Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 CLASSIFICAÇÃO DA DOENÇA NEUROLÓGICA Doenças neurológicas podem ser classificadas em 2 tipos: 1-Doença neurológica que surge de deficiência ou excesso nutricional As doenças de etiologia nutricional são atribuídas: • Alcoolismo (causa mais freqüente); • Desnutrição • Má absorção 2-Doença neurológica com etiologia não nutricional A terapia nutricional nesses casos é adjuvante ao controle médico. LESÕES, TRAUMAS E SINAIS DE LOCALIZAÇÃO O cérebro é composto pela substância cinzenta (córtex cerebral), substância branca e pelos gânglios da base. O córtex cerebral possui diversas áreas com uma função determinada, que pode ser perdida na ocorrência de uma lesão nesta área. Fig.1 – Anatomia As lesões, traumas ou massas localizadas, acarretam uma série de conseqüências dependendo do local afetado, como: Lobo frontal – Manifestações psiquiátricas (depressão, mania, alteração de personalidade); Lobo frontal próximo a base do crânio – Pode perder olfato e ter alterações visuais; Porção central – Apraxia motora Lobos temporais – Afeta memória, funções da fala e pode ter convulsões; Lobo parietal direito – incapacidade de focalizar atenção, ignora o lado esquerdo do corpo; Junção dos lobos temporal, parietal e frontal – problemas na fala; Lobos occipitais – cegueira cortical; Cerebelo e tronco cerebral – Hidrocefalia; Tronco cerebral - Pode afetar qualquer nervo craniano que inerva a face e cabeça, prejudicando a nutrição do paciente, já que não conseguem se alimentar sem o risco de aspiração de líquidos e alimentos para os pulmões; Medula – Afeta centro respiratório e cardíaco, causam sinais do neurônio motor ao nível da massa e sinais motores superiores abaixo da massa. Hipófise e hipotálamo – Manifestações sistêmicas (anormalidades eletrolíticas e metabólicas secundárias à desregulação de hormônio adrenocortical, tireóideo e antidiurético), déficits binoculares e síndrome da secreção inapropriada de hormônio antidiurético. Hipotálamo – Anorexia ou excesso de alimentação; Nervos periféricos e junção neuromuscular – prejuízo no ato de alimentar-se. TERAPIA NUTRICIONAL O tratamento do pacientes neurológico é complexo. Esses pacientes estão em risco de desnutrição pelo comprometimento de obter, preparar e levar os alimentos à boca, da capacidade cognitiva e pela presença da disfagia. A avaliação nutricional tem como objetivo melhorar os resultados e a qualidade de vida do paciente. A avaliação nutricional deve conter: História dietética – avaliar mastigação, deglutição; História de perda ou ganho de peso – Perda 10% - risco nutricional; Anemia não deve ser observada, pois o ferro é necessário para síntese de dopamina e serotonina. Alterações decorrentes da doença neurológica: Declínio na função e capacidade de cuidar-se; É necessário ajuda para realizar necessidades básicas, como a busca pelo alimento; Nas lesões agudas (Trauma, AVC) – Pode ser necessário o suporte nutricional enteral; Em situações onde o preparo dos alimentos torna-se uma difícil tarefa: Utilizar alimentos de conveniência; Utilizar alimentos prontos, pré-embalados em porções individuais. Questões alimentares O paciente com doença neurológica pode apresentar algumas incapacidades de acordo com a região do SNC que for lesada, incapacitando-o de alimentar-se. Fraqueza dos membros, paralisia do lado dominante – O ato de comer torna-se desagradável e aumenta o risco de aspiração (sentar o paciente ereto); Saciedade precoce – Refeições pequenas e freqüentes podem ajudar; Hemianopsia e negligência – Pode prejudicar o paciente, pois apresenta apenas a visão de uma lado e ignora a parte afetada do corpo; Confusão e demência – Paciente não lembra de alimentar-se, não consegue preparar a alimentação com segurança – É NECESSÁRIO SUPERVISÃO E ASSISTÊNCIA. Processo oral Durante este estágio da alimentação alguns problemas são encontrados, como: Tosse Alimentação prolongada Disfagia TERAPIA NUTRICIONAL NAS NEUROPATIAS Aspiração de alimentos para os pulmões Prof. José Aroldo Filho goncalvesfilho@nutmed.com.br 2 A disfagia é um problema comum nesses pacientes e tem sintomas associados como: babar, sufocar ou tossir após ou durante as refeições, incapacidade de sugar, reflexo de vômito ausente, infecções respiratórias crônicas, perda de peso e anorexia. Deglutição O processo de deglutição pode ser dividido em 3 fases: = O alimento combinado com a saliva é mastigado (se necessário) e um bolo é formado pela língua que empurra o alimento para trás da cavidade oral espremendo-o contra o palato mole e duro. Na Pressão Intracraniana aumentada ou lesão do nervo craniano ocorre enfraquecimento dos movimentos linguais e do músculo labial, levando a dificuldade de formar o bolo e movê-lo. = Esta fase ocorre em 4 eventos consecutivos: Palato mole eleva-se fechando a nasofaringe; Hióide e a laringe se elevam e as cordas vocais protegem a via aérea; Faringe se contrai e o esfíncter cricofaríngeo relaxa permitindo a passagem do alimento para o esôfago; Reinicia-se a respiração. Os sintomas de incoordenação nesta fase incluem vômito, asfixia e regurgitação nasofaríngea. = O bolo prossegue pelo esôfago até o estômago. Esta fase é completamente involuntária. AVALIAÇÃO NUTRICIONAL Primeiro passo obrigatório. Deve incluir avaliação global e histórico do peso. O reconhecimento de sinais precoces e sintomas de disfunção é imprescindível para a rápida implementação do plano de cuidado apropriado. As variáveis-chaves que afetam a ingestão nutricional devem ser avaliadas cuidadosamente (obtenção, preparo e ingestão do alimento). DISFAGIA (FICAR ATENTO AO GRAU DE DISGAFIA SEGUNDO DAN WAITZBERG) O grau de disfagia deverá ser avaliado e, desta forma, traçada a conduta, objetivando a alimentação por via oral segura ou alteração da consistência, do método de administração ou ambos. De acordo com o Dan, a textura é modificada de acordo com o grau de disfagia, como: Grau 1 Grau 2 Grau 3 Grau 4 Normal Grau de purê: purê, preparações homogêneas e pudins Grau de alteração mecânica: coesividade de Semi-sólidos, requer habilidade de mastigação frutas e vegetais Excluir produtos secos (crackers) Grau de maciez: Sólidos macios Requer habilidade para a mastigação Fácil de cortar - carnes, frutas e vegetais Excluir alimentos duros e muito secos Qualquer alimento de textura sólida A utilização de modificadores de consistência, além de favorecer a deglutição, aumenta o aporte calórico e diminui o risco de aspiração. ATENÇÃO: Condutas da KRAUSE para líquidos e textura para pacientes com dificuldades de deglutição. Líquidos • São facilmente aspirados para os pulmões - Pneumonia • Engrossamento de líquidos (leite em pó magro, maisena, suplementos modulares de CHO ou engrossadores contendo maisena modificada); • Preferir líquidos com alto percentual de água; • Picolés, gelo e frutas frescas – Fonte adicional de água; • Estimular fontes não cafeinadas – Cafeína tem efeito diurético; • Leite – Associado a sintomas de produção excessiva de muco (Não tem comprovação) – Não retirar da alimentação! Encorajar o uso com espessantes; • Bexiga neurogênica –– Distribuir líquidos uniformemente; OBS: Para diminuir a freqüência da ITU – Aumentar a ingestão de suco de uva do monte. Textura • Progressão da doença - disfagia e eliminação de grupos alimentares inteiros. • Suplementação vitamínica pode ser necessária; • Alterar a consistência para mole ou purê; • Incentivar refeições pequenas e freqüentes; • A deglutição pode ser melhorada acentuando o paladar, textura e temperatura dos alimentos; • Substituir água por sucos; • Temperatura fria é melhor tolerada; • Carbonação – Pode ser bem tolerada pela modificação da textura; • Molhos e condimentos – Facilitama deglutição; • Massas úmidas, ensopados e ovos – Bem tolerados As enfermidades sistêmicas como alcoolismo, incapacidade de ingestão de alimentos, síndromes de má- absorção, síndromes paraneoplásicas, hipotireoidismo, insuficiência renal, SIDA, gastrectomia, cirurgia bariátrica, dentre outras, podem causar DEP e/ou desnutrição vitamínica. O alcoolismo é a causa mais comum relaciona às polineuropatias por deficiências nutricionais. 1.AMBIOPIA NUTRICIONAL causada por deficiência de B12, tiamina, riboflavina e piridoxina. 2.DEGENERAÇÃO CEREBELAR relacionada ao alcoolismo, mas também pode estar relacionada a outras causas de desnutrição (CA TGI ou anorexia nervosa). 