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ORGÃO DE SOLUÇÃO DE CONTROVERSIAS DA OMC



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UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS 
CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO 
 
JOYCE CALINE MAANAIN LOPES 
 
 
 
 
 
 
 
ANÁLISE DE CASO CONCRETO DE SOLUÇÃO DE CONTROVÉRSIA DENTRO DA OMC.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PALMAS – TO 
2017 
JOYCE CALINE MAANAIN LOPES
ANÁLISE DE CASO CONCRETO DE SOLUÇÃO DE CONTROVÉRSIA DENTRO DA OMC.
 
Análise de caso concreto de solução de controvérsia dentro da OMC, para obtenção parcial de nota na disciplina de Direito Internacional do curso de Direito da Universidade Federal do Tocantins – UFT. 
Orientadora: Prof°. Gustavo Paschoal
PALMAS – TO 
2017 
Define-se "controvérsia" dentro desta matéria como sendo o conflito de interesses de duas ou várias partes. Os meios pacíficos de soluções de controvérsias podem ser agrupados de várias formas, como por exemplo, os meios facultativos (os bons ofícios, as mediação, o inquérito e a conciliação) ou obrigatórios (arbitragem e soluções judiciárias por meio de tribunais internacionais).
Ainda assim, é importante atentar que com todos os instrumentos de soluções pacíficas de controvérsias, mesmo a ONU que é o órgão supremo de composição existente, não tem poder de coagir duas nações em conflito a sentarem-se e resolverem seus problemas em uma mesa de negociações. Faz-se necessário que as partes tenham a boa vontade de dialogar e estabelecer um entendimento.
A solução que oferece o ordenamento jurídico internacional é a busca da reparação dos prejuízos e injustiças, na busca de restaurar a harmonia entre qualquer beligerante, sempre apostando nas consequências benéficas que a resolução de um conflito traz à comunidade internacional.
Reconhecido como uma das áreas mais dinâmicas da Organização, o Sistema de Solução de Controvérsia (SSC) (conheça mais sobre o funcionamento do sistema) permitiu, ao longo dos anos, definir o alcance dos Acordos que compõem o acervo normativo da OMC, contribuindo, dessa forma, para conferir maior segurança e transparência ao funcionamento do sistema multilateral do comércio. Nesse sentido, constitui importante instrumento de proteção e promoção dos interesses comerciais dos membros da OMC.
O Brasil é, nesse contexto, um dos membros mais atuantes do sistema de solução de controvérsias da OMC.  Foi um dos pioneiros a utilizar o sistema, tendo participado como Parte principal do primeiro contencioso iniciado ao amparo do ESC que ultrapassou a fase de consultas e chegou à etapa de apelação (caso “US – Gasoline”, DS4). 
Com 29 casos como demandante, 19 como demandado e 103 participações como terceira parte em contenciosos sobre os mais variados temas (veja tabela com os casos dos quais o Brasil já participou - link), o Brasil está entre os seis principais usuários do sistema, atrás apenas dos EUA, da União Europeia, do Canadá, da China e da Índia. Ainda hoje, Brasil é  país em desenvolvimento que mais vezes participou como Parte demandante de procedimentos de solução de controvérsias. Atualmente, o Brasil está atuando em 5 contenciosos como parte principal, 2 como parte demandada e 3 como demandante.
Em primeiro lugar, sintetiza-se que o Órgão de Solução de Controvérsias (OSC) da Organização Mundial do Comércio (OMC) tem se revelado um instrumento efetivo para lidar com problemas comerciais globais e para aportar um grau mais elevado de segurança jurídica nas relações multilaterais. A efetividade demonstra-se tanto em relação aos prazos para a solução de litígios, relativamente curtos em função dos montantes em disputa, como em relação ao cumprimento das decisões pelos Estados. Este sistema trouxe inovações na lógica jurídica dos mecanismos internacionais de solução de controvérsias, conseguiu legitimidade na sociedade internacional e possibilitou a maior participação de todos os Estados, inclusive os Estados em desenvolvimento no sistema.
Para entendermos sobre solução de controvérsias na OMC cabe fazer a distinção entre um litígio real e tensão política, Amaral Junior descrevendo que tensão política “é um antagonismo que não tem objeto circunscrito ou claramente definido. Exprime-se em geral, em pretensões difusas, de cunho passional, não suscetíveis a critérios racionais, o que torna refratária a solução pacífica.” (AMARAL JUNIOR, 2008, p. 57).
2. A Solução de Controvérsias na OMC
2.3 As características do sistema de solução de controvérsias da OMC
O Acordo constitutivo da OMC previu a criação de um mecanismo de solução de controvérsias, cujas características, definidas na Rodada Uruguai, se consubstanciaram no Entendimento sobre as Regras e Procedimentos que Governam a Solução de Controvérsias, responsável pela modificação dos artigos XXII e XXIII do GATT. A aplicação desse aparato normativo cabe ao Órgão de Solução de Controvérsias, que é uma especialização funcional do Conselho Geral da OMC.
Consuma-se, assim, a transição de um sistema predominantemente diplomático, baseado na negociação entre as partes, que marcou a experiência do GATT, para um sistema organizado em torno de regras jurídicas. Esta nota distintiva do mecanismo idealizado na Rodada Uruguai não inibiu a possibilidade de entendimento entre os membros em caso de controvérsia resultante da imposição de medidas eventualmente incompatíveis com os tratados da OMC. O estímulo á realização de consultas, durante um prazo prefixado, antes do estabelecimento do painel, não cerceou o recurso às negociações diretas após a deflagração do procedimento formal para a solução da disputa.
O entendimento sobre Solução de Controvérsias revigorou o papel das normas de julgamento no plano do comércio internacional, requisito imprescindível para o funcionamento do mercado global. A previsibilidade dos agentes econômicos desaparece se não houver autoridade competente para interpretar as divergências com base em normas jurídicas, por meio de um juízo de legalidade sobre as pretensões em conflito, indispensável para que se passe do mundo abstrato das normas para o mundo concreto da realidade.
2.4 As condições para o início do procedimento de solução de controvérsias na OMC
Nenhum artigo do ESC exigiu que se comprove a existência do interesse de agir quando vier a ser formulado pedido de constituição de um painel. O artigo 3.7, contudo, indica: “Antes de apresentar uma reclamação, os Membros avaliarão a utilidade de atuar com base nos presentes procedimentos.” Este dispositivo parece enfatizar a necessidade de um vínculo entre a iniciativa de um membro e os meios escolhidos para se promover a solução do litígio. O artigo 10.2 ressalvou: “Todo Membro que tenha interesse concreto em um assunto submetido a um painel e que tenha notificado esse interesse ao OSC (denominado no presente Entendimento ‘terceiro’) terá oportunidade de ser ouvido pelo painel e de apresentar-lhe comunicações escritas.” Com isso, somente as terceiras partes estão obrigadas a demonstrar interesse de agir para atuarem no procedimento de solução de controvérsias.
As demandas na OMC podem ser de três tipos: as reclamações pela violação das obrigações previstas nos acordos abrangidos, as reclamações de não violação e as reclamações “de situação”.
2.5 As condições para o início do procedimento de solução de controvérsias na OMC
O objetivo do mecanismo de solução de controvérsias é garantir uma solução positiva para as controvérsias. O artigo 3.7 do Entendimento Relativo às Normas e Procedimentos sobre Solução de Controvérsias (ESC) indica que "antes de apresentar uma reclamação, os membros avaliarão a utilidade de atuar com base nos presentes procedimentos", ou seja, verificarão se há vínculo entre a iniciativa do membro e os meios escolhidos para promover a solução do litígio. Um exemplo jurisprudencial foi o verificado no caso EC-Bananas III, garantindo aos Estados Unidos o direito de acionar o mecanismo de solução de controvérsias, visto terem interesse de agir.
As demandas na OMC podem ser de três tipos:
Reclamações pela violação das obrigaçõesprevistas nos acordos;
Reclamações de não violação;
Reclamações de situação.
I. Reclamações pela violação das obrigações previstas nos acordos:
Nesta hipótese o demandante alega vantagem resultante direta ou indiretamente dos acordos da OMC, visto estar anulada ou comprometida.
II. Reclamações de não violação:
Tem como antecedente remoto as cláusulas inseridas nos acordos comerciais bilaterais, destinadas a impedir que as obrigações pactuadas em matéria de concessões tarifárias não sejam comprometidas por barreiras não tarifárias ao comércio ou por outras medidas governamentais.
III. Reclamações de situação:
Equivalem a uma cláusula de salvaguarda, pois o reclamante alega que uma vantagem oriunda dos acordos da OMC, ainda que de forma indireta, encontra-se anulada ou reduzida por uma medida aplicada por outro membro ou decorrente de uma situação a ele imputável.
Cumpre dizer que as provas produzidas nas demandas de violação e de não violação dos acordos da OMC são distintas, visto serem suficientes para provar a desconformidade com alguma disposição constante nos tratados.
Órgão de Solução de Controvérsias – OSC (Dispute Settlement Body – DSB)
A operação de solução de controvérsias da OMC é complexa e envolve as partes e os terceiros do caso, o Painel do Órgão de Solução de Controvérsias, o Corpo de Apelação (Appellate Body) e o Secretariado da OMC, além de especialistas independentes.
O Órgão de Solução de Controvérsias (Dispute Settlement Body) deriva diretamente do Conselho Geral, e assim como este é composto por todos os representantes da OMC. Cabe ao OSC (DSB) ser o responsável por todo o processo de solução de controvérsias previsto no ESC (DSU). O OSC (DSB) tem autoridade para estabelecer Painéis (Panels), adotar relatórios do Painel (Panel) e do Corpo de Apelação (Appellate Body), e autorizar a suspensão de obrigações de acordo com os acordos já celebrados.
