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Didática Aula 10

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A cultura do silêncio
Na condição da educação bancária, o aluno é o sujeito passivo e sua formação é meramente reprodutora, contribuindo apenas para garantir a manutenção da estrutura social vigente, ou seja, garantir o status quo. Paulo Freire (1987, p. 59) sinaliza para a cultura do silêncio e acrescenta que, nesse caso:
1. O educador é o que educa; os educandos são educados;
2. O educador é o que sabe; os educandos, os que não sabem;
3. Educador é o que pensa; os educandos, os pensados;
4. O educador é o que diz a palavra; os educandos, os que a escutam docilmente;
5. O educador é o que disciplina; os educandos, os disciplinados;
6. O educador é o que opta e prescreve sua opção; os educandos, os que seguem a prescrição;
7. O educador é o que atua; os educandos, os que têm a ilusão de que atuam, na atuação do educador;
8. O educador escolhe o conteúdo programático; os educandos, jamais ouvidos nesta escolha, acomodam-se a ele;
9. O educador identifica a autoridade do saber com sua autoridade funcional, que opõe antagonicamente à liberdade dos educandos; estes devem adaptar-se às determinações daquele;
10. O educador, finalmente, é o sujeito do processo; os educandos, meros objetos.
Aula teórica X prática
Aula 1: Na primeira aula, o professor disserta sobre o conceito de mamífero de forma abstrata e universal. Repare que os alunos desconhecem o conceito, têm dúvidas, interrogações.
Aula 2: Já na segunda aula, o professor demonstra “ao vivo e a cores” o conceito de mamífero para que o aluno visualize, na prática, o conceito de mamífero. Podemos dizer que a aula 1 foi respaldada na pedagogia tradicional e a aula 2 foi respaldada pelo modelo escola-novista, com influências de J. Dewey e J. Piaget.
A construção de uma nova ordem social
Cabe ao professor contribuir para a formação crítica, emancipada e transformadora dos educandos, instigando-os a pensar criticamente, visando construir uma nova ordem social.
Em outras palavras, o professor os faz acreditar que os fatos não são inexoráveis, não estão consumados por uma ideologia dominante de que eles não são capazes de terem acesso a uma alimentação de qualidade, dentre outras necessidades, tais como educação, lazer, transporte, moradia, saúde, segurança, trabalho etc.
Note que a educação pode funcionar como um instrumento de opressão ou libertação e transformação, e que isto não ocorre apenas na relação aluno - professor, mas que a partir da prática docente, é possível contribuir para transformar o sistema.
Diferença entre prática e práxis
É preciso reforçar que não é suficiente uma aula prática para formar um aluno crítico, pois, o sentido da prática pode se perder caso o professor não tenha esses valores interiorizados dentro de si; se a sua própria formação docente é acrítica e pragmatista.
Muitos pensam que propor uma aula prática, lúdica, dinâmica, experimental, em laboratórios e aulas-passeio é uma solução para os problemas da educação, para os problemas sociais, mas há uma diferença substancial entre as palavras prática e práxis.
Para Vázquez (1977)
A prática tem uma dimensão prático-utilitária quando tenta resolver apenas as necessidades imediatas. O homem comum, segundo o autor, “considera a si mesmo como o verdadeiro homem prático; é ele que vive e age praticamente”.
Dentro de seu mundo, as coisas não apenas são e existem em si, como também são e existem, principalmente, por sua significação prática, na medida em que satisfazem necessidades imediatas de sua vida cotidiana [...] o mundo prático – para a consciência comum – é um mundo de coisas e significação em si (p. 11).
O que é Práxis?
De acordo com Vázquez, o homem comum só concebe a prática como prática-utilitária, isto é, aquilo que ele usa para satisfazer as necessidades imediatas da vida cotidiana, o que não é suficiente quando pensamos em construir um mundo mais justo, digno, democrático e, portanto, melhor de se viver.
O homem crítico e não pragmatista apenas tem um olhar mais amplo e não imediatista, individualista, pois está comprometido com o mundo, e não apenas consigo mesmo.
Nessa perspectiva, a práxis, por sua vez, é “a atividade humana que produz objetos, sem que, por outro lado, essa atividade seja concebida com o caráter estritamente utilitário que se infere do prático na linguagem comum [...] A práxis é a atividade humana transformadora da realidade natural e humana” (Vázquez, 1977, p. 5-32).
