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REVISTA DE DIREITO PUBLICO DA ECONOMIA RDPE f,ïe LiL* Editora Rírum R' de Dir' Público da Economia - RDPE, Belo Horizonre, ano 3, n. g, p. l-256,jan"/mar. 20o5 ..\. . . */., \.v 'J Definição do Direito da Regulaçáo Econômica Ma rie-An ne Frison-Roche Professora das Universidades no Institut d'Etudes Politiques de Paris (Sciences Po). Diretora da Cadeira de Regulação Sumário: I O pano de fundo do direito da regulação: economia de mercado e globalização - II A regulaçáo: aparelhagem dos setores construída sobre um princípio de concorrência em equilíbrio com outros imperativos I O direito da regulação econômica se realiza, em grande parte, sobre as çinz?:lla_orgaqização eco_nômica construída em torno de mo-nopólios .rtutuìli.rtuaor., d._:r-1ç9r_p*li.or . a @õG " *riidò-d. .onceito de "regulação" p.r.,'u'.ã ineefio=elll_dile_rlo, ele fornece o substrato sobre o qual se constroem novos @deregras.lNãoSepretendeafirmarquetaltermoSeremete de uma maneira definitiva e completa a esta ou aquela realidade institucional (exercício que seria cansativo e sem resultado),2 uma vez que, tratando-se de expressão polissêmica por excelência,3 diversas definições de regulação são admissíveis.a Para os presentes fins, basta que se chegue a um consenso sobre as palavras, dentro de uma visão pragmática da linguagem, ou seja, basta atribuir às palavras um sentido náo só para o ter como ponto de referência mas também para se remeter a um conJuntg de regras coerentes (oregimejurídico),oquetornaadefiniçãoeÍìca,,,. pretenda expressar as corsas em si mesmas, em disputas ontológicas táo * Texto originalmente publicado no Recueil Dalloz, n. 2, Paris: Dalloz, 200a, p. 126-129. Agradecemos à autora pela sua gentil colaboração com o tradutor e autorização para a publicação deste artigo. Tradução de Thales Morais da Costa (Doutorando em Direito pela Universidade Paris | - Panthéon-Sorbonne). 1 FRISON-ROCHE, M.A. La Régulation, Objet d'une Branche du Droit. ln: Droit de la Régulation: Questions d'actualité. les Petites Affiches (LPA). 3 jun. 2002, p. 3. 2 V. por ex. BROUSSEAU, E. Les Marchés Peuvent-ils s'autoréguler?. ln: Concurrence et Régulation des Marchés. Cahiers Français, n.313, mar.-abr. 2003, p. 64-70: "... nada é mais indefinido do que os termos de mercado e de regulação" (p. 64). 3 Régulation. ln: NICOLAS, M.; RODRIGUES, S. (Org.). Dictionnaire Économique et Juridique des Services Publics en Europe. Paris: ISUPE, 1998, p. 220-223: "Conceito polissêmico. a regulação tende a qualificar o novo dispositivo institucional que enquadra as indústrias de rede em curso de liberalizaçao" (p. 220). Mais adiante: "as duas Íormas de regulaçáo econômica são o Estado e o mercado" (ibid.). No sentido de regulação enquanto simples sinônimo da política econômica, v. PRAGER, J.C.; VILLEROY DE GALHAU. F. 7B leçons sur la Politique Economique. A la Recherche de la Régulation. Paris: Seuil, 2003, esp. p. 16 et seq. e p.527 et seq. a V. Les Différentes Définitions de la Régulation. ln: La Régulation: Monisme ou Pluralisme ? les Petites Affiches (LPA), 10 jul. 1998, p. 5. Sobre a idéia mesmo de pertinência de diversas definiçoes, v. JEAMMAUD, A. lntroduction à la Sémantique de la Régulation Juridique. Des Concepts en Jeu. ln: les Transformations de la Régulation luridique. Paris: LGDJ, 1998, p. 42-72, esp. p. 53. Coleção "Droit et Société. Recherches et Travaux". R. de Dir. Público da Economia - RDPE, Belo Horizonte, ano 3, n. 9, p. 207-217, jan./mar. 2005 208 Marie-AnneFrison-Roche sem fim quanto se poderia tentar encontrar deÍinições incontestáveis. Nessa matéria, as questões de vocabulário devem ser vistas pelo que são, ou seja, o que é preciso esclarecer para evitar ao máximo possível o implícito e o duplo sentidos e tornar o mais Íácil e ordenado possível a execução das regras, nada mais do que isso - logo, nada de designação exata e exaustiva do mundo - mas nada menos também. 2 É esse o objeto dos prolegômeiros que seguem. Para definir o direito íì da reguhçãg...gconômica, é preciso esclarecer primeiramenre aquilo que L\-/ n lhe ser-ve de pano de fundo, ou seja, notadamente, 4 economia de mercadoalr-Jf-.Ô ) \. - -- - I- rv^r!v, e \Ìvl-Ì i ' ' e, por via de conseqüência, a globalização. Um a vez realizada esra t.arefa, \ rr será possível propor uma definição da regulaçáo econômica, o que supõe ,,f-td passar por definições que vão da mais geral,à mais espe_c_ífica. A primeira ^,;/" O definiçáo .s .""r""aira ."- r ito. A r.ffia-pres'enrará at' e r_egulaçáo como lilqitg r!]pgglo ao eIsrcíc(> de poderes e como re-equilíbrio de relações de força.'A terceira che garâ ao que é proposto aqui: o direito Oau regulaçáo identificado pelos setores sobre os quai_s ele se exerce, no sentido de que estes setores devem tãr .onrtruídos ã *ffiõírì* ço*&fb - entre o princípio de concorrêncra e outrçrs p,-rincípios. Tiata-se dffi lance{lo, de seguros, de fìnanças, de medicamentos, de te,lsçgrìqunicações, --+-- ./-- - ---daEê-rgia e de transporres, nos quais a finalidade d{ regulaç$ é rnatr+-__y----s .