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1 SUMÁRIO Uma Breve Introdução da História do Serviço Social no Mundo..................................4 O Surgimento Serviço Social na América Latina.....................................................6 Movimento de Reconceituação na América Latina....................................................7 Trajetória histórica do Serviço Social no Brasil....................................................10 As Encíclicas Papais.......................................................................................13 O Processo de Institucionalização do Serviço Social no Brasil: Primeiras Escolas de Serviço Social no Brasil............................................................................................15 Motivos Para o Serviço Social Brasileiro Buscar Influência no Serviço Social Norte- Americano..................................................................................................20 A Década de 1940 para o Serviço Social.............................................................22 A Evolução do Serviço Social Brasileiro e seus ganhos............................................24 A década de 1960: A crise do Serviço Social Tradicional.........................................25 Pontos Importantes do Movimento de Reconceituação no Brasil.................................27 Renovação do Serviço Social e Perspectiva Modernizadora, Reatualização do Conservadorismo e Intenção de Ruptura.............................................................29 Documentos Importantes do Movimento de Reconceituação.....................................32 A Influência das Correntes Teóricas e Filosóficas na Construção Téórica-Metodológica do Serviço Social:.............................................................................................37 Fundamentos do Serviço Social na Contemporaneidade............................................44 Contribuições de Iamamoto.............................................................................48 Quadro de Revisão: Datas que São Sempre Cobradas nos Concursos de Serviço Social.....54 Questões Comentadas................................................................................60 2 Carta ao Leitor Concurseiros de serviço social, esse é mais um material que produzimos para aprimorar o seu conhecimento. Nesse material você terá acesso ao conteúdo sobre os fundamentos histórico, teórico e metodológico do Serviço Social e também a 50 questões comentadas e 150 questões gabaritadas. Esse material irá te auxiliar em seus estudos sobre esse tema que é um dos mais cobrados nos concursos de serviço social. Concurseiro, gostaríamos de lembrar que esse material é protegido pela Lei de direitos autorais (Lei n° 9.610) e que a reprodução desse material com FINS lucrativos e SEM fins lucrativos sem a autorização do grupo concurseiros de serviço social é CRIME. Não esqueça que temos inúmeras apostilas de serviço social para concurso, caso tenha interesse em conhecer melhor as demais apostilas e/ou nosso trabalho pode entrar em contato conosco por meio de nossas redes sociais. 3 UMA BREVE INTRODUÇÃO DA HISTÓRIA DO SERVIÇO SOCIAL NO MUNDO Com o fim do feudalismo, um grande contingente populacional passou a ocupar as cidades e vários problemas surgiram nessa época, que foi chamada de Idade Moderna, entre os problemas destacam-se: pobre dieta alimentar, falta de trabalho, ocupações irregulares etc. O que ganhou notoriedade nesse período foi a Peste Negra, que matou um grande contingente populacional. Na Idade Moderna surge e ganha importância a burguesia, que ganhou grande força econômica no período. Destaca-se também o Iluminismo que se caracteriza por atribuir à ciência um papel fundamental e não se coloca mais Deus no centro do universo e sim o homem. Com os inúmeros problemas sociais advindos com o fim do feudalismo, com a exploração do trabalho, onde as atividades ligadas ao comércio tinham grande importância, passa-se a ter uma “preocupação” com esses problemas sociais. Dessa forma, a burguesia passa a trabalhar com os problemas sociais, realizando sobre esses problemas ações de caridade. Com a chegada da I Revolução Industrial, no século XVII, dá-se a passagem do Capitalismo Comercial para o Capitalismo Industrial e com isso ocorre a instalação de várias fábricas nas cidades, fazendo com que várias pessoas se deslocassem do campo para a cidade, já que não havia mais os feudos onde trabalhar e as terras haviam sido vendidas. Essas mudanças levam a um crescimento desordenado das cidades, fazendo com que seus novos moradores, que não possuíam riquezas, vendessem sua mão de obra e, juntamente com toda sua família (mulher, crianças, etc), trabalhassem com 4 uma carga horária exaustiva, com baixa remuneração e em lugares insalubres. Tudo isso causou inúmeras mortes no referido período, por diversos motivos, desde acidentes de trabalho à desnutrição devido à precária dieta alimentar de alguns trabalhadores. Dessa forma, percebe-se que por muito tempo a população pobre que trabalhava nas fábricas foram negligenciadas e ficaram sem nenhuma proteção. Com todas essas injustiças a Igreja Católica se posiciona contra a situação de descaso desses trabalhadores, não considerando os trabalhadores como escravos e impondo à sociedade a noção de que eles deviam ser tratados com “dignidade”, que fazer isso era parte de um comportamento cristão. Com isso uma iniciativa ligada à Igreja Católica, chamada UCISS União Católica Internacional de Serviço Social que nasceu em 1925 em Milão na Itália, apoiou a criação da primeira escola católica de Serviço Social na América Latina que foi a escola Del Rio, fazendo com que esta denominação religiosa tivesse uma opinião decisiva na criação das escolas de Serviço Social em toda Europa e América Latina, ela contribuiu também para que o assistencialismo leigo desse lugar ao assistencialismo profissional tendo em vista, que essa assistência passou a apresentar caráter profissional no que antes era papel de fiéis cristãos. É importante salientar que a primeira escola de Serviço Social no mundo nasce no ano de 1899, em Amsterdam na Holanda, para trabalhar com os operários, de acordo com Estevão (1985). 5 O SURGIMENTO SERVIÇO SOCIAL NA AMÉRICA LATINA Não existe um consenso quanto ao marco inicial de surgimento do serviço social na América Latina. Ander Egg, sinaliza o ano de 1925 como marco inicial pelo fato de esse ter sido o ano de criação da primeira escola especializada em Serviço Social em um país latino-americano. Barriex, no mesmo sentido, aponta que em 1925 foi criada a Escola de Serviço Social em Santiago no Chile, e essa foi fundada pelo médico Alejandro Del Rio. A fundação da escola por um médico determina uma das principais características da profissão de Serviço Social em seus primórdios que diz respeito a sua subordinação à profissão médica, aparecendo assim como uma sub-profissão. Destaca-se também que em 1929 foi criada a segunda escola de serviço social, que foi a Escola Elvira Matte de Cruchaga, sendo seu criador Miguel Cruchaga Tocornal. Essa escola atendia aos interesses da Igreja Católica. A escola visava à formação de visitadoras que, essas além de cuidar do aspecto material dos assistidos também tratassem de suas almas. Para a escola, essas primeiras iniciativas do que posteriormente seria o Serviço Social, era compreendido mais do que uma simples profissão, era antes uma vocação. Por muito tempo, acreditou-se, no entanto, que o desenvolvimento do Serviço Social na América Latina constituiu um simplesprolongamento do Serviço Social europeu, não apresentando particularidade. Inicialmente o Serviço Social Latino Americano sofreu influência do Serviço Social europeu e dos pressupostos religiosos da Igreja Católica. No pós-Guerra, o 6 Serviço Social norte-americano passou a influenciar o Serviço Social na América Latina, adequando à profissão a nova fase de desenvolvimento capitalista, no entanto, o modelo exportado dos Estados Unidos não conseguiu adequar-se às particularidades da realidade latino-americana, que se encontrava em um estágio diferente de desenvolvimento capitalista, esse modelo se manifestou através do desenvolvimentismo, o que não funcionou, principalmente, pelo fato de desconsiderar as lutas de classe e os interesses antagônicos presentes na sociedade. MOVIMENTO DE RECONCEITUAÇÃO NA AMÉRICA LATINA Como mencionado anteriormente, a crise do Serviço Social tradicional foi um fenômeno a nível internacional. Com o fim da Guerra Fria, enfraqueceram-se os conflitos internacionais abrindo espaço para a mobilização das classes subalternas, que lutavam por seus interesses mais urgentes, modificando-se a dinâmica do tensionamento presente nas estruturas sociais. Nesse momento, surgiram diversos movimentos que passaram a questionar a racionalidade do Estado Burguês, dentre eles destacam-se: movimento feminista, negro, jovens, ecológicos, etc. Nesse cenário tem-se a emergência da crítica ao Serviço Social tradicional, devido sua ligação com a ordem burguesa, criticando suas instituições e organizações governamentais e as políticas desenvolvidas pelo Welfare State, a ausência de politização da profissão, caráter