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Aspectos históricos da neuropsicologia CLINICA E FORENCE

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FUNDAMENTOS HISTÓRICOS
O fato de que uma ação violenta possa não 
ter relação com uma disfunção cerebral e a 
possibilidade de que uma alegação de am-
nésia seja apenas uma simulação de déficit 
cognitivo visando a explicar um desvio de 
dinheiro são exemplos de contextos da in-
terface entre a saúde mental e a justiça.
A investigação do funcionamento ce-
rebral e da expressão do comportamen-
to faz parte de um contexto de questiona-
mentos que aproxima, ao longo da história, 
a psicologia, a neurologia e, mais recente-
mente, a neuropsicologia. Essa aproxima-
ção se deu no fim do século XIX, na Alema-
nha, a partir da obra Princípios da psicologia 
fisiológica, de Wundt, estabelecendo um 
conceito que perdurou por muito tempo 
e que dizia respeito ao corpo de pesquisas 
realizadas em laboratório (Kristensen, Al-
meida, & Gomes, 2001).
O percurso histórico do surgimento 
da neuropsicologia tem início com os estu-
dos dos antigos egípcios, que, embora acre-
ditassem que o coração e o diafragma fos-
sem os centros vitais, já faziam menções a 
alterações comportamentais resultantes de 
lesões no crânio.
Platão (428 a.C.) descreveu a medu-
la como uma das partes mais importantes 
do corpo, considerando-a uma extensão 
do cérebro. Alcmeón de Crotona, no século 
V, na Grécia Antiga, julgava que o cérebro 
era o órgão responsável pela sensação e pe-
lo pensamento, afirmando que, para cada 
sensação, havia uma localização específica 
no cérebro (Feinberg & Farah, 1997). Um 
século depois, Hipócrates ressaltava que 
o cérebro era responsável pela inteligên-
cia, pela sensação e pela emoção, e disso-
ciava os quadros epilépticos das possessões 
demoníacas. Já Galeno (129 d.C.) explica-
va que a sensação era a mudança qualitati-
va de um órgão dos sentidos, e a percepção 
se configurava como o estado de consciên-
cia dessa mudança (Kristensen et al., 2001).
A partir do século XVIII, o estudo en-
tre mente e cérebro se desenvolve no esco-
po das localizações. Inicia-se um processo 
de identificar regiões cerebrais com deter-
minadas funções. Nesse recorte da história, 
podemos destacar as explicações de David 
Hartley, em 1777, que já apontava que a ba-
se da sensação e do movimento era a subs-
tância branca do cérebro e do cerebelo. Essa 
descrição preconiza as concepções localiza-
cionistas, intensamente difundidas no sé-
culo XIX.
1
Aspectos históricos da 
neuropsicologia clínica e forense
ANTONIO DE PÁDUA SERAFIM 
ÉVERTON DUARTE 
MARIA FERNANDA F. ACHÁ
18  SERAFIM & SAFFI (ORGS.)
Franz Josef Gall (século XIX) estabe-
leceu a diferença entre a substância bran-
ca e a cinzenta, descrevendo a ligação dos 
quadros de afasia com lesões de lobo fron-
tal. Gall identificou 27 faculdades humanas 
relacionadas a áreas cerebrais, criando, as-
sim, a teoria geral da localização cerebral, 
ou frenologia (Brett, 1953).
Embora os conceitos localizacionistas 
tenham perdurado por todo o século XIX, 
em 1820, Flourens contradiz as concepções 
de Gall, ressaltando que o cérebro funcionava 
como um todo e não dependia de uma única 
região ou área específica (Walsh, 1994).
As conceituações de Flourens acer-
ca do funcionamento cerebral integra-
do podem ser consideradas como o início 
das concepções associacionistas, que dis-
correm sobre uma organização cerebral 
hierarquicamente organizada e interati-
va. Paul Broca, na metade do século XIX, 
descreve o quadro clínico de um paciente 
que apresentava perda da capacidade da fa-
la em função de uma lesão na região fron-
tal do hemisfério esquerdo, corroborando 
a dificuldade em pronunciar palavras, em-
bora mantivesse preservada a compreen-
são dos significados. As descrições de Bro-
ca sobre os centros cerebrais da linguagem 
foram observadas paralelamente por Wer-
nicke, que, uma década mais tarde, apre-
sentou casos de pacientes com lesões no 
terço posterior do giro temporal superior 
esquerdo. Embora tais pacientes não apre-
sentassem alterações na fala expressiva, as 
lesões resultavam na perda da capacidade 
de compreendê-la (Benedet, 1986).