@ confiada a uma autoridade setorial de reguTaçáo. -------Ë*-::ffi I O pano de fundo do direito da regulação: economia de mercado e globalização 3 As regulaçóes impostas pelo direito apóiam-se atualmente sobre o princípio da economia de mercado. Conr'ém inicialmente esclarecer o significado deste último termo, e, para tanto, o foco de atenç ao é mais o papel que incumbe ao direito6 dentro da economia de mercado do que a definição desse tipo de economia (o que seria uma tarefa em si mesma perigosa). A economia de mercado nunca signifìcou a ausência de direito, mesmo na concepçáo mais minimalista do enquadramento jurídico da s O que diz respeito à técnica do vocabulário legislativo, o qual deve evitar esses perigos. SNOW, V. G. Le Style Législatif: Question de Droit ou de Langue?. ln: MOLFESSIS, N. (Org.). Les Mots de ta Loi. Paris: Economica, 1999, coleção "Etudes juridiques", p. 89-93, que estuda a relação da língua utilizada e de seu estìÌo com o direito de referência (francês ou de cornmon law).6 Antoine Lyon-Caen trata da "demonstração de que o mercado, do qual o direito e os juristas falam, ruag tem . nada de natr{al. O direito é responsávelpor sua construção" (prefácio de rOnnÉ-ScHRAUB, M. rssalilZli'.- ,( Íffi*trTcffiiuridíque de la Notion de Marché. Paris: LGDJ, 2002. Coleção "Bibliothèque de Droit Privé",\\A^/ p. V). Para um trabalho bastante completo, cÍ. BOUTHINON-DUMAS, H. uappréhension du Marché par lev Droit. ln: (histoire des Représentations du Marché (no prelo) e as diversas referências citadas. R. de Dir. Público da Economia - RDPE, Belo Horizonre, ano 3, n. 9, p. 207-217, jan./mar. 2005 Definição do Direito da Regulação Econômica 209 economia.T Primeiramente, um mercado é um sistema de trocas que se relaciona com os princípios liberais de livre acesso para os que realizam a oferta, de corngej5lg_pgqqível enrre eles, e de lib_.$g_4_.4gr q". p.*y- gr_adquirir, todo esse conjunto tendo como pressuporro 1!btrd3{g :glg1g4:11g1931lçg1d9p ti*da. A exis tê ncia n eces sária da p rop r i e da de privada não exclui, todavLa, a propriedade pública, principalmente sob a forma da empresa pública - essa tolerância é traduzida pela regra européia de neutralidade do capital, prevendo os mesmos direitos e as mesmas obri- gações para as empresas privadas e para as empresas públicas. 4 Assim, a economia de mercado não tem a espontaneidade que às vezes lhe é atribuída, a vitalidade que caracteriza sobretudo a economia mafìosa.e A economia de mercado nasceu do direito e continua a ser enquadrada por seus instrumentos e por suas exigências. Atém disso, é possível que ela precise ser organizada de maneira específica, em razáo de particularidades de um seror - tl! pela institucionalizaÇão de org4qismos públicos ad /z oc: as u.rtoridud.íãã- regulação-, sem que por isso a economia deixe de funcionar segundo o princípio liberal, como demonstra o caso dos Estados Unidos: economia que náo apenas sempre foi liberal, mas que também é 3 qug nJais cedo se_ viu submetida a intervenções re,gularyen_Lad. ras e à prát1_c1d_1au_tglidl-gt _gt:qt!f".Já" há portanto contradiçáo em que uma ..onó*iã-titrèiil seja o objeto de regulações, a partir do momento em que náo é possível se contentar unicamente com a lei da oferta e da procura, cujo princípio é tido como incontestável. ïffi.rru forma, no exato sentido d.o termo, o direito da concorrência - pelo menos na medida em que ele sanciona os comportamentos anti- concorrenciais ou proíbe os incentivos estatais - náo adota uma pers- pectiva de regulaçáo, visto que se trata apenas de reconduzir, de forma casuística, os comportamentos irregulares para a lei da oferta e da procrira.ro Por outro lado, encontram-se mecanismos jurídicos no interior mesmo do 7 Assim, na tese de Hayek, o direito é a garantia dalAqLltejC(rygê_qg:foderes no exercício inCivìcualcas liberdades. Nesse aspecto, ainda que sob a forma negativa, o direitõ;õmËua seúãnãceìiaiuc. Hr.vX v F. Droit, Legislation et LiberÍe. PU[ 1995, 3 v., re-ediçáo coleção "Quadrige", especìalmente o pr re,rr USP \ volume "Regras e ordem".*":---2 8 Sobre a preferência do direito do contrato em detrimento da economia de mercado, v. ZÉlRtt, F. Le Drcìi et l'óconomie au-delà de Marx. ln: Droit et Economie. Archives de Philosophìe du Droìt. Sirey, i gg2, 1..37, p. 121-129. --. - e De um ponto de vista mais genérico, v. ROMANO, S. tordre luridique. Dalloz, 1975. 