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Seminário 1 - Direito da Regulação Econômica

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REVISTA DE DIREITO
PUBLICO DA ECONOMIA
RDPE
f,ïe
LiL* Editora Rírum
R' de Dir' Público da Economia - RDPE, Belo Horizonre, ano 3, n. g, p. l-256,jan"/mar. 20o5
..\. .
. */.,
\.v
'J
Definição do Direito da Regulaçáo
Econômica
Ma rie-An ne Frison-Roche
Professora das Universidades no Institut d'Etudes Politiques de Paris (Sciences Po). Diretora da
Cadeira de Regulação
Sumário: I O pano de fundo do direito da regulação: economia de mercado
e globalização - II A regulaçáo: aparelhagem dos setores construída sobre
um princípio de concorrência em equilíbrio com outros imperativos
I O direito da regulação econômica se realiza, em grande parte, sobre
as çinz?:lla_orgaqização eco_nômica construída em torno de mo-nopólios
.rtutuìli.rtuaor., d._:r-1ç9r_p*li.or . a
@õG 
" 
*riidò-d. .onceito de "regulação" p.r.,'u'.ã
ineefio=elll_dile_rlo, ele fornece o substrato sobre o qual se constroem novos
@deregras.lNãoSepretendeafirmarquetaltermoSeremete
de uma maneira definitiva e completa a esta ou aquela realidade institucional
(exercício que seria cansativo e sem resultado),2 uma vez que, tratando-se
de expressão polissêmica por excelência,3 diversas definições de regulação
são admissíveis.a Para os presentes fins, basta que se chegue a um consenso
sobre as palavras, dentro de uma visão pragmática da linguagem, ou seja,
basta atribuir às palavras um sentido náo só para o ter como ponto de
referência mas também para se remeter a um conJuntg de regras coerentes
(oregimejurídico),oquetornaadefiniçãoeÍìca,,,.
pretenda expressar as corsas em si mesmas, em disputas ontológicas táo
* Texto originalmente publicado no Recueil Dalloz, n. 2, Paris: Dalloz, 200a, p. 126-129. Agradecemos à
autora pela sua gentil colaboração com o tradutor e autorização para a publicação deste artigo. Tradução
de Thales Morais da Costa (Doutorando em Direito pela Universidade Paris | - Panthéon-Sorbonne).
1 FRISON-ROCHE, M.A. La Régulation, Objet d'une Branche du Droit. ln: Droit de la Régulation: Questions
d'actualité. les Petites Affiches (LPA). 3 jun. 2002, p. 3.
2 V. por ex. BROUSSEAU, E. Les Marchés Peuvent-ils s'autoréguler?. ln: Concurrence et Régulation des
Marchés. Cahiers Français, n.313, mar.-abr. 2003, p. 64-70: "... nada é mais indefinido do que os termos
de mercado e de regulação" (p. 64).
3 Régulation. ln: NICOLAS, M.; RODRIGUES, S. (Org.). Dictionnaire Économique et Juridique des Services
Publics en Europe. Paris: ISUPE, 1998, p. 220-223: "Conceito polissêmico. a regulação tende a qualificar o
novo dispositivo institucional que enquadra as indústrias de rede em curso de liberalizaçao" (p. 220). Mais
adiante: "as duas Íormas de regulaçáo econômica são o Estado e o mercado" (ibid.). No sentido de
regulação enquanto simples sinônimo da política econômica, v. PRAGER, J.C.; VILLEROY DE GALHAU. F. 7B
leçons sur la Politique Economique. A la Recherche de la Régulation. Paris: Seuil, 2003, esp. p. 16 et seq.
e p.527 et seq.
a V. Les Différentes Définitions de la Régulation. ln: La Régulation: Monisme ou Pluralisme ? les Petites
Affiches (LPA), 10 jul. 1998, p. 5. Sobre a idéia mesmo de pertinência de diversas definiçoes, v. JEAMMAUD,
A. lntroduction à la Sémantique de la Régulation Juridique. Des Concepts en Jeu. ln: les Transformations de
la Régulation luridique. Paris: LGDJ, 1998, p. 42-72, esp. p. 53. Coleção "Droit et Société. Recherches et
Travaux".
R. de Dir. Público da Economia - RDPE, Belo Horizonte, ano 3, n. 9, p. 207-217, jan./mar. 2005
208 Marie-AnneFrison-Roche
sem fim quanto se poderia tentar encontrar deÍinições incontestáveis. Nessa
matéria, as questões de vocabulário devem ser vistas pelo que são, ou seja, o
que é preciso esclarecer para evitar ao máximo possível o implícito e o duplo
sentidos e tornar o mais Íácil e ordenado possível a execução das regras,
nada mais do que isso 
- 
logo, nada de designação exata e exaustiva do
mundo 
- 
mas nada menos também.
2 É esse o objeto dos prolegômeiros que seguem. Para definir o direito
íì da reguhçãg...gconômica, é preciso esclarecer primeiramenre aquilo que
L\-/ n lhe ser-ve de pano de fundo, ou seja, notadamente, 4 economia de mercadoalr-Jf-.Ô ) \. - -- - I- rv^r!v, e \Ìvl-Ì i ' ' e, por via de conseqüência, a globalização. Um a vez realizada esra t.arefa,
\ rr será possível propor uma definição da regulaçáo econômica, o que supõe
,,f-td passar por definições que vão da mais geral,à mais espe_c_ífica. A primeira
^,;/" O 
definiçáo .s .""r""aira ."- r ito. A r.ffia-pres'enrará at' e r_egulaçáo como lilqitg r!]pgglo ao eIsrcíc(> de poderes e como re-equilíbrio
de relações de força.'A terceira che garâ ao que é proposto aqui: o direito
Oau regulaçáo identificado pelos setores sobre os quai_s ele se exerce, no sentido
de que estes setores devem tãr .onrtruídos ã *ffiõírì* ço*&fb
- 
entre o princípio de concorrêncra e outrçrs p,-rincípios. Tiata-se dffi
lance{lo, de seguros, de fìnanças, de medicamentos, de te,lsçgrìqunicações,
--+-- ./-- 
-
---daEê-rgia e de transporres, nos quais a finalidade d{ regulaç$ é rnatr+-__y----s
.@ confiada a uma autoridade setorial de reguTaçáo. -------Ë*-::ffi
I O pano de fundo do direito da regulação: economia de mercado
e globalização
3 As regulaçóes impostas pelo direito apóiam-se atualmente sobre o
princípio da economia de mercado. Conr'ém inicialmente esclarecer o
significado deste último termo, e, para tanto, o foco de atenç ao é mais o
papel que incumbe ao direito6 dentro da economia de mercado do que a
definição desse tipo de economia (o que seria uma tarefa em si mesma
perigosa). A economia de mercado nunca signifìcou a ausência de direito,
mesmo na concepçáo mais minimalista do enquadramento jurídico da
s O que diz respeito à técnica do vocabulário legislativo, o qual deve evitar esses perigos. SNOW, V. G. Le Style
Législatif: Question de Droit ou de Langue?. ln: MOLFESSIS, N. (Org.). Les Mots de ta Loi. Paris: Economica,
1999, coleção "Etudes juridiques", p. 89-93, que estuda a relação da língua utilizada e de seu estìÌo com
o direito de referência (francês ou de cornmon law).6 Antoine Lyon-Caen trata da "demonstração de que o mercado, do qual o direito e os juristas falam, ruag tem
. 
nada de natr{al. O direito é responsávelpor sua construção" (prefácio de rOnnÉ-ScHRAUB, M. rssalilZli'.-
,( Íffi*trTcffiiuridíque de la Notion de Marché. Paris: LGDJ, 2002. Coleção "Bibliothèque de Droit Privé",\\A^/ p. V). Para um trabalho bastante completo, cÍ. BOUTHINON-DUMAS, H. uappréhension du Marché par lev Droit. ln: (histoire des Représentations du Marché (no prelo) e as diversas referências citadas.
R. de Dir. Público da Economia - RDPE, Belo Horizonre, ano 3, n. 9, p. 207-217, jan./mar. 2005
Definição do Direito da Regulação Econômica 209
economia.T Primeiramente, um mercado é um sistema de trocas que se
relaciona com os princípios liberais de livre acesso para os que realizam a
oferta, de corngej5lg_pgqqível enrre eles, e de lib_.$g_4_.4gr q". p.*y-
gr_adquirir, todo esse conjunto tendo como pressuporro 1!btrd3{g
:glg1g4:11g1931lçg1d9p ti*da. A exis tê ncia n eces sária da p rop r i e da de
privada não exclui, todavLa, a propriedade pública, principalmente sob a
forma da empresa pública 
- 
essa tolerância é traduzida pela regra européia
de neutralidade do capital, prevendo os mesmos direitos e as mesmas obri-
gações para as empresas privadas e para as empresas públicas.
4 Assim, a economia de mercado não tem a espontaneidade que
às vezes lhe é atribuída, a vitalidade que caracteriza sobretudo a economia
mafìosa.e A economia de mercado nasceu do direito e continua a ser
enquadrada por seus instrumentos e por suas exigências. Atém disso, é
possível que ela precise ser organizada de maneira específica, em razáo de
particularidades de um seror 
- 
tl!
pela institucionalizaÇão de org4qismos públicos ad /z oc: as u.rtoridud.íãã-
regulação-, 
sem que por isso a economia deixe de funcionar segundo o
princípio liberal, como demonstra o caso dos Estados Unidos: economia
que náo apenas sempre foi liberal, mas que também é 3 qug nJais cedo se_
viu submetida a intervenções re,gularyen_Lad. ras e à prát1_c1d_1au_tglidl-gt
_gt:qt!f".Já" há portanto contradiçáo em que uma ..onó*iã-titrèiil
seja o objeto de regulações, a partir do momento em que náo é possível se
contentar unicamente com a lei da oferta e da procura, cujo princípio é
tido como incontestável.
