paralelo entre 17,22: a glória que 
me deite eu a dei a eles, e 17,23: lhes demonstraste o teu, 
amor como mo demonstraste a mim (cf. 15,9) e pela com­
paração entre 17,26: para que este amor com que tu me 
tens amado esteja neles e 14,17: [o Espirito da verdade] 
estará em vós.
O termo alêtheia, no seu sentido de “lealdade”, quali­
ficação de charis (1,14.17: cbaris kai alêtbeia), usa-se tam­
bém somente para indicar o amor leal (3,21: o que pratica 
a lealdade = o amor leal) (-> Verdade I, II I) .
Logos, mensagem, significa a prática do amor enquanto 
mensagem que é preciso escutar e a que é preciso ater-se 
(5,24;8,31;14,24), Entolê, mandamento, denota a mesma 
realidade do amor enquanto é norma de vida (13,34) (—?■ 
Palavra I; Mandamento II I) .
Vida, zôê, está em relação com o amor enquanto ele 
(o Espírito) é princípio vital; daí que a comunicação do 
Espírito séja comunicação de vida (cf. 6,63} (—> Vida IIc).
A verdade, alêtheia, desde o ponto de vista subjetivo, 
é então a experiência de vida que produz a prática do 
amor (8,31s) (-^ Verdade Ilb ).
III, Símbolos do amor. Os símbolos do amor que Je­
sus comunica aos homens são os do Espírito (—> Espírito
I, IV). Na cruz, o sangue e a água que saem do lado de 
Jesus (19,34) simbolizam o seu amor pelo homem, que 
chega ao ponto de dar sua vida (sangue: amor demonstrado, 
a plenitude de amor e lealdade; cf. 1,14) e o amor que 
comunica aos homens (água; amor comunicado, o amor e a 
lealdade = o Espírito; cf. 1,17;7,39).
A permanência do amor de Jesus manifestado na cruz 
indica-se com o símbolo do lado aberto depois da ressurrei­
ção, que torna patente sua morte passada e continua sendo 
a fonte do Espírito (20,20.25,27).
Símbolo do amor como serviço é o pano que Jesus se 
ata a fim de lavar os pés dos discípulos (13,4) e que man­
terá posto (13,5), sem tírá-lo ao retornar ao seu lugar à 
mesa (13,12).
IV. O amor de Deus: o Pai. a) Característica de Deus 
como Pai é a plenitude de amor e lealdade (1,14), que 
eqüivale a ser Espírito (4,24), força e dinamismo de amor. 
Daí que a presença da glória (o amor leal) seja sua própria 
presença (1,14;12,45;14,9) (-> Pai II) .
O amor de Deus é universal, atínge a humanidade in­
teira (3,16: o mundo) e o demonstra chegando ao ponto 
de dar o seu FÜho único (ibd.). O propósito do seu amor 
é que o homem não conheça morte, mas que tenha vida 
definitiva (3.16: e nenhum pereça; 3,18: não seja julga­
do — não seja condenado a morrer; cf. 6,39) (—> Juízo I) . 
Uma vez que o amor é o único princípio de vida definitiva, 
para recebê-la é preciso dar adesão a Jesus, o Homem le­
vantado ao alto (3,14a), modelo de amor até ao extremo
(13,1.34), tomando sua vida e morte como norma de sua 
própria vida (6,53s: comer a sua carne e beber o seu san­
gue). _
b ) O Pai ama o FÜho e amou-o desde antes de existir o 
mundo (17,24), ou seja, o Pai previa a realização do seu 
projeto em Jesus e o seu amor o impulsionava a realizá-lo 
(1,1; a Pdavra/Projeto âirigia-se a Deus). Demonstra o 
seu amor a Jesus comunicando-lhe a plenitude de sua glória.
O amor leal (1,14), o Espírito, que é a definição do próprio 
Deus (l,32;4j24). Fá-lo assim ígual a si, partidpatite de 
toda a sua riqueza (1,14: a glória-amor); tudo põe em 
suas mãos, constituindo-o herdeiro universal (3,35); por 
isso, tudo o que é do Paí é do Filho e o que é do Filho 
é do Pai (17,10); por amor, ensina-lhe tudo o que faz 
(5,19s), de modo que a atividade do Filho é a do Pai (5, 
17.21.26) e o Pai está sempre com Jesus (8,29; 16,32),
A resposta de Jesus ao amor do Pai, sua disposição a 
entregar a vida, faz com que o Paí lhe demonstre continua­
mente o seu amor (10,17; cf, 13,9), em outros termos, 
lhe comunique continuamente o seu Espírito.
A comunicado plena do Espírito (l,32s; cf. 15,9; 17, 
26) fez de Jesus o Homem-FÜho de Deus (1,34) ( Es­
pírito II I) . O amor do Pai para cora Jesus é amor de ami­
zade (5,20: O Pai quer bem [philei] ao Filho), baseada na 
igualdade e identificação que cria a plena comunicação da 
glória-Espírito (10,30: Eu e o Pai somos um; 10,38: Eu 
estou identificado com o Pai e o Pai comigo; cf, 14,10,11b, 
2 2 ),
c) O Pai quer bem também aos discípulos com amor 
de amizade porque eles querem, por sua vez, bem a Jesus e 
lhe dão sua adesão (16,27: phileô). Mediante Jesus e em 
Jesus ele os ama como amou a Jesus, e o demonstrou co­
municando-lhes o Espírito por seu intermédio (17,32.26; 
19,30), A quem responde ao amor cumpriado a mensa­
gem de Jesus, o Pai demonstra o seu amor vindo com Jesus 
e ficando para viver com o discípulo (14,23), tornando-se 
companheiro de vida.
