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Teoria da História Aula 01 Os direitos desta obra foram cedidos à Universidade Nove de Julho Este material é parte integrante da disciplina, oferecida pela UNINOVE. O acesso às atividades, conteúdos multimídia e interativo, encontros virtuais, fóruns de discussão e a comunicação com o professor devem ser feitos diretamente no ambiente virtual de aprendizagem UNINOVE. Uso consciente do papel. Cause boa impressão, imprima menos. Aula 01: O que é a História? O passado e sua função social Objetivo: Discutir conceitos básicos sobre a essência e o objetivo da ciência histórica, bem como provocar uma reflexão inicial sobre ela. A importância do passado Normalmente as pessoas vivem focadas nas coisas de seu próprio tempo. Assim, por estarem tão envolvidas com as questões do cotidiano, relacionadas à família, ao trabalho, ao estudo, ao lazer, à obtenção de bens materiais, encontram- se propensas a entender o presente como a única dimensão de tempo realmente relevante. No entanto, por mais que as pessoas concentrem-se no tempo presente, com frequência enfrentam situações que as obrigam a se reportar ao passado. Socorrem-se, então, da memória, que é uma importante ferramenta para resolver questões do dia a dia. “Onde coloquei as chaves do carro?”, alguém se pergunta, recorrendo à lembrança de atos praticados recentemente. Outro se questiona: “em que cidade da Itália nasceu meu avô?”, tentando levantar o passado mais remoto que se tornou, por alguma razão, necessário para o presente. A memória, a recordação, o resgate de registros pessoais e familiares do passado são indispensáveis à vida e auxiliam as pessoas a enfrentarem o cotidiano, dando sentido às suas práticas e jogando luz sobre a sua existência como indivíduos. O passado não pode ser dispensado ou desvinculado de nossa vida presente, caso contrário, arriscamo-nos a não entender ou não resolver questões que nos dizem respeito, das mais simples às mais complexas. Tomemos em conta, porém, que a vida não é somente uma experiência individual, mas coletiva, social. A humanidade, formada por diferentes sociedades e culturas ao longo de sua (muito mais que milenar) existência, também tem um passado, que é social, histórico. Ele traz consigo o elenco das diversificadas e complexas experiências dos povos. Estamos, portanto, diante de uma necessidade: conhecer o passado das sociedades humanas1 para poder entendê-las e explicá-las. Esse conhecimento é indispensável para a definição das identidades sociais e dos papéis que as diferentes sociedades cumpriram e cumprem no planeta. Definindo História Damos o nome de História ao passado das sociedades humanas, investigado e resgatado das profundezas do esquecimento, da omissão e da ocultação; passado entendido a partir das experiências e dos projetos sociais contraditórios produzidos por essas sociedades, ou seja, as sociedades humanas (desde as suas primeiras formas de organização até as estruturas contemporâneas mais sofisticadas) explicam-se por processos movidos pelos interesses de seus componentes (grupos, castas, classes), na maioria das vezes, conflitantes. A compreensão da existência desses projetos sociais nos diferentes tempos históricos é fundamental para que se entenda o passado. Observe-se ainda que o conhecimento desse passado das sociedades humanas não está a princípio claro ou sequer disponível. Cabe ao historiador ir ao encontro desse passado social para fazê-lo ressurgir na forma de uma interpretação científica, utilizando-se para isso das ferramentas próprias da pesquisa histórica. A função social da História Ao estudarmos as evidências explícitas que o passado nos deixou (monumentos, ruínas de templos religiosos e palácios, registros escritos em paredes e lápides, produzidos em diferentes períodos e contextos históricos), percebe-se que elas tinham o propósito de conduzir suas respectivas sociedades a compreensões que atendiam aos interesses de seus dirigentes. Como ensina o historiador catalão Josep Fontana (1998): Os relevos do Egito faraônico ou as pinturas maias não só estavam destinados a perpetuar a memória dos soberanos, como também tinham uma função didática: a de recordar os fundamentos religiosos e profanos do sistema social vigente, tal como deviam explicá-los verbalmente aos sacerdotes. As cenas dos