A regra geral para a tomada de decisão do OSC (DSB) é por consenso. Porém, quando o OSC (DSB) estabelece Painéis, aprova relatórios de algum Painel ou Corpo de Apelação, ou autoriza retaliações, só não aprova a decisão caso haja um consenso negativo sobre ela. Isso significa que um membro que deseje bloquear alguma decisão do OSC (DSB) deve persuadir todos os outros membros da OMC (incluindo a parte adversária do caso) para ter sucesso em sua empreitada.
Procedimento comum de Solução de Controvérsias
O procedimento de solução de controvérsias na OMC é basicamente dividido em quatro fases: consultas, painéis, apelação e implementação.
Consultas
Este é o primeiro passo que a parte demandante deve tomar e está previsto no art. 4º do Entendimento sobre Solução de Controvérsias. É imprescindível comunicar a outra parte sobre a possibilidade de uma disputa, e a parte demandada deve responder ao pedido em dez dias e as consultas ocorrem em até trinta dias. Nesta fase, há uma discussão restrita às partes e caso elas não cheguem a um acordo, é possível à parte demandante pleitear o estabelecimento de um Painel ao OSC (DSB) para solucionar a controvérsia.
Painel (Panel)
O Painel funciona de forma semelhante a um tribunal e é considerado a 1ª instância do OSC (DSB). É normalmente composto por três, e excepcionalmente por cinco especialistas selecionados para o caso. Isso significa que não há um Painel (Panel) permanente na OMC. Em cada caso as partes devem indicar, de comum acordo, com base em nomes sugeridos pelo Secretariado, os seus componentes.
A parte demandante caso deseje estabelecer um Painel (Panel) deve o requerer por escrito e apenas o consenso de todos os membros do OSC (DSB) pode impedir o estabelecimento do Painel (Panel). Também vale ressaltar que as deliberações do Painel (Panel) devem ser confidenciais.
Uma vez estabelecido o Painel (Panel), ele tem, após definida sua composição, o prazo de seis meses para apresentar o relatório final. Antes disso, deve se reunir com as partes para fixar os prazos que serão adotados. Também deve entregar às partes um relatório preliminar, depois da apreciação da petição inicial e da contestação. Este relatório só se transforma em relatório final após ser revisto pelo Painel (Panel), traduzido para os três idiomas oficiais da OMC e adotado pelo Órgão de Solução de Controvérsias – OSC (Dispute Settlement Body - DSB) quando finalmente o público tem acesso ao seu teor.
Corpo de Apelação 
O corpo de apelação (Appellate Body) deve ser estabelecido pelo Órgão de Solução de Controvérsias – OSC (Dispute Settlement Body – DSB) e tem a função de ouvir apelações das decisões dos painéis. Este corpo é composto por sete membros, dos quais três são escolhidos para analisar um caso individual. A escolha dos membros é feita em um sistema de rotação estabelecido nos procedimentos do corpo de apelação.
Os membros do Corpo de Apelação (Appellate Body) são indicados pelo OSC (DSB) e têm um mandato de quatro anos, sendo possível cada membro ser renomeado apenas uma vez. As vagas são preenchidas de acordo com que surgem e no caso da vaga a qual o membro foi nomeado não estar vaga, este deve esperar até que termine o termo de seu predecessor . Os membros escolhidos devem ser pessoas de reconhecida autoridade, possuir grande experiência em direito, comércio internacional e outras matérias abordadas pela organização. Elas também não devem ser afiliadas a qualquer governo, estando sempre disponíveis a curto chamado e ter ciência das atividades do corpo de solução de controvérsias da OMC. Vale ressaltar que todos os membros não devem participar ou levar em consideração qualquer tipo de disputa que possa criar um conflito de interesses.
O órgão de apelação não é disponível para terceiros interessados, somente aqueles envolvidos na disputa podem apelar sobre a decisão do painel. Aqueles terceiros que tenham notificado o DSB (OSC) do seu substancial interesse podem enviar submissões por escrito podendo adquirir o direito de serem ouvidas pelo Corpo de Apelação (Appellate Body) .
Em geral o processo de apelação não deve levar mais de 60 dias da data em que é feita a notificação pela parte apelante ao Corpo de Apelação (Appellate Body). Caso o Corpo veja que não será possível a tomada de decisão nesse prazo, este deve enviar ao OSC (DSB) seus motivos, por escrito, pelo atraso e o tempo estimado que seja necessário. Em caso nenhum o Corpo pode levar mais de 90 dias.
A apelação deve sempre ser restrita a questões de direito trazida pelo painel em seus documentos e de suas possíveis interpretações desenvolvidas, sendo sempre providenciado ao Corpo de Apelação (Appellate Body) todo o suporte administrativo e legal que for requerido.
Os custos de pessoal do Corpo de Apelação (custos de viagem, pagamento) devem ser cobertos pela OMC de acordo com os critérios adotados pelo Conselheiro Geral, baseado em recomendações do Comitê de Orçamento, Finanças e Administração.
Procedimentos para o Corpo de Revisão
Os procedimentos de trabalho devem ser descritos pelo Corpo de Apelação em consulta com o presidente do OSC (DSB) e com o Diretor Geral, sendo sempre comunicados aos membros . Esses procedimentos são confidenciais e os relatórios realizados pelo Corpo de Apelação (Appellate Body) são feitos sem a presença das partes que participam da disputa. Todas as opiniões expressadas por indivíduos participantes do Corpo também devem ser confidenciais e anônimas. Por fim, ao Corpo de Apelação (Appellate Body) é concedido o poder de sustentar, alterar ou inverter as decisões proferidas pelo painel.
Adoção dos Relatórios do Corpo de Apelação
A decisão do Corpo de Apelação (Appellate Body) deve ser aceita pelo OSC (DSB) e incondicionalmente pelas partes da disputa, a não ser que o OSC (DSB) decida por consenso em não aceitar a decisão proferida pelo Corpo, em um prazo de 30 dias, a partir da data de circulação entre as partes da decisão proferida.
Implementação da Decisão
Após a decisão, aquele país que realizou a conduta incorreta deve imediatamente modificá-lae, caso continue a quebrar o acordo, deve oferecer uma compensação ou sofrer uma penalidade . Mesmo depois de terminado o caso, existe algo mais a ser feito além das sanções comerciais impostas.
No caso do país que é alvo das reclamações perder, ele deve seguir as recomendações do painel e do corpo de apelação. Para isso, ele deve demonstrar suas intenções para o OSC (DSB) em 30 dias da data da adoção dos relatórios. Se a obediência das determinações se provar impraticável, será concedido um "tempo razoável" para tal e, caso isso falhe, o país perdedor deverá entrar em negociação com o vencedor para a determinação conjunta de uma forma de compensação.
Se após 20 dias nenhuma medida satisfatória for tomada, o vencedor pode pedir ao OSC (DSB) pela permissão para impor sanções comerciais contra a outra parte. O OSC (DSB) é obrigado a responder a tal pedido em 30 dias após a expiração do período de "tempo razoável" concedido, a não ser que haja um consenso contra tal ato.
Em princípio, as sanções devem ser impostas ao mesmo setor da disputa, mas caso isso não seja prático ou eficiente, as sanções podem ser impostas em setores diferentes do mesmo acordo. Caso isso também não seja prático e as circunstâncias sejam sérias o suficiente, as ações podem ser tomadas sobre um acordo diferente. O objetivo do OSC (DSB) é minimizar as chances das ações serem tomadas sobre setores que não sejam relacionados com a disputa e, ao mesmo tempo, permitir que a ação seja realmente efetiva.
Tendo em vista a grande assimetria de poder econômico e de mercado consumidor entre os Estados-membro da OMC, assim como o contexto axiológico mais amplo de liberalismo pregado por esta organização e considerações externas de política internacional, o sistema de retaliações baseado no Entendimento sobre Solução de Controvérsias vem enfrentando duras críticas e é alvo de propostas de reforma. 
Estados Unidos – Gasolina
Título em inglês: US — Gasoline ou United States — Standards for Reformulated and Conventional Gasoline ou DS2 Proponente: Venezuela Demandado: Estados Unidos Data do recebimento do pedido de consultas: 24 de janeiro de 1995 Data de circulação do relatório do Painel (Panel): 29 de janeiro de 1996 Data de circulação do relatório do órgão de apelação (Appellate Body): 29 de abril de 1996.
Introdução ao caso
O referido caso é de grande relevância tendo em vista que foi a primeira disputa em todas as etapas do procedimento de solução de controvérsias da OMC foram acionadas.
Trata-se de um caso no qual foram feitas queixas por parte da Venezuela, e posteriormente do Brasil, em relação a regulação adotada em 1994 pelo governo norte-americano que tratava da qualidade da gasolina vendida naquele país. Alegava-se que o objetivo de tal regulamentação era o melhorar a qualidade do ar por meio da redução dos níveis de poluição advinda das emissões de gasolina. É importante que se ressalte que na regulação estabeleceu-se diferentes padrões de qualidade entre a gasolina nacional e aquela importada. Dessa maneira, os demandantes alegavam que tais regras injustificadamente conferiam tratamentos diferenciados entre a gasolina produzida nos Estados Unidos e aquela importada de outros países.
Especificamente, alegaram que o governo norte-americano estaria violando o princípio de tratamento nacional, que estabelece que bens importados, enquanto inseridos no mercado doméstico de um determinado país, não podem receber tratamento menos favorável em relação aos produtos nacionais. Afirmaram, portanto, que a gasolina importada estava sendo submetida a padrões muito mais rigorosos do que a gasolina produzida nos EUA. Os EUA, por sua vez, argumentavam que esta discriminação era justificável tendo em vista o artigo XX do GATT. No referido artigo dispõe-se que, atendidas de determinadas condições, países podem adotar medidas que poderiam ser consideradas em desacordo com as regras de livre comércio internacional. Vale ressaltar que uma das condições essenciais para que uma que se possa justificar uma conduta com base no referido artigo é a de que esta não seja um meio de implementação de políticas protecionistas. Os EUA reiteravam, com base nas alíneas "b)", "d)" e "g)" do referido artigo, que a regulação era necessária para evitar maiores níveis de poluição do ar e garantir saúde à população norte-americana.