As características do amor do Pai, que é modelo para 
todo outro amor, é, portanto, a comunicação plena e inteira 
de sua riqueza (glória/amor/Espírito/vida), que faz de Je­
sus o Deus gerado, igual ao Pai, capaz de amar como ele 
e vivendo na intimidade e comunhão perfeita com ele (1, 
18: face a face com o Pai; 17,11). Tal é o objetivo do 
seu amor também para com os homens, por intermédio de 
Jesus (17,22), Sua oferta é universal, sem nenhuma ex­
ceção; cabe ao homem torná-la eficaz com sua aceitação.
V. Amor de identificação e amor de entrega, a) O amor 
do Pai para com Jesus e para com todo homem evidencia-se 
na entrega de si mesmo pela qual comunica sua própria glóría 
(1,14), o Espírito-amor, princípio de vida. Sendo o amor 
força de integração e unidade, quem aceita e recebe o Es­
pírito permanece unido ao Pai pela comunhão que cria 
participação do mesmo amor.
b) Jesus, que recebe a plenitude do Espírito {l,32s), 
é “um” com o Pai (10,30), está identificado com ele (10, 
38;14,9s); a resposta ao amor do Pai é a entrega de si 
mesmo aos homens (14,31), pela qual comunica o amor 
do Pai e seu (19,30: o Espírito) e lhe dá eficácia (6,39.40).
c) O discípulo recebe de Jesus o Espírito-amor que 
Jesus recebe do Pai ( 1,33;15,26;20,22; cf. 17,22: a glória), 
ficando dessa forma integrado na “unidade”, identificado 
com Jesus e, através dele, com o Pai, a nível comunitário
(14,20) e pessoal (14,23). Integrado na unidade do amor, 
responde ao amor recebido (1,16) com a entrega pelo ho­
mem igual à de Jesus (13,34: Como eu vos amei). AmpHa-se 
assím progressivamente o âmbito de “o uno” (17,llb.21.
22.23) de onde irradia o amor à humanidade; nele está 
ativo o amor do Pai, que é o de Jesus e o dos seus.
Esta unidade no amor (“o uno”) constitui o reino de 
Deus (-» Deus II, —> Unidade I).
VI. O amor de Jesus, a) Jesus ama o Pai e o mani­
festa com sua entrega, cumprindo o seu mandamento/ordem
(10,18) (-» Mandamento II) , que o leva a dar sua vida 
pelo homem (14,31); ou seja, expressa o seu amor ao Pai 
amando o homem até ao extremo, como ele e em união 
com ele (13,1). Etemonstra assim sua identidade de desígnio 
com o Pai Ê a sua entrega ao homem que o
identifica com o Pai e o mantém no âmbito do seu amor
(15,10); o amor aos seus é a resposta de Jesus ao amor 
que o Pai demonstrou a ele (15,9).
b) Jesus se entrega pela humanidade inteira (10,11: 
as ovelhas, sem limitação) e a todos oferece sua mensagem 
de vida (5,25; 10,3a). Manifesta o amor do Pai aos homens 
mediante os seus sinais (-^ Sinal II I) , que culminamem
sua morte, manifestação suprema do seu amor ( 15,15)? pel^ 
qual Jesus põe à disposição do homem toda a sua riqueza 
{o Espírito), a mesma que o Pai tínha comunicado a ele 
( 19,30;l,32s; cf, 1,14.16.17). Comunica-o quando o seu 
amor atinge o ato supremo, superando o ódio mortal dos 
seus inimigos. Amando até ao extremo, pelo total dom de si, 
é igual ao Pai Criação IVb). Essa é a meta que propõe 
aos seus discípulos (13,34: Como eu vos amei).
O seu amor pode ser eficaz para com aqueles que es­
cutam a sua mensagem (5,25; 10,3b) e lhe dão sua adesão 
(3,16;6,39: o que o Pai me entregou; 6,40: toâo o que 
reconhece o Pilho e lhe presta adesão ; 10,3b: suas ovelhas; 
10,14.26; 12,46; 18,37: Todo o que pertence à verdade).
c) Jesus ama aos discípulos ( 11,5;13,1;13,34;14,21;15, 
9.12). Um discípulo não nomeado, seu amigo íntimo e con­
fidente, é o protótipo deste vínculo de amor ( 13,23; 19,26; 
20,2;21,7.20) (-» Discípulo Illd ), O amor de Jesus para 
com os seus é amor de amizade, que, como o amor do Pai 
para com o Fílho (5,20), exclui a submissão e a distância 
próprias do servo (15,13-15); a amizade baseia-se no cum­
primento do que Jesus manda, ou seja, na prática do amor 
mútuo, que pÕe em sintonia com ele (15,14; cf. 13,12.17). 
Tão importante é que o vínculo com Jesus seja o da ami­
zade e não o de subordinação, que é o objeto da pergunta 
decisiva de Jesus a Pedro (21,17).
d) Jesus explica aos seus a qualidade do seu amor no 
lava-pés (13,4-17), onde, sendo “o Senhor", faz-se o ser­
vidor, dando também a eles a categoria de “senhores” ( = 
homens livres; cf. 8,36); dá-lhes assim exemplo que servirá 
para o seu modo de agir no futuro (13,14.16.20). O amor 
é, portanto, a entrega de si a fim de dar ao homem digni­
dade e fazê-lo livre, criando a igualdade. Este amor esten­
de-se aos inimigos, inclusive às custas da própria vida, co­
mo o demonstra Jesus com Judas (13,21ss); essa aceitação 
inclusive da morte para não desmentir a lealdade do amor, 
manifesta a glória do Homem e a de Deus (13,31s),
V II. O mandamento do amor. O mandamento novo, 
que substitui todos os da antiga Lei e é carta de fundação
da comunidade messiânica, é o mandamento de amor mútuo 
como o que Jesus teve por eles {13,34;15,12.17), explicado 
no lava-pés e na aceitação da morte. Este amor que cria 
comunidade de homens livres e iguais é o distintivo da co­
munidade cristã (13.35) e a herança que Jesus deixa aos 
seus (19,23s) (—>■ Mandamento II I) .
