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Estudos Sociais II

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Prévia do material em texto

Estudos Sociais 
e Ambientais 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Material teórico 
 
Responsável pelo Conteúdo: 
Prof. Ms. Marcello Alves 
 
Revisão Textual: 
Profa. Dr. Patricia Silvestre Leite Di Iorio 
Globalização 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Globalização 
Nesta unidade você irá aprender sobre um conceito 
amplamente utilizado na atualidade a “globalização”. 
No material teórico, você encontrará um texto sobre 
globalização de autoria de Tânia Bacelar. Mesmo que este 
pareça difícil num primeiro momento, não desista. Na 
seqüência a autora apresenta vários exemplos que ajudam a 
compreender e clarear o material teórico. 
 
Atenção 
Para um bom aproveitamento do curso, leia o material teórico atentamente antes de realizar 
as atividades. É importante também respeitar os prazos estabelecidos no cronograma. 
 
 
 
 
 
 
Uma das melhores explicações já feitas sobre o fenômeno da globalização foi feita pelo 
economista norte-americano Milton Friedman em um dos capítulos de seu documentário 
«Liberdade de Escolha» (de 1980, mas que até hoje permanece atualíssimo). A explicação é 
conhecida como «A história de um lápis». Nela, Friedman manuseia um lápis e explica todos 
os elementos e fatores que confluem para a produção de um item tão corriqueiro e banal. O 
texto é o que se segue (a referência completa deste texto pode ser encontrada nas referências 
da Unidade II): 
 
A história de um lápis 
por Milton Friedman 
 
Veja este lápis. Não existe uma só pessoa no mundo que poderia fazer este lápis. Uma 
afirmação extraordinária? De jeito nenhum. 
A madeira de que é feito, pelo que eu sei, vem de uma árvore derrubada no estado de 
Washington. Para cortar aquela árvore foi necessária uma serra. Para fazer a serra foi 
necessário aço. Para fazer o aço foi necessário minério de ferro. 
Este centro escuro [do lápis], nós chamamos de chumbo, mas é na realidade grafite, 
grafite comprimido. Eu não tenho certeza de onde ele vem, mas acho que vem de algumas 
minas da América do Sul. 
Este topo vermelho aqui, o apagador [na outra ponta do lápis], um pouco de borracha, 
provavelmente vem da Malásia, de onde a seringueira não é sequer nativa. Ela foi importada 
da América do Sul por alguns homens de negócios com a ajuda do governo inglês. Este 
envoltório de latão [que circunda a borracha], eu não faço a menor idéia de onde ele veio, ou 
a tinta amarela, ou a tinta que faz as linhas pretas [do acabamento externo do lápis], ou a cola 
que o mantém inteiro. 
Contextualização 
 
 
Literalmente milhares de pessoas cooperaram para que este lápis fosse feito. Pessoas 
que não falam a mesma língua; que praticam religiões diferentes; que poderiam se odiar umas 
às outras caso se encontrassem. 
Quando você vai a uma loja e compra este lápis, você está na verdade trocando alguns 
minutos do seu tempo por alguns segundos do tempo de todos aqueles milhares de pessoas. 
O que as reuniu e as levou a cooperar para produzir este lápis? Não houve um 
comissário emitindo ordens de um escritório central. Foi a mágica do sistema de preços, a 
operação impessoal dos preços, que os reuniu e os fez cooperar para produzir este lápis, para 
que você possa tê-lo por uma quantia insignificante. É por isso que o funcionamento do livre 
mercado é tão essencial, não apenas para promover eficiência produtiva, mas ainda mais, para 
promover harmonia e paz entre os povos. 
 