técnico na realização das ações e sua eficácia. De acordo com José Paulo Netto (2015), o movimento de reconceituação latino-americano, o qual foi uma expressão do movimento 7 mundial de erosão do Serviço Social tradicional, foi diretamente influenciado pelo contexto histórico, político e social dessa região e das proximidades. Na década de 1960, a emergência de novos atores e movimentos sociais no cenário político e a própria Revolução Cubana em 1959, que representou uma vitória do socialismo naquele período e um perigo iminente para o imperialismo norte-americano, foram grandes influências para o movimento de reconceituação. Assim, o questionamento central que a categoria profissional do Serviço Social realizava era sobre qual o papel da profissão na busca pela ultrapassagem do subdesenvolvimento dessa região. Com isso, novos questionamentos foram surgindo, como de que modo o Serviço Social estava contribuindo ao responder as sequelas da questão social, se tais respostas eram eficazes, se a prática profissional estava adequada ao contexto específico dos países e regiões latinas O movimento de Reconceituação do Serviço Social emergiu na metade dos anos 1960, prolongou-se por uma década e foi, na sua especificidade, um fenômeno tipicamente latino-americano. A autora Iamamoto (1999) afirma que o movimento de Reconceituação representou um marco decisivo no desencadeamento do processo de revisão crítica do serviço social no continente. A categoria profissional iniciou um debate acerca do papel da profissão diante da subalternidade dos países latino-americanos, bem como se suas ações estavam realmente sendo eficazes quando respondiam as sequelas da questão social, e se a importação de referenciais de outros países era o suficiente para combater as refrações da questão social nessa região, já que eram bem específicas e típicas dessa localidade. Assim, diante desse contexto, a categoria profissional se viu incitada a questionar suas bases tradicionais, além de quê, esse processo possibilitou 8 a aproximação da profissão a teoria social marxista, apesar de diversos problemas, inicialmente, ao recorrer a obras equivocadas, contaminadas por outras perspectivas e de segunda mão. É válido ressaltar que, apesar do movimento de reconceituação inserir-se em um movimento mais amplo de renovação do serviço social a nível internacional, na América latina esse movimento apresentou particularidades, na medida em que, a ruptura com o serviço social tradicional ocorreu concomitantemente com a ruptura das imposições imperialistas no sentido de libertar a América Latina da subordinação aos países desenvolvidos, voltando-se ainda para transformações na estrutura capitalista concentradora, excludente e exploradora. A renovação latino- americana buscava que com a renovação da profissão houvesse a superação da condição de subdesenvolvimento de seus países. Esse movimento é pautado por uma série de questionamentos feito pelos profissionais, que colocaram como aspectos a serem discutidos: o papel dos profissionais frente às manifestações da questão social; adequação dos procedimentos à realidade regional e nacional; eficácia das ações profissionais e a eficiência sobre a legitimidade das suas representações; a emergência de novos atores na cena política. Os anseios mudancistas, no entanto, foram interrompidos pelo avanço das ditaduras nos países latino-americanos, extinguindo o movimento de reconceituação no ano de 1975, permanecendo, porém, a relação com a tradição marxista e a nova relação dos profissionais no âmbito continental. 9 Para Netto (1992) a interlocução com a tradição marxista um dos marcos da modernidade profissional. TRAJETÓRIA HISTÓRICA DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL O Contexto Histórico do Brasil na Década de 1930 O Serviço Social surge no Brasil na década de 1930, no início da chamada “Era Vargas”, onde o presidente vigente no país era Getúlio Vargas. O serviço social também teve seu surgimento no Brasil ligado à Igreja Católica, assim como nos diversos países da América Latina e na Europa. É necessária a compreensão do momento histórico que o país vivia para entender quais os motivos que levaram ao surgimento do Serviço Social no Brasil. Pereira (1999) destaca que em meados da década de 1930 o país passava por um processo de crescimento industrial, de um desenvolvimento econômico, político e social. Esse crescimento ampliou ainda mais as expressões da questão social, e inúmeros motivos contribuíram para esse fator, entre eles destaca-se o maior crescimento populacional na região urbana, passando grande parte dessas pessoas a formar favelas, os baixos salários dos trabalhadores, não conseguindo os mesmos manter sua subsistência, as precárias condições de trabalho e um ESTADO que se negava em reconhecer e trabalhar com a Questão social. Os trabalhadores e suas demandas pré década de 1930 eram desvalorizados por parte do Estado, prova disso é que na Constituição de 1981, Bulla (2003) afirma que o Estado negava-se em intervir em conflitos provenientes da relação trabalhadores e empregadores, ficando ele apenas com a responsabilidade de regular o mercado. 10 A década de 1930 é considerada um marco, pois é a partir desse período, em que o governo populista de Vargas, passa a trabalhar com o que antes estava renegado que era a Questão Social, deixando assim a mesma de ser “CASO DE POLÍCIA” e passa a ser “CASO DE POLÍTICA”. O governo Vargas temendo a ascensão e o crescimento do movimento operário no país e também a insatisfação da classe média e dos intelectuais com a administração pública, agiu de forma a conciliar medidas de proteção social de caráter preventivo com os interesses da burguesia,que era o crescimento econômico. O período de 1930 a 1954 foi de fundamental importância para a ampliação da proteção social do trabalhador e para a ampliação da Política Social. Segundo Bulla (2003) foi o início da concepção de um Estado de Bem-Estar Social no Brasil, embora esse modelo não tenha sido totalmente implantado, entretanto o mesmo trouxe a ampliação das melhorias em vários setores e por meio de diversas ações, como: 11 Criação do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio em 1930; Criação dos Institutos de Aposentadoria e Pensão em 1933, que abrangeu várias categorias profissionais, dando aos trabalhadores maior proteção trabalhista; Em 1938 foi instituído o Conselho Nacional de Serviço Social- CNSS; Em 1939 a Justiça do Trabalho e a Legislação Sindical, foram reguladas (as mesmas já existiam desde 1937, mas ainda não tinham sido reguladas); Em 1942 foi criado a Legião Brasileira de Assistência Social visando auxiliar o Estado, cuidando dos serviços de Assistência Social; Houve outros ganhos aos trabalhadores, tais como a instituição do Salário Mínimo, Jornada de 8 horas de trabalho diário, férias remuneradas, auxílio a gestante, proteção a infância etc. Dentro das alianças que Vargas fez no poder, está a Igreja Católica, instituição essa que já defendia a intervenção do Estado na relação capital X trabalho e do Estado prover políticas Sociais. A Igreja Católica deixou esse pensamento definido com a Encíclica Quadragésimo Ano (Pio XI, 1931) que veio para confirmar o que já estava defendido também pela Encíclica Rerum Novarum (Leão XIII, 1891), essas encíclicas também defendiam uma sociedade consensual com harmonia, sem o conflito de classes. Segundo Bulla (2003, p. 7), com o apoio mútuo entre igreja e Estado houve uma aliança onde “A partir dessa aliança, houve uma grande expansão das instituições católicas, tanto as assistenciais, quantos as educativas, entre elas as universidades católicas. Essas instituições 12 educacionais foram significativas na formação de pessoal para a realização do trabalho social nas instituições assistenciais nascentes”. AS ENCÍCLICAS PAPAIS As encíclicas papais tiveram um papel fundamental no Serviço Social Brasileiro em seus primórdios, tendo em vista que o Serviço Social em meados da década de 1930 era diretamente ligado à Igreja Católica. As encíclicas vieram para tentar recuperar a hegemonia ideológica da Igreja. Essas encíclicas assumiam um posicionamento antiliberal e antissocialista. Para facilitar seu entendimento, analise com atenção o quadro a seguir com as principais características das encíclicas, esse tema tem sido cobrado em concursos de serviço social com muita frequência, assim é necessário que você o aprenda. Rerum Novarum Quadragésimo Anno Foi escrita na vigência do Papa Leão XIII em 1891 ; Essa encíclica buscava iniciar o magistério social da Igreja no contexto de busca de restauração de seu papel social sociedade moderna ; Essa encíclica foi publicada no momento marcado pelos movimentos operários e pela propagação das ideias Foi escrita na vigência do Papa Pio XI em 1931; Essa encíclica vai tratar da questão social, apelando para a renovação moral da sociedade e a adesão à Ação Social da Igreja. Essa encíclica confirma e atualiza o conteúdo da Rerum Novarum; Nessa encíclica o Papa 13 comunistas; A "Rerum Novarum" procurou analisar os problemas enfrentados pelos trabalhadores e procura soluções para esses problemas; Antes das encíclicas vários movimentos operários estavam ocorrendo, assim quando o Para Leão VIII publicou a encíclica Rerum Norarum, ele defendeu que o homem deveria aceitar com paciência a sua condição, pois não tinha como todos homem na sociedade civil terem o mesmo nível, sendo o papel da Igreja reconciliar os ricos e os pobres, lembrando as duas classes os seus deveres. condena os males provocados pelo capitalismo e afirma que somente através da regulação das relações entre os homens pela justiça, pela caridade cristã e com uma generalização do cristianismo na vida econômica é que a humanidade se livrará desse mal; O papa afirma que ninguém poderia ser católico e socialista ao mesmo tempo; O Papa Pio XI propõe uma harmonia entre as diversas profissões, a pacífica colaboração das classes e a repressão das organizações socialistas. 