V III. O amor dos discípulos a ]esus. A identificação 
com Jesus, que se expressa em termos de amor (14,15), 
ou, em outros termos, a assimilação de Jesus, de sua vida e 
morte (6,54: comer a sua carne e beber o seu sangue), é 
condição para que o discípulo possa cumprir a mensagem 
do amor (14,15). Somente esta identificação, que é o cume 
da adesão (fé), é que permite ao discípulo amar como 
Jesus amou (13,34; v. antes V ).
Por outro lado, a assimilação e prática dos seus man­
damentos ou de sua mensagem (o amor para com os ou­
tros) é a prova de que existe a ÍdentÍfÍcação/amor com 
Jesus (14,21.23), Tanto o amor para com Jesus como o 
amor para com os outros atraem o amor do Pai (14,21.23), 
mostrando assim sua identidade: ama-se aos outros porque 
se está identificado com Jesus.
Àquele que pratica o amor para com os outros Jesus 
mostra o seu amor manifestando-se-lhe pessoalmente, ou seja, 
fazendo com que experimente sua presença (13,21). A en­
trega de si ao bem do homem é que permite ao discípulo 
permanecer na esfera do amor de Jesus (15,9; cf. 15,4: 
permanecer unidos à videira), partícipando do seu mesmo 
princípio vital, o Espírito; este se comunica sem cessar de 
Jesus aos seus e os associa à sua sorte (12,26).
IX. O amor na comunidade. Na comunidade resplan­
dece o amor, “a glória”, que Jesus recebe do Pai e comu­
nica aos seus (17,22; cf. 17,10) (-^ Glória V). A glória, 
visibilidade do amor, é a presença do Pai neles; em virtude 
do amor, a comunidade torna-se então o santuário de Deus 
entre os homens. Esse amor-glória faz com que a comuni­
dade seja una e atinja a unidade com Jesus e o Pai (v. 
antes V). O amor, pela comunidade do Espírito, é o fator 
de unidade entre os discípulos (17,22). Essa unidade pelo
amor é o objetivo último da oração de Jesus pelos seus e 
fará com que o mundo creia na missão divina de Jesus e 
no amor do Paí (17,22,23) (—> Unidade IV ). O amor 
entre os membros da comunidade é a amizade ou fraterni­
dade, como o de Jesus com eles (15,15; cf. 11,11: nosso 
amigo; 20,17: meus irmãos; c£, 21,23) (—>■ Irmão I).
A missão da comunidade realiza-se em ambiente de 
amizade com Jesus, e faz com que a alegria do fruto seja 
partilhada (15,11; cf. 4,36) (-> Fruto V). Que os dis­
cípulos não trabalham como subordinados ou assalariados 
Jesus o demonstra no episódio da pesca, onde ele colabora 
para achar o fruto (21,6) e prepara e serve a refeição aos 
seus (21,9.12s).
Assim como o amor do Pai e o de Jesus, também o amor 
dos discípulos se manifesta na partilha do que possuem e 
na entrega de sí mesmos no dom. Assim se manifesta no 
episódio dos pães (6,lss), onde Jesus, em paralelo com o 
lava-pés (13,4ss), faz-se servidor da multidão, comparti­
lhando com ela todo o alimento de que a comunidade dis­
punha (6,11) {—> André).
A mesma coisa se expressa na cena de Betânia (12, 
1-8): a demonstração de amor e homenagem a Jesus como 
doador de vida haverá de se transformar, após sua morte, 
na demonstração de amor aos pobres, que estarão entre os 
discípulos e ser aceitos como irmãos (12,8: os pobres os 
tendes sempre entre vós, ao passo que ã mim não me ha­
vereis de ter sempre). A condição para esse amor aos pobres 
será a homenagem a Jesus no dia do seu sepultamento, a 
saber, a fé em sua vitória sobre a morte e a gratidão ao 
doador da vida definitiva (12,7).
X. O amor, condição para conhecer a verdade (—^ Ver­
dade lIc).
X I. O i que não amam. Fora do âmbito do amor estão 
os que, tendo apego a si mesmos, não querem expor-se no 
meio do mundo hostU, ou seja, os que se acomodam ao 
sistema injusto (12,25). Esta atitude identifica-se com bus­
car a própria glória (5,44; cf. 7,18), preferindo a glória 
humana à que vem de Deus ( 12,43;5,44). São os que não
se atêm à mensagem de Jesus (14,24; cf. 8,31). Não se 
pode ter relação filial com Deus sem amar a Jesus que é o 
Filho (8,42); os que o rejeitam escolhem como pai o Ini­
migo, o principio de morte e mentira (8,44).
O mundo injusto quer bem aos seus e lhes dá segu­
rança, mas odeia e persegue os que manifestam a glória de 
Deus com o seu amor para com o homem (15,19). Püatos 
tínha que optar precisamente entre ser amigo de Jesus ou 
amigo do César (19,12). Optar pelas trevas e contra a luz 
é a mesma coisa que optar contra o amor e pela glóría hu­
mana (3,19; cf. 12,43). Isso faz com que os dirigentes 
judeus não conheçam ao Pai, porque não está neles o amor 
de Deus (5,42).
A n d ré
Gr. Andreas (cf. anêrfandros, varão adulto; andreios, 
varonil).
Sobre o encontro de André com Jesus e os seus efeitos 
(-^ Discípulo Illa ). O nome deste discípulo, André (va­
ronil), indica semelhança com Jesus, o “varão” anunciado 
por João Batista (1,30); alude, portanto, à condição que o 
Espírito produz, acabando e levando a termo a criação do 
homem (cf. 6,8: Andreas; 6,10: andres, homens adultos) 
(-> Criação III, V; Nascimento I; Espírito V).
