Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE REDE NACIONAL DE ALTOS ESTUDOS EM SEGURANÇA PÚBLICA DE SERGIPE PÓS-GRADUAÇÃO EM CRIMINALIDADE VIOLENTA, CONTROLE SOCIAL E PÓLITICAS PÚBLICAS CARLOS ANTÔNIO ALBAREDA BARCELOS FLUXO DOS PEDIDOS DE REMIÇÃO EM FAVOR DE INTERNOS DO SISTEMA PRISIONAL SERGIPANO ENTRE OS ANOS DE 2013 E 2016 SÃO CRISTÓVÃO, SE 2018 CARLOS ANTÔNIO ALBAREDA BARCELOS FLUXO DOS PEDIDOS DE REMIÇÃO EM FAVOR DE INTERNOS DO SISTEMA PRISIONAL SERGIPANO ENTRE OS ANOS DE 2013 E 2016 Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Programa de Pós-Graduação em Criminalidade Violenta, Controle Social e Políticas Públicas da Universidade Federal de Sergipe como requisito parcial para a obtenção do título de especialista. Orientador: Prof. Newton Silveira Dias Junior SÃO CRISTÓVÃO, SE 2018 CARLOS ANTÔNIO ALBAREDA BARCELOS FLUXO DOS PEDIDOS DE REMIÇÃO EM FAVOR DE INTERNOS DO SISTEMA PRISIONAL SERGIPANO ENTRE OS ANOS DE 2013 E 2016 Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Programa de Pós- Graduação em Criminalidade Violenta, Controle Social e Políticas Públicas da Universidade Federal de Sergipe como requisito parcial para a obtenção do título de especialista. Aprovado em: 01/ 02/ 2018. Prof. Msc. NEWTON SILVEIRA DIAS JUNIOR Universidade Federal de Sergipe Orientador Prof. Msc. ROBSON COSME DE JESUS ALVES Universidade Federal de Sergipe Prof. Msc. JEFFERSON PIRES DE ALVARENGA Universidade Federal de Sergipe “Os gregos, que tinham bastante conhecimento de recursos visuais, criaram o termo estigma para se referirem a sinais corporais com os quais se procurava evidenciar alguma coisa de extraordinário ou mau sobre o status moral de quem os apresentava. Os sinais eram feitos com cortes ou fogo no corpo e avisavam que o portador era um escravo, um criminoso ou traidor, uma pessoa marcada, ritualmente poluída, que devia ser evitada; especialmente em lugares públicos. [...] Atualmente, o termo é amplamente usado de maneira um tanto semelhante ao sentido literal original, porém é mais aplicado à própria desgraça do que à sua evidência corporal” Erving Goffman RESUMO BARCELOS, C. A. A. Fluxo dos pedidos de remição em favor de internos do sistema prisional sergipano entre os anos de 2013 e 2016. 2018. 55 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Pós-Graduação em Criminalidade Violenta, Controle Social e Políticas Públicas)-Rede Nacional de Altos Estudos em Segurança Pública de Sergipe, Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, Sergipe, 2018. Qual é o fluxo de pedidos de remição de pena dos presos no Estado de Sergipe? O presente trabalho buscou responder essa questão ao elaborar uma pesquisa sobre a remição dos apenados durante sua execução no sistema prisional do Estado de Sergipe, no período compreendido entre os anos de 2013 e 2016, tendo como foco a verificação de gráficos quantitativos e estatísticas disponibilizadas pelos órgãos públicos e o Conselho da Comunidade na Execução Penal (CCEP), que trabalha com a reinserção social dirigida aos egressos prisionais que desejam trabalhar e se qualificarem profissionalmente. O trabalho foi baseado em dados primários do levantamento de campo e dados secundários disponíveis no Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN), no Ministério Público, na Defensoria Pública e no CCEP. Durante a pesquisa de campo para coleta de material qualitativo, foram aplicados questionários nos internos de duas das nove unidades prisionais estaduais, o Complexo Penitenciário Dr. Manoel Carvalho Neto (COPEMCAN) e o Complexo Penitenciário Advogado Antônio Jacinto Filho (COMPAJAF), visto serem os estabelecimentos penais que comportam, em sua maioria, internos em execução definitiva de pena privativa de liberdade (regime fechado) e tendo em vista a falta de estabelecimento para o regime semiaberto. Da atual população carcerária de 2.668 presos das duas unidades prisionais estudadas, buscou-se analisar quantos internos tiveram a sua reprimenda penal reduzida pela remição de pena e se os órgãos prisionais ofertaram aos internos essa chance de remir, colaborando, assim, com a reinserção no convívio social após sua progressão de pena. Palavras-chave: Remição pedidos. Reinserção pelo trabalho. Sistema penitenciário. ABSTRACT BARCELOS, C. A. A. Flow of requests for referral in favor of inmates of the Sergipe prison system between 2013 and 2016. 2018. 55 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Pós-Graduação em Criminalidade Violenta, Controle Social e Políticas Públicas)-Rede Nacional de Altos Estudos em Segurança Pública de Sergipe, Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, Sergipe, 2018. What is the flow of requests for remission of prisoners in the State of Sergipe? The present study sought to answer this question when elaborating a research on the remission of the prisoners during their execution in the prison system of the State of Sergipe, in the period between the years of 2013 and 2016, focusing on the verification of quantitative charts and statistics made available by the public bodies and the Council of the Community in Criminal Execution, which works with social reintegration directed at former prisoners who wish to work and qualify professionally. The work was based on primary data from the field survey and secondary data available from the National Penitentiary Department, the Public Prosecutor's Office, the Public Defender's Office and the Council of the Community in Criminal Execution. During the field research for the collection of qualitative material, questionnaires were applied to the inmates of two of the nine state prison units, the Dr. Manoel Carvalho Neto Penitentiary Complex and the Antônio Jacinto Filho Advocacy Penitentiary Complex. Penal establishments which, for the most part, include inmates who are in final execution of a custodial sentence (closed regime) and in view of the lack of establishment for the semi-open regime. Of the current prison population of 2,668 detainees of the two prison units studied, it was sought to analyze how many prisoners had their criminal reprimand reduced by the remission of sentence and if the prison organs offered the inmates this chance to redeem, thus collaborating with the reintegration into the social interaction after his progression of sentence. Keywords: Remission requests. Reinsertion through work. Penitentiary system. LISTA DE SIGLAS CADEIÃO Cadeia Territorial de Nossa Senhora do Socorro CCEP Conselho da Comunidade na Execução Penal CESARB I Centro Estadual de Reintegração Social I CESARB II Centro Estadual de Reintegração Social II CF Constituição Federal CNE Conselho Nacional de Educação CNJ Conselho Nacional de Justiça CNPC Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária COPEMCAN Complexo Penitenciário Dr. Manoel Carvalho Neto COMPAJAF Complexo Penitenciário Advogado Antônio Jacinto Filho DEPEN Departamento Penitenciário Nacional DESIPE Departamento Estadual do Sistema Penitenciário EJA Educação de Jovens e Adultos HTCP Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação LEP Lei de ExecuçãoPenal MP Ministério Público ONU Organização das Nações Unidas PEESP Plano Estratégico de Educação no Âmbito do Sistema Prisional PNE Plano Nacional de Educação PREMABAS Presídio Regional Juiz Manoel Barbosa de Souza PRESLEN Presídio Regional Senador Leite Neto SEED Secretaria de Estado de Educação SEJUC Secretaria de Estado da Justiça e da Cidadania LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Vista frontal da unidade COMPAJAF ............................................... 38 Figura 2 - Vista da sala de aula durante aprendizado, COMPAJAF ................. 38 Figura 3 - Vista frontal da unidade COMPECAN .............................................. 39 Figura 4 - Vista da sala de aula durante aprendizado, COMPECAN ............... 40 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 - População carcerária nos complexos COMPAJAF e COMPECAM......................................................................................................17 Gráfico 2 - População carcerária do COMPAJAF nos anos 2013 a 2016 ........ 37 Gráfico 3 - População carcerária do COPEMCAN nos anos 2013 a 2016 ....... 39 Gráfico 4 - População carcerária em Sergipe em 2016 .................................... 40 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Tipo de profissão exercida pelos presos do Sistema Penitenciário Sergipano, 2013 ............................................................................................... 19 Tabela 2 - Atividades laborativas desenvolvidas pelos presos do Sistema Penitenciário Sergipano, 2013 ......................................................................... 21 Tabela 3 - Grau de escolaridade dos presos do Sistema Penitenciário sergipano, 2013 ................................................................................................ 26 Tabela 4 - Informações das unidades prisionais acerca do quantitativo de presos em relação à quantidade destes que estudam ..................................... 31 Tabela 5 - Ocorrência de remição pela participação em atividades laborativas pelos presos do Sistema Penitenciário Sergipano, 2013 ................................. 