14 O PROCESSO DE INSTITUCIONALIZAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL: PRIMEIRAS ESCOLAS DE SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL A institucionalização do Serviço Social no Brasil se dá segundo Carmelita Yazbek (2009, p.5) no período da consolidação do capitalismo monopolista “no contexto contraditório de um conjunto de processos sociais, políticos e econômicos, que caracterizam as relações entre as classes sociais”. Dessa forma a autora afirma que nos países industrializados a institucionalização do serviço social como profissão deve- se à progressiva intervenção do Estado no processo de regulação social. No Brasil, foram mobilizados recursos do Estado, do Empresariado com o auxílio da Igreja Católica para propiciar a institucionalização e legitimação profissional, tudo isso objetivava ENFRENTAR e REGULAR a questão social. 15 No ano de 1932, entre 1° de Abril e 15 de Maio, foi organizado pelas Cônegas de Santo Agostinho um curso de Formação Social Para Moças, a direção desse curso era Melle Adelé de Loneux, ela era professora da Escola Católica de Serviço Social na Bélgica. Após esse curso foi inaugurado o Centro de Estudos e Ação Social - CEAS, no ano de 1932, ele foi a unidade fundadora e mantenedora da primeira escola de Serviço Social no Brasil que surgiu no ano de 1936, segundo Yazbek (2009, p.5) as “reuniões iniciais do grupo foram acompanhadas pela Arquidiocese de São Paulo, por intermédio do Monsenhor Gastão Liberal Pinto. Em 16 de setembro, é eleita a primeira diretoria do Centro tendo Dona Odila Cintra Ferreira como presidente”. O CEAS era mantido através das mensalidades de suas sócias e ele objetivava difundir a doutrina e ação católica. É necessário compreender que nesse período a Igreja contava com as encíclicas as diretrizes da Rerum Novarum (1891) e do Quadragésimo Anno (1931) encíclicas papais que assumiam um posicionamento antiliberal e antissocialista para tentar conseguir seu objetivo de difundir a doutrina e a ação católica. Segundo Yazbek (2009) eram ofertados no CEAS cursos de filosofia, moral, encíclicas etc. No ano de 1934 o CEAS objetivou implantar a Ação Católica no estado de São Paulo, organizando assim uma semana de ação católica. O CEAS tinha como diretora Dona Odila Cintra Ferreira, ela era formada na Escola Normal Social de Paris. O CEAS decidiu enviar a Bruxelas na Bélgica Maria Kiehl e Albertina Ramos para realizarem o Curso de Serviço Social. No dia 15 de Fevereiro de 1936, no estado de São Paulo, nasce a primeira escola de Serviço Social do Brasil, essa escola mesclava a 16 visão Francesa (que foi trazida ao Brasil por Dona Odila Cintra Ferreira) e a visão Belga (trazida por Maria Kiehl e Albertina Ramos), chama de visão Franco-Belga. Portanto em 1936 é criada a primeira escola de Serviço Social no Brasil no estado de São Paulo, mais tarde essa escola foi incorporada a PUC de São Paulo. No ano de 1937 foi criada a escola de Serviço Social no Rio de Janeiro e em 1945 a escolade Serviço Social de Porto Alegre, com o decorrer das décadas outras escolas foram criadas. Apesar da Questão Social nesse período ser tratada como Questão de Política, tendo em vista que o Estado criou inúmeras instituições para regular os problemas sociais, é necessário compreender que o pensamento da Igreja Católica estava presente em como era vista a questão social, que para época era tida como um problema moral, onde os indivíduos eram os responsáveis por suas situações. Dessa forma, compreende-se que o Serviço social inicial nasce vinculado a práticas religiosas da Igreja Católica, na função de auxiliar aos pobres e necessitados, tendo fortes marcas do voluntarismo, da filantropia, e da caridade. O Serviço Social apresenta no referido período, segundo Yazbek (2009) “um enfoque conservador, individualista, psicologizante e moralizador da questão, que necessita para seu enfrentamento de uma pedagogia psicossocial ” (p.6). Inicialmente, o Serviço Social exportou modelos teóricos e metodológicos de outros países, principalmente os que tinham fundamentos e princípios filosóficos e cristãos, com influências Belga e Francesa, países esses que estavam em grau de desenvolvimento diferente do Brasil. No referido período o Brasil estava ainda em uma realidade subdesenvolvida e as necessidades básicas não estavam sendo atendidas, com isso houve uma incompatibilidade dos modelos trazidos com a realidade brasileira. Devido a 17 essa procura de referências fora do Brasil e que não se adaptavam a realidade brasileira, Iamamoto (1998, p.105) afirma que, o Serviço Social teve muitas “marcas confessionais”, que era entendido como uma “missão”, “vocação”. Essa influência europeia estava fortemente marcada com um Serviço Social de base cristã, que tinha característica de benesse, onde predominava as damas de caridade, que participavam atos de “solidariedade” social. Segundo Yazbeck (2009), os referenciais orientadores do pensamento e da ação do emergente Serviço Social brasileiro baseia-se nas seguintes fontes: Doutrina Social da Igreja, no ideário franco-belga de ação social e no pensamento de São Tomás de Aquino (séc. XII): o tomismo e o neotomismo. A autora ainda explicita que “é na relação com a Igreja Católica, que o Serviço Social brasileiro vai fundamentar a formulação de seus primeiros objetivos político-sociais, orientando-se por posicionamentos de cunho humanista conservador contrário aos ideários liberal e marxista na busca de recuperação da hegemonia do pensamento social da Igreja em face da “questão social” (p.6). 18 Assim como foi visto, o Serviço Social brasileiro em seu início foi influenciado pelo Serviço Social Europeu, e era fortemente marcado pela base cristã, que tinha característica de benesse, onde predominava as damas de caridade, que participavam atos de “solidariedade” social. Esse modelo passa a se mostrar insuficiente e em meados da década de 1940 e a partir dessa incompatibilidade entre o Serviço Social de influência Franco- Belga e sua efetivação no Brasil, os profissionais de Serviço Social procuram se aprimorar técnico e metodologicamente, para isso buscaram no Serviço Social Norte Americano uma nova influência, por isso nesse período o Serviço Social Brasileiro recebe uma visão FUNCIONALISTA no Serviço Social brasileiro. Não esqueça dos detalhes mais cobrados sobre as primeiras escolas de Serviço Social no Brasil Data do Curso de Formação Social Para Moças 1° Abril a 15 de Maio de 1932 Quem era a diretora do curso? Melle. Adèle de Loneux, professora da Escola Católica de Serviço Social da Bélgica Ano de Fundação do Centro de Estudo e Ação Social 1932 Primeira diretora do CEAS Dona Odila Cintra Ferreira, formada na Escola Normal Social de Paris. Quem foram as enviadas a Bélgica Maria Kiehl e Albertina Ramos 19 para estudar Serviço Social? Ano em que é instaurado a Ação Social em São Paulo 1934 Qual a data da Fundação da Primeira Escola de Serviço Social no Brasil? 15 de Fevereiro de 1936 Em qual Estado foi fundado a primeira escola de serviço Social São Paulo Em qual visão baseava-se essa escola? Visão Franco-Belga Quais os referenciais orientadores do pensamento e da ação do emergente Serviço Social brasileiro ? Referenciais baseados na Doutrina Social da Igreja, no ideário franco-belga de ação social e no pensamento de São Tomás de Aquino (séc. XII): o tomismo e o neotomismo. MOTIVOS PARA O SERVIÇO SOCIAL BRASILEIRO BUSCAR INFLUÊNCIA NO SERVIÇO SOCIAL NORTE-AMERICANO A autora Marilda Iamamoto (1998), diz que o serviço social buscou inspiração no Serviço Social Norte Americano, por inúmeros motivos, e são eles: Com a implantação do Estado Novo em 1937, o governo passa a buscar legitimidade para o que estava acontecendo, por isso passa a garantir 20 um controle social, através de uma política de massa, que conseguia barrar os movimentos reivindicatórios. Nesse período o Serviço Social passar a se LEGITIMAR e INSTITUCIONALIZAR, rompendo o Serviço Social com a noção de “benesse” oriundo da influência Católica e com isso começa a CRIAÇÃO de um mercado de trabalho para os assistentes sociais, sendo essa profissão agora participante de uma categoria ASSALARIADA, atrelada as políticas públicas e a intervenção do Estado. Na década de 1940 o Serviço Social tinha que dar respostas a novas demandas que apareciam, por isso tinham que munir-se de um aparato técnico e teórico que os