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Aspectos gerais sobre o direito ao desporto JIC

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Aspectos gerais sobre o direito ao desporto
No momento em que o tema está abarcado pela matéria constitucional, isto implica que o desporto possui uma importância substancial para a sociedade, fazendo parte de um processo da ampliação da tutela estatal, que vem surgindo de maneira gradativa no contexto brasileiro, principalmente após o período do pós-guerra. Um exemplo que elucida esta questão é a carta constitucional de 1937, do período do então presidente da República, Getúlio Vargas, que possuía fins militares, portanto ainda não contemplava a prática desportiva como bem social.
Contudo, é importante destacar que atualmente a disciplina constitucional desta matéria está focada no desporto como um bem social, ou seja, aquele capaz de proporcionar uma melhoria na condição de vida da população, gerando uma maior harmonia e integração, consequentemente um desenvolvimento da sociedade.		 	Cabe ressaltar, que somente a partir da Constituição Federal de 1988, a atividade desportiva passa a contar com o respaldo do poder público de forma efetiva, constituindo uma obrigação de fomentar a prática desportiva a todos os cidadãos.
No entanto, o modelo democrático adotado pelo Brasil facilita tal prática, tendo em vista que países com vocação socialista utilizavam-se do esporte como ferramenta para aperfeiçoar seus regimes, quase todos com objetivos militares.
E foi justamente nos países vinculados ao regime socialista que se desenvolveu primeiro a inserção do desporto nas cartas constitucionais.
A primeira vez em que o desporto se insere em uma constituição foi no ano de 1968, na Alemanha (constituição já derrogada) que afirma em seu art. 8º que “A cultura física, o desporto e o turismo servirão, como elementos da cultura socialista, ao total desenvolvimento corporal e espiritual dos cidadãos.”[1: REPÚBLICA DEMOCRÁTICA da ALEMANHA. Constituição (1968).]
No contexto asiático, um país que mostra claramente a inclusão do desporto à constituição é a China, em 1975, que “solidificou o desporto como instrumento do regime comunista” ao estabelecer em seu art. 12, que em linhas gerais, o desporto deve servir à classe trabalhadora, coordenando-se com a atividade produtiva do país.[2: MIRANDA, Martinho Neves. O direito no desporto. Rio de Janeiro: Lumen Iuris, 2007. p.12]
Portanto, depreende-se que das constituições que adotaram o regime socialista, o desporto é visto como um instrumento para garantir o bem da coletividade, prezando por valores não-individuais.
O mesmo não se pode dizer dos países que adotaram um regime democrático, pois estes procuram se preocupar com os valores individuais, em detrimento até mesmo dos valores coletivos, que possuem maior incidência em países socialistas ou comunistas. Como exemplo, vale observar o fomento que o governo cubano fornece a seus atletas no voleibol, ou às equipes de ginástica de origem russa.
Ao longo das últimas décadas do século XIX, vários países desenvolveram avanços significativos em relação a inserção do desporto em suas ordens constitucionais.
Na reforma constitucional dos países da União Europeia “verifica-se um nada descipiendo contributo das instituições comunitárias em prol da inclusão do desporto nos tratados” Uma das primeiras manifestações ocorreu na Holanda, através do Tratado de Amsterdã, que mencionava “o significado social do desporto, em especial o seu papel na formação da identidade e na aproximação das pessoas (Declaração n. 29).O resultado do grande esforço dos países da União Europeia a favor do desporto é a Constituição Europeia, que visa ao desenvolvimento do esporte, protegendo a integridade física e moral dos jovens desportistas.[3: MESTRE, Alexandre Miguel. O desporto na Constituição Européia. Coimbra: Almedina, 2002. p. 33.]
Ademais, um exemplo flagrante é observado na constituição portuguesa de 1976, que consagra de maneira nítida o que durante muito tempo vem sendo objetivado por estudiosos e pelos ‘amantes do desporto’: um verdadeiro direito de todos os indivíduos ao desporto em todos os seus níveis.
O art. 79 daquela constituição dispõe da seguinte forma: O Estado reconhece o direito dos cidadãos à cultura física e ao desporto, como meios de valorização humana, incumbindo-lhe promover, estimular e orientar a sua prática e difusão.”[4: PORTUGAL. Constituição (1976). Texto em sua redação original.]