3.PELAGRA a deficiência de niacina também pode afetar o SNC. 4.DEFICIÊNCIA DE VITAMINA B12 resulta em mielopatia combinada subaguda, degeneração de nervos ópticos e dos nervos periféricos, além de substância branca encefálica. Krause: ANEMIA PERNICIOSA (B12) A tríade clássica: anemia, déficits neurológicos e atrofia epitelial da língua. Etiologia e fisiopatologia: 3 • As lesões ocorrem inicialmente nas bainhas mielínicas dos nervos ópticos, substância branca e nervos periféricos. • A inserção de ácidos graxos irregulares nas bainhas mielínicas. Achados clínicos e tratamento: • Anemia macrocítica; • Fraqueza geral e parestesias; • Não tratado: disgeusia, marcha deficiente, espasticidade, contraturas, irritabilidade, apatia, sonolência, instabilidade emocional, confusão acentuada, depressão e def. visual; Diagnóstico: • Determinação da B12 sérica – Níveis < 150mg/ml. Teste mais definitivo: Teste Schilling (FI) Considerações Nutricionais • KRAUSE: Recomendado dieta com proteínas de alto valor biológico, suplementação com ferro, vitamina C e outras vitaminas do complexo B (inclusive ácido fólico). Tratamento: - Inicialmente – Doses diárias de 1000mcg de B12 IM (semanas); - Após, doses semanais de 100mcg de B12 IM (meses); - Manutenção – Doses mensais de 100mcg administradas por toda vida se houver ausência de FI. 5.DEFICIÊNCIA DE VITAMINA E pode causar neuropatia sensitivo-motora, oftalmoplegia, degeneração retiniana e miopatia. Pode ocorrer em distúrbios de absorção de gorduras, como na fibrose cística. 6.DEFICIÊNCIA DE TIAMINA resulta em acúmulo de ácido lático e em redução da absorção de oxigênio tecidual. A deficiência está associada ao beribéri, síndrome de Wernicke-Korsakoff, degeneração cerebelar cortical e síndrome de Stracham. O beribéri caracteriza-se como neuropatia periférica e parestesias dolorosas que progridem dos segmentos distais para proximais, déficit muscular distal e simétrico, amiotrofia, cãibras, atrofia tegumentar além de insuficiência cardíaca. A síndrome de Wernicke-Korsakoff é gerada pela deficiência vitamínica B1 e desencadeada pela administração de glicose, infecção e traumatismo. Krause - SÍNDROME DE WERNICKE-KORSAKOFF • Resulta da deficiência crônica de Tiamina (B1); • Ocorre com maior freqüência nos alcoólatras. Etiologia e fisiopatologia • A deficiência de B1 é a causa e sua depleção ocorre em 7 a 8 sem; Achados clínicos e tratamento • Encefalopatia, Nistagmo, Ataxia da marcha (Wernicke). Tratamento: • Dose: 50 a 100 mg/B1 via parenteral por vários dias. • Nunca administrar glicose antes da B1; • Hepatopatas- resposta pode ser demorada. Considerações Nutricionais • Suplementação de B1; •Ingerir alimentos: grãos integrais, pães e cereais enriquecidos; • Eliminar o uso do álcool. • Em casos de encefalopatia – verificar a necessidade de restrição de proteínas. 7.TOXICIDADE POR VITAMINA A A hipervitaminose A acentua a permeabilidade dos plexos coróides, causando aumento de líquido céfalo-raquidiano e hipertensão intracraniana. 8.TOXICIDADE POR VITAMINA B6 pode desencadear neuropatia sensorial. 9.DOENÇA DE WILSON resultado de acúmulo de cobre por deficiência de ceruloplasmina. 10.ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL (KRAUSE) É definido como um início agudo de déficit neurológico focal ou global com duração > 24h, e atribuível a doenças da neurovasculatura intra ou extracraniana. Fatores de risco: - Idade avançada (+ significativo); - Modificáveis: hipertensão e o fumo; - Outros fatores: doença cardíaca, FA, DM e uso de contraceptivos orais. Tratamento Nutricional: • Após AVC: redução de colesterol, gordura e sal – é questionável; • Importante manter o EN adequado; • Disfagia – freqüente contribui para as complicações e mau prognóstico - associada a: Risco aumentando de desnutrição; Risco aumentando de Infecções pulmonares; Incapacidade; Internação hospitalar Fig. 2: Fatores relacionados à nutrição e risco de AVC (KRAUSE) 1.ADRENOMIELOLEUCODISTROFIA É uma deficiência congênita de enzimas que afeta o metabolismo dos ácidos graxos de cadeia muito longa, acarretando seu acúmulo no cérebro e glândulas supra-renais. Achados clínicos e tratamento: • Mielopatia, neuropatia periférica e desmielinização cerebral • Manifestações- 4 e 8 anos – Insuficiência adrenal; • Disartria e disfagia – Prejuízo na alimentação 4 Considerações Nutricionais: • Exclusão dos ác. graxos de cadeia muito longa (VLCFA) não comprovada; •Óleo de lorenzo – diminui VLCFA – Evolução clínica não é alterada. 2.DOENÇA DE ALZHEIMER (DA) É a causa mais comum de demência em idosos. Os fatores de risco são: ordem de nascimento, lesão cefálica, baixo nível educacional e presença de Síndrome de Down, além do componente genético. Dentre os eventos fisiopatológicos mais importantes estão a ocorrência de deposição extracelular de peptídeos beta-amilóides com plaquetas senis e formação errática de neurofibrilas intracelulares. A nutrição parece ser um dos fatores que podem desempenhar papel terapêutico na DA. Antioxidantes, homocisteína, folato, vitamina B6 e B12 são fatores extensamente avaliados, mas ainda não consolidados como relacionados à fisiopatologia da DA. Achados clínicos: A homocisteína é ativa no tecido encefálico e possivelmente contribui para a DA via mecanismos vasculares ou atuando como neurotoxina. Ingestões elevadas de folato relacionam-se ao baixo risco de acidente vascular encefálico, presumivelmente por reduzir as concentrações de homocisteína. A deficiência de B12, folato e B6 pode causar acúmulo de homocisteína. Orientações: • Desligar rádios e televisões durante as refeições; • Oferecer um alimento por vez em pratos pequenos; • Supervisionar as refeições • Utilizar pratos e tigela de cores diferentes dos alimentos oferecidos; • Estágio final – Disfagia. Para diminuir a perda de peso: Oferecer lanches frequentes; Alimentos com alto teor de nutrientes; Suplementos alimentares; USO DE ALIMENTOS COM PROPRIEDADES ANTIOXIDANTES Muitos estudos sugerem que o estresse oxidativo e o acúmulo de radicais livres associam-se à fisiopatologia da neurodegeneração que ocorre na DA. Os agentes antioxidantes (AO) podem ser classificados em não-enzimáticos ou enzimáticos. AO não enzimáticos: vitamina E, betacaroteno, vitamina C, flavonóides, proteínas do plasma, selênio, glutationa, clorofilina, L-cisteína e curcumina. AO enzimático: superóxido dismutase, catalase, NADPH- quinona oxidoredutase, glutationa peroxidase, enzimas de reparo. Além do uso de vitaminas e fitoquímicos, o uso de minerais antioxidantes também tem sido estudado, como selênio e zinco. O selênio oferece proteção contra doenças crônicas associadas ao envelhecimento. Está presente em brócolis, couve, aipo, pepino, cebola, alho e rabanete. Deficiência de selênio causa concentração reduzida de glutationa peroxidase, presente no SNC. O zinco atua como antioxidante via proteínas antioxidantes como as metalotioneínas e a superóxido dismutase, que ajudam a manter a integridade e a instabilidade genômica. Embora exista defesa AO enzimática endógena é plausível o uso de AO exógenos. ANTIOXIDANTE ALIMENTO Ácidoelágico Uva Antocianidina Mirtilo Beta-caroteno Mamão, cenoura Catequina Chá Clorofila Espinafre Curcumina Curry Flavinóides Batata, repolho branco Flavonóides Brócolis, salsa, berinjela,morango Licopeno (carotenóide) Tomate Polifenóis Noz Quercetina Vinho Taninos Repolho Vitamina C Laranja, morango FATORES DE RISCO A idade, a predisposição genética e o traumatismo craniano consistem um forte grupo de fatores relacionados com a doença de Alzheimer (DA). Outros incluem exposição a metais pesados (alumínio), em conjunto com a predisposição genética. As alterações da proteína precursora de amiloide (APP) são identificadas em situações de traumatismo craniano agudo, que podem evoluir para uma disfunção neurodegenerativa. A dieta também é considerada um fator de risco, devido a uma demonstração de forte correlação positiva entre a ingestão de gorduras e de calorias totais, com a prevalência de doença de Alzheimer. A ingestão adequada de vitaminas C, E, B6, B12 e folato, bem como ácidos graxos insaturados, diminui o risco de Alzheimer. QUADRO CLÍNICO A doença de Alzheimer associa-se a uma redução dos níveis corticais de acetilcolina, colina-acetiltransferase e norepinefrina, ressaltando-se a diminuição de acetilcolina e degeneração neuronal. O processo neurodegenerativo é atribuído à hiperfosforilação da proteína tau, com consequente 5 formação dos emaranhados neurofibrilares e dos distúrbios metabólicos da proteína beta-amilóide que forma as placas neuríticas. TERAPIA NUTRICIONAL O paciente portador torna-se incapaz de alimentar-se por consequência das limitações cognitivas e físicas. Além disso, devem-se considerar a perda de peso e a caquexia que são achados clínicos frequentes relacionados com um elevado risco de infecções, úlceras da derme e queda de temperatura, com consequente redução da qualidade de vida. Alguns fatores podem contribuir para a redução do peso corporal, como a atrofia do córtex temporal, a diminuição do NPY, o aumento da TMB e o processo de envelhecimento. Mesmo diante dessas alterações não existem recomendações específicas para a avaliação nutricional dos pacientes com DA, sendo seguidas as diretrizes de avaliação de pacientes idosos. Para a