auxiliassem no seu fazer profissional. Houve uma aliança entre o governo Vargas e o governo Norte- Americano de Roosevelt em 1942, essa aliança tinha por objetivo fortalecer o capitalismo e afastar a ameaça comunista do Brasil. Com o fim da II Guerra Mundial, no pós 1945, os Estados Unidos ganhou mais poder, com isso estabeleceu-se uma relação mais forte entre ele e o Brasil. Com a Guerra Fria, e com a expansão industrial existe um agravamento da Questão Social, não sendo o Serviço Social que era puramente cristão, que trabalhava com caridade, que não era munido de aparto técnico, capaz de dar conta das novas demandas que a ele foi apresentadas. A partir de 1945/1947 é que se passa a ter a primeira preocupação do Serviço Social com a definição de uma elaboração teórica própria para a profissão, com elementos técnicos e científicos que imprimisse eficácia a suas ações. Com aproximação entre os Estados Unidos e o Brasil, a relação entre os dois países foi ampliada e o Serviço Social brasileiro inspirou-se no 21 norte América e isso foi muito facilitado, a exemplo disso cita-se os inúmeros intercâmbios de profissionais e estudantes brasileiros para os EUA, a fim de aprender com os Norte-americano sobre “seu Serviço Social”. Como reafirma Andrade (2008): “O surgimento e desenvolvimento das grandes instituições assistenciais na década de 1940 coincidiram com o momento de legitimação e institucionalização do Serviço Social. Esse período representou o momento em que a profissão pode romper o estreito quadro de sua origem no bloco católico e, a partir do e no mercado de trabalho que se abriu com essas instituições, instaurar-se como uma categoria assalariada, fortemente atrelada às políticas sociais implementadas pelo Estado. Portanto conclui-se que foi na década de 1940 que no Brasil houve a criação de mercado de trabalho mais amplo para SERVIÇO SOCIAL e que foi nesse período que se deu de formamas expressiva a institucionalização do o serviço social. A DÉCADA DE 1940 PARA O SERVIÇO SOCIAL Segundo Carmelita Yazbek (2009, p.9) “conservadorismo católico que caracterizou os anos iniciais do Serviço Social brasileiro começa, especialmente a partir dos anos 1940, a avançar tecnicamente ao entrar em contato com o Serviço Social norte-americano e suas propostas de trabalho permeadas pelo caráter conservador da teoria social positivista”. Nesse período Segundo Yazbek o Estado passa a intervir no processo de reprodução das relações sociais de forma mais contundente, assumindo assim o papel de regular e fiador dessas relações tanto na viabilização do 22 processo de acumulação capitalista, como no atendimento das necessidades sociais das classes subalternas. Quando o Estado passa a incorporar parte das reivindicações dos trabalhadores, através do reconhecimento legal de sua cidadania através de leis sindicais, sociais e trabalhistas, ele está buscando sua própria legitimação, com isso abre-se também o mercado de trabalho para o Serviço Social, onde as possibilidades de intervenção são ampliadas. Como foi mencionado em meados da década de 1930 o trabalho dos assistentes sociais voltava-se mais ao âmbito privado, que era patrocinado pela Igreja Católica, já na década de 1940 o Serviço Social amplia a sua ação e segundo Yazbek (2009) “assume um lugar na execução das políticas sociais emanadas do Estado e, a partir desse momento, tem seu desenvolvimento relacionado com a complexidade dos aparelhos estatais na operacionalização de Políticas Sociais”. Assim o próprio Estado é quem impulsiona a profissionalização do assistente social e também amplia seu campo de trabalho, em função das novas formas de enfrentamento da Questão Social. Ianni (1990) afirma que ao desenvolver políticas e agências de poder estatal nos mais diversos setores da vida nacional o Estado brasileiro transformou a questão social em problema de administração. Na década de 1940 o público-alvo da ação que o Serviço Social realizava era os trabalhadores e com a vinculação do Serviço Social com as Políticas Sociais mais trabalhadores passam a ser alcançados. Nesse período a ação normatiza e social do Estado segundo Yazbek (2009, p.8) “apresenta 23 fortes características paternalistas e repressivas, reforçadoras da ideia de um Estado humanitário e benemerente”. As políticas sociais nesse período eram inoperantes segundo Yazbek, tinham pouca efetividade social e por sua crescente subordinação a interesses econômicos, elas também eram fragmentadas concebidas setorialmente como se o social fosse a simples somatória de setores da vida, sem articulação, numa apreensão parcializada da realidade social, dessa forma o trabalho dos assistentes sociais também eram fragmentados, e tinham um caráter pontual e localizado. É nesse contexto, que o assistente social se encontra em uma situação de assalariamento, inserido na divisão sócio-técnica do trabalho, que ele vai ter contato com a matriz positivista que segundo Yazbek, com isso o serviço social brasileiro buscava ampliar os referenciais técnicos para a profissão, Iamamoto (1992, p.21) chama isso de “arranjo teórico- doutrinário”, ele constitui-se por unir o discurso humanista cristão com o suporte técnico científico baseado na teoria positivista, reafirmando um caminho de pensamento conservador para a profissão. Dessa forma, Yazbek (2009) afirma que o primeiro suporte teórico metodológico voltado para a qualificação técnica de sua prática foi buscado na matriz positivista. Esse modelo passa a ser questionado em meados da década de 1960. A EVOLUÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL BRASILEIRO E SEUS GANHOS Os anos a partir de 1940 são considerados os “anos de ouro” para o serviço social, embora a profissão estivesse intimamente ligada ao 24 positivismo, com um viés de ajuste do indivíduo, inúmeras foram as conquistas que a profissão teve nesse referido período, entre elas destacam- se: Em 1945 foi criado a Associação Brasileira das Escolas de Serviços Sociais-ABESS; Em 1946 a criação da Associação Brasileira de Assistentes Social- ABAS; Em 1947 Criação do 1º CÓDIGO DE ÉTICA; Regulamentação por Getúlio Vargas em 1954 do ensino de Serviço Social no Brasil; O Serviço Social brasileiro influenciado pelo Norte-Americano, passa a entrar em crise nos anos de 1960. A DÉCADA DE 1960: A CRISE DO SERVIÇO SOCIAL TRADICIONAL O Serviço Social brasileiro tradicional entra em crise em meados da década 1960. Segundo Yazbek (2009), a década de 1960 é um período de mudanças econômicas, sociais, políticas, um período de expansão do capitalismo, assim foi imposto a América Latina “um estilo de desenvolvimento excludente e subordinado”. Nesse período o Serviço Social assume inquietações e passa a questionar o Serviço Social tradicional, através de um processo de revisão global em níveis teórico, metodológico, operativo e político. Passa-se a pretender um projeto profissional que seja voltado para as classes subalternas, nesse período tem se os primeiros contatos com a teoria social de Marx, embora esse contato não seja amplo nesse período. O Serviço Social nesse período tinha características segundo Netto (1992), burocrático e administrativa (tecnicismo). Essas características 25 exigiam um Serviço Social “moderno”, onde o fazer profissional tivesse uma característica racional. A década de 1960 tem-se o início do movimento de reconceituação no Serviço Social, esse inicialmente privilegia um projeto técnocrático/modernizador, e esse se expressa principalmente no Seminário de Araxá e Teresópolis. Com o advento da ditadura militar não foi possível uma contestação da ordem política segundo Yazbek (2009), entretanto no Cone Sul latino americano, se via uma clara perspectiva crítica que contestava a ordem política e a proposta de transformação social. Com os regimes ditatoriais que houve também dos países latinos americanos, essa perspectiva crítica que contestava a ordem política e a proposta de transformação social teve que parar sua produção crítica e silenciar-se. Esse movimento de renovação não ocorreu apenas no Serviço Social e sim nas demais áreas das ciências humanas, que passaram a questionar o “desenvolvimento” e seus efeitos que ocorria tanto no Brasil, como nos demais países da América Latina. Um dos grandes ganhos que influenciou o Serviço Social, segundo Netto (1992), foi a inserção do Serviço Social no âmbito UNIVERSITÁRIO, pois o ensino deixava de ser em escolas isoladas e passava a ser nas universidades, tendo portanto o curso um contato com várias áreas, como a sociologia, psicologia, filosofia, antropologia, entre outros, e isso significou um ganho para a profissão. A expansão do Serviço Social no ensino universitário exigiu também a contratação de profissionais para lecionar . 