O governo venezuelano alegava que o governo norte-americano estava mascarando, com base em justificativas pautadas no artigo XX do GATT, condutas protecionistas. Ou seja, não se estava questionando os padrões de qualidades impostos a gasolina, mas sim a diferença entre os padrões do produto nacional e do importado.
Primeira fase – Consultas
Face ao descontentamento em relação a regulação americana que tratava da qualidade da gasolina, o governo venezuelano, em 24 de janeiro de 1995, encaminhou a OMC um pedido de consultas formais com a delegação representante do governo norte-americano em Genebra. Tais consultas foram realizadas em Washington. As consultas realizadas entre as delegações norte-americana e venezuelanas não alcançaram resultado positivo. Enquanto isso, no dia 10 de abril de 1995, com base na mesma justificativa, representantes do governo brasileiro requereram consultas com o governo norte-americano. Consultas essas que foram iniciadas no dia 1 de maio do mesmo ano. Da mesa maneira que ocorreu com as consultas precedentes, não houve resultado positivo.
Segunda fase – Painel (Panel)
Tendo em vista os resultados negativos advindos das consultas realizadas, o governo venezuelano requereu a instalação de um Painel (Panel) para emitir um posicionamento a respeito da questão. O referido Painel (Panel) fora estabelecido no dia 10 de abril de 1995. Pelos mesmos motivos o governo brasileiro, em 19 de maio de 1995, também requereu a instalação de um Painel (Panel). O Órgão de Solução de Controvérsias da OMC (Dispute Settlement Body), no dia 31 do mesmo mês, decidiu por razões práticas que o mesmo Painel (Panel) deveria tratar das demandas brasileiras e venezuelanas.
A Austrália, o Canadá, a União Europeia e a Noruega optaram por participar dos procedimentos como terceiros interessados. Subsequentemente as duas últimas apresentaram seus argumentos em relação ao caso. O Painel (Panel) foi constituído por três árbitros independentes eleitos em comum acordo pelas partes envolvidas na disputa. Entre os dias 10 e 12 de julho de 1995, as partes foram ouvidas. O Painel (Panel) concluiu que não poderia terminar sua apreciação no prazo de seis meses, então, em 11 de dezembro de 1995 proferiu um relatório provisório. No dia 3 de janeiro do ano seguinte as partes se reuniram novamente; dias após isso - 29 de janeiro - o relatório final foi posto em circulação.
É importante dizer que no Painel (Panel) entendeu-se não havia justificativa, nem mesmo com base no artigo XX do GATT, para as discriminações estabelecidas entre as gasolinas nacional e importada pela regulação norte-americana.
Terceira fase – Apelação
Os Estados Unidos, em 21 de fevereiro de 1996, notificaram sua decisão de apelar da decisão proferida no relatório do Painel (Panel). No dia 4 de março os EUA enviaram seus argumentos ao Órgão de Apelação (Appellate Body). A argumentação norte-americana era basicamente a mesma. Representantes de Venezuela, Brasil, União Europeia e Noruega enviaram seus argumentos no dia 18 de março. No final desse mês foram realizadas audiências entre as partes. Em 29 de abril de 1996 o Órgão de Apelação (Appellate Body) pôs seu relatório em circulação. Na decisão não houve mudanças significativas.
Quarta fase – Implementação
Não havia mais nenhuma instância recursal. O relatório do Órgão de Apelação (Appellate Body) e a decisão reformada do Painel (Panel) foram adotadas pelo Órgão de Soluções de Controvérsia (Dispute Settlement Body). Passou-se então à fase de implementação. O governo norte-americano teria que alterar sua regulação de modo a adequá-la às resoluções proferidas no procedimento.
Iniciou-se, entreas partes, discussão referente ao prazo que seria conferido para que as medidas de implementação fossem tomadas. Acordado o prazo, os EUA implementaram a mudança em sua regulação em quinze meses. Com isso a disputa teve seu fim.
Japão – Medidas atinentes a gravadoras
Ficha técnica
Título em inglês: Japan — Measures Concerning Sound Recordings ou DS28 Proponente: Estados Unidos Demandado: Japão Data do recebimento do pedido de consultas: 9 de fevereiro de 1996. Data da notificação da solução acordada: 5 de fevereiro de 1997
Introdução ao caso
Retratar o referido caso é interessante na medida em que é um exemplo de solução em que as partes conseguiram chegar a um acordo. Dessa maneira, não houve necessidade de se valer de todas as etapas oferecidas no procedimento de solução de controvérsias da OMC.
O caso em pauta tratava de questões ligadas a forma de proteção à propriedade intelectual. Esta foi uma das primeiras disputas na OMC que envolvia o tema em questão. O ponto central de disputa era uma lei japonesa que não previa proteção às gravações realizadas antes de 1971.
Os demandantes EUA, e posteriormente a União Europeia, alegavam que a referida lei estava em desacordo com previsões estabelecidas no TRIPS. Demandavam, portanto, que o Japão alterasse sua legislação de maneira a se adequar com as regras internacionais de proteção a propriedade intelectual.
Descrição do caso
Fase de consultas
Em 9 de fevereiro de 1996 os Estados Unidos requisitaram consultas com representantes do governo japonês. Três meses depois, a União Europeia fez o mesmo. As consultas foram realizadas em Genebra, Suíça. Sendo assim, as partes teriam dois meses para chegar a uma solução. Caso isso não ocorresse poder-se-ia requerer um Painel (Panel) para solucionar a questão.
Transcorridos dois meses, as partes chagaram conclusão que seriam capazes de entrar em um acordo amigável e que, portanto, não haveria necessidade de se entrar em um debate jurídico por meio da realização de um Painel (Panel). Decidiu-se, portanto, estender o prazo das consultas.
Em dezembro de 1996 o governo japonês ratificou a lei do copy right estendendo a referida proteção para cinquenta anos. Sendo assim, os EUA e a UE se reportaram ao Órgão de Soluções de Controvérsia (Dispute Settlement Body) da OMC afirmado que a disputa estava resolvida.
4.5 Métodos de Solução de Controvérsias 
O Sistema de Solução de Controvérsias da OMC estabelece mais de um método para a resolução de uma controvérsia. O DSU permite a solução de controvérsias por meio de consultas (Artigo 4 do DSU); por bons-ofícios, conciliação e mediação (Artigo 5 do DSU); por meio de julgamento vinculante por painéis ad hoc e pelo Órgão de Apelação (Artigos 6 a 20 do DSU) ou por arbitragem (Artigo 25 do DSU). 
Consultas 
Como discutido acima, o DSU expressa clara preferência por soluções mutuamente aceitáveis para as partes em disputa a soluções que resultam de julgamento vinculante. Consequentemente, o recurso à adjudicação por um painel deve ser precedido de consultas entre as partes demandante e demandada em disputa com vista a alcançar solução mutuamente acordada. A Seção 1 do Módulo 3.2 examina, em por menor, esse método pré-litigioso e diplomático de solução de controvérsia.
Julgamento Vinculante 
Se as consultas não conseguirem resolver a controvérsia, a parte demandante pode recorrer ao julgamento por um painel e, se qualquer uma das partes na disputa apelar das conclusões do painel, pode-se recorrer ao Órgão de Apelação. Os Módulos 3.2 e 3.3 examinam, em detalhe, esse método “quase judicial” de solução de controvérsia. 
Arbitragem 
Os métodos de solução de controvérsias previstos nos Artigos 4 a 20 do DSU (consultas e adjudicação pelos painéis e pelo Órgão de Apelação) são os métodos usados com mais freqüência. Entretanto, o Sistema de Solução de Controvérsias da OMC estabelece uma arbitragem expedita como meio alternativo de solução de disputas. Conforme o Artigo 25 do DSU, as partes em disputa a respeito de um dos acordos abrangidos pode decidir recorrer à arbitragem, ao invés de seguir o procedimento estabelecido nos Artigos 4 a 20 do DSU. Nesse caso, as partes devem claramente definir as questões que serão submetidas à arbitragem e chegar a um acordo com relação ao procedimento a ser adotado115. As partes devem também concordar que a decisão da arbitragem será vinculante116. Conforme o Artigo 3.5 do DSU, a decisão da arbitragem deve ser consistente com os acordos abrangidos da OMC. No final de 2001, os Membros da OMC usaram o procedimento de arbitragem do Artigo 25 pela primeira vez.117 
Bons-ofícios, Conciliação e Mediação 
O Sistema de Solução de Controvérsias da OMC estabelece também, de acordo com o Artigo 5 do DSU, a possibilidade de as partes em controvérsia — se todos assim concordarem — usar bons-ofícios, conciliação ou mediação para resolver uma disputa. Até o momento, não foi feito uso dos métodos de solução de controvérsias mencionados no Artigo 5 mas, em 2001, o Diretor-Geral lembrou os Membros de que estava disponível para ajudar na solução de controvérsias por meio de bons-ofícios. 
4.6 Instituições para Solução de Controvérsias na OMC 
DSB 
O DSB é um alter ego do Conselho Geral da OMC118. O Conselho Geral reúne-se como DSB para administrar as regras e procedimentos do DSU119. O Artigo 2.1 do DSU estabelece: 
... o DSB terá a autoridade para estabelecer os painéis, adotar os relatórios do painel do Órgão de Apelação, manter a supervisão da implementação das decisões e recomendações, e autorizar a suspensão das concessões e de outras obrigações sob os acordos abrangidos. 