A neuropsicologia, assim, é de fato re-
conhecida nos meados do século XX, com 
os trabalhos de Alexander Romanovich Lu-
ria, que desenvolveu diversas técnicas para 
estudar o comportamento dos indivíduos 
acometidos por lesões cerebrais (Crawford, 
Parker, & McKinlay, 1994).
Para Luria (1981), o sistema nervoso 
central, além da organização em rede, parti-
cipa de forma ativa na regulação das funções 
superiores (percepção, memória, gnosias, 
praxias), visto que essas funções se orga-
nizam como sistemas complexos, resulta-
do de uma ação e interação dinâmica de di-
versas regiões cerebrais interligadas entre 
si. Autores mais recentes, como Gil (2002, 
p.1), definem a neuropsicologia como
. . . o estudo dos distúrbios cognitivos 
e emocionais, bem como o estudo dos 
distúrbios de personalidade provocados 
por lesões do cérebro, que é o órgão 
do pensamento e, portanto, a sede da 
consciência.
O que rege esse dinamismo cerebral é 
a integração entre unidades cerebrais fun-
cionais (Tab. 1.1). Luria (1981) elaborou a 
teoria do sistema funcional, fazendo uma 
revisão dos termos “função”, “localização” e 
TABELA 1.1
Unidades cerebrais funcionais
UNIDADE I UNIDADE II UNIDADE III
Responsável por regular o tônus 
cortical, a vigília e os estados 
mentais. É composta pela for-
mação reticular e pelo tronco 
encefálico.
Responsável por receber, proces-
sar e armazenar as informações. 
Compõe-se das partes posteriores 
do cérebro (lobo parietal, occipital 
e temporal).
Responsável por programar, regu-
lar e verificar a atividade mental. 
Composta pelas partes anteriores 
do cérebro (lobo frontal).
Fonte: Luria (1981).
NEUROPSICOLOGIA FORENSE  19
“sintoma”. O termo “função” foi substituí-
do por “sistema funcional”, que se refere a 
um conjunto de áreas que trabalham juntas 
para desempenhar um objetivo final.
As contribuições de Luria (1981) 
acerca das três unidades funcionais não só 
representaram um modelo para o enten-
dimento do funcionamento cerebral co-
mo também colaboraram para o desenvol-
vimento de mecanismos de avaliação das 
possíveis disfunções cerebrais. Entre os ins-
trumentos para investigar tais alterações, 
destaca-se a avaliação neuropsicológica. 
Segundo Lezak, Howieson e Loring (2006), 
essa técnica é uma importante ferramenta 
para a compreensão da relação entre cére-
bro e comportamento e das consequências 
psicossociais de uma possível lesão ou dis-
função cerebral.
A avaliação neuropsicológica tem co-
mo objetivo estudar a expressão das dis-
funções cerebrais sobre o comportamento, 
podendo essas disfunções resultar de le-
sões ou doenças degenerativas, ou ligar-se 
a quadros psiquiátricos e doenças que têm 
a disfunção neurológica como resultado se-
cundário, sem que esta possa ser detectada 
por meio de exames clínicos, uma vez que o 
tecido cortical não está comprometido.
A avaliação é realizada por testes or-
ganizados em baterias que fornecem infor-
mações diagnósticas e permitem confirmar 
– ou não – as hipóteses iniciais sobre o pa-
ciente. A partir dos resultados do exame 
neuropsicológico é possível delimitar quais 
funções cerebrais estão afetadas e quais es-
tão preservadas (Groth-Marnat, 2000).
Nesse contexto, a análise neuropsi-
cológica fornece uma lente através da qual 
podem ser observadas a natureza e a dinâ-
mica dos processos cognitivos e afetivo-
-emocionais em sua relação com o cére-
bro. Ainda segundo Lezak e colaboradores 
(2006), o processo de investigação neuro-
psicológica engloba a função cerebral infe-
rida a partir da manifestação do compor-
tamento.
As principais manifestações compor-
tamentais que sugerem a necessidade de 
uma avaliação neuropsicológica podem ser 
organizadas em três grupos distintos(Tab. 
1.2).
