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Estudos Sociais e Ambientais Material teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Ms. Marcello Alves Revisão Textual: Profa. Dr. Patricia Silvestre Leite Di Iorio Globalização Globalização Nesta unidade você irá aprender sobre um conceito amplamente utilizado na atualidade a “globalização”. No material teórico, você encontrará um texto sobre globalização de autoria de Tânia Bacelar. Mesmo que este pareça difícil num primeiro momento, não desista. Na seqüência a autora apresenta vários exemplos que ajudam a compreender e clarear o material teórico. Atenção Para um bom aproveitamento do curso, leia o material teórico atentamente antes de realizar as atividades. É importante também respeitar os prazos estabelecidos no cronograma. Uma das melhores explicações já feitas sobre o fenômeno da globalização foi feita pelo economista norte-americano Milton Friedman em um dos capítulos de seu documentário «Liberdade de Escolha» (de 1980, mas que até hoje permanece atualíssimo). A explicação é conhecida como «A história de um lápis». Nela, Friedman manuseia um lápis e explica todos os elementos e fatores que confluem para a produção de um item tão corriqueiro e banal. O texto é o que se segue (a referência completa deste texto pode ser encontrada nas referências da Unidade II): A história de um lápis por Milton Friedman Veja este lápis. Não existe uma só pessoa no mundo que poderia fazer este lápis. Uma afirmação extraordinária? De jeito nenhum. A madeira de que é feito, pelo que eu sei, vem de uma árvore derrubada no estado de Washington. Para cortar aquela árvore foi necessária uma serra. Para fazer a serra foi necessário aço. Para fazer o aço foi necessário minério de ferro. Este centro escuro [do lápis], nós chamamos de chumbo, mas é na realidade grafite, grafite comprimido. Eu não tenho certeza de onde ele vem, mas acho que vem de algumas minas da América do Sul. Este topo vermelho aqui, o apagador [na outra ponta do lápis], um pouco de borracha, provavelmente vem da Malásia, de onde a seringueira não é sequer nativa. Ela foi importada da América do Sul por alguns homens de negócios com a ajuda do governo inglês. Este envoltório de latão [que circunda a borracha], eu não faço a menor idéia de onde ele veio, ou a tinta amarela, ou a tinta que faz as linhas pretas [do acabamento externo do lápis], ou a cola que o mantém inteiro. Contextualização Literalmente milhares de pessoas cooperaram para que este lápis fosse feito. Pessoas que não falam a mesma língua; que praticam religiões diferentes; que poderiam se odiar umas às outras caso se encontrassem. Quando você vai a uma loja e compra este lápis, você está na verdade trocando alguns minutos do seu tempo por alguns segundos do tempo de todos aqueles milhares de pessoas. O que as reuniu e as levou a cooperar para produzir este lápis? Não houve um comissário emitindo ordens de um escritório central. Foi a mágica do sistema de preços, a operação impessoal dos preços, que os reuniu e os fez cooperar para produzir este lápis, para que você possa tê-lo por uma quantia insignificante. É por isso que o funcionamento do livre mercado é tão essencial, não apenas para promover eficiência produtiva, mas ainda mais, para promover harmonia e paz entre os povos. Friedman não faz referência direta ao termo «globalização», mas a ideia da globalização permeia todo o seu discurso. É evidente que a cooperação a que Friedman se refere é a mesma força que faz com que pessoas, empresas, instituições, organizações e países inteiros interajam de forma relativamente harmoniosa. Além disso, as questões que ele levanta para um único lápis valem para praticamente todos os objetos a sua volta. Tente imaginar, por exemplo, a quantidade de processos, relações e técnicas que precisaram convergir para produzir um único computador e fazê-lo chegar a sua casa. Imagine também as diferentes origens das peças e materiais que o compõem. Se, como Friedman explica, não conseguimos responder isso para um único lápis, imagine para um computador. Compreender a globalização exige que observemos estas coisas e que compreendamos a medida da presença desse fenômeno em nossas vidas. O que é Globalização? Globalização é o processo pelo qual diversos países se integram e interagem econômica e culturalmente. É um fenômeno inerente ao capitalismo, necessário para sua expansão. A globalização começa com a saturação dos mercados em países mais desenvolvidos; as empresas desses países buscam então outros mercados em outros países, como forma de dinamizar e expandir seus negócios. Embora as discussões relevantes a respeito da globalização tenham começado há poucas décadas e o próprio termo tenha surgido há pouco mais de meio século, trata-se de fenômeno antigo. A globalização tem início com o mercantilismo, conjunto de práticas econômicas que predominou nos países europeus (inicialmente Portugal e Espanha, depois a Inglaterra) entre os séculos XV e XVIII e que priorizou o comércio exterior, o acúmulo de metais preciosos e a obtenção de balança