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11/3/2006 Universidade Católica de Brasília – UCB Centro de Ciências da Vida Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciências Genômicas e Biotecnologia Genética Humana Textos auxiliares Prof. Rinaldo Wellerson Pereira, PhD Versão 0.2 I semestre 2006 Genética Humana – Textos auxiliares – v.0.2 – Prof. Rinaldo Wellerson Pereira, PhD 11/3/2006 2 Sumário 1. Genética Humana na UCB.....................................................................................3 2. O nascimento de uma disciplina.............................................................................3 3. A redescoberta dos trabalhos de Mendel e cromossomo como unidade física da herança........................................................................................................................10 4. Partículas hereditárias de Mendel na segregação igual e na segregação independente em um contexto meiótico.......................................................................13 5. A natureza molecular da partícula hereditária de Mendel .....................................16 6. A estrutura do DNA.............................................................................................19 7. Vocabulário atual em Genética ............................................................................21 8. De Mendel ao genoma humano............................................................................22 9. Duplicação dos cromossomos e replicação do DNA durante a divisão celular......23 10. A seqüência e a estrutura do genoma humano ..................................................25 11. A transcrição do gene ......................................................................................27 12. A tradução do gene ..........................................................................................28 Genética Humana – Textos auxiliares – v.0.2 – Prof. Rinaldo Wellerson Pereira, PhD 11/3/2006 3 1. Genética Humana na UCB A disciplina de Genética Humana tem como objetivo levar aos alunos da Universidade Católica de Brasília a possibilidade de entender as bases da transmissão de características entre gerações. A disciplina será tratada dentro de uma proposta de construção hierárquica de conhecimento, onde o professor contextualizará historicamente todos os grandes eventos que constituem marcos na evolução do conhecimento sobre a transmissão das características entre gerações. Apesar do foco principal desta disciplina estar voltado para a compreensão de características discretas (aquelas onde formas de manifestação são claramente identificadas), alguns aspectos relacionados a características que se apresentam de maneira contínua também serão abordados. 2. O nascimento de uma disciplina A observação de que existem características que são transmitidas entre gerações não é recente entre nós. Há existência em livros religiosos judaicos, de mais de 3000 anos, da existência de famílias onde as crianças não deveriam ser submetidas a circuncisão (ritual de remoção do prepúcio praticado no judaísmo) devido ao histórico de morte por sangramento, é a luz de nossa compreensão atual a prova da consciência de que esta característica acompanhava algumas famílias. O desenvolvimento de práticas agropastoris pelo homem a mais de 4000 anos é outro exemplo de que há muito tempo o homem tinha conhecimento da transmissão de características. Neste caso especificamente, escolhendo dentro de suas plantações e rebanhos melhores plantas e animais para formar novas gerações mais produtivas. O marco de transição entre o conhecimento da transmissão de características e o desenvolvimento de modelos para explicá-lo é a publicação do trabalho do Monge Gregor Mendel em 1866 onde ele trata de seus experimentos com hibridização de ervilhas. Aqui vale uma explicação do termo hibridização, já que este era muito utilizado a época de Mendel e significava o cruzamento entre indivíduos, normalmente de uma mesma espécie e com características diferentes. Estes experimentos eram conduzidos no intuito de gerar novas variedades, seja com fins ornamentais ou mesmo para buscar entendimento de como as características eram transmitidas. Muito embora Mendel tenha citado em seu trabalho outros hibridizadores Genética Humana – Textos auxiliares – v.0.2 – Prof. Rinaldo Wellerson Pereira, PhD 11/3/2006 4 da época, como Kölreuter, Gärtner, Hebert, Lecoq e Wichura, nenhum deles passou próximo das conclusões revolucionárias de Mendel. Figura 1 – O Monge Gregor Mendel e suas ervilhas Os trabalhos de Mendel que o levaram a formular conclusões tão revolucionárias que o faz pai da Genética foram conduzidos com ervilhas de cheiro (Pisum sativum). Os experimentos de Mendel como descritos em seu trabalho científico, iniciaram-se com a seleção de plantas apresentando características para as quais existiam duas manifestações distintas. As características escolhidas foram as seguintes: cor da flor (púrpura e branca), cor da semente madura (amarela e verde), forma da semente madura (lisa e rugosa), cor da vagem (verde e amarela), forma da vagem (inflada e sulcada), tamanho da planta adulta (alta e pequena) e posição das flores (Axial e terminal). Após escolher plantas com as características acima, Mendel submeteu as quatorze plantas a auto-fecudanção e verificou que as características eram transmitidas de maneira estável. Neste momento de seu trabalho experimental Mendel tinha estabelecido quatorze linhagens puras. Esta parte do experimento se mostrará imprescindível para o sucesso de Mendel. O próximo passo foi à hibridização (cruzamento) entre linhagens puras para cada uma das características. Para todos os seus cruzamentos Mendel realizou sempre o cruzamento recíproco, ou seja, alternou entre qual dos genitores seria o doador de pólen. Como exemplo será utilizado