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WEB AULA 1 FUNDAMENTOS HISTORICOS

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FUNDAMENTOS HISTÓRICOS, TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DO 
SERVIÇO SOCIAL II 
UNIDADE 2: O MOVIMENTO DE RECONCEITUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL 
WEBAULA 2 
Caro aluno (a) 
Agora você vai começar a compreender por que o Serviço Social possui 
o contorno que vemos hoje. Se na contemporaneidade a profissão está 
articulada e comprometida com a classe trabalhadora, você poderá observar 
nesta web aula que nem sempre foi assim. O rompimento com o Serviço Social 
conservador se deu diferentemente em cada país da América Latina e com 
perspectivas distintas nos chamados países do cone sul – Argentina, Chile, 
Uruguai e Brasil. Esses países, assim, como o Brasil, vivenciaram, a partir, do 
contexto da década de 1960, diversos golpes de Estado. Em nossa profissão, 
ocorre nesse mesmo período o Movimento de Reconceituação Latino-
Americano, que buscou a superação do Serviço Social tradicional rompendo 
com a visão e a metodologia importadas. Essa crítica se estendia à leitura 
ultrapassada da realidade, em que se culpabilizava o sujeito frente às 
demandas. Aqui no Brasil, vivíamos sob o Regime “Autocrata-Burguês”, nome 
dado pelo sociólogo Florestan Fernandes, e que Netto (2015) destaca como 
sendo um regime político ditatorial-terrorista. O Movimento de Reconceituação 
do Serviço Social, iniciado na década de 1960, representou uma tomada de 
consciência crítica e política dos assistentes sociais em toda a América Latina 
– muitas vezes, diante de regimes ditatoriais –, não obstante, no Brasil as 
condições políticas em que o movimento ocorreu trouxeram elementos muito 
diversos dos traçados em outros países. 
DO SERVIÇO SOCIAL TRADICIONAL AO PROCESSO DE RENOVAÇÃO DA 
PROFISSÃO 
Até a década de 1960, o Serviço Social não apresentava polêmicas de 
relevo (NETTO, 2015, p. 168), mas o que isso significa? No debate profissional, 
oriundo das décadas de 1930-1950, destacava-se um certo consenso em torno 
do que Iamamoto (1992, p. 21) definiu como “arranjo teórico doutrinário”, um 
certo ecletismo, uma mistura de elementos científicos e religiosos, como 
exemplo destacam-se o Neotomismo, da chamada Doutrina Social da Igreja 
Católica, e o Positivismo. (O Neotomismo é uma filosofia que, entre os séculos 
XIX e XX, orientou as encíclicas papais Rerum Novarum, de 1891, 
e Quadragesimo Anno, de 1931, defendendo uma sociedade unida para atingir 
o “bem comum”, para isso, era preciso uma renovação moral e a realização de 
ações sociais vinculadas ao catolicismo, ou seja, a prática da caridade cristã). 