comercial favorável. Estas práticas dependeram de dois fatores que vieram a marcar a globalização até nossos dias: a tecnologia e a ideologia política. No mercantilismo, boa parte das ações globalizantes só foram possíveis com o desenvolvimento da tecnologia de navegação e de políticas centradas no fortalecimento das nações, isto é, do poder do Estado, única entidade capaz de organizar as economias nacionais e viabilizar os projetos expancionistas que deram início ao colonialismo e ao imperialismo. Como vimos na Unidade I, o desenvolvimento da economia e da tecnologia levou ao florescimento da indústria em alguns países. O exemplo mais relevante disso foi a Inglaterra, pioneira da Revolução Industrial. Na Inglaterra, o mercantilismo criou as bases econômicas que mais tarde trariam a industrialização, processo que teve início no séc. XVIII. Este primeiro movimento de globalização trouxe implicações culturais importantes. O colonialismo, inerente ao mercantilismo, fez com que Portugal e Espanha tivessem uma relação bastante complexa com os lugares e povos colonizados. Por exemplo, elementos como o idioma, hábitos e outras características culturais foram transferidas aos colonizados. Isto, por exemplo, influenciou fortemente a formação dos países latino-americanos, como o Brasil. O mesmo pode ser dito da Inglaterra e de sua principal ex-colônia, os EUA. Material Teórico Mesmo que hoje muitos não vejam os séculos anteriores ao séc. XX como exemplos de globalização, é evidente que aquele período foi marcado por diversos fenômenos que hoje podemos reconhecer como globalização. Globalização, século XX O que marca a globalização tal como a conhecemos hoje? A exemplo do que ocorreu entre os séculos XV e XVIII, a globalização observada no século XX também foi uma consequência do desenvolvimento econômico, tecnológico e de intensas transformações sociais e culturais. Como indicamos na Unidade I, estas transformações foram as principais causas da passagem da sociedade industrial para a sociedade pós-industrial. Vamos rever as principais características da sociedade pós-industrial: Expansão tecnológica, sobretudo com o advento da eletrônica e da microeletrônica. Expansão das telecomunicações, facilitaçãodos meios de acesso a esses recursos. Aumento da disponibilidade de bens de consumo e disseminação do consumo como hábito comum ao homem moderno. Como é possível notar, esses três itens não são apenas características da sociedade pós- industrial, são também as causas da passagem da sociedade industrial para a pós-industrial. Notem também que esses três fatores estão interligados: a expansão tecnológica permite a expansão das telecomunicações, que ajuda a disseminar elementos sociais e culturais que abrem espaço para o consumo etc. Há um quarto fator que também é característico da sociedade pós-industrial e que, ao mesmo tempo, tem sido uma das causas das intensas transformações sociais e ambientais das últimas décadas. Este quarto fator é a própria globalização. O que vemos a partir da década de 1950 é um processo muito mais complexo e amplo. Para começar a estudar o que é a globalização no período pós-industrial precisamos dividi-la em dois campos, o cultural e o econômico. Culturalmente, a globalização é um fenômeno marcado pelo surgimento e pela expansão de sociedades de consumo. Com o fim da Segunda Guerra Mundial, o consumo passa a ser encarado como prática vantajosa para a economia das nações e estimulado através da mídia e de políticas nacionais. Isto só foi possível com a expansão dos meios de comunicação e dos meios de transporte — dois frutos do desenvolvimento tecnológico. A sociedade de consumo trouxe um forte impacto sócio-cultural não apenas no país pioneiro nestas tendências, os EUA, mas também em praticamente todo o mundo, que era influenciado pela hegemonia cultural, política e econômica daquele país. É neste período, por exemplo, que se estabelece o american way of life, a TV se expandiu e se popularizou e modas norte- americanas se espalham pelo mundo. Economicamente, a globalização manteve sua principal característica, observada desde o tempo das navegações: a expansão de mercados. O êxito econômico e o desenvolvimento tecnológico mais uma vez criaram as condições que permitiram que algumas empresas crescessem e buscassem novos mercados. Se antes as indústrias precisavam estar próximas de fontes de energia e de matérias-primas, com a globalização essa dependência é cada vez mais determinada por fatores como a disponibilidade de mão-de-obra barata, a proximidade dos principais centros de consumo, a oferta de vantagens tributárias e os conjuntos de leis federais e estaduais que regem a produção industrial em determinados locais — todos estes fatores visam, obviamente, a reduzir os custos de produção. É nesta época que indústrias automobilísticas intensificam a instalação de fábricas fora de seus países de origem (no Brasil, por exemplo, isto levou ao estabelecimento de várias industrias na região do Grande ABC). Esse processo é repetido por empresas de diversos tipos, como fabricantes