O Artigo 2.4 do DSU estipula que onde o DSU estabelece que o DSB deve tomar uma decisão, tal decisão é tomada sempre por consenso120. É importante notar, entretanto, que, para a maioria das decisões essenciais, tais como a decisão para estabelecimento de um painel, adoção do relatório do painel e do Órgão de Apelação e a autorização para suspensão das concessões e de outras obrigações, a exigência do consenso é "reversa" ou consenso "negativo"121. A exigência do consenso "reverso" significa que se considera que o DSB tomou uma decisão a menos que haja consenso entre os Membros da OMC para não tomar essa decisão. Considerando-se que geralmente haverá ao menos um Membro com forte interesse para que o DSB estabeleça um painel, adote os relatórios do painel e/ou do Órgão de Apelação ou autorize a suspensão das concessões, é muito improvável que haja consenso para não adotar essas decisões. Em consequência, a tomada de decisão pelo DSB nessas matérias é, para todas as finalidades práticas, automático. Além disso, deve-se notar que o DSU estabelece "prazos rigorosos" nos quais as decisões nessas matérias necessariamente devam ser tomadas. 122 
O DSB reúne-se de acordo com a frequência necessária para realizar suas funções dentro dos prazos estipulados no DSU. Na prática, o DSB tem uma reunião regularmente programada por mês e, além dessa, uma série de reuniões especiais são convocadas de acordo com a necessidade. 
Painéis 
A pedido de uma parte demandante, o DSB estabelecerá um painel para examinar e decidir uma controvérsia. O DSB fará assim pelo consenso reverso. O estabelecimento de um painel é, consequentemente, "automático". Em regra geral, os painéis consistem de três pessoas, que não são nacionais dos Membros envolvidos na controvérsia. Essas pessoas são frequentemente diplomatas ou oficiais de governo que trabalham na área de comércio, mas também acadêmicos e advogados praticantes servem regularmente como painelistas. Os termos de referência do painel são determinados no pedido para o estabelecimento de painel, que identifica a medida em questão e os dispositivos dos acordos abrangidos da OMC supostamente violados. É tarefa dos painéis fazer avaliação objetiva da matéria, incluindo avaliação objetiva dos fatos do caso, a aplicabilidade e a conformidade com o acordo abrangido específico. Análise pormenorizada do processo de estabelecimento e composiçãodos painéis, seus termos de referência, o padrão aplicável de revisão, regras da conduta para os painelistas, e o exercício de ativismo judicial e economia processual pelos painéis é realizada no Módulo 3.2. 
Órgão de Apelação 
O Órgão de Apelação examina apelações dos relatórios dos painéis que analisaram a disputa. Ao contrário dos painéis, o Órgão de Apelação é um tribunal internacional permanente. É composto de sete pessoas, referidas como os membros do Órgão de Apelação. Os membros do Órgão de Apelação são nomeados pelo DSB para um mandato de quatro anos, renovável uma vez. Somente a parte demandante ou demandada pode iniciar os procedimentos de apelação. As apelações são limitadas às questões de direito ou interpretações legais cobertas no relatório do painel. O Órgão de Apelação pode manter, modificar ou reverter as conclusões de direito do painel que foram apeladas. Detalhes de todos os aspectos do processo de apelação são fornecidos no Módulo 3.3. 
Outras Instituições 
Além do DSB, dos painéis e do Órgão de Apelação, há uma série de outras instituições e pessoas envolvidas nos esforços da OMC para resolver as controvérsias entre seus Membros. Essas instituições e pessoas incluem árbitros de acordo com os Artigos 21.3, 22.6 ou 25 do DSU, o Órgão de Monitoramento Têxtil previsto no ATC, o Grupo Permanente de Peritos previsto no Acordo SCM, peritos e grupos de peritos para revisão conforme o Artigo 13 do DSU e o Artigo 11.2 do Acordo SPS, presidente do DSB e Diretor-Geral da OMC. 
Além disso, o Secretariado da OMC e o Secretariado do Órgão de Apelação desempenham papéis importantes no fornecimento de apoio administrativo e legal aos painéis e ao Órgão de Apelação, respectivamente.
Há quatro estágios nos procedimentos para solução de controvérsias na OMC: (1) consultas; (2) procedimentos do painel; (3) procedimentos do Órgão de Apelação; e (4) implementação das recomendações e das decisões. Cada um desses estágios é examinado em detalhe nos Módulos 3.2, 3.3 e 3.4. 
4.7.1 Prazos para os procedimentos 
Artigos 12.8 e 12.9 do DSU 
Uma das características mais impressionantes do Sistema de Solução de Controvérsias da OMC são os curtos prazos nos quais os procedimentos dos painéis e do Órgão de Apelação devem terminar124. O período em que um painel deve conduzir a sua análise, da data da composição e os termos de referência do painel foram acordados até a data em que o relatório final é emitido às partes em disputa, em regra geral, não deve exceder seis meses125. Quando um painel considera que não pode emitir seu relatório dentro de seis meses, ele deve informar o DSB, por escrito, das razões para a demora e junto apresentar estimativa do período dentro do qual ele emitirá seu relatório. Em nenhum caso, o período de estabelecimento do painel à circulação do relatório aos Membros deverá exceder nove meses126. Ainda mais curto é o prazo em que um painel tem de decidir sobre a consistência com as regras da OMC das medidas tomadas para cumprir com as recomendações e decisões, conforme o Artigo 21.5 do DSU. Em tais procedimentos, o painel deve circular seu relatório dentro de 90 dias após a data em que a matéria foi submetida à sua análise. 
Artigo 17.5 do DSU 
No que diz respeito aos procedimentos do Órgão de Apelação, o DSU estabelece que, como regra geral, os procedimentos não excederão 60 dias da data em que uma parte em disputa notifica formalmente sua decisão de recorrer ao Órgão de Apelação até a circulação de seu relatório127. Quando o Órgão de Apelação considerar que não tem condições de entregar seu relatório dentro de 60 dias, ele informará o DSB, por escrito, das razões para a demora e fornecerá estimativa do período dentro do qual espera encerrar seus trabalhos. Em nenhum caso, os procedimentos deverão exceder 90 dias. 
Nenhuma outra corte ou tribunal internacional funciona com limites temporais tão severos. Esses limites de tempo e, sobretudo, os prazos para o Órgão de Apelação, foram criticados como excessivamente curtos e demasiado exigentes para ambas as partes em disputa e para o Órgão de Apelação. Como resultado desses limites temporais, entretanto, não há nenhum atraso dos casos tanto em nível de painel como apelação. Enquanto os painéis frequentemente vão além dos limites de tempo impostos a eles pelo DSU, o Órgão de Apelação, até o momento, pôde finalizar todos seus trabalhos, com exceção de quatro apelações, dentro do período máximo de 90 dias128.
Petições, Reuniões e Audiências 
Os procedimentos de solução de controvérsias da OMC são também caracterizados pela confidencialidade. Consultas, procedimentos do painel e da revisão de apelação são confidenciais. Reuniões do DSB e dos painéis e as audiências do Órgão de Apelação pelas partes e por terceiras-partes envolvidas na controvérsia são também confidenciais129. As partes podem tornar suas próprias petições disponíveis ao público, se assim desejarem. Enquanto alguns Membros o fazem de maneira sistemática (por exemplo, os Estados Unidos), a maioria das partes escolhe manter suas petições confidenciais. O DSU estabelece que uma parte envolvida em uma disputa deve, mediante pedido de qualquer membro da OMC, fornecer sumário não-confidencial das informações contidas em suas petições ao painel, que poderia ser divulgado ao público. Entretanto, esse dispositivo não estabelece prazo para que tais sumários não confidenciais devam estar disponíveis e, consequentemente, não é muito eficaz. 
O relatório provisório (interim report) e o relatório final do painel também são confidenciais, desde que entregues às partes envolvidas na disputa. O relatório final do painel somente se torna público quando é circulado a todos os Membros da OMC. Na realidade, entretanto, o relatório provisório e o relatório final emitido para as partes não permanecem por muito tempo confidencial e são geralmente "vazados” para a Mídia. Diferentemente dos relatórios de painel, os relatórios do Órgão de Apelação não são primeiramente enviados às partes e então, semanas mais tarde, circulados a todos os Membros da OMC. Em princípio, são emitidos para as partes e circulados a todos os Membros da OMC ao mesmo tempo e, a partir desse momento, são documentos públicos. 
4.8 Remédios Legais para a Violação das Regras da OMC 
Artigo 3.7 do DSU 
O que pode ou deve ser feito se um painel e/ou o Órgão de Apelação concluírem que uma medida é incompatível com as normas da OMC? O Artigo 3.7 do DSU determina: 
Na ausência de uma solução mutuamente acordada, o primeiro objetivo do mecanismo de solução de controvérsia é assegurar a retirada das medidas em questão se elas forem consideradas incompatíveis com os dispositivos de qualquer um dos acordos abrangidos. Deve-se recorrer à compensação somente se a retirada imediata da medida é impraticável e como forma provisória durante a retirada da medida, que é incompatível com um acordo abrangido. O último recurso que o Entendimento estabelece ao Membro que invoca os procedimentos de solução de controvérsia é a possibilidade de suspender a aplicação das concessões ou outras obrigações sob os acordos questionáveis em base discriminatória em relação a outro Membro, sujeito à autorização pelo DSB de tais medidas. 
Artigo 19.1 do DSU 
O Artigo 19.1 do DSU estabelece:
Quando um painel ou o Órgão de Apelação concluir que uma medida é inconsistente com um acordo abrangido, recomendará que o Membro envolvido130 ponha essa medida em conformidade com esse Acordo131. Além das recomendações, o painel ou o Órgão de Apelação podem sugerir maneiras pelas quais o Membro envolvido poderia implementar as recomendações. 