Por outro lado, representando uma cientificidade na profissão, destaca-se o 
Positivismo (teoria sociológica elaborada pelo francês Augusto Comte, no 
século XIX, que assimilava o método das ciências naturais para a nascente 
ciência social. Em seus primórdios no Brasil, a profissão no Serviço Social 
assimilou em sua formação esses elementos (Neotomismo e Positivismo). No 
fim da década de 1950, no governo de Juscelino Kubitschek (50 anos em 5), 
ocorre uma aceleração da industrialização, o que provocou um agravamento 
das expressões da “Questão Social”, por conta da intensificação da exploração 
da classe trabalhadora, sobretudo nas grandes cidades. Por expressões da 
“Questão Social”, lembremos que se tratam de: 
[...] expressões do processo de formação e desenvolvimento da classe operária e de seu 
ingresso no cenário político da sociedade, exigindo seu reconhecimento como classe por parte 
do Empresariado e do Estado. É a manifestação, no cotidiano da vida social, da contradição 
entre o proletariado e a burguesia, a qual passa a exigir outros tipos de intervenção, mais além 
da caridade e da repressão. (IAMAMOTO, 2009, p. 77) 
Nesse momento, a profissão começa um movimento de laicização, ou 
seja, com a entrada nos círculos universitários, verifica-se cada vez mais o 
afastamento da Igreja Católica. Os(as) assistentes sociais, por conta da 
“Questão Social”, passam a ser contratados(as) em novos campos de trabalho, 
principalmente nas indústrias, com a “missão” de pacificar/docilizar as relações 
patrão x trabalhadores, o que exigiu, essencialmente uma cientificidade e 
tecnificação. Uma incorporação de elementos da Administração, da Psicologia, 
para atender as requisições da profissão: 
Destaquemos, imediatamente, este ponto: tal laicização, com tudo que implicou e 
implica, é um dos elementos caracterizadores da renovação do Serviço Social sob a autocracia 
burguesa. Se é verdade que ela vinha se operando desde os finais da década de 1950, a sua 
culminação está longe de resultar de um acúmulo “natural” – foi precipitada pelo 
desenvolvimento das relações capitalistas durante a “modernização conservadora” e só é 
apreensível levando-se em conta as suas incidências no mercado nacional de trabalho e nas 
agências de formação profissional. (NETTO, 2015, p. 169, itálico e aspas do autor). 
Tem início a chamada erosão do Serviço Social tradicional ou 
conservador, termo adotado pelo professor José Paulo Netto, em seu livro 
Ditadura e Serviço Social, um texto de referência para compreender as 
alterações vivenciadas pela profissão. O modelo pautado pelo tradicionalismo, 
calcado nos princípios neotomistas e positivistas, já não produzia mais 
respostas concretas às demandas que o Brasil vivia. As metodologias 
tradicionais (caso, grupo e comunidade) se mostravam inadequadas, para a 
“missão” atribuída à profissão, a partir dos anos 1960. 
O Estado brasileiro, do ponto de vista econômico, adota como estratégia 
do projeto de industrialização o “desenvolvimentismo”, que consistia na ideia de 
que era preciso garantir o desenvolvimento econômico, em primeiro plano, e a 
reboque, na sequência, atingiríamos o desenvolvimento social. Esse conceito 
legitimou o projeto industrial brasileiro das décadas de 1950-1980, estando 
presente em governos de diferentes espectros políticos-ideológicos (tanto em 
governos populistas, como os de JK, Jânio Quadros e Jango, como nos 
governos ditatoriais). O economista Celso Furtado, aprofundou o conceito de 
desenvolvimentismo em seu livro Formação econômica do Brasil (2009). 
Para exemplificar, no auge do “milagre” econômico brasileiro, lembremos-nos 
da frase do então ministro da Fazenda do governo Médici, [...] “é preciso deixar 
o bolo crescer, para depois dividir”. 
O projeto desenvolvimentista intensificou a transferência da mão de obra 
do campo para as cidades, no conhecido fenômeno do “êxodo rural”. Porém, 
sem o mínimo planejamento urbano. Logo, a classe trabalhadora sofreu as 
inúmeras expressões da “Questão Social”, advindas desse processo: falta de 
moradia para todos; meios de transporte público precários; intensa exploração; 
salários baixos; fome; miséria absoluta; falta de serviços públicos de saúde, 
educação, assistência social, enfim, uma variedade de fatores que dificultaram 
as condições de vida. 