TABELA 1.2
Principais quadros que sugerem a necessidade de avaliação neuropsicológica
PESSOAS COM LESÃO PESSOAS COM FATOR DE RISCO SUSPEITA DE DOENÇA OU 
CEREBRAL CONHECIDA PARA LESÃO OU DISFUNÇÃO CEREBRAL TRAUMATISMO CEREBRAL
	 Doenças 
	 Traumatismos 
craniencefálicos
	 Hidrocefalia
	 Doença de Alzheimer
	 Doença de Parkinson
	 Esclerose múltipla
	 Nestes quadros, as mudanças 
de comportamento podem ser 
sintomas de uma determinada 
patologia
	 Endocrinopatias
	 Alterações 
metabólicas
	 Doenças renais
	 Entre outras
	 Baseando-se na observação de 
uma mudança de 
comportamento da pessoa, sem 
uma etiologia 
identificável
	 A pessoa não tem fatores 
de risco conhecidos para lesão 
cerebral
	 O diagnóstico é considerado 
a partir da exclusão de outros diag-
nósticos
	 São pessoas sem história neuroló-
gica ou psiquiátrica
Fonte: Luria (1981).
20  SERAFIM & SAFFI (ORGS.)
De certa maneira, com base em Lezak 
e colaboradores (2006), os déficits cognitivos 
podem ocorrer em quatro diferentes funções:
Memória e 
aprendizagem
Função 
receptiva
Pensamento
Funções 
executivas
Armazenamento 
das informações
Input
Processamento 
das informações
Output
Esses apontamentos convergem com 
as notificações de vários autores quanto à 
ampliação da aplicação da avaliação neu-
ropsicológica nos últimos anos, relaciona-
dos principalmente ao córtex pré-frontal 
e às funções executivas (Müller, Baker, & 
Yeung, 2013).
Para Müller e colaboradores (2013), 
a relevância do estudo do córtex pré-fron-
tal se dá em função de ele ocupar cerca de 
um terço da massa total do córtex, além de 
manter relações múltiplas majoritariamen-
te recíprocas com inúmeras outras estrutu-
ras encefálicas, como conexões com regiões 
de associação dos córtices parietal, tempo-
ral e occipital, bem como com diversas es-
truturas subcorticais, em especial o tálamo, 
além de conter as únicas representações 
corticais de informações provenientes do 
sistema límbico.
Os instrumentos neuropsicológicos, 
portanto, se configuram como ferramentas 
cujo objetivo é avaliar um conjunto de ha-
bilidades e competências cognitivas como 
atenção, memória, linguagem, funções exe-
cutivas, aprendizagem, praxia construtiva e 
potencial intelectual, seja no contexto clíni-
co, seja no forense.
A NEUROPSICOLOGIA FORENSE
A crescente violência urbana e o afastamen-
to do trabalho por doenças incapacitantes, 
por exemplo, têm exigido cada vez mais a 
participação do psicólogo no esclarecer dos 
fatos. Responder a questões relacionadas à 
saúde mental e à justiça requer da psicolo-
gia uma compreensão multifatorial de to-
dos os processos envolvidos.
O desenvolvimento da psiquiatria e da 
psicologia contribuiu de forma intensa pa-
ra que os órgãos da justiça utilizem conhe-
cimentos especializados no que diz respeito 
aos processos que regem a vida humana, a 
saúde psíquica e, nas duas últimas décadas, a 
neuropsicologia (Gierowski, 2006).
De acordo com o Online Etymology 
Dictionary, da American Psychological As-
sociation (c2011-2013), a palavra “forense” 
vem do latim forum, que faz alusão ao Fo-
rum Romano, a praça principal onde eram 
realizados os julgamentos do Império. Tra-
dicionalmente, o uso do termo “forense” 
denota a intersecção entre a ciência (medi-
cina, antropologia, psicologia) e o sistema 
jurídico.
Uma das primeiras ideias de psico-
logia forense surge no fim de 1800, com 
o psicólogo alemão Hugo Münsterberg, 
considerado por muitos o precursor da 
psicologia forense. Münsterberg argu-
mentava que a psicologia deveria ser apli-
cada à lei. Entretanto, apenas em 2001 a 
APA reconheceu a psicologia forense co-
mo uma especialização no âmbito do es-
tudo da psicologia. Seu crescimento se dá 
sobretudo por pesquisar e dissecar o com-
portamento humano diretamente ligado 
aos crimes seriais. No tocante à neuropsi-
cologia forense, a história é mais recente 
(Hom, 2003).