o cruzamento entre as linhagens que apresentavam flores púrpuras e flores brancas. Genética Humana – Textos auxiliares – v.0.2 – Prof. Rinaldo Wellerson Pereira, PhD 11/3/2006 5 Figura 2 – As sete características discretas estudas por Mendel. Figura 3 – Procedimento experimental utilizado por Mendel O procedimento realizado por Mendel envolvia a remoção das anteras de um genitor (fêmea) e a transferência de pólen do outro genitor (macho). A transferência de pólen de uma linhagem de flor púrpura para o estigma de uma planta de flor branca, produzia sementes que uma vez plantadas geravam somente plantas com flores púrpuras. O cruzamento recíproco, onde pólen de uma planta com flor branca era transferido para o estigma de uma planta com flor púrpura produzia o mesmo resultado. Os híbridos de flor púrpura após a auto-fecundação produziram sementes que uma vez plantadas geravam plantas com flores púrpuras e brancas. Este padrão, onde plantas geradas a partir do cruzamento entre as linhagens puras apresentavam somente uma característica e estas uma vez auto- Genética Humana – Textos auxiliares – v.0.2 – Prof. Rinaldo Wellerson Pereira, PhD 11/3/2006 6 fecundadas geravam plantas onde as duas manifestações da característica podiam ser verificadas, se reproduziu em todos os demais cruzamentos conduzidos por Mendel. Tabela 1 – Resultado dos cruzamentos Mendelianos onde os parentais diferem em uma característica Característica Parental F1 F2 Razão em F2 Sementes lisas x rugosas Toda lisa 5474 lisa; 1850 rugosa 2,96:1 Sementes amarelas x verdes Toda amarela 6022 amarela; 2001 verde 3,01:1 Flor púrpurax branca Toda púrpura 705 púrpura; 224 branca 3,15:1 Vagem inflada x sulcada Toda inflada 882 inflada; 299 sulcada 2,95:1 Vagem verde x vagem amarela Toda verde 428 verde; 152 amarela 2,82:1 Flores terminal x flores axial Toda axial 651 axial; 207 terminal 3,14:1 Haste longa x haste curta Toda longa 787 longa; 277 curta 2,84:1 Nestes experimentos, as razões encontradas por Mendel mostraram-se não diferir estatisticamente da razão 3:1. Explicar este primeiro número mágico foi o primeiro desafio para Mendel e também seu primeiro grande sucesso. Para explicá-lo Mendel lançou mão do conceito de “dominante”. Em seus experimentos a manifestação da característica estudada que aparecia em todos os indivíduos após a hibridização entre as linhagens era tida como dominante. Esta manifestação era também aquela que aparecia em maior freqüência quando dos experimentos de auto-fecundação dos primeiros híbridos. Para explicar seus resultados Mendel propôs que no indivíduo adulto existiriam duas partículas que na formação das células germinativas (pólen e óvulo) se separavam igualmente e que se uniriam a acaso para formar a próxima geração. A linhagem com a manifestação dominante teria duas partículas dominantes (AA), enquanto que a linhagem com a característica recessiva teria duas partículas recessivas (aa). Os gametas formados seriam respectivamente, “A” e “a” que ao se unirem dariam origem a planta Aa. Seguindo o raciocínio de Mendel durante a auto- fecudanção o hibrido geraria os seguintes gametas: ½ A e ½ a. Veja o quadro abaixo: sergio Genética Humana – Textos auxiliares – v.0.2 – Prof. Rinaldo Wellerson Pereira, PhD 11/3/2006 7 Figura 4 Cruzamento entre as linhagens de ervilhas com a característica cor de flor em manifestações púrpura e branca. Observando somente as figuras têm-se o que Mendel encontrou. Ao implementar a hipótese de que cada característica seria determinada por duas partículas que possuíam relação de dominância e que durante a formação dos gametas estas partículas segregariam igualmente, Mendel verificou que sua hipótese explicava seus resultados. O próximo passo de Mendel foi analisar duas características simultaneamente. Como exemplo será utilizado a cor e formato da semente madura. Ao cruzar linhagens com sementes de cor amarela e de forma rugosa com uma linhagem com semente verde e lisa, Mendel observou que todos os híbridos apresentavam sementes amarelas e rugosas. No cruzamento individual eram estas duas manifestações que se comportavam como dominantes. Ao permitir a auto-fecundação destes híbridos, Mendel observou quatro fenótipos: amarela/lisa, amarela/rugosa, verde/lisa e verde/rugosa em uma proporção que não diferia estatisticamente de 9:3:3:1. Genética Humana – Textos auxiliares – v.0.2 – Prof. Rinaldo Wellerson Pereira, PhD 11/3/2006 8 Figura 5– Cruzamento di-hibrido onde duas características são avaliadas simultaneamente. Ao analisar individualmente as características cor de semente e forma de semente no quadro acima, é facilmente identificado que se trata de duas proporções 3:1. Mendel concluiu que as partículas hereditárias para cada uma das características estavam segregando de maneira independente durante a formação dos gametas. Genética Humana – Textos auxiliares – v.0.2 – Prof. Rinaldo Wellerson Pereira, PhD 11/3/2006 9 Figura 6 – Segregação independente das partículas hereditárias de Mendel mostrando que a explicação proposta por Mendel condizia com os resultados encontrados. Com estes experimentos Mendel identificou padrões de herança e propôs um mecanismo para explicá-los. Em 1866, quando da publicação de seu trabalho Mendel não obteve o reconhecimento por seus achados. Talvez a explicação mais razoável seja aquela onde Mendel é colocado como um homem a frente de seu tempo. E nesta condição incapaz de fazer ecoar entre os grandes nomes da ciência de sua época seus achados. A segregação igual das partículas hereditárias é o que conhecemos hoje como primeira lei de Mendel. Enquanto que a segregação independente é conhecida como segunda lei de Mendel. Genética Humana – Textos auxiliares – v.0.2 – Prof. Rinaldo Wellerson Pereira, PhD 11/3/2006 10 3. A redescoberta dos trabalhos de Mendel e cromossomo como unidade física da herança O