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Estudo de Caso - Joan/John

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Universidade Federal de Goiás 
Curso de Psicologia 
                                Profª Priscilla Lima 
 
 
 
 
 
 
Psicologia e Processos Clínicos 
 
 
 
Thais Martins 
Calleo Henderson 
 
 
 
 
 
 
Goiânia 
Julho, 2014 
Estudo de Caso:  Caso John/Joan  
 
Em 1965, na cidade de Winnipeg, Canadá, Janet e John Reimer, um jovem casal deu a luz a um par de                                         
gêmeos, Brian e Bruce. Com a idade de 6 meses, após seus pais se preocuparem com a maneira como                                     
ambos urinavam, os meninos foram diagnosticados com fimose. Aos 8 meses foram encaminhados para                           
uma cirurgia de circuncisão. Um urologista realizou a operação utilizando um equipamento elétrico de                           
cauterização que apresentou problemas diversas vezes. Na última tentativa, o procedimento não saiu                         
como o planejado e o pênis de Bruce ficou totalmente queimado. Nos anos 60 uma cirurgia plástica                                 
reconstrução de pênis não era uma opção, então não havia nada a ser feito e o pênis de Bruce nunca                                       
seria funcional. Com relação ao irmão, os médicos optaram por não operar Brian, cuja fimose logo                               
desapareceu, sem qualquer intervenção cirúrgica. 
Alguns meses depois, os Reimer viram na televisão uma entrevista com o Dr. John Money, já                               
famoso por suas teorias e o tratamento psicológico de operações de mudança de sexo em transexuais.                               
Nesta entrevista Money expunha sua teoria na qual os bebês teriam sua identidade definida como                             
masculina ou feminina (identidade de gênero) em função da maneira pela qual são criados.  
Acreditando que tal ideia poderia ser apropriada para o problema do filho, o casal procurou                             
Money, que imediatamente se dispôs a atendê­los e indicou uma mudança cirúrgica de sexo. Ele e                               
outros médicos que trabalhavam com crianças nascidas com genitália anormal acreditavam que um                         
pênis não podia ser substituído, mas que uma vagina funcional poderia ser construída cirurgicamente, e                             
que seria mais provável que Bruce tivesse uma mais bem sucedida maturação funcional sexual como                             
uma menina do que como um menino. Money teria também a oportunidade de comprovar sua teoria                               
com um caso inédito, um bebê completamente e funcionalmente masculino sendo socialmente                       
transformado em uma menina. Até então estes procedimentos só haviam sido feitos com crianças                           
hermafroditas, na qual se optava por um dos sexos. E de bônus havia ainda um irmão gêmeo com o                                     
qual se poderia comparar o desenvolvimento do gênero em cada um.  
Bruce teve sua cirurgia de mudança de sexo aos 17 meses de idade e desde então passou a ser                                     
tratado como Brenda. Money considerou o caso um sucesso, Brenda explicitava os comportamentos e                           
desenvolvimentos de uma garota normal. Porém, aos 14 anos, após anos de não identificação com o                               
gênero femino,  Brenda decidiu trocar de sexo, assumindo a nova identidade como David. 
A mudança para o sexo com qual se identificava trouxe um grande alívio para David, mas ele ainda                                   
se ressentia pela impossibilidade de ter filhos e por ter um pênis não completamente funcional. David                               
acreditava que nunca poderia casar, um de seus sonhos, e tentou suicídio duas vezes durante a                               
juventude. Dr. Milton Diamond foi atrás do famoso caso dos gêmeos de Money, porque este havia                               
parado de publicar follow­ups sobre o caso. Encontrou David, aos 29 anos, explicou o quanto o seu                                 
caso era marcante na teoria do gênero e que era utilizado para perpetuar práticas por todo o mundo.                                   
David então aceitou fazer o follow­up com Diamond e revelar como realmente havia sido o seu caso.  
Em 2000, David decidiu aparecer em público contando seu caso. John Colapinto escreveu o livro                             
''As Nature Made Him: The Boy Who Was Raised as a Girl”, baseado no caso. David apareceu em                                   
programas de auditório e um documentário da BBC, também sobre o caso. 
Em 5 de Maio de 2004, após enfrentar uma série de problemas como a morte do irmão por                                   
overdose, desemprego e fim de seu casamento de 14 anos, David se suicidou com um tiro na cabeça.                                   
Sua morte movimentou ainda mais as discussões sobre gênero e sexualidade. Seu caso entrou para                             
história. 
O caso de David foi descrito na literatura como o caso dos gêmeos, por Money, mas ficou mais                                   
conhecido como o caso John e Joan, pseudônimos atribuídos por Diamond. 
 