41 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 11 2 METODOLOGIA ........................................................................................... 13 3 REVISÃO DE LITERATURA ........................................................................ 15 3.1 O SISTEMA PENITENCIÁRIO EM SERGIPE ....................................... 15 3.2 REMIÇÃO PELO TRABALHO ............................................................... 18 3.3 O TRABALHO PRISIONAL .................................................................... 19 3.4 A EDUCAÇÃO NOS ESTABELECIMENTOS PRISIONAIS ................... 22 3.5 O DESENVOLVIMENTO DE POLÍTICAS PÚBLICAS .......................... 22 3.6 EDUCAÇÃO ..................................................................................................................... 23 3.6.1 Remição pelo estudo ..................................................................... 25 3.6.2 Histórico de criação da remição de pena pelo estudo..................... 28 3.6.3 Implementação no Estado de Sergipe ............................................ 29 3.6.3.1 Objetivos .................................................................................. 29 3.6.3.2 Detalhamento do Plano no Estado de Sergipe ........................ 30 3.6.3.3 Vigência no Estado de Sergipe ................................................ 30 3.6.3.4 Justificativa da adesão à Política Pública em Sergipe ............. 31 3.6.3.5 Sistema Carcerário Sergipano em 2016 .................................. 31 3.7 REMIÇÃO PELO ARTESANATO ........................................................... 32 4 RESULTADOS .............................................................................................. 35 5 CONCLUSÃO ............................................................................................... 44 REFERÊNCIAS ................................................................................................ 52 ANEXOS .......................................................................................................... 56 ANEXO 1 – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ..... 56 11 1 INTRODUÇÃO O objetivo geral do presente estudo foi identificar os fluxos de pedidos de remição pelo trabalho, com intuito de comparar com os anos anteriores e observar a eficácia na reinserção social no sistema prisional sergipano, analisando os principais mecanismos viabilizadores. Para alcançá-lo, foram estabelecidos alguns objetivos específicos, dentre os quais: 1) traçar o perfil dos presos do Estado de Sergipe, correlacionando sua atividade laborativa exercida na unidade prisional com a forma como foram realizados os pedidos, em especial os concernentes ao trabalho, ao estudo e outros, tais como o artesanato; e 2) identificar quantos desses presos beneficiados deram continuidade a essa atividade lícita, conforme pesquisa e questionários respondidos pelos egressos cadastrados no Conselho da Comunidade na Execução Penal (CCEP) de Aracaju, Sergipe. O trabalho utilizou os dados levantados pelo Ministério Público (MP), pela Defensoria Pública e pelo CCEP, com o objetivo de colher os dados quantitativos e qualitativos das referidas unidades prisionais e posteriormente traçar o perfil dos presos e dos egressos assistidos pelo CCEP que exerceram atividade durante o período de claustro e dos que continuaram a laborar após a soltura. Para que o trabalho tivesse um resultado satisfatório, foram utilizados alguns instrumentos metodológicos tais como entrevistas e pesquisas junto à 7ª Vara de Execuções Penais, relatórios técnicos, livros, artigos, teses, dentre outras fontes necessárias ao enquadramento teórico e analítico do objeto. No Estado de Sergipe existem nove unidades prisionais, a saber: o COPEMCAN, situado no Município de São Cristóvão; o Centro Estadual de Reintegração Social, no Município de Areia Branca, com duas unidades, (CESARB I e CESARB II); o Presídio Regional Juiz Manoel Barbosa de Souza (PREMABAS), no Município de Tobias Barreto; o Presídio Regional Senador Leite Neto (PRESLEN), no Município de Nossa Senhora da Glória; o Presídio Feminino de Sergipe (PREFEM), situado no Povoado Taboca, Município de Nossa Senhora do Socorro; a Cadeia Territorial de Nossa Senhora do Socorro (CADEIÃO), no mesmo Município; o COMPAJAF, na Capital Aracaju; e, por 12 fim, o Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico (HTCP), também em Aracaju. Destaca-se que somente o COMPAJAF e o COPEMCAN foram incluídos nesta pesquisa, visto serem as únicas unidades destinadas legalmente à custódia de presos que cumprem pena em regime fechado e por comportarem, geralmente, internos com sentença transitada em julgado, ou seja, com sentença já definitiva. No curso da execução do estudo foi realizada pesquisa de campo com aplicação de questionários que contribuíram para os aspectos quantitativo e qualitativo do presente trabalho. Tais questionários foram aplicados junto aos presos e aos funcionários do sistemaprisional e do sistema judiciário, bem como a Promotores de justiça, a Defensores Públicos e ao Presidente do CCEP. Os dados informativos oficiais foram adquiridos por meio dos sistemas eletrônicos do Departamento Penitenciário Nacional do Ministério da Justiça, do Ministério Público de Sergipe e do Tribunal de Justiça do Estado. As informações quantitativas como dados e informações numéricas foram adquiridas pelos sistemas disponíveis de cada órgão público acima mencionado, onde são alimentados de documentos por meio de vistorias e relatórios enviados das unidades prisionais pesquisadas. Os conceitos sobre a remição por meio do trabalho e do estudo, inferidos a partir dos dispositivos pertinentes da Lei de Execução Penal (LEP), são encontrados nas obras de Fragoso, Catão e Sussekind (1980), Silva e Cabral (2010) e Carvalho (2008), para os quais as atividades laborativas e educativas devem ser exercidas nas condições possíveis de segurança, visando resguardar a integridade do custodiado. Os estabelecimentos penais de Sergipe devem priorizar esse dispositivo, contribuindo com a reinserção do apenado à sociedade. 13 2 METODOLOGIA Esta pesquisa teve como objetivo principal analisar a relação do direito dos presos à remição, tendo sido analisados dados primários do levantamento de campo e dados secundários disponíveis na SEJUC, DEPEN, DESIPE e CCEP, como também informações levantadas em fontes oficiais, das Unidades Prisionais COPEMCAN e COMPAJAF. A amostra realizada nos presídios teve caráter probabilístico com questionários realizados com egressos prisionais, selecionados pelos cadastros junto ao CCEP. Os dados, de caráter qualitativo e quantitativo, foram processados através de estatística descritiva e estatística probabilística, possibilitando o uso de correlações entre as amostras. Durante esta pesquisa foram entrevistados 12 assistidos do CCEP, que responderam às perguntas formuladas referentes à atividade laborativa ou educacional exercidas nas unidades prisionais COPEMCAN e COMPAJAF, nos quais ficaram acautelados durante o regime fechado. Destaca-se que a atividade de artesanato, reconhecida como trabalho pelo juiz da execução, foi considerada como atividade laborativa conforme provimento 09/2007 do TJ-SE - Tribunal de Justiça do Estado de Sergipe. Tal atividade, para a descrição dos dados quantitativos, foi acrescida nos gráficos e tabelas como trabalho. Nesse sentido, foi observado se os presos trabalharam, estudaram ou realizaram as duas atividades passíveis de remição, − visto que se encontra amparada pela LEP a atividade cumulativa dos dois −, e se ao final do cumprimento do regime inicial fechado conseguiram obter a remição da sua reprimenda penal durante a execução de pena. Nas diversas incursões até as duas Unidades prisionais pesquisadas não foi possível ter acesso aos internos para coletar maiores dados informativos e, consequentemente, conseguir informações pessoais dos internos que vivenciam o claustro e as suas dificuldades, permanecendo somente as versões dos funcionários dos estabelecimentos e dos diretores, que forneceram os dados quantitativos e informações dos procedimentos para a seleção, classificação e oferta de trabalho e estudo, bem como os critérios 14 para relatarem os dias e as horas a serem declarados como passíveis de abatimento de dias na sentença condenatória dos internos. O método utilizado passou a ser o misto, que se refere às estratégias de investigação, revelando que facilmente a depender da questão da pesquisa, as propostas de estudo podem empregar métodos quantitativos e qualitativos, podendo ser atribuído mais peso a um do que a outro, ora se iniciando com um e se concluindo com outro. A linguagem clara e decisiva − aliada a uma apresentação visual amena e abastada em exemplos, quadros e figuras − propicia uma leitura vantajosa (CRESWELL, 2010). Devido ao difícil acesso aos internos acautelados nas Unidades pesquisadas, as entrevistas dos assistidos do CCEP foram a única medida estratégica para obter informações detalhadas e fiéis dos procedimentos de seleção para conseguir laborar, das atividades disponíveis de cada Unidade penal e a disponibilidade de estudo para adquirir conhecimento, capacitação e recolocação social e uma possível reinserção ao convívio social. Aos entrevistados assistidos do CCEP, que consentiram em responder o questionário, foram formuladas duas perguntas pertinentes à pesquisa: 1. Efetuaram trabalho ou estudo durante o período de claustro? 