ïffi.rru forma, no exato sentido d.o termo, o direito da concorrência
- 
pelo menos na medida em que ele sanciona os comportamentos anti-
concorrenciais ou proíbe os incentivos estatais 
- 
náo adota uma pers-
pectiva de regulaçáo, visto que se trata apenas de reconduzir, de forma
casuística, os comportamentos irregulares para a lei da oferta e da procrira.ro
Por outro lado, encontram-se mecanismos jurídicos no interior mesmo do
7 Assim, na tese de Hayek, o direito é a garantia dalAqLltejC(rygê_qg:foderes no exercício inCivìcualcas
liberdades. Nesse aspecto, ainda que sob a forma negativa, o direitõ;õmËua seúãnãceìiaiuc. Hr.vX v
F. Droit, Legislation et LiberÍe. PU[ 1995, 3 v., re-ediçáo coleção "Quadrige", especìalmente o pr re,rr
USP \ volume "Regras e ordem".*":---2 8 Sobre a preferência do direito do contrato em detrimento da economia de mercado, v. ZÉlRtt, F. Le Drcìi et
l'óconomie au-delà de Marx. ln: Droit et Economie. Archives de Philosophìe du Droìt. Sirey, i gg2, 1..37,
p. 121-129. --. 
-
e De um ponto de vista mais genérico, v. ROMANO, S. tordre luridique. Dalloz, 1975.
1o Contra GALLOT,.,l. Qu'est-ce que la Régulation? Contribution pour une DéÍinition. Revue Conc. Ccnsom,jan. 2001 .
R. de Dir. Público da Economia - RDPE, Belo Horizonre, ano 3, n. 9, p.207 -217 , jan./mar. p005
21 0 Marie-Anne Frison-Roche
direito da concorrência que decorrem de procedimentos de regulaçáo,
pois se trata de construir e de manter organizaçóes econômicas náo espon-
tâneas e náo perenes pela sua própria força. Assim, a teoria das instalações
essenciais, que organiza (ainda que dx post) o acesso de terceiros às redes
de infraestrutura monopolizadas é uma maneira jurisprudencial de se
chegar a um sistema de regulaçáo.rr A mesma constataçáo pode ser feita a
respeito do controle de concentrações, dependendo da funçáo que lhe é
atribuída. Se ele é concebido apenas em termos de prevençáo de futuros
cornportamentos antrconcorrenc\a\s, esse cor\tïo\e êurnatorrn'a de proteçáo
antecipada do livre funcionamento do mercado competitivo; mas tam-
bém é possível considerar tal controle como uma construçáo do mercado
realtzada no momento de uma de suas mudanças estruturais, o que o
coloca ao lado da regulaçáo.12
6 Se hoje em dia há um problema de ajuste entre a economia de
mercado e a regulação, ele decorre essencialmente da náo-coincidência entre
os territórios da normatividade jurídica (fronteira, naçáo, Estado) e os
mercados econômicos cujo funcionamento se pretende regular. Essa explosáo
dos territórios é associada ao fenômeno da globalização.tu Existe então uma
relaçáo dialética entre regulação e globahzaçâo. Seria mais exato falar de
"diÍìculdade" dialética: no mesmo instante em que as trocas e as relações
de força náo sáo mais bloqueadas pelas fronteiras, torna-se necessário
editar regras para disciplinar os comportamentos 
- 
o que é freqüente-
mente designado como a necessidade de uma "regulaçáo da globalização"
-, 
mas paradoxalmente os procedimentos de regulaçáo sáo eles mesmos
enfraquecidos, posto que as regulações públicas perderam as fronteiras
no interior das quais elas se manifestavam e que a simples remissáo à esfe-
ra interior das pessoas e das profissões (ou seja, a auto-regulaçáota e a
deontologia) revela também todas suas fraquezas.
11 Entre Concurrence et Régulation, la Théorie des Facilités Essentielles. Rev. Conc. Consom.,2001, p. 37.
12 IDOT, L. Mondialisation, Liberté et Régulation de la Concurrence: le Contrôle des Concentrations. RID Econ.,
2002. p. 175.
13 A respeito da revolução que isso representa, v. AUBY, J.B. La Globalisation, le Droit et I'Etat. Montchrestien,
2003. Coleção "Clefs". Especificamente com relação aos fenômenos de mercado e de regulação, v. KAHN,
Melanges P. Souverainete Etatìque et Marchés lnternatìonaux à la fìn du XXe Srèc/e. Lìtec. 2000, v. em
especialas contribuições relativas ao tema da "ultrapassagem da soberania pelas exigências de cooperaçáo
interestatal", como a de SOREL, M. les Etats face aux Marchés Fínanciers, p. 507-543. RUIZ-FABRl, V. H.
lmmatériel, Territorialité de l'Etat. ln: Le Droit et l'immatériel. Archives de Philosophie du Droit, t. 43, Sirey,
1 999, p. 197 -212; LOQUIN, E. Délimitation Juridique des Espaces Monétaires Nationaux et Espace Monétaire
Transnational. ln: Droit et Monnaie: Etats et Espace Monétaire Transnational. Litec, 1988, p. 425-462:
ARNAUD, A). Critique de la Raison Juridique.2. Gouvernants sans Frontières. Entre Mondialisation et
Postmondialisation. LGDJ, 2003.
1a V. por ex. BROUSSEAU, E. tes Marchés Peuvent-ils s'autoréguler?, cit. V. também CLEMENT, P. Gouvernement
d'entreprise: Liberté, Transparence, Responsabilité. De l'autorégulation à la Loi. Rapport d'ínformatíon, n.
1270, Ass. Nat.. décembre 2003.
R. de Dir. Público da Econornia - RDPE, Belo Horizonre, ano 3, n. 9, p. 207 -217, jan./mar. 2005
Definição do Direito da Regulação Econômica 211
7 Da mesma forma que o direito da concorrência só excepcional-
mente integra a regulaçáo, a globalizaçáo é, mais ampla do que a regulaçáo
dos mercados na medida em que ela visa em primeiro lugar ao comércio,
depois à concorrência e em seguida à organizaçáo setorial. Com efeito, as
formas da globalízaçáo podem ser reduzidas a duas, quase antagônicas.
Primeiramente, a globalízaçáo designa a explosão da mobilidade inter-
nacional, através da internacionalizaçáo das trocas e dos deslocamentos de
pessoas, de bens e de capitais. Thata-se de comércio. Essa internacionalização
se aproxima, pela amplitude do fenômeno, daquelas que a história
conheceu, por exemplo, no caso do Império Romano. Ela implica, como
suas predecessoras, um fenômeno de interdependência, pois o país que
aparece como dominante torna-se igualmente dependente dos países
conquistados, notadamente no que toca ao aprovisionamento de matérias-
prima e de produtos manufaturados. Era o caso de Roma antigamente, é
o caso dos Estados Unidos hoje em dia.
8 A mobilidade e a interdependência resultantes da globahzaçâo
constituem, é verdade, um desafio para a concretizaçáo do direito, mas
elas náo chegam a atingir sua natureza, pois elas aindafazemreferência à
distinçáo familiar entre o imóvel e o móvel. Com efeito, uma vez que se
trata de aceleração e de conexões, é necessário mas também é suficiente
que o direito acelere sua concretizaçáo e construa ao seu redor interde-
pendências similares pelo jogo clássico das cooperações técnicas e pela
adoção de convenções internacionais. A questáo teórica e a dificuldade
pragmática são consideráveis (a integraçáo de uma Europa judiciária
procura responder a essas exigências),15 mas o direito dessa globalizaçáo
ainda é o direito internacional, proveniente no final das contas do direito
estatal interno que disciplina as ações internacionais dos titulares de direito
soberanos e que organïza os efeitos extraterritoriais do exercício que
tais titulares fazem de seu poder interno
I A diÍiculdade é mais frontal (visto que conceitual) quando a
globalizaçáo designa a constituiçáo aterritorial de espaços virtuais, tais como
os espaços por onde circulam os produtos financeiros e as informações.
Trata-se, então, náo somente de comércio, mas também da constituiçáo
de setores globais. Neste caso, o direito deve rever sua natureza,t6 pois, até
15 V. por ex. L'espace Judiciaire Ëuropéen. les Petites Affiches,2T seÌ.2002.
16 Nesse sentidode uma certa urgência, mas particuliarmente em consideração do direito estadunidense, v.
ARNAUD, A.J. La Globalisation: Repenser le Droit?. ln: Entre Modernité et Mondialisation, Cinq leçons
d'histoire et de /a Philosophie du Droit et de I'Etat. Paris: LDGJ, 1998. Coleção "Droit et Société".
R.deDir.PúblicodaEconomia-RDPE,BeloHorizonte,ano3,n.9,p. 155-l86,jan./mar.2005
212 Marie-AnneFrison-Roche
então, sendo ele mesmo imaterial 
- 
enquanto palavra que imputa um efeito
a uma situação descrita previamente por ele (imputação abstrata no caso
da lei, imputação concreta no caso do contrato ou do julgamento)l7 
-, 
o
direito sempre se serviu de alguma coisa: solos, coisas ou indivíduos. Essa
forma de globahzaçã,o vai gerar necessariamente um direito que deve
ultrapassar esses limites, rs especíhco no sentido de que ele deverá ou
ser interiorizado aos mecanismos técnicos em si (no caso da internet, por
exemplo), ou ser assumido pelos operadores do setor (bancos ou inter-
-mediários financeiros principalmente).1e Consistindo essa glob abzaçáo náo
em uma aproximaçáo dos espaços, mas na sua neutralização através de
setores particulares, ela póe os Estados em dificuldade, pois estes entes se
desenvolvem com base em territórios.2o
10 Esta é a razâo pela quaÌ a globalizaçâo interfere no direito da
regulaçáo: náo somente porque é nos setores regulados que ela se desen-
volveu mais depressa (principalmente as comunicações e os produtos
financeiros), mas também porque os instrumentos da regulação 
- 
por
exemplo, a mistura entre coaçáo e incentivo, e as autoridades tecnocráticas
de regulaçáo 
- 
sáo por enquanto os mecanismos aos quais, na falta de
instituições mais democráticas, é confiada a tarefa de regular o mundo.2r
Assim exposto esse panorama da regulaçáo, qual seja o princípio do
liberalismo de mercado e a existência de setores econômicos globalizados,
é possível passar à questáo central: a definiçáo jurídica da regulaçâo.22
ll A regulação: aparelhagem dos setores construída sobre um
princípio de concorrência em equilíbrio com outros imperativos
11 Náo se trata de abordar de uma maneira excessivamente genérica
a intervenção da regrajurídica para orgarrlzar as relações entre pessoas 
-o direito poderia entáo ser inteiramente visto como um modelo de
regulação social, ou seja, de ordenaçáo da sociedade.23 É verdade que a
17 Sobre essa estrutura inerente à regra de direito, e a correspondência entre essa estrutura da regra e a
estrutura de seu ato de aplicação (correspondência que permite exatamente a aplicação da regra geral ao
caso concreto), v. MOTULSI(í. H. Principes d'une Réalisation Méthodique du Droit Privé. Paris: Sirey, 1948,
re-edição Dalloz, 2002.