Caso por William Money 
 
Psicólogo da Jonhs Hopkins University de Baltimore, sexologista, pesquisador e publicador                     
assíduo, especializado em pesquisas sobre identidade sexual, mudança de sexo e biologia do gênero,                           
Money foi grande responsável pela criação e popularização da teoria de identidade de gênero. Seu                             
livro “Homem e mulher, menino e menina” (1962) tornou­se um livro­texto amplamente utilizado nas                           
universidades. Money também popularizou a ideia de papel social de gênero e criou a teoria do                               
“lovemap”.  
Para Money, não era a biologia, ou genes, que determinava se a pessoa seria homem ou mulher,                                 
mas sim sua criação social. Algumas diferenças são sexualmente adjuntivas, como o fato do homem                             
urinar em pé e a mulher urinar sentada e o tamanho menor das mulheres quando crianças, que fazem                                   
com que os homens assumam o papel de dominância. A maioria das diferenças porém são sexualmente                               
arbitrárias, impostas pela sociedade, como a cor das roupas (azul para meninos e rosa para meninas) e                                 
carreiras a serem seguidas por cada sexo. Para Money, o órgão sexual determinaria o tipo de criação                                 
que a criança receberia e, portanto, tal criação determinaria seu gênero. 
 
Dr. Money descreveu o caso John/Joan em um dos capítulos do livro “Homem e mulher, menino e                                 
menina” (1962), segue um resumo de sua descrição.  
 
No livro Money descreve os pais como: jovens, advindos de um ambiente rural, apenas com                             
educação básica e desesperados com a condição do filho com o seu pênis mutilado. Money não narra                                 
como entraram em contato e nem como foi feita a decisão da cirurgia.  
John teve sua mudança de sexo aos 17 meses e a cirurgia de vaginoplastia foi deixada para                                 
quando o seu corpo se desenvolvesse mais. Money aconselhou os pais baseado nos casos de                             
hermafroditismo que ele anteriormente havia acompanhado. Foram informados do programa médico                     
que deveriam seguir, manipulação de hormônios, associados a uma educação sexual. Foram guiados                         
em como fornecer informaçõespara sua então filha, familiares e para o irmão de acordo com as                                 
necessidades futuras. A criança, por exemplo, só receberia a informação de que não poderia ter filhos                               
quando casasse e quisesse constituir uma família.  
O acompanhamento pós processo cirúrgico passou por um amplo contato com os pais a distância,                             
por cartas, aparentemente, e visitas anuais. A criança inicialmente rejeitou usar vestidos, aceitando após                           
algum tempo. Money narra a mudança de roupas, e a preferência da criança por vestidos, o gosto por                                   
arrumar seu grande cabelo, a criança não gostar de se sujar como sinais claros do sucesso do caso. 
A mãe teve problemas para fazer com que a criança urinasse sentada, o que Money atribuiu ao                                 
formato que a genitália da criança ficou após a cirurgia. Consegui­se que a criança sentasse para urinar                                 
ao 5 anos de idade, ocasionalmente ainda copiando o irmão. 
Quando as crianças perguntaram para quê serviam os seios, a mãe retratou as diferenças dos                             
papeis de mães e pais na criação dos bebês, dizendo que os seios servem paras mães darem leite aos                                     
bebês e os pais tem músculos para protegê­los. Quando a menina se deparou com os absorventes da                                 
mãe, ela lhe explicou sobre a menstruação e sua parte no papel feminino. 
Dr. Money diz que a mãe executou muito bem a tarefa de especificar o papel reprodutivo                               
masculino e feminino para as crianças, em especial em um episódio no qual os gêmeos tomavam banho                                 
juntos e o irmão ficou com o pênis ereto e apontando “Olha o que eu tenho, olha o que eu tenho!”, a                                           
irmã ficou brava e bateu em seu pênis. Ao ver a menina chateada a mãe lhe disse para esperar quando                                       
ela crescer, porque mulheres podem ter bebês e homens não. O irmão, por sua vez, ficou chateado,                                 
então a mãe lhe explicou o papel dos homens na formação dos bebês com suas “sementes”.  
A menina ajudava a mãe nas tarefas da casa e queria bonecas de presente no natal. A mãe narra                                     
que enquanto o irmão queria ser bombeiro ou policial, ela desejava ser médica ou professora, mas não                                 
possuía nenhum desejo em se casar.  
Dr. Money aponta, no final de sua narração do caso, que a garota possuía bastantes traços                               
masculinos como excesso de energia física, teimosia, grande nível de atividade, dominância em qualquer                           
grupo que pertencia e dominância sobre o irmão gêmeo. Sua mãe tentou modificar esses                           
comportamentos sem resultado. O pai pouco narrou sobre seus comportamentos para com as crianças                           
e não acreditava que havia algum tipo de favoritismo para nenhuma delas. Porém Money afirma que ele                                 
reforça diferentes comportamentos para ambos. 
 