NEUROPSICOLOGIA FORENSE  21
O campo da neuropsicologia forense 
é relativamente novo, entretanto está evo-
luindo de maneira crescente e rápida. Ape-
sar de já haver vários programas de treina-
mento formal, requisitos de licenciamento 
ou organizações profissionais dedicadas es-
pecificamente à neuropsicologia forense 
tanto nos Estados Unidos como na Euro-
pa, ainda há a necessidade de maior padro-
nização dessa prática, bem como de textos 
de referência (Hom, 2003).
Ainda de acordo com Hom (2003), o 
termo “neuropsicologia forense” represen-
ta uma subespecialidade da neuropsicolo-
gia clínica, que diretamente aplica práticas 
e princípios neuropsicológicos a questões 
que dizem respeito às dúvidas jurídicas e à 
tomada de decisão. Profissionais de neuro-
psicologia forense são treinados como neu-
ropsicólogos clínicos e, posteriormente, 
especializam-se na aplicação de seus conhe-
cimentos e habilidades no âmbito forense.
Diferentemente do que ocorre na neu-
ropsicologia clínica, que define a existên-
cia ou não de uma disfunção das funções 
cognitivas, a neuropsicologia forense de-
ve responder a uma questão legal, isto é, se 
determinada disfunção afeta ou não a ca-
pacidade de entendimento e de autodeter-
minação da pessoa (Hom, 2003).
Enquanto na clínica busca-se ajudar 
o paciente, na assistência forense procura-
-se descobrir a verdade dos fatos. Destaca-
-se, ainda, que a avaliação neuropsicológica 
forense também se distingue da área clíni-
ca pelo fato de o solicitante ser uma tercei-
ra parte, a comunicação dos resultados se 
dar entre perito e solicitante, e a avaliação 
ser restrita a quesitos elaborados capazes de 
responder a determinada questão legal (Se-
rafim & Saffi, 2012; Serafim, Saffi, & Rigo-
natti, 2010).
Na área forense, a avaliação neuro-
psicológica se insere na fase pericial. A pala-
vra “perícia” vem do latim perior, que quer 
dizer experimentar, saber por experiência. 
Consiste em aporte especializado que pres-
supõe um conhecimento técnico/científico 
específico que contribua no esclarecimento 
de algum ponto considerado imprescindí-
vel para o procedimento processual.
De maneira geral, a perícia conver-
ge da compreensão psicológica e neuropsi-
cológica de um caso para responder a uma 
questão legal expressa pelo juiz ou por ou-
tro agente (jurídico ou participante do ca-
so), fundamentada nos quesitos elaborados 
pelo agente solicitante, cabendo ao psicó-
logo perito investigar uma ampla faixa do 
funcionamento mental do indivíduo sub-
metido à perícia (o periciando).
Por perícia entende-se, na prática, a 
aplicação dos métodos e técnicas da inves-
tigação psicológica e neuropsicológica com 
a finalidade de subsidiar uma ação judicial 
toda vez que se instalarem dúvidas relativas 
à “saúde” psicológica do periciando. Dito 
de outro modo, seu resultado final é levar 
conhecimento técnico ao juiz, produzindo 
prova para auxiliá-lo em seu livre conven-
cimento, bem como fornecer ao processo a 
documentação técnica do fato, o que é feito 
via documentos legais – no caso em apreço, 
o laudo (Serafim & Saffi, 2012).
Ressalta-se que o procedimento da pe-
rícia deve ser fundamentado nos quesitos ela-
borados pelo agente jurídico (juiz, promotor, 
procurador, delegado, advogado), cabendo 
ao perito investigar uma ampla faixa de fun-
cionamento mental do indivíduo envolvido 
em ação judicial de qualquer natureza (civil, 
trabalhista, criminal, etc.), por meio do exa-
me de sua personalidade e de suas funções 
cognitivas (Serafim & Saffi, 2012).
22  SERAFIM & SAFFI (ORGS.)
Autores como Denney e Sullivan 
(2008) enfatizam que a utilização da avalia-
ção neuropsicológica no contexto forense é 
capaz de colaborar para a compreensão da 
conduta humana, seja ela delituosa ou não, 
no escopo da participaçãodas instâncias bio-
lógica, psíquica, social e cultural como mo-
duladoras da expressão do comportamento. 