26 PONTOS IMPORTANTES DO MOVIMENTO DE RECONCEITUAÇÃO NO BRASIL Para Netto (1992, p.35), quatro são os elementos importantes para a renovação do Serviço Social, são eles: A instauração do pluralismo teórico, ideológico e político no marco profissional; A crescente diferenciação das concepções profissionais (natureza, função, objetivos) derivadas do recursos diversificadas a matrizes teórico-metodológico alternativas, rompendo com o viés de que profissionalidade implicaria em homogeneidade (identidade) de visões e práticas; A inserção do Serviço Social na interlocução acadêmica ecultural contemporânea, como protagonista que tenta cortar a subalternidade posta por função meramente executiva; Constituição de segmento de vanguarda, voltados para a pesquisa e a investigação. Netto (1992) explicita também que o II Congresso Brasileiro de Serviço Social-CBSS, que foi realizado no Rio de Janeiro, colocou em questão como citado anteriormente o DESENVOLVIMENTISMO. Para o autor existem três elementos nesse período que apontam a erosão do Serviço Social tradicional: (1) O Serviço Social tem que reconhecer que ou trabalha em prol de uma sociedade em crescimento e desenvolvimento ou ver o seu fazer profissional relegado a Segundo Plano; 27 (2) Deve-se aperfeiçoar o conhecimento do profissional de Serviço Social, expandir sua base teórica e seu fazer técnico, científico e cultural; (3) Reivindicar funções não apenas executivas. Segundo Bravo (2007), esse movimento de reconceituação, colocou ao assistente social a necessidade de criar um novo projeto profissional que fosse comprometido com a sociedade, com as camadas populares e seus anseios, onde os interesses da população usuária dos serviços socioassistenciais fossem levadas em conta. Entretanto o golpe militar de 1964 reprimiu os movimentos populares que propunham melhorias e que estavam comprometidos com a democratização do Estado e da Sociedade. O golpe militar barrou os movimentos e aspirações por mudanças sociais e ocorreu sobre o pretexto de “barrar a ameaça comunista no Brasil”, isso ocorreu após ser o ex- presidente João Goulart deposto pelos militares, dessa forma o golpe militar significou uma vitória do CAPITALISMO. É importante lembrar que o Serviço Social teve suas bases tradicionais erodidas não apenas no Brasil, mas em todo América Latina, essa erosão no Serviço Social tradicional foi fundamental para o processo de laicização do Serviço Social, significando isso um certo “rompimento” com a Igreja Católica, esse acontecimento com sua inserção no meio universitário, com o contato com diversas áreas do conhecimento e a descoberta e análise do desenvolvimentismo e seus efeitos na sociedade, auxiliaram e deram bases para se repensar o Serviço Social. 28 RENOVAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL E PERSPECTIVA MODERNIZADORA, REATUALIZAÇÃO DO CONSERVADORISMO E INTENÇÃO DE RUPTURA Netto conceitua a renovação do Serviço Social como “[...] O conjunto de características novas, que no marco das constrições da autocracia burguesa, o Serviço Social articula, à base do rearranjo de suas tradições e da assunção do contributo de tendência do pensamento social contemporâneo, procurando investir-se como instituição de natureza profissional dotada de legitimação prática através de respostas a demandas e da sua sistematização, e de validação teórica, mediante à remissão às teorias e disciplinas sociais” (NETTO, 1996, p.131). Com a crise das bases que fundamentavam o Serviço Social tradicional, ocorre o real MOVIMENTO DE RECONCEITUAÇÃO, que segundo Netto (1992), tem seu marco em 1965. Para o autor a reflexão do Serviço Social tendo em vista esse movimento, se dá em três direções, que serão esquematizadas no quadro a seguir: Perspectiva Modernizadora Esse direcionamento do processo de renovação tratava-se de uma tentativa de compatibilizar o exercício profissional de Serviço Social, em sua intervenção com as demandas que lhe foram postas no pós-64, no bojo das estratégias do desenvolvimento capitalista. Tal direcionamento 29 desenvolveu-se a partir da segunda metade da década de 1960. Sua materialização deu-se, principalmente, a partir dos textos dos Seminários de Araxá e Teresópolis. Esse direcionamento possui uma forte inspiração nas matrizes teóricas: estruturalista e funcionalista. Reatualização do Conservadorismo Esse direcionamento traduz-se na retomada dos traços característicos da gênese do Serviço Social, no que concerne ao olhar para o mundo vinculado ao pensamento católico tradicional, no entanto confere um caráter modernizador que não se fazia presente nas suas bases tradicionais. Esse caráter modernizador se expressa, por exemplo, na aproximação de sua matriz teórico-metodológica com a fenomenologia. Intenção de Ruptura Esse direcionamento se propõe como intenção de 30 ruptura com o Serviço Social “tradicional”. Esta se diferencia das demais, pois apresenta uma crítica as bases tradicionais do Serviço Social, como a herança teórico-metodológica do pensamento conservador, o pensamento positivista, quanto às formas de intervenção social, o reformismo conservador. Netto destaca dois momentos na construção da Intenção de Ruptura: em um primeiro momento se expressa, principalmente, no denominado Método de Belo Horizonte, a partir da aproximação com a tradição marxista; em um segundo momento, destaca-se a contribuição de Marilda Iamamoto na leitura marxiana. Sua análise tem como característica fundamental a compreensão do Serviço Social imbricado na lógica de reprodução das relações sociais. A intenção de ruptura culminou na colocação do Serviço Social ao lado das demandas dos trabalhadores na medida em que se recusa a ser um agente legitimador do seu processo de exploração. 31 Elaboração do Quadro: Concurseiros de Serviço Social DOCUMENTOS IMPORTANTES DO MOVIMENTO DE RECONCEITUAÇÃO Araxá De acordo com Netto, o documento de Araxá simboliza uma afirmação da perspectiva modernizadora e toda sua construção é realizada a partir de um patamar consensual: “como prática institucionalizada, o Serviço Social se caracteriza pela ação junto a indivíduos com desajustamentos familiares e sociais. Tais desajustamentos muitas vezes decorrem de estruturas sociais inadequadas” (NETTO, 1996, p. 167). O discurso profissional é marcado pela tensão entre o “tradicional” e o “moderno”, ocorrendo a subsunção do primeiro ao segundo. Segundo Netto em todo o documento é enfatizado a ideia de “rompimento”, que é compreendido como a ruptura da exclusividade do tradicionalismo, porém Netto afirma que o documento não representa de fato um rompimento o que acontece é “a captura do ‘tradicional’ sob novas bases”. De acordo com Netto“O transformismo que parametra a reflexão de Araxá (vale dizer a recuperação sem rupturas do tradicionalismo, mas sob novas bases) se evidencia na sequência do documento. Posta a necessidade de combinar a micro e a macro atuação, seus autores veem-se compelidos a indicar a ‘utilização adequada’ – quer em face desta combinação quer em 32 face da ‘realidade brasileira’- dos ‘processos’ de serviço social. Nos passos em que operam esta indicação CBCISS, 1986:33-39), o que é notável é a sistemática recuperação do Caso, do Grupo e do Desenvolvimento de Comunidade desde que funcionais à mudança e ao desenvolvimento” (NETTO, 1996, p.195). Nesse documento é nítida o interesse de alinhar o Serviço Social com a ideia de “desenvolvimento”. Onde segundo Netto “as mudanças devem ser induzidas via planejamento integrado, a priorização é econômica e tecnológica, e suas dimensões sociais e políticas são claramente associadas à cultura e a administração” (NETTO, 1996, p.175). Netto destaca ainda que apesar de o seminário do qual resulta o documento explicitar o interesse de realizar uma “teorização do Serviço Social”, o Documento de Araxá não expressa nitidamente essa “teorização”, que é reduzidaa “uma abordagem técnica operacional em função do modelo básico de desenvolvimento” (CBCISS, apud NETTO, 1996). De acordo com o autor do ponto de vista teórico o documento é marcado pelo referencial estrutural-funcionalista. Teresópolis Netto caracteriza o Documento de Teresópolis como sendo a cristalização da perspectiva modernizadora. O Seminário de Teresópolis contou com a participação de 33 profissionais que é marcado por não obter um patamar consensual, havendo ao contrário a justaposição dos relatórios de dois grupos de estudo (A e B). 