Jo precisa que André, como Filipe e Pedro, era de 
Betsaida ( = o porto pesqueiro) (1,44). São os três dis­
cípulos que aparecerão no evangelho em relato com a mis­
são, simbolizada pela pesca: André e Fihpe, em relação com 
os gregos que se aproximam de Jesus, o fruto em promessa 
da missão futura (12,22); Pedro, após a ressurreição 
(21,3ss). _ ^ ^ _
No episódio dos pães, aparece André em contraposição 
a Fihpe, com nova menção de parentesco com SimãoPedro 
(6,8). Ao passo que Filipe, que não rompera com o passa­
do (—> Discípulo IIIc ), continua pensando em categorias 
de dinheiro (-^ FiKpe), André, o que ficou com Jesus 
(1,39), propõe a solução do amor mútuo: compattUhar o
pão que a comunidade possui; representando essa sob a fi­
gura do “menino” (6,8), demonstra participar da atitude 
de Jesus, que se faz servidor da multidão (6,11), A comu­
nidade é, dessa forma, figurada como “varão adulto” (An­
dré) que se pÕe a serviço dos homens sem ostentação nem 
superioridade alguma (“menino”), André, porém, não ten­
do ainda total experiência da fecundidade do amor, cuja 
plenitude se manifestará somente na cruz, duvida da sua 
eficácia (6,9).
No episódio dos gregos, a consulta de Filipe e André a 
Jesus indica a dificuldade que experimentou a comunidade 
de origem judaica em admitir os gentios em pé de igualda­
de; ao mesmo tempo justifica essa decisão, que não foi 
tomada sem consultar ao Senhor (12,22).
Bat ism o
^ Água I, III; Espírito II, IV; Glória IV; João Ba­
tista II, IV; Nascimento II; Nicodemos I; Pecado II.
Bet â n ia
Gr. Bêthania [4].
L A localização ‘'Betânia". O nome de “Betânia" desig­
na no evangelho; a) o lugar onde João batizava (1,28); 
b) a aldeia de Lázaro, Marta e Maria (11,1.18), e c) em 
relação com esta última, o lugar onde se celebra a ceia em 
honra de Jesus, doador de vida (12,1).
Alude-se a Betânia onde João batizava em 10,40: Je­
sus vai para aquele lugar depois que os dirigentes no tem­
plo o rejeitam como Messias consagrado por Deus ( 10,23­
39).
II. Significado de Betânia. Em três passagens se apre­
senta Betânia como o lugar onde existe a comunidade de 
Jesus:
a) Em 10,40-42, quando Jesus realiza a segunda etapa 
simbólica do seu êxodo (10,40: Foi-se desta vez para o 
outro lado do Jordão, com alusão a Josué; em contrapo­
sição à primeira vez, 6,1; foi-se Jesus para o outro lado do 
mar, com alusão a Moisés), faz-se Jesus centro de atração 
fora dos limites de Israel (10,41: Acorreram a ele muitos) 
e aí muitos lhe deram adesão (10,42).
A luz desta passagem, a localização inicial de João Ba­
tista do outro lado do Jordão (1,28: Betânia, historica­
mente muito duvidosa) aparece como o anúncio de nova 
terta prometida (alusão a Josué), situada fora do território 
propriamente judaico; prefigura assim o termo simbólico do 
êxodo do Messias, que tirará o povo da instituição judaica 
existente (ruptura significada pelo batismo com água; —^ 
Agua I ), por ter essa transformado a antigà terra prometida 
em terra de opressão. '
b) A Betânia próxima de Jerusalém (11,18), histori­
camente bem atestada (cf. Mt 21,7;26,6: Mc 11,1.11.12;
Lc 19,29;24,50), não perde, por ísso, o seu significado sim­
bólico. Também é o lugar de uma comunidade de discípulos 
(11,1-2: irmãos). Contudo, a proximidade de Jerusalém e 
a afluência de “Judeus” por ocasião da morte de Lázaro
(11,19) (—?■ Judeus) evidenciam que se trata de comuni­
dade que não verificou a ruptura com as antigas instituições 
(cf. o paralelo entre 11,1 e 1,44) (-» Filipe, Discípulo IV).
c) Na terceira passagem (12,1) não se determina a lo­
calização de Betânia; é simplesmeüte o lugar da comunidade 
de Jesus, que renunciou às categorias do passado ao perceber 
o amor de Deus que comunica a vida definitiva (11,40: 
a glória).
Como símbolo da comunidade de Jesus, Betânia cono­
ta, portanto, a saída para fora da instituição israelita e o 
caráter de nova terra prometida próprio do grupo cristão; 
é o ponto de chegada do êxodo do Messias. É centro de 
convocação (10,41), lugar da fé (10,42), da festa e do 
serviço, onde se demonstta a gratidão a Jesus pelo dom da 
vida (12,2s): o Espírito-amor que a produz inunda a co­
munidade (12,3: o perfume).
Símbolo equivalente de Betânia é “a terra” (6,21;21, 
8.9.11). Jesus constitui esta “terra prometida” na noite do 
êxodo (20,19-23) (“»■ Discípulo IX ),
B odas
Gr. gamos [2]; nympkios, esposo [4]; nymphê, es­
posa [1]. .
I. As bodas, símbolo da diança. Na linguagem teoló- 
gico-simbólica do tempo, o vínculo de Deus com o seu po­
vo, que se podia expressar em termos de promessa (Gn 17) 
e aliança ou pacto bilateral (Ex 19 e 24; cf. Dt 29 e 30; 
Js 24), expressava-se também mediante o símbolo conju­
gal, sublinhando a relação de amor e fidelidade entre Deus 
e o povo (cf. Is 49,14-26;54;62; Jr 2; Ez 16). A eleição 
do povo e a aliança foram expressão do amor de Deus 
por ele (Dt 4,37;7,7s;10,13). O malogro da aliança levou
2 - Vocabulário,,.
