Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Análise Macroeconômica I Tópico 6 Introdução: O mercado de trabalho pode ser entendido como a compra e vende de serviços de mão-de-obra, representando o locus onde trabalhadores e empresários se confrontam e, dentro de um processo de negociações coletivas que ocorrem algumas vezes com a interferência do estado, determinam conjuntamente os níveis de salário, os níveis de emprego, as condições de trabalho e os demais aspectos relativos às relações entre capital e trabalho. MERCADO DE TRABALHO – CONCEITOS, DEFINIÇÕES E FUNCIONAMENTOS O mercado de trabalho divide-se em forma e informal: O mercado formal é aquele o qual contempla as relações contratuais de trabalho. Já no mercado informal prevalecem as regras com um mínimo de interferência governamental. Embora o mercado informal possa ser relativa- mente grande, é o mercado formal que fornece a dinâmica da economia. Do ponto de vista microeconômico, o estudo do mercado de trabalho constitui-se num caso particular da teoria dos preços, sendo imprescindível na determinação dos níveis de preços e salário. Já do ponto de vista macroeconômico ele contribui para a compreensão da determinação do nível de demanda agregada, do produto e do emprego, em que tem papel fundamental ao lado dos mercados de bens e serviços. O mercado de trabalho não pode ser analisado isoladamente do contexto da economia. As modificações nas principais variáveis que a determinam – salários, emprego, desemprego, rotatividade e produtividade – são condicionadas pelo nível e pela flutuação da atividade econô- mica . Isso é verdade tanto no curto prazo, durante os ciclos econômicos, quanto no longo prazo ATIVIDADE ECONÔMICA E O COMPORTAMENTO DO MERCADO DE TRABALHO Análise Macroeconômica I Tópico 6 onde os principais fatores condicionantes de evolução do mercado de trabalho são o nível e o ritmo do desenvolvimento econômico do país. De maneira geral, no longo prazo o crescimento econômico conduz ao crescimento dos principais indicadores do mercado de trabalho. Os salários reais sobem bem como o nível de produtividade do trabalho. O emprego cresce porque se ampliam as oportunidades de trabalho, seja pelo surgimento de novas ocupações seja pelo aumento de novas vagas em firma já instalada. A produtividade cresce pois, em geral, utiliza maior quantidade de capital ou instrumentos de trabalho tecnologicamente mais avançados, por unidade de trabalho. Além disso os trabalhadores educam-se e realizam treinamentos, tornando-se mais eficientes. O fato de o emprego crescer não significa que o desemprego tenha obrigatoriamente que cair, como observaremos mais adiante. A rotatividade tende a crescer também com a ampliação de oportunidades, proporcionando aos traba- lhadores maiores chances de mobilidade ocupacional. Já no curto prazo, em que os ciclos de expansão e recessão acontecem com maior rapi- dez, os indicadores mencionados refletem este fenômeno cíclico. INDICADORES DO MERCADO DE TRABALHO – CÁLCULO DE EMPREGO E DESEMPREGO Para entender o mercado de trabalho e seus principais indicadores, é necessário classi- ficar as pessoas segundo a atividade econômica que cada um exerce. Para delimitar o mercado de trabalho, deve-se partir da noção de atividade econômica. A população divide-se em população economicamente ativa (PEA) e a população não economicamente ativa. O esquema a seguir apre- senta a população e as categorias da força de trabalho. Análise Macroeconômica I Tópico 6 Taxa de Desemprego: é a percentagem de pessoas pertencentes à força de trabalho que se encontram desempregadas, isto é: POPULAÇÃO População Em Idade Ativa PIA Jovens e recolhidos a Instituições População Economicamente Ativa PEA População Não Economicamente Ativa Emprego Desemprego População e as Categorias da Força de Trabalho A população divide-se em população economicamente ativa em idade de trabalho e jovens e recolhidos a insti- tuições. A população em idade de trabalho pode fazer parte da força de trabalho ou não estar inserida nela. A força de trabalho está dividida em empregados e desempregados. Principais Indicadores do Mercado de Trabalho 100x PEA egadosNroDesempr mpregoTaxadeDese Taxa de Participação na Força de Trabalho (TPFT): A quantidade de pessoas que se somam a população economicamente ativa indica a intenção de emprego da população em idade ativa. 