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Trabalho avaliativo de Psicanalise, 5 período C Gabriela Siqueira, Gustavo Brito, Heitor Magalhães, Maria Clara Correia Para Freud, a criança ocupa lugar de falo para mãe, Lacan vai além e diz que há um resto não metaforizado pelo nome do pai. Em “nota sobre a criança” Lacan faz distinção de duas posições da criança: como sintoma do par familiar e como objeto do fantasma materno. Freud já colocava que a anatomia não é o suficiente para o menino se tornar homem, a partir das referências deixadas por Freud pode se articular o processo de sexualização da criança, somente através da relação logica do menino com o falo o sujeito se coloca na via da sexualização, através dessa via simbólica. A demanda “quero ser uma menina” por parte do menino não é exclusiva de uma estrutura clínica em particular, mas uma resposta para o problema em regular o gozo pela via simbólica. Primeiro caso clinico: ser menina – uma solução imaginaria André é um menino de 5 ano cujo os pais se queixam de seu comportamento efeminado nos trejeitos e na fala. O pai de André constantemente tenta corrigi-lo, dizendo ao garoto que este não é um comportamento de homem. André, na primeira entrevista diz que foi lá para resolver um problema, mas que não queria contar o que era. Conta que o pai estudou em um colégio próximo ao consultório “ele estudou, depois ficou adolescente, depois estudou medicina, casou, depois saiu um neném da barriga da mamãe, dois nenéns, e ele foi estudar sobre mamas”, diz que uma semente cresce e vira um neném na barriga da mãe e como sai, quem sabe é a mãe, segundo o pai. Com isso André “diz” que o pai tem o olhar voltado não para a mulher, mas para a mãe e atribui um saber a ela “como nasce o bebe”, a questão então da separação da mãe e do bebe fica sobre a jurisprudência da mãe. André atua como sintoma do par familiar e a assunção da sua sexualidade está ligada à castração materna. André pergunta à analista o que há por trás de uma determinada porta e ela diz que ele pode olhar, André abre a porta do banheiro e diz à analista que ele havia pensado que ali teria um buraco que ele poderia cair – vemos aqui a “falta”. Há um pai que ama uma mãe que tem um saber, e há André, que frente ao “perigo” de cair no buraco, identifica-se ao Falo como solução, por identificar o desejo da mãe direcionado ao falo. Ele encontra no Outro materno o significante do Nome do Pai e busca dar um sentido ao gozo, esse é um sentido fálico. Para responder à questão do ser, André se identifica ao falo, e assim encontra lugar no outro, ele é “isso” que o Outro quer. Essa localização do gozo pelo falo só é possível porque a criança está articulada às coordenadas próprias da estrutura edípica. Ainda na primeira sessão, André diz que quer fazer um desenho para a analista, usando sua habilidade de desenhar na tentativa de capturar o olhar da analista. Em um dos desenhos, um pingo de tinta cai fora do vestido “era um buraquinho, mas que nem ia ligar para ele” - novamente vemos o reconhecimento da falta e a tentativa de encobri-la. A analista, Cristina, ressalta que a função do falo é tal qual uma mais cara por onde ele pode olhar. André se identifica com a imagem fálica, mas nunca é aquilo, é uma virtualidade imaginaria, e André parece saber disso, gosta de fazer mascaras e óculos, fantasiando-se para agradar a mãe, brincando de ser falo. Com suas interrupções, Cristina quebra a identificação com o falo (como quando decide guardar o desenho que André queria levar para a mãe). Segundo caso clinico: ser menina – uma solução real Os pais de Bernardo procuraram uma analista com a queixa de que o garoto se vestia de mulher, se interessava pelos objetos da mãe e dançava como a Xuxa. Diferentemente de André, do caso anterior, Bernardo fala com facilidade do seu fascínio pelos objetos da mulher. Bernardo constrói a história de dois mundos bem separados: o mundo “só para homens” com objetos desinteressantes e o mundo “só para mulheres”, com saltos altos, cosméticos e brilhos. Supõe-se uma deficiência na metáfora paterna. Ao contrário de André, Bernardo não encontra no Outro o significante o Nome do Pai, Bernardo levava objetos para mostrar o que se encaixaria em cada mundo, os objetos desinteressantes – os restos, pertenciam ao “mundo dos homens”, seria uma invenção de uma repetição sexual, para Bernardo, a relação sexual existe, ele não tem um significante fálico à sua disposição para regular o gozo. O pai de Bernardo é pouco presente na fala do garoto – era usuário de drogas e após ter complicações neurológicas não consegue um emprego fixo. Bernardo mora com a avó e suas questões giram sempre entorno da sua relação com a mãe, nunca se incluindo em uma trama Edipiana. Lacan mostrou ser mais difícil de demarcar o momento do desencadeamento da psicose nas crianças, a posição psicótica nelas deve ser buscada em sua reação com o fantasma materno. Bernardo não apresenta fenômenos elementares, mas alguns fenômenos de borda. As razões de Bernardo para querer ser menina é uma solução no real do corpo, tentando construir um corpo com roupas e acessórios femininos - como ordena seus dois mundos, há roupas só para homens e roupas só para mulheres -, um corpo que faça continente à substancia garante. É quando uma diferença mínima é introduzida neste mundo feminino – como o casaco amarelo do avô e o “vestido” do padre, vestimentas do “mundo dos homens” que o