à idéia de nova aliança escatológíca, messiânica (Jr 31,31- 
34;33,14-22; Ez 36,20-32).
II. As bodas de Caná. No episódio de Caná, as bodas 
é figura da aliança antiga, a que pertence a mãe de Jesus, 
mas não ele nem os seus discípulos (2,ls). É possível que 
o próprio nome de “Caná”, era relação com o verbo he­
braico qanah, adquirir, criar, tenha sido escolhido por Jo 
visando a fazer alusao ao “povo adquirido, criado por Deus" 
(Ex 15,16; Dt 32,6; SI 74,2), sujeito de sua aliança. A 
mãe de Jesus, que representa o povo fiel da antiga aliança 
enquanto é origem de Jesus (-^ Mulher II; Mãe), 
fá-lo notar a falta de vinho, símbolo do araor (2,3); espeta 
do Messias que traga remédio para a situado; Jesus, po­
rém, anuncia para a “sua hora”, a de sua morte (-> Hora 
I I I ), a inauguração de novas bodas-aliança, na qual ele dará 
o seu próprio vinho, o Espírito-amor (2,4) (—> Espírito
. . .
A Lei, interpretada pelos dirigentes, criava no povo a
consciência de pecado, privando-o assim da experiência do 
amor de Deus (falta de vinho); está representada pelas seis 
talhas “de pedra” (como as tábuas da Lei) destinadas às 
"purificações dos judeus”. A nova aliança não terá por có­
digo a Lei dada por Moisés, mas o amor leal, o Espírito, 
comunicado por Jesus ao horaem (1,17;19,30.34) {—> Amof 
VII; Água II) .
III. O Messtas-Esposo. Jesus é o novo Esposo (3,29), 
identificado por João com o Messias (cf, 3,28: Não sou eu 
o Messias). É o Espírito que desce do céu que distingue 
Jesus de João (1,32) e lhe permite instituir a nova aliança 
(cf. 3,27) batizando com Espírito Santo (1,33) (-> Água 
III; Espírito II I , IV; João Batista II I) . A alegria de 
João ao ouvir a voz do esposo alude à restauração anunciada 
por Jeremias {3,29 Leit.); anunica João a fecundidade da 
nova aliança (3,30: A ele cabe-lhe crescer). A voz do es­
poso responde no horto-jardim a da esposa (20,16), Maria 
Madalena, figura da comunidade da nova aliança. A cele­
bração da vida que vence a morte (12,lss) descreve-se 
também com imagem nupcial no Cântico, a imção com per­
fume (o amor) (12,3); prefigura e anuncia as núpcias de­
finitivas (20,16) (-;► Mulher IV, V).
Em relação com o papel de Esposo está a designação 
de Jesus como "varão/homem adulto” (1,30), assim como 
também o simbolismo da expressão “desatar as sandálias” 
(1,27) e a dupla frase de João “se põe adiante de mim 
porque estava primeiro do que eu” (1,15.30).
Ca r n e
Gr. sarx [13]; em oposição a pneuma, espírito, em 
3,6;6,63; em paralelo com haima, sangue, em 1,13 e, de 
Jesus, em 6,53.54.55.56.
I. Significado e uso do termo. "Carne” denota-o indi­
víduo humano (17,2), conotando sua condição débil e ca­
duca (11,4: astheneia), cuja última conseqüência é a morte.
Para Jo, o homem de carne é a primeira etapa do 
plano criador de Deus; a realização do desígnio criador (6, 
39s) nele depende de sua opção livre: se aceitar o Espírito- 
-amot que comunica o enviado de Deus, ficará acabado e 
terá a vida (3,36; cf. 3,34 e passim); se rejeitar o amor ofe­
recido, não saberá o que é vida, ficará sob o domínio da 
morte, que será definitiva (3,36b; cf. 3,18;8,21.24)
Morte II I) . A carne, criada por Deus (1,3), não é 
princípio mau, mas somente fase inacabada; sua debilidade, 
porém, faz com que possa ser cegada e dominada pela “tre- 
va”(1,5) Nascimento II) ,
“A carne” sozinha é princípio vital que não pode su­
perar sua própria condição e gera sua própria debilidade 
(3,6; cf. 1,13); contrapõe-se ao Espírito (ío pneuma), o 
princípio que comunica a vida definitiva (3,6), que supera 
a morte {—> Vida IIc; Ressurreição III) . Por si só não 
pode dar a capacidade de “fazer-se filho de Deus” (l,12s); 
em conseqüência, malogra em sua tentativa de realizar o rei­
no de Deus (3,2-6) ou de levar a estado definitivo (6,63). 
Julgar a Jesus desde o ponto de vista da mera “carne” é 
falsear sua realidade (8,15).
II. A carne de Jesus. Jesus é o projeto de Deus feito 
carne (1,14), realidade humana. A descida do Espírito, que 
lhe dá capacidade de amor igual à do Pai, transforma sua 
“carne” realizando nele o modelo de Homem (“o Filho do 
homem”) (-> Homem I) , o Filho de Deus (-^ Filho Ila).
A vida definitiva que produz o Espírito-amor supera as 
conotações negativas da “carne”, sua debilidade e caduci­
dade (—^ Espírito V); por Ísso, o homem que nasceu do 
Espírito já não se chama “carne”, mas “espírito” (3,6;7,
39). A debilidade da “carne” mani£esta-se, porém, em Je­
sus ao chegar a “sua hora” (12,23), a hora de entregar-se 
nas mãos do mundo que o odeia (7,7; cf. 12,25); experi­
menta então forte agitação que ele vence com sua fideli­
dade ao Pai (12,27s).
A expressão “a carne e o sangue” de Jesus significa 
sua entrega até a morte por amor ao homem, realizando 
assim até ao final sua consagração pelo Espírito (17,19). 