Friedman não faz referência direta ao termo «globalização», mas a ideia da globalização 
permeia todo o seu discurso. É evidente que a cooperação a que Friedman se refere é a 
mesma força que faz com que pessoas, empresas, instituições, organizações e países inteiros 
interajam de forma relativamente harmoniosa. 
Além disso, as questões que ele levanta para um único lápis valem para praticamente 
todos os objetos a sua volta. Tente imaginar, por exemplo, a quantidade de processos, 
relações e técnicas que precisaram convergir para produzir um único computador e fazê-lo 
chegar a sua casa. Imagine também as diferentes origens das peças e materiais que o 
compõem. Se, como Friedman explica, não conseguimos responder isso para um único lápis, 
imagine para um computador. 
Compreender a globalização exige que observemos estas coisas e que compreendamos 
a medida da presença desse fenômeno em nossas vidas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O que é Globalização? 
Globalização é o processo pelo qual diversos países se integram e interagem econômica 
e culturalmente. É um fenômeno inerente ao capitalismo, necessário para sua expansão. A 
globalização começa com a saturação dos mercados em países mais desenvolvidos; as 
empresas desses países buscam então outros mercados em outros países, como forma de 
dinamizar e expandir seus negócios. 
Embora as discussões relevantes a respeito da globalização tenham começado há 
poucas décadas e o próprio termo tenha surgido há pouco mais de meio século, trata-se de 
fenômeno antigo. 
A globalização tem início com o mercantilismo, conjunto de práticas econômicas que 
predominou nos países europeus (inicialmente Portugal e Espanha, depois a Inglaterra) entre 
os séculos XV e XVIII e que priorizou o comércio exterior, o acúmulo de metais preciosos e a 
obtenção de balança comercial favorável. Estas práticas dependeram de dois fatores que 
vieram a marcar a globalização até nossos dias: a tecnologia e a ideologia política. No 
mercantilismo, boa parte das ações globalizantes só foram possíveis com o desenvolvimento 
da tecnologia de navegação e de políticas centradas no fortalecimento das nações, isto é, do 
poder do Estado, única entidade capaz de organizar as economias nacionais e viabilizar os 
projetos expancionistas que deram início ao colonialismo e ao imperialismo. 
Como vimos na Unidade I, o desenvolvimento da economia e da tecnologia levou ao 
florescimento da indústria em alguns países. O exemplo mais relevante disso foi a Inglaterra, 
pioneira da Revolução Industrial. Na Inglaterra, o mercantilismo criou as bases econômicas 
que mais tarde trariam a industrialização, processo que teve início no séc. XVIII. 
Este primeiro movimento de globalização trouxe implicações culturais importantes. O 
colonialismo, inerente ao mercantilismo, fez com que Portugal e Espanha tivessem uma 
relação bastante complexa com os lugares e povos colonizados. Por exemplo, elementos como 
o idioma, hábitos e outras características culturais foram transferidas aos colonizados. Isto, por 
exemplo, influenciou fortemente a formação dos países latino-americanos, como o Brasil. O 
mesmo pode ser dito da Inglaterra e de sua principal ex-colônia, os EUA. 
Material Teórico 
 
 
Mesmo que hoje muitos não vejam os séculos anteriores ao séc. XX como exemplos de 
globalização, é evidente que aquele período foi marcado por diversos fenômenos que hoje 
podemos reconhecer como globalização. 
 
 
Globalização, século XX 
O que marca a globalização tal como a conhecemos hoje? 
A exemplo do que ocorreu entre os séculos XV e XVIII, a globalização observada no 
século XX também foi uma consequência do desenvolvimento econômico, tecnológico e de 
intensas transformações sociais e culturais. Como indicamos na Unidade I, estas 
transformações foram as principais causas da passagem da sociedade industrial para a 
sociedade pós-industrial. Vamos rever as principais características da sociedade pós-industrial: 
 Expansão tecnológica, sobretudo com o advento da eletrônica e da microeletrônica. 
 Expansão das telecomunicações, facilitaçãodos meios de acesso a esses recursos. 
 Aumento da disponibilidade de bens de consumo e disseminação do consumo como 
hábito comum ao homem moderno. 
 
Como é possível notar, esses três itens não são apenas características da sociedade pós-
industrial, são também as causas da passagem da sociedade industrial para a pós-industrial. 
Notem também que esses três fatores estão interligados: a expansão tecnológica permite a 
expansão das telecomunicações, que ajuda a disseminar elementos sociais e culturais que 
abrem espaço para o consumo etc. 
Há um quarto fator que também é característico da sociedade pós-industrial e que, ao 
mesmo tempo, tem sido uma das causas das intensas transformações sociais e ambientais das 
últimas décadas. Este quarto fator é a própria globalização. O que vemos a partir da década 
de 1950 é um processo muito mais complexo e amplo. Para começar a estudar o que é a 
globalização no período pós-industrial precisamos dividi-la em dois campos, o cultural e o 
econômico. 
Culturalmente, a globalização é um fenômeno marcado pelo surgimento e pela 
expansão de sociedades de consumo. Com o fim da Segunda Guerra Mundial, o consumo 
 
 
passa a ser encarado como prática vantajosa para a economia das nações e estimulado 
através da mídia e de políticas nacionais. Isto só foi possível com a expansão dos meios de 
comunicação e dos meios de transporte — dois frutos do desenvolvimento tecnológico. A 
sociedade de consumo trouxe um forte impacto sócio-cultural não apenas no país pioneiro 
nestas tendências, os EUA, mas também em praticamente todo o mundo, que era influenciado 
pela hegemonia cultural, política e econômica daquele país. É neste período, por exemplo, 
que se estabelece o american way of life, a TV se expandiu e se popularizou e modas norte-
americanas se espalham pelo mundo. 
Economicamente, a globalização manteve sua principal característica, observada desde 
o tempo das navegações: a expansão de mercados. O êxito econômico e o desenvolvimento 
tecnológico mais uma vez criaram as condições que permitiram que algumas empresas 
crescessem e buscassem novos mercados. Se antes as indústrias precisavam estar próximas de 
fontes de energia e de matérias-primas, com a globalização essa dependência é cada vez mais 
determinada por fatores como a disponibilidade de mão-de-obra barata, a proximidade dos 
principais centros de consumo, a oferta de vantagens tributárias e os conjuntos de leis federais 
e estaduais que regem a produção industrial em determinados locais — todos estes fatores 
visam, obviamente, a reduzir os custos de produção. 
É nesta época que indústrias automobilísticas intensificam a instalação de fábricas fora 
de seus países de origem (no Brasil, por exemplo, isto levou ao estabelecimento de várias 
industrias na região do Grande ABC). Esse processo é repetido por empresas de diversos 
tipos, como fabricantes de eletrodomésticos e outros bens de consumo. A expansão de 
mercados, portanto, é sempre acompanhada pela expansão industrial. É o período de 
surgimento de empresas multinacionais ou transnacionais, isto é, empresas que possuem 
matrizes num país e filiais em várias partes do mundo; muitas vezes essas filiais têm dimensões 
físicas, organizacionais e financeiras muito maiores do que suas matrizes. 
Este processo de expansão industrial e de mercados continua acontecendo até hoje. No 
Brasil, por exemplo, se no início do período pós-industrial recebemos fábricas alemãs e norte-
americanas de automóveis, décadas mais tarde passaríamos a receber montadoras japonesas, 
em seguida francesas e, mais recentemente, sul-coreanas e chinesas. 
Outra característica econômica da globalização no séc. XX é a velocidade. Mais uma 
vez a tecnologia teve papel fundamental: foi ela que permitiu a aceleração da circulação de 
 