18 SALAH, M.M. Mohamed.les Contradictionsdu DroitMondialisé. Paris: PUF,2002. Coleção "Droit, Ethique,
Société".
re Para uma análise mais aprofundada, v. Le Droit des deux Mondialisations. ln: La Mondialisation entre
lllusion et Utopie? Archives de Philosophie du Droit, n.47,2003, p. 17-23.
20 RUIZ-FABRl, H. lmmatériel, Territorialité et l'État, cit., p. 187.
2r Nesse sentido, COH EN, E. tordre Economique Mondial. Essai sur les Autorités de Régulation. Fayard, 2001 .
22 A respeito das cautelas que devem ser adotadas no exercício mesmo de definição, v. supra, n' 1.
23 Nesse sentido, CHAZEL, F.; COMMAILLE, J. (Org.). Normes luridiques et Regulation Socr'a/e. Paris: LGDJ,
1 991 . Coleção "Droit et Société". Faz-se referência especialmente ao estudo de Michel Crozier que contrapóe
R. de Dir. Público da Econornia - RDPE, Belo Horizonte, ano 3, n. 9, p. 207 -217 , jan./mar. 2005
Definição do Direito da Regulação Econômica 213
questão é importante, uma vez que se trata de introduzir o direito lá onde
as relaçóes de força, liberadas pela globalização, náo têm limites. Mas náo
se distinguiria mais a regulaçáo do direito. Isso levaria então a retrabalhar a
deÍìniçáo do próprio direito, principalmente em sua relaçáo com a econo-
mia. A tarefa é concebível. Mas ela é diferente do objeto das presentes
reflexões: visa-se aqui não a melhor estabelecer as relações entre direito
e economia, mas a identificar no interior do sistemajurídico o que corres-
ponde especifìcamente à regulaçáo. Se se estreitar entáo um pouco mais o
sentido atribuído à regulaçáo, descobrir-se -â a rdéïa de que ela distancia
a pessoa titular de um poder de seu exercício efetivo; a regulaçáo obriga o
detentor do poder a seguir regras no uso que ele faz desse poder.
Historicamente, o objeto da regulaçao é antes de mais nada político, impondo
regras aos poderes públicos2a 
- 
podendo a Constituição ser observada
sob esse ângulo.
t2 O segundo sentido remete de maneira mais genérica à regulaçáo
como instr-umento de uma política de equilíbrio de poderes. A matérra
econômica náo está muito longe dessa concepçáo, uma vez que essa idéia
foi claramente adotada pela lei francesa de l5 de maio de 2001 sobre as
novas regulações econômicas (NRE),25 a qual somente tem sentido na
medida em que se considerar essa vontade de equilíbrio. Isso justifica
principalmente o fato de que o texto ffata tanto das ofertas públicas de
compra e troca de ações, como dos contratos entre produtores e distri-
buidores, assim que das relações entre acionistas e dirigentes sociais, ao
passo que os setores regulados náo sáo abordados em si mesmos e que a
reforma da Autoridade dos mercados financeiros- foi reportada à lei
posterior de 1" de agosto de 2003 sobre a segurança financeira.26
13 Esse sentido ainda amplo da regulaçã,o corresponde a um direito
que resta político pela posiçáo que ele adota: a designaçáo de interesses
a regulação ao controle social, no sentido de que o controle social vem do exterior, enquanto que a
regulação está inserida na propria mecânica das relaçóes interindividuais e atua mais sobre as incitações que
sobre a ordem hierarquicamente estabelecida (Le Problème de la Régulation dans les Sociétés Complexes
Modernes, p. 129-135). Sobre esse distanciamento do exterior, v. também o estudo de AUBY J. B.
Prescription Juridique et Production Juridique (ibid., p. 159-170), especialmente a ligação com a
instrumentalização do direito (p. 166).
24 F.-X. Testu sublinhava o uso do termo "regulação" por Jean Bodin, que no entanto foi um teorico da
soberania: o direito público tinha por funçáo, aplicado à pessoa do Rei, de colocá-lo em distância em
relação a seu próprio poder (La Distinction du Droit Public et du Droit Privé est-elle ldéologique? Recueil
Dalloz, 1998, Chroniques, p. 345).
2s V., por exemplo, BANDRAC, M.; DOM, J.R. Loi NRE et Autres Réformes. loly Affaires, 2001.
* A'Autoridade dos mercados financeiros" é o regulador do sistema financeiro francês (N. do T.)
26 V., por exemplo, RAMEIX, G. L'Autorité de Marché Financier. ln: La loi de Securité Financière. les PeÍites
Affiches, l4 nov.2003, p. 12.
R. de Dir. Público da Economia - RDPE, Belo Horizonte, ano 3, n. 9, p.207-217, jan./rnar, 2005
214 Marie-AnneFrison-Roche
legítimos, a articulação de poderes. Mas pouco importa agora nesta definiçáo
que o objeto sobre o qual se exerce a regulação seja de natureza pública
ou náo. A regulaçáo abandona portanto o campo do direito público para
penetrar em todo lugar onde houver poderes unilaterais exercidos, espe-
cialmente dentro das empresas (idéia a que remere a lei NRE).
14 Mas uma deÍìniçáo tão ampla difìcilmente permite que se faça
referência a um corpus unificado de regïas. O uso da palavra "regulação"
continua a ser mais uma maneira de falar do direito do que uma parte
' desse mesmo direito. Por outro lado, na hipótese de se criar um vínculo
jurídico entre a regulaçáo e alguns setores particulares, em uma perspectiva
ainda mais estreita, a definição torna-se operatória,visto que ela se remete a
normas comuns que poderiam ser tratadas de forma similar (em sua
interpretaçáo, por exemplo). De uma maneira geral, uma definiçáoé
adequada se ela ê efrcaz, ou seja, se ela permite que se faça alus áo aregras
técnicas comuns. O argumento me parece decisivo: naturalmente, o direito
dispõe do real, ele o molda e o recorta em seus diferentes ramos. O corte
deve ser mais ou menos sutil conforme se queira obter coerência e unidade
de regras. Ao vincular-se a definiçáo jurídica da regulaçáo econômica aos
setores tecnicamente específicos abertos em parte à concorrência, obtém-
se esse efeito, por exemplo, através das regras de acesso às redes, ou das
relações entre operadores e regulador construídas sob as mesmas normas
qualquer que seja o setor. É possível dizer-se então que a regulação intervém
como um tipo de aparelhagem própria a um setor, integrada dentro dele 
-do qual a regulamentaçáo é apenas um dos instrumentos 
- 
que entrelaça
regras gerais, decisões particulares, sanções, soluções de conflito e que inclui
geralmente a criaçáo de um regulador independente. Através dessa apa-
relhagemjurídica, o sistema de regulação cria e mantém um equilíbrio entre
a concorrência e outro princípio além da concorrência dentro dos setores
econômicos que não os podem criar ou manter por si próprios ou apoiando-
se somente sobre o quadro geral do direito da concorrêncra.z7
15 Náo se comete mais o contra-senso de confundir a regulaçáo.
com o termo inglês "regulation", o qual remete à regulamentação. A esse
27 Encontra-se essa idéia no estudo semântico de Antoine Jeammaud (lntroduction à la sémantique de la
régulation juridique. Des concepts en jeu, cit.), no momento em que ele afirma, a respeito da regulação, que
"é esse o conceito que a teoria e a sociologia do direito podem reter de modo útil: o conceito de um irabaLho
de estabilização e de perenização, que passa pela realização de regularidades, mas também de correçóes,
parã a qual concorrem diversos procedimentos" (p. 55). Sobre a disputa em torno dessa definição, v.
especialmente FRISON-ROCHE, M.A. Le Droit de la Régulation. Recueil Dalloz 2001, Chroniques, p. 6tO, e
3OY L. Réflexions sur le Droit de la Régulation (à propos de l'article de M.-A. Frison-Roche), ibid., p. 3031.
' !- francês, o equivalente de regulação é "régulation" (N. do T.).
Definição do Direito da Regulação Econômica 215
respeito, o vocábulo anglo-saxão é ao mesmo tempo mais restrito que o
conceito francês (visto que aquele se refere unicamente à regulamentação)
e mais amplo (posto que o primeiro diz respeito a todas as formas de
intervenção das autoridades públicas adotando a forma regulamentar).z8
Para distinguir esses falsos amigos, um argumento ao absurdo basta: uma
vez que se trata de linguagem, obserya-se que os organismos qualificados
expressamente como "autoridades de regula Çâo" , por exemplo a Autoridade
de regulaçáo das telecomunicações (ART), náo dispõem do poder regu-
lamentar, o que supõe que é possível regular sem regulamentar 
- 
o sentido
dos dois termos náo pode portanto ser confundido. A regulaçáo remete
entáo náo à regulamentaçáo econômica ("regulation", em inglês), mas aos
"regulatory systems",t'que exprimem o conjunto de dispositivos e instituições
que exprimem essa nova forma de políticas públicas.
16 É possível que se trate ainda aqui de uma concepçáo relativamente
ampla se ela se distanciar do critério do setoq integrando todas as ações
públicas praticadas a ltm de obter resultados não produzidos pelo mercado.