1o Contra GALLOT,.,l. Qu'est-ce que la Régulation? Contribution pour une DéÍinition. Revue Conc. Ccnsom,jan. 2001 . R. de Dir. Público da Economia - RDPE, Belo Horizonre, ano 3, n. 9, p.207 -217 , jan./mar. p005 21 0 Marie-Anne Frison-Roche direito da concorrência que decorrem de procedimentos de regulaçáo, pois se trata de construir e de manter organizaçóes econômicas náo espon- tâneas e náo perenes pela sua própria força. Assim, a teoria das instalações essenciais, que organiza (ainda que dx post) o acesso de terceiros às redes de infraestrutura monopolizadas é uma maneira jurisprudencial de se chegar a um sistema de regulaçáo.rr A mesma constataçáo pode ser feita a respeito do controle de concentrações, dependendo da funçáo que lhe é atribuída. Se ele é concebido apenas em termos de prevençáo de futuros cornportamentos antrconcorrenc\a\s, esse cor\tïo\e êurnatorrn'a de proteçáo antecipada do livre funcionamento do mercado competitivo; mas tam- bém é possível considerar tal controle como uma construçáo do mercado realtzada no momento de uma de suas mudanças estruturais, o que o coloca ao lado da regulaçáo.12 6 Se hoje em dia há um problema de ajuste entre a economia de mercado e a regulação, ele decorre essencialmente da náo-coincidência entre os territórios da normatividade jurídica (fronteira, naçáo, Estado) e os mercados econômicos cujo funcionamento se pretende regular. Essa explosáo dos territórios é associada ao fenômeno da globalização.tu Existe então uma relaçáo dialética entre regulação e globahzaçâo. Seria mais exato falar de "diÍìculdade" dialética: no mesmo instante em que as trocas e as relações de força náo sáo mais bloqueadas pelas fronteiras, torna-se necessário editar regras para disciplinar os comportamentos - o que é freqüente- mente designado como a necessidade de uma "regulaçáo da globalização" -, mas paradoxalmente os procedimentos de regulaçáo sáo eles mesmos enfraquecidos, posto que as regulações públicas perderam as fronteiras no interior das quais elas se manifestavam e que a simples remissáo à esfe- ra interior das pessoas e das profissões (ou seja, a auto-regulaçáota e a deontologia) revela também todas suas fraquezas. 11 Entre Concurrence et Régulation, la Théorie des Facilités Essentielles. Rev. Conc. Consom.,2001, p. 37. 12 IDOT, L. Mondialisation, Liberté et Régulation de la Concurrence: le Contrôle des Concentrations. RID Econ., 2002. p. 175. 13 A respeito da revolução que isso representa, v. AUBY, J.B. La Globalisation, le Droit et I'Etat. Montchrestien, 2003. Coleção "Clefs". Especificamente com relação aos fenômenos de mercado e de regulação, v. KAHN, Melanges P. Souverainete Etatìque et Marchés lnternatìonaux à la fìn du XXe Srèc/e. Lìtec. 2000, v. em especialas contribuições relativas ao tema da "ultrapassagem da soberania pelas exigências de cooperaçáo interestatal", como a de SOREL, M. les Etats face aux Marchés Fínanciers, p. 507-543. RUIZ-FABRl, V. H. lmmatériel, Territorialité de l'Etat. ln: Le Droit et l'immatériel. Archives de Philosophie du Droit, t. 43, Sirey, 1 999, p. 197 -212; LOQUIN, E. Délimitation Juridique des Espaces Monétaires Nationaux et Espace Monétaire Transnational. ln: Droit et Monnaie: Etats et Espace Monétaire Transnational. Litec, 1988, p. 425-462: ARNAUD, A). Critique de la Raison Juridique.2. Gouvernants sans Frontières. Entre Mondialisation et Postmondialisation. LGDJ, 2003. 1a V. por ex. BROUSSEAU, E. tes Marchés Peuvent-ils s'autoréguler?, cit. V. também CLEMENT, P. Gouvernement d'entreprise: Liberté, Transparence, Responsabilité. De l'autorégulation à la Loi. Rapport d'ínformatíon, n. 1270, Ass. Nat.. décembre 2003. R. de Dir. Público da Econornia - RDPE, Belo Horizonre, ano 3, n. 9, p. 207 -217, jan./mar. 2005 Definição do Direito da Regulação Econômica 211 7 Da mesma forma que o direito da concorrência só excepcional- mente integra a regulaçáo, a globalizaçáo é, mais ampla do que a regulaçáo dos mercados na medida em que ela visa em primeiro lugar ao comércio, depois à concorrência e em seguida à organizaçáo setorial. Com efeito, as formas da globalízaçáo podem ser reduzidas a duas, quase antagônicas. Primeiramente, a globalízaçáo designa a explosão da mobilidade inter- nacional, através da internacionalizaçáo das trocas e dos deslocamentos de pessoas, de bens e de capitais. Thata-se de comércio. Essa internacionalização se aproxima, pela amplitude do fenômeno, daquelas que a história conheceu, por exemplo, no caso do Império Romano. Ela implica, como suas predecessoras, um fenômeno de interdependência, pois o país que aparece como dominante torna-se igualmente dependente dos países conquistados, notadamente no que toca ao aprovisionamento de matérias- prima e de produtos manufaturados. Era o caso de Roma antigamente, é o caso dos Estados Unidos hoje em dia. 8 A mobilidade e a interdependência resultantes da globahzaçâo constituem, é verdade, um desafio para a concretizaçáo do direito, mas elas náo chegam a atingir sua natureza, pois elas aindafazemreferência à distinçáo familiar entre o imóvel e o móvel. Com efeito, uma vez que se trata de aceleração e de conexões, é necessário mas também é suficiente que o direito acelere sua concretizaçáo e construa ao seu redor interde- pendências similares pelo jogo clássico das cooperações técnicas e