trabalho sobre hibridização em ervilhas, onde Mendel brilhantemente discorre sobre os mecanismos envolvidos na transmissão de características discretas foi praticamente ignorado até 1900. Muito embora Mendel tenha se correspondido frequentemente com o grande botânico da época, tentando convencê-lo de seus resultados, Mendel não foi capaz de fazer repercutir seus resultados. Entre 1866 e 1900 o trabalho de Mendel foi citado em quatro publicações. Do ponto de vista histórico a mais importante foi a citação de Mendel em uma grande revisão sobre hibridização em plantas, publicada por Focke em 1881. A importância desta publicação deve-se ao fato de que os pesquisadores que encontraram em seus resultados algo semelhante ao encontrado por Mendel se referem ao trabalho de Focke como a fonte que os levaram ao trabalho de Mendel. É creditado a Hugo de Vries, Carl Correns e Erich von Tschermark a redescoberta dos trabalhos de Mendel. Os três desenvolviam pesquisas com plantas e no final do século IXX e início do século XX encontraram resultados que ambos inicialmente acreditavam ser originais. No entanto, ao buscarem na literatura se depararam com os trabalhos de Mendel e verificaram que os resultados encontrados por eles eram idênticos aqueles encontrados por Mendel quase trinta anos antes. Em 1900 o ambiente científico já não era como à época de Mendel. Nos trintas anos decorridos desde a publicação do trabalho de Mendel, a ciência tinha avançado na teoria celular e na capacidade de estudar a unidade básica dos organismos vivos (a célula). As técnicas de microscopia permitiam o estudo de organelas e compartimentos celulares. Para o avanço da genética foi particularmente importante o desenvolvimento na capacidade de estudar o núcleo celular. Em especial o estudo do comportamento dos cromossomos durante a mitose (divisão celular para manutenção somática) e meiose (divisão celular para formação dos gametas). Em vários organismos onde o núcleo e o comportamento dos cromossomos foram estudados, estes apareciam em pares no organismo adulto, mas tinham o número reduzido pela metade na formação dos gametas. Historicamente, Walter Sutton e Theodor Boveri são tidos como aqueles que de maneira independente associaram o comportamento dos cromossomos ao comportamento das partículas hereditárias de Mendel. Esta observação e uma série de experimentos envolvendo a sergio Genética Humana – Textos auxiliares – v.0.2 – Prof. Rinaldo Wellerson Pereira, PhD 11/3/2006 11 observação do comportamento dos cromossomos durante a meiose deram corpo à teoria cromossômica da herança. Alguns experimentos extremamente importantes para corroborar esta teoria foram aqueles onde cromossomos heteromórficos (formas diferentes) estavam presentes. Apesar de heteromórficos, estes cromossomos estavam sempre juntos durante a meiose, mas sempre segregavam igualmente durante a formação dos gametas. A observação de que o sexo em alguns organismos estava associado à constituição cromossômica também contribuiu para a aceitação da teoria cromossômica da herança. Os experimentos que ajudaram a pavimentar a idéia de que realmente oscromossomos constituem a unidade física da herança foram conduzidos pelos grupos de Thomas Hunt Morgan e Willian Bateson por volta de 1905-1915. O primeiro estudando a herança de cor de olhos na mosca das frutas (Drosophila melanogaster) e o segundo estudando a herança da cor de plumagem em aves. Ambos encontraram que seus resultados não seguiam estritamente aqueles propostos por Mendel. Nos experimentos conduzidos por estes grupos, diferentemente daqueles conduzidos por Mendel, o sexo do genitor era importante para o resultado final. Ou seja, a escolha do fenótipo do genitor masculino e do genitor feminino interferia no padrão de segregação. É importante lembrar que de acordo com as proposições Mendelianas o padrão de segregação de um fenótipo era independente do sexo dos genitores e que as manifestações de uma determinada característica sempre se distribuíam igualmente entre os descendentes do sexo masculino e feminino. Em seus experimentos com D. melanogaster o grupo de Morgan para explicar seus resultados propôs que a partícula hereditária para a característica cor de olhos estaria localizada em um membro do par de cromossomos sexuais e não no outro. A mosca das frutas possui quatro pares de cromossomos, sendo três homomórficos e um heteromórfico. Este para heteromórfico é designado X e Y, sendo o X maior que o Y. Era sabido que o sexo em D. melanogaster estava associado à composição cromossômica neste par heteromórfico. Ao propor a presença da partícula hereditária em um membro do par de cromossomos sexuais, ficava também proposto que no indivíduo masculino, XY, bastaria uma cópia da partícula recessiva para que esta se manifestasse. sergio sergio sergio sergio Genética Humana – Textos auxiliares – v.0.2 – Prof. Rinaldo Wellerson Pereira, PhD 11/3/2006 12 Figura 7 – Cromossomos de D. melanogaster, como especial atenção aos cromossomos sexuais onde o macho aqui é XY. O cromossomo X e Y apesar de constituírem um par eles apresentam forma diferente (heteromorfos). É importante ressaltar aqui que Batason também encontrou resultados semelhantes em seus estudos de transmissão da cor de plumagem em galinhas. O padrão de Bateson também estava de acordo com a proposta de que a partícula estava localizada em um dos cromossomos sexuais. No entanto, em aves o sexo heterogamético é o feminino (ZW) enquanto que sexo o homogamético é o macho (ZZ). Assumindo a presença da partícula hereditária no cromossomo Z os resultados de Bateson estão de acordo com os resultados encontrados por Morgan. Genética Humana – Textos auxiliares – v.0.2 – Prof. Rinaldo Wellerson Pereira, PhD 11/3/2006 13 Figura 8 – Resultados encontrados por Morgan quando do cruzamento entre linhagens de mosca da fruta com características cor de olho vermelho e branco. Seus resultados não coincidiam com aqueles encontrados por Mendel. Para explicar seus resultados propôs que a partícula responsável pela transmissão da característica cor de olhos estava no cromossomo X. Assim o padrão de transmissão era dependente do sexo, o qual, por conseguinte era dependente dos cromossomos sexuais. Tem-se então uma fortíssima evidência em favor da teoria cromossômica da herança. Ou seja os cromossomos funcionando como unidade física da herança. 