2. Receberam remição em decorrência dessa atividade? Ressalta-se que o questionário elaborado para esta pesquisa teve como respondentes tanto os egressos prisionais como os funcionários e gestores de presídios, que se disponibilizaram a, voluntariamente, participar do levantamento de dados. Todos assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, em observância ao que determina o Conselho Nacional de Ética em Pesquisa. 15 3 REVISÃO DE LITERATURA 3.1 O SISTEMA PENITENCIÁRIO EM SERGIPE O Sistema Penitenciário sergipano se encontra sob a responsabilidade da Secretaria de Estado da Justiça e da Cidadania (SEJUC), que possui um departamento específico para questões prisionais, o Departamento Estadual do Sistema Penitenciário (DESIPE), incumbido da gestão das Unidades prisionais. A única penitenciária que difere desse padrão é a concebida sob o regime de cogestão entre o DESIPE e a empresa Reviver, a qual, frisa-se, atende satisfatoriamente aos padrões estabelecidos pela LEP. Conforme relata Fonseca et al. (2012) fica difícil a remição devido à falta de oferta de trabalho nos presídios do Estado, fato também descrito pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Segundo Fonseca et al. (2012), as condições de saúde e ambiente no sistema prisional sergipano se assemelham à situação do sistema nacional onde estão praticamente ausentes a assistência material e à saúde do preso, assim como a oferta de trabalho, que fortalecem a reinserção do preso no mercado de trabalho e sua ressocialização. Observa-se que no decorrer do trabalho foi possível verificar que são poucas as chances de trabalho ofertadas aos internos, sendo o estudo e o artesanato medidas paralelas de obtenção da remição. Além disso, os poucos internos que conseguem a chance de trabalho ou estudo, alcançando um período de abatimento de sua pena, muitas vezes não conseguem acionar o judiciário com o seu pleito de remição, seja por motivos burocráticos ou por falta de assistência jurídica para representá-lo na execução de pena. Para Carvalho (2008), um dos fatores de maior inconstância na execução da pena no Brasil é a demora do Poder Judiciário em atender os pedidos dos presos, primeiramente àqueles destinados a alterar o regime da pena, progressão de regime e livramento condicional. O atraso da magistratura em responder aos incidentes executivos é apontado como uma das causas de 16 inúmeros motins e rebeliões. A falta de estrutura pessoal e administrativa, contribui com a omissão estatal, no entanto a incapacidade administrativa do Poder Público não justifica lesões aos direitos fundamentais. Em seus estudos e pesquisas, Carvalho (2008) também reconheceu que o acesso à justiça pelo encarcerado se torna mais complicado quando um defensor não está presente. Outro ponto importante diz respeito à possibilidade de responsabilização dos agentes dos Poderes Judiciário e Executivo encarregados da execução penal. Vários estudos apontam queuma das realidades mais notórias no país é a violação dos direitos da pessoa presa por parte da administração pública. Infelizmente, esse fato se justifica por ser „variável histórica inevitável‟, visto a natureza autoritária das cadeias. Entende- se que o Poder Judiciário também incide em ilegalidades ao não observar as regras do art. 5º, inciso XXXV, CF, o art. 66, incisos VI, VII e VIII, da LEP, que não presta a devida tutela à massa carcerária. Há forte percepção entre os detentos de que o grande número de hipossuficientes que carecem de representação no processo de execução acarreta uma sobrecarga na Defensoria Pública do Estado de Sergipe. Os termos garantistas citados na legislação de execução se encontram em diversos momentos violados, como afirma Carvalho (2008). Trata-se de um problema que pode ser solucionado se os órgãos públicos prestarem atendimento prioritário aos presos em cumprimento de pena. A eficácia do modelo garantista só poderá ser alcançada quando o controle das atividades administrativas ocorrer por meio do Poder Judiciário, exigindo do Poder Executivo o respeito à dignidade dos presos, suprindo-os de suas carências materiais e respeitando sua individualidade. Os subterfúgios utilizados pela administração não podem ser barreiras à atuação judicial (CARVALHO, 2008). Neste mesmo diapasão, Carvalho (2012), pondera sobre a remição no livro “Crítica à execução penal”: A remição é apontada como de origem histórica no direito medieval hispânico, como se apresenta está longe de perder sua atualidade, sobretudo quando inserida num sistema punitivo e de execução penal investido na base valorativa do paradigma da recuperação. Trabalhar na prisão não é basicamente inserir-se no mundo do trabalho, tal qual este ser incluído como uma classe referenciada no mundo extramuros. 17 O trabalho na prisão é o artifício instrumental para o acesso à remição, para a tática de acúmulo do tempo, para o ingresso lícito à liberdade. Silva e Cabral (2010) relatam em seu artigo “O trabalho penitenciário e a ressocialização do preso no Brasil”, a ausência de trabalho, as condições de remição para o condenado e a obrigação do Estado de gerar esse contato com o trabalho enquanto direito subjetivo do preso em face do Poder Público, mas os estabelecimentos penais e as cadeias geralmente são carentes de recursos materiais e humanos para ofertar trabalho digno a todos os encarcerados. A remição deverá ser deferida para os condenados que desejam trabalhar, mas não o fazem em decorrência do fato do Estado não prover as condições adequadas para o trabalho. No decorrer da pesquisa nas unidades prisionais visitadas se observou que são utilizados determinados critérios de seleção e capacitação, que definem quais são os internos passíveis de serem beneficiados, conforme as habilidades e atividade ocupacional anterior de cada um, a fim de contribuir para a sua ressocialização. Segundo dados constantes do CNJ e da SEJUC, o Sistema Prisional Sergipano possui 2.388 vagas, sendo que há 4.867 presos, ou seja, está 103,8% acima de sua capacidade. O sistema dispõe de nove unidades prisionais, sendo oito masculinas e uma unidade feminina (PREFEM), que conta com 120 vagas. Destas unidades, quatro são para presos provisórios, dispondo de 1.741 vagas. O Estado conta também com um hospital de custódia (HCTP) destinado aos presos acometidos por problemas de saúde de ordem física e/ou mental em regime híbrido, ou seja, para presos condenados e os que aguardam julgamento. As duas unidades pesquisadas no presente trabalho, COMPAJAF e COPEMCAN, são de regime exclusivamente fechado sendo o primeiro privatizado sob direção da empresa RENASCER e o outro estatal, sob direção de funcionários do SEJUC e DESIPE. Gráfico 1 – População carcerária nos complexos COMPAJAF e COMPECAM 18 Fonte: AUTOR, 2018. 3.2 REMIÇÃO PELO TRABALHO A remição é um dos mais importantes direitos do encarcerado, uma vez que se torna o único meio de que o mesmo dispõe para reduzir seu tempo de reclusão durante o cumprimento da pena. A remição se dará mesmo que o apenado não esteja amparado por algum órgão público ou entidades de Direitos Humanos, uma vez que esses pedidos podem ser confeccionados pelo próprio sentenciado. O apenado, que é a parte interessada na execução de sua sentença, possui o direito de requerer, visto que somente os titulares dos interesses em conflito têm legitimidade para se pronunciarem. O instituto da remição é uma das grandes inovações da Lei de Execução Penal e está intimamente ligado ao trabalho, que deve ser o mais importante fator de reeducação do condenado, pois somente através da laborterapia é que poderá haver realmente um tratamento adequado do preso, que vive em nossos presídios e cadeias públicas na mais completa ociosidade (NOGUEIRA, 1990, p. 147). O presente trabalho analisou o fluxo dos pedidos feitos pelos apenados que obtiveram a remição de sua pena, ou seja, a diminuição da pena aplicada na condenação que pode ser reduzida pelo trabalho, calculada da seguinte forma: três dias de trabalho por um dia de pena aplicada; 12 horas de estudos por um dia de pena. Sendo em alguns casos detectados na pesquisa que as remições também foram cumulativas com o trabalho e com o estudo, tendo alguns dos entrevistados adquirido um maior desconto de sua pena cumulando essas duas atividades e alcançando um maior período remido. 