pela adoção de convenções internacionais. A questáo teórica e a dificuldade pragmática são consideráveis (a integraçáo de uma Europa judiciária procura responder a essas exigências),15 mas o direito dessa globalizaçáo ainda é o direito internacional, proveniente no final das contas do direito estatal interno que disciplina as ações internacionais dos titulares de direito soberanos e que organïza os efeitos extraterritoriais do exercício que tais titulares fazem de seu poder interno I A diÍiculdade é mais frontal (visto que conceitual) quando a globalizaçáo designa a constituiçáo aterritorial de espaços virtuais, tais como os espaços por onde circulam os produtos financeiros e as informações. Trata-se, então, náo somente de comércio, mas também da constituiçáo de setores globais. Neste caso, o direito deve rever sua natureza,t6 pois, até 15 V. por ex. L'espace Judiciaire Ëuropéen. les Petites Affiches,2T seÌ.2002. 16 Nesse sentidode uma certa urgência, mas particuliarmente em consideração do direito estadunidense, v. ARNAUD, A.J. La Globalisation: Repenser le Droit?. ln: Entre Modernité et Mondialisation, Cinq leçons d'histoire et de /a Philosophie du Droit et de I'Etat. Paris: LDGJ, 1998. Coleção "Droit et Société". R.deDir.PúblicodaEconomia-RDPE,BeloHorizonte,ano3,n.9,p. 155-l86,jan./mar.2005 212 Marie-AnneFrison-Roche então, sendo ele mesmo imaterial - enquanto palavra que imputa um efeito a uma situação descrita previamente por ele (imputação abstrata no caso da lei, imputação concreta no caso do contrato ou do julgamento)l7 -, o direito sempre se serviu de alguma coisa: solos, coisas ou indivíduos. Essa forma de globahzaçã,o vai gerar necessariamente um direito que deve ultrapassar esses limites, rs especíhco no sentido de que ele deverá ou ser interiorizado aos mecanismos técnicos em si (no caso da internet, por exemplo), ou ser assumido pelos operadores do setor (bancos ou inter- -mediários financeiros principalmente).1e Consistindo essa glob abzaçáo náo em uma aproximaçáo dos espaços, mas na sua neutralização através de setores particulares, ela póe os Estados em dificuldade, pois estes entes se desenvolvem com base em territórios.2o 10 Esta é a razâo pela quaÌ a globalizaçâo interfere no direito da regulaçáo: náo somente porque é nos setores regulados que ela se desen- volveu mais depressa (principalmente as comunicações e os produtos financeiros), mas também porque os instrumentos da regulação - por exemplo, a mistura entre coaçáo e incentivo, e as autoridades tecnocráticas de regulaçáo - sáo por enquanto os mecanismos aos quais, na falta de instituições mais democráticas, é confiada a tarefa de regular o mundo.2r Assim exposto esse panorama da regulaçáo, qual seja o princípio do liberalismo de mercado e a existência de setores econômicos globalizados, é possível passar à questáo central: a definiçáo jurídica da regulaçâo.22 ll A regulação: aparelhagem dos setores construída sobre um princípio de concorrência em equilíbrio com outros imperativos 11 Náo se trata de abordar de uma maneira excessivamente genérica a intervenção da regrajurídica para orgarrlzar as relações entre pessoas -o direito poderia entáo ser inteiramente visto como um modelo de regulação social, ou seja, de ordenaçáo da sociedade.23 É verdade que a 17 Sobre essa estrutura inerente à regra de direito, e a correspondência entre essa estrutura da regra e a estrutura de seu ato de aplicação (correspondência que permite exatamente a aplicação da regra geral ao caso concreto), v. MOTULSI(í. H. Principes d'une Réalisation Méthodique du Droit Privé. Paris: Sirey, 1948, re-edição Dalloz, 2002. 18 SALAH, M.M. Mohamed.les Contradictionsdu DroitMondialisé. Paris: PUF,2002. Coleção "Droit, Ethique, Société". re Para uma análise mais aprofundada, v. Le Droit des deux Mondialisations. ln: La Mondialisation entre lllusion et Utopie? Archives de Philosophie du Droit, n.47,2003, p. 17-23. 20 RUIZ-FABRl, H. lmmatériel, Territorialité et l'État, cit., p. 187. 2r Nesse sentido, COH EN, E. tordre Economique Mondial. Essai sur les Autorités de Régulation. Fayard, 2001 . 22 A respeito das cautelas que devem ser adotadas no exercício mesmo de definição, v. supra, n' 1. 