No artigo “Ablatio Penis: Normal Male Infant Sex­Reassigned as a Girl” (1975), Money reconta o                             
caso, que acompanhava há 9 anos e acrescenta algumas novas informações. Justifica a mudança de                             
sexo para o feminino no seguinte trecho: 
“A razão de tal programa é simples: é possível com a cirurgia e terapia hormonal, habilitar um bebê                                   
com um pênis defeituoso mais efetivamente a ser uma garota que um garoto. Vaginoplastia permite uma                               
vida sexual normal enquanto a faloplastia não. A vaginoplastia exige somente duas cirurgias, ao                           
contrário da faloplastia que exige uma dúzia ou mais. Resposta orgásmica não é perdida. Maternidade                             
pode ser adquirida por adoção. O indivíduo não se sente como uma aberração” 
Em uma das consultas com os gêmeos, ela contava sobre uma visita no zoológico, Money                             
perguntou qual animal ela gostaria de ser. Ela respondeu que gostaria de ser um macaco, porque ele                                 
pode subir nas árvores e balançar no seus braços. O doutor então perguntou se ela gostaria de ser um                                     
macaco menino ou menina. Ela respondeu que gostaria de ser um macaco menina, quando questionada                             
por que justificou porque já era uma.  
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Caso por Milton Diamond 
  
Dr. Milton Diamond foi responsável pelo follow up do caso John/Joan. Diamond era um intenso                               
crítico das teorias de Money e os dois nutriram uma richa por muitos anos. Ele contrapôs o sucesso do                                     
caso e realizou entrevistas com John, sua mãe e sua mulher, de 1994 à 1995, para relatar um outra                                     
visão do caso e a nova mudança de sexo de John para o masculino.  
Diamond defende a Teoria do desenvolvimento do gênero, que incorpora fatores biológicos como                         
organizadores de predisposições em temperamentos e atitudes, com a ativação destes fatores, que                         
ocorre a partir da interação da pessoa com a sociedade. Tendências herdadas mais interações sociais                             
determinaram o gênero que a pessoa assumirá. A pessoa nasce com um background baseado na                             
herança evolutiva, genética familiar, desenvolvimento uterino e saúde. Esses fatores organizados                     
influenciarão os comportamentos subsequentes do indivíduo. As pessoas não são psicossexualmente                     
neutras ao nascer, mas programadas a se comportarem de uma certa maneira. Todos os indivíduos se                               
comparam com outras pessoas decidindo quem eles são parecidos e com quem são diferentes. Estas                             
experiências e identificações levarão a pessoa se identificar com o gênero masculino ou feminino.  
 