de eletrodomésticos e outros bens de consumo. A expansão de mercados, portanto, é sempre acompanhada pela expansão industrial. É o período de surgimento de empresas multinacionais ou transnacionais, isto é, empresas que possuem matrizes num país e filiais em várias partes do mundo; muitas vezes essas filiais têm dimensões físicas, organizacionais e financeiras muito maiores do que suas matrizes. Este processo de expansão industrial e de mercados continua acontecendo até hoje. No Brasil, por exemplo, se no início do período pós-industrial recebemos fábricas alemãs e norte- americanas de automóveis, décadas mais tarde passaríamos a receber montadoras japonesas, em seguida francesas e, mais recentemente, sul-coreanas e chinesas. Outra característica econômica da globalização no séc. XX é a velocidade. Mais uma vez a tecnologia teve papel fundamental: foi ela que permitiu a aceleração da circulação de informações e de mercadorias. Se no início da industrialização informações e mercadorias demoravam semanas para ir de um país a outro, hoje as informações são transmitidas em tempo real e mercadorias são transportadas de um lado a outro do mundo em questão de horas ou poucos dias. A combinação de fatores econômicos e culturais faz surgir também neste período de intensa globalização a noção de capital especulativo, a ideia de que a própria circulação de dinheiro e o sistema financeiro são elementos estruturantes da economia de um país. As oscilações dos mercados de ações e as tendências político-econômicas passam a ser ainda mais decisivas para nações inteiras e intensificam a dissolução das fronteiras. As principais crises econômicas internacionais das últimas décadas são frutos diretos da globalização. Por fim, uma última característica da globalização é a formação de blocos econômicos. O exemplo mais evidente disso é a União Europeia, que começa com o afrouxamento das fronteiras econômicas entre os países que compõem esse bloco e que, em seguida, leva a uma união também política. Outros exemplos de blocos econômicos são o Mercosul e o NAFTA (North American Free Trade Agreement, ou seja, Tratado Norte-Americano de Livre Comércio). Curiosamente, esses blocos econômicos podem ser entendidos como reações à globalização. Muitos desses blocos econômicos surgem como forma de compensar a pressão política e econômica que alguns países sofrem com a globalização. Com efeito, em muitos casos o peso da globalização tem levado alguns países a rever suas políticas protecionistas, o que, embora pontual, é uma óbvia reação à globalização. Os Efeitos da Globalização Como vimos, logo após a Segunda Grande Guerra o mundo mergulhou numa espécie de euforia de produção, consumo e comunicação. Com isso, os efeitos danosos da globalização não demoraram a surgir. 1. Problemas ambientais O primeiro e talvez o efeito mais danoso da globalização foi a poluição ambiental. Durante a expansão industrial no início do segundo pós-guerra ainda era comum a ideia de que os recursos naturais eram infinitos. As questões ambientais só começaram a fazer parte das discussões públicas a partir da década de 1960, mas só na década seguinte é que surgem as primeiras políticas nesse sentido. O advento da sociedade pós-industrial (sociedade de consumo) trouxe pelo menos duas décadas de poluição e de degradação ambiental sem qualquer restrição ou regulação. A poluição está ligada não apenas à intensificação da industrialização, mas também ao aumento do consumo e à expansão urbana (demográfica e territorial). A intensificação das atividades industriais somada ao uso crescente de máquinas nas atividades agrícolas impulsionou o êxodo de populações rurais para as cidades. Podemos considerar que, se a industrialização degrada o meio ambiente por vias diretas (pois há muitos processos industriais altamente poluentes), a expansão urbana e o aumento do consumo causam degradação ambiental por vias indiretas. Como exemplo, temos a ocupação urbana desordenada e as enchentes, a produção de lixo e a poluição do ar causada pelos automóveis. Praticamente todos os problemas ambientais que vemos hoje nas cidades brasileiras são frutos da expansão demográfica/urbana. É fácil deduzir também que a especulação imobiliária, que traz tantos problemas para as cidades, é uma das consequências da expansão dos mercados financeiros e da noção de capital especulativo. 