 
informações e de mercadorias. Se no início da industrialização informações e mercadorias 
demoravam semanas para ir de um país a outro, hoje as informações são transmitidas em 
tempo real e mercadorias são transportadas de um lado a outro do mundo em questão de 
horas ou poucos dias. 
A combinação de fatores econômicos e culturais faz surgir também neste período de 
intensa globalização a noção de capital especulativo, a ideia de que a própria circulação de 
dinheiro e o sistema financeiro são elementos estruturantes da economia de um país. As 
oscilações dos mercados de ações e as tendências político-econômicas passam a ser ainda 
mais decisivas para nações inteiras e intensificam a dissolução das fronteiras. As principais 
crises econômicas internacionais das últimas décadas são frutos diretos da globalização. 
Por fim, uma última característica da globalização é a formação de blocos econômicos. 
O exemplo mais evidente disso é a União Europeia, que começa com o afrouxamento das 
fronteiras econômicas entre os países que compõem esse bloco e que, em seguida, leva a uma 
união também política. Outros exemplos de blocos econômicos são o Mercosul e o NAFTA 
(North American Free Trade Agreement, ou seja, Tratado Norte-Americano de Livre 
Comércio). 
Curiosamente, esses blocos econômicos podem ser entendidos como reações à 
globalização. Muitos desses blocos econômicos surgem como forma de compensar a pressão 
política e econômica que alguns países sofrem com a globalização. Com efeito, em muitos 
casos o peso da globalização tem levado alguns países a rever suas políticas protecionistas, o 
que, embora pontual, é uma óbvia reação à globalização. 
 
 
Os Efeitos da Globalização 
Como vimos, logo após a Segunda Grande Guerra o mundo mergulhou numa espécie 
de euforia de produção, consumo e comunicação. Com isso, os efeitos danosos da 
globalização não demoraram a surgir. 
 
1. Problemas ambientais 
O primeiro e talvez o efeito mais danoso da globalização foi a poluição ambiental. 
Durante a expansão industrial no início do segundo pós-guerra ainda era comum a ideia de 
 
 
que os recursos naturais eram infinitos. As questões ambientais só começaram a fazer parte 
das discussões públicas a partir da década de 1960, mas só na década seguinte é que surgem 
as primeiras políticas nesse sentido. O advento da sociedade pós-industrial (sociedade de 
consumo) trouxe pelo menos duas décadas de poluição e de degradação ambiental sem 
qualquer restrição ou regulação. 
A poluição está ligada não apenas à intensificação da industrialização, mas também ao 
aumento do consumo e à expansão urbana (demográfica e territorial). A intensificação das 
atividades industriais somada ao uso crescente de máquinas nas atividades agrícolas 
impulsionou o êxodo de populações rurais para as cidades. 
Podemos considerar que, se a industrialização degrada o meio ambiente por vias 
diretas (pois há muitos processos industriais altamente poluentes), a expansão urbana e o 
aumento do consumo causam degradação ambiental por vias indiretas. Como exemplo, 
temos a ocupação urbana desordenada e as enchentes, a produção de lixo e a poluição do ar 
causada pelos automóveis. Praticamente todos os problemas ambientais que vemos hoje nas 
cidades brasileiras são frutos da expansão demográfica/urbana. É fácil deduzir também que a 
especulação imobiliária, que traz tantos problemas para as cidades, é uma das consequências 
da expansão dos mercados financeiros e da noção de capital especulativo. 
 
2. Supremacias internacionais 
Outro problema associado à globalização é a hegemonia dos países que se situam no 
«centro» desse processo em detrimento dos países chamados «periféricos». Assim como no 
passado, países como Inglaterra, Portugal e Espanha foram os protagonistas da globalização, 
com o advento do período pós-industrial este lugar passou a ser ocupado pelos EUA.O que esta hegemonia significa? Significa que os valores, os princípios e as regulações 
que determinarão as trocas que caracterizam a globalização serão estabelecidas 
prioritariamente pelo país protagonista e por seus aliados e para o seu próprio benefício. O 
êxito militar dos EUA na Segunda Guerra Mundial foi convertido em êxito econômico e desde 
então a combinação de poder militar e poder econômico tem sido a principal explicação para 
a hegemonia norte-americana. 
 