Artigo 21.1 do DSU 
O Artigo 21.1 do DSU acrescenta ainda que: 
A implementação imediata das recomendações ou decisões do DSB é essencial para assegurar a solução eficaz das controvérsias em benefício de todos os Membros. 
Artigo 21.3 do DSU 
Entretanto, se for impraticável cumprir imediatamente as recomendações e decisões do DSB, o Membro em questão terá um período de tempo razoável (Reasonable Period of Time –“RPT”) para tanto132. Esse período de tempo razoável pode ser acordado pelas partes ou determinado por arbitragem. Naqueles casos em que o período de tempo razoável para a implementação foi determinado por arbitragem, ele foi estabelecido entre seis meses e 15 meses e uma semana133. No tocante à compensação (para os danos futuros) e retaliação em caso de não-cumprimento, o Artigo 22.1 estabelece: 
Artigo 22.1 do DSU 
A compensação e a suspensão das concessões ou outras obrigações são medidas provisórias disponíveis caso as recomendações e as decisões não sejam implementadas dentro de um período de tempo razoável (RPT). Entretanto, nem a compensação nem a suspensão das concessões ou de outras obrigações é preferível à implementação por completo de uma recomendação para colocar uma medida em conformidade com os acordos abrangidos. 
O DSU não estabelece explicitamente a compensação pelos danos sofridos134.
O órgão de solução de controvérsias da OMC
O Órgão de Solução de Controvérsias (OSC) é o corpo responsável por fazer observar as regras para a resolução das controvérsias submetidas no âmbito da Organização Mundial do Comércio, nos termos do Anexo II do tratado de sua constituição.
No artigo 2º do referido Anexo, foram estabelecidas as diretrizes de suas funções e princípios, quais sejam: aplicar as normas e as disposições em matéria de consultas e solução de controvérsias; e supervisionar a aplicação das decisões e recomendações e autorizar a suspensão de obrigações.
Nota-se, portanto, que o OSC assume função jurídico-regulatória, assemelhando-se ao de um órgão judiciário, sem obviamente o ser, uma vez que aquele administrará e aplicará, por meio de seus procedimentos, as normas jurídicas internacionais ali cabíveis.
3.2.1 Características
O objetivo principal do OSC é permitir ao sistema internacional de comércio certa segurança/ previsibilidade jurídica, evitando atos políticos abruptos que interrompam ou desrespeitem normas comerciais estabelecidas no sistema ou entre as partes.
Além disso, característica essencial do OSC é resolver eventual desinteligência sobre o comércio internacional pacificamente, isto é, sem o uso da força, seja ela militar, política ou econômica.
Para tanto, é preferível, na impossibilidade de composição entre as partes envolvidas, que os entendimentos e disposições oriundas do OSC sejam sempre cumpridas para suspender as práticas nocivas ao comércio internacional, adotando-se a compensação (retaliação) somente em casos que referidas práticas não sejam suspensas ou em hipóteses que tais suspensões sejam ineficazes.
Portanto, o procedimento foi criado para estimular as partes a negociarem e agirem de boa-fé desde o início, sempre que surgirem dúvidas quanto às ações perpetradas por um Estado signatário da organização.
Essas características são extraídas do artigo 3 do Anexo II:
“(...) 4. As recomendações ou decisões formuladas pelo OSC terão por objetivo encontrar solução satisfatória para a matéria em questão, de acordo com os direitos e obrigações emanados pelo presente Entendimento e pelos acordos abrangidos. 5. Todas as soluções das questões formalmente pleiteadas ao amparo das disposições sobre consultas e solução de controvérsias, incluindo os laudos arbitrais, deverão ser compatíveis com aqueles acordos e não deverão anular ou prejudicar os benefícios de qualquer Membro em virtude daqueles acordos, nem impedir a consecução de qualquer objetivo daqueles acordos. 6. As soluções mutuamente acordadas das questões formalmente pleiteadas ao amparo das disposições sobre consultas e solução de controvérsias dos acordos abrangidos serão notificadas ao OSC e aos Conselhos e Comitês correspondentes, onde qualquer Membro poderá levantar tópicos a elas relacionadas. 7. Antes de apresentar uma reclamação, os Membros avaliarão a utilidade de atuar com base nos presentes procedimentos. O objetivo do mecanismo de solução de controvérsias é garantir uma solução positiva para as controvérsias. Deverá ser sempre dada preferência à solução mutuamente aceitável para as partes em controvérsia e que esteja em conformidade com os acordos abrangidos. Na impossibilidade de uma solução mutuamente acordada, o primeiro objetivo do mecanismo de solução de controvérsias será geralmente o de conseguir a supressão das medidas de que se trata, caso se verifique que estas são incompatíveis com as disposições de qualquer dos acordos abrangidos. Não se deverá recorrer à compensação a não ser nos casos em que não seja factível a supressão imediata das medidas incompatíveis com o acordo abrangido e como solução provisória até a supressão dessas medidas. O último recurso previsto no presente Entendimento para o Membro que invoque os procedimentos de solução de controvérsias é a possibilidade de suspender, de maneira discriminatória contra o outro Membro, a aplicação de concessões ou o cumprimento de outras obrigações no âmbito dos acordos abrangidos, caso o OSC autorize a adoção de tais medidas. 8. Nos casos de não-cumprimento de obrigações contraídas em virtude de um acordo abrangido, presume-se que a medida constitua um caso de anulação ou de restrição. Isso significa que normalmente existe a presunção de que toda transgressão das normas produz efeitos desfavoráveis para outros Membros que sejam partes do acordo abrangido, e em tais casos a prova em contrário caberá ao Membro contra o qual foi apresentada a reclamação. (...)”
No entanto, sabendo que determinadas demandas seriam de difícil composição entre os Estados partes, a organização buscou criar um sistema que possuísse equidade e fosse rápido, eficiente e mutuamente aceitável.
3.3 Procedimentos
A fim de regular o procedimento que desse efetividade ao sistema de solução de controvérsias, o tratado que deu origem à Organização Mundial do Comércio previu em seu Anexo II o rito processual para sua aplicação, com especificidades e objetos claros para cada etapa, que serão analisadas a seguir.
3.3.1 Consulta
O procedimento de consulta é aquele que dá início a eventual questionamento sobre se determinada conduta de um Membro fere ou não as regras da OMC, sendo realizado diretamente entre as partes nos prazos estabelecidos ou de comum acordo pactuados.
Em regra, caso não seja elencado prazo maior, o Membro consultado deve responder à consulta dentro prazo de dez dias contados do recebimento formal da solicitação, realizando-a no prazo de trinta dias subsequentes ao recebimento da notificação. Isto é, nos primeiros dez dias, deve a parte informar que procederá as consultas, entregando o resultado delas em 30 dias.
Caso a parte consultada não responda ou não realize a consulta no prazo estipulado, o próprio Anexo estabelece a possibilidade de a parte consultante solicitar a instalação de um grupo especial, comumente chamado de Painel e que será analisado no tópico seguinte.
Da mesma forma, se não chegarem a uma solução da questão no prazo de sessenta dias, poderá a parte consultante solicitar a instalação do Painel. Ou, ainda dentro do prazo de sessenta dias, se as partes entenderem que não haverá solução para o problema apresentado, a parte reclamante também poderá requisitar a instituição de um Painel para o caso, consignando-se que em casos de bens perecíveis o prazo poderá ser reduzido para vinte dias, conforme regra do artigo 4:
“(...) 3. Quando a solicitação de consultas for formulada com base em um acordo abrangido, o Membro ao qual a solicitação for dirigida deverá respondê-la, salvo se mutuamente acordado de outro modo, dentro de um prazo de 10 dias contados a partir da data de recebimento da solicitação, e deverá de boa-fé proceder a consultas dentro de um prazo não superior a 30 dias contados a partir da data de recebimento da solicitação, com o objetivo 2 Este parágrafo será igualmente aplicado às controvérsias cujos relatórios dos grupos especiais não tenham sido adotados ou aplicados plenamente. 3 Quando as disposiçõesde qualquer outro acordo abrangido relativos a medidas adotadas por governos ou autoridades regionais ou locais dentro do território de um Membro forem diferentes dos previstos neste parágrafo, prevalecerão as disposições do acordo abrangido. de chegar a uma solução mutuamente satisfatória. Se o Membro não responder dentro do prazo de 10 dias contados a partir da data de recebimento da solicitação, ou não proceder às consultas dentro de prazo não superior a 30 dias, ou dentro de outro prazo mutuamente acordado contado a partir da data de recebimento da solicitação, o Membro que houver solicitado as consultas poderá proceder diretamente a solicitação de estabelecimento de um grupo especial. 4. Todas as solicitações de consultas deverão ser notificadas ao OSC e aos Conselhos e Comitês pertinentes pelo Membro que as solicite. Todas as solicitações de consultas deverão ser apresentadas por escrito e deverão conter as razões que as fundamentam, incluindo indicação das medidas controversas e do embasamento legal em que se fundamenta a reclamação. 5. Durante as consultas realizadas em conformidade com as disposições de um acordo abrangido, os Membros procurarão obter uma solução satisfatória da questão antes de recorrer a outras medidas previstas no presente Entendimento. 6. As consultas deverão ser confidenciais e sem prejuízo dos direitos de qualquer Membro em quaisquer procedimentos posteriores. 7. Se as consultas não produzirem a solução de uma controvérsia no prazo de 60 dias contados a partir da data de recebimento da solicitação, a parte reclamante poderá requerer o estabelecimento de um grupo especial. A parte reclamante poderá requerer o estabelecimento de um grupo especial dentro do referido prazo de 60 dias se as partes envolvidas na consulta considerarem conjuntamente que as consultas não produziram solução da controvérsia. 8. Nos casos de urgência, incluindo aqueles que envolvem bens perecíveis, os Membros iniciarão as consultas dentro de prazo não superior a 10 dias contados da data de recebimento da solicitação. Se as consultas não produzirem solução da controvérsia dentro de prazo não superior a 20 dias contados da data de recebimento da solicitação, a parte reclamante poderá requerer o estabelecimento de um grupo especial. 9. Em casos de urgência, incluindo aqueles que envolvem bens perecíveis, as partes em controvérsia, os grupos especiais e o órgão de Apelação deverão envidar todos os esforços possíveis para acelerar ao máximo os procedimentos. (...)”