4. Partículas hereditárias de Mendel na segregação igual e na segregação independente em um contexto meiótico A meiose é o processo de divisão celular onde a partir de uma célula com número de cromossomos igual a 2n (diplóide) são produzidas quatro células com número n (haplóide) de cromossomos. Tomando o ser humano como exemplo, temos nas gônadas (ovário e testículos) células germinativas com número de cromossomos 2n=46, ou seja, 23 pares de cromossomos. Os pares são formados por um cromossomo recebido do pai e por um cromossomo recebido da mãe. Ao final da meiose estas células produzirão espermatozóides e óvulos com número n igual a 23. No momento da sergio Genética Humana – Textos auxiliares – v.0.2 – Prof. Rinaldo Wellerson Pereira, PhD 11/3/2006 14 fecundação, ao unirem-se, o espermatozóide e o óvulo tem-se restabelecido o número diplóide 2n=46. O entendimento da meiose aqui na disciplina de genética não levará em conta todas as fases e processos, os quais são estudados nas disciplinas de biologia celular e histologia. Nosso entendimento de meiose envolverá os seguintes passos: duplicação dos cromossomos no núcleo interfásico, segregação igual dos cromossomos homólogos duplicados e por último a segregação das cromátides irmãs. Figura 9 – A esquerda tem-se fotografias do processo de meiose em uma célula com 2n=14. O sistema de coloração utilizado evidencia somente os cromossomos. Em 1 temos os cromossomos não condensados dentro do núcleo. Este arranjo é chamado de cromatina. Durante a interfase os cromossomos não condensados se duplicam e então começam a se condensar e alinhar no centro da célula, já que a membrana nuclear é perdida durante a divisão celular (cariocinese). Estes passos são representados de 2 a 8. De 9 a 11 tem-se a segregação dos membros de cada par de homólogos. Ou seja, cada cromossomo duplicado do par de homólogo segrega para uma célula. Em 11 temos o produto final da meiose I, neste exemplo, com duas células cada uma com 7 cromossomos duplicados. De 12 até 14 temos a meiose II onde as cromátides irmãs segregam dando origem a 4 células, cada uma com sete cromossomos. À direita é mostrado um esquema para uma célula com 2n=4. Ao longo deste texto este esquema será utilizado várias vezes. Para entender em definitivo a segregação das partículas mendelianas em um contexto meiótico veja os esquemas na figura abaixo: Genética Humana – Textos auxiliares – v.0.2 – Prof. Rinaldo Wellerson Pereira, PhD 11/3/2006 15 Figura 10 – A direita tem-se de maneira esquemática meiose de uma célula com 2n=2. A leitura desta figura é a seguinte: Uma célula com 2n=2 tem seus cromossomos não condensados em processo de duplicação. Os cromossomos homólogos duplicados segregam igualmente na meiose I e em seguida cada cromossomo homólogo tem suas cromátides irmãs segregadas na meiose II para formar 4 células cada uma com um cromossomo, ou seja, com n=1. A esquerda têm-se as partículas hereditárias como propostas por Mendel e a segregação igual para formação dos gametas. Ou seja, temos a primeira lei de Mendel. Ao buscar no esquema da direita onde está o esquema da esquerda não é difícil vê-lo na segregação dos cromossomos homólogos duplicados na meiose I. Genética Humana – Textos auxiliares – v.0.2 – Prof. Rinaldo Wellerson Pereira, PhD 11/3/2006 16 Na figura acima a primeira lei de Mendel foi apresentada no contexto do comportamento dos cromossomos durante a meiose. Na figura abaixo, a segunda lei de Mendel (segregação independente) no mesmo contexto. Figura 11 – Para demonstrar a segunda lei de Mendel em um contexto cromossômico é necessário utilizar dois pares de cromossomos homólogos. Então esta figura trata da meiose em uma célula 2n=4. Os pares de cromossomos homólogos segregam de maneira independente um do outro durante a meiose I. Assim existem duas possibilidades de segregação, representadas na figura pelos esquemas de número 1 e 2. No entanto é importante ressaltar que uma célula quando em meiose segue somente um padrão de segregação, mas na média das células que entram em divisão meiótica 50% seguirão o esquema 1 e os outros 50% seguirão o esquema 2. Por esta razão ao computar a proporção de gametas o fazemos em um denominador de 8 e não quatro. Aqui a figura da esquerda, representando a segregação independentede Mendel está nas duas possibilidades de meiose I apresentadas nos esquemas 1 e 2. 5. A natureza molecular da partícula hereditária de Mendel Apesar das fortes evidências de que o cromossomo seria realmente a unidade física da herança, esta teoria, inicialmente postulada por Suton e Boveri, tornou-se aceita sem questionamentos após uma série de experimentos conduzidos por Calvin Bridges, o qual era aluno de Morgan. Os experimentos de Bridges demonstravam que anormalidades nos cromossomos sexuais de D. melanogaster estavam associadas à inviabilidade daquelas moscas que eram fruto da união de gametas que carregavam o cromossomo anômalo. Assim em 1915, é publicado o primeiro livro onde a genética Mendeliana é interpretada a luz da teoria cromossômica. Este livro tem Genética Humana – Textos auxiliares – v.0.2 – Prof. Rinaldo Wellerson Pereira, PhD 11/3/2006 17 o título em inglês de The Mechanism of Mendelian Heredity, que pode ser traduzido como O mecanismo da hereditariedade Mendeliana. Seus autores são Morgan, Sturtevant, Muller