Especificamente em relação ao Serviço Social, no discurso e na ação 
governamentais havia um claro componente de validação e reforço do que 
Netto caracterizou como Serviço Social “tradicional”, ou seja, 
[...] prática empirista, reiterativa, paliativa e burocratizada dos profissionais, 
parametrada por uma ética liberal-burguesa e cuja teleologia consiste na correção de 
resultados psicossociais considerados negativos ou indesejáveis, sobre o substrato de uma 
concepção idealista e/ou mecanicista da dinâmica social, sempre pressuposta a ordenação 
capitalista da vida social como um dado factual ineliminável. (NETTO, 1981, p. 44) 
Em 1961, no II Congresso Nacional de Serviço Social promovido pelo 
CBCISS (Centro Brasileiro de Cooperação e Intercâmbio de Serviço Social), há 
a incorporação do discurso desenvolvimentista, contou inclusive com a 
presença de Jânio Quadros, presidente de honra do Congresso. No evento, o 
discurso profissional foi permeado por palavras como crescimento e mudança: 
A preocupação central do que poderia ser caracterizado como projeto 
desenvolvimentistajanista estaria na formação de uma nação forte, com um povo forte e uma 
economia globalmente forte. Desse eixo central decorre uma atenção especial ao social; a 
meta prioritária é o homem e não o crescimento econômico em si mesmo. [...] A vitória do 
janismo representa, assim, a colocação na ordem do dia uma nova estratégia 
desenvolvimentista, que, mantendo os grandes eixos do crescimento econômico, passaria a 
centrar-se no homem, no pleno florescimento de suas capacidades, tudo dentro da ordem e do 
respeito à dignidade da pessoa humana. (NETTO, 2015, p. 365-366) 
Claramente, o Serviço Social, na entrada dos anos de 1960, vivia uma 
efervescência. Primeiro, pelo agravamento das expressões da “Questão 
Social”, fator, este, que legitimava a intervenção profissional com a população 
que sofria essas consequências, em segundo plano, o reconhecimento social, 
conferido à profissão, tanto pelo Estado brasileiro, quanto pelos meios 
empresariais, o que aumentou a sua participação na esfera da Universidade, 
durante o período, surgem outras escolas de Serviço Social, sem origem 
católica, também, nesta que, em seus primórdios, era uma profissão “quase” 
que exclusivamente feminina observa-se, agora, a crescente presença de 
homens assistentes sociais. 
Entretanto, a “questão social” era entendida como “problema social”. A 
leitura predominante nos meios profissionais era a de que a intervenção 
adequada resolveria esse “problema”. Assim, o Serviço Social atuava na lógica 
do “ajustamento” dos indivíduos à ordem social vigente. Como metodologia, ou 
as formas de atuação, a disseminação do tripé: caso, grupo e comunidade. 
Apontando um breve balanço do que debatemos até aqui: o Estado 
brasileiro, entre o fim dos anos de 1950 até a década de 1980, promoveu um 
intenso processo de industrialização, o que provocou um agravamento das 
condições de vida das populações pobres, sobretudo nas grandes cidades, o 
nosso Serviço Social é chamado, tanto pelo Estado como pelo empresariado, a 
colaborar com a conjuntura, por meio de ações, métodos de ajustamento dos 
indivíduos. 
Mas e no plano internacional? Qual era a conjuntura política e 
econômica? Tinha algo a ver com nosso país? Para responder a essas 
indagações, vamos apontar alguns acontecimentos, tanto em nível de América 
Latina como em nível mundial. 
No pós-guerra (1945-1990), o mundo se polarizou entre duas potências: 
Estados Unidos da América, influenciando o bloco capitalista, e, do outro lado, 
a União Soviética, representante do bloco socialista. Esses dois países 
protagonizaram um pesado embate no plano internacional, que foi denominado 
Guerra Fria. 
Embora ambos não tenham chegado a entrar em guerra entre si, 
buscavam, com a chamada Guerra Fria, garantir hegemonia sobre outros 
países. Só para exemplificar, em 1959, a Revolução Cubana, comandada pelos 
irmãos Castro, que depôs o ditador Fulgêncio Batista e teve forte apoio da 
União Soviética. 
Esse acontecimento abalou os EUA, pois em uma pequena ilha, 
geograficamente muito próxima, agora havia um governo aliado dos soviéticos. 