O objetivo da consulta é possibilitar que as partes analisem o problema levantado e cheguem a um termo para solucioná-las por meio de bons ofícios, conciliação e mediação, sem a necessidade de apreciação e julgamento pelo Painel, nos termos do artigo 5:
“1. Bons ofícios, conciliação e mediação são procedimentos adotados voluntariamente se as partes na controvérsia assim acordarem. 2. As diligências relativas aos bons ofícios, à conciliação e à mediação, e em especial as posições adotadas durante as mesmas pelas partes envolvidas nas controvérsias, deverão ser confidenciais e sem prejuízo dos direitos de quaisquer das partes em diligências posteriores baseadas nestes procedimentos. 3. Bons ofícios, conciliação ou mediação poderão ser solicitados a qualquer tempo por qualquer das partes envolvidas na controvérsia. Poderão iniciar-se ou encerrar-se a qualquer tempo. Uma vez terminados os procedimentos de bons ofícios, conciliação ou mediação, a parte reclamante poderá requerer o estabelecimento de um grupo especial. (...)”
Nada impede que as partes cheguem a um consenso nesta fase, mas, dada a natureza política das ações de cada parte no cenário econômico internacional, verifica-se certa resistência de uma ou outra assumir eventual descumprimento da ordem jurídica e compensarem-se entre si por meio de um acordo.
3.3.2 Painel
Não obtida uma solução satisfatória no procedimento de consultas, a parte ou as partes poderá(ão) requisitar a instalação de um grupo especial, também denominado de Painel, que será composto por três ou cinco integrantes, a depender do interesse das partes.
Os painelistas, como são chamados os integrantes do grupo especial, serão preferencialmente indivíduos com larga experiência em comércio internacional, seja em seus aspectos políticos, jurídicos ou econômicos, que serão sugeridos pelo Secretariado.
Na impossibilidade de entendimento sobre os integrantes do painel, o Diretor-Geral determinará a composição do grupo especial, os quais deverão atuar de maneira imparcial.
Interessante destacar que se a questão envolver um país desenvolvido e um em desenvolvimento, a pedido deste, o painel deverá contar com a presença de ao menos um painelista de país em desenvolvimento, a fim de assegurar a simetria de confluências políticas, jurídicas e econômicas.
As regras para composição do Painel estão descritas no artigo 8 do Anexo II:
“1. Os grupos especiais serão compostos por pessoas qualificadas, funcionários governamentais ou não, incluindo aquelas que tenham integrado um grupo especial ou a ele apresentado uma argumentação, que tenham atuado como representantes de um Membro ou de uma parte contratante do GATT 1947 ou como representante no Conselho ou Comitê de qualquer acordo abrangido ou do respectivo acordo precedente, ou que tenha atuado no Secretariado, exercido atividade docente ou publicado trabalhos sobre direito ou política comercial internacional, ou que tenha sido alto funcionário na área de política comercial de um dos Membros. 2. Os Membros dos grupos especiais deverão ser escolhidos de modo a assegurar a independência dos Membros, suficiente diversidade de formações e largo espectro de experiências. 3. Os nacionais de Membros cujos governos 6 sejam parte na controvérsia ou terceiras partes, conforme definido no parágrafo 2 do Artigo 10, não atuarão no grupo especial que trate dessa controvérsia, a menos que as partes acordem diferentemente. 4. Para auxiliar na escolha dos integrantes dos grupos especiais, o Secretariado manterá uma lista indicativa de pessoas, funcionários governamentais ou não, que reúnem as condições indicadas no parágrafo 1, da qual os integrantes dos grupos especiais poderão ser selecionados adequadamente. (...) 5. Os grupos especiais serão compostos por três integrantes a menos que, dentro do prazo de 10 dias a partir de seu estabelecimento, as partes em controvérsia concordem em compor um grupo especial com cinco integrantes. Os Membros deverão ser prontamente informados da composição do grupo especial. 6 Caso uma união aduaneira ou um mercado comum seja parte em uma controvérsia, esta disposição se aplicará aos nacionais de todos os Países-Membros da união aduaneira ou do mercado comum. 6. O Secretariado proporá às partes em controvérsia candidatos a integrantes do grupo especial. As partes não deverão se opor a tais candidaturas a não ser por motivos imperiosos. 7. Se não houver acordo quanto aos integrantes do grupo especial dentro de 20 dias após seu estabelecimento, o Diretor-Geral, a pedido de qualquer das partes, em consulta com o Presidente do OSC e o Presidente do Conselho ou Comitê pertinente, determinará a composição do grupo especial, e nomeará os integrantes mais apropriados segundo as normas e procedimentos especiais ou adicionais do acordo abrangido ou dos acordos abrangidos de que trate a controvérsia, após consulta com as partes em controvérsia. 8. Os Membros deverão comprometer-se, como regra geral, a permitir que seus funcionários integrem os grupos especiais. 9. Os integrantes dos grupos especiais deverão atuar a título pessoal e não como representantes de governos ou de uma organização. Assim sendo, os Membros não lhes fornecerão instruções nem procurarão influenciá-los com relação aos assuntos submetidos ao grupo especial. 10. Quando a controvérsia envolver um país em desenvolvimento Membro e um país desenvolvido Membro, o grupo especial deverá, se o país em desenvolvimento Membro solicitar, incluir ao menos um integrante de um país em desenvolvimentoMembro. 11. As despesas dos integrantes dos grupos especiais, incluindo viagens e diárias, serão cobertas pelo orçamento da OMC, de acordo com critérios a serem adotados pelo Conselho Geral, baseados nas recomendações do Comitê de Orçamento, Finanças e Administração.”
Assim, formado o Painel, este deverá sempre perseguir uma avaliação objetiva da causa a ele submetida, analisando os fatos e as fundamentações de cada parte para o fim de formular conclusões que possibilitem ao Organismo de Solução de Controvérsias a emitir suas decisões.
Ainda, em toda oportunidade possível, deverá o Painel estimular a conciliação entre as partes, visto ser essa a medida mais vantajosa para ambas, desde que, obviamente, respeitados as regras do direito internacional, na forma estabelecida no artigo 11:
“A função de um grupo especial é auxiliar o OSC a desempenhar as obrigações que lhe são atribuídas por este Entendimento e pelos acordos abrangidos. Conseqüentemente, um grupo especial deverá fazer uma avaliação objetiva do assunto que lhe seja submetido, incluindo uma avaliação objetiva dos fatos, da aplicabilidade e concordância com os acordos abrangidos pertinentes, e formular conclusões que auxiliem o OSC a fazer recomendações ou emitir decisões previstas nos acordos abrangidos. Os grupos especiais deverão regularmente realizar consultas com as partes envolvidas na controvérsia e propiciar-lhes oportunidade para encontrar solução mutuamente satisfatória.”
	
Por conseguinte, após a instalação do Painel, este deverá, após consulta às partes, estabelecer um calendário para conclusão dos trabalhados, com prazos razoáveis que segurem o direito às partes do contraditório e ampla defesa.
Assim, com o recebimento das primeiras argumentações de ambas as partes será designada reunião com o grupo especial para que elas exponham suas razões sobre o caso, iniciando-se com a parte reclamante.
Após a primeira reunião será designada uma segunda, oportunidade em que as partes poderão oferecer réplicas uma a outra, articulando suas alegações e, desta vez, iniciando-se com a parte reclamada.
Sempre com o melhor objetivo de elucidar os fatos, o Painel poderá requisitar informações e dirigir perguntas às partes durante as reuniões ou por escrito.
Seguindo-se à fase de réplicas, o artigo 15 do Anexo II dispõe sobre a forma de entrega do relatório final pelo grupo especial, que, primeiro, emitirá um esboço dos fatos e argumentações do relatório e o submeterá às partes para manifestação.
Depois da apresentação do esboço, o Painel remeterá às partes o relatório provisório, com a análise dos fatos e argumentações e, especialmente, com as conclusões do grupo para a controvérsia, dando nova oportunidade para as partes se manifestarem antes da entrega do relatório definitivo. Na hipótese de não haver manifestações, o relatório provisório se converterá em definitivo.
“1. Após consideração das réplicas e apresentações orais, o grupo especial distribuirá os capítulos expositivos (fatos e argumentações) de esboço de seu relatório para as partes em controvérsia. Dentro de um prazo fixado pelo grupo especial, as partes apresentarão seus comentários por escrito. 2. Expirado o prazo estabelecido para recebimento dos comentários das partes, o grupo especial distribuirá às partes um relatório provisório, nele incluindo tanto os capítulos descritivos quanto as determinações e conclusões do grupo especial. Dentro de um prazo fixado pelo grupo especial, qualquer das partes poderá apresentar por escrito solicitação para que o grupo especial reveja aspectos específicos do relatório provisório antes da distribuição do relatório definitivo aos Membros. A pedido de uma parte, o grupo especial poderá reunir-se novamente com as partes para tratar de itens apontados nos comentários escritos. No caso de não serem recebidos comentários de nenhuma das partes dentro do prazo previsto para tal fim, o relatório provisório será considerado relatório final e será prontamente distribuído aos Membros. 3. As conclusões do relatório final do grupo especial incluirão uma análise dos argumentos apresentados na etapa intermediária de exame. Esta etapa deverá ocorrer dentro do prazo estabelecido no parágrafo 8 do Artigo 12.”