Práticas pedagógicas
Como atividade humana, a prática pedagógica pode se constituir em atividade de prática, numa visão utilitarista, ativista e espontaneísta, ou sem uma práxis guiada por intenções conscientes. Dessa forma, ela toma uma dupla diretriz: de um lado, temos uma prática pedagógica repetitiva e, de outro, reflexiva (Veiga, 1989).
Na pratica pedagógica repetitiva, a unidade teoria e prática é rompida, a fragmentação do conhecimento encontra espaço para efetivar-se, havendo dificuldades para a introdução do novo. Neste terreno, a prática do professor vai se efetivando num marasmo respaldado pela rígida burocracia e controle escolares (Veiga, 1989).
As ações do professor não são mais pensadas, ele faz por fazer, sem conhecimento de causa, sem saber por que fazer; ele executa porque lhe determinaram e não porque está consciente do valor ou não da ação na vida dos cidadãos.
Para Veiga (1989), no cotidiano da atividade docente, “as ações parecem acontecer sem dúvidas nem reflexões, num ativismo sem precedentes, o qual pode levar o professor a alienar-se do seu trabalho e dos seus pares, correndo o risco de não se reconhecer no que realiza”. Embora haja nele certa consciência, mesmo débil, em relação à sua prática, esta tende a desaparecer pelo caráter mecânico e burocratizado dessa prática.
As condições concretas de trabalho do professor transformam-no no último elo de uma cadeia rígida de poder, motivo pelo qual ele se sente impelido a cumprir um papel no qual não se reconhece.
Regimento Escolar
Na sala de aula, o trabalho do professor é condicionado pelo regimento escolar, pelas leis do sistema de ensino, pelas relações de emprego e pela formação deficiente e inadequada que possui. Regimento escolar é o documento administrativo e normativo de uma unidadeescolar que, fundamentado na proposta pedagógica, estabelece a organização e o funcionamento da escola e regulamenta as relações entre os participantes do processo educativo.
Senso de coletividade
Cabe ao professor despertar no educando o senso de coletividade, o desejo de ir além do imediatismo, compreendendo a educação como instrumento de transformação de realidades sociais, e não apenas para mobilizar a motivação pessoal, o interesse pessoal, visando à aprovação no final do ano letivo.
É preciso querer mais para os nossos alunos: que eles, de fato, se comprometam socialmente com o que estão fazendo, estudando, afinal, o que ficamos fazendo anos sentados nos bancos escolares, não é mesmo?
Construindo uma sociedade
O projeto de escola deverá ser mais aberto, e não apenas responder aos interesses de uma sociedade capitalista, respaldada na lógica do mercado, e, portanto, individualista e competitiva.
Em se tratando de educação, podemos compreendê-la como superação, contribuição, mudança social, construção de uma sociedade mais solidária e humana.
Avaliação Tradicional X Avaliação Construtivista/ Progressista
No caso desta charge, o professor respalda a prática no modelo tradicional, na medida em que compara os alunos reforçando a fragilidade de Alcides, expondo-o publicamente, o que mobiliza negativamente sua autoestima.
Posturas como essa do professor fazem os alunos temerem as avaliações. A avaliação do rendimento escolar acaba por se constituir como um instrumento de reprodução das relações de poder típicas de uma sociedade dividida em classes sociais.
Em outras palavras, ela se constitui como um elemento de seleção “natural” entre os que sabem e os que não sabem, entre os que se dedicam e os que não se dedicam, cabendo ao professor aprender a lidar com o aluno real e não, apenas,com o aluno “ideal”.
O aluno ideal existe?
Para Mesquita e Coelho (2008):
O sistema de notas introduzido na escola, com base nessa concepção, passa a ter a função de medir o conhecimento dado pelo professor de forma decorativa e memorizativa.
Observa-se, nesse tipo de avaliação, sua forma disciplinadora de condutas sociais: se o aluno não atingir a média estabelecida pela rede de ensino, é punido com a reprovação. Neste contexto, a avaliação constitui um fim em si mesmo, pois é utilizada como instrumento de medição da capacidade de apreensão de conteúdos.
Estudo de casos

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