Assim, os EUA começam, a partir dos anos 1960, uma intensa política ofensiva 
imperialista para garantir a sua hegemonia, o seu controle, sobre a América 
Latina. 
O ano de 1968 é outro marco bastante emblemático para o mundo, ficou 
para a História como “o ano que não terminou”. Na Europa, a organização 
política do movimento estudantil na França, questionando o status quo, ganha 
o apoio dos trabalhadores e sindicatos. Nos Estados Unidos, acontecem os 
assassinatos de Martin Luther King e de Robert Kennedy. Nesse mesmo ano, a 
intensificação do conflito na Guerra do Vietnã provoca uma onda de protestos 
de jovens. Na Tchecoslováquia, houve a Primavera de Praga; percebam, esses 
inúmeros acontecimentos marcaram profundamente o mundo todo. Esses 
movimentos, bastante heterogêneos, aconteceram em uma época em que o 
Brasil era fortemente influenciado pelos Estados Unidos da América, 
lembrando que estávamos em plena Guerra Fria. 
No nosso país, já vivíamos sob a Ditadura Militar, instalada em 1964; e 
“no ano que não terminou”, temos um contexto político bastante violento, o 
presidente Costa e Silva assina o Ato institucional n. 5, demonstrando o 
“endurecimento” do regime, instituindo forte repressão (inclusive com a tortura) 
a qualquer forma de contestação. 
Esse era o “pano de fundo” em que os(as) assistentes sociais latino-
americanos iniciaram o Movimento de Reconceituação. Netto (2015) dividiu a 
erosão do Serviço Social tradicional em três dimensões/momentos, que 
trataremos a seguir: a perspectiva da modernização conservadora, a 
perspectiva de reatualização do conservadorismo e a perspectiva de 
intenção de ruptura. 
A PERSPECTIVA DA MODERNIZAÇÃO CONSERVADORA 
No contexto do Serviço Social brasileiro, é a partir dos anos 1960 que a 
profissão começa a se questionar quanto aos aspectos teóricos e 
metodológicos utilizados na formação universitária e intervenção profissionais. 
O Movimento de Reconceituação da profissão buscava romper com os 
postulados positivistas/funcionalistas. Esse movimento pretendia um Serviço 
Social brasileiro e latino-americano pensado a partir da nossa realidade social, 
criticava fortemente as metodologias importadas dos EUA. Os(as) assistentes 
sociais iniciam um processo de repensar a profissão que fosse capaz de dar 
respostas às demandas territoriais e às desigualdades sociais por que 
passava o continente latino-americano. Esse movimento não foi coeso, pois 
havia diferentes concepções no interior do debate, também é preciso ressaltar 
as diferentes conjunturas políticas e econômicas dos países que vivenciaram a 
Reconceituação. A predominância desse movimento ocorreu sobretudo nos 
países do Cone Sul do continente: Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e Chile. 
No contexto brasileiro, permeado pela lógica do controle e da repressão 
instalados pela Ditadura Militar, a partir de 1964 foi cerceado o debate político 
no interior da profissão, a dimensão política só entrou em questão a partir do 
final dos anos 1970, quando, já bastante desgastados pela forte oposição, os 
militares começaram o processo de abertura política, que ocorreu de modo 
“lento, gradual e seguro”, parafraseando o presidente Ernesto Geisel. Assim, 
os(as) assistentes sociais brasileiros focaram as discussões em fatores 
metodológicos e teóricos, evitando polêmicas e embates de ordem política; 
conjuntural e social do país. Também porque, aqui, esses profissionais 
estavam fortemente inseridos na estrutura estatal, e no contexto vigente muitos 
eram chamados a participar da elaboração e gestão das políticas sociais da 
Ditadura. 
Porém, muitos profissionais mais críticos ao regime tiveram que se 
exilar, como, por exemplo, os professores Vicente de Paula Faleiros, 
perseguido pela ditadura brasileira e chilena, e José Paulo Netto, que se exilou 
em Portugal. 