O espectro das regulações chegaria, então, a quase se confundir com a
açáo pública relacionada com a organi zaçã,o econômica, indo desde a
educaçáo até a saúde, passando pela proteçáo do meio ambiente. Mas ao
se atrelar o direito da regulação econômica aos setores técnicos regulados,
conforme quer o legislador, a regulaçáo regrup arâ entã,o as aparelhagens
jurídicas sucessivamente concebidas para os transportes aéreos e ferro-
viários, os seguros, os bancos e as f,tnanças, os medicamentos, a energia (o
gás e a eletricidade), as telecomunicações e o audiovisual, os serviços
postais. O legislador francês adotou textos específicos para cada um dos
setores. Alguns legisladores estrangeiros também elaboraram leis
enquadrando os sistemas de regulaçáo, principalmente para estabelecer
as regras comuns a todas as autoridades de regulaçáo antes de declinar
as regras particulares setor por setor.30
28 THOERING, .1.C. lJusage Analytique du Concept de Régulation. ln: COMMAILLE, J.; JOBERI B. les
Métamorphoses de la Régulation Politique. Paris: LGDJ, 1998, p. 35-53, esp. p. 35. Coleção "Droit et
société".
2e É por exemplo sob o vocábu lo " Regulatory law" que o direito é ensinado nas universidades estadunidenses(em Harvard, por exemplo), misturando cursos de direito administrativo, de direito institucional e dos
direitos de cada um dos setores respectivos, especialmente os de indústrias de rede. Sobre a questão de
fundo, v. VISCUSI, W. Kip; VERNON, J. M.; HARRINGTON, ). E. Economics of Regulation and Antitrust.3.
ed. MIT Press, 2000. Para uma análise mais jurídica, v. por exemplo PIERCE, R..J.; GELHORN, E. Regu/ated
lndustries. West Group,1999, esp.p.339 et seq.
30 FRISON-ROCHE. M.A. Le Nouvel art Législatif Requis par les Secteurs Régulés. ln: Règ/es et Pouvoìrs dans
/es Systèmes de Régulation. Paris: Presses de Sciences Po-Dalloz, 2004. Série "Droit et Economie de la
Régulation".
R. de Dir. Público da Economia - RDPE, Belo Horizonte, ano 3, n. 9, p.207-217,.ian./rnar. 2005
216 Marie-AnneFrison-Roche
17 Nessa acepçáo, que tem o grande mérito de remeter aum regime
jurídico unificado (ou unificável) e coerente, a regulaçáo náo diz mais res-
peito nem ao titular de direito (público ou privado) nem a um objetivo
ético como o equilíbrio de poderes e a compensaçáo das relações entre
..
poderes desiguais, mas, sim, ao objeto, à coisa sobre a qual porta a regulaçáo:
o setor específico aberto à concorrência, mas náo deixado à sua mercê.
Sob o mesmo modo tautológico, esse direito se caracterrza mais freqüen-
temente pela existência de uma autoridade de regulaçáo, denominada
enquanto tal e expressamente encarregada de regular o setor.3r O voca-
bulário náo vale razã.o, ele é tomado aqui como ponto de referência.
18 Os sentidos precedentemente descritos de regulação 
- 
quais sejam:
a organizaçáo do exercício do poder público por seu titular, em seguida o
reequilíbrio das relaçóes de força, e por último a organizaçáo permanente
de setores econômicos que náo sáo orientados exclusivamente pelo princípio
de concorrência 
- 
náo se excluem uns aos outros. Eles se entrelaçam muito
bem. Assim, o regulador, novo "senhor"* do sistema, é colocado à distância
de seu próprio podeq pelos controles, pelos recursos, pela imposiçáo de
princípios do processo e pela obrigação de motivaçáo.32 Reencontra-se aqui
o sentido genérico de regulação. Ao mesmo tempo, se o regulador é
inteiramente guiado pela construçáo de equilíbrios ao mesmo tempo
intrínsecos e criados artificialmente para o setor, o sistema visa a proteger
aquele que possui menos condições de participar do jogo, por exemplo o
consumidor. Essa consideraçáo do consumidor (inclusive do insolvente)33
31 Assim, o novo artigo 1.621-l do Código monetário e financeiro francês, proveniente do artigo 1'da lei
de 1" de agosto de 2003 de segurança financeira, dispóe que a Autoridade dos mercados financeiros
(AMF) "concorre para a regulação desses mercados na escala européia e internacional". A propósito da
AMF, v. THOMASSET-PIERRE, S. Création de l'Autorité des Marchés Financiers. Recueil Dalloz,2A03,
Chroniques, p. 2951; AUCKENTHALER, F. [Autorité des Marchés Financiers: Aperçu Rapide du Projet de
Loi de Sécurité Financière. Bulletin loly Bourse, mar./abr. 2003, 522, p. 141 et seq.; e BONNEAU, T. Des
Nouveautés Bancaires et Financières lssues de la Loi n" 2003-706 du 1u'aoüt 2003 de Sécurité Financière.
JCP éd. 2003, l, 1325, esp. n. B et seq.
* Na versão original, a Autora qualifica o regulador como novo "roitelet"do sistema. O termo francês
"roitelet" simboliza, em termos pejorativos, o rei de um Estado muito pequeno (N.do T.).
32 É isso o que mais unifica as diversas autoridades de regulaçáo, não somente todas que o direito francês
disseminou setor por setor, mas também as autoridades de regulação adotadas por diíerentes países.
Sobre a primeira perspectiva, v. DELICOSTOPOULOS, C. S. fencadrement Processuel des Autorités de
Marché en Droit Français et Communautaire. Contentieux de la Concurrence et de la Bourse. Paris: LGJD,
2002. Coleção "Bibliothèque de droit privé", t. 364. Sobre a segunda perspectiva, v. PAOLI-GAGIN, V. Les
Commissions des Valeurs Mobilières aux Etats-tJnis et en Europe. Des Origines à nos Jours. Paris, Bruxelas:
Ecole Doctorale de la Faculté de Droit de l'Université Paris-V Bruylant, 1998. lsso compensa as diferenças
ainda muito fortes entre as regulações nacionais, que continuam a ser o produto de suas histórias, como
demonstra o livro de Vanina Paoli-Gagin. No mesmo sentido, v. CONAC, P.H. ta Régulation des Marchés
Boursiers par la Commrssion des Opérations de Bourse (COB) et de la Securities and Exchange Commission
(5EC). Paris: 1GDJ,2002. Coleção "Bibliothèque de droit privé", t.386.
rr O artigo l'da lei n'2000-108 de 10 de Íevereiro de 2000, que dispoe sobre a modernização e o
iesenvolvimento do serviço público de eletricidade, exige do sistema que ele assegure "o direito à energia
eleirica para todos", pois se trata de um "produto de primeira necessidade". Em seguida, o texto se
re-eÌe às disposiçoes da lei de 1'de dezembro de 1998 de luta contra a pobreza.
ii ::e D::-, hrblico da Economia - RDPE, Belo Horizonte, ano 3, n. 9, p. 207 -217, jan./rnar. 2005
Definição do Direito da Regulação Econômica 217
de um bem que agora se torna um bem público, conduz a essa outra definição
de intervenção nas relações de força e de proteção do fraco. Esses dois
primeiros sentidos, genéricos, da regulação limitam-se a interferir naquilo
que constitui o direito da regulaçã,o econômi ca: aconstrução de setores nos
quais a concorrência penetra, mas que ela não governa sozinha.
Informação bibliográfica deste texto, confiorme a NBR 6023:2002 da Associaçáo BrasiÌeira de
Normas Técnicas (ABNT) :
FRISON-ROdHE, Marie-Anne. Definição do direito da regulação econôm ica. Reaìsta de
Direito Público da Economia 
- 
RDPE, Belo Êorizonte, ano 3, n. 9, p.207-217 , jan.lmar. 2005.
R. de Dir. Público da Economia - RDPE, Belo Horizonre, ano 3, n. 9, p. 2o7-217, jan.lmar. 2005
Alupnu-Jnau Amteuo
ELnNU Boruuro JuNouslRA
(Organizadores)
DlcloruÁnlo DA GLoe ALrzAÇAo
Direito
Ciência Política
Publicado no âmbito do GEDIM 
- 
Glob alização Econômica e Direitos no
Mercosul (Programa MOST da UNESCO) com oãpoio do /nsüiüuto Direito e
Sociedade (Rio de Janeiro) e do*Résea u Europeen Droit et Société (Maison
des Sciences de I'Homme), Paris.
Eonona Luuen Jums
Rio de Janeiro
2006
Regulação
Regulação é a atividade estatal de organizaçáo e disciplina da atividade
econômica privada, desenvolvida pelo aparelho legislativo ou peÌo executivo 
-
mais fteqüentemente 
-, com a finalidade de manter o desenvolvimento da econo-
mia fundada na iniciativa privada de investimento e produção.
A atividade reguladora da economia peÌo Estad.o nasce com o Estad.o
Moderno e a consolidaçáo do modo de produção capitalista. A regnrlação da eco-
nomia desenvoÌve-se num crescente, sobretudo na identificação de atividades
econômicas de interesse coletivo.
A atuaçáo regmladora do poder publico manifesta-se basicamente de três
modos distintos: a regulaçáo pela individualizaçáo do direito com a decisáo judi-
cial; a regulaçáo pela criaçáo de normas genéricas e impessoais; a regulação pela
criação de relaçoes jurídicas específicas, manifestaçáo prudencial decorrente da
oportunidade constatada pelos governantes. Os titulares dessas ações são pre-
vistos em lei nos limites por ela rigorosamente determinados.
As teorias da reguÌação desenvoÌvem-se em duas vertentes simultâneas: a
neoclássica ou neoliberal e a institucional. A perspectiva neoclássica aponta os
agentes de mercado como os melhores reguladores. Em retações intersubjetivas
encontra-se o ponto ótimo da negociaçáo que se torna regra entre as partes. Por
sua vez, as "regras institucionais e procedimentais contêm em si valores demo-
craticamente estabeÌecidos e debatidos. Por outro lado, náo predefinem a solu-
çáo mais conveniente. [...] O Direito assim concebido leva à 
- 
e náo decorre da 
-
soluçáo mais justa" (SALOMAO FILHO, 2OO7: 34).
A atividade reguladora do Estado dedica-se tanto ao problema da concen-
tração e das práticas abusivas de mercado como a disciplina do exercício de ati-
vidade econômica de interesse coletivo 
- 
ou serviço publico 
- 
peÌo setor privado.
Neste contexto, a regulação aparece como atividade mediadora, para assegurar,
entre os direitos e as obrigações de cada um, o tipo de equilíbrio desejado peia
lei. O equilíbrio buscado está entre os interesses antagônicos interindividuais.