 
 
Após o final da Segunda Guerra Mundial o mundo foi dividido em dois blocos político-
econômicos — um socialista, sob influência da então União Soviética, e outro capitalista, sob 
influência dos Estados Unidos. Num primeiro momento esta influência foi somente econômica 
e se traduzia principalmente na ajuda econômica norte-americana aos países destruídos pela 
guerra, como os europeus e o Japão. 
Essa hegemonia não influenciou apenas o campo econômico. Como é fácil imaginar, 
essa hegemonia assegura também a disseminação da cultura norte-americana como modelo 
para boa parte do mundo. De fato, é isto que temos observado nas últimas décadas e que 
continuamos observando até hoje. O consumismo é um exemplo óbvio de criação cultural 
norte-americana que se espalhou pelo mundo, assim como as «indústrias» da mídia, do 
entretenimento e do turismo. 
A médio e longo prazos, esta hegemonia cultural tem trazido a dissolução das 
identidades nacionais nos países sob influência da cultura dominante. Vários exemplos disso 
podem ser encontrados, por exemplo, na América Latina, sobretudo por sua histórica 
dependência econômica dos países mais ricos. As decisões políticas nos países latino-
americanos passam assim a serem realizadas em função do interesse em manter as relações 
econômicas com os países dominantes. Em grande medida, esse processo foi o resultado da 
aplicação da política econômica que conhecemos como neoliberalismo. 
O neoliberalismo é a ideologia que privilegia a eficiência, a competição e o livre 
comércio entre os países. Porém, como vimos acima, a competição e o livre comércio podem 
ser bastante desiguais se as regras para essas relações ignorarem as particularidades dos países 
participantes. Na prática, o que vemos é o uso do poder militar e político para definir as 
relações comerciais entre países. Diante disso surge a necessidade de regular estas relações 
entre os países e de fazer com que essa regulação não seja influenciada pelos países 
dominantes; em outras palavras, surge com a globalização a necessidade de estabelecer 
cúpulas decisórias mundiais, supranacionais, inclusive para prevenir ou reduzir os riscos de 
conflitos armados e de batalhas econômicas. 
Isto já havia sido feito logo após a Segunda Guerra Mundial, quando foram criadas 
diversas instituições e regulamentos mundiais: 
 
 
 
• 1944: FMI (Fundo Monetário Internacional, criado com o propósito de manter a 
estabilidade financeira do mundo); 
• 1945: ONU (Organização das Nações Unidas); 
• 1947: GATT (General Agreement of Tarifs and Trades, Acordo Geral de Tarifas 
e Comércio, substituído pela OMC, Organização Mundial do Comércio, em 
1995); 
• 1948: OMS (Organização Mundial da Saúde, subordinada à ONU) e Declaração 
Universal de Direitos Humanos; 
• 1949: OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte). 
 
Embora a criação desses órgãos e regulações tenham equilibrado relações 
internacionais e prevenidos conflitos militares e econômicos, em muitas discussões 
internacionais ainda observamos a prevalência dos interesses de países mais ricos em 
detrimento dos interesses de países mais pobres, a ponto dos países se dividirem em «sub-
cúpulas» para discutirem seus interesses particulares. Um dos exemplos disso, é o Fórum 
Econômico Mundial, estabelecido em 1971 em Davos, na Suíça, onde anualmente se reúnem 
os líderes dos países mais ricos. Em oposição ao Fórum Econômico Mundial, foi criado em 
2001 o Fórum Social Mundial, fortemente baseado no ativismo latinoamericano de esquerda, 
que já se manifestava de forma organizada contra a ideologia neoliberal desde 1996. 
O que foi explicado até aqui seria suficiente para combatermos severamente a 
globalização. Por exemplo, muitos críticos atribuem à globalização a intensificação das 
desigualdades nacionais e internacionais. O raciocínio que leva a essa interpretação é o 
seguinte: 
1) A expansão industrial e comercial iniciada pelos países ricos depende da obtenção 
de matérias-primas e de mão-de-obra, geralmente abundantes em países pobres. 
2) Num primeiro momento isto estabelece uma relação bastante desigual entre o país 
que pretende se expandir comercial e industrialmente e os países que fornecerão 
mão-de-obra e matérias-primas. Esses abrirão mão de alguns de seus direitos em 
troca do dinheiro daquele país mais rico. 
3) Como os países fornecedores de mão-de-obra e de matérias-primas nem sempre 
são países politicamente estáveis, surgem dois problemas: 
 
 
i. a fraqueza política desses países abre espaço para a exploração interna e 
externa; 
ii. os ganhos obtidos com essas relações comerciais internacionais nem sempre 
é revertido em benefícios diretos para a população local. 
 
4) Num primeiro momento, o que se destaca é o asseveramento dos problemas sociais 
nos países pobres que aceitaram acordos econômicos com países ricos, o que leva 
os críticos da globalização a concluir que foi a influência desses países que causou o 
asseveramento dos problemas nos países pobres. 
 
