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04 • Novembro 2016 • Pragas • www.revistacultivar.com.br Atenção redobrada Pragas sugadoras como percevejos, pulgões, mosca-branca e bicudo estão entre os insetos que desafiam a produtividade agrícola brasileira e exigem extremo cuidado por parte dos produtores. O controle químico, realizado com racionalidade e critério, é uma das principais ferramentas para auxiliar no manejo correto das lavouras A nd ré S hi m oh ir o www.revistacultivar.com.br • Pragas • Novembro 2016 • 05 A área cultivada com soja no Brasil ultrapassa 32 mi-lhões de hectares (Conab, 2016), o que naturalmente contribui para o estabelecimento e desenvolvi- mento de pragas que atacam as lavou- ras, especialmente sugadoras. Apesar das vantagens que as tecnologias Bt trazem ao agricultor brasileiro, con- siderando o aspecto de controle das lagartas, os produtores devem estar atentos ao combate de outras pragas que também podem prejudicar a pro- dutividade e qualidade das lavouras. Dentre as principais pragas que atacam a cultura da soja, destacam- -se os percevejos. Embora estejam presentes desde o período vegetativo da cultura, é no reprodutivo que ocorrem os prejuízos. De todos, a espécie que mais merece destaque nas práticas de manejo da lavoura é o percevejo-marrom Euschistus heros, por ser considerado o mais abundante nas lavouras de soja do Brasil (Corrêa-Ferreira et al, 2009). A soja é a principal planta hospedeira desta praga e, mesmo após a colheita da cultura, o percevejo-marrom pode sobreviver, alimentando-se de outras plantas hospedeiras (daninhas ou cultivadas). As fêmeas ovipositam nas folhas em massas com cinco ovos amarelados a sete ovos amarelados. As ninfas de terceiro instar começam o processo alimentar e a dispersão. Os adultos apresentam longevidade média de 116 dias, podendo viver por mais de 300 dias (Corrêa-Ferreira e Panizzi, 1999), incluindo o período de entres- safra. Os percevejos de E. heros podem completar até três gerações durante uma safra. Após a colheita comple- tam a quarta geração e entram em diapausa na palhada, protegendo-se de parasitoides e predadores (Vivan e Degrande, 2008). Na fase reprodutiva da soja os percevejos ganham destaque, pois aumentam a população e provocam os maiores danos, desde a formação dos legumes até o final do enchimento de grãos (Hoffmann-Campo et al, 2000). As perdas de rendimento nessa fase da soja variam de 49kg/ha a 125kg/ ha para um percevejo/m2 (Guedes et al, 2012). Existem ainda os danos qualitati- vos causados pelo percevejo-marrom, que pode gerar ainda mais prejuízo ao sojicultor, pois o grão de soja deve ser esférico, com coloração clara na superfície, totalmente claro na parte interna nos quais já representam os cotilédones. Havendo qualquer tipo de mancha no cotilédone o grão é considerado como danificado pelo percevejo. Esses danos são encontra- A mosca branca tem se tornado uma problemática cada vez mais constante nos cultivos no Brasil M ar ce lo M ad al os so /P hy tu s C lu b 06 • Novembro 2016 • Pragas • www.revistacultivar.com.br dos cada vez com maior frequência. Se observada a instrução norma- tiva 11/2007, que regula a classifi- cação, a identidade e a qualidade da soja, grãos manchados são pesados separadamente e este peso ainda é dividido por quatro. Considera-se dentro da somatória grãos chochos, imaturos, fermentados, ardidos, quei- mados, ou seja, depreciando em 25% a qualidade do grão, que ainda pode ser continuado durante o processo de armazenagem. O manejo de E. heros em soja é realizado essencialmente com aplica- ções de inseticidas, atualmente com- postos basicamente por combinações de piretroides e neonicotinoides. O isento pode apresentar uma maior tolerância a alguns destes compostos (Guedes et al, 2012). Faz-se necessá- ria a busca de soluções para o manejo de percevejos, como o teste de novos produtos, formulações e doses, bem como o posicionamento das aplica- ções ao longo do ciclo da soja. Dentre as estratégias para evitar ou reduzir os danos causados pelas pragas sugadoras, o controle químico é uma das principais ferramentas, levando-se em conta a aplicação den- tro dos níveis de ação oficialmente re- comendados e, também, a alternância de modos de intoxicação das pragas, a fim de evitar um processo de seleção de indivíduos menos sensíveis dentro de uma população a um determinado modo de ação