A carne de Jesus torna-se alimento para o homem (6,51), 
ou seja, fonte de vida (6,53ss), em virtude de comunicar 
o Espírito (6,63) a quem “a come”, ou, em outras palavras, 
a quem se compromete a viver a sua realidade humana tal 
como foi vivida por Jesus (—>■ Sangue).
A eucaristia atualiza esta realidade na comunidade cris­
tã. Jesus, que se deu na cmz, dá-se como alimento aos 
seus, O Espírito que entregou na sua morte comunica-se 
através de sua carne e sangue; o discípulo que come e 
bebe responde a este amor de Jesus com o seu compromis­
so de viver e morrer como ele.
CÉU
Gr. ouranos [18]; anô, em cima [3]; anôíhen, de 
cima [5].
I. Sentido dos termos. Estes termos possuem em Jo 
sentido local figurado e denotam a esfera criada pela pre­
sença e atividade divinas e, em conseqüência, Deus mesmo. 
Assim, Jesus levanta os olhos ao céu a fim de dar graças 
ao Pai (11,41) ou a fim de dirigir-lhe sua oração (17,1).
As intervenções de Deus expressam-se como “do céu” 
ou “de cima”. Assim, 0 Espírito desce “do céu” sobre Je­
sus (1,32); de lá desce o verdadeiro pão de Deus (6,32), o 
pão da vida (6,41.42,50.51.58), que é o prõprio Jesus, o 
dom de Deus para a humanidade (6,33,51: cf, 3,16;4,10); 
de lá procede a voz de Deus (12,28). Ao dizer Jesus que 
“desceu do céu” (3,13;6,51), indica sua origem divina por 
intermédio do Espírito que desceu sobre ele (l,32s); a mes­
ma coisa significam as fórmulas equivalentes “vir de cima” 
e “vir do céu” (3,31).
II. As esferas opostas. “O que é de cima”, que designa 
a esfera dívina, contrapõe-se ao “que é de baixo”, que indica 
a esfera dos que se opõem ao desígnio de Deus; eqüivale a 
“esta ordem/o mundo”, esfera da injustiça (8,23)- Por isso 
Jesus pertence ao “que é de cima” e não a “esta ordem”
(8,23) (~> Mundo IV; Pecado III) .
III. A esfera divina em ]esus. O Espírito, que habita 
cm Jesus e dele faz presença de Deus, o Paí, no mundo, si­
tua nele a esfera divina; por isso em Jesus estabelece-se a 
comunicação com Deus (1,51) e ver Jesus é ver o Pai (12, 
45; 14,9). Paralelamente, enquanto o Espírito desceu sobre 
Jesus “do céu”, o homem que nasce da água-Espírito nasce 
“de cima” (3,3.7), de Jesus levantado no alto (3,14s), de 
cujo lado jorra a água-Espírito (19,34). Como no caso de 
“Senhor” (Kyrios, E)eus I) , existe pretendida ambigüi­
dade na denotação de anôthen (de cima): em 19,11 designa 
Deus; em 3,3.7: designa Jesus na cruz, lugar da presença 
dívina.
O lugar da presença e atividade dívinas é agora Jesus 
exaltado; daí a permanência do lado aberto depois da res- 
smrreição (20,20,25.27).
IV. Subir ao céu. Escatologia IV 
Co m u n id a d e
^ Amor V II, IX ; Betânia II; Discípulo IILi, IV, V, 
IX; Escatologia IV; Espírito VI; Irmão I; Mandamento 
II; Pastor Illf; Tomé; Unidade.
(Do n h e c im e n t o
Gr. ginôskô, conhecer, reconhecer [56]; oida^ saber, 
ter consciência de algo [85].
I. Significado dos termos. Ginôskô tem em Jo vasta 
gama de significados, dependentes não apenas do significado
do próprio lexema, mas também do aspecto do tema verbal 
(pres., aor., p£.). A diferença com oida, verbo perfectivo, 
parece consistir fundamentalmente no fato de que o “saber” 
ou “conhecer” denotado por este último dá-se como adqui­
rido, prescindindo do modo como se chegou a obtê-lo, ainda 
que às vezes se indique no texto (2,9;4,42); gimskô, po­
rém, implica com freqüência o modo de conhecimento: ex­
periência, intuição, trato, informação, aprendizagem. É de 
notar que o aor. ou o fut. puntual de gtnôskô, que indicam 
a passagem do não conhecer ao conhecer, podem servir co­
mo ingressivo de otda.
Gtnôskô conota conhecimento por experiência de união 
e intimidade ( 10,15s.27;14,7.9,17.20;17,3) ou adquirido 
por uma praxis (17,7,8), intuição (2,24s), trato (21,17; 
cf. 1,48), informação (4,1.53; 12,9), aprendizagem (3,10;7, 
27,49;15,18) ou dedução (5,6;6,13;8,52;10,38;13,35;16, 
19; 17,23).
No aoristo e futuro: “chegar a saber, inteirar-se, des­
cobrir, entender” (4,1.53;7,17;8,28.32;13,7.28.35;14,7.20. 
31;16,3.19;19,4). O aor. pode ter o sentido de “reconhecer” 
(1,10;16,3;17,25).
O pf. pode indicar conhecimento acabado, persuasão 
ou convicção adquirida (6,69;17,7) ou indicar o processo 
até ao seu fim (8,52;14,7.9). Em 8,55, o pf, negativo alude 
ao sentido que tem “não conhecer a Deus” em Jr 22,13-17 
e Os 4,1-2.
O que se expressa em termos de conhecimento por ex­
periência direta expressa-se também em termos de visão 
(-> Visão I) .