10% 49% 41% População Carcerária COMPAJAF COMPECAM demais unidades 19 O trabalho tem seu sentido ético, como condição da dignidade humana, e assim assume um caráter educativo. Se o condenado já tinha o hábito do trabalho, depois de recolhido ao estabelecimento penal o seu labor irá manter o hábito, impedindo que degenere; se não tinha, o exercício regular do trabalho contribuirá para ir gradativamente disciplinando-lhe a conduta, instalando na sua personalidade o hábito da atividade disciplinadora (MIRABETE, 1992, p. 103). Sobre a situação do ócio do encarcerado, observou-se que o período ocioso pode se tornar o pior inimigo do preso, não só porque no entender das autoridades sugere vadiagem e fracasso do tratamento ressocializador, mas também por patrocinar o envolvimento com ilicitudes. Daí a importância de viabilizar para que todas as condições de acesso ao trabalho possam ser realizadas no interior das Unidades prisionais (LEMGRUBER, 2004). Marques et al. (2014) elencaram os tipos de profissões exercidas pelos presos do Sistema Penitenciário Sergipano em 2013, conforme relatado na tabela 1. Tabela 1 – Tipo de profissão exercida pelos presos do Sistema Penitenciário Sergipano, 2013. Profissão /Ocupação Total % Autônomo 214 40,8 Construção Civil 80 15,2 Comércio 55 10,5 Trabalhador Rural 40 7,6 Trabalho Técnico 36 6,9 Transporte 34 6,5 Desempregado 22 4,2 Sem informação 13 2,5 Doméstico 11 2,1 Pescador 8 1,5 Estudante 8 1,5 Profissional Liberal 2 0,4 Funcionário Público 2 0,4 Total 525 100,0 Fonte: MARQUES et al., 2014. 20 3.3 O TRABALHO PRISIONAL A atividade laborativa gera no ser humano inúmeros efeitos positivos, como se observou no decorrer da pesquisa, o trabalho, sem dúvida, além de outros tantos fatores representa um instrumento de elevada importância para o objetivo maior da LEP, que é restaurar para a sociedade uma pessoa em condições de ser benéfica. É lamentável ver e saber que estamos no campo eminentemente pragmático, haja vista que as unidades prisionais da federação não têm aproveitado o potencial da mãode obra que os cárceres dispõem (KUHENE, 2013). O trabalho faz parte de um direito social atribuído a todos os cidadãos e está expressamente previsto na Constituição Federal (CF) em seu art. 6º. Com o intuito de não deixar que esse direito seja esquecido dentro das prisões, a LEP (BRASIL, 2009) em seu artigo 41, inciso II, também elencou o trabalho como sendo direito do preso, porém, infelizmente são poucos os estabelecimentos que fornecem vagas de trabalho aos reclusos. O trabalho prisional além de ser um importante mecanismo ressocializador, evita os efeitos corruptores do ócio, contribui para a formação da personalidade do indivíduo, permite ao recluso dispor de algum dinheiro para ajudar na sobrevivência de sua família e de suas necessidades, e dá ao detento uma maior oportunidade de ganhar sua vida de forma digna após adquirir liberdade. Como arrolado por Dias (1976), em seu artigo “A redenção das penas pelo trabalho” em entendimento escalonado: 1º) Um fim social reparativo – o preso trabalha para si e para a sociedade; 2º) um fim social caritativo e de defesa de unidade moral da família – o condenado, ainda que recluso, continua sendo o cabeça da família, uma vez que a mantém com seu salário; 3º) fim medicinal e corretivo- busca-se com o sistema a dignificação e recuperação do réu; 4º) fim moral- elimina os perigos e vícios endêmicos da prisão causados pela inatividade; 5º) fim preventivo- o sistema prepara profissionalmente o preso para enfrentar-se posteriormente com a vida livre, já que a falta de um ofício ou meio honrado de sustento é muitas vezes, causa de reincidência (p. 252). Deve-se considerar também que o trabalho prisional é um meio de remição de pena previsto no art. 126, parágrafo 1º, inciso II da LEP, onde se 21 contabiliza que para cada três dias de jornada de trabalho, um dia será descontado da pena imposta ao sentenciado. Não são muitas as atividades ofertadas aos internos nas prisões sergipanas atualmente, tendo em vista a falta de contratos e parcerias do Estado com empresas privadas que se interessam por mão de obra prisional. Nesse sentido, Marques et al. (2014) apontam quais as atividades laborativas desenvolvidas pelos presos do Sistema Penitenciário Sergipano em 2013 (Tabela 2). Tabela 2 – Atividades laborativas desenvolvidas pelos presos do Sistema Penitenciário Sergipano, 2013. Atividades Laborativas Número de respostas % Não desenvolve 186 35,4 Sem informação 167 31,8 Artesanato 58 11,0 Comunicação com os presos 22 4,2 Limpeza 17 3,2 Serviços gerais 14 2,7 Culinária 11 2,1 Estudo 9 1,7 Costura 8 1,5 Trabalho área saúde 5 0,9 Artes 3 0,6 Esporte 3 0,6 Lavanderia 3 0,6 Pintura 3 0,6 Agricultura 2 0,4 Construção civil 2 0,4 Eletricista 2 0,4 Marcenaria 2 0,4 Serraria 2 0,4 Serviço administrativo 2 0,4 Serviço social 2 0,4 Carpintaria 1 0,2 22 Jardinagem 1 0,2 Total 525 100,0 Fonte: MARQUES et al., 2014 Além de todos os benefícios proporcionados ao preso, o trabalho também é uma forma de ressarcir o Estado pelas despesas advindas da condenação, sendo, portanto, favorecidos tanto o detento quanto o Estado, conforme serão demonstrados adiante no tópico 4. 3.4 A EDUCAÇÃO NOS ESTABELECIMENTOS PRISIONAIS No tocante à assistência educacional dentro das prisões, a LEP tratou do assunto nos arts. 17 à 21 e no art. 41, inciso VII (BRASIL, 2009). A educação nas prisões tem como principal finalidade qualificar o indivíduo para que ele possa buscar um futuro melhor ao sair da prisão, já que o estudo é considerado hoje um requisito fundamental para entrar no mercado de trabalho, haja vista a maioria dos detentos não possuir sequer o ensino fundamental completo. A exemplo do que ocorre com o trabalho, foi criada também a remição por estudo, prevista no art. 126, parágrafo 1º, inciso I da LEP (BRASIL, 2009). Com isso, a educação prisional além de incentivar o detento a buscar novos rumos ao adquirir liberdade, também é uma forma de diminuir os dias que devem ser cumpridos atrás das grades. A criação de novos tipos penais gera um aumento na legislação denominada inflação legislativa. Com o surgimento de novas normas penais, o Direito Penal deixou de ser considerado a ultima ratio e passou a tutelar bens jurídicos pertencentes a outros ramos do direito, tendo o princípio da intervenção mínima perdido totalmente o sentido. Pelo princípio da intervenção mínima cabe ao legislador deixar de incriminar qualquer conduta que não tenha grande importância para o Direito Penal e ao intérprete fica incumbida a função de analisar se determinada situação pode ser resolvida com a atuação de outros ramos da ciência jurídica. Assim, faz-se relevante uma reforma no Direito Penal voltada ao cumprimento do princípio da mínima intervenção para que a pena privativa de 23 liberdade seja utilizada somente nos casos em que não exista outra solução para a proteção do bem jurídico, evitando a prisão desnecessária de muitos indivíduos e, consequentemente, o aumento da população carcerária. 3.5 O DESENVOLVIMENTO DE POLÍTICAS PÚBLICAS O desenvolvimento de políticas públicas é um fator fundamental para que o Estado possa oferecer uma execução da pena que atenda realmente aos objetivos da ressocialização do indivíduo. A falta dessas políticas públicas é um problema que reflete tanto fora como dentro das prisões, devendo as possíveis soluções serem divididas em três esferas diferentes: a estatal, a criminal e a penitenciária. Quanto à política pública estatal, faz-se necessário que o governo compreenda que, para diminuir o problema carcerário, deve-se investir em políticas públicas voltadas não somente para a execução penal, mas também para as áreas de educação, saúde, segurança, habitação e geração de emprego como forma de diminuir as desigualdades sociais existentes na sociedade, para que todos tenham mais oportunidades e para que ao término do cumprimento da pena o preso encontre o apoio necessário para refazer sua vida de forma digna. Ressalta-se a necessidade de uma política pública realizada dentro dos estabelecimentos carcerários, também denominada de política penitenciária. Para tanto, é indispensável o fomento do Poder Público para atender às necessidades estruturais dos presídios, tais como local para que os presos possam praticar atividades físicas, estudar, trabalhar e fazer suas refeições, assim como uma cela que atenda as características previstas na LEP. Existem alternativas para o sistema carcerário sergipano, muitas previstas na própria legislação. Em suma, o que falta é o comprometimento do governo e órgão públicos e privados, para que sejam postas em prática ações que procurem reduzir os níveis de violência e auxiliem na recuperação do detento, afinal, a finalidade da pena não é somente punir o condenado, mas também ressocializá-lo. Isso é visto no trabalho realizado pelo CCEP-SE, que recebe o apenado recém-saído do cárcere, o capacita e o insere no mercado por meio de contratos firmados em parcerias com órgãos públicos e privados, 24 propiciando uma segunda chance de traçar uma nova diretriz de vida longe da criminalidade que o desviava. 