triunfos militares, em que nunca falta a representação dos mortos e dos vencidos, serviam de advertência de que qualquer intento de subverter a ordem estabelecida seria reprimido duramente, tanto se procedesse de inimigos de fora como de dissidentes de dentro. (1998, p. 15) Ele quer nos ensinar que relevos, pinturas, estátuas e pirâmides do mundo antigo foram produzidos como uma fala articulada sobre o passado, a fim de cumprir uma função social, que era a de legitimar a ordem estabelecida e desautorizar qualquer tentativa de mudança dessa mesma ordem; ou ainda, o propósito de confirmar, por meio dessas imagens, símbolos e escritas, os governantes ricos e poderosos que os mandavam fazer. Tais líderes, portanto, eram vistos como tendo origem divina ou possuindo uma competência natural para o governo e para a guerra. A importância da História enquanto ciência Essa fabricação do passado, que dá ares de verdade e legitima ordens econômicas, políticas e sociais ao longo dos tempos, tem sido objeto de contestação por parte da ciência histórica contemporânea, uma vez que esta última se propõe a conhecer e pesquisar o passado das sociedades a fim de elaborar formas novas de entendimento que tragam luzes a respeito dos aspectos negligenciados pelas versões do status quo2. A História enquanto ciência tem hoje uma função social importantíssima: a de desnudar as versões do passado, que foram produzidas para gerar submissão e exclusão, substituindo-as por compreensões que explicam as ações do cotidiano dos povos no âmbito dos antagonismos e dos projetos dos diferentes grupos e classes sociais no tempo. Por fim, gerando um entendimento mais acurado e amplo do passado, do qual se tire partido no presente para a realização de sociedades mais justas e igualitárias. Podemos, então, dizer que “mudou de lado”, deixando de servir às classes dominantes para cumprir uma tarefa de natureza crítica. A palavra “história” A palavra “história” tem sua origem na Grécia antiga, com os escritos de homens como Heródoto e Tucídides. Teria sido Heródoto o primeiro a utilizar esse termo “com o sentido de investigação do passado social, conforme o entendemos hoje. Citando mais uma vez o historiador catalão, agora se referindo a Heródoto: “Pela primeira vez, o historiador não se contenta em narrar, assinala as causas dos acontecimentos e busca o sentido profundo da evolução histórica” (FONTANA, 1998, p. 18). Isso não significa, porém, que os gregos antigos tenham sido os inventores dessa preocupação; atribuem-se aqui, nesta menção a Heródoto, as raízes do saber histórico do Ocidente. O conceito de “história”, portanto, expressa um desejo comum a todos os seres humanos das diferentes culturas, qual seja, o de responder questões sobre os começos da vida em sociedade. Em termos literais, “história” significa “investigação”. Essa raiz sugere uma tarefa inerente ao trabalho do historiador, que é o de buscar o esclarecimento a respeito do passado, não o tendo como dado pelas gerações anteriores ou pelas explicações existentes. Conclusão A ciência que chamamos de Históriaé dinâmica, reelaborando-se constantemente e ampliando a cada nova pesquisa o seu próprio objeto de estudo. É no encontro entre o que a humanidade realizou no passado (esse conjunto de projetos contraditórios, não sem importantes conquistas) e o que o historiador resgata por meio de seu trabalho que ela se materializa. Saiba mais Sociedade humana1: assim intitulamos os grupos humanos de uma maneira geral, organizados com práticas que chamamos de coletivas ou sociais, transformando o meio em que vivem por meio do trabalho e da engenhosidade. As sociedades humanas sustentam códigos culturais particulares, diferenciando-se, assim, umas das outras no decorrer da história. Status quo2: expressão latina de larga utilização no meio acadêmico, que significa “estado presente de coisas” ou “estado atual das coisas”. Em geral, é uma referência ao momento político que vive determinada sociedade. Primeira aula concluída! Não deixe de procurar o professor na hipótese de qualquer dúvida. REFERÊNCIAS FONTANA, J. História: análise do passado e projeto social. Bauru: EDUSC, 1998. FUNARI, P. P. Teoria da História. São Paulo: Brasiliense, 2008. HOBSBAWM, E. Sobre História. São Paulo: Companhia das letras, 2013.
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