e Bridges. Aceito que os cromossomos são fisicamente as estruturas físicas da herança, o próximo grande desafio seria a identificação da natureza molecular da herança. Ou seja, identificar qual molécula dentro do núcleo é a responsável pela herança. Desde 1869 sabia-se que o núcleo das células era rico em um tipo particular de molécula ácida e rica em fósforo. Esta molécula recebeu a denominação de nucleína e foi identificada por Friedrich Miescher. A nucleína de Miescher corresponde aos nossos conhecimentos atuais ao ácido desoxirribonucléico (DNA). O DNA, sem dúvida está no subconsciente de todos nós como a molécula da vida por ser nele que está a informação genética. Neste momento do texto não iremos simplesmente saltar dos cromossomos para o DNA, mas sim tratar de construir através dos principais experimentos que levaram ao momento em que o DNA foi em definitivo alçado a uma posição de enorme destaque. A nucleína Miescher teve sua composição molecular identificada em 1900 por Phoebus Levene. Este pesquisador concluiu que a nucleína era uma molécula constituída por algumas unidades básicas, a saber: uma molécula de açúcar, uma molécula de fósforo e quatro tipos de bases nitrogenadas. Genética Humana – Textos auxiliares – v.0.2 – Prof. Rinaldo Wellerson Pereira, PhD 11/3/2006 18 Figura 12 – A unidade básica do DNA. O nucleotídeo é a unidade básica do DNA. Os experimentos de Frederick Griffith publicados em 1928 marcam o momento em que o caminho para identificação do DNA como molécula da hereditariedade foi aberto. Griffith realizou experimentos com duas cepas de bactérias do gênero Streptcoccus. Uma cepa era altamente letal e possuía parede celular o que lhe conferia a característica de produzir colônias lisas, enquanto que a segunda cepa não apresentava patogenicicidade e não possuía parede celular. A ausência de parede celular fazia com que estas bactérias quando cultivadas em placas produziam colônias com aspecto rugoso. Em determinado momento do trabalho de Griffith, bactérias não patogênicas foram misturadas com um extrato de bactérias patogênicas mortas pelo calor. Estas bactérias não patogênicas foram então inoculadas em camundongos e surpreendentemente estes morreram. Ao isolar bactérias dos camundongos mortos, Griffith verificou que elas agora formavam colônias lisas. Estes achados levaram Griffith a estabelecer o conceito de princípio transformante. Identificar o princípio transformante de Griffith passou então a ser o alvo daqueles interessados em descobrir qual seria a molécula da hereditariedade. Genética Humana – Textos auxiliares – v.0.2 – Prof. Rinaldo Wellerson Pereira, PhD 11/3/2006 19 Figura 13 – Experimentos de Griffith onde ele estabelece o conceito de princípio trasnformante. Os experimentos que permitiram esclarecer qual seria o princípio transformante de Griffith foram realizados pelos pesquisadores Avery, MacLeoad e MacCarty em 1944. Com uma série de experimentos relativamente simples o grupo de Avery foi capaz de demonstrar que a molécula da hereditariedade era o DNA. Para realização de seus experimentos, eles produziram um extrato de Streptococcus patogênica mortas pelo calor. Este extrato foi tratado em diferentes experimentos com enzimas para degradação de carboidratos, ácido ribonucléico (RNA), lipídeos e DNA. Os diferentes extratos tratados foram misturados com bactérias não patogênicas e estas inoculadas em camundongos. O único extrato que não foi capaz de transformar as bactérias não patogênicas em bactérias patogênicas foi aquele tratado com enzima para degradação de DNA. A ausência do DNA impedia a capacidade transformante do extrato de bactérias patogênicas. Estava estabelecida com alto grau de confiabilidade que o DNA era a molécula da hereditariedade. 6. A estrutura do DNA A partir de 1944, quando o DNA foi identificado como sendo a molécula da hereditariedade o novo desafio era compreender como esta molécula tida por muitos Genética Humana – Textos auxiliares – v.0.2 – Prof. Rinaldo Wellerson Pereira, PhD 11/3/2006 20 como relativamente simples poderia desempenhar um papel tão primordial no mundo biológico. Conhecer a estrutura do DNA era tido como o primeiro passo e grandes nomes da ciência da época estavam envolvidos neste desafio. No entanto coube a dois jovens pesquisadores não estabelecidos entre os notáveis da época a proeza de decifrar o código da vida, como os próprios trataram o DNA após sua descoberta. James Watson e Francis Crick foram capazes de somar uma gama de conhecimentos que se tinha a época sobre o DNA com uma pitada de intuição e em 1953 publicaram o artigo científico que hoje é tido como um dos mais impactantes do século XX. Em um artigo de uma página publicado na prestigiosa revista Nature, Watson e Crick apresentaram o DNA como uma molécula constituída por uma dupla hélice. Esta dupla hélice seria formada por duas fitas antiparelas, onde cada uma das fitas seria constituída por unidades de nucleotídeos ligados por ligações fosfodiéster entre o fósforo ligado ao carbono 5’ de uma desoxirribose e a hidroxila ligada ao carbono 3’ de outra desoxirribose. No carbono 1’ das desoxirriboses estaria ligada uma bse nitrogenada. As quatro bases nitrogenadas presentes no DNA são as adeninas, guaninas, citosinas e timinas. A principal força de estabilização entre as duas fitas para formação da dupla hélice seriam as pontes de hidrogênio. O pareamento se daria entre guanina e citosina e entre adenina e timina. As guaninas e as citosinas se pareariam por três pontes de hidrogênio, enquanto as adeninas e timinas se pareariam por duas pontes de hidrogênio. Estando as partículas hereditárias de Mendel nos cromossomos, e sendo o DNA a molécula da hereditariedade, podemos aprofundar molecularmente nossa visão do cromossomo para o que nos interessa neste momento. O cromossomo é uma dupla hélice de