33 De acordo com o autor no “texto de Teresópolis o que se tem é o coroamento do transformismo [...]: nele o ‘moderno’ triunfa completamente sobre o ‘tradicional’, cristalizando-se operativa e instrumentalmente e deixando na mais secundária zona de penumbra a tensão de fundo que subjazia no texto produzido em Araxá. No documento de Teresópolis, o dado relevante é que a perspectiva modernizadora se afirma não apenas como concepção profissional geral, mas sobretudo como pauta interventiva. Há mais que continuidade entre os dois documentos: no de Teresópolis o ‘moderno’ se revela como a consequente instrumentação da programática (desenvolvimentista) que o texto de 1967 avançava” (NETTO, 1996, 190). Segundo Netto a perspectiva de modernização conservadora alcança no Documento de Teresópolis maturidade, onde em suas formulações é possível verificar avanços em relação ao Documento de Araxá: “se, neste, a ênfase na ‘teorização’ conseguiria atrelar as concepções profissionais ao projeto da ‘modernização conservadora’, a reflexão desenvolvida em Teresópolis configura, no privilégio à questão da ‘metodologia’, a exclusão de vieses tendentes a problematizar a inserção do Serviço Social nas fronteiras dos complexos institucional-organizacionais que promoviam o processo da ‘modernização conservadora’. Os valores ideoculturais que embasam a visão de Araxá não são ultrapassados, a noção de desenvolvimento permanece; mas a herança ‘tradicional’ é irremissivelmente dissolvida no cariz operativo que se concretiza em Teresópolis: o que está no centro das formulações, aqui, não são teorias, não são valores, fins e legitimidade (antes, esses componentes são dados como tácitos), mas sim a determinação de formas instrumentais 34 capazes de garantir uma eficácia da ação profissional apta a ser reconhecida como tal pelos complexos institucional-organizacionais. Em Araxá, coroa-se uma indicação do sentido sociotécnico do Serviço Social; em Teresópolis, cristaliza-se a operacionalidade deste sentido: obtém-se evicção de qualquer tematização conducente a colocá-lo em questão consolida-se o seu trato como conjunto sistematizado de procedimento prático-imediatos suscetíveis de administração técnico- burocrática”. Netto destaca que o Documento de Teresópolis alcança um elevado nível de discriminação, categorização e classificação, tanto de “situações sociais problemas”, como dos procedimentos técnicos adequados para o seu enfrentamento. “O que nele se cristalizou [...] foi a determinação precisa do papel do profissional como a de um real funcionário do desenvolvimento, em detrimento da retórica que o situava como um ‘agente’ deste processo” (NETTO, 1996, p.190-191). Netto afirma que as formulações realizadas no Documento de Teresópolis apresentam três significados para o processo de renovação profissional: Apontam para a requalificação do assistente social; Definem nitidamente o perfil sociotécnico da profissão; Inscrevem a profissão de modo conclusivo na “modernização conservadora”. O Documento de Teresópolis cristaliza uma tendência já apontada no Documento de Araxá, de redefinição do papel sociotécnico do assistente social. “ Ao situá-lo como um ‘funcionário do desenvolvimento’, Teresópolis 35 propõe tanto um a redução quanto uma verticalização do seu saber e do seu fazer. A redução está ligada à própria condição funcionária do profissional: as tradicionais indagações valorativas são deslocadas pelo privilégio pela eficácia manipulativa, e o assistente social é investido de um estatuto básico e extensamente executivo (tal como aparece nas modernas teorias de gestão), mas longe de atribuições terminais e sem subalternidades. A verticalização compreende precisamente a apropriação ideal de um elenco mais operativo de técnicas de intervenção, com a consequente valorização da ação prático-imediata” (NETTO, 1996, p. 192). Netto considera que o Documento de Teresópolis expressa “a plena adequação do Serviço Social à ambiência própria da ‘modernização conservadora’ conduzida pelo Estado ditatorial em benefício do grande capital e às características sócio-econômicas e político-institucionais do desenvolvimento capitalista ocorrente em seus limites” (NETTO, 1996, p.193). Sumaré e Alto da Boa Vista Netto caracteriza os documentos de Sumaré (1978) e de Boa Vista (1984) como de deslocamento da perspectiva modernizadora, em contraposição aos Documentos de Araxá (1967) e de Teresópolis (1970) que representam o momento ascendente dessa perspectiva. Para o autor estes documentos são marcados por uma pobreza teórica onde as “elaborações e preocupações que tiveram curso nos dois colóquios possuíam traços tais que as tornavam muito pouco aptas para galvanizar a atenção das vanguardas profissionais emergentes” (NETTO, 1996, p. 196). 36 O deslocamento da perspectiva modernizadora se expressa na medida em que “o exame dos resultantes do Sumaré e do Alto da Boa Vista patenteia que o processo de renovação profissional já transitava por outros condutos e envolvia outros protagonistas. Mas foi ainda no seu marco que se explicitou a segunda direção do processo renovador[...] Efetivamente é ainda no marco dos Seminários do Sumaré e do Alto da Boa Vista que ressoam as formulações da vertente renovadora a que denominamos reatualização do conservadorismo” (NETTO, 1996, p. 201). A INFLUÊNCIA DAS CORRENTES TEÓRICAS E FILOSÓFICAS NA CONSTRUÇÃO TÉÓRICA-METODOLÓGICA DO SERVIÇO SOCIAL: No Serviço Social quatro grandes correntes filosóficas destacam-se na formação do pensamento profissional bem como no desenvolvimento da sua metodologia de ação que são: neotomismo, positivismo, fenomenologia e marxismo. ➢ Positivismo: O Positivismo foi criado pelo francês Augusto Comte, no século XIX, que buscava explicar os fenômenos sociais com a mesma objetividade das ciências naturais. O positivismo com sua clara defesa da ordem natural das coisas, afirmava que as coisas seguindo o seu percurso natural convergiriam para a perfeita orientação da vida social. É desse pensamento que se operacionaliza no Serviço Social a ideia de que os problemas sociais eram decorrentes de disfunções no indivíduo, onde esse profissional passa a atuar para corrigir os problemas individuais adequando-o a sociedade, ênfase essa dada principalmente pelo segmento funcionalista que deriva do positivismo. 37 Sua influência no Serviço Social deu-se, principalmente na década de 1930, com clara defesa da ordem burguesa, marcou a prática profissional na perspectiva de reintegração dos indivíduos, de culpabilização dos mesmos pelos seus problemas. O Serviço Social, assim, colocava-se a serviço da manutenção da ordem, a partir do controle dos indivíduos. Sob a égide da influência positivista o Serviço Social realizava uma ação puramente assistencialista. ➢ A Fenomenologia : O Serviço Social tem contato com a fenomenologia na década de1970, e influência desse pensamento no Brasil vem da Bélgica e da França. Grande expressão dessa corrente no Serviço Social, se encontra no documento de Punaré. A influência da fenomenologia no Serviço Social iniciou-se em programas de pós-graduação, principalmente na PUC do Rio de Janeiro e na PUC de Porto Alegre. A fenomenologia traz a visão existencial no trabalho social, proporcionando ao mesmo a aplicação da teoria psicossocial. Na fenomenologia, o Serviço Social se realiza através da intervenção social ou tratamento social. Trata-se de um procedimento sistemático onde se desenvolve um processo de ajuda psicossocial, o qual é realizado através de um diálogo que deve levar a mudanças, partindo das experiências da pessoa, grupo e comunidade (BRANDÃO, 2006). Segundo Brandão (2006), a atitude do profissional, com base na fenomenologia não é a postura de ensinar e nem de deixar que o sujeito tome sozinho suas decisões, mas entende-se que deve ocorrer uma construção conjunta de algo novo, um conhecimento novo que deve ser 38 construído a cada encontro, pois a relação vai se estreitando e essa aproximação mútua reforça novas descobertas. A relação entre assistente social e sujeito deve ser verdadeira, somente assim será oportunizado uma reflexão conjunta para uma ação transformadora. Portanto, na perspectiva fenomenológica, a relação de ajuda se dá na junção da proximidade dos parceiros onde há um perguntar e um responder, numa situação de reciprocidade e horizontalidade criadora da atmosfera afetiva, humana, que leva à compreensão de si, do outro, de nós, para a possibilidade de uma transformação para a liberdade. Entre os pensadores que influenciaram o pensamento brasileiro e que foram fundamental em toda fenomenologia, destacam-se Merleau Ponty e Hussel. A fenomenologia é uma ciência que se ocupa da descrição e classificação dos fenômenos. O principal autor dessa teoria é Husserl (1859-1938), que exerceu grande influência na filosofia contemporânea. A contribuição da fenomenologia consiste basicamente na fundamentação do conhecimento a partir da experiência do mundo vivido. A tarefa inicial para esta elaboração é a descrição do fenômeno como ele se mostra à consciência. A Segundo Capalbo (1985) visa então mostrar e descrever o fenômeno tais como foram vividos, tais como se apresentam, mostrando, explicitando, aclarando, desvelando as estruturas da experiência vivida e deixando transparecer na descrição da experiência as estruturas universais. A essência é única, por isso permite identificar um fenômeno, ou seja, há uma essência única para cada fenômeno. Neste sentido, o fenômeno não é 39 simplesmente a aparição de alguma coisa, ele é o próprio ser, ele não representa alguma coisa, mas é essa mesma coisa dada à consciência. A fenomenologia busca a essência do fenômeno, como já dissemos, sendo esta outra ideia importante de ser compreendida na concepção fenomenológica. A essência não tem uma existência fora do ato da consciência. A experiência é que leva à intuição da essência, ou seja, à descoberta do sentido ideal que é atribuído ao fato materialmente percebido. Conclui-se, portanto, que a fenomenologia é uma ciência voltada para o vivido, as vivências ou seja, propõe-se a estudar a realidade social concreta, compreensiva e interpretativa. Sua característica fundamental é a de ser um método voltado para uma descrição mais próxima da realidade, através do fenômeno da experiência. A fenomenologia se caracteriza, também, pela exigência de rever as perspectivas sobre o sentido da existência humana. O pensamento fenomenológico se preocupa sempre com o fenômeno e não com o fato. Neotomismo O Serviço Social surge sob forte influência da Igreja Católica, carrega consigo a sua teoria própria que fundamenta-se no Neotomismo. O neotomismo corrente filosófica surgida no século XIX, trazia consigo a ideia de reviver os pressupostos teóricos de São Tomás de Aquino, o Tomismo. A retomada das ideias de Tomás de Aquino, foi estabelecida pela Encíclica Aeterni Patris pelo papa Leão XIII. O Serviço Social surgiu no Brasil em 1936, a partir da iniciativa de setores ligados à Igreja Católica fortemente influenciados pela sua Doutrina Social, o Neotomismo. 