DA ainda não existem recomendações específicas, uma vez que as DRIs foram desenhadas para indivíduos saudáveis. A prática da alimentação saudável a partir de princípios nutricionais ameniza as alterações fisiológicas do envelhecimento e as metabólicas desenvolvidas na DA, proporcionando melhor qualidade de vida. 3.ESCLEROSE LATERAL AMIOTRÓFICA (ELA) Atrofia progressiva dos nervos motores e fraqueza muscular Fisiopatologia: • Neurodegeneração na substância cinzenta da medula espinhal e córtex cerebral; • Mutações na superóxido dismutase cobre-zinco; • Estresse oxidativo - proposta para a perda de neurônios; • Defeito no transporte do glutamato. Achados clínicos e tratamento: • Diagnóstico é clínico – 95% casos; • Fraqueza muscular – Pernas, mãos, braços e orofaringe; • Perda dos neurônios motores – Perda da mobilidade; • Perda de neurônios corticais – Disartria e disfagia (insidiosa); • Perda de função dos músculos bulbares e respiratórios, disfagia oral e faríngea – Pode ser necessário suporte nutricional; • Não existe terapia – Medidas de suporte Terapia Nutricional - As alterações nutricionais e metabólicas: A intervenção é dividida em 5 estágios: 1 – Hábitos alimentares normais (Escala 10-9): • Iniciar a educação do paciente; • Monitorar a hidratação e estado nutricional; • Líquidos – 2l/dia – Fontes não cafeinadas (cafeína é diurética); • Perda de peso ≥10% - risco nutricional. 2 – Problemas alimentares precoces (Escala 8-7) – KRAUSE • Pacientes começam a ter dificuldades com a alimentação; • Tosse e tempo de refeição longo; • Modificação da consistência, evitar líquidos finos e usar alimentos de fácil mastigação e deglutição; 3 - Alteração da consistência dietética (Escala 6-5) • Com a evolução dos sintomas o transporte oral do alimento torna-se dificultado • Alterar a consistência para mole ou purê; • Evitar líquidos finos e vegetais e carnes crus; • Espessamento de líquidos; • Preferir líquidos com alto percentual de água para manter a hidratação; • Picolés, gelo e frutas frescas – Fonte adicional de água; • Incentivar refeições pequenas e freqüentes; • Substituir água por sucos; • Temperatura fria é melhor tolerada; • A carbonação também é benéfica; • Pacientes na posição ereta • Disfagia: Suplementação vitamínica e mineral pode ser necessárias; • Fibras - constipação. 4 – Alimentação por sonda (Escala 5-4) • Desidratação aguda; • Perda de peso – indicativos de suporte nutricional; • TNE preferida a NPT - objetivo melhorar a qualidade de vida; • EN adequado – Mantém a saúde por mais tempo. 5 – (Escala 2-1) • Não consegue alimentar-se por VO (nível final da disfagia) • Ausência de deglutição – Ventilação mecânica • Alimentação por sonda é permanente 4. EPILEPSIA Distúrbio intermitente do sistema nervoso decorrente de descarga repentina, excessiva, desordenada de neurônios. Achados clínicos e tratamento: • Convulsões generalizadas – Envolve todo o córtex cerebral; • Convulsões parciais – Envolve um foco isolado. As Medicações utilizadas podem alterar o estado nutricional: - Fenobarbital, fenitoína e primidona: Interfere na absorção intestinal de Ca – Osteomalácia/ raquitismo – Recomenda- se suplementação de vitamina D, suplementação de ácido fólico interfere no metabolismo da fenitoína; - Fenobarbital, fenitoína: Redução de albumina - aumento da concentração da droga livre e possível toxicidade. - Fenitoína: TNE contínua diminui sua absorção, o álcool diminui o efeito desta droga e sua abs. é diminuída pela presença de alimentos. Recomendação: Alimentação por sonda antes e após a dose de fenitoína varia de 1 a 4 h. O mais comum é um intervalo de 2 h antes e após a dose de fenitoína. TRATAMENTO NUTRICIONAL Dieta cetogênica: • Último recurso para o tratamento; • Tratamento não convencional, mínimos efeitos colaterais e não dispendioso; • Controlará completamente 1/3 das crianças; 6 A dieta cria e mantém um estado de cetose, seu mecanismo de ação não está claro, mas seu benefício pode ser devido a alteração no metabolismo neuronal, onde o corpo cetônico comporta-se como um inibidor dos neurotransmissores, produzindo um efeito anticonvulsivante. • 2 formas de dieta cetogênica; • Criança faz jejum de 24 a 72h até produzir um cetonúria 4+; • Drogas devem ser suspensas. Tradicional: • Ingestão calórica 4:1 de gordura/proteína e carboidratos; • Energia: 75% das recomendações para peso e altura ideal como lipídeo; • Proteína: 1g/kg/dia; • CHO : fornecem o restante de calorias protéica e de CH; • Fluidos: 65ml/kg/dia sem ultrapassar 2L/dia; • Suplementação de vitaminas e cálcio. Dieta cetogênica com base em TCM: • Substitui as gorduras de cadeia longa pelo TCM; • Dieta – maior quantidade de alimentos não cetogênicos: frutas, vegetais, pequenas porções de pão e outros amidos; • Não se limita os líquidos OBS: A duração é limitada, pode ser descontinuada após 2 a 3 anos. 5. SÍNDROME DE GUILLAIN-BARRÉ (SGB) Polineuropatia inflamatória, desmielinizante, de início súbito, agudo com predileção pelos nervos motores, incluindo os cranianos e diafragma. Achados clínicos e tratamento: • Sintomas: arreflexia, fraqueza dos membros proximais, fraqueza dos nervos cranianos e insuficiência respiratória. • Diagnóstico é clínico; • A capacidade vital e a deglutição podem deteriorar-se rapidamente – cuidado intensivo; • Tratamento: plasmaferese, imunoglobulina venosa, esteróides. Tratamento nutricional: A SGB tem uma evolução rápida e durante a fase aguda é semelhante ao neurotrauma. • Suporte nutricional por sonda - ajudar a restabelecer um equilíbrio positivo denitrogênio e atenuar o consumo muscular. Energia: 40 a 45kcal/kg não protéicas; Proteínas: 2 a 2,5g/kg 6. ENXAQUECA Patologia do sistema neurológico caracterizada por dor, fotofobia, náuseas e vômitos. Tem-se liberação de substância P e neurotransmissores inflamatórios em resposta ao estresse que afetam o fluxo sanguíneo cerebral. A síndrome é definida como uma cefaléia intensa, episódica, latejante, geralmente em um lado da cabeça. Fisiopatologia: Os vasos sanguíneos durais estão dilatados e o fluxo de sangue pulsátil através desses vasos faz com que ele distenda e irrite a dura-máter sensível a dor. Pacientes com enxaqueca apresentam hiperagregabilidade plaquetária, decorrente do aumento de serotonina, diminuição da atividade da MonoAminoOxidase (MAO) e sensibilidade a PGI2. Objetivos da Terapia Nutricional: diminuir a agregação plaquetária e inibir neurotransmissores inflamatórios. Formas de enxaqueca: sem aura (cefaléia unilateral, latejo, fotofobia, náuseas e vômitos) e com aura (adicionam-se alterações visuais como o escotoma (ponto cego). Diagnóstico: 1.Sem aura: > 5 episódios de cefaléia de 4-72h de duração, unilateral, latejante, de intensidade moderada a grave, associada a náuseas e vômitos ou foto/fonofobia; 2.Com aura: > 2 ataques de 4-72h de duração, pontos cegos e não atribuível a outras patologias. Fatores desencadeantes: - não alimentares Tabela 5: Fatores não alimentares desencadeadores de enxaqueca – CHEMIN & MURA. Categorias Desencadeantes Exemplos Sono Alterações no padrão de sono Sono em excesso, sono insuficiente, cochilos Hormônios Alterações e flutuações no níveis de estrógeno Ciclo menstrual, uso de anticoncepcionais, terapia de reposição hormonal, perimenopausa, menopausa, ovulação Ambiente Clima Luzes Sons Odores Poluentes Alérgenos Outros Alterações na temperatura, frio ou calor extremos, umidade, alterações na pressão barométrica Luzes brilhanetes, ofuscantes, fluorescentes, piscantes ou telas Sons altos Perfumes, odores químicos Nuvem de poluição, fumaça Alta atitude, viagem de avião Estresse Períodos de muito estresse Estresse acumulado Emoções reprimidas Ansiedade, preocupação, choque, depressão, excitação, fadiga mental, perca e tristeza intensa. Tanto estresse positivo como negativo podem ser desencadeantes. A forma de reagir a situações pode desencadear a enxaqueca. Tarefas e situações estressantes Droga Substâncias químicas, medicamentos Benzeno, inseticidas Atenalol, cafeína (uso ou retirada), cimetidina, dianazol. Ciclofenaco, bloqueadores de receptores de hidrogênio, hidralazina, indometacina, nifedipina, nitrofurosamina, nitroglicerina, reserpina Físico Exaustão Visuais Cansaço e fadiga Exercício em excesso, em calor intenso, exaustivo (por exemplo, maratona) Força a vista, tela de computador, luzes 7 - Alimentares: para ser desencadeado por alimento deve ocorrer após 6h da ingestão alimentar, efeito reproduzível e a retirada do alimento leva à melhora da cefaléia. Corresponde a 20% dos episódios de enxaqueca, mesmo com a fração IgE reduzida. Alimentos mais desencadeadores: chocolate, queijo e bebidas alcoólicas. PRINCIPAIS FATORES ALIMENTARES DESENCADEANTES a)Aminas (tiramina, feniletilamina, octamina, histidina e triptaminase) falsos neurtrasnmissores (anfetaminas). Alimentos ricos em tiramina queijos