Este raciocínio se apoia também na ideia de que o enriquecimento de alguns países é 
causa e consequência do empobrecimento de outros países, que é o chamado «Princípio da 
Soma Zero». Mas o raciocínio não é tão simples. Sabemos, pela prática, que a movimentação 
econômica entre duas regiões traz prosperidade para ambas. Esta prosperidade se expressa na 
melhoria das condições de vida nas duas regiões que se relacionam comercialmente. 
Na verdade, a região que fornece bens básicos como mão-de-obra e matérias-primas já 
era rica em alguma medida, apenas não tinha os meios de converter essa riqueza em recursos 
financeiros — chamemos isto de riqueza econômica potencial ou latente. O estabelecimento 
de uma relação comercial com um país rico viabiliza a conversão dessa riqueza econômica 
potente ou latente em riqueza econômica real ou patente, já que com ela o país que forneceu 
mão-de-obra e matérias-primas terá o dinheiro para adquirir outros bens e para se 
desenvolver. Este é um dos pressupostos econômicos da globalização: a ideia de que dois 
lugares que estabelecem algum tipo de relação possuem bens através dos quais esta relação se 
tornará interessante para ambos. 
Mas isto também não é tão simples. No item 3, indicado anteriormente, mencionamos 
a instabilidade política como fator negativo nas relações comerciais decorrentes da 
globalização. O que isto significa? 
Compreender isto ficará mais fácil se lembrarmos da situação de vários países da África 
e do Oriente Médio. Alguns destes países são extremamente ricos em petróleo e metais 
preciosos. De fato, a maioria se consagrou como fornecedora desses bens para países ricos. 
Apesar disso, são países com índices de desenvolvimento humano baixíssimos, entre os piores 
do mundo. Por quê? 
 
 
Se olharmos com mais atenção a história e a organização social, política e cultural 
desses países, notaremos que todos eles são países de fortes instabilidades políticas e sociais 
internas. São lugares marcados por governos ditatoriais e/ou corruptos, por guerras civis e 
outros conflitos internos, sociais e étnicos. Com isso, nos países pobres a riqueza decorrente 
das relações comerciais com países ricos é filtrada pela corrupçãoe consumida pelos conflitos 
internos. 
Em alguns países da América Latina, sobretudo entre as décadas de 1960 e 1980, as 
ditaduras militares foram o principal fator de instabilidade interna. O Brasil parece ter sido 
uma exceção, com crescimento econômico anual na casa dos 7,5% no período dos governos 
militares e com redução da miséria a taxas proporcionais (sobretudo no período do chamado 
«Milagre Econômico», de 1968 a 1973), embora os problemas sociais persistam até hoje por 
diversos fatores. Na África, guerras civis e conflitos étnicos são os principais causadores de 
fome e pobreza em alguns países deste continente. Isto tem sido explicado em livros e 
retratado em filmes como «Hotel Ruanda» (2004) e «Diamante de Sangue» (2006). 
A globalização não é um fenômeno naturalmente pernicioso. Todos os seus efeitos 
dependem em alguma medida de fatores alheios ao próprio processo da globalização. Nos 
lugares frágeis e instáveis politicamente, a globalização pode agravar os problemas sociais, 
como tem ocorrido em alguns países da África e da América Latina. Onde existe uma razoável 
organização política e um senso de identidade nacional, a globalização tem trazido benefícios 
palpáveis para a maioria da população, como em muitos países europeus do antigo bloco 
socialista. 
Quando analisamos atentamente os efeitos negativos da globalização, com frequência 
nos deparamos com um efeito positivo, ou vice-versa. Vamos rever alguns destes efeitos e 
analisar mais alguns: 
1) O comércio livre, decorrente da globalização, aproxima os países e reduz as 
condições que conduzem aos conflitos armados. Em outras palavras, a globalização 
ajuda a promover a paz. Nações em guerra não realizam trocas entre si e têm 
dificuldades de realizar trocas com nações em paz. 
2) O comércio livre gera riqueza. Dissemos acima que a movimentação econômica 
entre duas regiões traz prosperidade para ambas. Uma possui algo que a outra não 
tem, assim a troca se realiza. Esta riqueza só não se converte em benefícios para as 
 
 
populações dessas duas regiões em condições muito particulares, alheias à 
globalização. 
3) Dois problemas associados à globalização, a degradação do meio ambiente e o 
consumo excessivo dos recursos naturais, têm sido solucionados com dois recursos 
fortemente ligados à própria globalização: recursos financeiros e tecnologia. Obras 
como o livro «O Ambientalista Cético», do cientista dinamarquês Björn Lomborg, 
têm demonstrado que o que a solução dos problemas ambientais não está no 
controle populacional e na redução da produção de bens de consumo a níveis 
medievais (como querem muitos ambientalistas), mas na criatividade e na 
tecnologia e na aplicação de recursos financeiros e políticos na regulação do uso 
dos recursos naturais. Com efeito, numa análise comparativa, percebemos que os 
países mais com maior estabilidade política e mais desenvolvidos social, cultural e 
economicamente são os que têm obtido os melhores resultados nas ações de 
recuperação e preservação do meio ambiente. 
 