2. Supremacias internacionais Outro problema associado à globalização é a hegemonia dos países que se situam no «centro» desse processo em detrimento dos países chamados «periféricos». Assim como no passado, países como Inglaterra, Portugal e Espanha foram os protagonistas da globalização, com o advento do período pós-industrial este lugar passou a ser ocupado pelos EUA.O que esta hegemonia significa? Significa que os valores, os princípios e as regulações que determinarão as trocas que caracterizam a globalização serão estabelecidas prioritariamente pelo país protagonista e por seus aliados e para o seu próprio benefício. O êxito militar dos EUA na Segunda Guerra Mundial foi convertido em êxito econômico e desde então a combinação de poder militar e poder econômico tem sido a principal explicação para a hegemonia norte-americana. Após o final da Segunda Guerra Mundial o mundo foi dividido em dois blocos político- econômicos — um socialista, sob influência da então União Soviética, e outro capitalista, sob influência dos Estados Unidos. Num primeiro momento esta influência foi somente econômica e se traduzia principalmente na ajuda econômica norte-americana aos países destruídos pela guerra, como os europeus e o Japão. Essa hegemonia não influenciou apenas o campo econômico. Como é fácil imaginar, essa hegemonia assegura também a disseminação da cultura norte-americana como modelo para boa parte do mundo. De fato, é isto que temos observado nas últimas décadas e que continuamos observando até hoje. O consumismo é um exemplo óbvio de criação cultural norte-americana que se espalhou pelo mundo, assim como as «indústrias» da mídia, do entretenimento e do turismo. A médio e longo prazos, esta hegemonia cultural tem trazido a dissolução das identidades nacionais nos países sob influência da cultura dominante. Vários exemplos disso podem ser encontrados, por exemplo, na América Latina, sobretudo por sua histórica dependência econômica dos países mais ricos. As decisões políticas nos países latino- americanos passam assim a serem realizadas em função do interesse em manter as relações econômicas com os países dominantes. Em grande medida, esse processo foi o resultado da aplicação da política econômica que conhecemos como neoliberalismo. O neoliberalismo é a ideologia que privilegia a eficiência, a competição e o livre comércio entre os países. Porém, como vimos acima, a competição e o livre comércio podem ser bastante desiguais se as regras para essas relações ignorarem as particularidades dos países participantes. Na prática, o que vemos é o uso do poder militar e político para definir as relações comerciais entre países. Diante disso surge a necessidade de regular estas relações entre os países e de fazer com que essa regulação não seja influenciada pelos países dominantes; em outras palavras, surge com a globalização a necessidade de estabelecer cúpulas decisórias mundiais, supranacionais, inclusive para prevenir ou reduzir os riscos de conflitos armados e de batalhas econômicas. Isto já havia sido feito logo após a Segunda Guerra Mundial, quando foram criadas diversas instituições e regulamentos mundiais: • 1944: FMI (Fundo Monetário Internacional, criado com o propósito de manter a estabilidade financeira do mundo); • 1945: ONU (Organização das Nações Unidas); • 1947: GATT (General Agreement of Tarifs and Trades, Acordo Geral de Tarifas e Comércio, substituído pela OMC, Organização Mundial do Comércio, em 1995); • 1948: OMS (Organização Mundial da Saúde, subordinada à ONU) e Declaração Universal de Direitos Humanos; • 1949: OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte). Embora a criação desses órgãos e regulações tenham equilibrado relações internacionais e prevenidos conflitos militares e econômicos, em muitas discussões internacionais ainda observamos a prevalência dos interesses de países mais ricos em detrimento dos interesses de países mais pobres, a ponto dos países se dividirem em «sub- cúpulas» para discutirem seus interesses particulares. Um dos exemplos disso, é o Fórum Econômico Mundial, estabelecido em 1971 em Davos, na Suíça, onde anualmente se reúnem os líderes dos países mais ricos. Em oposição ao Fórum Econômico Mundial, foi criado em 2001 o Fórum Social Mundial, fortemente baseado no ativismo latinoamericano de esquerda, que já se manifestava de forma organizada contra a ideologia neoliberal desde 1996. O que foi explicado até aqui seria suficiente para combatermos severamente a globalização. Por exemplo, muitos críticos atribuem à globalização a intensificação das desigualdades nacionais e internacionais. O raciocínio que leva a essa interpretação é o seguinte: 1) A expansão industrial e comercial iniciada pelos países ricos depende da obtenção de matérias-primas e de mão-de-obra, geralmente abundantes em países pobres. 2) Num primeiro momento isto estabelece uma relação bastante desigual entre o país que pretende se expandir comercial e industrialmente e os países que fornecerão mão-de-obra e matérias-primas. Esses abrirão mão de alguns de seus direitos em troca do dinheiro daquele país mais rico. 3) Como os países fornecedores de mão-de-obra e de matérias-primas nem sempre são países politicamente estáveis, surgem dois problemas: i. a fraqueza política desses países abre espaço para a exploração interna e externa; ii. os ganhos obtidos com essas relações comerciais internacionais nem sempre é revertido em benefícios diretos para a população local. 