maturados, cerveja, casca de banana, embutidos, repolho fermentado, molho de soja, chocolate e alimentos armazenados em temperaturas inadequadas e por tempo prolongado. Alimento rico em feniletilamina chocolate. b)Cafeína. c)Bebidas alcoólicas. d)Nitratos e nitritos. e)Alto conteúdo de W6 e W9 / alto conteúdo de lipídeos da dieta. f)Aspartame. g)Presença de H. pylori. h)Hipoglicemia. i)Sorvete (após 30 a 60s da ingestão do alimento). TRATAMENTO - uso de drogas: beta-bloqueadores, antidepressivos, ISRS, AINEs etc. - estratégias nutricionais: dieta de exclusão; evitar jejum/hipoglicemia; riboflavina 400mg (doses de 25mg por via oral); magnésio (em casos de deficiência); triptofano 500mg de 6/6 horas; isoflavonas 60mg/dia; e W3 e W6-GLA. - uso de compostos de relevância nutricional/fitoterápico: capsaicina e tanaceto. Alimentos que provavelmente desencadeiam enxaquecas subsequentes a hipoglicemia: Chocolate, queijo, frutas cítricas, bananas, nozes, carnes curadas, produtos lácteos, cereais, feijões, cachorro-quente, pizza, aditivos alimentares, café, chá, bebidas a base de cola, bebidas alcoólicas (vinho, cerveja e uísque). Tabela 6: Fatores alimentares desencadeadores de enxaqueca – CHEMIN & MURA. Categorias Possíveis desencadeantes Bebidas Chocolate e cacau, bebidas alcoòlicas (especialmente vinho tinto, cerveja e xerez), cafeína Frutas Figos, uva-passa, papaia, abacate, (especialmente se muito maduro), ameixas vermelhas, bananas maduras e frutas cítricas (especialmente a laranja) Hortaliças Sauerkraut (repolho fermentado), vagem, cebola, alho, conservas (picles), cogumelos Leguminosas Em geral, principalmente ervilha. Molho de soja. Pâes e cereais Pão fermentado, doughnuts Lácteos Leite e derivados fermentados (por exemplo, creme azedo), queijos amarelos e azuis (por exemplo, gouda, gruyêre, parmesão, emental, roquefort, gorgonzola, brie, camembert) Carnes Carnes curadas (por exemplo, presunto, salame), peixe salgado, peixe em conserva (por exemplo, sardinha, anchovas), patês, caviar. Carnes cntendo nitritos e nitratos. Sopas Sopas enlatadas, cubos de carne concentrados Doces Chocolate Outros Trigo e derivados, oleaginosas, glutamatomonossódico, amaciantes de carne, aspartame, levedura, alimentos fermentados, marinados ou em conserva (picles), ovos Jejum prolongado Nutrientes Quantidades excessivas de niacina e vitamina A . MIASTENIA GRAVE (MG) É uma doença auto imune bem caracterizada, onde o sistema imunológico dá origem a uma resposta aos receptores de acetilcolina (AChR). Achados clínicos e tratamento: • Reincidiva e remissão da fraqueza e fadiga variam de minutos a dias; • Sintomas: diplopia, disartria, fraqueza muscular facial e disfagia (desnutrição); • 10% pacientes – Fraqueza diafragmática – dificuldades respiratórias. Tratamento Nutricional: • Apresentam comprometimento da mastigação e deglutição; • Ingerir alimentos com alto teor nutricional no início das refeições; • Preferir refeições pequenas e freqüentes; • A atividade física é limitada antes das refeições; • Nas crises respiratórias – Suporte nutricional. Avaliar a capacidade de deglutição desses pacientes ESCLEROSE MÚLTIPLA (EM) É caracterizada pela destruição da bainha de mielina (formação de esclera ou tecido de cicatrização) em múltiplas áreas dos nervos ópticos, medula espinhal e cérebro. Fisiopatologia: • Causa é indeterminada e alguns fatores ambientais podem contribuir como a latitude e a dieta. •Vit D – Pode regular o sistema imune inibindo a doença auto-imune; • Estudos recentes: Ômega-3 não está relacionado ao risco de EM – Porém, existe um risco menor de EM com ingestão maior de ácido linolênico; • Outros fatores de risco: idade, fumo e a disposição do nascimento (região geográfica). Efeitos colaterais do uso em curto prazo dos esteróides: • Aumento do apetite, ganho de peso, retenção de líquidos, nervosismo, insônia, redução de B12 e folato (Suplementação pode ser necessária). Achados Clínicos e Tratamento: • Não há tratamento comprovado para alterar a evolução da EM • Terapia física e ocupacional; 8 • Medicamentos: esteróides,hormônio adrenocorticotrópico (ACTH) e a prednisolona; • Uso de Metrotexato: Anorexia e vômitos. Bexiga neurogênica: • Distribuir líquidos uniformemente; • Diminuir a freqüência da ITU- Estimular ingestão de suco de uva do monte. Constipação intestinal ou Diarréia: • Dieta com alto teor de fibras, ameixas adicionais e líquidos Tratamento Nutricional: • Dieta de baixoteor de gordura, sem glúten, com EPA e DHA – sem resultados conclusivos. • Suplementação com ácido linolênico (óleo de açafrão e soja) pode ter algum efeito benéfico; Disfagia: • Alteração na consistência para itens macios ou líquidos espessados; Dificuldade de visão, disartria, ambulação precária: • Usar alimentos prontos, pré-embalados, porções individuais ou alimentos de conveniência. 9. DOENÇA DE PARKINSON (DP) É uma doença progressiva e incapacitante devido a diminuição de transmissão de dopamina Fisiopatologia: Perda de neurônios dopaminérgicos na substância negra assim como de tirosina hidroxilase, a enzima de limitação da taxa da dopamina. São descritas 3 teoria para etiologia da DP: 1- Alt. do metabolismo da dopamina decorrente de lesão neural; 2- Exposição a neurotoxinas ambientais; 3- Predisposição. Vários fatores ambientais têm sido implicados na etiologia: • Usuário de drogas endovenosas; • Lipídeos e antioxidantes; • Variação geográfica – Países industrializados e áreas agrárias com uso de toxinas e sobrecarga de ferro e manganês Achados Clínicos e Tratamento: • Diagnóstico clínico – Tremor, rigidez e bradicinesia. • Tratamento - L-dopa (precurssor da dopamina que é convertido em dopamina pela enzima dopa descarboxilase e atravessa a BHE). Tratamento Nutricional: O tratamento é focado na interação droga –nutriente. 1- Grandes AAs competem pelo mecanismo de transporte: • Eliminação ou diminuição (10g) de PTNs no desjejum e almoço e adição na refeição da noite – Cuidado p/ deficiência em vitaminas do complexo B e cálcio; • Estudo: Proporção de 5:1carboidrato/proteína – Aumento nos Níveis L-dopa. 2- Piridoxina e o aspartame • A descarboxilase é dependente de piridoxina, quantidade excessiva desta vitamina pode levar a metabolização da L- dopa na periferia e não no SNC; • Fenilalanina compete com a L-dopa pela captação. • Feijões de fava – ricos em L-dopa, pode ser utilizado substituindo outros alimentos protéicos; Em pacientes neurológicos agudos, tanto a dificuldade de obter o alimento como a resposta endócrino-metabólica ao trauma contribui sobremaneira para a desnutrição. Reação metabólica ao jejum em pacientes normais e em doentes neurológicos agudos PACIENTE NORMAL DOENTE NEUROLÓGICO GEB ↓ Inicialmente ↓ / posteriormente ↑ Uso de glicose limitado ↑ Uso de lipídeos ↑ ↑ Uso de cetonas ↑ ↓ Gliconeogênese Inicialmente ↑ ↑ Catabolismo muscular ↓ após 5 a 7 dias ↑ A.TRAUMATISMO CRANIOENCEFÁLICO (TCE) O GEB geralmente é bastante elevado e varia de 75 a 250% do BEG (média 140%), dependendo: - gravidade do trauma; - lesões encefálicas secundárias (ex.: crise epiléptica); - morbidades associadas (ex.: desnutrição pré-existente); e - uso de medicações. Doentes que pontuam em escala de Glasgow (CGS) de 4 a 5 têm gasto energético em torno de 26% acima do previsto. Entre 6 e 7 possuem necessidades intermediárias e aqueles com CGS superior a sete apresentam necessidades menores. Em caso de uso de barbitúricos pode ocorrer redução em até 14% do GEB. Diretrizes para estimar o GET em pacientes com TCE: CONDIÇÕES CONDUTAS Sepse ↑ 7,2% calorias padrão para cada 1º.C > 37º.C Postura anormal / crises epilépticas ↑ 20 – 30% do padrão (Max 3.500 a 4.000kcal) Com não sedado 140% do GEB Coma barbitúrico 100 – 120% do GEB TCE moderado 120 – 130% do GEB TCE grave 140 – 200% do GEB TCE leve – CGS entre 13 – 15; TCE moderado – CGS entre 9 – 12; TCE grave – CGS < 8. TCE com hipermetabolismo muitas das vezes possuem necessidades protéicas situando entre 2 – 2,5g/kg/dia, entretanto, como não há evidências que suportem que o aporte protéico intenso evite o BN negativo, recomenda-se: - PTN = 1,5 – 2,0g/kg/dia; - Relação caloria não-protéica/g de N2 = 100:1. B.TRAUMATISMO RAQUIMEDULAR (TRM) O cálculo das necessidades energéticas deve ser feito por Harris-benedict e fator estresse. Recomenda-se relação caloria não-protéica/g de N2 < 150:1, QUANDO AS FUNÇÕES HEPÁTICAS E RENAIS ESTIVEREM ADEQUADAS. Após a fase aguda, o cálculo das necessidades calóricas pode ser realizado de acordo com as seguintes fórmulas: - Paraplegia: 28kcal/kg (subtraindo 4,5kg do peso ideal calculado); 9 - Tetraplegia: 23kcal/kg (subtraindo 9,0kg do peso ideal calculado). C.LESÕES CRANIANAS 1.Avaliar a deglutição e presença de disfagia. 