23 Nesse sentido, CHAZEL, F.; COMMAILLE, J. (Org.). Normes luridiques et Regulation Socr'a/e. Paris: LGDJ, 1 991 . Coleção "Droit et Société". Faz-se referência especialmente ao estudo de Michel Crozier que contrapóe R. de Dir. Público da Econornia - RDPE, Belo Horizonte, ano 3, n. 9, p. 207 -217 , jan./mar. 2005 Definição do Direito da Regulação Econômica 213 questão é importante, uma vez que se trata de introduzir o direito lá onde as relaçóes de força, liberadas pela globalização, náo têm limites. Mas náo se distinguiria mais a regulaçáo do direito. Isso levaria então a retrabalhar a deÍìniçáo do próprio direito, principalmente em sua relaçáo com a econo- mia. A tarefa é concebível. Mas ela é diferente do objeto das presentes reflexões: visa-se aqui não a melhor estabelecer as relações entre direito e economia, mas a identificar no interior do sistemajurídico o que corres- ponde especifìcamente à regulaçáo. Se se estreitar entáo um pouco mais o sentido atribuído à regulaçáo, descobrir-se -â a rdéïa de que ela distancia a pessoa titular de um poder de seu exercício efetivo; a regulaçáo obriga o detentor do poder a seguir regras no uso que ele faz desse poder. Historicamente, o objeto da regulaçao é antes de mais nada político, impondo regras aos poderes públicos2a - podendo a Constituição ser observada sob esse ângulo. t2 O segundo sentido remete de maneira mais genérica à regulaçáo como instr-umento de uma política de equilíbrio de poderes. A matérra econômica náo está muito longe dessa concepçáo, uma vez que essa idéia foi claramente adotada pela lei francesa de l5 de maio de 2001 sobre as novas regulações econômicas (NRE),25 a qual somente tem sentido na medida em que se considerar essa vontade de equilíbrio. Isso justifica principalmente o fato de que o texto ffata tanto das ofertas públicas de compra e troca de ações, como dos contratos entre produtores e distri- buidores, assim que das relações entre acionistas e dirigentes sociais, ao passo que os setores regulados náo sáo abordados em si mesmos e que a reforma da Autoridade dos mercados financeiros- foi reportada à lei posterior de 1" de agosto de 2003 sobre a segurança financeira.26 13 Esse sentido ainda amplo da regulaçã,o corresponde a um direito que resta político pela posiçáo que ele adota: a designaçáo de interesses a regulação ao controle social, no sentido de que o controle social vem do exterior, enquanto que a regulação está inserida na propria mecânica das relaçóes interindividuais e atua mais sobre as incitações que sobre a ordem hierarquicamente estabelecida (Le Problème de la Régulation dans les Sociétés Complexes Modernes, p. 129-135). Sobre esse distanciamento do exterior, v. também o estudo de AUBY J. B. Prescription Juridique et Production Juridique (ibid., p. 159-170), especialmente a ligação com a instrumentalização do direito (p. 166). 24 F.-X. Testu sublinhava o uso do termo "regulação" por Jean Bodin, que no entanto foi um teorico da soberania: o direito público tinha por funçáo, aplicado à pessoa do Rei, de colocá-lo em distância em relação a seu próprio poder (La Distinction du Droit Public et du Droit Privé est-elle ldéologique? Recueil Dalloz, 1998, Chroniques, p. 345). 2s V., por exemplo, BANDRAC, M.; DOM, J.R. Loi NRE et Autres Réformes. loly Affaires, 2001. * A'Autoridade dos mercados financeiros" é o regulador do sistema financeiro francês (N. do T.) 26 V., por exemplo, RAMEIX, G. L'Autorité de Marché Financier. ln: La loi de Securité Financière. les PeÍites Affiches, l4 nov.2003, p. 12. R. de Dir. Público da Economia - RDPE, Belo Horizonte, ano 3, n. 9, p.207-217, jan./rnar, 2005 214 Marie-AnneFrison-Roche legítimos, a articulação de poderes. Mas pouco importa agora nesta definiçáo que o objeto sobre o qual se exerce a regulação seja de natureza pública ou náo. A regulaçáo abandona portanto o campo do direito público para penetrar em todo lugar onde houver poderes unilaterais exercidos, espe- cialmente dentro das empresas (idéia a que remere a lei NRE). 14 Mas uma deÍìniçáo tão ampla difìcilmente permite que se faça referência a um corpus unificado de regïas. O uso da palavra "regulação" continua a ser mais uma maneira de falar do direito do que uma parte ' desse mesmo direito. Por outro lado, na hipótese de se criar um vínculo jurídico entre a regulaçáo e alguns setores particulares, em uma perspectiva ainda mais estreita, a definição torna-se operatória,visto que ela se remete a normas comuns que poderiam ser tratadas de forma similar (em sua interpretaçáo, por exemplo). De uma maneira geral, uma definiçáoé adequada se ela ê efrcaz, ou seja, se ela permite que se faça alus áo aregras técnicas comuns. O argumento me parece decisivo: naturalmente, o direito dispõe do real, ele o molda e o recorta em seus diferentes ramos. O corte deve ser mais ou menos sutil conforme se queira obter coerência e unidade de regras. Ao vincular-se a definiçáo jurídica da regulaçáo econômica aos setores tecnicamente específicos abertos em parte à concorrência, obtém- se esse efeito, por exemplo, através das regras de acesso às redes, ou das relações entre operadores e regulador construídas sob as mesmas normas qualquer que seja o setor. É possível dizer-se então que a regulação intervém como um tipo de aparelhagem própria a um setor, integrada dentro dele -do qual a regulamentaçáo é apenas um dos instrumentos - que entrelaça regras gerais, decisões particulares, sanções, soluções de conflito e que inclui geralmente a criaçáo de um regulador independente. Através dessa apa- relhagemjurídica, o sistema de regulação cria e mantém um equilíbrio entre a concorrência e outro princípio além da