40 A influência do Neotomismo implica para o Serviço Social a realização de ações moralizantes sob a ótica da visão cristã, com ênfase nas classes trabalhadoras voltada para a conciliação das classes sociais, a recusa ao comunismo e ao liberalismo. O objetivo da sua ação voltava-se para a adequação e integração à sociedade a partir dos valores e costumes cristãos. Sua influência é questionada a partir da década de 1960, no entanto, ainda existem resquícios dessa teoria no Serviço Social até os dias atuais. O Materialismo Histórico-Dialético: O materialismo histórico e dialético é uma teoria que foi criada por Karl Marx e Engels e foi a criadora do que conhece por Marxismo. Segundo essa teoria pelo trabalho o ser humano transforma a natureza, produzindo bens para atender às suas necessidades. Nesse processo de produção de bens, as pessoas estabelecem relações entre si. As relações criadas entre trabalhadores (detentores da força de trabalho) e proprietários dos meios de produção (terra, matéria-prima, fábricas, máquinas e instrumentos de trabalho) são chamadas de relações sociais de produção. Essas relações de produção correspondem, em cada etapa da história, a um determinado estágio de desenvolvimento técnico e econômico, ou seja, a determinadas forças produtivas. O conjunto das relações de produção e das forças produtivas constitui a base econômica da sociedade, ou a infraestrutura. Para Marx, a infraestrutura de uma sociedade determina sua superestrutura, que corresponde à organização do Estado, às normas do Direito e à ideologia dominante dessa mesma sociedade. 41 Na análise marxista, os proprietários dos meios de produção, os donos do capital, exploram a maioria operária que é obrigada a vender sua força de trabalho em troca de salários. Este salário, porém, não corresponde ao que ele efetivamente produziu, sendo inferior, ao valor produzido pelo operário. Esta diferença, chamada mais-valia, é apropriada pelos donos do capital e constitui a base da acumulação capitalista. Estes interesses antagônicos de capitalistas e proletários geram continuamente a luta de classes. Em 1848, Marx e Engels publicam o “Manifesto do Partido Comunista”, obra essa que é fundamental para a teoria Marxista, nesse livro encontra-se o primeiro esboço da teoria revolucionária. Neste trabalho, Marx e Engels apresentam os fundamentos de um movimento de luta contra o capitalismo e defendem a construção de uma sociedade sem classe e sem Estado. O pensamento filosófico de Marx e Engels torna-se conhecido em meados do século XIX, em meio à efervescência dos movimentos operários pela libertação econômica e política, ou seja, surge sob a influência da luta dos proletários contra a exploração e a opressão. Desse modo, o Materialismo Histórico Dialético, de Marx e Engels, surge como uma nova interpretação do mundo, voltado para aos interesses de defesa da classe trabalhadora. O materialismo dialético torna-se, então, um método de análise da realidade, de acordo com o qual tudo se desenvolve e se transforma, ou seja, nada é estático. Os homensnão se limitam a contemplar o mundo, mas exercem influência sobre o mesmo e o modificam. O marxismo também não 42 concorda com o pensamento filosófico que vê os fenômenos como se fossem imutáveis e fossilizados. A presença do materialismo histórico dialético no Serviço Social se dá a partir do início da década de 1960, quando alguns grupos de Assistentes Sociais passam a questionar o Serviço Social quanto à sua natureza e operacionalidade e partem para uma análise crítica da sociedade. Estes grupos de profissionais começam a rever as posições tradicionais do Serviço Social, questionando a prática e o posicionamento político dos profissionais, tornando explícita a análise da dimensão política da prática profissional. Este grupo passa a se posicionar na defesa da classe trabalhadora, não considerando mais a sociedade como um todo harmônico, mas, sim, como uma realidade onde estão presentes interesses antagônicos. Os acontecimentos da década de 1960 constituem um campo fértil para a busca de uma corrente que se pautasse pela mudança, pela transformação, especialmente a crise das ciências sociais de origem norte- americana; a renovação da Igreja Católica, embalada pela Teologia da Libertação, onde se tem um diálogo entre marxistas e cristãos; o movimento estudantil, o Movimento da Cultura Popular, a contracultura etc. A efervescência contestatória da década de 1960, que se retrata na profissão através do Movimento de Reconceituação, traz no seu bojo as ideias marxistas. Somente a partir do amadurecimento intelectual e político experimentado pela profissão nos anos 1980 foi possível ao Serviço Social dialogar com as fontes originais e, consequentemente, apreender o método marxista. 43 Netto (1995) afirma que a relação entre a tradição marxista e o Serviço Social tem que ser compreendida dentro de um quadro mais amplo de renovação profissional. A crise do Serviço Social tradicional passa primeiramente por um processo que o autor chama de “modernização conservadora”, implementada pela ditadura que se instala no Brasil a partir de 1964 e que investe em políticas sociais e força a laicização do Serviço Social. Na segunda metade da década de 1970, explicita-se o que o autor chama de vertente alternativa, inspirada na fenomenologia, até o surgimento da vertente que, segundo o autor, buscará a real ruptura com a herança conservadora, dialogando efetivamente com o pensamento marxista. O marxismo emerge nos anos 1970 na Escola de Serviço Social da Universidade Católica de Minas Gerais, como projeto de formação, intervenção e extensão, mas é efetivamente na década de 1980 que ganha maturidade teórica, quando alguns autores, que por força de suas posturas políticas estavam fora do país, retornam e passam a produzir teoricamente no país. Os escritos de Marilda Iamamoto e José Paulo Netto contribuem fortemente com este momento histórico do Serviço Social. FUNDAMENTOS DO SERVIÇO SOCIAL NA CONTEMPORANEIDADE Na década de 1980 o marxismo já está integrado ao Serviço Social, que teve seu contato com o método de BH, como citado anteriormente. Com o marxismo o Serviço Social analisa o ser social a partir de mediações, para essa corrente as relações sociais são sempre influenciadas por situações, instituições, etc. e que ao mesmo tempo relevam e ocultam as relações sociais imediatas. O marxismo vai trabalhar com a dialética e também 44 mostrará a profissão inserida na sociedade capitalista, e como as relações se dão nessa sociedade. O Serviço Social atual firmado em bases Marxistas, não analisa mais o sujeito como alvo de críticas e de ajustamento com a sociedade, mas faz uma crítica ao sistema capitalista vigente, entendendo ser ele o criador e mantenedor das desigualdades sociais, da exploração do trabalho, da condição de subalternidade dos trabalhadores. Com essa nova visão o Serviço Social passa a criticar o sistema e lutar por políticas sociais que viabilizem direitos sociais e dignidades a população usuária de seus serviços, e luta visando superar esse sistema vigente. Essa visão de um serviço social que não é mais tradicional inicia-se no final dos anos 80 e próximo aos nos 90 onde a profissão busca uma ruptura com o conservadorismo do passado e busca no marxismo uma forma de implementar sua produção de conhecimentos, tornando se assim essa corrente hegemônica na profissão. O serviço Social em busca de sua ampliação de conhecimento, em sua fase contemporânea irá se apropriar dos pensamentos de Antônio Gramsci, que foi um estudioso do Marxismo e que trouxe a esse estudo pontos que não haviam sido originalmente explicitado por Marx. A abordagem de Gramsci que mais se destaca é “acerca do Estado, da sociedade civil, do mundo dos valores, da ideologia, da hegemonia, da subjetividade e da cultura das classes subalternas" (Yazbek.2009, p.9). É importante, no entanto fazer algumas distinções dos pensamentos desses autores: O Serviço Social também ganhou com a Constituição Federal de 1988 pois a mesma criou um sistema de proteção social, que é a Seguridade Social baseado em um tripé: Assistência Social, Previdência Social e Saúde. Pela 45 primeira vez a assistência ganha força e notoriedade, como uma política pública de fundamental importância e que deve ter a primazia do Estado em sua execução. A ampliação no campo dos direitos trazidas a partir da inclusão da assistência social como política de Seguridade Social, trouxe consigo algumas dificuldades relacionadas a definição dos direitos a serem atendidos por esta política, definição essa que ainda