2.Avaliação do estado nutricional a.Peso: O peso pode ser estimado com base na altura do indivíduo, onde: Peso desejável = [A (cm) – 100] – {[A (cm) – 150] / 5} ± 5 (+) 5kg para compleição física grande (-) 5kg para compleição física pequena A compleição física é dada pela determinação da medida do perímetro do pulso (PP) e da estatura (E), onde: Compleição física (CF) = E (cm) / PP (cm) Homens < 9,6 CF grande > 10,5 CF pequena Mulheres < 10,1 CF grande > 11,0 CF pequena Em casos de IMC>27kg/m2, deve-se ajustá-lo, onde: Peso ajustado = (Peso atual – Peso desejável) x 0,25 + Peso desejável b.Altura: Pode ser estimada pela altura do joelho. c.Avaliação bioquímica: proteínas plasmáticas (avaliar a alteração decorrente da doença aguda) e o BN. 3.Cálculo das necessidades energéticas: segundo Harris Benedict ou utilizando fórmulas de bolso (25 a 30kcal/kg) à beira do leito, facilitando a prática do profissional. Lembrar que situações de maior estresse (politrauma) necessitam de mais de 30kcal/kg. 4.Cálculo das necessidades protéicas: em geral não superam 1,5g/kg/dia. A via de acesso preferencial em doenças neurológicas agudas é a via enteral, precoce, ou seja, 24 a 48h após admissão na UTI. Inicia-se com 500 – 800mL (500 a 800kcal) nas 24h em sistema fechado e em sistema aberto preconiza-se 50 – 100mL de 3/3h. O objetivo calórico a ser atingido é de 70-80% nas primeiras 48 – 72h. A evolução deve ser gradativa (10 a 20mL/h/dia no sistema fechado ou 50mL/dose no sistema aberto). EXERCÍCIOS DE DOENÇAS PULMONARES E NEUROLÓGICAS 1) (NutMed) A fibrose cística é um distúrbio complexo que requer grande atenção do nutricionista. Leia atentamente as afirmativas a seguir: I - a terapia de reposição de enzimas pancreáticas é o primeiro passo para corrigir a má digestão e má absorção que ocorrem nesses pacientes; II – a quantidade de enzimas administradas depende do grau de insuficiência pancreática, da quantidade e qualidade dos alimentos consumidos e do tipo de enzimas utilizadas; III – as microesferas enzimáticas não devem ser misturadas com alimentos que possuem pH acima de 6,0, como produtos lácteos; IV – mesmo com suplementação de enzimas pancreáticas as vitaminas lipossolúveis são geralmente absorvidas inadequadamente. Assinale a alternativa correta: (A) apenas a afirmativa I está correta; (B) apenas a afirmativa II está correta; (C) apenas as afirmativas I e II estão corretas; (D) apenas as afirmativas III e IV estão corretas; (E) todas as alternativas estão corretas. 2) (NutMed ) Na atualidade, os estudos sobre modificações metabólicas e ventilatórias para pacientes com insuficiência respiratória consideram que, para a obtenção de uma diminuição de produção de CO2 em torno de 20%, a dieta deverá contemplar diminuição da proporção de: (A) glicose a favor de incremento de lipídios; (B) lipídios a favor de incremento de glicose; (C) proteínas a favor de incremento de glicose; (D) lipídios a favor de incremento de proteínas; (E) glicose a favor de incremento de proteínas. 3) (NutMed) No paciente enfisematoso que apresenta diagnóstico de Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica severa, o cuidado nutricional deverá: (A) o controle do quociente respiratório e a manutenção do estado nutricional adequado; (B) a redução da produção de CO2 e o estímulo a perda ponderal; (C) a redução da produção de CO2 e o aumento do consumo de carboidratos complexos; (D) o controle do quociente respiratório e a restrição do consumo de lipídeos;4) (Residência / HUPE-2003) São objetivos do apoio nutricional para pacientes com fibrose cística: (A) controlar a malabsorção e prevenir as deficiências nutricionais; (B) manter o peso ideal e minimizar as interações droga- nutriente; (C) melhorar a resistência às infecções e facilitar a liberação de ventilação mecânica; (D) fornecer as necessidades nutricionais básicas e preservar a massa corpórea magra. 5) (Residência / HUPE-2002) No tratamento dietético do paciente desnutrido com DPOC, a oferta excessiva de calorias sob a forma de glicídios leva a uma inadequada elevação da freqüência respiratória, conseqüente a maior produção de CO2. Este quadro é resultante de um aumento na: 10 (A) lipólise; (B) glicólise; (C) lipogênese; (D) glicogênese. 6) (Residência / HUPE-2002) A desnutrição da DPOC é do tipo marasmática e é caracterizada por: (A) elevação da resposta ventilatória; (B) aumento da massa corpórea magra; (C) diminuição da reserva gordurosa subcutânea; (D) redução da taxa sérica das proteínas viscerais. 7) (NutMed ) As crianças prematuras são mais sujeitas à displasia broncopulmonar, uma doença pulmonar crônica na infância. Neste grupo de pacientes, o crescimento linear é mais lento e as necessidades de energia em kcal/kg/dia, está na faixa de: (A) 50-85 (B) 90-110 (C) 120-130 (D) 140-160 8) (Residência HUPE-2000) Pacientes com fibrose cística necessitam de cuidados especiais na tentativa de redução dos sintomas característicos da doença. Objetivando isso, utilizam-se no tratamento cápsulas contendo enzimas pancreáticas. Nas crianças, estas são abertas e seu conteúdo misturado ao alimento. A alternativa que indica um alimento próprio para esta utilização e a respectiva razão é: (A) leite, devido ao seu odor; (B) maçã, devido ao seu pH; (C) pudim, devido a sua consistência; (D) sorvete, devido a sua temperatura; (E) vitamina, devido a sua solubilidade. 9) (NutMed) A utilização de uma dieta com baixa concentração de hidrato de carbono, com intuito de reduzir a produção de dióxido de carbono, deve ser instituída na seguinte contexto clínico: (A) Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica; (B) Infecção pulmonar; (C) Edema pulmonar; (D) Bronquite crônica; 10) (Residência HUPE-2006) Juliana, 22 anos, em acompanhamento nutricional a nível ambulatorial, possui disgnóstico de fibrose cística e faz uso regular de enzimas pancreáticas. Para esta paciente, uma das recomendações nutricionais deverá ser: (A) suplementar vitaminas hidrossolúveis (B) suplementar vitaminas lipossolúveis (C) restringir ingestão de lipídeos (D) restringir ingestão de sódio 11) A Residente de Nutrição, da área de pneumologia, apresentará um caso clínico sobre mucoviscidose. Além da evolução clínica e dietoterápica de seu paciente ela deverá apresentar a fisiopatologia da doença. Sua exposição iniciará esclarecendo que a causa da mucoviscidose e suas implicações na viscosidade das secreções mucosas são, respectivamente (Residência HUPE 2009): (A) congênita /desidratação e redução (B) idiopática / hiperidratação e redução (C) hereditária / desidratação e aumento (D) transmissível / hiperidratação e aumento 12) Na DPOC estável, a ingestão protéica deve ser de (FESP 2009) por kg de peso seco: (A)1,0 – 1,5 (B)1,0 – 2,0 (C)1,5 – 2,0 (D)2,0 – 2,5 (E)0,6 – 1,0 13)O cálculo de necessidades energéticas (Kcal/Kg peso/dia), proposto por Deitel e cols para pacientes com insuficiência respiratória na fase catabólica é de (EAOT 2002) (A) 35 a 40. (B) 20 a 25. (C) 25 a 35. (D) 40 a 45. 14) Com relação ao QR, assinale a opção INCORRETA (CSM 2004): (A)Dietas ricas em CHO aumentam o QR. (B)É a razão CO2 produzido por O2 consumido. (C)QR = 1,0 reflete a oxidação de lipídeos. (D)A produção de co2 é maior em hipercatabólicos que em desnutridos. 15)O QR acima de 1,0 durante a Terapia Nutricional refere- se a (CSM 2005): (A)Baixa oferta de glicose. (B)Excessiva oferta de glicose. (C)Maior consumo de o2 em relação ao co2 produzido. (D)Excessiva oferta de lipídeos. (E)Excessiva oferta de proteínas. 16)A nutrição enteral está indicada em crianças com fibrose cística quando (CSM 2006): (A)Se encontra em risco de desequilíbrio energético. (B)Estão em crescimento rápido. (C)Há diminuição na velocidade de ganho de peso. (D)Relação P/A é de 85 – 90% do peso ideal. (E)Relação P/A é menor que 75% do peso ideal. 17)A Síndrome de Wernicke-Korsakoff é uma doença do cerebelo e tronco cerebral que ocorre mais comumente em alcoólatras, sendo uma das mais graves conseqüências do alcoolismo. Tal patologia resulta da deficiência da vitamina (EAOT 2009): (A) B12 (B) B6 (C) B1 (D) B2 18)A esclerose lateral amiotrófica ( ELA ) é uma patologia que envolve a atrofia progressiva dos nervos motores e fraqueza muscular em processo irreversível. O tratamento nutricional está relacionado principalmente à (EAOT 2003) (A) disfagia progressiva. (B) alta demanda energética. (C) perda acentuada de proteínas. (D) alteração grave da absorção intestinal. 