concorrência dentro dos setores econômicos que não os podem criar ou manter por si próprios ou apoiando- se somente sobre o quadro geral do direito da concorrêncra.z7 15 Náo se comete mais o contra-senso de confundir a regulaçáo. com o termo inglês "regulation", o qual remete à regulamentação. A esse 27 Encontra-se essa idéia no estudo semântico de Antoine Jeammaud (lntroduction à la sémantique de la régulation juridique. Des concepts en jeu, cit.), no momento em que ele afirma, a respeito da regulação, que "é esse o conceito que a teoria e a sociologia do direito podem reter de modo útil: o conceito de um irabaLho de estabilização e de perenização, que passa pela realização de regularidades, mas também de correçóes, parã a qual concorrem diversos procedimentos" (p. 55). Sobre a disputa em torno dessa definição, v. especialmente FRISON-ROCHE, M.A. Le Droit de la Régulation. Recueil Dalloz 2001, Chroniques, p. 6tO, e 3OY L. Réflexions sur le Droit de la Régulation (à propos de l'article de M.-A. Frison-Roche), ibid., p. 3031. ' !- francês, o equivalente de regulação é "régulation" (N. do T.). Definição do Direito da Regulação Econômica 215 respeito, o vocábulo anglo-saxão é ao mesmo tempo mais restrito que o conceito francês (visto que aquele se refere unicamente à regulamentação) e mais amplo (posto que o primeiro diz respeito a todas as formas de intervenção das autoridades públicas adotando a forma regulamentar).z8 Para distinguir esses falsos amigos, um argumento ao absurdo basta: uma vez que se trata de linguagem, obserya-se que os organismos qualificados expressamente como "autoridades de regula Çâo" , por exemplo a Autoridade de regulaçáo das telecomunicações (ART), náo dispõem do poder regu- lamentar, o que supõe que é possível regular sem regulamentar - o sentido dos dois termos náo pode portanto ser confundido. A regulaçáo remete entáo náo à regulamentaçáo econômica ("regulation", em inglês), mas aos "regulatory systems",t'que exprimem o conjunto de dispositivos e instituições que exprimem essa nova forma de políticas públicas. 16 É possível que se trate ainda aqui de uma concepçáo relativamente ampla se ela se distanciar do critério do setoq integrando todas as ações públicas praticadas a ltm de obter resultados não produzidos pelo mercado. O espectro das regulações chegaria, então, a quase se confundir com a açáo pública relacionada com a organi zaçã,o econômica, indo desde a educaçáo até a saúde, passando pela proteçáo do meio ambiente. Mas ao se atrelar o direito da regulação econômica aos setores técnicos regulados, conforme quer o legislador, a regulaçáo regrup arâ entã,o as aparelhagens jurídicas sucessivamente concebidas para os transportes aéreos e ferro- viários, os seguros, os bancos e as f,tnanças, os medicamentos, a energia (o gás e a eletricidade), as telecomunicações e o audiovisual, os serviços postais. O legislador francês adotou textos específicos para cada um dos setores. Alguns legisladores estrangeiros também elaboraram leis enquadrando os sistemas de regulaçáo, principalmente para estabelecer as regras comuns a todas as autoridades de regulaçáo antes de declinar as regras particulares setor por setor.30 28 THOERING, .1.C. lJusage Analytique du Concept de Régulation. ln: COMMAILLE, J.; JOBERI B. les Métamorphoses de la Régulation Politique. Paris: LGDJ, 1998, p. 35-53, esp. p. 35. Coleção "Droit et société". 2e É por exemplo sob o vocábu lo " Regulatory law" que o direito é ensinado nas universidades estadunidenses(em Harvard, por exemplo), misturando cursos de direito administrativo, de direito institucional e dos direitos de cada um dos setores respectivos, especialmente os de indústrias de rede. Sobre a questão de fundo, v. VISCUSI, W. Kip; VERNON, J. M.; HARRINGTON, ). E. Economics of Regulation and Antitrust.3. ed. MIT Press, 2000. Para uma análise mais jurídica, v. por exemplo PIERCE, R..J.; GELHORN, E. Regu/ated lndustries. West Group,1999, esp.p.339 et seq. 30 FRISON-ROCHE. M.A. Le Nouvel art Législatif Requis par les Secteurs Régulés. ln: Règ/es et Pouvoìrs dans /es Systèmes de Régulation. Paris: Presses de Sciences Po-Dalloz, 2004. Série "Droit et Economie de la Régulation". R. de Dir. Público da Economia - RDPE, Belo Horizonte, ano 3, n. 9, p.207-217,.ian./rnar. 2005 216 Marie-AnneFrison-Roche 17 Nessa acepçáo, que tem o grande mérito de remeter aum regime jurídico unificado (ou unificável) e coerente, a regulaçáo náo diz mais res- peito nem ao titular de direito (público ou privado) nem a um objetivo ético como o equilíbrio de poderes e a compensaçáo das relações entre .. poderes desiguais, mas, sim, ao objeto, à coisa sobre a qual porta a regulaçáo: o setor específico aberto à concorrência, mas náo deixado à sua mercê. Sob o mesmo modo tautológico, esse direito se caracterrza mais freqüen- temente pela existência de uma autoridade de regulaçáo, denominada enquanto tal e expressamente encarregada de regular o setor.3r O voca- bulário náo vale razã.o, ele é tomado aqui como ponto de referência. 