Diamond narra o caso no artigo “Sex Reassignment at Birth: A Long Term Review and Clinical                               
Implications” (1997). Segue um resumo de sua descrição:  
 
Diamond faz um resumo do caso e seguido de vários pequenos trechos do desenvolvimento de                             
John apresentado pelos entrevistados. A mãe narra que ao tentar vestir Joan com vestidos, ela os                               
negava veementemente, chegando a rasgá­los. Porém Joan também era bastante feminina quando                       
queria, a mãe se encabulava com o quanto era bonita e virtuosa como menina.  
Sua mãe também relata que Joan copiava muito mais seu pai do que seu irmão gêmeo o copiava,                                   
em um dia Joan viu o pai se barbeando e a mãe se maquiando, Joan logo começou a aplicar a espuma                                         
de barbear e mesmo com mãe a corrigindo dizendo que ela deveria se maquiar, Joan replicou que                                 
queria se barbear e não se maquiar.  
Como descrito por Dr. Money, Joan regularmente tentava urinar em pé, mesmo depois dos 5                             
anos, quando aprendeu a urinar sentada, ainda tentava urinar em pé ocasionalmente. Joan chegou a ser                               
pega urinando em pé tantas vezes no banheiro feminino que as garotas a ameaçaram e a expulsaram do                                   
banheiro.   
Contrapondoo que foi descrito por Money, Diamond afirma que durante o desenvolvimento, Joan                           
preferiu atividades e jogos de meninos, tendo pouco interesse em bonecas ou atividades de garotas,                             
ignorando os brinquedos que lhe eram dados. Joan não fugia de esportes duros ou brigas.  
A realização de Joan de que não era uma garota aconteceu entre os 9 e 11 anos. John relata: 
“Sempre houveram pequenas coisas desde o começo. Eu comecei a ver como eu me sentia e era                                 
diferente do que eu deveria ser. Eu achei que fosse uma aberração ou algo assim… Eu olhei para mim                                     
mesmo e disse Eu não gosto deste tipo de roupa, eu não gosto deste tipo de brinquedo que sempre me                                       
dão, eu gosto de andar com garotos e subir em árvores e garotas não gostam de nenhuma dessas                                   
coisas. Eu olhei no espelho e vi que meus ombros eram tão largos, não há nada de feminino sobre                                     
mim… foi assim que eu descobri, mas eu não queria admitir, eu não queria causar um grande                                 
problema” 
Joan já possuia pensamentos suicidas trazidos por por esta dissonância cognitiva. Ela não tinha                           
amigos, tanto garotos quanto garotas estavam sempre implicando com ela. Joan chegou a agredir uma                             
garota que implicava com ela e foi expulso de sua escola. Sua mãe diz que Joan era uma garota bonita,                                       
mas quando começava a se mover ou falar sua incongruência e estranheza apareciam. Na escola, Joan                               
recebeu os apelidos de “homem das cavernas” e “gorila”.  
John conta que quando tentava expressar seus pensamentos para os médicos eles “mudavam de                           
assunto sempre quando eu tentava dizer como eu me sentia. Ele não queria escutar o que eu tinha para                                     
dizer, mas queria me dizer como eu deveria me sentir”. Quando Joan relatava seus sentimentos de não                                 
se sentir como uma garota, os seus terapeutas, antes da mudança de sexo, argumentavam que era um                                 
sentimento normal, que todas as garotas passavam por isso no seu desenvolvimento. John diz que não                               
podia argumentar com um monte de médicos em seus jalecos, suas mentes já estavam feitas, eles não                                 
queriam ouví­lo.  
John diz que os médicos estavam mais preocupados com a aparência de sua vagina que ele                               
mesmo. Sua genitália era inspecionada em cada visita ao John Hopkins. John lembra de pensar “Me                               
deixe do jeito que estou e eu ficarei bem… É bizarro. Minha genitália não estão me incomodando, eu                                   
não sei porque vocês estão tão incomodados com ela.”. 
John conta que Joan não tinha ninguém com quem comparar sua genitália, a não ser seu irmão.                                 
Nudez não era aceitável em sua comunidade. Em uma das visitas a John Hopkins os gêmeos tiveram                                 
que ficar nus para a inspeção do grupo de médicos e inspecionar os genitais um do outro. Esta                                   
inspecção deixou fortes emoções nos irmãos. O irmão de John recorda desta experiência com lágrimas. 