inseticida. Dentro deste contexto, a UPL trouxe ao mercado brasileiro o inseticida Perito. Com- posto por modo de ação que inibe permanentemente a enzima acetilco- linesterase da praga-alvo, o produto conta com formulação exclusiva, que contém 970 gramas do ingrediente ativo por quilograma do produto for- mulado. Isso, obrigatoriamente, faz com que a pureza do princípio ativo fique ao redor de 100%. Esse novo inseticida se torna fer- ramenta fundamental para o manejo da resistência, devendo ser utilizado na primeira aplicação ou intercalado com as combinações de piretroides e neonicotinoides. Devido ao seu modo de ação diferenciado e ao efeito “kno- ckdown” (efeito de choque caracteri- zado pela incapacidade de caminhar e com evolução para a morte, contro- lando a praga-alvo em qualquer fase do seu desenvolvimento), faz com que os níveis de controle sejam eficientes e minimizem os prejuízos causados pelo percevejo marrom em soja. Percevejo manchador e pulgões Além da incidência de percevejos em soja, outra praga recorrente no cenário da cotonicultura do Brasil é o percevejo-manchador Dysdercus rufi- collis, que se alimenta pela sucção de seiva em botões florais, flores, maçãs e partes tenras do caule. Os botões e as maçãs pequenas, quando pica- dos, caem ao solo. As maçãs maiores crescem defeituosas, as fibras ficam manchadas, com intumescências na parte interna da casca, e geralmente apodrecem. No final do ciclo da cul- tura, os adultos e as ninfas picam as sementes nos capulhos, depreciando- -as, e mancham as fibras com suas dejeções. O controle efetivo do complexo de pragas em culturas de alto valor, como o algodão, passa também pelo comba- te a pulgões, importantes no início do ciclo vegetativo do algodoeiro, até 60 dias após a emergência das plantas. Há duas espécies que atacam o algo- doeiro, porém Aphis gossypii Glover, 1876 (Hemiptera: Aphididae) é a mais prejudicial, sendo responsável pela transmissão de viroses como o “vermelhão”, o “azulão” e o vírus do mosaico das nervuras, que reduzem drasticamente a produtividade da cultura (Nakano et al, 1981; Santos et al, 2004). São insetos de tamanho pequeno, coloração variável do amarelo-claro ao verde-escuro. A sua capacidade re- produtiva em clima tropical é enorme, devido à partenogênese telítoca, que favorece sua proliferação na lavoura (Gallo et al, 2002) e consequentemen- te as viroses. Embora haja preferência do pulgão do algodoeiro pela face inferior da folha, adultos e ninfas po- dem também ocupar sua face superior (Gonzaga et al, 1991). Em uma única folha encontram-se colônias de indi- víduos ápteros e alados, em diferentes estágios, sendo que as formas aladas aparecem com maior frequência em altas densidades de infestação, quan- do a competição por alimento é maior (Fernandes et al, 2001). As plantas O percevejo manchador Dysdercus ruficollis também faz parte do complexo de pragas sugadoras que afetam cultivos no Brasil Juliano Uebel/Phytus Club www.revistacultivar.com.br • Pragas • Novembro 2016 • 07 atacadas apresentam como sintoma o encarquilhamento das folhas e defor- mação dos brotos, prejudicando seu desenvolvimento (De Grande, 1998). Segundo Calcagnolo e Sauer (1954), os pulgões, quandonão controlados, podem reduzir em até 44% a produção de algodão. Em batata, uma das principais pragas é o pulgão das solanáceas Ma- crosiphum euphorbiae, e em tomate o pulgão-verde, Myzus persicae, praga amplamente distribuída no Brasil e que está comumente disseminada em diversos cultivos e estados, provocan- do danos diretos e indiretos nas cultu- ras. Os insetos têm cerca de 2mm de comprimento, sendo a forma áptera de coloração verde-clara, enquanto a forma alada possui cor verde, com cabeça, antena e tórax pretos. Os danos diretos são provocados devido ao succionamento contínuo de seiva, que prejudica o crescimento da planta atacada. Causa o encarquilha- mento das folhas. Os danos indiretos ocorrem com a picada do inseto, que favorece a inoculação de vírus causa- dores de moléstias. Realizar o manejo dessas pragas se torna uma tarefa de toda a co- munidade agrícola. Nesse contexto, empresas de agroquímicos têm re- alizado estudos e investimentos. A UPL, por exemplo, tem investido de forma crescente e constante em diversos países do mundo e com foco especial no Brasil, através de parcerias com instituições públicas e privadas. A ideia é entender primeiramente a real