19)Na fase inicial da alimentação para pacientes com disfagia e alto risco de broncoaspiração, NÃO deve ser oferecido o seguinte alimento (CSM 2005) (A) Flan (B) Sopa liquidificada espessada (C) Vitamina de frutas grossa 11 (D) Gelatina (E) Purê de legumes a) 20)A consistência de dieta mais adequada para um paciente com disfagia é (CSM 2006): a) (A) Líquida espessada ou pastosa lisa (B) Branda ou normal abrandada (C) Líquida de prova ou líquida clara (D) Semilíquida ou pastosa (E) Semipastosa ou branda liquidificada 21) Em relação a disfagia, podemos afirmar que (NutMed): (A) Os líquidos de consistência fina como a água e refrescos são melhor deglutidos do que os espessados; (B) O leite é considerado um líquido extremamente nutritivo, não devendo ser retirado da dieta de pacientes disfágicos; (C) A nutrição parenteral é sempre necessária nos primeiros 7 dias de tratamento, evitando assim o declínio da saúde nutricional; (D) O suporte nutricional em pacientes disfágicos ajuda a evitar complicações como broncoaspiração, pneumonia, flebite e sepse relacionadas às doenças neurológicas; 22) Não é fator de risco de acidente vascular cerebral (NutMed): (A) Índice de massa corporal >27kg/m2 em mulheres; (B) Ganho de peso > 11kg em mulheres acima de 16 anos; (C) Proporção tórax-quadril >0,7 em homens; (D) Diabetes mellitus; (E) Hipertensão. 23) Dentre os alimentos abaixo quais contribuem para o desenvolvimento da crise de enxaqueca (NutMed): (A) frutas cítricas, biscoito, avelã e leite; (B) Nozes, leite, refrigerante a base de cola e feijão; (C) Chá, café, frutas cítricas e nozes; (D) Castanha, café, leite e carne de porco 24) (Residência UFF – 2010) Nem todas as doenças neurológicas têm etiologia nutricional, entretanto, condutas nutricionais são parte importante do tratamento. Marque a alternativa que corresponde à enfermidade e terapia nutricional adequada. (A) Na adrenoleucodistrofia, devem ser evitados ácidos graxos de cadeia curta, priorizando-se o uso de ácidos graxos com cadeia de carbonos superior a vinte átomos. (B) A encefalopatia de Wernicke é responsiva a tiamina, enquanto a psicose de Korsakoff não o é, sendo seus desarranjos mentais irreversíveis. (C) Na Miastenia graves, não é recomendada a ingestão de alimentos nutricionalmente densos, pois esses dificultam a mastigação e deglutição. (D) Na enxaqueca crônica, o nutricionista deve estimular o consumo de chá, pois essa bebida possui alto teor de flavonóides. 25) (FIOCRUZ 2010) Na doença pulmonar obstrutiva crônica estável, para manutenção ou restauração dos pulmões e a força muscular pulmonar, é necessária uma ingestão de proteínas de: (A) 1,2 a 1,7 gramas/Kg do peso seco. (B) 0,8 gramas/Kg do peso seco. (C) 0,7 a 0,9 gramas/Kg do peso seco. (D) 0,5 a 0,7 gramas/Kg do pesoseco. (E) 2,0 a 2,5 gramas/Kg do peso seco. 1 - E 2 – A 3 - A 4 – A 5 – B 6 – C 7 – A 8 – B 9 - A 10 – B 11 – C 12 - A 13 – C 14 – C 15 – B 16 - E 17 – C 18 – A 19 – D 20 – D 21 – B 22 – C 23 - C 24 – B 25 – A 12 TRIAGEM DE RISCO NUTRICIONAL E DISFAGIA O idoso com risco nutricional e de disfagia configura o perfil tipicamente encontrado no ambiente hospitalar, em instituições de longa permanência para idosos, ou nos casos de idosos cronicamente enfermos em assistência domiciliária. A desnutrição e a disfagia em idosos são frequente e erroneamente ignoradas, sendo associadas ao processo da senescência, postergando intervenções. Dessa forma, as avaliações nutricional e de disfagia são fundamentais na avaliação geriátrica. A triagem, diferentemente da avaliação, é considerada um processo de identificação das características associadas ao risco de desnutrição e disfagia, diferenciando indivíduos em risco daqueles com comprometimento estabelecido. Assim, a triagem promove a determinação de prioridades de assistência. A triagem para avaliação de risco nutricional e de disfagia visa a transpor e otimizar o modelo da avaliação geriátrica ampla (AGA) na determinação desses riscos, porque a AGA consiste em ampla avaliação que geralmente é realizada pelo médico, sob enfoque interdisciplinar, compreendendo um processo diagnóstico multidimensional e ramificando-se em domínios avaliados por meio de protocolos específicos. EQUIPE PARA TRIAGEM Considerando-se a assistência aos idosos com risco nutricional e de disfagia e partindo-se da premissa de que muitos necessitarão de terapia nutricional enteral (TNE), terapia nutricional parenteral (TNP/NPT – nutrition parenteral therapy) ou terapia nutricional oral (TNO), considerou-se a RDC n. 63, de 6 de julho de 2000 (Regulamento Técnico que fixa os requisitos mínimos para TNE) como base para a determinação da equipe assistencial. A equipe profissional recomendável para aplicação da triagem deve ser composta por nutricionista, médico, enfermeiro e fonoaudiólogo, como mostra o Quadro 1. EQUIPE MÍNIMA Sugere-se que essa equipe seja representada por enfermeiro e/ou médico na etapa de triagem de risco de disfagia e desnutrição, principalmente por serem profissionais sempre integrantes das equipes de saúde e que possuem, na maioria das vezes, uma rotina de maior contato com o idoso, facilitando a aplicação dos instrumentos de triagem e a identificação de sinais de risco. O enfermeiro e/ou o médico, como profissionais referenciais para triagem, atendem também a otimização de custos relacionados à equipe assistencial e à qualidade da comunicação da equipe. INSTRUMENTOS PARA TRIAGEM A utilização de instrumentos ou questões relacionadas à avaliação de risco nutricional e de disfagia torna-se necessária para a sistematização da avaliação de risco, uma vez que os idosos são assistidos por uma equipe multi e/ou interdisciplinar, uniformizando os critérios. A opção deve estar voltada para instrumentos validados, de fácil aplicação, sensíveis e específicos para essa população. RISCO NUTRICIONAL A triagem nutricional realizada de forma precoce (em até 48 horas da admissão), com o objetivo de identificar o risco nutricional, é o primeiro passo para a assistência nutricional e para a prevenção de complicações relacionadas à depleção das reservas corpóreas, baseada no sistema de vigilância nutricional. Diversos fatores são considerados sinais de risco para desnutrição, exigindo instrumentos com abordagem multifatorial representados pela aplicação de vários métodos, o que resulta em instrumentos pouco práticos e viáveis. Assim, para atender a necessidade da identificação de risco nutricional em idosos e sua complexidade de forma simples e aplicável, Guigoz et al. publicaram a Miniavaliação Nutricional (MNA®). I CONSENSO BRASILEIRO DE NUTRIÇÃO DE DISFAGIA EM IDOSOS HOSPITALIZADOS (2011) 13 A MNA® não exige uma equipe especializada para sua aplicação, podendo ser realizada por qualquer profissional treinado. É um teste simples e não invasivo, fácil de ser aplicado (cerca de 10 a 15 min), não oneroso, altamente específico (98%) e sensível (96%) e com boa reprodutibilidade. Em comparação com outros instrumentos de triagem nutricional, a MNA® mostra-se mais sensível para triagem de idosos e é usada amplamente em todo o mundo. A simplificação do processo de triagem de risco nutricional pode acontecer por meio da aplicação da forma resumida da MAN (MNA-SF® − short form). Para triagem de risco nutricional, o consenso recomenda a aplicação, pelo enfermeiro, da MNA® resumida, garantindo a identificação dos idosos em risco e a possibilidade de indicação quando o escore for menor ou igual a 12 para avaliação específica com nutricionista. RISCO DE DISFAGIA A detecção do risco de disfagia é multiprofissional e pode ter como pilar a identificação de alguns componentes, como: • doença de base, antecedentes e comorbidades; • sinais clínicos de aspiração; • complicações pulmonares; • funcionalidade da alimentação. A indicação da presença de risco de disfagia é consolidada por meio da identificação de um ou mais critérios maiores ou dois critérios menores, como mostra o Quadro 3. 14 A identificação precoce do estado nutricional e a subsequente intervenção em idosos disfágicos podem amenizar os efeitos deletérios da desnutrição, necessitando da atuação conjunta de médicos, nutricionistas e fonoaudiólogos, para que as dificuldades presentes sejam sanadas, prevenindo o aparecimento de outras alterações e garantindo um envelhecimento ativo. No Quadro 4, são destacadas as evidências da triagem de risco nutricional e de disfagia recomendadas neste consenso. AVALIAÇÃO A sistematização da assistência nutricional e fonoaudiológica a idosos hospitalizados, determinando critérios e técnicas a serem utilizados, concretiza a estruturação de protocolos de avaliação que objetivam padronizar e viabilizar o processo, visando a diagnosticar o estado nutricional e a presença de disfagia. 