3.6 EDUCAÇÃO Uma possível solução para o problema da não ressocialização, além de um maior investimento na estrutura das penitenciárias que possibilite as condições mínimas de higiene e conforto, seria o investimento na educação dos reclusos, visto que a maioria é composta por pessoas das classes sociais mais baixas e desprovidasde uma instrução mais sólida. Para Durkheim (1999), uma sociedade ideal seria aquela onde todos obedeceriam as regras e assim viveriam em harmonia uns com os outros. E para ele uma das formas de se chegar a essa sociedade seria a educação. Sua ideia de educação é a de formação de cidadãos integrados na sociedade. Os condenados são, em sua irrefutável maioria, pessoas de classes sociais mais baixas, desprovidas de qualquer tipo de ensino. Portanto, o processo educativo também poder ser um método de reinserção social para os encarcerados nas prisões. Esse processo educativo estaria, inclusive, preparando o apenado para o trabalho extramuros, diminuindo assim os vários incidentes prisionais, tais como rebeliões e mortes, visto que abrandaria as tensões cotidianas durante o encarceramento (MARCON, 2008). O incentivo ao trabalho como previsto no art. 28 da LEP, deve ser efetivado nas unidades prisionais, mas que atualmente sofrem com carência de efetivos humano e logístico para realizar tal atividade (BRASIL, 2009). O trabalho evita o ócio, evita o pensamento excessivo e lesivo, dá oportunidade para que o encarcerado possa alcançar alguma tarefa e cria uma perspectiva de ressocialização, de ter uma vida normal, trabalhando e amparando seus familiares. A Classificação Criminal (multi-mencionada) neste momento deveria funcionar para que fosse determinada a capacidade laboral e as aptidões do reeducando, tendo em vista seu melhor aproveitamento, inclusive em apoio à sociedade. Com isso, acreditamos que dois melhoramentos muito grandes surgiriam: primeiro, que o preso estaria aproveitando seu período de clausura trabalhando e, muitas vezes, aprendendo um ofício, inclusive, diminuindo seus dias de segregação (através 25 da remição); segundo, que estaria auxiliando a família, que na maioria das vezes não possui condições dignas de sobrevivência (MARCON, 2008). O que se necessita é de um sistema carcerário eficaz e bem organizado, que propicie o acesso do preso a novas oportunidades e à recondução para a sociedade, ou seja, a ressocialização. Carecemos julgar que a prisão e os castigos não se destinam a extinguir as infrações; mas antes a distingui-las, a distribuí-las, a utilizá-las; que visam não tanto tornar dóceis os que estão prontos a transgredir as leis, mas que tendem a organizar as infracções das leis numa estratégia geral de condicionamentos. A punição seria então uma maneira de gerir as ilicitudes, de riscar fronteiras de tolerância, de dar terreno a alguns, de fazer pressão sobre outros, de eliminar uma parte, de tornar benéfica outra, de paralisar estes, de tirar serventia daqueles. Em resumo, a punição não „reprimiria‟ pura e simplesmente as ilicitudes; ela as „distinguiriam‟, fariam sua „economia‟ geral. E se podemos falar de uma justiça não é só porque o modo de aplicá-la ser aos interesses de uma classe, é porque toda a gestão diferencial das ilicitudes por intermédio da penalidade faz parte dessas estruturas de superioridade. Os castigos legais devem ser recolocados numa tática global das ilegalidades. O „falho‟ da prisão pode ser sem dúvida abrangido a partir desse entendimento (FOUCAULT, 2001). O sistema carcerário sergipano em destaque não pode apresentar apenas uma função, a de isolar e excluir o indivíduo da sociedade, mas sim a de contribuir com a sua ressocialização. 3.6.1 Remição pelo estudo O estudo é um dos direitos do preso que consta na legislação que trata das garantias básicas daqueles que são submetidos ao cumprimento de pena privativa de liberdade no Brasil. O Governo Federal criou uma política pública através do Decreto de nº 7.626 estabelecido pelo Plano Estratégico de Educação no Âmbito do Sistema Prisional (PEESP), que tem por finalidade ampliar e qualificar a oferta de educação nos estabelecimentos penais, contemplando a educação de jovens e adultos, a educação profissional e 26 tecnológica e a educação superior, podendo ser aderida pelos Estados e Distrito Federal. A Resolução Federal nº 4, de 30 de maio de 2016 dispõe sobre as diretrizes operacionais nacionais para a remição de pena pelo estudo de pessoas em privação de liberdade nos estabelecimentos penais do sistema prisional brasileiro. Já o Termo de Cooperação Técnica foi firmado entre a SEJUC e a Secretaria de Estado de Educação (SEED), para implantação do Programa Estadual de Educação Prisional em 14 de maio de 2013. Em Sergipe, foi homologado pelo Ministério da Educação e Conselho Nacional de Educação (CNE) em 10 de junho de 2015, que trata sobre remição de pena pelo estudo de pessoas em privação de liberdade no sistema prisional brasileiro (Plano Estadual de Educação Nas Prisões 2015-2016), pactuado entre o Ministério da Justiça e o Ministério da Educação. Segundo Julião (2012), os presos por ele entrevistados entendiam a ressocialização como sinônimo de reinserção social e compartilhavam a ideia de que a função do sistema penitenciário seria a de punir e ressocializar, em um nítido reflexo ao discurso prisional predominante. Para ele, a educação e o trabalho contribuiriam para a consecução desse objetivo, que seria a recuperação dos presos (JULIÃO, 2012). Alves (2003, p. 56) aponta para o fato que o “milagre da educação acontece quando se passa a ver um mundo que nunca tinha sido visto”. Por essa razão, é necessário apresentar a educação como ferramenta de libertação para um indivíduo enclausurado, que muitas vezes não é alfabetizado ou é analfabeto funcional. Educar pessoas que estão privadas de liberdade vai muito além de simplesmente alfabetizá-las (MARQUES et al., 2012). A CF (BRASIL, 1988), sobre educação, fala em seu art. 105: Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. 27 Sobre a educação no sistema prisional em Sergipe, Marques et al. (2014) relataram que a maioria dos presos possuía Ensino Fundamental incompleto (Tabela 3). Tabela 3 – Grau de escolaridade dos presos do Sistema Penitenciário sergipano, 2013. Escolaridade Total % Analfabeto 23 4,4 Alfabetizado 4 0,8 Ensino Fundamental Incompleto 331 63,0 Ensino Fundamental Completo 42 8,0 Ensino Médio Incompleto 52 9,9 Ensino Médio Completo 59 11,2 Ensino Superior Incompleto 7 1,3 Ensino Superior Completo 5 1,0 Ensino Acima Superior Completo 0 0,0 Sem informação 2 0,4 Total 525 100,0 Fonte: MARQUES et al., 2014. Ainda sobre a população carcerária de Sergipe, Julião (2012) afirma que a maior parte dela “não possui a formação básica, majoritariamente não concluiu o ensino fundamental (64,26%)” (p. 130). Nesse contexto, salienta-se que: Art. 17. A assistência educacional compreenderá a instrução escolar e a formação profissional do preso e do internado. A assistência educacional compreende o ensino do 1º grau, supletivo e/ou profissionalizante (BRASIL, 1984). Em que pese o caput do novo art. 126 da Lei 7.210/84 (BRASIL, 1984), aludir à remição como direito de quem cumpre pena em regime fechado ou semiaberto, o §6º estendeu o direito aos sentenciados em regime aberto ou em livramento condicional que frequentem curso de ensino regular ou de educação profissional e o §7º dilatou o direito inclusive em favor de presos cautelarmente. 28 Anos depois no Plano Nacional de Educação (PNE), foi instituído em 9 de janeiro de 2001 que, em sua 17ª meta, previa implantar, em todas as unidades prisionais e nos estabelecimentosque atendam adolescentes e jovens infratores, programas de educação de jovens e adultos de nível fundamental e médio, assim como de formação profissional (BRASIL, 2001). Já a Lei 12.433/2011 (BRASIL, 2011a), que entrou em vigor no dia 29 de junho de 2011, alterou sensivelmente o panorama da remição de penas no Brasil. Ao modificar a redação dos artigos 126, 127 e 128 da LEP passou a permitir que, além do trabalho, o estudo seja causa de diminuição de pena. Essa lei revela importantes alterações legais que são benéficas aos presos e ao Estado e que poderão mitigar o grave problema da superpopulação carcerária. Tal lei cria ainda um prêmio ao preso que concluir comprovadamente o ensino fundamental, médio ou superior durante o cumprimento da pena. Assim ocorrendo, o tempo a remir em função das horas de estudo será acrescido de 1/3 (um terço), desde que a conclusão esteja certificada pelo órgão competente do sistema de educação (BRASIL, 2011a). Existem diversos instrumentos normativos que regulam a concessão da remição pelo estudo, quais sejam: Lei nº 9.394 de 1996 - Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB); Resoluções do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPC); e as Resoluções Federais nº 03 de 11 de março de 2009; nº 02 de 19 de maio de 2010; e, por fim, a nº 04 de 30 de maio de 2016. Além disso, existe o PEESP, cuja finalidade é “ampliar e qualificar a oferta de educação nos estabelecimentos penais [...] de forma que contemplará a educação básica na modalidade de educação para jovens e adultos, a educação profissional e tecnológica, e a educação superior” (BRASIL, 2011b, arts. 1º e 2º). 