A partir dos 7 anos, Joan se rebelou com as consultas feitas em no hospital de John Hopkins. Ela                                     
se sentia descofortável e envergonhada com a frequente exposição de seus genitais e as constantes                             
tentativas, a partir dos 8 anos, de convencê­la a se comportar mais como uma garota e aceitar a                                   
vaginoplastia. Para convecê­la a ir os pais misturam as visitas com viagens em família.  
Aos 12 anos Joan iniciou seu tratamento hormonal, aos quais ela se rebelou porque a faziam se                                 
sentir estranha. Ela regularmente conseguia driblar sua dose diária. Joan desenvolveu seios, mas se                           
recusava a usava sutiã.  
Em Baltimore, os médicos levaram transsexuais feminos para convencer Joan das vantagens de ser                           
mulher e ter uma reconstrução vaginal. Joan ficou extremamente perturbada por esses encontros e em                             
um deles, aos 13 anos, ela fugiu do hospital e se escondeu na cobertura de um prédio próximo. Aos 14                                       
anos, Joan se recusou a retornar para o hospital e passou a ser tratada por um grupo de médicos                                     
locais.  
Os pais de Joan continuara a reforçar sua identidade feminina, como orientaram os médicos.                           
Psicoterapia, primeiramente por terapeutas mulheres, tinha o objetivo de reforçar sua identidade                       
feminina e redirecionar sua ideação masculina. Isto foi se tornando cada vez mais difícil a medida que                                 
Joan negava ver a si mesmo como um garota e se irritava em ser tratada como uma. John se lembra                                       
“Eles faziam eu me sentir uma aberração”.  
Aos 14 anos, ainda sem saber de sua condição original, Joan se recusou a viver como garota e                                   
fantasiava ser “um homem grande, com muitos músculos, um carro e com vários amigos”, Joan queria                               
ser mecânica e só vestia jeans e camisetas. Seus teste de Rorschach e Teste de Apercepção temática                                 
da época mostraram uma personalidade mais masculina que feminina. Joan disse para o seu                           
endocrinologista que suspeitava que era um garoto desde criança. O endocrinologista, que                       
acompanhava o caso há um tempo, percebia a clara preferência de Joan pelo comportamento                           
masculino, abriu a possibilidade para Joan de fazer uma mudança de sexo. Poucos meses depois Joan                               
aceitou e decidiu passar a viver como um homem. 
Após a decisão de Joan seu pai lhe contou toda a verdade do seu caso. Foi um momento muito                                     
emocional para todos, John relata “Pela primeira vez as coisas fizeram sentido e eu entendi quem e o                                   
que eu era.”.  
John logo inciou o tratamento hormonal, realizou uma masectomia aos 14 anos e sua primeira                             
faloplastia aos 15. Após as cirurgias John se ajustou bem, era bem aceito e popular com garotos e                                   
garotas. John porém tinha relutância com a iniciativas sexuais. Quando contou para uma amiga que                             
estava inseguro com seu pênis ela contou para toda a escola, o que machucou bastande John, mas logo                                   
ele superou e foi reaceito em seus grupos. 
A cirurgia não foi completamente um sucesso. John, na época em que foi entrevistado por                             
Diamond, urinava por uma fístula na base de seu pênis, grande parte do seu pênis não possuia sensação                                   
e aviam áreas com intensas cicatrizes. A castração que John sofreu retirou totalmente sua capacidade                             
reprodutiva, algo que John ressentia muito na época da entrevista. Sua capacidade de ejacular retornou                             
com o tratamento andrógeno. 
John teve sua primeira experiência sexual aos 18 anos. Aos 25 anos John casou com uma mulher                                 
mais velha e adotou seus filhos. Sexo era ocasional no relacionamento,fato com o qual sua mulher                                 
manifestou insatisfação. 
Porém Dr. Diamond não percebeu também uma possível depressão em John e termina o relato do                               
caso dizendo “John é um homem maduro e voltado para o futuro com senso de humor perspicaz e                                   
equilíbrio. Enquanto ainda ressentido pela sua experiência, ele filosoficamente aceita o que aconteceu e                           
tenta superar isso com o apoio de sua mulher, pais e família.” 
 