4) Num primeiro momento, o que se destaca é o asseveramento dos problemas sociais nos países pobres que aceitaram acordos econômicos com países ricos, o que leva os críticos da globalização a concluir que foi a influência desses países que causou o asseveramento dos problemas nos países pobres. Este raciocínio se apoia também na ideia de que o enriquecimento de alguns países é causa e consequência do empobrecimento de outros países, que é o chamado «Princípio da Soma Zero». Mas o raciocínio não é tão simples. Sabemos, pela prática, que a movimentação econômica entre duas regiões traz prosperidade para ambas. Esta prosperidade se expressa na melhoria das condições de vida nas duas regiões que se relacionam comercialmente. Na verdade, a região que fornece bens básicos como mão-de-obra e matérias-primas já era rica em alguma medida, apenas não tinha os meios de converter essa riqueza em recursos financeiros — chamemos isto de riqueza econômica potencial ou latente. O estabelecimento de uma relação comercial com um país rico viabiliza a conversão dessa riqueza econômica potente ou latente em riqueza econômica real ou patente, já que com ela o país que forneceu mão-de-obra e matérias-primas terá o dinheiro para adquirir outros bens e para se desenvolver. Este é um dos pressupostos econômicos da globalização: a ideia de que dois lugares que estabelecem algum tipo de relação possuem bens através dos quais esta relação se tornará interessante para ambos. Mas isto também não é tão simples. No item 3, indicado anteriormente, mencionamos a instabilidade política como fator negativo nas relações comerciais decorrentes da globalização. O que isto significa? Compreender isto ficará mais fácil se lembrarmos da situação de vários países da África e do Oriente Médio. Alguns destes países são extremamente ricos em petróleo e metais preciosos. De fato, a maioria se consagrou como fornecedora desses bens para países ricos. Apesar disso, são países com índices de desenvolvimento humano baixíssimos, entre os piores do mundo. Por quê? Se olharmos com mais atenção a história e a organização social, política e cultural desses países, notaremos que todos eles são países de fortes instabilidades políticas e sociais internas. São lugares marcados por governos ditatoriais e/ou corruptos, por guerras civis e outros conflitos internos, sociais e étnicos. Com isso, nos países pobres a riqueza decorrente das relações comerciais com países ricos é filtrada pela corrupçãoe consumida pelos conflitos internos. Em alguns países da América Latina, sobretudo entre as décadas de 1960 e 1980, as ditaduras militares foram o principal fator de instabilidade interna. O Brasil parece ter sido uma exceção, com crescimento econômico anual na casa dos 7,5% no período dos governos militares e com redução da miséria a taxas proporcionais (sobretudo no período do chamado «Milagre Econômico», de 1968 a 1973), embora os problemas sociais persistam até hoje por diversos fatores. Na África, guerras civis e conflitos étnicos são os principais causadores de fome e pobreza em alguns países deste continente. Isto tem sido explicado em livros e retratado em filmes como «Hotel Ruanda» (2004) e «Diamante de Sangue» (2006). A globalização não é um fenômeno naturalmente pernicioso. Todos os seus efeitos dependem em alguma medida de fatores alheios ao próprio processo da globalização. Nos lugares frágeis e instáveis politicamente, a globalização pode agravar os problemas sociais, como tem ocorrido em alguns países da África e da América Latina. Onde existe uma razoável organização política e um senso de identidade nacional, a globalização tem trazido benefícios palpáveis para a maioria da população, como em muitos países europeus do antigo bloco socialista. Quando analisamos atentamente os efeitos negativos da globalização, com frequência nos deparamos com um efeito positivo, ou vice-versa. Vamos rever alguns destes efeitos e analisar mais alguns: 1) O comércio livre, decorrente da globalização, aproxima os países e reduz as condições que conduzem aos conflitos armados. Em outras palavras, a globalização ajuda a promover a paz. Nações em guerra não realizam trocas entre si e têm dificuldades de realizar trocas com nações em paz. 2) O comércio livre gera riqueza. Dissemos acima que a movimentação econômica entre duas regiões traz prosperidade para ambas. Uma possui algo que a outra não tem, assim a troca se realiza. Esta riqueza só não se converte em benefícios para as populações dessas duas regiões em condições muito particulares, alheias à globalização. 3) Dois problemas associados à globalização, a degradação do meio ambiente e o consumo excessivo dos recursos naturais, têm sido solucionados com dois recursos fortemente ligados à própria globalização: recursos financeiros e tecnologia. Obras como o livro «O Ambientalista Cético», do cientista dinamarquês Björn Lomborg, têm demonstrado que o que a solução dos problemas ambientais não está no controle populacional e na redução da produção de bens de consumo a níveis medievais (como querem muitos ambientalistas), mas na criatividade e na tecnologia e na aplicação de recursos financeiros e políticos na regulação do uso dos recursos naturais. Com efeito, numa análise comparativa, percebemos que os países mais com maior estabilidade política e mais desenvolvidos social, cultural e economicamente são os que têm obtido