3.6.2 Histórico de criação da remição de pena pelo estudo Apesar da educação ser um direito universal de todos os cidadãos, no que tange às pessoas privadas de sua liberdade, esse direito está inserido há pouquíssimo tempo. A oferta de educação nas prisões, apesar de já ter sido 29 inserida como direito na LEP e na LDB, passou a ganhar novos contornos a partir do ano de 2005 com a criação do Projeto Educando para Liberdade. Esse projeto promoveu a abertura de encontros e diálogos, onde foram desenvolvidas propostas que subsidiaram a elaboração das resoluções do CNE e do CNPC. Dentre as diversas resoluções, que tratam da remição pelo estudo, destacam-se a Resolução Federal nº 3 de 11 de março de 2009, na qual foram aprovadas as Diretrizes Nacionais para a oferta de educação nos estabelecimentos penais no âmbito da política de execução penal; a Resolução nº 2 de 19 de maio de 2010, onde foram aprovadas as Diretrizes Nacionais para oferta de educação para jovens e adultos em situação de privação de liberdade no âmbito das políticas de educação; e, por último, a Resolução nº 4 de 30 de maio de 2016, através da qual o CNE aprovou as Diretrizes Operacionais Nacionais para a remição de pena pelo estudo de pessoas em privação de liberdade nos estabelecimentos penais do sistema prisional brasileiro. Porém, somente em 2011 foi instituído o PEESP, através do Decreto de nº 7.626, que teve como finalidade ampliar e qualificar a oferta de educação nos estabelecimentos penais, contemplando a educação básica na modalidade de educação de jovens e adultos, a educação profissional e tecnológica e a educação superior. Para a sua adesão foi necessário que os Estados e o Distrito Federal apresentassem um plano de ação contendo o diagnóstico das demandas de educação no âmbito dos estabelecimentos penais, as estratégias e metas para sua implementação e as atribuições e responsabilidades de cada órgão. Por meio do envio desses planos, os Ministérios da Educação, junto com o Ministério da Justiça, fomentaram a elaboração de Planos Estaduais de Educação nas Prisões, o que foi pactuado no III Seminário Nacional de Educação nas Prisões realizado no primeiro semestre de 2012. Para subsidiar a elaboração dos planos, o Governo Federal apresentou um guia de orientações sugerindo que os planos contivessem informações sobre a gestão e organização da oferta de educação, a formação continuada de profissionais, exames de certificação de exames e estratégias de acompanhamento das ações. O plano foi estabelecido a nível nacional através do Governo Federal, que disponibilizou recursos para a sua iniciação, podendo 30 os Estados e o Distrito Federal aderi-lo de acordo com os critérios estabelecidos. Os Ministérios da Educação e da Justiça, reconhecendo a importância da educação para este público, iniciaram em 2005 uma proposta de articulação nacional para implementação do Programa Nacional de Educação para o Sistema Penitenciário, formulando as suas Diretrizes Nacionais. (JULIÃO; SAUER, 2012, p. 2). O Plano Estadual sugerido pelo Governo Federal para a adesão do programa foi elaborado pela SEED e SEJUC em agosto de 2012, seguindo as resoluções e os parâmetros estabelecidos. Ressalta-se que para a execução das atividades educacionais voltadas às pessoas que estão privadas de liberdade, foi constituída a Coordenação Pedagógica de Educação Prisional, que é um grupo interinstitucional composto por técnicos da SEJUC e da SEED. 3.6.3 Implementação no Estado de Sergipe Seguindo as instruções apresentadas, o Estado de Sergipe aderiu a essa política pública por meio do Termo de Cooperação Técnica 01/2013 de 14 de maio de 2013, instituído entre a SEJUC e a SEED. 3.6.3.1 Objetivos O Termo elaborado teve por objetivo atender a resolução nº 2 de 19 de maio de 2010 do CNE e a resolução de nº 1 de 29 de março de 2012 do Conselho Estadual de Educação que institui Diretrizes Operacionais para oferta de educação para pessoas jovens, adultas e idosas em regime de privação de liberdade nas instituições penais mantidas pelo Sistema Prisional do Estado de Sergipe, visando a implantação progressiva de cursos da Educação de Jovens e Adultos (EJA), iniciando prioritariamente pela alfabetização e estendendo-se progressivamente aos níveis de Ensino Fundamental, Ensino Médio e Exames Supletivos. 3.6.3.2 Detalhamento do Plano no Estado de Sergipe 31 Todo o detalhamento do objeto do Termo de Cooperação, tais como o cronograma, a execução, as metas, as etapas, os serviços e as ações foram apresentados através do Plano de Trabalho do Termo de Cooperação Técnica, no qual contém os dados cadastrais dos dois órgãos competentes, descrição do programa (título do projeto, identificação do objeto e justificativa da proposição), cronograma da execução, plano de aplicação e o cronograma de desembolso. Também constam no Termo as obrigações atribuídas a ambos os órgãos, SEED e SEJUC, a fim de tornar mais claro as atribuições de cada um e o projeto a ser desenvolvido sem maiores problemas no que tange a estes aspectos. É importante frisar que este Termo de Cooperação não prevê transferências de recursos entre os órgãos, sendo as verbas advindas do Governo Federal para custear essa política. 3.6.3.3 Vigência no Estado de Sergipe O Termo de Cooperação, quando elaborado, possuía a vigência de dois anos a partir da sua assinatura, o que se deu em 14 de maio de 2013, podendo ser prorrogado por igual período, o que foi realizado pelo primeiro termo aditivo ao Termo de Cooperação Técnica nº 01/2013, que teve como objeto prorrogar o prazo de vigência do Termo de Cooperação e, consequentemente, do plano educacional nas prisões em Sergipe para o ano de 2017. Este Termo foi analisado pela Procuradoria do Estado, a fim de garantir a sua validade, onde foi aprovado desde que atendidas as especificidades estabelecidas. 3.6.3.4 Justificativada adesão à Política Pública em Sergipe O Termo de Cooperação foi elaborado sob a justificativa de dar continuidade às ações conjuntas da SEJUC e SEED em prol da implantação progressiva de cursos da EJA, iniciando prioritariamente pela alfabetização e se estendendo progressivamente aos níveis de Ensino Fundamental, Médio e Exames Supletivos, exatamente como prevê a resolução nº 01 de 29 de março de 2012. 32 A educação nas Unidades prisionais sergipanas é de extrema importância não só para a pessoa que está privada da sua liberdade, como também para a sociedade como um todo, pois se trata de uma política que pode ao menos ressocializar a pessoa que se encontra apenada, a fim de que esta possa ter boas perspectivas de futuro ao sair da prisão, para que não se envolva novamente no mundo do crime. Tanto é assim, que devido aos seus resultados foi estabelecida a resolução nº 4 de 30 de maio de 2016 que dispõe sobre a remição da pena pelo estudo de pessoas que se encontram em privação de liberdade. Essa resolução se inseriu na estratégia de unificar os entendimentos a respeito da prática da remição de pena pelo estudo prevista na Lei de nº 12.433 de 2011 que por sua vez alterou a LEP. 3.6.3.5 Sistema Carcerário Sergipano em 2016 Na tabela abaixo se encontram informações detalhadas que destacam as Unidades prisionais, sua totalidade de internos e quantos deles estão matriculados no ensino básico ou fundamental. Percebe-se que, apesar do número de escolas disponíveis nas duas instituições prisionais pesquisadas, boa parte da população prisional não demonstra interesse por profissionais de ensino ou pelo material didático. Tabela 4 – Informações das unidades prisionais acerca do quantitativo de presos em relação à quantidade destes que estudam. Presídio População Estudando % COPEMCAN 2.475 170 6,8 COMPAJAF 581 95 16,3 Cadeião 550 0 0 PREFEM 215 105 48,8 HCTP 86 26 30,2 Cadeia de Estância 190 0 0 PRESLEN 347 0 0 33 PREMABAS 423 74 17,5 TOTAL 4.867 470 9,6 Fonte: EJA, 2016. O incentivo aos estudos deve estar presente nas unidades prisionais, pois é possível perceber que o letramento no cárcere contribuirá para a formação do reeducando na edificação de sentidos não apenas de um texto ou de uma obra literária, mas estabelecerá um diálogo com outros textos, permitindo desvelar uma compreensão maior e melhor das ações e métodos sociais de uso da escrita e da leitura no mundo, da linguagem e de seu poder comunicativo, na arte em todas as suas revelações de bens incompressíveis trazidos à sociedade desde a sua concepção. Oferecer a chance de educação em situações de aprisionamento, constitui-se uma forma de ampliar as condições de alcance à liberdade, de encurtar o tempo na prisão, de acreditar na ressocialização, de acatar a um direito institucional e humano, de proporcionar a possibilidade de adquirir diferentes habilidades de leitura e conhecimento nas práticas sociais de uso e, principalmente, promover o desenvolvimento do reeducando como sujeito de direitos e não como pessoa sob tratamento carcerário. 