Sendo em grande parte conjuntural, a regulamentaçáo é desenvolvida por
entes administrativos chamados autoridades reguladoras independentes ou
agências reguladoras, que surgem para assumir com autonomia as atividades de
disciplina normativa da produçáo econômica.
A regulaçáo náo é definição de políticas, é uma mediaçáo pontual e imedia-
ta visando a uma certa estabilidade na produçáo de bens e serviços. Bruno
Théret afirma que a teoria da regulaçáo com seu "individualismo metodologico
ofensivo, sua minoração dos elementos coÌetivos da vida econômica, sua rejercãc
a história e às transformações estruturais em nome do fechamento da econornra
:r::
Reg
pura, que não precisa se ocupar com movimentos sociais ou com a complexida-
de dos processos políticos" é "uma disciplina puramente normativa, prescritiva,
amplamente inoperante para pensar o que de fato acontece".
c.D.
Corolários: Agências Reguladoras; Concorrência; Direito (Produçáo do 
-);
Estado; Law and Economicsi Neoliberalismo (Rawls 
- 
Nozick 
- 
Hayek); Serviços
Públicos; Soberania; UNIDROIT (Princípios 
-).
Bibliogrrafia: ARNAUD, André-Jean. Govern ar sem Fronteiras. Entre globaliza-
ção e pos-globdizaçã.o (Crítica da Razão Jurídica, vol. 2). Rio de Janeiro: Lumen
Juris, 2005, notadamente, cap. 3. BORK, R. The antitrust paradox. New York: The
Free Press, 1993. COASE, Ronald. The problems of social choice. Joumal of Law &
Economics 3, 1960. POSNER, R. The antiürusü law 
- 
an economic perspective.
Chicago: The University of Chicago Fress, 1978. SALOMAO FILHO, C. RegruJação da
atividade econômica. Sáo Paulo: Matheiros, 2001. TI{ERET B. & SOUZA BRAGA, J.
C. de (org.). Regdação econômica e globalizaçáo. Campinas: Unicamp, 1998.
Opinióes
[...] Como conseqüência da globalização, aposta-se hoje numa regulação baseada na
competitividade de mercado e náo no controle direto pelo Estado de certas atividades de
interesse público (AGUILLAR, Fernando Herren. Direito Econômico e Globalizaçâo. In:
SUNDFELD, Carlos AÍi & VIEIRA, Oscar Vilhena. Direito GlobaJ. Sáo Pado: Max Limonad,
1999, p.274).
[O fenômeno da integração exige] a regulação da atividade econômica e seus efeitos
supranacionais, mediante políticas comuns, indo desde direito da concorrência, às nor-
mas "anti-dumping" e subsídios, até políticas comuns em matéria econômica e monetá-
ria, social e setoriais, incluindo políticas energética e industrial, proteçáo do meio ambien-
te e do consumidor, políticas de desenvolvimento regionaÌ e pôlíticas comuns em matéria
de educaçáo, cultura, ciência e tecnologia e outras (BORBA CASELLA, Paulo. Soberania,
Integração Econômica e Supranacionalidade. In: Anuario Direito e Globalização: a
Soberania. Rio de Janeiro: Renovar, 1999, p. 73).
La globalizzazíone crea complessità e aumenta I'interdipendenza tra iI sistemagiu-
ridico e iÌ suo ambiente esterno. Sorgono così nuovi temi, comportamenti inediti, attività
economiche atipiche, aggregazioni politiche poco usuali e altri episodi che mancano di
regolazione giuridica. (...). La regoÌazione giuridica della g\obalízzazione ltende] (...) ad
essere piü 'soft', pragmática e pluralista (...). Si trata di sapere se, nonostante questa inne-
gabiÌe frammentazione delÌe forme giuridiche, esite ancora - nel sistema giwidico - qua-
cosa che ci permetta, ad esempio, di distinguere il diritto dall"economia o dalla política
(CAMPILONGO, Celso Fernandes. Diritto, democrazia e globaTízzazíone. Scienza del
Diritto 2. Lecce: Pensa Multimidia, 2000, pp. 66, 96).
[Regulamentaçáo consiste na] implementação de instrumentos gue propiciem a exis-
tência de um mercado competitivo, com a garantia da universalizaçáo na prestaçáo do servi-
ço" (CÂfrnana, Jacintho de Arruda. TeÌecomunicações e Globalização.Iru SUNDFELD, Carlos
Ari & VIEIRA, Oscar ViÌhena. Direito Globa| São Paulo: Max Limonad, 1.999, p. 184).
3;86
Res
O crescente número de fusões e ofertas púbticas de açoes que ultrapassavam as
fronteiras criou uma demanda de novos esquemas de regulamentação tanto em nível
europeu quanto nacionaÌ e ofereceu novas oportunidades para as organizações multina-
cionais de serviços jurídicos (DEZALAY, Yves & TRUBEK, David M. A Reestruturação
Global e o Direito. In; FARIA, José Eduardo. Direito e Globalizaçáo Econômica. São Paulo:
Malheiros, 1996, p. 59).
Os interesses globais precisam de um sistema unificado de regulamentação a fim de
simpÌificar suas operações, maximizar o alcance de suas economias de escaÌa e reduzir os
custos (...) Se no plano doméstico a regulamentação estatal nunca privilegiou os interes-
ses dos cidadãos mais fracos contra o forte poder das corporações, não fica muito claro o
que o capital global teria a temer por parte do Estado (MUZIO, Gabriele. A globatização
como o estágio de perfeição do paradigma moderno: uma estratégia possível para sobre-
viver à coerência do processo. In: OLIVEIRA, Ftancisco de & PAOLI, Maria Célia. O Sentido
da Democracia. Petrópolis: Vozes, 1.999, p. 154).
[...] direito procedente de negociaçóes, de mesas redondas etc., constitui[ndo] uma
tentativa para encontrar uma nova forma de regulaçáo social, outorgando ao Estado e ao
direito um papel de guia ( e não de direção) da sociedade (ROTH, André-Noël. O Direito
em Crise: Fim do Estado Moderno? In: FARIA, José Eduardo. Direito e Globatização
Econômica. São Paulo: Malheiros, 1996, p.22).
O direito estafalnão é mais, hoje, o único modo de regnrlação jurídica da sociedade. Esta
úItima, trad.icionalmente ligada à soberania do Estado monocentrista, não mais emana
somente dos órgáos representativos da nação, mas, em parte, de numerosos centros de dec!
são que se encontram acima, abaixo, e até além ou à margem do Estado. O gue era antiga-
mente o objeto de uma regulamentaçáo unicamente elaborada pelo direito estatal é, agora,
assumido por instâncias de revezarnento, quando não é simplesmente substituído ou suplan-
tado por normas gue emergem de outros lugares de autoridade. [...] O gue gueremos eviden-
ciar [...] é 1...] a existência de lugares múttiplos de produçáo da regulaçáo jurídica. [...] A pro-
dução da norma jurídica tem cada vez menos o Estado como fonte central única; ela é cada
vez mais a obra de uma multiplicidade de órgãos de regulação, entre os quais os da regrrla-
çáo jurídica tradicional náo são nem sempre, nem obrigatoriamente, predominantes(ARNAUD, André-Jeart. Govemar sem Flonteiras. Entre globalização e pos-globalização
(Crítica da Razáo Jurídica, vol. 2) Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2005, notadamente, cap. 3).
Representação
Ver Democracia.
Responsabilidade
Pode-se dizer que o termo responsabilidade assume dois significados dis-
tintos: (i) por um lado é o sentimento gue se tem em relação a determinados obje-
tos, capaz de demandar ações referentes aos mesmos, donde se pode falar em
sentimento de responsabilidade; (ii) por outro, consiste na obrigação de reparar,
ou na imposiçáo de uma puniçáo em virtude de ações praticadas por alguém.
Ao qualificar um agente, o adjetivo responsável toma como referência deter-
minada ação, realizada ou a se realizar. Disto se pode inferir que o conceito de res-
ponsabilidade pode ser encarado sob dois aspectos distintos: responsabilidade
sobre açóes já reaÌizadas e responsabilidade sobre as ações a serem realizadas.
2e?
Dicionârio
EÍrciclopedico
e Teotia e
e Sociologia
o Direito
d
d
d
Obra reaiizaCa no âmbito das atividacles
da Rede Etn'opeín Direito e Sociedade
Versão brasiieira reahzada no âmbito das
Programa lttregrado de Estutdos de Direito
atividades do
PIED'I-ERJ.
REGULAÇAO
vogaclas (rules of cbange, mudança) e como
são aplicadas (rules of adiudicntion, decisão).
F. O.
682
CORRELATOS
Analítica (Abordagem - do clireito) - Com-
pletude - Estado - Estaclo-providência - Nor-
ma - Rule of law.
REGUTAçÃO - 1. Processo pelo qual o comportamento de um sistema percebido
como complexo é rnantido ou ajustado "em conformidade com algumas regras ou
normas" (G. Canguilhem).
2. Teoria constitutiva da cibernética.
3. Ferramenta conceitual de representação - e portanto de apoio à reflexão -' de
fácil interpretação p^ra o estudo dos sistemas complexos.
- Do lraixo latin-r regttlare, "regtlat" ot"t "sttbutcter a ltula regra". HISTORIA - séculos XVIII
Ã1.: Regulierung;Ingl.: Regulation; Esp.: RegtLlaciott; Ital': Regolaz'ion'e; Fr': Régulation'
ETIMOLOGIA
e XIX.