os melhores resultados nas ações de recuperação e preservação do meio ambiente. O que se pode deduzir do que foi dito até aqui é que a globalização não é fenômeno simples. Cada nação do mundo responde de uma forma diferente aos apelos da globalização. O que é bom para um país pode ser péssimo para outro. O que eleva a condição social de um país pode levar ao enriquecimento de uma elite política ou econômica local em outro, agravando as desigualdades neste lugar. Ironicamente, reações negativas à globalização têm se mostrado tão globalizantes quanto as próprias forças que elas pretendiam combater, às vezes trazendo fortes influências externas e impactos danosos sobre a soberania e a organização interna de certos países. Um exemplo disto é a questão ambiental. Como foi amplamente demonstrado pelo cientista francês Pascal Bernardin em sua conferência «A face oculta do mundialismo verde» (BERNARDIN, 1999), o discurso ecológico tem sido usado para justificar a interferência nas políticas internas de diversos países. Apenas para citar um exemplo: os problemas ambientais observados no período de auge da globalização (entre as décadas de 1970 e de 2000), fizeram com que boa parte da mídia mundial voltasse seus holofotes para a Amazônia. Com base no argumento de que se trata de um patrimônio natural mundial degradado pelos efeitos da globalização, surgiram especulações em torno da internacionalização dessa região. Isto, é claro, implicaria transferir o seu gerenciamento do Brasil para um órgão mundial como a ONU, que é fruto da globalização e agente globalizante. Processo semelhante tem ocorrido pelo viés da saúde, via OMS, e da economia, via FMI e OMC: com o pretexto de combater os efeitos da globalização, estas organizações mundiais acabam por intensificá-lo, reafirmando e ampliando seu próprio poder sobre as nações. Fica claro, portanto, que a globalização é processo complexo, que pode ser interpretado e aproveitado de diversas formas, por diversos agentes. Indivíduo, Cultura de Massa e Globalização Diante de tamanha complexidade, surge a sensação de que nós, como indivíduos — estudantes ou profissionais — temos pouca ou nenhuma chance de interferir em todos esses processos. O advento da sociedade de consumo, não significou o abandono de todos os valores criados e adotados pela sociedade industrial, mas sim sua renovação e reafirmação. Entre esses valores, a cultura de massa é o elemento comum às tendências do período industrial e do pós-industrial. A cultura de massa pode ser definida como a somatória das ideias e tendências culturais mais comuns e mais aceitas por uma determinada sociedade. Há na cultura de massa a ideia de uniformização de hábitos e formas de pensar. Teóricos do final do séc. XIX já denunciavam os riscos da cultura de massa e propunham alternativas em suas respectivas áreas. Na área ambiental e urbanística, destaca-se Ebenezer Howard e suas cidades-jardim; Howard defendia o retorno ao campo e a integração entre cidade e natureza como forma de lidar com os problemas do desenvolvimento econômico e urbano. O processo através do qual se cria a cultura de massa chama-se massificação. Num plano material, a massificação expressa-se nos processos industriais e na produção em série de bens de consumo, como foi retratado pelo filme «Tempos Modernos» (1936), de Charles Chaplin. Com a Primeira Grande Guerra, a produção industrial em série mostrou sua utilidade estratégica tanto na viabilização dos conflitos (sobretudo na produção de armamentos), como na reconstrução que se lhe seguiu. A arquitetura moderna também é fruto do desenvolvimento da tecnologia e da massificação dos processos produtivos. Um dos símbolos deste período é a linha de produção criada por Henry Ford em 1914, que permitiu que o automóvel se popularizasse e que tornou o Ford 29 o primeiro sucesso de vendas da indústria automobilística. A eclosão da Segunda Grande Guerra serviu para reforçar esse êxito e reafirmar o poder da produção industrial em série. Num plano cultural, a massificação começa com o desenvolvimento e com a expansão dos meios de comunicação, que em seguida origina os meios de comunicação em massa, ou «mass media». Entre os frutos deste período estão os principais jornais, redes de TV e empresas de comunicação que vemos hoje em dia — sem eles a cultura de massa simplesmente não existiria. Décadas depois do advento da TV viria a Internet, que, como sabemos, levou a cultura a um nível até então impensável. Em resumo: a tecnologia trouxe o aperfeiçoamento dos meios de produção e a produção em série; a produção em série facilitou o acesso aos bens de consumo e à comunicação; por fim, a popularizaçãodos bens de consumo e a facilitação da comunicação representaram o início da cultura de massa. Além disso, a cultura de massa estabeleceu uma hierarquia que prevalece até nossos dias: o acesso a bens de consumo e aos meios de comunicação, dois efeitos positivos da globalização, depende da aceitação da cultura de massa e, portanto, do atendimento de certos requisitos. Quais são esses pré-requisitos? Vejamos um exemplo específico: 1) Adquirir um automóvel não depende apenas de dinheiro, mas também da aceitação de um sistema complexo que vai desde os meios de produção até o discurso das campanhas publicitárias. Comprar um carro significa aprovar estas e outras coisas. 