3.7 REMIÇÃO PELO ARTESANATO Durante a pesquisa de campo nas Unidades prisionais, ficou destacada uma atividade que poderia ser reconhecida apenas como terapia ocupacional, mas que foi reconhecida como trabalho. Trata-se do artesanato, cuja prática é reconhecida pelo juiz da execução penal da 7ª Vara de execuções de Aracaju- SE como passível de remição de pena. Assim, contando em suas decisões como atividade laborativa, muitos são os internos que se beneficiaram dessa atividade para diminuir a pena, tais como os que possuem incapacidade física ou mesmo os que não tiveram a oferta de outro trabalho. Esse projeto de lei nº 513 de 2013, ainda tramita no Senado Federal, para modificar a LEP, beneficiando assim os presos que necessitam remir a 34 sua reprimenda penal e não conseguem por falta de oferta dos estabelecimentos prisionais, a remição pelo artesanato se encontra presente na nova redação do dispositivo da execução penal que aguarda ser sancionado. Da Remição art. 126. O preso ou condenado poderá remir por trabalho, artesanato, leitura ou por estudo, parte do tempo de execução da pena. §1º O preso ou condenado poderá obter o benefício da remição de pena nos seguintes casos: I – de forma cumulativa, concedidos pelo estudo e pelo trabalho; II – através das atividades contempladas no projeto político pedagógico; III – através das atividades de leitura; IV – através da certificação de ensino fundamental e médio pelos exames nacionais ou estaduais (SENADO FEDERAL, 2013, grifo nosso). O artesanato demanda tempo e a sua execução exige paciência, atenção, cuidado e habilidade manual, o que representa importante ferramenta no combate ao ócio, pois permitirá a realização de uma tarefa que tira o interno da ociosidade, o deixa produtivo, desfocando da realidade que o cerca, e, por fim, ainda assegura a própria remição da pena. Como já referido, essa convergência de interesses é fundamental para o sucesso e a reinserção social dos presos. O tempo ocioso pode se converter no pior inimigo do recluso, não só porque no entender das autoridades sugere vadiagem e fracasso do tratamento ressocializador, mas também porque favorece o envolvimento com ilegalidades. Daí a importância de proporcionar todas as condições para que o trabalho possa ser realizado no interior dos cárceres (LEMGRUBER, 2004, p. 354). A superpopulação das unidades penais pesquisadas se utiliza dessa oferta para ocupar o tempo do interno, sendo que cada unidade tem um critério subjetivo de avaliação do tempo a ser remido, através do período disponibilizado para a confecção do utensilio ou do objeto já pronto, como atribuição de horas em decorrência da complexidade do artefato. Na unidade COMPAJAF, conforme informação da direção, o interno se manifesta em querer confeccionar um determinado artefato de artesanato, o funcionário responsável lhe fornece os materiais e matéria prima e o interno o confecciona em sua própria cela, sendo para isso predeterminado um período para a entrega do artesanato e atribuída uma jornada de horas no período de 35 seis dias semanais, concluindo com a apresentação do artesanato pronto, deduzindo assim em dias trabalhados e passíveis de remição. Na unidade COPECAM, conforme informação da direção, o interno se manifesta junto à direção em realizar artesanato e seus familiares providenciam todos os objetos, sendo que após a conclusão do trabalho e da apresentação do artesanato pronto no prazo máximo de 30 dias lhe é atribuída uma jornada de horas referente a 21 dias trabalhados e assim debitado o período a ser remido. Todos esses critérios de seleção são subjetivos, devendo a análise ser feita pelo assistente social da unidade, de forma a fiscalizar a confecção e o trabalho artesanal. Somente após certificado pode ser pleiteado pelo defensor do apenado e encaminhado ao juiz da execução que declara a remição pelo trabalho a sombra do art. 126 da LEP. Nesses termos, se reconhece que é uma maneira de ocupar o período de claustro do interno e o beneficiar com a remição, diminuindo seu tempo de pena, contribuindo para a diminuição da população carcerária e motivando o interno a dar continuidade a uma futura atividade laborativa quando retornar aos seios da sociedade. 36 4 RESULTADOS A seguir, a descrição das respostas dos 12 entrevistados, classificados pelas suas iniciais, de forma a seremmantidos os aspectos éticos: 1) A. F. O. S. – 6 anos, 4 meses e 24 dias de condenação definitiva e execução penal. Cumpriu em regime fechado 11 meses e 17 dias. Não efetuou nenhuma atividade laborativa ou intelectual por falta de oferta do estabelecimento COPEMCAN. Não obteve remição de sua reprimenda penal. 2) A. J. L. – 14 anos de condenação definitiva e execução penal. Cumpriu em regime fechado 4 anos, 5 meses e 7 dias. Trabalhou no COMPAJAF por 2 anos e meio. Obteve remição de 198 dias. 3) E. C. – 11 anos e 7 meses de condenação definitiva e execução penal. Não efetuou nenhuma atividade laborativa ou intelectual por falta de oferta do estabelecimento COPEMCAN. Não obteve remição de sua reprimenda penal. 4) C. P. S. – 15 anos de condenação definitiva e execução penal. Efetuou atividade laborativa e intelectual no COMPEMCAN. Remiu 100 dias pelo trabalho e 112 dias pelo estudo durante o período de claustro de 4 meses e 9 dias. 5) A. S. O. – 10 anos, 9 meses e 18 dias de condenação definitiva e execução penal. Efetuou atividade laborativa no COMPEMCAN. Remiu 195 dias pelo trabalho. 6) E. S. A. – 15 anos de condenação definitiva e execução penal. Não efetuou nenhuma atividade laborativa ou intelectual por falta de oferta do estabelecimento COPEMCAN. Não obteve remição de sua reprimenda penal. 7) L. M. F. – 14 anos de condenação definitiva e execução penal. Efetuou atividade laborativa no COMPEMCAN no período de 1 ano. Remiu 4 meses e 3 dias durante o período de claustro. 8) L. N. S. – 12 anos de condenação definitiva e execução penal. Efetuou atividade laborativa no COMPEMCAN. Remiu 12 meses e 21 dias durante o período de claustro. 9) R. S. S. – 12 anos de condenação definitiva e execução penal. Cumpriu em regime fechado 3 anos e 4 meses. Não efetuou nenhuma 37 atividade laborativa ou intelectual por falta de oferta do estabelecimento COPEMCAN. Não obteve remição de sua reprimenda penal. 10) W. M. S. – 6 anos e 3 meses de condenação definitiva e execução penal. Trabalhou no COMPAJAF por 1 ano. Obteve remição de sua reprimenda penal de 3 meses. 11) W. V. G. J. – 22 anos de condenação definitiva e execução penal. Efetuou atividade laborativa no COPEMCAN. Obteve remição de 281 dias de sua reprimenda penal. 12) J. B. L. A. – 6 anos, 4 meses e 15 dias de condenação definitiva e execução penal. Cumpriu 2 anos no COMPAJAF. Alega ter trabalhado, porém não recebeu remição. Quanto às entrevistas dos funcionários, a funcionária da unidade prisional COMPAJAF (identificada como A. G. V. S), falou sobre o critério de seleção e oferta de trabalho e estudo aos internos, descrevendo várias atividades passíveis de remição, sendo tais funções facultativas e devidamente cadastradas em um sistema informativo exclusivo da empresa terceirizada “Renascer”, a única unidade prisional privatizada na cidade de Aracaju. A funcionária do CCEP (identificada como D. S. N), informou que são muitos os apenados que procuram o conselho para se cadastrar e aguardar uma chance de trabalho junto aos contratos e parcerias com órgão públicos e egressos do CCEP, sendo que a maioria alega ter trabalhado e estudado na unidade em que ficou acautelado. Porém, em alguns casos nada consta em seu processo de execução referente à remição de pena decretada pelo juiz da execução. Os egressos que buscam auxilio para encontrar trabalho junto ao CCEP são cadastrados, entrevistados e classificados pela atividade que exerciam antes ou durante o claustro, porém, muitos informam ter permanecido ociosos durante o período prisional fechado, por não ter sido ofertado a possibilidade de trabalho ou profissionalização na Unidade Penal. O gerente da COMPAJAF (identificado como A. M. M. S), informou que todas as atividades laborativas ou educativas são registradas e contabilizadas em horas conforme a LEP, sendo para fins de remição e contando com motivação do defensor, Ministério Público ou do próprio interno, para assim encaminhar as referidas informações à Vara de execuções, relatando as 38 atividades desenvolvidas e os dias remidos adquiridos pelo sentenciado acautelado na referida unidade. No COPEMCAM foi informado que são poucas as ofertas de trabalho no estabelecimento por falta de condições de segurança, espaço e funcionários capacitados para a qualificação dos internos. O presídio estadual em pauta sofre com a superlotação, pois foi projetado para acautelar 800 internos e hoje se encontra com 2.475, sendo ofertadas somente 55 vagas para trabalho interno. Além disso, a direção acrescenta que são ofertadas as atividades educacionais, porém, atualmente há apenas 70 inscritos estudando na Unidade. Dentre as variáveis reunidas, destacam-se os dados sociodemográficos e socioeconômicos que possibilitaram identificar o perfil dos presos, os tipos de crimes por eles praticados, a repercussão das atividades laborativas e educacionais, além de aspectos positivos e negativos das unidades prisionais. Percebeu-se, em relação ao COMPAJAF (Figuras 1 e 2), que houve queda no quantitativo da população carcerária ativa quando comparados os anos de 2013 a 2016 (Gráfico 2). Os funcionários informaram que nos anos de 2013 e 2014 as opções de trabalho eram maiores pois eram confeccionadas bolas e tapeçarias, além das atividades já existentes, sendo essas atividades extintas nos anos seguintes, diminuindo assim o fluxo de trabalho dos internos. Gráfico 2 – População carcerária do COMPAJAF nos anos 2013 a 2016. Fonte: AUTOR, 2018. 