TRADUÇÃO-
BIIILISGRAFIA - Afticle ,,Régr-rlation" de G. Cangtúlbem dans Etzc|clopaedia uniuersalis, vol' 14, p'7-3;
l. uchnerowicz, I.. pcrroux, G. Gacioffre, sémináires interdisciplinaires út Collège de France: "l'idée de
régttlariottdanslessciences",NlaloineSA'Paris,1977;N'Wiener'C'ybemeticsorControlandCotnmunication
in the animal ora Ã, ,rocbine, 7918: 2c éd.. 796f , ìvÍlT Press, Cambridge, Mass.; E. Morin, La méthode,
norarÌrlr-ìenr T.7 Og77, p.236-2g0); ct T. iI (1g80, p.19-110), Éditions clu Seuil, Paris;J. Piaget, L'équilibration
des stTtrctttTes cognfti:uìs, problème centra! clu déuetoppernent, PUF, Paris, 7975; R' Boyer, La tbéorie de la
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cfbernétiqtte, 1965, trad. françáise 1976, Editions Sirey, Paris; G. Donnadiev, Jalon pour une autre éconornie,
Préface <le F' Perrottt, Èa' ãtt cet'nt'ion' Paris' 1976; J' Fontanet' Le Social et le uiuartt: rtne nou'uelle
ú;;ã;r; jãt.itiqrri, Éà. pto.r, paris,1977; R. Passet, L'Économiqueetleuiuant,Fd Payot, Paris'-7979;F'
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'i'aris); 
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lry R. Cona nt, Interq)sterns publication, Scaside, Cát., fggf-: uoir en partisulier l'article intituié: "Every good
regtrlaror of a systeril ,r'r.,r, be a ruoclcl of thai systenì", de R. CoÁant et C' Ashby, 1970, p'205-.214; M'
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p.I5g-I67; Id., Soziale Systern: Grundriss einerallgemeinen Tlseo.fi'e. l-rankfuft,19t34; Id, "The Unity of the
Legal Systcnt", C'on.fereítce Materiais on Atúopo)íesis, Instit.. Uríiu. I'vrop, F'irenzc, 19iì4; Helnrut Willke'
Systemtheo.fie, stuttÍìert, IJTII ì-ischcr,rgBZ; Icl., "societal Guiclance throttgh Law", Ì'lorcncc, EIJI Atrtopoiesis
árlloqtrttrrir papers, 
'rultigr. 
(Doc. IUÌr 318/85 - Col. 71), 1985.
Sobre .,Regulação,, - 1 . A palavra regtiaclor social) e da teoria da regulação em economia
surge no século XVIII no âmbito das ãiências política (R. Boyer, A' Lipietz .etc') até a
cla Ëngenh aria (*s,ãg"i^a"r a bola cle watt política de "desregulação" da administração
tofnou possível a cl"ifusão da rnáquina a americana por- volta de 7983, o conceito de
vapor, eliminanclo os riscos cle expiosão"). regulação - e de aLlto-regulação - difundiu-se
A palavra regulação aparece cle início timi- amplamente na maioria clos campos clo co-
clamente, no século XIX, no âmbito cla fi- nhêcimento. Pode-se pensar que o conceito
siologia (Claucle Bernarcl não a utiliza, W. mais complexo cle eq1úlibração' inttoduzido
Cannoncria em 6Ziipalavra"homeostasia" por J. Piaget por volta de 1970, vai pouco
pafa clesignar ,,os ajLlstes automáticos no a pouco sr-rbstituir-se ao cle regulação para
interior cle urn sistema biorógico perturbaclo", expressar "oantigoisomorfistttoentrea'sidéias
e cle moclo mais 
-g;tui 
'os"eqrriiíbrios clinâ- d; equ'ilíbrio no organismo, de moderaçã'o
micos clo corpo"). Hoie, assegLÌra G. Can- na cònclula, cle eqiiidade na socieda'de e de
gr-rilhem, ,,u ,"gú"faã'-à o feïto blológi.o harmonia no cosmoS' (G' Canguilhem)'2. No sentido I, forjado PMa Prestarpor excelência"' 
contas clo comportamento clesefável cle um
No sécr,rlo )C(, o conceito cle regr-rlação sistema mecânico (moinho, relógio"'), este
vai clifunclir-se nas ciências clo homJm e cla conceito general\zou-se como modelo dos
socieclacle, sem clúvida com a propagação sistemas biológicos e' em seguida, dos sis-
clos moclelos cibernéticos (O' tang,idest temas econômicos e sociais e' doravante' de
Economie Cybernétiqr-re) e .rr..,t.,ru'Íistas Ç. toclo sistema percebiclo como complexo e
piaget o torna um clos três caracteres cle alltônomo.
quaÌquer estrutura). Da "regulação clos nas- 3. A teoria da regulação - em geraì - é
cimentos" até a,,regulaçãocõntratual" (direito constitutiva da cibernética: esta c:sc:c[na
683
contLrdo não consegue preencher a plenitude
deste conceito, falha qLle contribuiu para
fazer emergir a "ciência dos sistemas" em
gerál, ou sistêmica.
4. Regulação cinematica (ou sincrônica)
e Regulaçã.o dinâ.mica (ou diacrônica). Por
um lado, com efeito, a regulação envolve:
- o compoftamento exogeno de um sis-
tema (as transações pelas qr-rais se manifesta
a relaçã.o do sistema e de seu ambiente:
relações às vezes irregulares tais como per-
turbações ou flutuações),
- e seu comportamento endógeno (as
transformações internas tais como aquelas
observadas no desenvolvimento de LÌrrì em-
brião, por exemplo): a dinâmica interna.
5. Eco e Au.to-regulaçao. Por outro lado,
a regulação entende-se como:
- um fenômeno de tipo exoca.usali esta
função é presumidamente assegurada por
um órgão autônomo: o regu.lador, ou con-
trolador, ou governador, conjuntamente com
os acionadores, através dos quais estabele-
ce-se o comportamento do sistema. Como
o piloto, ar:tomático ou não, de um avião;
- e como um fenômeno cle tipo endo-
czusz[ a ftrnção é assegr-rrada por uma con-
junção considerada espontânea dos compor-
tamentos dos órgãos do sistema, sem inter-
venção perceptível de r,rm órgão de regr-rlação
específico e autônomo. Desta forma, o cé-
rebro é habitualmente considerado regr-ilado
sem a intervenção de um regulador, que
seria então... o cérebro do cérebro. Fala-se
então da auto-regulaçao.
6. O conceito de regr-rlação (no sentido
3) constitui uma ferramenta de representação
e portanto cle apoio à reflexão, de fácil
interpretação para o estuclo dos sistemas
complexos e particularmente dos sistemas
sociais (político, administrativo, econômico
etc.). Utilizado de modo simplista (ou seja,
ignorando sua dupla conjr-rnção constitutiva:
exo e endógena, exo e endocausal) ele
conduz geralmente a modos de intervenção
ricos em efeitos perversos (entre a anarquia,
suscitada pela "mão invisível" e o totalitaris-
mo, suscitado pelo planificador central).
7. A espantosa generalidade do conceito
de regulação (encontrado há mais de um
sécr-rlo em quase todas as disciplinas cientí-
ficas) é sem dúvida devida à sua capacidade
de prestar contas da contradiçã.o.forntal sus'
cítada pela simr-rltaneidade das experiências
sensíveis: elas expressam ao tnestno tempo
o decurso, a ntudança irreversível, o desen-
volvimento, o envelhecimento do universo
percebiclo e a permanência, a constância, a
estabilidade, a rtnidade identitária, a regr-rla-
ridade, a autonomia do ator que percebe e
se percebe. O aforismo popular "quanto mais
se muda mais tudo permenece igual" ilustra
este paradoxo familiar. A imagem não menos
familiar hoje em dia do terÍnosuto qì-re "re-
REGULACAO
gula" a temperatura do cômodo enquanto a
temperatura exterior sofre alteraçÕes, ou
aquela clos mecanismos ainda relativamente
misteriosos que asseguram a espantosa es-
tabilidade cla temperatura interna do corpo
humano entre o Ártico e o Equador (ho-
meotermia), sugerem uma interpretação in-
teligível destes tipos de fenômenos cle ob-
servação corrente ("um homem que perde
seus cabelos não deixa de ser o mesmo
homem", assegLìra com humor R. Thom!):
tratando-se quer da intervenção de um órgão
especializado na prodn.ção das coordenações
dos tztttrterosos orgaos atittos cuja conltt.nçao
cottstittti o cotnportcilneltto do sistenm coÌ|t-
plexo (o ''regulador'', ou o "piloto", ou o
"sistenra cle conduta": control s_ystem em in-
glês), quer cie Lìma "função sem órgào",
auto-assegurada pela atividade interna do
sistema, a regr,rlação é reconhecida na regu-
Iaridade do ftrncionamento do sistema con-
sicleraclo.
Este modo de representação instituído
como definição da regr,rlação implica Llma
propriedade fundamental dos sistemas ruo-
delizóueis: pan que haja um sistema iden-
tificauel (clotado de uma identidade), sob a
diversidade de seus comportamentos e am-
bientes, é preciso qlle selÌ 
.funcionamento
apresente algr-rmas formas de regu.laridade...
e, portanto, colno definição recursiva, qtte
ele disponha de processo próprio de regu-
lação. Daí r-rma espécie de tar-rtologia: qr-ral-
quer sistema modelizável dispõe de uma
regulação, e somente existe regr-riação quan-
do exercida clentro e sobre um sistema mo-
delizável.
Este critério de regularidade do 
.ft.tncio'
r;a.mento, constitutivo da noção de regr-rlação,
vai levar a Llma difícil reflexão sobre a
identificação e a formaçõo das regras ou
nonnas em relação às quais a regr,rlação(com ou sem regulador, eco oLÌ alÌto-regu-
lação) vai se exercer. S-eriam elas produzrdas
pelo próprio sistema e, eventualmente, trans-
formadas por este no decorrer de um pro-
cesso autônomo de an'tofinalizaçao? - En-
tende-se que N. Viener e os fundadores cla
cibernética tenham siclo os restauradores do
conceito de ,finalidade na modelização cien-
tífica, ai.ravés de um artigo publicaclo em
7943 e intitulado "Comportamento, intenção
e teleologia". Depois disto, a epistemologia
das ciências da vicla e das ciências sociais
esforça-se pua assumir este conceito de
finaliclacle oLÌ de projeto; lembramos qLÌe,
para J. Monod em 7970 (Le Hasard et ln
Necéssité - [O Acaso e a ]{ecessidadelt. a
recuse (para ele necessária ) Co caráter cien-
tífico do conceito de "Drr,.,_ie:: de un srstema
constit,líe rinc: ".Ìnì3 contracicão epistenro-
ióg:ca croi'-lnc: .