DNA. Assim cada par de cromossomos homólogos é um par de duplas hélices. E se a única molécula variável ao longo do DNA é a base nitrogenada, podemos reduzir a partícula hereditária de Mendel a uma seqüência de nucleotídeos na dupla hélice. Genética Humana – Textos auxiliares – v.0.2 – Prof. Rinaldo Wellerson Pereira, PhD 11/3/2006 21 Figura 13 – A dupla hélice de DNA 7. Vocabulário atual em Genética Muito do vocabulário apresentado neste texto até o momento provavelmente frustrou aqueles que já possuem uma bagagem de conhecimentos em genética adquirida no ensino médio.Intencionalmente, somente agora depois de uma viajem de quase cem anos partindo em 1866 com Mendel até 1953 com Watson e Crick que será apresentado uma série de termos que serão amplamente utilizados ao longo dos próximos tópicos. A começar pelo termo que define a disciplina tratada por este texto, a genética. A palavra genética para designar uma área do conhecimento interessado na transmissão de características de uma geração para outra foi proposto por Willian Bateson em uma carta escrita em 1905 a um amigo pesquisador. Bateson além de grande divulgador da genética mendeliana, ajudou a cunhar uma série de termos que são amplamente Genética Humana – Textos auxiliares – v.0.2 – Prof. Rinaldo Wellerson Pereira, PhD 11/3/2006 22 utilizados entre aqueles que tratam da genética. Para designar o componente responsável por uma característica genética é utilizado o termo gene. Pelo apresentado até este momento, já é claro para o leitor que o gene é última instância uma seqüência de DNA que faz parte do cromossomo. De outra forma, o gene é uma seqüência de nucleotídeos. As diferentes manifestações de uma característica genética são denominadas fenótipos. De acordo com a proposta de Mendel os genes apresentavam-se aos pares (AA, Aa e aa). Para estas configurações utilizamos a designação de genótipos. Cada membro de um genótipo é designado com sendo um alelo. Para o genótipo AA, é dito ser um genótipo homozigoto dominante. O genótipo Aa é dito ser um genótipo heterozigoto. O genótipo aa é designado como homozigoto recessivo. A partir deste ponto estes termos serão amplamente utilizados em nosso texto e tantos outros novos aparecerão na construção de nosso genetiquês. 8. De Mendel ao genoma humano A leitura do texto anterior conduz o leitor a conclusão de que a partícula hereditária de Mendel está fisicamente em estruturas dentro do núcleo celular, denominadas cromossomos. Os cromossomos são constituídos por proteínas e DNA. Com foco na molécula de DNA, conclui-se que cada cromossomo é uma dupla hélice de DNA. Cada dupla hélice de DNA é formada por duas fitas de nucleotídeos que correm em sentido contrário. Ou seja, são antiparelas com uma fita seguindo o sentido 5´ para 3´e a outra fita seguindo o sentido 3´ para 5´. Sendo o DNA a molécula da hereditariedade a idéia a ser compreendida aqui é que cada gene em última instância é uma seqüência de DNA. Esta idéia é representada na figura 13. Genética Humana – Textos auxiliares – v.0.2 – Prof. Rinaldo Wellerson Pereira, PhD 11/3/2006 23 Figura 13 – Representação esquemática de como poderíamos pensar os alelos desde a proposição de Mendel até o nosso conhecimento da estrutura do DNA 9. Duplicação dos cromossomos e replicação do DNA durante a divisão celular Em organismos de reprodução sexuada a transmissão de material genético dos parentais para seus descendentes dá-se quando da união dos gametas. Sendo a meiose, o processo de divisão celular que leva a formação dos gametas, nada mais natural que a tratemos de maneira especial. A figura 9 representa a meiose. Ao observamos os diversos passos na figura, verificamos que a cromatina é duplicada para garantir que ao final da meiose quatro células, cada uma com um membro do par de cromossomos homólogos, sejam geradas. Cada membro de um par de cromossomos homólogos é constituído em última instância por uma dupla hélice de DNA. Assim como entender a duplicação cromossomo em termos da seqüência de DNA. O modelo da dupla hélice de Watson e Crick trazia em si uma proposição de como se daria a duplicação das duplas hélices de DNA. A proposição era a de que uma fita de DNA serviria de molde para síntese de uma nova fita. Assim, uma dupla fita após a duplicação cromossômica daria origem a duas duplas fitas. Genética Humana – Textos auxiliares – v.0.2 – Prof. Rinaldo Wellerson Pereira, PhD 11/3/2006 24 Este processo de duplicação das duplas hélices é denominado de replicação do DNA. A replicação do DNA ocorre de maneira semiconservativa, onde cada nova dupla fita replicada é constituída por uma fita molde e uma fita recém sintetizada. Veja a representação da replicação semiconservativa na figura 14. Figura 14 – Esquema representando a replicação semi- conservativa de uma dupla hélice de DNA. As fitas em vermelho representam as fitas recém sintetizadas a partir da fita molde. O entendimento molecular do processo de replicação do DNA foi desvendado a partir da identificação da enzima DNA polimerase pelo grupo de Arthur Kornberg na década de 1960. Este grupo foi responsável pela primeira descrição molecular da replicação do DNA. Em eucariotos a replicação inicia-se em vários pontos ao longo dos cromossomos. Estes pontos são denominados origem de replicação. A origem de replicação possui seqüências de DNA que durante a divisão celular recruta toda uma maquinaria composta por um grande número de proteínas. Esta maquinaria removerá as pontes de hidrogênio, oferecendo todas as condições para que a DNA polimerase inicie a adição de nucleotídeos no sentido 5´para 3´. A região do DNA onde a maquinaria de replicação desenvolve sua atividade é denominada de forquilha de replicação. Além desta peculiaridade, a DNA polimerase não é capaz de iniciar a adição de nucleotídeos sem que haja um iniciador de fita dupla. Este iniciador