100x PIA PEA TPFT Análise Macroeconômica I Tópico 6 Taxa de Rotatividade da Mão-de-Obra: Os movimentos referentes às demissões e rescisões de contrato de trabalho tanto podem representar desemprego da força de trabalho como também rotatividade da mão de obra. O índice é importante porque rotatividade implica a idéia de que a mão-de-obra demitida ou que voluntariamente se demite será substituída. É calculado da seguinte forma: 100 2 1 ),min( x DAifif DA deRotativida A maneira implícita ao tomarmos o mínimo entre demissões e admissões seria para evitar subestimações ou superestimações no cálculo da rotatividade. O denominador apresenta a média do estoque de trabalhadores no período. A = Admissões D = Demissões fi = Estoque de trabalhadores início período DESEMPREGO As pessoas ficam desempregadas se: A) são demitidas e saem à procura de outro empre- go; B ) pedem demissão e passam a buscar outro emprego e; C ) ingressam ou reingressam na força de trabalho. As pessoas conseguem interromper o desemprego se: A) são contratadas ou chamadas de volta ao trabalho e; B) retiram-se da PEA. Índice de Subemprego: Este índice não será abordado mais profundamente. Basta as- ber que ele mede volume real de horas trabalhadas pelo indivíduo e o volume de horas que ele poderia, de fato, trabalhar. É medida pela relação entre o número de indivíduos ocupados traba- lhando menos que um determinado número de horas e o total do PEA. Análise Macroeconômica I Tópico 6 Tipos de Desemprego O desemprego é classificado em três tipos, com base em suas causas. Esses tipos são: A ) Desemprego Friccional: É o desemprego que surge do movimento normal de pes- soas que entram e saem da força de trabalho e da dinâmica de criação e destruição de postos de trabalho O volume de desemprego friccional depende da taxa com que esses dois processos acon- tecem. Os benefícios aos desempregados também são muito relevantes para o volume deste tipo de desemprego. Quanto maior o número de pessoas cobertas pelo seguro-desemprego e quanto mais generosos o seguro-desemprego e o benefício estendido aos desempregados, mais longo é o tempo médio levado na procura de um emprego e tanto maior o número de desemprego friccio- nal. B ) Desemprego Estrutural: Surge quando mudanças tecnológicas ou a concorrência internacional alteram as qualificações necessárias para o desempenho de certas funções ou mudam a localização dos postos de trabalho e geralmente dura mais tempo que o desemprego friccional, pois os trabalhadores precisam ser treinados ou até mesmo mudar de cidade para conseguir em- pregos. C ) Desemprego Cíclico (ou Involuntário): É o desemprego flutuante no ciclo econô- mico. Ele aumenta durante a recessão e diminui na expansão. Assim, deve-se à insuficiência de demanda agregada na economia e, por isso, também é conhecido como Desemprego Keynesiano. PLENO EMPREGO Sempre existe algum desemprego. O pleno emprego é a ausência de desemprego cíclico. A diferença entre a taxa de desemprego e o pleno emprego é o desemprego cíclico. Análise Macroeconômica I Tópico 6 Assim, o pleno emprego ocorre quando todo o desemprego existente ou é friccional ou estrutural. A taxa de desemprego emtempos de pleno emprego é denominada taxa natural de desemprego. Mesmo em períodos de pleno emprego, pode haver muito desemprego, e assim a expressão “pleno-emprego” é um exemplo de termo técnico que não corresponde à linguagem normal das pessoas. O motivo disto é que o mecanismo complexo da economia sofre constantes mutações em seus personagens, sua estrutura e sua direção. Em geral a taxa natural de desempre- go sofre alterações porque as fricções e as mudanças estruturais flutuam. FUNCIONAMENTO DO MERCADO DE TRABALHO – TEORIA CLÁSSICA Considerando o curto prazo microeconômico, em que apenas todos o estoque de fatores de produção menos o trabalho são dados, percebemos que a produção passa a depender exclusi- vamente da quantidade de trabalho utilizada. O nível de emprego é determinado no mercado de trabalho em que a demanda é utilizada pela empresa que o utilizam na produção e a oferta pelos indivíduos que os possuem. Assim, vamos detalhar a demanda e a oferta de trabalho. DEMANDA DE TRABAHO Vamos considerar um mercado do tipo concorrência perfeita, pois o grande número de empresas não conseguem afetar nem o preço dos produtos que vendem nem o preço dos fatores de produção, no caso o trabalho. As empresas contratam mão-de-obra de acordo com o objetivo de maximização de lucro. A maximização de lucro da empresa implica que ela contrate trabalha- dores até o ponto em que a produtividade marginal do trabalho (PMgN) se iguale ao salário real W/P. Assim, a produtividade marginal do trabalho representa a própria demanda de trabalho pela empresa. Análise Macroeconômica I Tópico 6 Graficamente temos: p w PMgN d N N Como a PMgN é decrescente, para que haja mais con- tratações de trabalho, o salário real deve reduzir-se. Note que para a firma, o salário nominal é irrelevante, pois o que interessa é o custo de mão de obra em termos de produto. Da condição de maximização do lucro, te- mos que o salário monetário para a empresa correspon- de ao valor da PMgN ( P x PMgN). Se o salário nomi- nal aumentar mas os preços dos