O que se pode deduzir do que foi dito até aqui é que a globalização não é fenômeno 
simples. Cada nação do mundo responde de uma forma diferente aos apelos da globalização. 
O que é bom para um país pode ser péssimo para outro. O que eleva a condição social de um 
país pode levar ao enriquecimento de uma elite política ou econômica local em outro, 
agravando as desigualdades neste lugar. 
Ironicamente, reações negativas à globalização têm se mostrado tão globalizantes 
quanto as próprias forças que elas pretendiam combater, às vezes trazendo fortes influências 
externas e impactos danosos sobre a soberania e a organização interna de certos países. Um 
exemplo disto é a questão ambiental. Como foi amplamente demonstrado pelo cientista 
francês Pascal Bernardin em sua conferência «A face oculta do mundialismo verde» 
(BERNARDIN, 1999), o discurso ecológico tem sido usado para justificar a interferência nas 
políticas internas de diversos países. 
Apenas para citar um exemplo: os problemas ambientais observados no período de 
auge da globalização (entre as décadas de 1970 e de 2000), fizeram com que boa parte da 
mídia mundial voltasse seus holofotes para a Amazônia. Com base no argumento de que se 
trata de um patrimônio natural mundial degradado pelos efeitos da globalização, surgiram 
 
 
especulações em torno da internacionalização dessa região. Isto, é claro, implicaria transferir o 
seu gerenciamento do Brasil para um órgão mundial como a ONU, que é fruto da 
globalização e agente globalizante. Processo semelhante tem ocorrido pelo viés da saúde, via 
OMS, e da economia, via FMI e OMC: com o pretexto de combater os efeitos da globalização, 
estas organizações mundiais acabam por intensificá-lo, reafirmando e ampliando seu próprio 
poder sobre as nações. 
Fica claro, portanto, que a globalização é processo complexo, que pode ser 
interpretado e aproveitado de diversas formas, por diversos agentes. 
 
 
Indivíduo, Cultura de Massa e Globalização 
Diante de tamanha complexidade, surge a sensação de que nós, como indivíduos — 
estudantes ou profissionais — temos pouca ou nenhuma chance de interferir em todos esses 
processos. 
O advento da sociedade de consumo, não significou o abandono de todos os valores 
criados e adotados pela sociedade industrial, mas sim sua renovação e reafirmação. Entre 
esses valores, a cultura de massa é o elemento comum às tendências do período industrial e 
do pós-industrial. A cultura de massa pode ser definida como a somatória das ideias e 
tendências culturais mais comuns e mais aceitas por uma determinada sociedade. Há na 
cultura de massa a ideia de uniformização de hábitos e formas de pensar. 
Teóricos do final do séc. XIX já denunciavam os riscos da cultura de massa e 
propunham alternativas em suas respectivas áreas. Na área ambiental e urbanística, destaca-se 
Ebenezer Howard e suas cidades-jardim; Howard defendia o retorno ao campo e a integração 
entre cidade e natureza como forma de lidar com os problemas do desenvolvimento 
econômico e urbano. 
O processo através do qual se cria a cultura de massa chama-se massificação. Num 
plano material, a massificação expressa-se nos processos industriais e na produção em série de 
bens de consumo, como foi retratado pelo filme «Tempos Modernos» (1936), de Charles 
Chaplin. 
 
 
 
Com a Primeira Grande Guerra, a produção industrial em série mostrou sua utilidade 
estratégica tanto na viabilização dos conflitos (sobretudo na produção de armamentos), como 
na reconstrução que se lhe seguiu. A arquitetura moderna também é fruto do 
desenvolvimento da tecnologia e da massificação dos processos produtivos. Um dos símbolos 
deste período é a linha de produção criada por Henry Ford em 1914, que permitiu que o 
automóvel se popularizasse e que tornou o Ford 29 o primeiro sucesso de vendas da indústria 
automobilística. A eclosão da Segunda Grande Guerra serviu para reforçar esse êxito e 
reafirmar o poder da produção industrial em série. 
Num plano cultural, a massificação começa com o desenvolvimento e com a expansão 
dos meios de comunicação, que em seguida origina os meios de comunicação em massa, ou 
«mass media». Entre os frutos deste período estão os principais jornais, redes de TV e 
empresas de comunicação que vemos hoje em dia — sem eles a cultura de massa 
simplesmente não existiria. Décadas depois do advento da TV viria a Internet, que, como 
sabemos, levou a cultura a um nível até então impensável. 
Em resumo: a tecnologia trouxe o aperfeiçoamento dos meios de produção e a 
produção em série; a produção em série facilitou o acesso aos bens de consumo e à 
comunicação; por fim, a popularizaçãodos bens de consumo e a facilitação da comunicação 
representaram o início da cultura de massa. 
Além disso, a cultura de massa estabeleceu uma hierarquia que prevalece até nossos 
dias: o acesso a bens de consumo e aos meios de comunicação, dois efeitos positivos da 
globalização, depende da aceitação da cultura de massa e, portanto, do atendimento de certos 
requisitos. Quais são esses pré-requisitos? Vejamos um exemplo específico: 
1) Adquirir um automóvel não depende apenas de dinheiro, mas também da 
aceitação de um sistema complexo que vai desde os meios de produção até o 
discurso das campanhas publicitárias. Comprar um carro significa aprovar estas 
e outras coisas. 
2) Quem compra um carro não o faz apenas por uma necessidade pessoal e 
particular, mas porque vive num ambiente que cria essa necessidade. Hoje este 
ambiente é a sociedade de consumo, regida pela cultura de massa. 
3) Em outras palavras, a simples posse de um carro significa que você se «alinhou 
ao sistema», isto é, não apenas pagou por ele (isto é, trocou o seu tempo de 
 
 
trabalho por esse bem), mas também atendeu às exigências de autoridades, 
pagou taxas e cumpriu todas as formalidades que lhe permitirão dirigir um carro 
pelas ruas de uma cidade. 
 