Para isso, duas importantes linhas de estudo 
têm sido utilizadas. A primeira diz respeito 
à avaliação neuropsicológica para verificação 
de dano cognitivo em pacientes psiquiátricos 
forenses. Nestor, Kimble, Berman e Haycock 
(2002) analisaram 26 condenados por homi-
cídio com transtornos mentais, internos de 
um hospital forense de segurança máxima, 
em relação a funções como memória, inte-
ligência, atenção, funções executivas e habi-
lidades acadêmicas. Os resultados produzi-
ram dois subgrupos distintos: um definido 
por alta incidência de psicose e baixo nível de 
psicopatia e um por baixa incidência de psi-
cose e alto nível de psicopatia – cada subgru-
po correspondendo a diferenças neuropsico-
lógicas distintas em habilidades intelectuais, 
dificuldades de aprendizagem e inteligência 
social. Apesar dos resultados, os autores res-
saltam a necessidade de estudos com amos-
tras maiores para melhor entendimento e 
confiabilidade de medidas neuropsicológicas 
com essa população.
Já Bentall e Taylor (2006), em estudo 
de revisão, investigaram as implicações do 
delírio paranoico no contexto neuropsico-
lógico com repercussões forenses. O quadro 
de paranoia não tem sido consistentemen-
te associado a nenhuma anormalidade neu-
ropsicológica específica. Entretanto, os au-
tores destacam três aspectos do pensamento 
paranoico que necessitam de uma investiga-
ção mais aprofundada: a paranoia que pro-
duz motivações e experiências perceptivas 
anômalas e distorção no raciocínio; a asso-
ciação da paranoia com diminuição da ca-
pacidade auditiva; e, por fim, a possibilidade 
de que exista uma forte associação negativa 
entre paranoia e autoestima.
Em seu estudo de revisão, Naudts e 
Hodgins (2006) consideraram correlatos 
neurobiológicos e comportamento antisso-
cial na esquizofrenia. De maneira geral, es-
ses autores concluíram que poucos estudos 
têm sido realizados e que as amostras não 
são expressivas, o que dificulta a confirma-
ção de hipóteses.
Analisando as funções executivas de 
33 pacientes com história de violência e 
49 não violentos, Fullam e Dolan (2008) 
não evidenciaram diferenças significativas 
entre os grupos no desempenho da tare-
fa neuropsicológica. No entanto, conside-
raram que, quanto menor o quociente de 
inteligência (QI), maior a associação com 
a violência. Esses autores consideram tam-
bém que a associação entre déficits neuro-
psicológicos e violência em pacientes com 
esquizofrenia é limitada, e os resultados, in-
consistentes.
Em outro estudo foi investigado o his-
tórico de violência e os aspectos neuropsi-
cológicos de 301 pessoas com relato de pri-
meiro surto psicótico (Hodgins et al., 2011). 
Nesse estudo, 33,9% dos homens e 10% das 
mulheres tinham um registro de condena-
ções criminais; 19,9% dos homens e 4,6% 
das mulheres tinham sido condenados por 
pelo menos um crime violento. Os pacientes 
infratores apresentaram os menores escores 
quanto às variáveis neuropsicológicas (me-
mória de trabalho, funções executivas e QI). 
Os autores consideram que intervenções 
pontuais nos serviços de saúde para pacien-
tes de primeiro surto psicótico podem redu-
zir a ocorrência, como também a reincidên-
cia, de comportamentos violentos.
Uma segunda vertente de estudos re-
ferentes à avaliação neuropsicológica para 
verificação de dano cognitivo em pacien-
tes psiquiátricos forenses engloba as conse-
quências do transtorno de estresse pós-
-traumático (TEPT) e os pacientes com 
lesões cerebrais.
Bastert e Schläfke (2011) avaliaram 125 
pacientes com disfunções cerebrais orgâni-
NEUROPSICOLOGIA FORENSE  23
cas com uma bateria neuropsicológica para 
avaliar as funções executivas. Os resultados 
demonstraram que, embora esses pacientes 
apresentem desempenho cognitivo abai-
xo da média quando comparados a pes soas 
sem disfunções orgânicas, as diferenças não 
são tão acentuadas como se esperava. Os 
autores ainda enfatizam que esses resul-
tados são sugestivos de que tais pacientes 
possam se beneficiar de programas de rea-
bilitação neuropsicológica.
Pensando ainda em termos de pro-
cessos de tratamento de pacientes forenses 
com retardo mental ou disfunção cerebral 
orgânica, Bastert, Schläfke, Pein, Kupke e 
Fegert (2012) estudaram 15 pacientes por 
meio de exames de neuroimagem e avalia-
ção neuropsicológica. Os resultados suge-
rem mais prejuízos nas capacidades execu-
tivas. Além disso, faz-se necessário agrupar 
os pacientes por tipo de lesão cerebral, com 
o objetivo de definir com mais qualidade as 
ações de intervenções.