E .\ see;ni: característica fundamental
cia noçào c.e regulaçào repousa sobre a
REGULAÇÃo socur 684
noção de "circunferência informacional" oLr A partir clo momento qLle se pretencle mo-
feedback. A regr-rlação é às vezes designada delizar um sistema autônom o, €^purportanto
pelo termo retroação, e a relação de ".fecba- cle procluz ir e transformar as leis cte iua ação
mento de circunferência",através da qual (cls "cleterminar conscientemente como léi a
ela é representada, como vma circunferência sua ação,,: K. Marx), clevemos admitir que
cle seruidão. Mesmo que possa existir regll- outras norïnas e outras regras, além claquelas
la.ção sem fechamento de circunferência (des- visanclo à automanutenção, poclem emergirta forma, o papel regulador dos estoques ou serem reconheciclas: é em reÌação a elas
numa fabricação em cadeia submetida a per- que o sistema guiará, mais clo qr-re regula-turbações prévias oLl posteriores; mais ge- nzarár, sr-ra própri a ação.A extensão implícita
ralmente, os tampões, os jogot, ut,:"t-"1"?:, Àulro cecloacéita cla funçã o d,e regularizaçaoconstituem mecanismos clássicos de resula- , 
--
ção), a reoria (cibernétic a) da'"*",'::liï:{ f.ï:"J iffiã:';"tÏ:i{:ïj;,:: l;"p:':Kf:rrydamentou-se na modelização das circunfe- 
_:
rências informacionais através clas 
"uuiï^.À 
vai necessitar de uma variedacle de conceitos
sistema pocle aiusrar seu próxim"Ë;O*- :1" a ftrnção de regulação nã'o pode nem
tamento informanclo_se sobr" 
" 
a"iur;"; deve assumir sozinha. E. Morin demonstrou
enrfe seLr comportamento instantâneã ;-;.; a,necessidade cle uma conceitualização com-
comportamento clese jâvel. as cliferenç"r;;- plexa da organizaçao de um sistema: slla
r. ò, pÍazos cle clecisão e os pr"io, ã" capacidade não somente de manter e 'man-
reação poclem suscitar efeitos cle ,,bombea- let'-se(regulação e aLtto-regttlaçao), mas tam-
*..,to" (flutuaçÒes) que r'ão amplificanclo-se bém de ligare ligar-se (comunicação e auto-
exponencialmènte. ou uma regúlaçao desre- referência) e prodnzir e procluzlr-se (produ-
guladora ou an'rplificadora tditá de -feeclback ção criadora). Esta conjunção recursiva de-
positit'o''). A coordenação, no âmbito cle urn senvolve-se em relação a algumas norïnas e
mesmo Sistema, de r'árias circunferências in- regras suscitadas e transformadas pelo pró-
formacionais associadas a diversas regras ou prio sistema (endocausalidade).
norïnas (e desta forma afetando diversos A representação do sistema, desta forma
"pontos cle comando": velociclacle e direção, entendido em sua complexidade, não pode
por exemplo, no caso de se clirigir um mais ser reduzicla a Ltma única função de
automóvel), vai com freqüência suscitar a rc$ulação. Vincr-rlando-se à modelização do
emergência dos "nós de conflitol': uma re- sistema cerebral,J. Piaget proporâ o conceito
gulação destinada a regvlaúzar o comporta- de equilibraçã'o (das estruturas cognitivas),
mento de um sistema tem geralmente como que F. Perroux particularmente estenderá à
primeira conseqürência 
^ 
complexificaçao representação das dos sistemas econômicos,
deste. Em se tratando de uma exorregulaçao E. Morin, atçavés da formalização do para-(um órgã.o regr-rlador), esra complexidacle digma da Eco-Auto-Re-Organizaçã.o, estabe-
será de modo geral enfraquececloia ("basta leceu o quadro conceitual no âmbito do qual
que os golpistas tomem a central telefônica"); a regulação e a auto-regulação podem do-
em se tratando de enclorregu.lação (or-r cle ravante ser entendidas sem mutilação nem
uma aLlto-regr-rlação), ela será pelo contrário exagero. Desta forma, particularmente, po-
fortificante ("existe pelo menòs uma outra dem ser levadas em consideraçào as funções
circunferência através da qual a informação de tnemorização, de inteligência, de con-
pode circular na hipótese de empecilho"). cepção-resolução de problema e de .finaliza-
9. A terceira característica da noção cle ção, sem as quais a regulação reduz-se ine-
regulação é paradoxalmente talvez a sua xoravelmente às repetições intermináveis de
incompletude, um "autômato cle estados concluídos".
Corresponde a empobrecer a repre-
sentação de um sistema percebê-lo exclusi- J. L. M-
vamente em relação à sua aptidão em "man-
ter-sd' tão regulàrmentequanro possível no coRRELAToS
clecorrer do lempo' O objetirro á" vicla hu- 
- 
Crise - Decisão - Norma - Organização
mana seria apenas a sobrevicla clo n.-"-i - Regulação social - Sistema - Sistêmico.
REGUrá.ÇÃo socrat - Aplicação do conceiro (ver Regu.ração) ao esrudo das
sociedades (anirnais ou humanas) e seu funcionamento. As ciências sociais referem-se
à regulação social conforme duas acepções:
1. De acordo coln a definição de G. Canguilhem, a regulação social tende a
assegurar o equilíbrio de um processo social desencadeado ou a restabelecer este
equilíbrio quando a "estrutura nonnal é perturbada" (Encyclopaedia [Jniuersallg. Esta
definição é sem dúvida próxima àquela extraída diretamente da noção de "social
control", utilizada pelos anglo-saxões para designar o "processo de conjunto que
contribui (..) para assegurar a manutenção e a permanência da estrurura social'', e
685 REGULAÇÃo socier
que parece ser mais judicioso traduzi-Ia por "regulação social" para sublinhar a idéia
de uma "regulação, de uma influência reguladora e diretoÍa" da sociedade sobre o
co-mportamento de seus membros (8. p. Lécuyer).
2. As sociedades industriais avançadas constituem sistemas sociais complexos,
cada vez mais complexos, cujo funcionamento e a reprodução estabelecem-se
conforme uma regulação social constituída tanto de equilíbrios, mantidos ou reen-
contrados, como de tensões, rupturas e contradições provocadas pela multiplicidade
das instâncias e dos atores sociais implicados e pela pluralidade das estratégias
sociais em ação.
ETIMOLOGIA - HISTORIA - Ver a palavra Regulaçào.
fnenUÇÃO - Al.: Soziale Regulienn'tg; Esp.: Regulacion social; Ingl; Social Regulation, Social Control;
Ital.: Regolazione socialq Fr.: Régulatiott sociale.
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Law and Society, vol. 12, Nuntber 2, Summer 1985, p.11I-134.
Sobre "Regulação social" - 1. O estudo das em análises aplicadas às sociedades moder-
sociedades humanas pode fornecer ilustra- nas.
çôes de processos de regr-rlação social rela- A economia recorre a ele quando sustenta
tivamente elementares: espontâneos, como a hipótese de um "equilíbrio econômico
no Languedoc do século XIV onde "a mul- geral" onde a regulação econômica, através
tiplicação dos homens acarretou o loteamen- do eqr-rilíbrio das trocas entre os diferentes
to da terra e uma redução nos recursos, esta agentes num mercado de perfeita concor-
provocando um recuo demográfico" (E. Le rência, surge como um "ideal de racionali-
Roy Ladurie), voluntaristas, como na socie- dade" (G. Cangr,rilhem). O conceito de re-
dade dos índios Guayaki onde urn desequi- gulação social pocle ser também usado por
líbrio de sex ratio (1, mulher para 2 homens) esta disciplina quando ela estuda os modelos
leva à instauração de um sistema de matri- de intervenções estatais no mercado (R. A.
mônio poliândrico que permite a esrâ socie- Posner) ou sistemas internos de empresas
dade "preservar-se de um perigo moÍtãl pela em relaçào a seu ambiente sócio-culrural e
adaptação da família conjugal a esta demo- numa perspecriva compaÍativa (Ph. d'Iribar-
grafia completamente clesequilibrada" (p. ne).
Clastres). A própria criminologia também recorre
ao conceito quando clesenr-oìr'e uma teoria
Junto a estas ilustraçÕes extraíclas da his- integrativa de regulaçào do comportamento
tória e da etnologia,as ciências sociais fazem delinqüente segundo a qual a delinqüência
também uso do conceito de regulaçào social emergrria e se desenvolveria proporcional-
REGULAÇÃo socrer
mente à fraqueza do mecanismo de regulação
da conduta dos indivíduos (M. Le Blanc),
mecanismo de regulação qLle, segLlndo uma
"teoria -da regulação social", situar-se-ia no
vínculo entre o indivícluo, seu ambiente e
a sociedade (T. Hirschi).
As pesquisas sobre o direito (sociologia
ou economia do clireito) apóiam-se também
neste conceito de regr-rlação social, porém
nLÌma perspectiva específica para muitas
obras anglo-saxãs que o reserva ao estudo
das formas legais cle controle asseguraclas
principalmente por instituições púrblicas fre-
qtientemente representadas por agências ad-
ministrativas criadas par^ fins específicos,
por exemplo, no campo industrial or-r de
proteção ambiental (A.I. Ogr,rs e C. G. Vel-janovski). Uma definição mais ampla é for-
necicla pelas obras que fazem do direito um
processo privilegiado de regulacão. LÌm re-
gr.rlador sociaÌ. Alér-n da reglrlaçào inrerna
ao própno slstema jurídico e seLls processos
de ar-rto-re-eulacào. frz-se tambénr necessária
a apreensào dos nír'eis cìe inten'encão do
cìrreito em suas reÌecÒes de interacào corr-r
a socredade: criaeào de nornlas Ìegais no
âmbito de uma "regulaçào a montante" con-
sistindo ern Llma escolha estratégica em meio
aos estatLìtos jurídicos qLle se deseja integrar
a um sistema de direito imposto", sem deixar
de respeitar "a unidade cle Íazào" deste;
reação às defasagens da prâtica social em
relação à norma legal instituída e ajustamen-
tos normativos às moclificações sociais no
âmbito de uma "regulação posterior" (A J.
Arnaud).
2. A tomada de consciência cada vez
mais viva na esfera das ciências sociais da
existência de sistemas sociais complexos nas
sociedades incil-rstriais adiantadas conduz
àquilo qr-re poderia ser considerado como
Lrrìa ampliação clo conceito cle reguÌação
social.