 
Na linguagem atual, «alinhar-se ao sistema» significa «ser apenas mais um», algo que a 
maioria das pessoas considera muito ruim. 
A cultura de massa criou estratégias para lidar com quem não quer «ser apenas mais 
um»: a indústria encontrou vários meios para continuar produzindo em série bens que são 
considerados exclusivos por quem os adquire e os usa. Nos dois casos — alinhar-se ao sistema 
ou não se alinhar ao sistema — o indivíduo está irremediavelmente inserido na sociedade de 
consumo e depende dela para viver. Por exemplo, você decide não ter um carro (porque não 
tem dinheiro ou porque não quer), mas precisará usar o transporte público ou terá de comprar 
uma bicicleta (que foi fabricada por uma indústria). Não há escapatória. Você é apenas «mais 
um». 
Mas este raciocínio tem algumas falhas. A principal falha está em achar que «ser apenas 
mais um» é um problema. Mas se se trata de uma condição universal (hoje todos nós 
nascemos e vivemos numa sociedade massificada), então o problema importante está em não 
compreender o que essa condição realmente significa na prática, quais são os limites reais em 
uma cultura globalizada e massificada. Vejamos: 
1) Todas as inovações tecnológicas que criaram as bases para a globalização, para 
a massificação e para a sociedade de consumo foram criadas e desenvolvidas 
primeiramente por indivíduos. 
2) Todas as interpretações da realidade começam com reflexões individuais. Todas 
as ideologias nascem de ideias e ideias vêm de indivíduos. O mesmo se dá com 
a cultura de massas. 
3) Por mais massificada que seja uma sociedade, por maior que seja o peso da 
cultura de massa, todos os sistemas pelos quais ela se mantém e se reproduz 
dependem do indivíduo tanto quanto o indivíduo depende dessa sociedade. A 
massificação não consegue descartar a diversidade que é inerente à condição 
humana. 
 
 
 
Em resumo, embora a principal característica da sociedade de consumo e da cultura de 
massa seja a uniformização dos modos de vida e dos modos de pensar, é através da 
consciência individual que essas duas ações (viver e pensar) efetivamente se realizam. A 
pressão social que nos induz a um modo de vida massificado não altera o fato simples de que 
essa vida só acontece individualmente, isto é, com cada pessoa sendo exatamente quem ela é 
e realizando ações conforme suas capacidades particulares. 
O mesmo acontece com a globalização e os países que participam dela: a globalização 
tende a nivelar e uniformizar os países, mas eles só conseguem participar da globalização na 
medida em que oferecem aquilo que eles têm de mais típico e mais particular. 
Um exemplo bastante banal é o dos restaurantes italianos. Por causa da globalização, 
hoje você não precisa ir à Itália para comer comida italiana. Porém, os restaurantes italianos 
não atrairiam clientes se servissem, por exemplo, comida japonesa. Para isto já existem os... 
restaurantes japoneses. Assim, o que torna os restaurantes italianos atraentes em várias partes 
do mundo é o fato de eles continuarem servindo comida típica da Itália. Em outras palavras, a 
globalização precisa respeitar certos limites e é o que acaba acontecendo de fato. Mesmo que 
não faltem críticos à cultura de massa, a globalização não é tão globalizante como imaginamos 
e a massificação também não é tão massificante como nos fizeram acreditar. A pressão 
massificante da globalização e das sociedades de consumo tem limite. 
Para que isto fique mais claro, analisemos um caso curioso em que a cultura de massa 
e a globalização têm atuado de formas paradoxais. 
A China, país mais populoso do mundo, sofreu com décadas de ditadura comunista. O 
totalitarismo impetrado pelo líder Mao Zedong a partir da Revolução Comunista, em 1949, 
significou o fim das liberdades individuais e a implantação da vigilância estatal sobre as vidas 
das pessoas. Isto trouxe também o controle estatal da economia e o cerceamento de toda a 
livre iniciativa. Um dos reflexos imediatos disso foi o empobrecimento da população. Entre 
1959 e 1962 a política desenvolvimentista de Mao Zedong levou à morte de mais de 20 
milhões, a maioria por fome. Ao todo, entre 1949 e 1987 cerca de 76 milhões de mortes 
foram causadas direta ou indiretamente por ações do governo maoísta (RUMMEL, 2002). 
Em casos como o da China maoísta, a cultura de massa foi um catalisador do 
totalitarismo. Isto foi magistralmente descrito em dois livros: «1984», de George Orwell, e 
 