A título ilustrativo, o Apêndice 3 do Anexo II traz uma proposta de calendário dos trabalhos Painel, consignando que as partes podem alterá-lo de comum acordo.
“(a) Recebimento das primeiras argumentações escritas das partes: (1) da parte reclamante: 3 a 6 semanas (2) da parte demandada: 2 a 3 semanas; (b) Data, hora e local da primeira reunião substantiva com as partes; sessão destinada a terceiras partes: 1 a 2 semanas; (c) Recebimento das réplicas escritas: 2 a 3 semanas; (d) Data, hora e local da segunda reunião substantiva com as partes: 1 a 2 semanas; (e) Distribuição da parte expositiva do relatório às partes: 2 a 4 semanas; (f) Recebimento de comentários das partes sobre a parte expositiva do relatório: 2 semanas; (g) Distribuição às partes de relatório provisório, inclusive verificações e decisões: 2 a 4 semanas; (h) Prazo final para a parte solicitar exame de parte(s) do relatório: 1 semana; (i) Período de revisão pelo grupo especial, inclusive possível nova reunião com as partes: 2 semanas; (j) Distribuição do relatório definitivo às partes em controvérsia: 2 semanas; (k) Distribuição do relatório definitivo aos Membros: 3 semanas”.
Com o relatório definitivo, encerra-se o trabalho do órgão especial, abrindo-se a possibilidade de apelação para a parte prejudicada ou, caso não haja interesse em recorrer, de cumprimento da medida pela parte vencida ou execução da medida pela parte vencedora.
3.3.3 Órgão de Apelação
O Órgão de Apelação é composto por sete pessoas de reconhecida competência em tema de comércio internacional, dentre as quais três exerceram a função de julgar a apelação, sendo que elas não deverão ter vínculos com nenhum governo, inclusive abstendo-se dos casos que o país de sua nacionalidade estiver apelando ao órgão.
Ao contrário do Painel que analisa as questões de fato e de direito, o Órgão de Apelação se limita à intepretação e análise do direito aplicado ao caso concreto, mediante as alegações das partes nessa fase.
Os trabalhos do Órgão são realizados sem a presença das partes, sendo que seus integrantes deverm emitir seus relatórios anonimamente, a fim de se respeitar a imparcialidade de suas decisões.
Ao final, o Órgão de Apelação poderá confirmar, modificar ou revogar as conclusões de direito que levaram o Painel a decidir sobre determinado caso, cujo relatório deverá ser aceito sem restrições pelas partes, salvo se a OSC resolver por consenso não adotar o relatório dentro do prazo de trinta dias de sua distribuição aos Membros.
O rito da apelação é previsto no artigo 17 do já mencionado Anexo II:
“1. O OSC constituirá um órgão Permanente de Apelação, que receberá as apelações das decisões dos grupos especiais. Será composto por sete pessoas, três das quais atuarão em cada caso. Os integrantes do órgão de Apelação atuarão em alternância. Tal alternância deverá ser determinada pelos procedimentos do órgão de Apelação. 2. O OSC nomeará os integrantes do órgão de Apelação para períodos de quatro anos, e poderá renovar por uma vez o mandato de cada um dos integrantes. Contudo, os mandatos de três das sete pessoas nomeadas imediatamente após a entrada em vigor do Acordo Constitutivo da OMC, que serão escolhidas por sorteio, expirará ao final de dois anos. As vagas serão preenchidas à medida que forem sendo abertas. A pessoa nomeada para substituir outra cujo mandato não tenha expirado exercerá o cargo durante o período que reste até a conclusão do referido mandato. 3. O órgão de Apelação será composto de pessoas de reconhecida competência, com experiência comprovada em direito, comércio internacional e nos assuntos tratados pelos 7 Se não houver uma reunião do OSC prevista dentro desse período em data que permita cumprimento das disposições dos parágrafos 1 e 4 do Artigo16, será realizada uma reunião do OSC para tal fim. acordos abrangidos em geral. Tais pessoas não deverão ter vínculos com nenhum governo. A composição do órgão de Apelação deverá ser largamente representativa da composição da OMC. Todas as pessoas integrantes do órgão de Apelação deverão estar disponíveis permanentemente e em breve espaço de tempo, e deverão manter-se a par das atividades de solução de controvérsias e das demais atividades pertinentes da OMC. Não deverão participar do exame de quaisquer controvérsias que possam gerar conflito de interesse direto ou indireto. 4. Apenas as partes em controvérsia, excluindo-se terceiros interessados, poderão recorrer do relatório do grupo especial. Terceiros interessados que tenham notificado o OSC sobre interesse substancial consoante o parágrafo 2 do Artigo 10 poderão apresentar comunicações escritas ao órgão de Apelação e poderão ser por ele ouvidos. 5. Como regra geral, o procedimento não deverá exceder 60 dias contados a partir da data em que uma parte em controvérsia notifique formalmente sua decisão de apelar até a data em que o órgão de Apelação distribua seu relatório. Ao determinar seu calendário, o órgão de Apelação deverá levar em conta as disposições do parágrafo 9 do Artigo 4, se pertinente. Quando o órgão de Apelação entender que não poderá apresentar seu relatório em 60 dias, deverá informar por escrito ao OSC das razões do atraso, juntamente com uma estimativa do prazo dentro do qual poderá concluir o relatório. Em caso algum o procedimento poderá exceder a 90 dias. 6. A apelação deverá limitar-se às questões de direito tratadas pelo relatório do grupo especial e às interpretações jurídicas por ele formuladas. 7. O órgão de Apelação deverá receber a necessária assistência administrativa e legal. 8. As despesas dos integrantes do órgão de Apelação, incluindo gastos de viagem e diárias, serão cobertas pelo orçamento da OMC de acordo com critérios a serem adotados pelo Conselho Geral, baseado em recomendações do Comitê de Orçamento, Finanças e Administração. 9. O órgão de Apelação, em consulta com o Presidente do OSC e com o Diretor-Geral, fixará seus procedimentos de trabalho e os comunicará aos Membros para informação. 10. Os trabalhos do órgão de Apelação serão confidenciais. Os relatórios do órgão de Apelação serão redigidos sem a presença das partes em controvérsia e à luz das informações recebidas e das declarações apresentadas. 11. As opiniões expressas no relatório do órgão de Apelação por seus integrantes serão anônimas. 12. O órgão de Apelação examinará cada uma das questões pleiteadas em conformidade com o parágrafo 6 durante o procedimento de apelação. 13. O órgão de Apelação poderá confirmar, modificar ou revogar as conclusões e decisões jurídicas do grupo especial. 14. Os relatórios do órgão de Apelação serão adotados pelo OSC e aceitos sem restrições pelas partes em controvérsia a menos que o OSC decida por consenso não adotar o relatório do órgão de Apelação dentro do prazo de 30 dias contados a partir da sua distribuição aos Membros 8 . Este procedimento de adoção não prejudicará o direito dos Membros de expor suas opiniões sobre o relatório do órgão de Apelação”.
Dessa forma, verifica-se que a intenção da OMC ao instituir o Órgão de Apelação no OSC foi possibilitar à parte o direito a um segundo julgamento, ainda que estritamente jurídico, a fim de garantir a efetividade do contraditório e ampla defesa.
3.4 Aplicação das recomendações e decisões da OSC
Após a prolação das recomendações e decisões do Painel ou do Órgão de Apelação, em caso de recurso, as partes deverão dar pronto cumprimento às medidas ali expostas.
Isso porque se trata de um princípio imperioso do próprio sistema da OMC na medida em que se busca a efetividade da prática comercial de acordo com ordem jurídica internacional.
Na impossibilidade de a parte cumprir imediatamente as determinações, deverá ser fixado prazo razoável para cumprimento, seja de comum acordo ou mediante arbitragem compulsória.
Nessa perspectiva, entende-se como prazo razoável o período de 15 meses a partir da data de adoção do relatório pelo grupo especial ou Órgão de Apelação, podendo ser maior ou menor a depender das circunstâncias do caso fático.