necessidade do agricultor local e, de forma ágil, trazer as soluções mais adequadas para cada cenário de controle e manejo responsável da resistência de insetos a inseticidas. Uma das ações consiste no grupo batizado de Falcon Team, que reúne especialistas da área de entomologia. Através de reuniões periódicas, esses profissionais usam em conjunto o en- tendimento da problemática identifi- cada, análise detalhada e customizada para a condição local da região e perfil do agricultor, com o objetivo de de- senvolver as soluções mais adequadas para a agricultura brasileira. Dentro desta perspectiva e consi- derada a autonomia em desenvolver produtos que atendam às demandas locais em conjunto com especialistas de cada área, a UPL trabalha em mais um produto, em fase de registro, para os agricultores brasileiros. Trata-se do inseticida Sperto, ferramenta para o manejo real da resistência, que combina modos de ação distintos e complementares e em concentrações que atendem às necessidades do controle de diversas pragas sugadoras O bicudo está entre as principais pragas do algodão, por ser a de maior incidência e com mais potencial de dano Ju lia no F ar ia s/ Ph yt us C lu b 08 • Novembro 2016 • Pragas • www.revistacultivar.com.br como a broca-do-café (Hypothenemus hampei). Segundo Gallo et al (1988), o ciclo evolutivo deste inseto, desde a postura até a emergência do adulto, completa-se de 27 dias a 30 dias. O ataque da broca proporciona uma por- ta de entrada para micro-organismos, os quais, sob condições propícias, podem desenvolver-se, atingindo os grãos e alterando a qualidade da bebida do café. O fruto de café é o alimento para todas as fases de desen- volvimento da broca, proporcionando um meio para o seu crescimento e reprodução (Benassi, 1989). Em linhas gerais, os principais prejuízos causados pela broca-do-café são a perda de peso do café benefi- ciado, devido à sua destruição pelas larvas, a perda da qualidade, pela depreciação do produto na classifi- cação por tipo, pois cinco sementes broqueadas já constituem um defeito. Como prejuízos quantitativos se têm ainda a queda prematura de frutos quando perfurados e o apodrecimento de sementes em frutos broqueados, que apresentam maturação forçada, caindo precocemente no chão. Bicudo do algodoeiro O bicudo está entre as principais pragas do algodão, por ser a de maior incidência e com mais potencial de dano. Esse destaque se dá em função de sua alta capacidade reprodutiva, do elevado poder destrutivo, da dificulda- As plantas de algodoeiro estão entre os hospedeiros preferenciais da mosca branca A soja é a principal hospedeira do percevejo marrom, que pode sobreviver mesmo após a colheita, alimentando-se de outras plantas André Shimohiro G ab ri el B ra si le ir o/ Ph yt us C lu b www.revistacultivar.com.br • Pragas • Novembro 2016 • 09 de de controle e também pelos danos causados ao produto final destinado à comercialização, constatados desde a década de 1990, quando a praga teve sua ascensão na região dos cerrados brasileiros, acarretando grande aumento no custo de produção. Os adultos podem se dispersar por longas distâncias, mas a frequência e os padrões geográficos dessa movimen- tação distante ainda são pouco conhe- cidos. Pela forma como o inseto ataca as lavouras, é considerado por muitos cotonicultores como a principal praga da cultura, pois os danos causados pelo bicudo são quase invisíveis. Caso não seja realizado um monitoramento detalhado e ágil, quando o produtor se dá conta o campo está completamente infestado pela praga e os danos são irreversíveis. O inseto ataca os botões florais, destruindo-os. Os danos são diretos e as injúrias causadas por esta praga decorrem da utilização das estruturas florais e fru- tíferas do algodoeiro para a oviposição dos adultos e alimentação tanto das larvas como dos adultos do bicudo-do- -algodoeiro. Os danos de oviposição não afetam imediatamente o botão floral, que continua se desenvolvendo normalmente até o início do segundo instar larval e, posteriormente, o botão floral cai da planta. Os danos de ali- mentação comprometem o desenvolvi- mento normal do botão, o que reduzirá significativamente a produtividade das plantas e a qualidade final do produto. a mosca-branca Ainda no tema do controle de pragas sugadoras, a mosca-branca em soja, feijão e algodão tem se tornado uma problemática cada vez mais constante nos cultivos