Oida, por sua vez, que de si prescinde do processo de 
conhecimento, pode significar:
a) conhecer a identidade de alguém, seja distinguindo-o 
de outros (1,26.31.33;5,13;6,42;10,4: voz; 20,13;21,4), se­
ja por conhecer sua pessoa e características (4,10.42;7,28;
8,14);
b) ter consciência por alto (6,6.61,64;9,20.25;13,1.3,7, 
17;19,28;20,9;21,12);
c) saber, ter um conbecímento ou convicção (2,9;3,2;4, 
25;5,32;7,15.27.28;8,37;9,24.29.31;11,22.24.42;14,4;18,2. 
21;19,10;21,15.6.17).
II, Conhecer a Deus, o Pai. Jesus sabe quem é aquele 
que o envia, porque dele procede e dele recebeu a missão
(7,29); o testemunho que propõe provém de visão (expe­
riência pessoal, 3,11); ele está na intimidade do Paí e co­
nhece a Deus como ninguém o conheceu antes (1,18). Este 
conhecimento é amor recíproco (10,15) e identificação (10, 
30.38; 14,10.11.20; 17,21) (“>■ Amor V); a identificação en- 
tte ele e o Pai pode-se conhecer através de suas obras em 
favor do homem (10,38).
Não se pode conhecer o Paí a não ser através de Jesus 
(8,19; 14,7); conhecer a Jesus significa conhecer o Pai, e o 
progresso no conhecimento de Jesus é progresso no conheci­
mento do Pai (14,7).
Para o discípulo, a vida definitiva consiste em conhecer 
pessoalmente o Pai, único Deus verdadeiro, e o seu enviado, 
Jesus Messias (17,3); fala-se aqui do conhecimento baseado 
na relação Pai-filho, fruto do Espírito comunicado por Jesus: 
a glória-amor do Pai descobre-se na missão histórica de Jesus 
(Messias) (-^ Criação V); é descoberta e recepção contínua 
desta glória-amor (1,14.16;17,1-3.24), que mantém através 
de Jesus na intimidade de Deus.
III. Conhecimento de Jesus e dos seus. a) Jesus co­
nhece os seus com a mesma proximidade com que conhece 
o Pai (10,14; cf. 10,27). Não se pode saber quem é Jesus 
se não se descobre nele o portador do Espírito-amor,que 
lhe dá sua identidade de Füho de Deus (1,31.33,34; cf.
l,26;7,27s;8,19) e marca o seu intinerário (8,14; cf, 3,8).
O trato com Jesus deve levar o discípulo a este conhecimento 
(14,9-11) ( ^ Fé V I). O Espírito produzirá nos discípulos 
a experiência da unidade de Jesus com o Pai e com eles (14, 
20). Este conhecimento será tão imediato, que não terão 
que perguntar-lhe nàda (16,23). Os discípulos têm a convic­
ção de que Jesus sabe tudo, mas essa não é a base suficiente 
para a verdadeira fé (16,30-32) ( ^ Fé Vc). A prática do 
amor os leva a conhecer que tudo o que Jesus tem procede
do Pai e a crer que é o enviado do Pai (17,7-8). Sabem 
que é o Consagrado por Deus (6,69), mas só compreendem 
o sentido verdadeiro do seu messianismo após sua morte e 
ressurreição (2,22; 12,16); esta eles não a compreendem na 
Escritura ( 20,6 ). ■
b) Jesus conbece o interior do homem (2,24,25;5,42;
6,15). Daí ele saber quem não lhe dá sua adesão e quem
0 entregará (6,64;13,11) e poder saber que o protesto 
de amizade de Pedro é sincero (21,15,16.17).
É consciente de çüa origem e missão (8,14; cf. 3,8) e 
sabe que o Pai o escuta sempre (11,42), que sua mensagem 
é vida ( 12,50). Tem consciência da chegada de sua hora ( 13,
1 ) e de que o Paí tudo lhe pôs nas mãos, deíxando-lhe plena 
hberdade ( 13,3 ); quando está para entregar-se, Jesus é cons­
ciente de tudo o que lhe vai acontecer (18,4), e, na auz, 
de que tudo vaí ficando terminado (19,28).
IV. "O mundo não o reconheceu”. Antes da chegada 
histórica da Palavra-luz, “o mundo”, ou seja, a humanidade 
em seu conjunto, não a reconheceu como luz ( 1,10), ou seja, 
não respondeu ao projeto criador presente nela, projeto que 
a teria impulsionado para a plenitude de vida ( l,3s). Depois 
da vinda histórica, “o mundo” continua sem reconhecer o 
Pai e, portanto, o seu projeto criador (17,25). O rechaço 
dos “seus” é parte deste rechaço do mundo (1,11).
“O mundo”, identificado com os que perseguem a Je­
sus e aos seus (15,18.21), não conhece aquele que ele en­
viou (15,21), não conhece o Pai nem Jesus (16,3), nem 
reconhece o Espírito (14,5; cf. 3,8). Uma vez que conhecer 
o Pai e-Jesus significa ter vida definitiva ( 17,3 ), este mundo 
está destinado à morte definitiva; todavia, não só não tem 
vida, mas também a tira (16,1-3).
Será a cruz que possiblhtará ao mundo conhecer Jesus 
como Messias (8,28; cf. 14,31), porque nela se manifesta a 
glória, a força do Espírito que revelará sua identidade de 
Messias Filho de Deus. A glória que brilhou na cruz fícará 
manifesta na comunidade cristã (17,10) e será ela — que 
eqüivale à presença ativa de Jesus e do Paí (17,21) e cria 
a perfeita unidade — que levará o mimdo a conhecer que 
Jesus é o enviado de Deus (17,21.23).
Consagração
-i- Criação IVb; Espírito II, III; Filbo Ilb; Messias 
Illa ; Obra II; Verdade Ilh , III.
C o r d e ir o de D eus
Festa I; Pastor Ille ; Pecado II.
C orpo
Gr. soma [6], de Jesus (2,21;19,38bis.40;20,12); de 
Jesus e dos crucificados com ele (19,31).