Por fim, Bailie, King, Kinney e Nitch 
(2012) investigaram o comprometimen-
to cognitivo de 260 pacientes internos de 
um hospital psiquiátrico forense. Os prin-
cipais resultados demonstraram que 35,8% 
da amostra apresentaram escores abaixo da 
média em um teste que media a capacidade 
de repetição. Além disso, 65% dos partici-
pantes relataram história de atraso de de-
senvolvimento, menos de 12 anos de ensino 
ou dificuldades de aprendizagem. Metade da 
amostra relatou ao menos um fator de ris-
co neurológico (p. ex., história de trauma-
tismo craniano com perda de consciência). 
No entanto, os fatores de riscos neurológi-
cos, de certa forma, não influenciaram o de-
sempenho no teste de autorrelato para fato-
res de riscos neuropsicológicos. De acordo 
com Bailie e colaboradores (2012), esses re-
sultados corroboram a relevância dos servi-
ços neuropsicológicos em hospitais psiquiá-
tricos forenses como forma de intervenção.
A segunda linha de estudo engloba a 
avaliação neu ropsicológica para verificação 
da capacidade civil, da responsabilidade pe-
nal e do risco de violência. Klöppel (2009) 
destacou a relação entre disfunções neuro-
cognitivas e risco de violência, bem como 
reincidência. Além dos quadros psicóticos, 
os estudos têm investigado a participação 
de áreas cerebrais específicas com uma va-
riedade de disfunções cognitivas e que se 
apresentam como variáveis de risco para 
violência, como disfunção dos lobos fron-
tal, orbitofrontal/frontal/frontotemporal e/
ou regiões subcorticais do sistema límbico.
A investigação neuropsicológica na 
área penal se destaca em termos de quan-
tidade quando comparada com a inves-
tigação da capacidade civil ou a avaliação 
de risco e se distribui pelos estudos de cri-
minosos sexuais, antissociais e psicopatas 
(Greene & Cahill, 2012; Kruger & Schiffer, 
2011).
Autores como Heilbronner e colabo-
radores (2010) discutem a diferença entre 
a avaliação neuropsicológica clínica e a fo-
rense, seja na área penal, seja na civil. Eles 
escrevem a partir da perspectiva de que o 
corpo de profissionais de neuropsicologia, 
em sua maioria, é eminentemente clínico e 
com pouca experiência em matéria penal, o 
que é preocupante para essa atuação.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os conceitos localizacionistas, a priori, não 
devem ser considerados como ideias ou con-
cepções simplesmente descartáveis. O pen-
samento “localizacionista” possibilitou, ao 
longo da história, a construção das bases da 
neuropsicologia no campo das neurociên-
cias, visto que seu debate deu lugar, grada-
tivamente, à concepção de uma organização 
do sistema nervoso central pautada no fun-
cionamento integrado das várias regiões ce-
rebrais. Considerar as descrições de David 
Hartley, Gall, Flourens, Broca, Wernicke e 
Luria representa traçar a linha da construção 
24  SERAFIM & SAFFI (ORGS.)
de uma ciência focada na investigação do 
funcionamento mais elementar ao funcio-
namento mais complexo do sistema nervoso 
central peculiar às neurociências.
Não se discute que a utilização da ava-
liação neuropsicológica é capaz de colabo-
rar para a compreensão da conduta huma-
na, seja eladelituosa ou não, no escopo da 
participação das instâncias biológica, psí-
quica, social e cultural como modulado-
ras da expressão do comportamento. Além 
disso, examinadores forenses em geral con-
cordam quanto ao crescimento da avalia-
ção neuropsicológica e suas contribuições 
para o processo judicial. Sua consolidação 
e seu reconhecimento na prática fo rense se 
constroem por um processo temporal con-
tínuo fundamentado por meio de estudos, 
da pesquisa científica e de uma conduta 
humanitária e ética na busca do fator nexo 
causal de determinado fenômeno. O desen-
volvimento de pesquisas nessa área ainda 
precisa ser ampliado, assim como a estru-
turação de centros formadores de neuro-
psicólogos forenses.
REFERÊNCIAS
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ne etymology dictionary. Recuperado de http://www.
etymonline.com/index.php. 
Bailie, J. M., King, L. C., Kinney, D., & Nitch, S. R. 
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neuropsychological risk factors and RBANS test 
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