continua em processo de construção, Aldaiza Sposati também afirmar que assistência social, constituída agora como Política Pública, vivencia um espaço de luta, onde vários fatores exercem influência sobre a mesma, para a autora “seu processo de efetivação como política de direito não escapa do movimento histórico entre as relações de forças sociais” (SPOSATI, 2009 p.15). Entretanto embora a Constituição Federal tenha representado um ganho a mesma sofreu ataques logo após sua afirmação. Logo após a promulgação da Constituinte, entrou no governo novamente governantes que primaram pela defesa do mercado e com isso a ideologia NEOLIBERAL entrou no Brasil, defendendo agora não mais os ganhos sociais e sim uma economia forte e pregando também o corte com gastos sociais. O Serviço Social na década de 1990 vem lidando com as consequências do neoliberalismo, que busca a estabilidade econômica e para isso coloca o social de lado e chama para realizar as atividades que antes ficavam a cargo do Estado, a filantropia, terceiro setor, a sociedade civil, entre outros. A profissão vem lidando com o as mudanças no mundo do trabalho e com a desestruturação do programa de proteção social e das políticas sociais em geral. Yazbeck (2009, p.16) afirma que “Inserido neste 46 processo contraditório o Serviço Social da década de 90, se vê confrontado com este conjunto de transformações societárias no qual é desafiado a compreender e intervir nas novas configurações e manifestações da questão social”, que expressam a precarização do trabalho e a penalização dos trabalhadores na sociedade capitalista contemporânea. A área social foi a primeira ser afetada com os reajustes neoliberal, isso se inicia com Fernando Collor de Mello e se aprofunda com o governo de Fernando Henrique Cardoso. O que deveria estar ao acesso de um grande contingente populacional começaa ser focalizado nos mais necessitados, passa a se trabalhar com os mínimos vitais. Entretanto, mesmo com a ofensiva neoliberal, a situação contemporânea do Serviço Social passa a ser discutida e os espaços de atuação para profissional continuam a se ampliar, diversos motivos fomentaram isso, entre eles destaca-se: Seguridade Social - onde segundo a CF-88, as populações têm uma série de direitos assegurados; A política de assistência social visou a municipalizações, ou seja, descentralizou-se, com isso para a execução das políticas públicas foram requisitados mais profissionais. Para facilitar seu entendimento, citaremos aqui o que Behring (2009) afirma ser a fórmula do neoliberalismo, assim fica claro como o neoliberalismo afeta a sociedade e o Serviço Social. 47 O Serviço Social passar a ser direcionado como um projeto em prol da classe subalterna e com neoliberalismo e as novas demandas criadas, a própria profissão passa a ter suas relações de trabalho redefinidas, através de um processo compostos por vários elementos como: precarização, terceirização, contratos temporários, competitividade, entrada do terceiro setor para executar o que é de responsabilidade do Estado, entre outros fatores. Na atualidade o Serviço Social brasileiro tem que lidar com o neoliberalismo e com a herança das diversas crises econômicas que ocorreram, dessa forma fazer também necessário uma nova interpretação profissional que leve em conta vários aspectos, como: novas manifestações e expressão da questão social, processos de redefinição dos sistemas de proteção social, entre outros. Segundo Yazbek (2009) “os assistentes sociais vêm, em muito, contribuindo, nas últimas décadas, para a construção 48 de uma cultura de direito e da cidadania, resistindo ao conservadorismo e considerando as políticas sociais como possibilidade concretas de construção de direitos e iniciativas de 'contra desmanche' nessa ordem injusta e desigual”. Portanto conclui-se que mesmo com a tentativa neoliberal de desmonte de direito o Serviço Social é uma profissão que vem lutando em prol dos direitos sociais, da cidadania e da igualdade de oportunidades a todos. CONTRIBUIÇÕES DE IAMAMOTO Iamamoto destaca que nas duas últimas décadas, com a grande produção da literatura profissional relacionados a renovação crítica do serviço social, voltada aos fundamentos do serviço social que tratado a partir de diferentes ângulos a natureza particular da profissão na divisão social e técnica do trabalho. Destacamos a seguir os principais pontos abordados pela autora na definição do enfoque principal dado em cada uma dessas elaborações, que é tratado no livro “Serviço Social em tempo de capital fetiche: capital financeiro, trabalho e questão social”, 4ª ed. São Paulo: Cortez, 2010. Tese do Sincretismo da Prática Indiferenciada José Paulo Netto De acordo com Iamamoto o autor considera a natureza socioprofissional sincrética, devido a carência do referencial crítico-dialético. Isso 49 condiciona a análise da profissão envolta na problemática da reificação, terreno em que os processos sociais se mostram na sua fenomenalidade, o que justifica o sincretismo, enquanto princípio constitutivo da natureza da profissão. Pressupondo a ausência de uma abordagem histórico-crítica, a estrutura sincrética do Serviço Social tem seus fundamentos na: a) questão social, núcleo das demandas histórico-sociais que se apresentam à profissão; b) no cotidiano, como horizonte do exercício profissional; e c) na manipulação de variáveis empíricas, enquanto modalidade específica da intervenção”. O centro de sua análise é a aparência indiferenciada que se reveste a prática profissional, isto é, a manutenção de uma mesma estrutura da prática interventiva no tocante à sua operacionalidade, similar às suas protoformas. Ainda que reconheça que há um novo significado social para o trabalho profissional, uma vez que opera o corte com a filantropia, à medida que o Estado, na expansão monopolista, passa a centralizar e administrar as respostas às refrações da questão social, via políticas públicas”. Para Iamamoto na medida em que o esforço analítico do autor concentra-se no desmonte dessa aparência de prática indiferenciada, que faz parte do trabalho do assistente social, as determinações sócio-históricas das respostas profissionais e suas distintas possibilidades de configuração ficam obscurecidas nessa construção teórica. 50 Tese da Identidade Alienada Maria Lúcia Martinelli Martinelli traz para o debate da profissão o tema “identidade e alienação no Serviço Social” tendo como objetivo “compreender o real significado da profissão na sociedade do capital e sua participação no processo de reprodução das relações sociais”. A tese supõe uma identidade em si, estabelecida idealmente como identidade verdadeira, que se perdeu nas origens e desenvolvimento do Serviço Social, tendo sido maculada na história, visto que a burguesia assume progressivamente o controle dessa prática profissional, transformando-a em uma estratégia de domínio de classes, apresentando como hipótese de que “a ausência de identidade profissional fragiliza a consciência social da categoria profissional, determinando um percurso alienado, alienante e alienador da prática profissional. Iamamoto destaca na análise desta tese o monolitismo com é tratada a categoria profissional na medida em que a elaboração “descarta a dimensão socialmente contraditória do Serviço Social (ainda que declarada no texto), em favor da dualidade: a identidade aparece, num primeiro momento, produzida pela cultura dominante e sem nenhum potencial de transformação da realidade; e, num segundo momento, tendo por suposto a ocorrência da ruptura com a alienação e com suas próprias marcas burguesas de origem, a identidade profissional surge inteiramente comprometida com a luta social pela transformação da realidade. Assim comparecem traços ora fatalistas, ora messiânicos que obscurecem as tensões e contradições do objeto em questão. A ruptura com a identidade alienada, alienante e alienadora de parte dos agentes profissionais é, 51 fundamentalmente, uma atividade da consciência crítica e não da prática política”. Tese da Correlação de forças Vicente de Paula Faleiros Um aspecto que diferencia a análise realizada por Faleiros é a preocupação com as relações de poder, em seu desenvolvimento no âmbito da política social. “Sua concepção sobre a profissão foi sistematizada no paradigma das relações de força, poder e exploração, também denominado paradigma da articulação. O autor estabelece divisor de águas com o paradigma das relações interpessoais, que prevaleceu das origens do Serviço Social até a reconceituação”. Em sua análise a categoria profissional é tratada como intelectual orgânico vinculado aos interesses do trabalho, aquele que opera a mediação entre a representação e a reprodução, elidindo a clivagem de classe que também se expressa no interior da categoria. O assistente social é visto como o intelectual que opera a mediação entre a representação e a reprodução, embora nesse processo intervenham inúmeras outras forças sociais. Tese da Assistência Social Maria Carmelita Yazbek A autora traz uma contribuição original para pensar a particularidade do Serviço Social tendo como fulcro a assistência social na conformação
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