é um fragmento de RNA sintetizado pela enzima primase. Esta estrutura de dupla fita entre DNA e RNA dará condições para que a DNA polimerase inicie a adição de nucleotídeos complementares a fita molde. A capacidade da DNA polimerase em adicionar nucleotídeos somente no sentido 5´ para 3´ gera um problema durante a replicação, onde em uma das fitas a replicação Genética Humana – Textos auxiliares – v.0.2 – Prof. Rinaldo Wellerson Pereira, PhD 11/3/2006 25 deveria se dar no sentido de 3´para 5´. A solução encontrada ao longo do processo de evolução dos organismos foi a replicação de uma das fitas acontecer em sentido contrário a forquilha de replicação. Assim em uma forquilha de replicação, uma das fitas é replicada de maneira contínua e a outra é replicada de maneira descontínua. A fita descontínua é constituída de pequenos fragmentos que são sintetizados a medida que a forquilha de replicação avança. Estes fragmentos são denominados com o nome de seu descobridor, assim os chamamos de fragmentos de okazaki. A forquilha de replicação com a maquinaria enzimática responsável pela replicação é mostrada na figura 15. Figura 15 – Forquilha de replicação mostrando a replicação bidirecional e os fragmentos de Okazaki. 10. A seqüência e a estrutura do genoma humano Os termos DNA e genoma estão além da academia, utilizados nem sempre de maneira correta em todos os meios de comunicação. O que então constitui o genoma humano? É a seqüência de nucleotídeos das duplas hélices que compõem o genoma haplóide humano. Ou seja, a seqüência de nucleotídeo nos 22 cromossomos autossômicos, no cromossomo X e no cromossomo Y. Esforços que começaram no início da década de 90 e se estenderam até o inicio do século XXI permitiram obter praticamente 100 % da seqüência do genoma humano. Atualmente a seqüência do genoma humano está disponível em bancos de dados na internet que podem ser acessados de qualquer computador. No entanto, a seqüência por si só diz pouco sobre as Genética Humana – Textos auxiliares – v.0.2 – Prof. Rinaldo Wellerson Pereira, PhD 11/3/2006 26 potencialidades deste imenso trabalho. Grandes esforços estão sendo empreendidos em entender o significado das seqüências de nucleotídeos. Neste momento, o que se sabe é que o genoma humanoé funcionalmente muito mais complexo que se tinha imaginado. Não é o objetivo aqui enveredar nos mínimos detalhes nesta complexidade. Aqui trataremos dos aspectos básicos de como a informação presente na seqüência de DNA desempenha seu papel. O DNA é a molécula da hereditariedade, mas a molécula que efetivamente trabalha na determinação de todas as características em um indivíduo. Podemos imaginar o ser humano como um grande reator de reações bioquímicas catalisadas pelas proteínas. Quais, quantas e quanto destas proteínas estão presentes em uma célula é o que faz os mais diversos tipos de células serem o que são. Por exemplo, um hepatócito possui o mesmo genoma que uma célula epitelial, no entanto as proteínas presentes nestas células são diferentes. O DNA está no núcleo, mas as proteínas são sintetizadas no citoplasma. Francis Crick foi quem propôs a presença de um adaptador na transferência da informação do núcleo para o citoplasma. Proposição que se confirmou e que estabeleceu o que conhecemos como dogma central da biologia molécula. A idéia por trás deste dogma é a de que o DNA é transcrito para mRNA (RNA mensageiro) e este traduzido para proteínas. Dados publicados em 2005 e 2006 mostram que o genoma humano é ativamente transcrito e muitos destes transcritos não são traduzidos a proteínas. Entender o papel destes RNAs é campo de intensas pesquisas atualmente. Aqui não trataremos neste nível de profundidade. Concentraremos-nos ao processo de transcrição de RNAs que possuem informação para síntese de proteínas e da maquinaria necessária para traduzir a informação do mRNA em proteínas. O número de regiões no DNA que codificam para proteínas, de agora em diante denominadas de genes, é um tem controverso e para o qual ainda não há um valor definitivo. Já se falou em 100.000 e o número em pauta atualmente é de algo em torno de 35.000 genes. Alguns elementos definem uma determinada seqüência do genoma como sendo um gene. De maneira geral, existindo exceções, os elementos que constituem um gene são os elementos regulatórios, o promotor, o sitio de inicio da transcrição, os exons, introns e o sitio de final da transcrição. Os exóns representam as regiões que realmente Genética Humana – Textos auxiliares – v.0.2 – Prof. Rinaldo Wellerson Pereira, PhD 11/3/2006 27 serão traduzidas a uma seqüência de aminoácidos e assim formando proteína.A figura 16 representa a estrutura básica de um gene em eucariotos. Figura 16 – Elementos básicos em uma seqüência de DNA que constituem um gene em eucariotos 11. A transcrição do gene As seqüências regulatórias e o promotor são reconhecidos por proteínas, denominadas de fatores de transcrição. A presença de fatores de trasncrição específicos para uma seqüência regulatória é que definirão se a RNA polimerase transcreverá o gene para RNA. Este é o primeiro ponto de regulação da expressão de um gene em diferentes tipos celulares. Encontrada as condições para transcrição de um gene a RNA polimerase o faz sempre adicionando ribonucleotídeos no sentido 5’ para 3’, gerando uma molécula fita simples e com o ribonucleotídeo uracila ao invés da timina. Além da característica de ser fita simples, de ter a uracila e não a timina, o RNA se diferencia do DNA por ter como açúcar a ribose e não a desoxiribose. A diferença entre estas duas moléculas, é a presença de uma hidroxila (OH) no carbono 2’ na ribose, o qual não está presente na desoxiribose. A transcrição de gene que codifica para a síntese de proteína inicia-se no sítio de início da transcrição e termina no sítio final da transcrição gerando o mRNA primário. O