Saiba Mais 
Disponível em: <http://cress-mg.org.br/hotsites/Upload/Pics/ec/ecd5a070-a4a6-4ba1-8e4a-
81b016479890.pdf>. Acesso em: 07/05/2018 
Portanto, o movimento de Reconceituação no país, entre as décadas de 
1960 e 1970, ficou sob o comando hegemônico da ala tradicional e 
conservadora da profissão. 
http://cress-mg.org.br/hotsites/Upload/Pics/ec/ecd5a070-a4a6-4ba1-8e4a-81b016479890.pdf
http://cress-mg.org.br/hotsites/Upload/Pics/ec/ecd5a070-a4a6-4ba1-8e4a-81b016479890.pdf
A perspectiva da modernização conservadora foi discutida no Seminário 
de Araxá, organizado pelo CBCISS (Centro Brasileiro de Cooperação e 
Intercâmbio de Serviços Sociais). Esse seminário ocorreu na cidade de Araxá, 
Minas Gerais, em 26 de março de 1967. Contou com a participação de 38 
assistentes sociais dos estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais e 
profissionais provenientes de escolas católicas, talvez isso tenha influenciado o 
seu resultado. Faleiros apud Netto (2015, p. 201) confirma:O Documento de Araxá reflete o pensamento dessa “fina flor” da tecnocracia, pois 
reúne assistentes sociais que haviam deixado de trabalhar nas obras assistenciais, nos morros, 
nas favelas, nas fábricas, nos circuitos operários e passaram a ocupar postos e cargos na 
administração estatal. (aspas e itálico do autor) 
Como resultado, foi elaborado o Documento de Araxá, no qual já em 
sua introdução se faz uma reflexão sobre a crise do Serviço Social, refletindo 
sobre a sua função: “Onde e como se faz o Serviço Social?”. Na introdução, 
também há uma abordagem acerca da origem da profissão e sua vinculação 
com a questão das disfunções do indivíduo na sociedade, muitas vezes 
relacionando tais processos às estruturas sociais vigentes. 
 
Figura 1 – Documentos CBCISS 
Disponível em: <www.cbciss.org>. Acesso em: 9 maio 2018. 
Saiba Mais 
O CBCISS (Centro Brasileiro de Cooperação e Intercâmbio de Serviços Sociais). 
É uma entidade que se preocupa com a produção teórica e metodológica do Serviço 
Social. Teve forte atuação na Reconceituação brasileira, entre as décadas de 1960-
1970. Pautou o debate, de ordem metodológica e teórica, no interior da profissão. 
Realizou os conhecidos seminários de Araxá, Teresópolis e de Sumaré, compilados na 
obra Teorização do Serviço Social, que é referência para conhecer a história da 
profissão. 
O Documento de Araxá traz uma concepção de 
indivíduo baseada na ideia do desajustamento social, 
assim, os assistentes sociais que participaram do seminário propõem como 
estratégia de intervenção a promoção de ações de caráter corretivo, preventivo 
e promocionais, articuladas a cada contexto social. Destaca-se a importância 
da integração do indivíduo ao processo de industrialização. Nesse sentido, 
[...] o núcleo central dessa perspectiva é a tematização do Serviço Social como 
interveniente, dinamizador e integrador, no processo de desenvolvimento. Sob esse aspecto, 
ela mantém uma direta relação de continuidade com o acúmulo profissional realizado na 
transição dos anos de 1950 aos 1960; essa continuidade, no entanto, é, em si mesma, parcial 
e seletiva: o que recupera do acervo anterior a 1964 exclui a vertente que concebia o 
desenvolvimento brasileiro como função de transformações conducentes à eversão (grande 
estrago) da ordem estabelecida. (itálicos do autor; parênteses meu) (NETTO, 2015, p. 201) 
Esse caráter corretivo era carregado dos valores e estruturas morais 
adotados pelos (as) profissionais que participaram do Seminário, para 
exemplificar, eram considerados desajustes, o alcoolismo, a 
homossexualidade, etc. Desse modo, a ação dos (as) assistentes sociais em 
Araxá é no sentido de corrigir essas posturas consideradas “desviantes”, ou 
“distorções” do caráter do indivíduo. 