2) Quem compra um carro não o faz apenas por uma necessidade pessoal e particular, mas porque vive num ambiente que cria essa necessidade. Hoje este ambiente é a sociedade de consumo, regida pela cultura de massa. 3) Em outras palavras, a simples posse de um carro significa que você se «alinhou ao sistema», isto é, não apenas pagou por ele (isto é, trocou o seu tempo de trabalho por esse bem), mas também atendeu às exigências de autoridades, pagou taxas e cumpriu todas as formalidades que lhe permitirão dirigir um carro pelas ruas de uma cidade. Na linguagem atual, «alinhar-se ao sistema» significa «ser apenas mais um», algo que a maioria das pessoas considera muito ruim. A cultura de massa criou estratégias para lidar com quem não quer «ser apenas mais um»: a indústria encontrou vários meios para continuar produzindo em série bens que são considerados exclusivos por quem os adquire e os usa. Nos dois casos — alinhar-se ao sistema ou não se alinhar ao sistema — o indivíduo está irremediavelmente inserido na sociedade de consumo e depende dela para viver. Por exemplo, você decide não ter um carro (porque não tem dinheiro ou porque não quer), mas precisará usar o transporte público ou terá de comprar uma bicicleta (que foi fabricada por uma indústria). Não há escapatória. Você é apenas «mais um». Mas este raciocínio tem algumas falhas. A principal falha está em achar que «ser apenas mais um» é um problema. Mas se se trata de uma condição universal (hoje todos nós nascemos e vivemos numa sociedade massificada), então o problema importante está em não compreender o que essa condição realmente significa na prática, quais são os limites reais em uma cultura globalizada e massificada. Vejamos: 1) Todas as inovações tecnológicas que criaram as bases para a globalização, para a massificação e para a sociedade de consumo foram criadas e desenvolvidas primeiramente por indivíduos. 2) Todas as interpretações da realidade começam com reflexões individuais. Todas as ideologias nascem de ideias e ideias vêm de indivíduos. O mesmo se dá com a cultura de massas. 3) Por mais massificada que seja uma sociedade, por maior que seja o peso da cultura de massa, todos os sistemas pelos quais ela se mantém e se reproduz dependem do indivíduo tanto quanto o indivíduo depende dessa sociedade. A massificação não consegue descartar a diversidade que é inerente à condição humana. Em resumo, embora a principal característica da sociedade de consumo e da cultura de massa seja a uniformização dos modos de vida e dos modos de pensar, é através da consciência individual que essas duas ações (viver e pensar) efetivamente se realizam. A pressão social que nos induz a um modo de vida massificado não altera o fato simples de que essa vida só acontece individualmente, isto é, com cada pessoa sendo exatamente quem ela é e realizando ações conforme suas capacidades particulares. O mesmo acontece com a globalização e os países que participam dela: a globalização tende a nivelar e uniformizar os países, mas eles só conseguem participar da globalização na medida em que oferecem aquilo que eles têm de mais típico e mais particular. Um exemplo bastante banal é o dos restaurantes italianos. Por causa da globalização, hoje você não precisa ir à Itália para comer comida italiana. Porém, os restaurantes italianos não atrairiam clientes se servissem, por exemplo, comida japonesa. Para isto já existem os... restaurantes japoneses. Assim, o que torna os restaurantes italianos atraentes em várias partes do mundo é o fato de eles continuarem servindo comida típica da Itália. Em outras palavras, a globalização precisa respeitar certos limites e é o que acaba acontecendo de fato. Mesmo que não faltem críticos à cultura de massa, a globalização não é tão globalizante como imaginamos e a massificação também não é tão massificante como nos fizeram acreditar. A pressão massificante da globalização e das sociedades de consumo tem limite. Para que isto fique mais claro, analisemos um caso curioso em que a cultura de massa e a globalização têm atuado de formas paradoxais. A China, país mais populoso do mundo, sofreu com décadas de ditadura comunista. O totalitarismo impetrado pelo líder Mao Zedong a partir da Revolução Comunista, em 1949, significou o fim das liberdades individuais e a implantação da vigilância estatal sobre as vidas das pessoas. Isto trouxe também o controle estatal da economia e o cerceamento de toda a livre iniciativa. Um dos reflexos imediatos disso foi o empobrecimento da população. Entre 1959 e 1962 a política desenvolvimentista de Mao Zedong levou à morte de mais de 20 milhões, a maioria por fome. Ao todo, entre 1949 e 1987 cerca de 76 milhões de mortes foram causadas direta ou indiretamente por ações do governo maoísta (RUMMEL, 2002). Em casos como o da China maoísta, a cultura