Confrontada a importantes pesqr-risas des-
tas sociedades, a economia vai assim inda-
gar-se a respeito da especificidade dos sis-
temas sociais em relação aos sistemas da
alçada clas ciências da vida e da natttreza,
considerando que a regr-rlação destes sistemas
sociais não pode ser tratada por analogia
ou reduzir-se a uma "regulação sistêmica or-r
fr-rncionalista", onde quaisquer icléias de an-
tagonismos, contradições e ruptLÌras não exis-
tiriam. Ao conceito de eqr-rilíbrio opõe-se
assim o de coerência; as noções do processo
e de contradição viriam substituir-se àquelas
de estado or,r situação, "a noção de regulação
devendo prestar contas tanto destes proces-
sos contraditórios pelos e através dos quais,
de período em período, se realiza a repro-
c1.rção arnpliada clo sistema, como das rup-
:-.r:s nesta reprodução" (8. Drr-rgman). Na
:ì-.-s:rì:. ordent de idéias, porém cle moclo
r',: s :.::-rnscrito. a análise de conf'litos so-
686
ciais poderá referir-se a circnnferências de
retroação negativas (negociação), mas tam-
bénr positivas (escalada no conflito) (H. Tou-
zard).
Também para a sociologia, os sistemas
sociais possuem especificidades em relação
aos sistemas vivos o qLÌe não permite, por
exemplo, assimilar "os processos da mudança
social a processos de tipo mecânico como
aqueles encontrados na análise clos ecossis-
temas" (R. Boudon e F. Bourricar-rd). Caso
"a sociedade possa ser analisada como um
coniLlnto de mecanismos de controle simul-
taneamente incitativos e limitativos, que en-
volvem as iniciativas e os recLlrsos clos in-
divídr-ros, os constrangimentos coletivos e as
obrigações morais" (R. Boudon e F. Bourri-
caud), a regulação social não poderia ser
redr-rzicla ao conjunto de atos visando manter
r-rm eqr-rilíbrio de sistema social ou permitir
sLla preservação, perpetLÌação e renovação,
para gerir uma ordem.
De acordo com esta concepção, a "di-
nensão intencional ou (...) 'estratégíca' da
açào social" (.R. Boudon e F. Bourricaud),
tão bem ilustrada pelo direito, apenas ins-
crever-se-ia nLlm processo cle regulaçào so-
cial e comportando relações múltiplas, ins-
táveis, estratégias diversificadas que são açõ-
es razoâveis "sem ser o produto de um
projeto da razão", ações de aiustamentos, de
oposições, de contradições entre lógicas múl-
tiplas em diferentes "campos" sociais (Bour-
dieu), estas lógicas podendo inscrever-se em
ritmos e em tempos históricos variados. A
regulação social não seria aqui r-rm ajuste
porém um sistema de inter-relações, de in-
terações agindo em volta, sobre e corì a
sociedacle e seLÌs atores Ç. CommailÌe). Aqui-lo qr-re pareceria um enfraquecimento das
norlnas universais e da função do controle
social clo direito, instituindo menos a regra
do qLre facilitando múltiplas apropriações
desta oLÌ abrindo espaços de negociação
permanente - fenômeno associado logica-
mente à emergência de uma pluraiiclade de
orclens jurídicas e de instâncias de gestão
normativas - poderia conduzir de modo par-
ticular as pesquisas sobre o direito a referir
a esta definição da regr-rlação social.
No entanto, esta definição coloca certa-
mente a qllestão dos recortes institucionais
das sabedorias e dos campos do conheci-
mento na rnedida em qlÌe a apreensão de
processos complexos de regulação social
implica simultaneamente o jr-rríclico, o eco-
nômico, o político e o social. A abertura de
uma sociologia do direito voltada para LÌma
sociologia política não seria sem dúr'ida su-
ficiente e a aposta feita na proporcão da
parada intelectr,ral suscitada poderia perfei-
tamente ser mais LÌma vez aqueìe de uma
verdadeira interdisciplinaridade Contudo,
traçar-Se tão arnplas perspectii':s marca cla
687
mesma forma o risco do empreendimento.
Se o obstáculo da primeira definição da
regulação social era aquelede um conceito
mecanista do funcionamento social, o obs-
táculo da segunda definição é que, ao se
admitir a parcela de indeterminação da vida
social e de sua proliferação ,,multiplicando
o acaso, a contingência, e a afilncionalidade
das condutas humanas e da vida social" nLlm
sistema social paradoxal posto qLÌe repre-
senta uma combinação de ordem e ',desor-
dem" (Y. Barel), qualquer operacionalidade
RELAÇÃO JURÍDICA
do conceito desaparece naquilo que seria
uma quimera e não mais um objetivo do-
minado clas ciências sociais.
J.co.
CORRETATOS
Campo - Modificação - Controle social -
Desregr-rlação - Organização (Sociologia da)
- Política - Política pública - Processos penais
- Regulação - Reprodução - Sistema (Socio-
logia do direito).
põe-se de qr,ratro elementos: os sLljeitos, o
objeto, o dever e o direito.
3. Os sujeitos jurídicos são os sr-rjeitos
qlle. de acordo com a regra, dispõem da
capacidade jurídica. ou seja, são capazes de
assumir os direitos e obrigaçoes. Os sujeitos
da relação jurídica são pelo menos dois,
unidos pelo laço direito-dever. Distingue-se
a noção de parte n reìação jurídica do
conceito de sujeito da relação jurídica. Este
último define a situação bá.sica recíproca dos
sujeitos, um dos quais sendo, por exemplo,
vendedor e o outro comprador. A parte não
é ele'mento cla relação; é uma noção deduzicla
da análise do termo "relação jurídica". O
fato de possuir capacidade jurídica somente
decide com relação à capacidade de assumir
os direitos e obrigações, mas não determina
nem sua área nem tampouco o modo de
assumi-los. Eis por que é necessário intro-
duzir categorias suplementares, como a ca-
pacidade de cr-rmpriÍ os atos jurídicos ou de
exercer os direitos, de modo qLle a caracte-
rística do sujeito da relação jurídica seja
con'ipleta. Por "capacidade de cuntprir os
atos jtrrídicos" significa-se qLÌe o indir-íduo
e cspaz de assr,rnrir direitos e oDnq:ÇÒes Dor
sua acão próorir. isro é. cel: rcão 1uríiica
ou q'-ìSlquet olltfo 3Ic i:lì ccn:cr:l:d:ie com
: regr:. oL :-e e:- \:n,s c::.ens juíciicas
:::',-f :-":: : iSl; a:::Elr:f t;f:i:C:. ^:nf itan-
::->: ì ::.:: :- :i:lc:lrc- C- e.Tercer oS
:.::-:-.s , :--: s.::-.::..1 : capacidade de
-:r:.-:-.-: 
-: l--:-.::S ú Ofr:gaCÒeS. ESta de-
:::-:-a ai -.';:tlS l;,'-:e-s: a idade dO SUjeitO,
s*i sii.ri:: :lt3lf,,- aS COndenações ante-
^- -:ì :-t-
REIÁÇÃO yUnÍUCA 
- Forma de relação social que une pelo menos dois sujeiros,
onde, a Íegra jurídica vâlida sendo a meslna para os sujeitos em questão, o objetoda obrigação de um desses sujeitos consiste em um colnportamento determinado
com rela ção ao outro.
ETIMOTOGIA - Observa-se, entre os séculos XVII e XVIII, um clesvio progressivo do tenÌlo, de "referência
a" ("As leis civis distingtteru as pes.soas por cleterminaclas qualiclacles, que possueuì rÌlÌra relação particular
corÌl a nratéria do direito civil", l)omat, Leis ciuis (Lois ciuiles), L. préI., t. il, pr.), no sentido de ,,relação,,("por nrelhor qr:e seja ttura coisa da sua n tLtreza, se ela não tiver com ele àlg.,mu relação, ele não terápressa etrr procttrá-Ia", Barbeyrac, Írad. fr. de Pufendorf, O Direito da Natureza e das pessoas (Le Droü
de la Nahtre et des Gens), yl, I, parâgr. Z itz.fine - 177I) t^JA).
TRADUÇÃO - Al.: Rechtsuerbciltnis; Esp.: Relaciotz jttrídica; Fr.: Rapport juridique; lngl: Legal/Jyral
Relations; 1ta1.: Rapporto p4ìuridico.
Sobre "Relação iurídica" - 1. O fato de que
as relações sociais (por ex., políticas e eco-
nômicas) assLlmem a forma de relações ju-
rídicas na maioria das vezes faz surgir a
questão da conexão existente entre esses
dois tipos de reÌação. Segr-rndo Lrma aritlÌcle
realista, a reiação jr-rrídica é uma relação de
fato, social em particular, que consiste em
uma interação clos sujeitos. A atitude nor-
mativista vê na relação jurídica uma relação
exclusivamente normativa, que constitui o
conteúdo da regra: vemos facilmente que
não é possível criar uma relação jr_rrídica de
fato, pois a caÍacterística dos comportamen-
tos reconhecidos como relações jurídicas não
pode existir sem a qualificação normativa
dada peia regÍa. O problema da relação
observado entre a relação jurídica e a relação
social manifesta-se na distinção entre relaçõesjurídicas concretas e abstratas. A relação
concreta nasce no ntomento em que se aplica
a disposição de uma regra a un'ta sitr-ração
social real, individr-ral e concrete. cìLÌe cor-
responde às fórmuÌas contrcas na regra. A
aplicação das clisposiçÒes. isro é a :orn:rcào
da relação jr-rrídica concreta é possíi'e; DcrcÌ.Ìe
as regras em vigor apóiam-se n: clnsrrucão
da relação jurídica abstrata. E,:s c.:l:r::.::ir:l-.
assirn, de modo geraÌ, as po_ssí', ers s::--;.13_.
futuras bem como as disposrçÒes c:n-,-::-::-
tes. Então, a relação concret3 ircc jz-s: -:-.
conseqiìência da intervençào cos ::::. *.::,
jr-rrídicos.
2. A estrutura básica da reÌaÇãc j,r::-::
abstrata e a estrutura da reÌacão clac:a:r
são as mesmas: cada relação luríilc: -::---

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