http://www.cbciss.org/
O preventivo proclamara a evitar que esses “males sociais” ocorressem 
e, da mesma forma, os promocionais direcionavam para a integração das 
comunidades ao bem-estar social, já o caráter de integração, citado 
no Documento, enfatizava a necessidade de o sujeito acatar a realidade 
social. Predomina em todo o Documento os valores de uma sociedade 
conservadora e moralizadora, num contexto do capitalismo predatório. A 
categoria profissional não tinha a dimensão da “questão social”, as políticas 
sociais se traduziam em investimento do Estado na tentativa de integração. 
É importante deixar claro que, hoje, o Serviço Social tem outro 
pensamento, ou seja, não integra ninguém. A sua atuação está pautada 
no contexto de minimizar as expressões da “questão social”. 
Três anos mais tarde, se realizou outro encontro, de 10 a 17 de janeiro 
de 1970 em Teresópolis, RJ. Desse encontro foi elaborado o Documento de 
Teresópolis, cujo tema foi: “A metodologia do Serviço Social frente à realidade 
brasileira”. José Lucena Dantas foi o mais representativo dos intelectuais dessa 
perspectiva modernizadora, ele exerceu papel significativo na teorização 
profissional até o fim da década de 1970. Dantas considera que a questão da 
metodologia da ação constitui a parte central do Serviço Social, sendo assim, a 
definição de um modelo de prática do Serviço Social adequado à problemática 
social brasileira depende da solução do seu problema metodológico. Conferiu, 
também, à perspectiva modernizadora uma organicidade teórica de 
fundo estrutural-funcional e ideológica através do viés da modernização 
conservadora. 
Assim, verifica-se a manutenção da mesma perspectiva de homem e 
mundo que já fazia parte da metodologia tradicional, para Netto (2005, p. 177), 
“não há rompimento: há a captura do „tradicional‟ sobre novas bases”. 
 
A PERSPECTIVA DA REATUALIZAÇÃO DO CONSERVADORISMO 
Essa vertente teve inspiração da fenomenologia, e teve como produção 
o Documento de Sumaré. O encontro de Sumaré tem como característica a 
reatualização do conservadorismo – foi promovido pela arquidiocese do Rio de 
Janeiro e, por isso mesmo, se buscou a retomada de aspectos tradicionais. 
Sobre a reatualização do conservadorismo, Netto destaca: 
Trata-se de uma vertente que recupera os componentes mais estratificados da herança 
histórica e conservadora da profissão, nos domínios da (auto) representação e da prática, e os 
repõe sobre uma base teórico-metodológica que se reclama nova, repudiando, 
simultaneamente, os padrões mais nitidamente vinculados à tradição positivista e às 
referências conectadas ao pensamento crítico-dialético, de raiz marxiana. (NETTO, 2015, p. 