Para Diamond é possível que as interpretação dos primeiros anos de John tenham sido erradas,                             
pela dificuldade de pesquisador de ver os resultados saindo de sua hipótese. As manifestações                           
comportamentais masculinas de Joan iriam sempre ser interpretadas como uma fase, ou                       
comportamentos desviantes normais para uma garota. Os comportamentos masculinos de Joan eram                       
repetidamente rejeitados pelos médicos também pela crença a diminuição da dúvida do paciente levaria                           
a um maior sucesso da mudança de sexo 
Para Diamond, todo o caso foi construído na crença de que toda a imagem pessoal depende da                                   
criação que a criança receberá baseada no órgão sexual funcional: era melhor que John tivesse uma                               
vagina funcional que um pênis não funcional. Apesar da funcionalidade do órgão ser um fator                             
importante para pessoa, Diamond não acredita que é o ponto central para o estabelecimento do                             
gênero. 
Diamond aponta que o caso de John/Joan é incomum na literatura (não hermafrodita), mas cita                             
outros artigos de follow­up de casos de pacientes com micropênis, que tiveram a mudança de sexo                               
para o feminino, e que hoje não possuem nenhuma dúvida de seu sexo ser o masculino. E vários                                   
estudos nos quais homens com o pênis anormal sofreram uma mudança de sexo para o feminino e hoje                                   
vivem como homens. 
Diamond ressalta que há casos na literatura de homens que aceitaram a vida como mulheres,                             
quando trocado de sexos quando bebês. Mas os casos relatados não contém detalhes da vida sexual                               
ou pessoal do indivíduo e não há um longo follow up, acompanhando apenas os primeiros anos de vida.                                   
Diamond afirma que os follow­ups de mudança de sexo tem que ir além dos 5 ou 10 anos e                                     
acompanhar a pessoa principalmente na puberdade, quando a pessoa realmente reafirmará o seu                         
gênero. 
 