no Brasil. As ninfas passam a sugar a planta, ex- traindo a seiva e, simultaneamente, excretam uma substância açucarada, que é um eficiente meio de cultura para desenvolvimento da “fumagina”, um fungo que impede a realização da fotossíntese e causa a morte da planta. Este inseto também pode ser vetor de viroses em diversas culturas de importância econômica. Os adultos da mosca-branca são de coloração amarelo-pálida. Medem de 1mm a 2mm, sendo a fêmea maior que o macho. Quando em repouso, as asas são mantidas levemente separa- das, com os lados paralelos, deixando o abdome visível. A longevidade do inseto depende da alimentação e da temperatura. Do estágio de ovo ao de adulto o inseto pode levar de 18 dias a 19 dias (com temperaturas médias de 32°C). Os ovos, de coloração ama- rela, apresentam formato de pera e medem cerca de 0,2mm a 0,3mm. São Os danos de alimentação do bicudo comprometem o desenvolvimento normal do botão, o que reduzirá significativamente a produtividade das plantas e a qualidade final do produto Ju lia no U eb el /P hy tu s C lu b 10 • Novembro 2016 • Pragas • www.revistacultivar.com.br depositados pelas fêmeas, de maneira irregular, na parte inferior da folha. A duração dessa fase é de seis a 15 dias, dependendo da temperatura. As ninfas são translúcidas e apresentam coloração amarela a amarelo-pálida. São hospedeiros preferenciais da mosca-branca: algodão, brássicas (bró- colos, couve-flor, repolho), cucurbitáceas (abobrinha, melão, chuchu, melancia, pepino), leguminosas (feijão, feijão- -de-vagem, soja), solanáceas (berinjela, fumo, pimenta, tomate, pimentão), uva e em algumas plantas daninhas, como o picão, joá-de-capote e amendoim-bravo. Ocorre principalmente em períodos mais secos e quentes, que favorecem o desenvolvimento e a dispersão da praga, sendo, por isso, observados maiores picos populacionais na estação seca. Existem diversos métodos que ajudamno controle da mosca-branca, como o controle cultural, que consiste no emprego de práticas agrícolas roti- neiras para criar um agroecossistema menos favorável ao desenvolvimento e à sobrevivência desta praga. O plantio A nd ré S hi m oh ir o www.revistacultivar.com.br • Pragas • Novembro 2016 • 09 Encarte Técnico: Pragas • Circula encartado na revista Cultivar Grandes Culturas • nº 210 • Novembro 16 • Capa - André Shimohiro Reimpressões podem ser solicitadas através do telefone: (53) 3028.2075 www.revistacultivar.com.br A UPL, fundada em 1969, possui atuação em 86 países. A empresa conta com 27 Centros Tecnológicos projetados para o desenvolvimento de produ- tos de alta qualidade. Contabiliza mais de 28 aquisições nos 11 últimos anos e está entre as dez maiores empresas do mundo no segmento de agroquímicos. Inves- timentos contínuos para fomentar a diferenciação a partir de novas formulações, produtos e combina- ções inovadoras cada vez menos agressivas ao meio ambiente e à saúde das pessoas fazem parte da política da empresa. Sobre a UPL de mudas sadias, que foram cultivadas longe de campos de produção eventual- mente já contaminados por vírus, o uso de barreiras vivas que retardam a entrada de adultos da praga na lavoura, as arma- dilhas, que têm como finalidade atrair e reduzir a população de adultos de mosca-branca e manter a lavoura sempre livre de plantas daninhas hospedeiras de viroses antes do plantio e nos primeiros dias do estabelecimento da lavoura, além da eliminação de restos culturais e o uso de cultivares resistentes, quando dispo- níveis, são medidas importantes. Assim como o controle biológico. O controle químico é o mais efi- ciente e deve ser realizado de forma racional, obedecendo algumas medidas como utilizar produtos registrados para o controle da mosca-branca, nas dosagens recomendadas pelo fabrican- te, empregando adjuvantes quando indicados. A rotação (espacial ou tem- poral) dos diferentes modos de ação também é necessária, pois populações resistentes aos diversos princípios ati- vos podem ser rapidamente seleciona- das quando os produtos são aplicados intensivamente. É indispensável ainda não aplicar um só produto de modo isolado, mesmo que tenha sua dosagem aumentada. A chegada do inseticida Sperto, ainda em fase de registro, tem entre seus objetivos aumentar a oferta de produtos que permitam ao produtor rotacionar e melhor prevenir casos de resistência. Alexandre Manzini, Killer Abreu e Rafael Pereira, UPL do Brasil CC