0 500 1.000 1.500 2.000 2.500 3.000 3.500 4.000 2013 2014 2015 2016 Total de Internos Inativos Ativos 39 Figura 1 – Vista frontal da unidade COMPAJAF. Fonte: AUTOR, 2018. Figura 2 – Vista da sala de aula durante aprendizado, COMPAJAF. Fonte: AUTOR, 2018. No COPEMCAN (Figuras 3 e 4), unidade que comporta mais da metade dos presos de todo o Estado, há seis salas de aula que possibilitam que os internos trabalhem e estudem, cumulando as duas hipóteses autorizadoras da remição, abreviando, ainda mais, o tempo de suas penas. Entretanto, isso é 40 raramente observado (Gráfico 3). Importante ressaltar que tais informações serão também confrontadas com os dados da pesquisa de campo, mais adiante. Gráfico 3 - População carcerária do COPEMCAN nos anos 2013 a 2016. Fonte: AUTOR, 2018. Figura 3 – Vista frontal da unidade COMPECAN. Fonte: AUTOR, 2018. 0 500 1.000 1.500 2.000 2.500 3.000 2013 2014 2015 2016 Total de Internos Inativos Ativos 41 Figura 4 – Vista da sala de aula durante aprendizado, COMPECAN. Fonte: AUTOR, 2018. Conforme o gráfico e a tabela dos demonstrativos apresentam, no ano de 2016 somente 10% da população carcerária das unidades pesquisadas conseguiram remir a reprimenda penal imposta. Sendo que 76% dos internos permaneceram sem exercer nenhuma atividade passível de remição e 14% realizaram alguma atividade no decorrer da sua permanência de reclusão, porém não pleiteou o abatimento da pena pela remição, ou seja, não requisitou junto à Unidade penal a documentação probatória para enviar ao juiz da execução ou não sabe se efetivamente ela ocorre, ou ainda, não sabe informar se esse direito se aplica ou não ao caso dele, pelo fato de não desenvolver atividade laborativa (Gráfico 4). Gráfico 4 – População carcerária em Sergipe em 2016. Fonte: AUTOR, 2018. 76% 14% 10% população carcerária de Sergipe em 2016 inativos ativos remiram 42 Tabela 5 – Ocorrênciade remição pela participação em atividades laborativas pelos presos do Sistema Penitenciário Sergipano, 2013. Remição pela atividade laborativa Total % Foi beneficiado com remição da pena 117 22,3 Não foi beneficiado com remição da pena 51 9,7 Não desenvolveram atividade laborativa 339 64,6 Sem informação 18 3,4 Total 525 100,0 Fonte: MARQUES et al., 2014. As normas relacionadas a atividades laborativas e intelectuais dos presos estão previstas nas “Regras Mínimas de Tratamento do Preso” estabelecidas pela Organização das Nações Unidas (ONU), as quais estipulam que o trabalho deve ser suficiente para ocupar o preso durante uma jornada diária normal, devendo haver regulamentação de número máximo de horas (ONU, 1955). Já a LEP estabelece em seu art. 33 o limite de oito horas diárias para a jornada de trabalho. Ocorre que, embora o trabalho possua sentido restaurador, à vista do efeito corrosivo da ociosidade, a atividade laborativa desenvolvida pelos reclusos no interior dos presídios, em particular os de Sergipe, acontecendo nas áreas de limpeza, alimentação e jardinagem, dentre outros (MARQUES, 2013). Registra-se, contudo, que há em muitos presídios brasileiros uma estrutura para o desenvolvimento de trabalhos industriais, artesanais e de marcenaria, sendo o resultado dessas duas últimas atividades apresentado em exposições e comercializados, retornando como renda extra para os internos. Em Sergipe, de acordo com as informações da direção do DESIPE, esse movimento já aconteceu, mas hoje segue com a marcenaria em produção reduzida, funcionando apenas em duas unidades, que são CESARB II e PRESLEN. Em relação ao trabalho no sistema prisional do Estado de Sergipe, a pesquisa de campo sinalizou que há muito mais presos interessados em trabalhar e se ocupar, aprender um ofício e remir sua pena do que postos de trabalhos oportunizados. Em verdade, o que os presos revelaram é a vontade de realizar qualquer atividade laborativa desde que sejam capacitados para 43 tanto e que há uma carência grande na oferta de atividades laborativas (MARQUES, 2013). Como referido, segundo informações prestadas pela SEJUC, em contato direto, as atividades laborativas desenvolvidas nas unidades prisionais são: serigrafia e artesanato na COMPAJAF, e pintura, padaria e culinária no COPEMCAN, sendo que em todos, os serviços de manutenção, limpeza e jardinagem são realizados pelos internos, salvo no COMPAJAF, que por ser privatizado possui uma empresa terceirizada para a realização desses serviços. Sobre o tema trabalho penal, Foucault (2001) discorre nesse sentido: Em sua concepção primitiva o trabalho penal não é o aprendizado deste ou daquele ofício, mas o aprendizado da própria virtude do trabalho. Trabalhar sem objetivo, trabalhar por trabalhar, deveria dar aos indivíduos a forma ideal do trabalhador. Talvez uma quimera, mas que havia sido perfeitamente programada e definida pelos quakers na América (constituição dos workhouses) e na Holanda. Posteriormente, a partir dos anos de 1835-1840, tornou-se claro que não se procurava reeducar os delinquentes, torná-los virtuosos, mas sim agrupá-los num meio bem definido, rotulado, que pudesse ser uma arma com fins políticos e econômicos. O problema então não era ensinar-lhes alguma coisa, mas ao contrário, não lhes ensinar nada, para se estar bem seguro de que nada poderão fazer ao sair da prisão (p. 133-134, grifo nosso). O trabalho durante a execução de pena é um direito do apenado e se torna um dos requisitos subjetivos para a obtenção do regime aberto, da prisão domiciliar e do livramento condicional. Como se vê ele está presente em todas as fases do cumprimento da pena, mas são poucos os que se prontificam a exercer essa atividade. Ressalta-se ainda o pouco material acerca do entendimento atualizado no tema tanto no Brasil como em Sergipe. Há entendimento segundo o qual o trabalho contribui muito pouco para emancipação do preso e um futuro reposicionamento no mercado de trabalho (JULIÃO, 2012). Salvo raras exceções, o que se vê inclusive em Sergipe, são subempregos que não serão replicados no ambiente além dos muros, ou seja, mecanicamente executados, sem qualquer sentido, salvo o terapêutico (MARQUES, 2013). 44 Neste entendimento sobre o dispositivo da atividade para a obtenção da remição penal, alguns Tribunais reconhecem a deficiência das Unidades prisionais e já foram alvos de vários pleitos sobre essa carência de trabalho: Em sendo assim, percebemos que como o trabalho, segundo a LEP, reveste-se de direito e de dever, o Estado deve proporcioná-lo, e, assim não o fazendo, por omissão e desídia sua, exclusivamente, deverá, em contrapartida, reconhecer em favor daquele apenado que quer trabalhar, mas que não pode por ausência de vaga, ou, que está laborando, em atividades internas nas galerias, já que assim o faz por que o Estado não consegue lhe dar o mínimo, nem sequer patrocinar a sua segurança no presídio, a chamada remição ficta (CAPPELLARI, 2017, p. 47). Existe uma modalidade de remição denominada “remição ficta”, que é o reconhecimento de uma remição em favor de presos que, conquanto dispostos a trabalhar se viram impossibilitados, em função de o estabelecimento Prisional que o acautela não lhe proporcionar esse direito. Esse tipo de remição ainda engatinha no entendimento dos Tribunais Brasileiros, mesmo reconhecido o direito ao trabalho do encarcerado a impossibilidade de atividades laborativas para toda a população carcerária e a precariedade do sistema prisional, os presos em sua maioria, cumprem a sua reprimenda penal em regime fechado no ócio de suas masmorras. Para Alvim (1986), “a finalidade da remição não é, como apregoar aqueles profissionais do Direito, a reinserção social” (p. 286). O autor conclui que o objetivo da remição é exclusivamente aquele que se propõe na letra da lei, ou seja, reduzir por meio do trabalho a pena privativa de liberdade. Contudo, por computar a remição com uma das mais importantes imagens na execução da pena, a explanação da entidade demanda ampliatividade, pois se fosse o contrário infringiria a própria lógica do sistema que batalha pela ressocialização (CAPPELLARI, 2017). Essa ressocialização que não vem fluindo como consta em nossa LEP, abandonando o direito do preso ao trabalho e ao estudo. O Estado, que possui a tutela dos presos, deve trabalhar para que todos os meios possíveis se esgotem no sentido de ofertar e disponibilizar esse direito ao seu prisioneiro. 45 5 CONCLUSÃO Conforme analisado no presente trabalho, o quantitativo de presos em remição no período entre os anos 2013 e 2016 é pequeno se comparado ao total da população carcerária nas duas unidades no mesmo período. Deve ser dado destaque dentro do sistema prisional ao único estabelecimento dentre os pesquisados que se encontra sob administração privada (o COMPAJAF), salientando-se que, embora essa unidade não receba apenados além de sua capacidade projetada (476 vagas), atualmente conta com 581 internos, sendo esse excesso decorrente do envio de presos provisórios que estão aguardando audiência de custódia. O COMPAJAF obteve maior índice de internos em atividades educativas e laborativas e dispõe de uma equipe de profissionais para viabilizar e capacitar os internos em diversas atividades ocupacionais, além de possuir um quadro de professores e escola apta para alfabetização, ensino básico e médio. Possui um sistema informativo e classificatório que contém todos os dados das atividades realizadas por cada interno. Tal sistema viabiliza a
Compartilhar