 
Discussão 
 
O caso de John/Joan é emblemático em dois pontos principais: na ideologia de gênero, criada por                               
Dr. Money, que é ainda hoje defendida por alguns grupos, e no enviesamento científico que um                               
pesquisador pode ter quando se apaixona demais por sua teoria e começa a distorcer os fatos ao seu                                   
favor.  
É preciso ressaltar o cuidado que o pesquisador deve ter com sua teoria e pesquisa, para que não                                   
se apaixone tanto por ela ao ponto de que esta não vire um dogma para si próprio e ao invés de criar                                           
teorias que tentem explicar a realidade ele dobre a realidade para encaixar em sua teoria.  
Money considerou o caso um exemplo de sucesso, e provavelmente realmente o enxergou como                           
um completo sucesso, deixando de ver ou arranjando justificativas para qualquer comportamento de                         
Joan que saía do esperado. A sua teoria e o caso se espalharam rapidamente, não só nos meios                                   
acadêmicos, como também na mídia. Time magazine escreveu “Este caso dramático… dá bastante                         
suporte… que os padrões convencionais de comportamentos masculinos e femininos podem ser                       
alterados. Também impõe dúvidas na teoria de que a maioria das diferenças sexuais, psicológicas e                             
anatômicas, são imutáveis, deterrminadas por genes e concepção.  
O modelo Hopkins se espalhou pelo mundo nos hospitais. Com a crença de que a criança se                                 
adaptaria a qualquer gênero a escolha passou a se guiar pelo orgão que seria mais funcional para                                 
pessoa. Os endocrinologistas manipulavam hormônios para o melhor desenvolvimento sexual do                     
paciente na puberdade. Neste guia pelo orgão mais funcional muitos meninos sofreram mudanças de                           
sexo apenas ter um pênis que os médicos consideraram muito pequeno, com a crença de que eles                                 
teriam um vida mais satisfatória como meninas.  
Após a revisão do caso por Diamond, o caso de John/Joan levou ao início de mais estudos de                                   
follow­up de pacientes que tiveram uma mudança de sexo ainda quando bebês/crianças. A Intersex                           
Society of North America (ISNA) realizou levantamentos com pacientes adultos e percebeu que um                           
grande número dos que tiveram troca de sexo quando bebês estavam insatisfeitos com o sexo ou já                                 
haviam realizado uma mudança de sexo.  
Por mais que Money afirmasse que o desenvovimento do gênero é social, o foco no tratamento se                                 
concentrava na funcionalidade e mudança do orgão sexual, pouco se trabalha o lado social dos papeis.                               
Money insistia em mostrar as diferenças dos orgão sexuais para os gêmeos, acreditando que Joan                             
entenderia que porque tinha tal orgão era uma menina e então teria que agir de uma certa forma.  
Apartir de vários estudos as concepções sobre gênero e manejo destes pacientes começaram a                           
mudar, hoje defende­se que a própria pessoa deve decidir qual gênero irá ter, quando tiver capacidade                               
para tal. A INSA afirma “Não há evidência que crianças que crescem com genitálias hermafroditas                             
estão piores psicologicamente que aquelas que possuem o sexo alterado. Na verdade há evidências de                             
que crianças que crescem com genitálias hermafroditas crescem bem, psicologicamente… as cirurgias                       
acontecem antes da idade de consentimento sem justificativa”. 
Como o próprio John narra “Doutor… disse, vai ser difícil, as pessoas irão pegar no seu pé, você                                   
será bastante solitário, você não irá achar ninguém a não ser que tenha uma cirurgia vaginal e viva como                                     
uma mulher. E eu pensei comigo mesmo… me desapontou o fato de que estas pessoas serão muito                                 
baixas se esta é a única coisa que eles pensam que há para mim…. Se isso é tudo o que elas pensam                                           
de mim, que meu valor é baseado pelo o que eu tenho no meio das minhas pernas I tenho que ser um                                           
completo perdedor”. 
No caso de John/Joan toda família foi afetada drasticamente pelas decisões e ações tomadas.                           
Obviamente o processo pelo qual estava submetido não afetou e desgastou apenas o psicológico de                             
John, mas de seus pais e irmão, tornando­os uma família traumatizada e vítima de depressão. Foraas                                 
orientações sobre como deveriam proceder para criar seus filhos não houve, aparentemente,                       
acompanhamento psicológico aos pais e ao irmão de John. John tornou­se um adulto atormentado                           
pelas lembranças de sua infância repleta de confusão sexual, imagem corporal incoerente e experiências                           
traumáticas, não recebeu nenhum amparo, nem acolhimento, culminando por fim em seu suicídio.  
Infelizmente ainda hoje muitos médicos seguem o modelo Hopkins e a teoria de John Money,                             
atualizada, ainda é defendida por grupos feministas. Alguns movimentos insistem em negar as influências                           
pré­natais na escolha do gênero. Espera­se que as pesquisas se ampliem neste campo, e que talvez seja                                 
criado a Sexologia como ciência, como era defendido por Diamond. E teremos o fim da clássica                               
dicotomia biológico x social, partindo para a concepção mais ampla do indivíduo como um ser com                               
bases biológicas que se alteram com o social.  
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Referências  
 
Colapinto, J. (1997). The True Story of John/Joan. The Rolling Stone, December 11, 1997. Pages                             
54­97 
Colapinto, J. (2004). What were the real reasons behind David Reimer's suicide? retrieved from                           
http://www.slate.com/articles/health_and_science/medical_examiner/2004/06/gender_gap.2.html 
Diamond, M. (1997); Sigmundson, K. Sex Reassignment at Birth: A Long Term Review and                           
Clinical Implications, Archives of Pediatrics and Adolescent Medicine, No. 151  
Diamond, M. (2000). The field of Sex Research: Responsability to ourselves and to society,                             
Archives of sexual behavior, Vol 9, Nº 4. 
Diamond, M. (2006). Biased­interaction theory of Psychosexual development: “How does one                     
know is one is male or female?”, Sex Roles, Vol 55, 589­600. 
Intersex Society of North America. What's wrong with the way intersex has traditionally been                           
treated? retrieved from http://www.isna.org/faq/concealment 
Money, J. & Ehrhardt, A. A. (1972) Man & woman, boy & girl: the differentiation and dimorphism 
of gender identity from conception to maturity. Baltimore, MD: Johns Hopkins University Press. 
Money, J. (1975) Ablatio Penis: Normal Male Infant Sex­Reassigned as a Girl. Archives of Sexual 
Behavior, VoL 4, No. 1.

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