de massa foi um catalisador do totalitarismo. Isto foi magistralmente descrito em dois livros: «1984», de George Orwell, e «Admirável Mundo Novo», de Aldous Huxley. Não à toa a Coreia do Norte é hoje descrita por alguns críticos como «pesadelo orwelliano» (HITCHENS, 2006), a exemplo do que há poucas décadas foi a China. Por relacionarem a cultura de massa a um sistema econômico particular (capitalismo), muitos analistas não consideram a China maoísta um bom exemplo de cultura de massa. Porém, é evidente que o objetivo dos líderes comunistas foi desde o início instalar em todo país uma cultura particular, que ampliasse e garantisse o poder do Estado. A Revolução Cultural Chinesa (1966) foi uma das ações utilizadas para realizar esse objetivo. A China começou a mudar no final da década de 1970, com o início da abertura econômica. O fracasso das ações governamentais prévias e a extrema pobreza da maioria da população foram dois fatores determinantes para que isso se tornasse necessário e urgente. Assim, ao longo da década de 1980 foram implementadas as decisões políticas e econômicas que a partir da década seguinte transformaram a China na potência que é hoje. E, como é fácil notar inclusive pelos noticiários, a abertura econômica chinesa não significou apenas a modernização e o enriquecimento do país, mas também sua inserção no processo de globalização que vinha acontecendo desde a década de 1950. Curiosamente, isso expôs os chineses a uma cultura de massa ainda mais avassaladora: a do consumo. O exemplo chinês mostra que a cultura de massa tem dois lados. O lado do controle e do totalitarismo; e o lado do desenvolvimento econômico, do consumo e da globalização. Nos dois casos a sociedade tende a ser uniformizada em seus hábitos e modos de pensar. Porém, no primeiro caso a cultura de massa é usada para ampliar e assegurar o poder de uma elite política. No segundo, a cultura de massa é usada para atender os interesses de uma elite econômica. É evidente que a globalização tem problemas. A China ainda está longe de ser um modelo de desenvolvimento humano para o restodo mundo — o sistema social e político ainda é ditatorial, direitos humanos são desrespeitados e a poluição ambiental é das piores do mundo. Porém, a situação atual daquele país em nada se compara com sua situação quatro ou cinco décadas atrás. Em resumo, ainda que nossa própria história só possa ser compreendida à luz do ambiente em que ela se inicia e se desenrola — um ambiente globalizado e massificado —, ela só se realiza através do pleno exercício dos direitos e deveres individuais, o que obviamente exige que olhemos para nós mesmos e reconheçamos aquilo que temos de particular e único. Tem sido assim com todos os países que se inserem no processo de globalização e é assim com cada pessoa que se vê diante da necessidade de sobreviver num mundo cada vez mais complexo. Como vimos no conteúdo teórico, a globalização é um fenômeno que tem efeitos positivos e negativos. Às vezes, esses efeitos se confundem, seja pela análise realizada pelos críticos e estudiosos desse fenômeno, seja pelo fato simples de que se trata de um fenômeno contínuo. Isto significa que um efeito que se mostra positivo no início, ao longo do tempo pode se mostrar muito negativo, ou vice-versa, seja porque os critérios de análise se modificam, seja porque o próprio efeito acaba se alterando. Tendo isso em vista, quero apresentar a vocês dois textos: um contra a globalização e outro favorável ao fenômeno. Se no conteúdo teórico nosso esforço foi no sentido de compreender o que é o nosso objeto de estudo evitando escolher um «lado», desta vez vamos olhar com mais atenção o que cada «time» tem a dizer. Embora às vezes estes textos tenham como objetivo específico atrair simpatizantes para uma causa pró- ou anti-globalização, a leitura de dois textos dissonantes poderá ajudar vocês, caros estudantes, a buscar as suas próprias conclusões, para além da simpatia ou da antipatia que cada texto possa criar. O primeiro texto é «A globalização é ótima», de Tom Palmer. Neste texto o autor derruba alguns mitos sustentados pelos críticos da globalização e explica alguns de seus efeitos positivos. Como fica evidente já no título, Palmer é um entusiasta da globalização e vê neste fenômeno a solução para vários males econômicos e políticos. O segundo texto é «Globalização e geografia em Milton Santos», de Wagner Costa Ribeiro, pesquisador da FFLCH-USP. Milton Santos foi um proeminente e premiadíssimo geógrafo brasileiro, falecido em 2001. Crítico da globalização, Milton Santos defende a ideia de uma «globalização solidária». Nesse texto, Ribeiro analisa esta ideia e apresenta a crítica de Milton Santos à globalização. Boa leitura a todos. Material Complementar Acesse aqui os textos recomendados: • A globalização é ótima http://www.ordemlivre.org/2007/10/a-globalizacao-e-otima/ • Globalização e Geografia em Milton Santos http://www.ub.edu/geocrit/sn/sn-124h.htm _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ Anotações
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