produtos da empresa crescer na mesma magnitude, o custo da mão-de-obra não será alterado, logo não se alterará a quantidade demandada de trabalho. N é medido em horas de traba- lho. OFERTA DE TRABALHO Quanto à oferta de trabalho, esta é realizada pelas famílias. A questão agora é determi- nar como a oferta de horas de trabalho é afetada pelo salário real. Observe mais uma vez que a variável importante na análise é o salário real e não o salário nominal. A decisão de trabalhar corresponde em como alocar as horas do dia entre trabalho e lazer. O trabalho não gera prazer, apenas a renda necessária para satisfação do consumo. Cada hora que o indivíduo dedica ao tra- balho é uma hora a menos de lazer e vice-versa. Assim, a decisão de quanto trabalhar decorre da maximização da função utilidade, cuja cesta de bens é composta pela renda (consumo de bens) e lazer. O salário real corresponde ao acréscimo do consumo de bens para cada hora adicional de Análise Macroeconômica I Tópico 6 trabalho ou o custo oportunidade do lazer. Portanto, alterações do salário real possuem dois efeitos sobre a decisão dos indiví- duos, o efeito renda e o efeito substituição. Considerando um aumento do salário real, ocorreria o seguinte: pelo lado do efeito substituição o lazer está ficando relativamente mais caro, diminuin- do a procura por lazer e aumentando a oferta de trabalho. Pelo lado do efeito renda, um aumento do salário real estão mais ricos, logo demandarão mais produtos e mais lazer. Assim, a inclinação da oferta de trabalho depende de qual dos dois efeitos é predomi- nante. Dentro do pensamento clássico, a curva de oferta de trabalho reflete a chamada Desutili- dade Marginal do Trabalho que é a perda de utilidade decorrente de dedicar mais horas ao tra- balho e menos ao lazer, ou seja, mostra quanto deve ser o salário real para induzir o indivíduo a abrir mão de horas de lazer para dedicar mais tempo ao trabalho. p w s N N A oferta de trabalho é positivamente inclinada. Note-se que para o desenvolvimento da análise utiliza-se uma hipótese bem pouco realista: os indivíduos podem alocar livremente seu tem- po entre trabalho e lazer, ou seja, os indivíduos tem liberdade para escolher quantas horas por dia irão trabalhar. Ao observar- mos o que efetivamente acontece, percebemos que a escolha do indivíduo é ou aceitar uma jornada de trabalho oferecida ou não aceitar. Percebemos que isto acontece com uma parcela significativa da mão-de-obra. Porém, isto não afeta nossa análise Análise Macroeconômica I Tópico 6 Uma vez determinada a oferta e a demanda de trabalho, basta analisar o funcionamento do mercado de trabalho com a junção de seus componentes, para determinarmos o nível de em- prego e salário real. p w s N N d N Excesso de Oferta de Trabalho Excesso de Demanda de Trabalho eP W Ne Observa-se que quando o salário real estiver acima do salário de equilíbrio, haverá excesso de oferta de trabalho e o número de horas de trabalho oferecido pelos trabalhadores será maior que o demandado pelas empresas, caracterizando a situação de desemprego. . Com isso, a concorrência entre os trabalhadores para conseguir emprego reduzirá salários reduzindo a oferta e ampliando a demanda, até a igualdade. Caso o salário esteja abaixo do equilíbrio, haverá concorrência entre as empresas pelos trabalhadores, pressionando pela elevação do salário real. INFLAÇÃO E DESEMPREGO – A CURVA DE PHILIPS O modo mais direto de estudar a relação entre inflação e desemprego chama-se Curva de Philips. Ela pode ser entendida no curto prazo e longo prazo. No curto prazo demonstra a troca entre inflação e desemprego, enquanto mantém constantes a: 1 ) Taxa de Inflação Esperada 2 ) Taxa Natural de Desemprego Análise Macroeconômica I Tópico 6 CPCP Taxa Natural de Desemprego Taxa de Inflação Esperada Tx Desemprego T ax a d e In fl aç ão E sp er ad a CURVA DE PHILIPS DE CURTO PRAZO A curva de Philips no CP mostra a relação entre inflação e desemprego à determinada taxa de inflação esperada e à determinada taxa natural de desemprego. Um aumento ines- perado da demanda agregada diminui o desemprego e au- menta a inflação, deslocamento para cima pela curva de Philips. Uma queda não antecipada da demanda aumenta o desemprego e reduz os preços, deslocamento para baixo pela curva de Philips. CPCP1 Tx Desemprego T ax a d e In fl aç ão E sp er ad a CPLP CPCP0 a c b Uma queda na inflação espera- Da desloca a curva de Philips de Curto prazo para baixo. CURVA DE PHILIPS DE LONGO PRAZO A CPLP é vertical pois mostra a correlação entre infla- ção e desemprego quando a taxa real de inflação se iguala à taxa de inflação esperada. Uma queda na in- flação prevista desloca a CPCP para baixo. A nova CPCP secciona a curva de longo prazo num nível da nova inflação esperada (ponto C).
Compartilhar