Em 1989 houve uma revisão do texto constitucional, e sua redação possui um discurso mais eloqüente em prol do desporto, garantindo que todos os cidadãos têm direito ao desporto e à cultura física, cabendo ao Estado em conjunto com as escolas promover a disseminação das práticas desportivas, prevenindo também as formas de violência no ambiente desportivo.
Cabe observar que o primeiro texto que envolve esta matéria determinava que a competência para o desenvolvimento do desporto cabia somente ao Estado. Entretanto, na redação atual há uma visão que pretende unir esforços em favor do desenvolvimento das práticas desportivas, com a inclusão das escolas e entidades de prática desportivas.
A constituição portuguesa é bastante semelhante ao texto da carta constitucional brasileira de 1988, que prevê no caput do art. 217: “é dever do Estado fomentar práticas desportivas formais e não formais, como direito de cada um [...][5: BRASIL. Constituição (1988)]
Vale salientar que o caput do referido artigo não elenca as condições do Estado para fomentar a prática desportiva. O Estado se retrai, o que é uma espécie de prerrogativa da municipalidade. 
A lei orgânica dos municípios tem como um de seus objetivos fomentar programas de cunho social, voltados para a prática do desporto, tais como: projetos para a construção de vilas olímpicas, Centros esportivos e de lazer; cedendo espaços para eventos de pequeno e grande porte; colocando à disposição a Guarda Municipal e hospitais, contando com o apoio do poder organizacional de polícia.
Fraseia Manoel José Gomes Tubino a respeito do papel que o Estado exerce no fomento do esporte:
O papel do Estado no fomento do esporte, como meio de bem-estar social é aceito sem restrições, não porque esteja, de um modo crescente, sendo inserido nas constituições dos países, mas porque os Estados parecem mais sensíveis nas suas ações política, refletindo as inevitáveis diversidades internas das nações. Na verdade, é o Estado que possui a capacidade institucional e política de tratar de forma interdisciplinar a imensa variedade de problemas sociais existentes nas suas delimitações de responsabilidade pública.[6: TUBINO, Manoel José Gomes. As dimensões sociais do esporte. São Paulo: Cortez, 1992, p. 20]
O art. 217 da CRFB/88 possui uma substancial importância, pois pela primeira vez os desportos são contemplados efetivamente. O texto constitucional abrange o desporto de modo amplo, cabendo esclarecer os termos utilizados no caput do artigo, onde cabe ao Estado incentivar as práticas desportivas formais e não-formais.
A prática desportiva formal é aquela que obedece ao regramento oficial da modalidade. É conhecida como desporto de alto rendimento, pois se caracteriza pela competitividade e pelos resultados dos atletas. O objetivo da prática formal é o espetáculo da prática desportiva, visando ao lucro financeiro.
Manoel José Gomes Tubino caracteriza o desporto formal como o esporte-performance, fazendo a seguinte dissertação:
Ao exigir uma organização complexa e investimentos, o esporte-performance ou de rendimento, cada vez mais, passa a ser uma responsabilidade de iniciativa privada. Traz consigo os propósitos de novos êxitos esportivos, a vitória sobre adversários nos mesmos códigos, e é exercido sob regras preestabelecidas pelos organismos internacionais de cada modalidade. Há uma tendência natural para que seja praticado principalmente pelos chamados talentos esportivos, o que o impede de ser considerado uma manifestação comprometida com os preceitos democráticos. (1992, p. 36) [7: TUBINO, Manoel José Gomes. As dimensões sociais do esporte. São Paulo: Cortez, 1992, p. 36]A prática desportiva não-formal é aquela desprovida do traço de competitividade intrínseco ao desporto formal. Esta prática é regida pelo princípio da adaptação, que são as mudanças geradas nas regras oficiais da modalidade com a finalidade de gerar a inclusão social, como por exemplo: diminuir as dimensões de um campo de futebol, colocar mais jogadores no campo, estabelecer um decréscimo do tempo oficial das partidas, etc.
O desporto no Brasil deve ser inclusivo, pois se não há inclusão, fere-se o direito social do cidadão.