 
«Admirável Mundo Novo», de Aldous Huxley. Não à toa a Coreia do Norte é hoje descrita por 
alguns críticos como «pesadelo orwelliano» (HITCHENS, 2006), a exemplo do que há poucas 
décadas foi a China. 
Por relacionarem a cultura de massa a um sistema econômico particular (capitalismo), 
muitos analistas não consideram a China maoísta um bom exemplo de cultura de massa. 
Porém, é evidente que o objetivo dos líderes comunistas foi desde o início instalar em todo 
país uma cultura particular, que ampliasse e garantisse o poder do Estado. A Revolução 
Cultural Chinesa (1966) foi uma das ações utilizadas para realizar esse objetivo. 
A China começou a mudar no final da década de 1970, com o início da abertura 
econômica. O fracasso das ações governamentais prévias e a extrema pobreza da maioria da 
população foram dois fatores determinantes para que isso se tornasse necessário e urgente. 
Assim, ao longo da década de 1980 foram implementadas as decisões políticas e econômicas 
que a partir da década seguinte transformaram a China na potência que é hoje. E, como é 
fácil notar inclusive pelos noticiários, a abertura econômica chinesa não significou apenas a 
modernização e o enriquecimento do país, mas também sua inserção no processo de 
globalização que vinha acontecendo desde a década de 1950. Curiosamente, isso expôs os 
chineses a uma cultura de massa ainda mais avassaladora: a do consumo. 
O exemplo chinês mostra que a cultura de massa tem dois lados. O lado do controle e 
do totalitarismo; e o lado do desenvolvimento econômico, do consumo e da globalização. Nos 
dois casos a sociedade tende a ser uniformizada em seus hábitos e modos de pensar. Porém, 
no primeiro caso a cultura de massa é usada para ampliar e assegurar o poder de uma elite 
política. No segundo, a cultura de massa é usada para atender os interesses de uma elite 
econômica. 
É evidente que a globalização tem problemas. A China ainda está longe de ser um 
modelo de desenvolvimento humano para o restodo mundo — o sistema social e político 
ainda é ditatorial, direitos humanos são desrespeitados e a poluição ambiental é das piores do 
mundo. Porém, a situação atual daquele país em nada se compara com sua situação quatro 
ou cinco décadas atrás. 
Em resumo, ainda que nossa própria história só possa ser compreendida à luz do 
ambiente em que ela se inicia e se desenrola — um ambiente globalizado e massificado —, ela 
só se realiza através do pleno exercício dos direitos e deveres individuais, o que obviamente 
 
 
exige que olhemos para nós mesmos e reconheçamos aquilo que temos de particular e único. 
Tem sido assim com todos os países que se inserem no processo de globalização e é assim 
com cada pessoa que se vê diante da necessidade de sobreviver num mundo cada vez mais 
complexo. 
 
 
 
 
 
Como vimos no conteúdo teórico, a globalização é um fenômeno que tem efeitos 
positivos e negativos. Às vezes, esses efeitos se confundem, seja pela análise realizada pelos 
críticos e estudiosos desse fenômeno, seja pelo fato simples de que se trata de um fenômeno 
contínuo. Isto significa que um efeito que se mostra positivo no início, ao longo do tempo 
pode se mostrar muito negativo, ou vice-versa, seja porque os critérios de análise se 
modificam, seja porque o próprio efeito acaba se alterando. 
Tendo isso em vista, quero apresentar a vocês dois textos: um contra a globalização e 
outro favorável ao fenômeno. 
Se no conteúdo teórico nosso esforço foi no sentido de compreender o que é o nosso 
objeto de estudo evitando escolher um «lado», desta vez vamos olhar com mais atenção o que 
cada «time» tem a dizer. Embora às vezes estes textos tenham como objetivo específico atrair 
simpatizantes para uma causa pró- ou anti-globalização, a leitura de dois textos dissonantes 
poderá ajudar vocês, caros estudantes, a buscar as suas próprias conclusões, para além da 
simpatia ou da antipatia que cada texto possa criar. 
O primeiro texto é «A globalização é ótima», de Tom Palmer. Neste texto o autor 
derruba alguns mitos sustentados pelos críticos da globalização e explica alguns de seus efeitos 
positivos. Como fica evidente já no título, Palmer é um entusiasta da globalização e vê neste 
fenômeno a solução para vários males econômicos e políticos. 
O segundo texto é «Globalização e geografia em Milton Santos», de Wagner Costa 
Ribeiro, pesquisador da FFLCH-USP. Milton Santos foi um proeminente e premiadíssimo 
geógrafo brasileiro, falecido em 2001. Crítico da globalização, Milton Santos defende a ideia 
de uma «globalização solidária». Nesse texto, Ribeiro analisa esta ideia e apresenta a crítica de 
Milton Santos à globalização. 
Boa leitura a todos. 
Material Complementar 
 
 
 
Acesse aqui os textos recomendados: 
• A globalização é ótima 
http://www.ordemlivre.org/2007/10/a-globalizacao-e-otima/ 
 
• Globalização e Geografia em Milton Santos 
http://www.ub.edu/geocrit/sn/sn-124h.htm 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Anotações

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