interessam – que o gozo pode estar minimamente contido nesse corpo. O querer ser menina do Bernardo é um tratamento ao gozo do ser que lhe invade por não se inscrever na função fálica, é uma forma de conter uma experiencia infinita do gozo, chamada por Lacan por gozo Transexualista ou empuxo à mulher, onde o sujeito é empurrado em direção à mulher de uma forma independente à sua vontade. Resumo do texto As Pequenas Invenções Psicóticas – Vertentes da estabilização em um caso de psicose, de Simone Gonçalves. O texto em questão é um relato de um caso clínico de psicose que, ao longo de 18 anos no circuito psiquiátrico e seis meses de trabalho analítico, constrói uma saída que instaura questões acerca da forma como se desenvolve sua invenção. Em um laço do imaginário com o real, Francisco tentou dar significado à realidade a partir de uma imagem ideal, que se manifestava na figura da cantora Donna Summer. Essa construção pôde ser fragmentada em três momentos clínicos, após o desencadeamento. A primeira crise de F. aconteceu aos 19 anos, quando seus pais hospedaram em sua casa um parente, com quem F cismou. Ele diz que achava que o hóspede estava roubando o lugar dele e, com isso, cismou também com o próprio pai. Ele alega que não mais conseguia distinguir o real do irreal. O início do desencadeamento da psicose parece ter acontecido no momento em que a presença de um terceiro (o hóspede), desestabiliza a relação entre F e sua mãe, tendo a mãe como seu duplo imaginário. Primeiro momento: F tinha 32 anos e havia sido atendido por vários profissionais até o momento em que iniciou a construção em questão, baseada no diagnóstico de esquizofrenia. Foram vários os profissionais que o atenderam em plantões e, em um desses atendimentos de urgência, F disse ao plantonista: “sou objeto de estudo dos médicos”. A partir dessa fala, o analista passou a assumir o caso, oferecendo a F a escuta. Desde o início do tratamento analítico, F já se definia com base em alucinações, alusões e interpretações delirantes. Ele se apresentava como negro, pobre, doido e homossexual. Dizia que a família não gostava dele por ser negro e que, ao olhar-se no espelho, ele via a Donna Summer. Segundo ele, a cantora parecia com a mãe e o pai dele. Nesse primeiro momento, F ainda resvalava em relações em que ele assumia a posição de objeto do gozo do Outro, ao qual ele estava submetido e invadido, configurando um processo de desagregação, pontuado por vários núcleos delirantes e alucinações. Segundo a autora: “A oferta do dispositivo de escuta funcionoucomo um princípio organizador em que se possibilitou uma báscula dessa posição de objeto à palavra, que operou a emergência, ainda incipiente, de significantes que compunham a sua história” (GONÇALVES.F, 2006, p.108). Segundo momento: No segundo momento, F passa a construir suas ideias a partir de bases delirantes mais e melhor sistematizadas. Sobre seu pai, dizia que ele era um carrasco que o dominava, invadia suas leis, o humilhava e o matava aos poucos. Sobre a mãe, F dizia que era pregado a ela, e não conseguia imaginar o que seria dele caso ela morresse. Nesse mesmo momento, F comenta sobre seu desejo de fazer uma cirurgia para mudar de sexo e virar uma mulher linda. Ele diz que se sente completo quando está vestido de mulher, pois se parece com o pai, a mãe, e a Donna Summer. Nesse momento, é possível perceber o gozo não castrado, próprio da psicose, que necessita encontrar uma imagem grandiosa, buscando responder ao excesso estabelecido pelo empuxo-à-mulher. Para a autora, neste momento, “presentifica-se, em um retorno no real, aquilo que, para F, foi excluído do simbólico, ou seja, o enigma do que é ser uma mulher em um corpo de homem e que ele vai transformando em um projeto que o moverá desse lugar: tornar-se uma mulher, via Donna Summer, no veículo de um arranjo delirante” (GONÇALVES. F, 2006, p. 109). Porém, a mulher que ele gostaria de se tornar não é uma mulher qualquer, mas uma mulher inatingível que aparece como uma tentativa de F constituir um eu, apoiado em uma imagem a caminho de construir uma metáfora delirante. Terceiro momento: Nesse momento, as construções delirantes diminuíram significativamente. F teve um queloide gigante na orelha, e precisou passar por uma cirurgia para removê-lo. Essa cirurgia, junto a uma intervenção da analista, parece ter surtido efeito positivo no desenvolvimento do caso. Depois da cirurgia de remoção do queloide, F chega ao consultório dizendo que há uma demanda da família dele para que sua analista o “permita” realizar a cirurgia de mudança de sexo. Então, a intervenção da analista: “- Já te encaminhei para a cirurgia que foi possível”. Essa intervenção permitiu que uma cirurgia menor pudesse se colocar no lugar daquela outra cirurgia que F queria fazer. A cirurgia do queloide teve o efeito de condensar o gozo. A partir desse momento em que se apresenta uma estabilização que permite a F maior adesão social, surge um outro significante em sua cadeia: TENOR. F passa a frequentar um coral espírita e ganha um crachá com o nome Tenor escrito em negrito. Tenor dá a F um lugar entre outros homens, faz-se possível que ele assuma uma posição masculina, mas ainda fazendo par com seu significante ideal (Donna Summer), por se tratar do meio musical. Segundo S. Gonçalves, é aí que se estabelece uma via de nomeação e estabilização neste caso de psicose.
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