Há uma corrente que sustenta a ideia de que o direito desportivo reside apenas no regramento oficial da modalidade; no entanto tal posição possui caráter minoritário, pois há o entendimento que o desporto formal é exclusivo, ou seja, não busca prioritariamente o bem estar e o lazer do indivíduo.
Tendo em vista os aspectos observados, o desporto ganha uma amplitude significativa com a CRFB/88, garantindo aos cidadãos o direito de acionar o Estado caso algum direito relativo a esta matéria seja violado.
Nos últimos anos, tem se verificado que o direito e o desporto vêm constituindo realidades bem mais próximas. Neste contexto, foi destacada a importância do desporto no texto constitucional brasileiro, servindo como uma espécie de reconhecimento de suas funções pelo Estado.
É sabido que a inclusão do desporto no rol dos direitos constitucionalizados é bem recente, datada da CRFB/88. Portanto, vale destacar que o processo de inserção do desporto como um direito fundamental inerente a qualquer cidadão ainda faz parte de um processo que se encontra em pleno desenvolvimento.
No plano internacional, um dos documentos que serviram de base para produzir a legislação desportiva atual é a Carta Internacional de Educação Física e Desporto, de 21 de novembro de 1978, discutida na Conferência Geral das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura.
Este documento foi adotado pela U.N.E.S.C.O., na tentativa de atrelá-lo como direito fundamental do homem.
O art. 1º da Carta consagra o desporto como direito fundamental, haja vista que afirma com clareza: “A prática da educação física e do desporto é um direito fundamental para todos”.[8: U.N.E.S.C.O. Carta Internacional de Educação Física e Desporto (1978).]
Outro documento que possui importância neste contexto é a edição da resolução 58/05, editada na Assembleia geral da ONU, realizada no dia 03 de Novembro de 2003. Esta resolução possui o título ”Desporto como forma de promover a educação, saúde, desenvolvimento e paz”[9: O.N.U. Resolução nº 58/05 (2003).]
De acordo com o entendimento de professor Martinho Neves Miranda, esta resolução não eleva o desporto com direito fundamental do ser humano, como pode-se analisar no outro documento acima exposto, porém reconhece a sua relevância, na busca por ‘cristalizar’ o desporto como direito fundamental do cidadão.
É importante destacar que o legislador brasileiro reconhece que o desporto possui uma íntima relação com a educação, haja vista que sistematizou as duas matérias no mesmo capitulo.
O art. 6º da CRFB/88 inserido no Capítulo II, “Dos direitos sociais” descreve: “São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.”
Conforme o artigo brevemente exposto, o lazer é incluído na categoria de direito social. Outrossim, o art. 217, § 3º CRFB/88 prevê expressamente que o Poder Público deve fomentar o lazer, como forma de promoção social.
Cabe salientar a maneira como Leonardo Schimitt de Bem descreve a correlação entre desporto e direitos sociais:
Além de promover a formação e o desenvolvimento, o desporto no âmbito social ajuda os agentes na realização de objetivos, na formação e reforço de suas identidades, no desenvolvimento de suas personalidades, na aquisição de autonomia e na própria ressocialização. E mais, estimula sentimentos de solidariedade, fraternidade, voluntariedade, de respeito ao próximo, de cooperação e criatividade, comunicando, também, um sentido de objetividade, racionalidade e mensurabilidade.[10: DE BEM, Leonardo Schmitt. Direito Penal Desportivo. São Paulo: Quartier Latin, 2009. p. 32]
O desporto é amplamente contemplado pela mídia brasileira, sendo a sua linguagem acessível a todas as camadas sociais, inclusive atingindo a população menos favorecida. 
O jornalismo possui um papel de impulsionador do interesse das pessoas, em que pese o grande destaque que é fornecido aos assuntos esportivos, muitas das vezes sendo destaques nas primeiras páginas de jornais de grande circulação em todo o país.
Portanto, pode-se afirmar que o lazer, por meio do desporto, é uma importante ferramenta na busca da igualdade e da dignidade da pessoa humana, princípios amplamente consagrados pela atual Carta Constitucional, ao passo que pretende garantir o bem de toda a coletividade.

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