204) 
A tarefa do Serviço Social, nessa vertente, era auxiliar o sujeito 
existente, singular para a autorresolução dos “problemas”, ou seja, empoderar 
o sujeito. O foco de atuação era o atendimento e a ajuda psicossocial por meio 
do diálogo, com forte apelo às terapias grupais. Coloca para o Serviço Social a 
tarefa de “auxiliar na abertura desse sujeito existente, singular, em relação aos 
outros, ao mundo de pessoas” (ALMEIDA, 1980, p. 114). Configurou-se num 
retorno aos aspectos moralistas de dicas e regras de convívio social. Assim, é 
fundamental que se compreenda o extremo conservadorismo dessa 
perspectiva que, 
[...] não reside apenas no seu referencial ideocultural (cujo eixo aparece congruente 
com consagrada interpretação vaticana do cristianismo); antes, ela é perceptível no 
embasamento científico com que constrói a sua relação do Serviço Social com os seus 
“objetos” – como mais adiante se verá, trata-se de uma “cientificidade” evanescente, onde, em 
nome da “compreensão”, dissolvem-se quaisquer possibilidades de uma análise rigorosa e 
críticas da realidade macrossocietárias e, derivadamente, de invenções profissionais que 
possam ser permeadas e avaliadas por critérios teóricos e sociais objetivos. (aspas do autor) 
(NETTO, 2015, p. 206) 
A PERSPECTIVA DA INTENÇÃO DE RUPTURA 
Embora a tendência de rompimento com o histórico tradicional do 
Serviço Social já fosse presente desde o final dos anos de 1950, os seminários 
ocorridos em Araxá, Teresópolis, Sumaré e Alto da Boa Vista não 
empreenderam efetivamente uma ruptura com a herança conservadora. É 
somente a partir dos anos 1970, com a forte oposição ao contexto ditatorial, e o 
já citado processo de abertura política, no Governo Geisel, que foi possível a 
alguns profissionais, mais precisamente aqueles que estavam na docência, se 
encaminharem para pesquisas que se vinculavam com um projeto de ruptura 
com o Serviço Social tradicional. Aqui vale destacar a experiência dos docentes 
da Escola de Serviço Social da Universidade Católica de Belo Horizonte, 
durante o período de 1972 a 1975, conhecido como “Método de BH”. O 
Método de BH consistiu no primeiro projeto para a profissão que pretendia 
romper com o Serviço Social tradicional do ponto de vista teórico-metodológico, 
formativo e interventivo. Assim, esse método configura-se num dos mais 
importantes marcos para se entender a trajetória do Serviço Social no Brasil e, 
sobretudo, a aproximaçãocom o pensamento marxista. Ainda que um 
marxismo vulgar, tomado a partir de uma leitura “manualesca”, com base em 
comentadores de Marx, de maneira bastante eclética. Para exemplificar, há 
uma tendência no Método BH de misturar alguns pressupostos do marxismo à 
perspectiva pedagógica e filosófica de Paulo Freire. Nas palavras de Netto 
(2015 p. 341): 
No momento de sua emersão, o projeto da ruptura aproxima-se da tradição marxista 
especialmente pelo viés posto pela militância política – no que, recorde-se, conjuga-se o 
protagonismo oposicionista das camadas médias urbanas e a mobilização estudantil do 
período de 1964-1968. Todas as indicações disponíveis convergem no sentido de sugerir que a 
interação entre os profissionais originalmente envolvidos no projeto da ruptura e a tradição 
marxista opera-se pela via política (frequentemente, político-partidária: mormente via os 
agrupamentos de esquerda influenciados pela Igreja, situados fora do leio histórico PCB). 
No III Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais (CBAS), realizado em 
São Paulo em 1979, conhecido como “Congresso da Virada”, ocorre o marco 
fundamental do diálogo do Serviço Social com a teoria social de Karl Marx. A 
“virada” possibilitou o descortinamento de novas possibilidades de análise da 
vida social, da profissão e dos sujeitos com os quais o Serviço Social trabalha. 
(CFESS, 2009), ou seja, a aproximação da profissão com as suas bases –
a classe trabalhadora, excluídos e os subalternizados. 
É na década de 1980 que o Serviço Social brasileiro realiza uma 
profunda autocrítica, descobre a dimensão política da profissão e adensa seus 
estudos, com base na perspectiva da Teoria Social Crítica de Karl Marx. 