1. Avaliação fonoaudiológica 2. Avaliação nutricional A avaliação antropométrica é o método mais utilizado para a avaliação do estado nutricional e foi definida por Jelliffe como “a medida das variações das dimensões físicas e da composição total do corpo humano nas diferentes idades e nos diferentes níveis de nutrição”. Apresenta como vantagens o baixo custo, a utilização de técnicas não invasivas e o fato de ser segura e possuir equipamento portátil, o que facilita o trabalho à beira do leito. Além disso, esse tipo de avaliação é precisa e tem boa exatidão, possibilitando identificar os agravos à saúde, como desnutrição e obesidade, e avaliar as mudanças do estado nutricional. Algumas das medidas antropométricas recomendadas na avaliação nutricional do idoso são: peso, estatura, circunferência do braço (CB), dobra cutânea do tríceps (DCT), dobra cutânea subescapular (DCSE) e circunferência da panturrilha (CP). Essas medidas permitem predizer, de forma operacional, a quantidade de tecido adiposo e muscular. Em geral, a literatura é concordante com a hipótese de que o estado nutricional é responsável pela perda de função do músculo esquelético e, por consequência, pela redução na força dos membros superiores (braços e mãos), afetando diretamente a medida da força de preensão palmar. Desde 2000, a medida da força de preensão palmar vem sendo discutida como instrumento adequado nas avaliações clínicas como preditor de força total do corpo. Avaliação nutricional na assistência hospitalar A hospitalização, por si só, deve ser considerada uma situação de risco nutricional para qualquer faixa etária. Contudo, deve-se dar atenção especial aos indivíduos idosos, os quais apresentam diversas comorbidades que impõem restrições alimentares, grande número de medicações com efeitos colateraisque afetam a ingestão alimentar, hábitos alimentares que, muitas vezes, não são respeitados pelo padrão de refeição hospitalar e mudanças no paladar e no olfato, na dentição, na salivação, na motilidade intestinal, além de lentificação do esvaziamento gástrico, que potencializam esse risco. MNA® A MNA® é indicada para avaliação do estado nutricional na sua aplicação integral. Sua forma resumida está limitada ao processo de triagem, como mencionado anteriormente. A triagem nutricional é considerada o processo de identificação das características associadas a problemas dietéticos ou nutricionais, diferenciando indivíduos em risco daqueles com comprometimento nutricional estabelecido, promovendo, portanto, a determinação de prioridades de assistência. Já a avaliação nutricional consiste na avaliação minuciosa, desencadeada pela triagem nutricional e caracterizada pela medida dos indicadores relacionados à dieta ou à nutrição, identificando a presença, a origem e a extensão do estado nutricional e direcionando a intervenção, o planejamento e a melhoria do estado nutricional. Apesar de a MNA® fazer detecção de risco nutricional, alguns autores a definem como capaz de avaliar o estado nutricional de idosos, considerando os parâmetros englobados no instrumento e os pilares para sua estruturação, baseados no conceito da AGA. Dessa forma, a MNA® pode ser utilizada no rastreio e/ou na avaliação do estado nutricional, podendo ser absorvida nos protocolos de assistência nutricional a idosos, conforme as particularidades de cada instituição. Em unidades hospitalares de geriatria, ressalta-se a importância de a MNA® ter aplicação precoce (primeiras 48 horas) e ser utilizada como instrumento de avaliação do estado nutricional ou de triagem, não isoladamente, mas como parte de um protocolo de assistência nutricional sistematizado e adaptado: • ao perfil do público: caracterizado por idosos desnutridos, com necessidade de rastreio, vigilância nutricional e intervenção precoce; 15 • à equipe: disponibilidade de equipe multidisciplinar atuando de forma interdisciplinar, com presença de nutricionista; • aos recursos disponíveis. A aplicação da MNA® encontra algumas dificuldades, uma vez que o público avaliado gera um panorama peculiar de avaliação, sendo importante detectar os pontos de dificuldade do instrumento e padronizar as alternativas de coleta das informações e as medidas necessárias, na tentativa de viabilizar a aplicação e garantir que o escore obtido seja o mais fidedigno possível (Quadro 5). 16 Avaliação antropométrica As medidas e os indicadores recomendados para a avaliação do estado nutricional hospitalar são: peso, estatura, DCT, DCSE, circunferência da panturrilha (CP), força de preensão palmar, velocidade de perda de peso (VPP) e IMC. Peso Na impossibilidade da aplicação da técnica para coleta do peso real, estimativas podem ser realizadas por meio de fórmulas de predição: Mulher: (1,27 × CP) + (0,87 × comprimento da perna) + (0,98 × CB) + (0,4 × DCSE) – 62,35 Homem: (0,98 × CP) + (1,16 × comprimento da perna) + (1,73 × CB) + (0,37 × DCSE) – 81,69 Estatura Para a estimativa da estatura, será necessária a medida do comprimento da perna, que deve ser realizada na perna esquerda formando um ângulo de 90º com o joelho. O instrumento utilizado para a realização dessa medida pode ser o antropômetro infantil ou um broad-blade caliper, desenvolvido por Chumlea et al. A base da régua deve ser posicionada embaixo do calcanhar do pé esquerdo, e a haste deve pressionar a cabeça da patela. A leitura deve ser feita quando a régua estiver exatamente paralela à toda extensão do perônio (fíbula). Velocidade de perda de peso (Quadro 6) Mesmo considerando que a medida de peso isolado não é um bom indicador do estado nutricional para a população idosa, essa medida é útil por permitir verificar a velocidade de perda de peso (VPP) no decorrer do tratamento. Ademais, há o fato de o peso ser uma medida envolvida no cálculo do IMC, que é uma forma muito difundida e simples da avaliação nutricional. IMC IMC<22kg/m2 – desnutrição IMC entre 22 a 27 kg/m2 – eutrofia IMC >27kg/m2 – obesidade Circunferência da panturrilha (CP) Deve-se considerar adequada a circunferência igual ou superior a 31 cm para homens e mulheres. Outras medidas em clínica: Circunferência do braço (CB) Dobra cutânea do tríceps (DCT) Dobra cutânea subescapular (DCSE) 17 18 19 Força de preensão palmar (FPP) – quadro 9 Os resultados de Força de preensão palmar (FPP) indicaram que ocorre um decréscimo da força com a idade, mas que os homens são consistentemente mais fortes que as mulheres. Figueiredo et al. sugere a utilização das seguintes equações na predição de valores normais para a medida de FPP: Mão direita = (idade × 0,18) + (sexo × 16,90) + (IMC × 0,23) + 31,33 Mão esquerda = (idade × 0,16)+ (sexo × 16,68) + (IMC × 0,29) + 26,60 Avaliação dietética A avaliação de consumo alimentar no idoso é uma tarefa difícil, pois diversos instrumentos são baseados no relato retrospectivo da ingestão, que é afetado pela condição cognitiva, mais especificamente pela memória. Os principais itens a serem avaliados na dieta do idoso são descritos no Quadro 10. Avaliação bioquímica Os principais marcadores bioquímicos do estado nutricional seriam a pré-albumina, a albumina, a transferrina e o colesterol total. Contudo, o envelhecimento, as doenças crônicas, o estresse e as medicações podem comprometer a fidedignidade da avaliação. Sugere-se considerar, na interpretação, as doenças de base e os marcadores inflamatórios, como proteína C-reativa 20 e velocidade de hemossedimentação. No Quadro 11, encontram-se os valores de referência dos marcadores citados. No Quadro 12, são destacadas as evidências da avaliação do estado nutricional e da disfagia recomendadas nesse consenso. 21 TRATAMENTO A abordagem da disfagia em idosos desnutridos deve ser baseada na melhora do estado nutricional, na reabilitação fonoaudiológica, na condição bucal e na higiene oral. 1.Intervenção fonoaudiológica 2.Intervenção nutricional Hábito alimentar e estado nutricional da população idosa Várias alterações afetam o hábito alimentar do idoso de maneira significativa. O declínio da ingestão alimentar ocorre, em parte, pela perda da qualidade dos sentidos (olfato e paladar), da mastigação, da deglutição e por comprometimento da função gastrointestinal. A mastigação, a deglutição, a digestão e a absorção podem estar prejudicadas por vários motivos, como saúde bucal, ausência de dentes, próteses dentárias mal adaptadas e lesões na cavidade oral que interferem no consumo de dietas balanceadas e na ingestão suficiente para atingir as necessidades nutricionais. A prevenção da desnutrição pode ser realizada pela avaliação nutricional periódica do apetite e da aceitação alimentar. Schuman relata que algumas modificações dietéticas na alimentação dos idosos podem ser necessárias em razão das mudanças fisiológicas que podem afetar a habilidade para digerir e absorver alimentos, os quais devem ser nutritivos e saborosos. Mudanças simples, como planejamento de cardápios que contemplem as preferências alimentares dos idosos e atendam às suas necessidades nutricionais, são fundamentais. Os nutrientes não são adequadamente absorvidos e digeridos na presença de gastrite atrófica, decréscimo na produção de hormônios e enzimas, mudanças nas células localizadas na superfície do intestino e interações entre droga e nutrientes. Dentre as alterações normais que ocorrem com a idade e interferem no estado nutricional, uma das mais significativas é a diminuição da taxa de metabolismo basal decorrente da diminuição da massa muscular e da atividade física e da