Na hipótese de descumprimento das recomendações e decisões, qualquer Membro poderá acionar a OSC para dizer sobre a questão, nos termos do artigo 21 do Anexo II:
“1. O pronto cumprimento das recomendações e decisões do OSC é fundamental para assegurar a efetiva solução das controvérsias, em benefício de todos os Membros. 2. As questões que envolvam interesses de países em desenvolvimento Membros deverão receber atenção especial no que tange às medidas que tenham sido objeto da solução de controvérsias. 3. Em reunião do OSC celebrada dentro de 30 dias 11 após a data de adoção do relatório do grupo especial ou do órgão de Apelação, o Membro interessado deverá informar ao OSC suas intenções com relação à implementação das decisões e recomendações do OSC. Se for impossível a aplicação imediata das recomendações e decisões, o Membro interessado deverá para tanto dispor de prazo razoável. O prazo razoável deverá ser: a) o prazo proposto pelo Membro interessado, desde que tal prazo seja aprovado pelo OSC ou, não havendo tal aprovação; b) um prazo mutuamente acordado pelas partes em controvérsia dentro de 45 dias a partir da data de adoção das recomendações e decisões ou, não havendo tal acordo; c) um prazo determinado mediante arbitragem compulsória dentro de 90 dias após a data de adoção das recomendações e decisões 12. Em tal arbitragem, uma diretriz para o árbitro 13 11 Caso não esteja prevista reunião do OSC durante esse período, será realizada uma reunião do OSC para tal fim. 12 Caso as partes não cheguem a consenso para indicação de um árbitro nos 10 dias seguintes à submissão da questão à arbitragem, o árbitro será designado pelo Diretor-Geral em prazo de 10 dias, após consulta com as partes. será a de que o prazo razoável para implementar as recomendações do grupo especial ou do órgão de Apelação não deverá exceder a 15 meses da data de adoção do relatório do grupo especial ou do órgão de Apelação. Contudo, tal prazo poderá ser maior ou menor, dependendo das circunstâncias particulares. 4. A não ser nos casos em que o grupo especial ou o órgão de Apelação tenham prorrogado o prazo de entrega de seu relatório com base no parágrafo 9 do Artigo 12 ou no parágrafo 5 do Artigo 17, o período compreendido entre a data de estabelecimento do grupo especial pelo OSC e a data de determinação do prazo razoável não deverá exceder a 15 meses, salvo se as partes acordarem diferentemente. Quando um grupo especial ou o órgão de Apelação prorrogarem o prazo de entrega de seu relatório, o prazo adicional deverá ser acrescentado ao período de 15 meses; desde que o prazo total não seja superior a 18 meses, a menos que as partes em controvérsia convenham em considerar as circunstâncias excepcionais. 5. Em caso de desacordo quanto à existência de medidas destinadas a cumprir as recomendações e decisões ou quanto à compatibilidade de tais medidas com um acordo abrangido, tal desacordo se resolverá conforme os presentes procedimentos de solução de controvérsias, com intervenção, sempre que possível, do grupo especial que tenha atuado inicialmente na questão. O grupo especial deverá distribuir seu relatório dentro de 90 dias após a data em que a questão lhe for submetida. Quando o grupo especial considerar que não poderá cumprir tal prazo, deverá informar por escrito ao OSC as razões para o atraso e fornecer uma nova estimativa de prazo para entrega de seu relatório (...)”
O objetivo de vigiar a aplicação e execução das recomendações e decisões do OSC é preservar a segurança jurídica da ordem internacional, especialmente em relação aos países em desenvolvimento, para que façam face ao poder econômico e político de países já desenvolvidos.
No entanto, o cumprimento das recomendações exortadas pelo OSC depende da disposição políticada parte envolvida, uma vez que os atores internos destes países, na maioria das vezes, relutam em alterar programas econômicos que, apesar de ferirem as normas internacionais do comércio, trazem dividendos eleitorais para os setores favorecidos. 
Nesses casos em que as recomendações não são cumpridas, abre-se a possibilidade para que seja autorizado o uso do sistema de compensação e suspensão de concessões.
3.4.1 Subsistema de Compensação e Suspensão de Concessões
Ainda que o cumprimento das decisões e recomendações do OSC seja preferido pela ordem e princípios estabelecidos pela Organização Mundial do Comércio, é fato que elas nem sempre são cumpridas.
Nessa hipótese, o próprio mecanismo da OSC prevê uma série de medidas que a parte prejudicada pode adotar para se proteger do descumprimento das decisões e recomendações de determinada parte, como a compensação e a suspensão de obrigações, também chamada de retaliação.
A compensação é voluntária e objeto de acordo entre as partes, enquanto a retaliação deve ser autorizada pelo OSC e é utilizada somente em casos excepcionais e como última opção para cumprimento das recomendações.
Por essa linha de raciocínio, tanto a suspensão como a concessão de outras obrigações devem ser aplicadas, primeiramente, nos mesmos setores que originaram a disputa, como por exemplo: normas do governo americano no setor do algodão nos EUA infringem as regras internacionais; o setor de algodão no Brasil deve ser favorecido pelas suspensões e compensações.
Por conseguinte, não surtindo efeito, devem aquelas recaírem sobre outros setores abrangidos pelo acordo ou relatório do painel ou Órgão de Apelação.
No entanto, caso tais medidas não surtam os efeitos práticos esperados ou estes sejam pífios ou impraticáveis, poderá ser autorizado, desde que as situações sejam graves e suficientemente comprovadas, a compensação de suspensão de obrigações em outras áreas, como por exemplo: normas do governo americano no setor do algodão nos EUA infringem as regras internacionais; o setor farmacêutico no Brasil deve ser favorecido pelas suspensões e compensações em propriedade intelectual.
Nesta última hipótese, a situação deve obrigatoriamente ser submetida à arbitragem, preferencialmente atribuída ao grupo especial que tratou originalmente do caso.
A arbitragem não abordará a natureza das concessões e suspensões de obrigações, mas se elas se equivalem em termos de anulação de prejuízo, cuja decisão é definitiva, salvo se rejeitada por consenso pelo OSC.
Outro ponto a destacar é que as medidas de concessão e suspensão devem vigorar apenas pelo período que se considera como satisfatório para compensação da prática originária incompatível, sob pena da própria desvirtuação do sistema.
O artigo 22 do Anexo II regula o procedimento para aplicação da retaliação, conforme a seguir descrito:
“1. A compensação e a suspensão de concessões ou de outras obrigações são medidas temporárias disponíveis no caso de as recomendações e decisões não serem implementadas dentro de prazo razoável. No entanto, nem a compensação nem a suspensão de concessões ou de outras obrigações é preferível à total implementação de uma recomendação com o objetivo de adaptar uma medida a um acordo abrangido. A compensação é voluntária e, se concedida, deverá ser compatível com os acordos abrangidos. 2. Se o Membro afetado não adaptar a um acordo abrangido a medida considerada incompatível ou não cumprir de outro modo as recomendações e decisões adotadas dentro do prazo razoável determinado conforme o parágrafo 3 do Artigo 21, tal Membro deverá, se assim for solicitado, e em período não superior à expiração do prazo razoável, entabular negociações com quaisquer das partes que hajam recorrido ao procedimento de solução de controvérsias, tendo em vista a fixação de compensações mutuamente satisfatórias. Se dentro dos 20 dias seguintes à data de expiração do prazo razoável não se houver acordado uma compensação satisfatória, quaisquer das partes que hajam recorrido ao procedimento de solução de controvérsias poderá solicitar autorização do OSC para suspender a aplicação de concessões ou de outras obrigações decorrentes dos acordos abrangidos ao Membro interessado. (...) 4. O grau da suspensão de concessões ou outras obrigações autorizado pelo OSC deverá ser equivalente ao grau de anulação ou prejuízo. 5. O OSC não deverá autorizar a suspensão de concessões ou outras obrigações se o acordo abrangido proíbe tal suspensão. 6. Quando ocorrer a situação descrita no parágrafo 2, o OSC, a pedido, poderá conceder autorização para suspender concessões ou outras obrigações dentro de 30 dias seguintes à expiração do prazo razoável, salvo se o OSC decidir por consenso rejeitar o pedido. No entanto, se o Membro afetado impugnar o grau da suspensão proposto, ou sustentar que não foram observados os princípios e procedimentos estabelecidos no parágrafo 3, no caso de uma parte reclamante haver solicitado autorização para suspender concessões ou outras obrigações com base no disposto nos parágrafos 3.b ou 3.c, a questão 14 Na lista integrante do Documento MTN.GNG/W/120 são identificados onze setores. será submetida a arbitragem. A arbitragem deverá ser efetuada pelo grupo especial que inicialmente tratou do assunto, se os membros estiverem disponíveis, ou por um árbitro 15 designado pelo Diretor-Geral, e deverá ser completada dentro de 60 dias após a data de expiração do prazo razoável. As concessões e outras obrigações não deverão ser suspensas durante o curso da arbitragem. 7. O árbitro 16 que atuar conforme o parágrafo 6 não deverá examinar a natureza das concessões ou das outras obrigações a serem suspensas, mas deverá determinar se o grau de tal suspensão é equivalente ao grau de anulação ou prejuízo. O árbitro poderá ainda determinar se a proposta de suspensão de concessões ou outras obrigações é autorizada pelo acordo abrangido. No entanto, se a questão submetida à arbitragem inclui a reclamação de que não foram observados os princípios e procedimentos definidos pelo parágrafo 3, o árbitro deverá examinar a reclamação. No caso de o árbitro determinar que aqueles princípios e procedimentos não foram observados, a parte reclamante os aplicará conforme o disposto no parágrafo 3. As partes deverão aceitar a decisão do árbitro como definitiva e as partes envolvidas não deverão procurar uma segunda arbitragem. O OSC deverá ser prontamente informado da decisão do árbitro e deverá, se solicitado, outorgar autorização para a suspensão de concessões ou outras obrigações quando a solicitação estiver conforme à decisão do árbitro, salvo se o OSC decidir por consenso rejeitar a solicitação. 8. A suspensão de concessões ou outras obrigações deverá ser temporária e vigorar até que a medida considerada incompatível com um acordo abrangido tenha sido suprimida, ou até que o Membro que deva implementar as recomendações e decisões forneça uma solução para a anulação ou prejuízo dos benefícios, ou até que uma solução mutuamente satisfatória seja encontrada. De acordo com o estabelecido no parágrafo 6 do Artigo 21, o OSC deverá manter sob supervisão a implementação das recomendações e decisões adotadas, incluindo os casos nos quais compensações foram efetuadas ou concessões ou outras obrigações tenham sido suspensas mas não tenham sido aplicadas as recomendações de adaptar uma medida aos acordos abrangidos. (...)”
Nesse contexto, observa-se que os países em desenvolvimento possuem maiores dificuldades para cumprirem as determinações do OSC, o que consolida o seu papel de dependência econômico-política em relação aos países desenvolvidos, conforme Amaral Jr. (2008, p. 115):
Em que pese não ser o objetivo do presente trabalho o estudo propriamente dito do Sistema de Solução de Controvérsias da OMC, mas o do caso do algodão brasileiro dentro desse sistema, é importante destacar a assimetria que ainda persiste na ordem internacional em favor dos países desenvolvidos.
Ora, qual é vantagem política/ econômica para um