O “corpo” denota o indivíduo humano enquanto é pre­
sença designável, contradistinto dos outros e capaz de ativi­
dade e comunicação.
“O corpo” de Jesus é, portanto, o próprio Jesus (cf, 
2,19; Suprimi este santuário e em três dias o levantarei; 
2,21: ele se referia ao santuário do seu corpo; 2,22: quando 
se levantou da morte; 19,40: Pegaram o corpo de Jesus; 
19,42: puseram ai Jesus).
Em Jesus reside a glória de Deus (—>■ o Espírito; cf.
l,14.32s), e por isso “o seu corpo” é o novo santuário que 
substitui o antigo (2,19-22). “O corpo" torna Jesus soli­
dário dos que foram crucificados com ele (19,31); a pre­
sença de Deus pode, portanto, verificar~se no homem (14,
23) mediante o Espírito ( 14,17;20,22). Assim, o indivíduo 
e a comunidade são templo em que reside a glória do Pai, 
que Jesus lhe comunica (17,22).
Jesus “levantará o seu corpo” ao qual os seus inimigos 
terão dado a morte (2,19). Dada a identidade de “corpo” e 
“homem”, a expressão indica que, depois de sua morte, Je­
sus continuará manifestando sua presença e atividade; “levan­
tar-se da morte” significa entrar na fase final humana, a do 
"corpo” hvre da limitação da “came” (sarx), que conserva 
a individualidade, e permite a ação e a manifestação da pre­
sença ( ^ Ressurreição II) .
C riação
I, O tema da criação. Jo abre o seu evangelho com as 
prhaeiras palavras do Gênesis (1,1: No princípio), pondo 
assim toda a obra na chave de criação. A criação é uma das 
duas linhas-mestras da teologia deste evangelho; a outra é 
a da Páscoa-ahança. Isso explica a abundância de termos 
pertencentes ao campo da vida em comparação com os outros 
evangelistas.
Zde; vida [37]; Mt [7]; Mc [4]; Lc [5]. Zaô, viver 
[16]; Mt [6]; Mc [2]; Lc [10]. Zôopoíeô [3] não há nos 
sinóticos. Gennaô, gerar [17]; Mt [4 fora da genealogia]; 
Mc [1]; Lc [6], Vai (dito de Deus) [123]; Mt [45]; Mc 
[4]; Lc [16]. Pilho (dito de Jesus) [53]; Mt [12]; Mc
[7]; Lc [11]. Faz parte do tema da criação to thelêma, 
o desígnio [11] (-> Vida Ilb; Pai II; Espírito V).
II, Modo de expressá-lo. Apesar da importância do te­
ma, Jo evita o termo “criação” referido ao homem; usa uma 
vez “fundação” (17,24: kataholê), referido ao universo. Em 
vez de “criar/fazer”, usa a forma egeneto, chegar a existir 
(1,3.10.17; cf. “gênesis”), que deixa indeterminado o modo 
de chegar à existência, sem limitá-lo a “ser feito”; será con­
cretizado pelo verbo "nascer/ser gerado” (1,13.18 etc.), que 
denota, não a criação de um ser por ação externa, mas a 
comunicação da vida daquele que gera Nascimento I),
III, Projeto e desígnio criador. Existe diferença entre 
projeto (logos) (—> Palavra I) e desígnio (thelêma): o pri­
meiro pertence exclusivamente a Deus (1,1-4); o segundo 
é comum ao Pai e a Jesus (5,30;6,38-40). Para introduzir 
o tema, será conveniente dar breve síntese, que será desen­
volvida a seguir:
O projeto criador consiste, em primeiro lugar, na exis­
tência do Homem-Deus, o novo Adão (o Homem/o Filho 
do Homem), doador do Espírito, princípio da humanidade 
nova. Por seu meio, realizar-se-á o desígnio de Deus, que o 
homem não pereça, mas que tenha vida definitiva (6,39-40; 
cf. 3,16). Esta vida, dada ao homem com o Espírito (6,63), 
faz com que ele "nasça de Deus” (1,13;3,3.5.6); com sua
atividade, “o nascido de Deus’' irá se fazendo “filho de 
Deus” (1,12), Deste modo, através de Jesus, poder-se-á rea- 
hzar na humanidade o projeto inicial, a condição divina do 
homem. ,
Em Jesus, portanto, faz-se realidade o projeto divino (o 
Homem-Deus) e, através dele, realiza-se o desígnio divino, 
a capacitação do homem para fazer-se filho de Deus. Ambas 
as realizações, a do projeto e a do desígnio, estão em mútua 
dependência: Jesus realiza-se como Homem-Deus realizando 
o desígnio de Deus. Assim o indica a metáfora do alimento
(3,34) (-»Fruto H ).
IV. O projeto criador: o Homem-Deus. a) O projeto 
criador existente antes da criação dirigia-se, interpelava a 
Deus (l,lab ). O projeto divino, que deu origem a tudo o 
que existe (1,3), referia-se em particular ao homem, e o 
projeto era “um Deus” (1,1c),
O projeto criador realiza-se em Jesus, em quem se faz 
teahdade humana (1,14). Jesus-homem recebe a plenitude 
da riqueza/glória do Pai, o seu amor leal (1,14), ou seja, a 
plenitude do Espírito (1,32.33), total comunicação de Deus
(4,24), que lhe dá capacidade divina para amar: Jesus é as­
sim o filho de Deus, sua presença entre os homens, o único 
Deus gerado (1,18). Jo expressa a eleição de Jesus em ter­
mos de amor: porque me amas te antes que existisse o mundo 
(17,26); ele é o esperado (1,15,27,30: aquele que chega 
detrás de mim), o Profeta e Messias que tinha que vir ao 
mundo (6,14; 11,27). O fato de Jesus receber a plenitude do 
Espírito de Deus (1,32.33) significa que nele não havia ne­
nhum obstáculo para a

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