mRNA primário é constituído de uma porção 5’não traduzida (5’ UTR, do inglês unstralated), dos exóns, dos íntrons e da porção 3’ não traduzida (3’UTR). Para que o mRNA primário seja exportado ao citoplasma e lá traduzido é necessário que este sofra algumas modificações. Estas modificações são coletivamente chamadas de processamento do mRNA e implicam na adição de uma 7 metil guanosina (uma guanina ribonucleotídeo com um grupo metil) no 5’do mRNA, na adição de uma cauda de adeninas na extremidade 3’ e na remoção dos íntrons. A molécula de mRNA processada é denominada de RNA maduro e está pronta para ser enviada ao citoplasma onde será traduzida. O mRNA maduro é constituído da 7 metil guanosina no 5’, denominada como CAP, da proção 5’ UTR, da porção codificante (os exóns juntos sem os íntrons), a Genética Humana – Textos auxiliares – v.0.2 – Prof. Rinaldo Wellerson Pereira, PhD 11/3/2006 28 porção 3’ não traduzida e a cauda de adeninas (cauda poliA). A figura 17 mostra o processo de transcrição e processamento do mRNA. Figura 17 – Esquema representando o processod e transcrição de um gene desde sua seqüência no DNA até o mRNA e o processamento do mRNA. 12. A tradução do gene Aceito que o mRNA é a molécula intermediária no fluxo da informação genética do DNA até as proteínas, uma pergunta a ser respondida é a seguinte: Como uma seqüência de nucleotídeos informa sobre a seqüência de aminoácidos em uma proteína? Caso um nucleotídeo fosse o suficiente para informar sobre um aminoácido, teríamos informação somente para quatro diferentes aminoácidos. O que não faz sentido, já que 20 é o número de aminoácidos diferentes encontrados nas proteínas. Caso os quatro nucleotídeos se combinassem dois a dois para informar sobre um aminoácido, ainda assim teríamos combinações de menos. Neste caso 16. Caso os quatro nucleotídeos se combinassem três a três, teríamos 64 combinações diferentes. Um número maior que as 20 combinações necessárias para codificar os 20 aminoácidos encontrados nas proteínas. Experimentos demonstrarem ser este o segredo do código genético, três nucleotídeos combinados codificando para um aminoácido na proteína. Para alguns aminoácidos diferentes combinações os codificavam. Este conjunto de três nucleotídeos é denominado de códon. Além dos codons com informação para cada aminoácido, três Genética Humana – Textos auxiliares – v.0.2 – Prof. Rinaldo Wellerson Pereira, PhD 11/3/2006 29 codons foram identificados como tendo a informação para finalizar a tradução. A figura 18 representa o código genético. Figura 18 – Tabela do código genético. Para formar um códon uma letra da esquerda, com uma da parte superior e com uma letra da direita na tabela. Stop representa os codons de terminação da tradução. Como vimos na replicação do DNA e na transcrição, estes processos são sempre levados a cabo por um grande conjunto de moléculas trabalhando de maneira coordenada. Chamamos estes conjuntos de maquinaria de replicação e maquinaria de transcrição. Para a tradução não é diferente, há também a maquinaria de tradução. Entre as moléculas e macromoléculas que fazem parte desta maquinaria, os ribossomos (organela celular composta por proteínas e RNAs), o RNA transportador (tRNA) e o próprio mRNA são aqueles que trataremos neste texto afim de dar uma visão do processo de tradução. Os ribossomos são organelas constituídas por duas subunidades, uma maior e uma menor, que se encontram dissociadas no citoplasma. Estas subunidades se associam ao mRNA mensageiro através da 7 metil guanosina e de seqüências no 5’UTR. Esta estrutura se desloca ao longo do 5’UTR até posicionar o primeiro códon em um sitio denominado de P e o segundo códon em um sítio denominado de A. O primeiro códon a ser traduzida é invariavelmente um AUG, codificando para uma metionina. Este códon é denominado de códon de iniciação da tradução. Com os dois Genética Humana – Textos auxiliares – v.0.2 – Prof. Rinaldo Wellerson Pereira, PhD 11/3/2006 30 condons posicionadosno sítio P e no sítio A, tRNAs através de seqüências complementares aos codons, denominadas de anticondons se paream com os codons. Os RNAS trasnportadores, tem esta denominação por transportarem até os ribossomos os aminoácidos. Há uma relação entre o anticódon e o aminoácido transportado pelo tRNA. E como o anticondon é complementar a um códon específico, está aí a maneira como as três letras no DNA, transcritas no mRNA, são agora traduzidas em um aminoácido. Com os dois tRNAs posicionados no ribossomo, proteínas e RNAs ribossomais (rRNA) catalizam a ligação entre o aminoácido do tRNA no sítio P para o aminoácido no tRNA do sítio A. A ligação entre os dois aminoácidos é chamada de ligação peptídica. O tRNA do sítio P, agora sem aminoácido é liberado e o tRNA do sítio A agora com dois aminoácidos ligados a ele é trasnferido para o sítio P, deixando o sítio posicionado em outro códon para que um novo tRNA com anticódon especifico se posicione. Agora os dois aminoácidos ligados ao tRNA no sítio P são ligados ao aminoácido no novo tRNA no sitio A, gerando um tRNA com três aminoácidos ligado a ele. Este processo se repetirá tantas vezes até que um códon de terminação se posicione no sítio A, sinalizando para o final da tradução, liberando a seqüência de aminoácidos do tRNA e dissociando toda a maquinaria de tradução. Esta seqüência de aminoácidos representa a proteína codificada pelo gene que foi transcrito e traduzido. Afigura 19 esquematiza o processo de tradução. Genética Humana – Textos auxiliares – v.0.2 – Prof. Rinaldo Wellerson Pereira, PhD 11/3/2006 31 Figura 19 – Esquema da tradução, mostrando que a medida que o ribossomo se desloca ao longo do mRNA, tRNAs reconhecem os codons através dos anticodons e levam ao ribossomo os aminoácidos específicos para formar a proteína.
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