Destacam-se as produções do CELATS (Centro Latinoamericano de Trabajo 
Social), que passa a ter hegemonia no debate profissional em todo o 
continente, e patrocina projetos de pesquisa visando o rompimento com o 
tradicionalismo e o conservadorismo. No contexto brasileiro, exemplificamos a 
publicação do livro: Relações Sociais e Serviço Social no Brasil: esboço de 
uma interpretação teórico-metodológica, de autoria dos professores Raul de 
Carvalho e Marilda Vilella Iamamoto. Esse texto é referência para conhecer 
nossa história e demonstra o adensamento da leitura marxiana em nossa 
profissão. Tem início, na década de 1980, a construção de um novo projeto 
ético-político profissional, atrelado com as lutas pela implementação do Estado 
de Direito, após o devastador período da ditadura militar. 
Vídeo: 
Serviço Social no Brasil – 80 anos de história, ousadia e lutas. Disponível em: 
<https://www.youtube.com/watch?v=qExDNXsdy2A>. Acesso em: 07/05/2018. 
Disponível em: <http://www.cress-pa.org.br/videos/conteudo.php?id=346>. Acesso em: 
07/05/2018. 
 RESUMO: 
O movimento de reconceituação do Serviço Social na América Latina 
constituiu-se num processo de ruptura com a profissão na sua forma tradicional 
e conservadora. Esse movimento foi resultado da necessidade emergencial da 
classe operária no cenário político-social, em que foi exigido o seu 
reconhecimento como classe operária. Um movimento marcante que abrangeu 
a categoria profissional do Brasil e da América Latina possibilitou ao Serviço 
Social a identificação político-ideológica da existência de suas classes sociais 
antagônicas, negando a neutralidade profissional, uma marca constante do 
Serviço Social tradicional. 
 
Questão para reflexão: 
Quais são as perspectivas presentes no direcionamento do Movimento 
de Reconceituação brasileiro? Apresente-as e comente seus principais 
pressupostos. 
 
Para discutir: 
Como se constituiu a intervenção profissional do Serviço Social 
brasileiro, entre as décadas de 1950 e 1960? 
 
 
 
https://www.youtube.com/watch?v=qExDNXsdy2A
http://www.cress-pa.org.br/videos/conteudo.php?id=346
REFERÊNCIAS 
 
ALMEIDA, A. A. A metodologia dialógica: o Serviço Social num caminhar 
fenomenológico. In: Pesquisa em Serviço Social. Rio de Janeiro: 
ANPESS/CBCISS, 1990. 
CFESS Manifesta. 30 Anos do Congresso da Virada. São Paulo, 2009. 
Disponível em: <http://www.cfess.org.br/arquivos/congresso.pdf>. Acesso em: 
20 fev. 2018. 
IAMAMOTO, M. V.; CARVALHO, R. Relações Sociais e Serviço Social no 
Brasil: esboço de uma interpretação histórico-metodológica. 27. ed. Lima/São 
Paulo: CELATS/Cortez, 2009. 
NETTO, J. P. Ditadura e serviço social: uma análise do serviço social no 
Brasil pós-64. 17. ed. São Paulo: Cortez, 2015. 
 
REFERÊNCIAS RECOMENDADAS: 
ANDER-EGG, Ezequiel. Hacia una metodologia del trabajo social. In: Temas de 
Trabajo Social, n. 9. Buenos Aires: ECRO, 1976. 
CASTRO, Manuel Manrique. História do Serviço Social na América Latina. 
12. ed. São Paulo: Cortez, 2011. 
CBCISS. Teorização do Serviço Social. 2. ed. Rio de Janeiro: Agir, 1986. 
FURTADO, Celso. Formação econômica do Brasil. Edição comemorativa: 50 
anos. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. 
GALPER, Jeffry. Política Social e Trabalho Social. São Paulo: Cortez, 1986. 
RECONCEITUAÇÃO do Serviço Social: 40 anos. Serviço Social e Sociedade, 
n. 84, ano XXVI, nov. 2005. São Paulo: Cortez Editora, 2005. 
SANTOS, Leila Lima. Textos de Serviço Social. São Paulo: Cortez, 1987. 
 
http://www.cfess.org.br/arquivos/congresso.pdf

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