perda da mobilidade. Recomendações nutricionais AsDRI para proteína recomendam 0,8 g/kg/dia para adultos e idosos, independentemente da idade. Evidências indicam que a ingestão de proteínas em valor superior às Recommended Dietary Allowance (RDA) pode melhorar a massa muscular, a força e a funcionalidade, o estado imunológico, a cicatrização, a pressão sanguínea e a saúde óssea. Os potenciais efeitos negativos do aumento da ingestão proteica sobre a saúde óssea e as funções renal, neurológica e cardiovascular não foram encontrados. Para idosos, Wolfe et al. recomendam o consumo de 1,5 g de proteínas/kg/dia ou em torno de 15 a 20% do valor calórico total (VCT) ingerido, a fim de melhorar a funcionalidade. Na presença de situações como úlcera por pressão, infecções, fraturas, imobilidade, doenças, desnutrição, fragilidade e estresse hospitalar, os idosos necessitam de no mínimo 1 g de proteína/kg/dia e em torno de 32 a 38 de calorias/kg/dia para idosos desnutridos. Vários fatores contribuem para o desequilíbrio energético, como o prejuízo na habilidade de controlar a ingestão calórica após períodos de excessos ou de falta de nutrientes, a presença de doenças crônicas, a dificuldade de mastigação, o uso de polifarmácia e o fato de morar sozinho. Avaliação da porcentagem de aceitação alimentar e balanço calórico O balanço calórico é definido como a diferença entre a necessidade energética total e a quantidade de calorias ingeridas durante um período de 24 horas. A avaliação do consumo alimentar é um dos aspectos mais difíceis a serem considerados na avaliação nutricional, em razão da dificuldade em quantificar e detalhar os alimentos consumidos. No caso do uso do método de inquérito do recordatório de 24 horas, devem-se considerar os possíveis déficits de memória que ocorrem para indivíduos idosos. A análise da aceitação alimentar auxilia na avaliação nutricional mediante registros diários preenchidos por 3 a 7 dias pelos pacientes e/ou por seus cuidadores hospitalizados. Considera-se adequada a ingestão mínima diária de 75% das refeições oferecidas. Aqueles que não atingirem essa recomendação por 7 dias consecutivos deverão ser avaliados quanto ao tipo de terapia nutricional (TN) a ser indicada, seja oral, enteral ou parenteral. Definição e indicação dos tipos de TN A TN deve ser indicada em caso de desnutrição ou em risco de desenvolvê-la, ingestão oral inferior a 75% da oferta alimentar, disfagia, doenças catabólicas e/ou perda de peso involuntária superior a 5% em 3 meses ou maior que 10% em 6 meses. Os objetivos da TN em geriatria são: • oferecer energia, proteína e micronutrientes em quantidades suficientes; • manter ou melhorar o estado nutricional; • proporcionar condições para a melhor reabilitação; • promover a qualidade de vida; • reduzir a morbidade e a mortalidade. TERAPIA NUTRICIONAL ORAL Tem como finalidade complementar ou suplementar as necessidades nutricionais e não deve ser utilizada como substituta das refeições ou como única fonte alimentar. Pode ser caseira ou industrializada, sendo esta última classificada em especializada ou padrão, sob a forma de pó ou líquido. Quando a TNO é bem indicada e utilizada, torna-se altamente especializada, contribuindo para o tratamento clínico e a recuperação e/ou manutenção do estado nutricional do paciente. A definição sobre a quantidade, a qualidade, a composição e a consistência da TNO deve ser individualizada segundo a morbidade, o estado nutricional, a aceitação alimentar e o grau de disfagia de cada paciente. O guideline da ESPEN de 2004 sugere o fluxograma de avaliação de TN, dependendo do grau de disfagia, apresentado na Figura abaixo. 22 Na prescrição da dieta para o paciente disfágico, vários fatores precisam ser considerados, como grau de disfagia, estado cognitivo, capacidade de incorporar manobras compensatórias, grau de independência alimentar, estado nutricional, aceitação e preferência alimentar, disponibilidade de supervisão profissional e familiar e condições socioeconômicas. Deve-se ter atenção, também, com os líquidos. Por exigirem maior controle fisiológico do paciente, pode-se afirmar que sua consistência é a que oferece maior risco de aspiração e, por isso, muitas vezes é a primeira, ou até única, a ser modificada. O recurso utilizado é o espessamento do líquido, que pode ser realizado com produtos industrializados ou adaptações naturais. O uso de águas gaseificadas com sabor é outro instrumento útil na hora de hidratar o paciente, mas quantitativamente não supera os espessantes, provavelmente porque estes permitem conseguir diferentes consistências, adequando-as segundo o paciente e o momento da sua evolução, e podem ser aplicados em diferentes líquidos (água ou suco). Com base nesses aspectos, na escala de severidade de disfagia e na de evolução do Functional Oral Intake Scale (Fois), encontram-se descritas, no Quadro 14, as dietas determinadas de acordo com as consistências. Para os líquidos, mantêm-se as consistências propostas pela National Dysphagia Diet: Standardization for Optimal Care, conforme descrito no Quadro 15. 23 Algumas ressalvas devem ser feitas em relação ao espessamento do líquido de acordo com o tipo de preparação: • preparações lácteas: a temperatura influencia na diluição, devendo-se liquidificar as resfriadas (10oC) para homogeneização; • sucos: ácidos dificilmente formam grumos, ao contrário dos alcalinos, que, por vezes, precisam ser liquidificados. Estudos confirmam que, se balanceada e bem preparada, a dieta adaptada à disfagia pode substituir a dieta usual sem impacto no estado nutricional, proporcionando refeições seguras e prazerosas. Com o objetivo de facilitar a prescrição da dieta ao idoso disfágico, foi criado um roteiro com as possibilidades de condutas. 24 TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL Nutrição enteral precoce (NEP) pode ser denominada quando seu início ocorre nas primeiras 48 a 72 horas da internação hospitalar. É importante, ao optar por NEP, a garantia de que o trato digestivo está com perfusão preservada e não desencadeará necrose intestinal avascular por desequilíbrio entre a demanda e a oferta do oxigênio tecidual. Os benefícios da NEP ao organismo e à evolução clínica incluem melhora da imunidade intestinal, prevenção da translocação bacteriana, melhora do balanço nitrogenado, prevenção da atrofia do tecido intestinal e diminuição da incidência de complicações infecciosas e da permanência hospitalar, otimizando os custos. A terapia nutricional enteral (TNE) deve ser indicada quando a ingestão alimentar não atingir as necessidades nutricionais e houver perda de peso e/ou presença de doenças/cirurgias que impossibilitem a alimentação via oral, devendo estar o trato gastrointestinal íntegro ou parcialmente funcionante. Ressalta-se que a TNE deve ser iniciada somente em pacientes hemodinamicamente estáveis e desde que seja utilizada por um período mínimo de 5 a 7 dias. Quando houver uso de sonda nasoenteral por mais de 4 semanas, há indicação de realização de gastrostomia endoscópica percutânea (GEP). Paillaud et al. sugerem que a realização da GEP seja feita antes da ocorrência de complicações graves, como pneumonia, úlceras por pressão e infecções. As principais recomendações de TNO e TNE para idosos, segundo a ESPEN, estão no Quadro 16. 25 Critérios para reintrodução da alimentação via oral Na presença de deglutição efetiva e segura e quando o paciente atingir ingestão alimentar de aproximadamente 50 a 75% das necessidades nutricionais, pode-se iniciar o desmame da TNE. Conforme a progressão da aceitação alimentar oral, ou seja, mais que 75% das necessidades nutricionais, é preciso acompanhar por 3 dias consecutivos, suspender a TNE e indicar a TNO. São necessários protocolos bem elaborados e padronizados de avaliação clínica, avaliações instrumentais e intervenção multidisciplinarde terapeutas e médicos para que se possa discutir adequadamente as condutas para o caso e as questões éticas envolvidas. Assim, no Quadro 17, destacam-se as evidências do tratamento da desnutrição e disfagia recomendado nesse consenso. 26 ORIENTAÇÕES DE ALTA HOSPITALAR A orientação de alta hospitalar é um processo contínuo realizado durante todo o período de internação. No momento da alta, o idoso e/ou seu cuidador deverão receber informações práticas e formais, compatíveis com seu nível socioeconômico, cultural, educacional e cognitivo. Os profissionais devem estar seguros de que o idoso e/ou seu cuidador estão aptos a realizar ou garantir a deglutição eficiente, que mantenha e/ou melhore o estado nutricional e a hidratação e diminua o risco de aspiração. É importante que a equipe oriente de forma clara e objetiva, no caso de alta hospitalar, os itens descritos a seguir. 27 28 ESTÁGIOS DA ÚLCERA DE PRESSÃO E RECOMENDAÇÕES NUTRICIONAIS KRAUSE (2013) 29
Compartilhar