18 Os sentidos precedentemente descritos de regulação - quais sejam: a organizaçáo do exercício do poder público por seu titular, em seguida o reequilíbrio das relaçóes de força, e por último a organizaçáo permanente de setores econômicos que náo sáo orientados exclusivamente pelo princípio de concorrência - náo se excluem uns aos outros. Eles se entrelaçam muito bem. Assim, o regulador, novo "senhor"* do sistema, é colocado à distância de seu próprio podeq pelos controles, pelos recursos, pela imposiçáo de princípios do processo e pela obrigação de motivaçáo.32 Reencontra-se aqui o sentido genérico de regulação. Ao mesmo tempo, se o regulador é inteiramente guiado pela construçáo de equilíbrios ao mesmo tempo intrínsecos e criados artificialmente para o setor, o sistema visa a proteger aquele que possui menos condições de participar do jogo, por exemplo o consumidor. Essa consideraçáo do consumidor (inclusive do insolvente)33 31 Assim, o novo artigo 1.621-l do Código monetário e financeiro francês, proveniente do artigo 1'da lei de 1" de agosto de 2003 de segurança financeira, dispóe que a Autoridade dos mercados financeiros (AMF) "concorre para a regulação desses mercados na escala européia e internacional". A propósito da AMF, v. THOMASSET-PIERRE, S. Création de l'Autorité des Marchés Financiers. Recueil Dalloz,2A03, Chroniques, p. 2951; AUCKENTHALER, F. [Autorité des Marchés Financiers: Aperçu Rapide du Projet de Loi de Sécurité Financière. Bulletin loly Bourse, mar./abr. 2003, 522, p. 141 et seq.; e BONNEAU, T. Des Nouveautés Bancaires et Financières lssues de la Loi n" 2003-706 du 1u'aoüt 2003 de Sécurité Financière. JCP éd. 2003, l, 1325, esp. n. B et seq. * Na versão original, a Autora qualifica o regulador como novo "roitelet"do sistema. O termo francês "roitelet" simboliza, em termos pejorativos, o rei de um Estado muito pequeno (N.do T.). 32 É isso o que mais unifica as diversas autoridades de regulaçáo, não somente todas que o direito francês disseminou setor por setor, mas também as autoridades de regulação adotadas por diíerentes países. Sobre a primeira perspectiva, v. DELICOSTOPOULOS, C. S. fencadrement Processuel des Autorités de Marché en Droit Français et Communautaire. Contentieux de la Concurrence et de la Bourse. Paris: LGJD, 2002. Coleção "Bibliothèque de droit privé", t. 364. Sobre a segunda perspectiva, v. PAOLI-GAGIN, V. Les Commissions des Valeurs Mobilières aux Etats-tJnis et en Europe. Des Origines à nos Jours. Paris, Bruxelas: Ecole Doctorale de la Faculté de Droit de l'Université Paris-V Bruylant, 1998. lsso compensa as diferenças ainda muito fortes entre as regulações nacionais, que continuam a ser o produto de suas histórias, como demonstra o livro de Vanina Paoli-Gagin. No mesmo sentido, v. CONAC, P.H. ta Régulation des Marchés Boursiers par la Commrssion des Opérations de Bourse (COB) et de la Securities and Exchange Commission (5EC). Paris: 1GDJ,2002. Coleção "Bibliothèque de droit privé", t.386. rr O artigo l'da lei n'2000-108 de 10 de Íevereiro de 2000, que dispoe sobre a modernização e o iesenvolvimento do serviço público de eletricidade, exige do sistema que ele assegure "o direito à energia eleirica para todos", pois se trata de um "produto de primeira necessidade". Em seguida, o texto se re-eÌe às disposiçoes da lei de 1'de dezembro de 1998 de luta contra a pobreza. ii ::e D::-, hrblico da Economia - RDPE, Belo Horizonte, ano 3, n. 9, p. 207 -217, jan./rnar. 2005 Definição do Direito da Regulação Econômica 217 de um bem que agora se torna um bem público, conduz a essa outra definição de intervenção nas relações de força e de proteção do fraco. Esses dois primeiros sentidos, genéricos, da regulação limitam-se a interferir naquilo que constitui o direito da regulaçã,o econômi ca: aconstrução de setores nos quais a concorrência penetra, mas que ela não governa sozinha. Informação bibliográfica deste texto, confiorme a NBR 6023:2002 da Associaçáo BrasiÌeira de Normas Técnicas (ABNT) : FRISON-ROdHE, Marie-Anne. Definição do direito da regulação econôm ica. Reaìsta de Direito Público da Economia - RDPE, Belo Êorizonte, ano 3, n. 9, p.207-217 , jan.lmar. 2005. R. de Dir. Público da Economia - RDPE, Belo Horizonre, ano 3, n. 9, p. 2o7-217, jan.lmar. 2005 Alupnu-Jnau Amteuo ELnNU Boruuro JuNouslRA (Organizadores) DlcloruÁnlo DA GLoe ALrzAÇAo Direito Ciência Política Publicado no âmbito do GEDIM - Glob alização Econômica e Direitos no Mercosul (Programa MOST da UNESCO) com oãpoio do /nsüiüuto Direito e Sociedade (Rio de Janeiro) e do*Résea u Europeen Droit et Société (Maison des Sciences de I'Homme), Paris. Eonona Luuen Jums Rio de Janeiro 2006 Regulação Regulação é a atividade estatal de organizaçáo e disciplina da atividade econômica privada, desenvolvida pelo aparelho legislativo ou peÌo executivo - mais fteqüentemente -, com a finalidade de manter o desenvolvimento da econo- mia fundada na iniciativa privada de investimento e produção. A atividade reguladora da economia peÌo Estad.o nasce com o Estad.o Moderno e a consolidaçáo do modo de produção capitalista. A regnrlação da eco- nomia desenvoÌve-se num crescente, sobretudo na identificação de atividades econômicas de interesse coletivo. A atuaçáo regmladora do poder publico manifesta-se basicamente de três modos distintos: a regulaçáo pela individualizaçáo do direito com a decisáo judi- cial; a regulaçáo pela criaçáo de normas genéricas e impessoais; a regulação pela criação de relaçoes jurídicas específicas, manifestaçáo prudencial decorrente da oportunidade constatada pelos governantes. Os titulares dessas ações são pre- vistos em lei nos limites por ela rigorosamente determinados. As teorias da reguÌação desenvoÌvem-se em duas vertentes simultâneas: a neoclássica ou neoliberal e a institucional. A perspectiva neoclássica aponta os agentes de mercado como os melhores reguladores. Em retações intersubjetivas encontra-se o ponto ótimo da negociaçáo que se torna regra entre as partes. Por sua vez, as "regras institucionais e procedimentais contêm em si valores demo- craticamente estabeÌecidos e debatidos. Por outro lado, náo predefinem a solu- çáo mais conveniente. [...] O Direito assim concebido leva à - e náo decorre da - soluçáo mais justa" (SALOMAO FILHO, 2OO7: 34). A atividade reguladora do Estado dedica-se tanto ao problema da concen- tração e das práticas abusivas de mercado como a disciplina do exercício de ati- vidade econômica de interesse coletivo - ou serviço publico - peÌo setor privado. Neste contexto, a regulação aparece como atividade mediadora, para assegurar, entre os direitos e as obrigações de cada um, o tipo de equilíbrio desejado peia lei. O equilíbrio buscado está entre os interesses antagônicos interindividuais. Sendo em grande parte conjuntural, a regulamentaçáo é desenvolvida por entes administrativos chamados autoridades reguladoras independentes ou agências reguladoras, que surgem para assumir com autonomia as atividades de disciplina normativa da produçáo econômica. A regulaçáo náo é definição de políticas, é uma mediaçáo pontual e imedia- ta visando a uma certa estabilidade na produçáo de bens e serviços. Bruno Théret afirma que a teoria da regulaçáo com seu "individualismo metodologico ofensivo, sua minoração dos elementos coÌetivos da vida econômica, sua rejercãc a história e às transformações estruturais em nome do fechamento da econornra :r:: Reg pura, que não precisa se ocupar com movimentos sociais ou com a complexida- de dos processos políticos" é "uma disciplina puramente normativa, prescritiva, amplamente inoperante para pensar o que de fato acontece". c.D. Corolários: Agências Reguladoras; Concorrência; Direito (Produçáo do -); Estado; Law and Economicsi Neoliberalismo (Rawls - Nozick - Hayek); Serviços Públicos; Soberania; UNIDROIT (Princípios -). Bibliogrrafia: ARNAUD, André-Jean. Govern ar sem Fronteiras. Entre globaliza- ção e pos-globdizaçã.o (Crítica da Razão Jurídica, vol. 2). Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2005, notadamente, cap. 3. BORK, R. The antitrust paradox. New York: The Free Press, 1993. COASE, Ronald. The problems of social choice. Joumal of Law & Economics 3, 1960. POSNER, R. The antiürusü law - an economic perspective. Chicago: The University of Chicago Fress, 1978. SALOMAO FILHO, C. RegruJação da atividade econômica. Sáo Paulo: Matheiros, 2001. TI{ERET B. & SOUZA BRAGA, J. C. de (org.). Regdação econômica e globalizaçáo. Campinas: Unicamp, 1998. Opinióes [...] Como conseqüência da globalização, aposta-se hoje numa regulação baseada na competitividade de mercado e náo no controle direto pelo Estado de certas atividades de interesse público (AGUILLAR, Fernando Herren. Direito Econômico e Globalizaçâo. In: SUNDFELD, Carlos AÍi & VIEIRA, Oscar Vilhena. Direito GlobaJ. Sáo Pado: Max Limonad, 1999, p.274). [O fenômeno da integração exige] a regulação da atividade econômica e seus efeitos supranacionais, mediante políticas comuns, indo desde direito da concorrência, às nor- mas "anti-dumping" e subsídios, até políticas comuns em matéria econômica e monetá- ria, social e setoriais, incluindo políticas energética e industrial, proteçáo do meio ambien- te e do consumidor, políticas de desenvolvimento regionaÌ e pôlíticas comuns em matéria de educaçáo, cultura, ciência e tecnologia e outras (BORBA CASELLA, Paulo. Soberania, Integração Econômica e Supranacionalidade. In: Anuario Direito e Globalização: a Soberania. Rio de Janeiro: Renovar, 1999, p. 73). La globalizzazíone crea complessità e aumenta I'interdipendenza tra iI sistemagiu- ridico e iÌ suo ambiente esterno. Sorgono così nuovi temi, comportamenti inediti, attività economiche atipiche, aggregazioni politiche poco usuali e altri episodi che mancano di regolazione giuridica. (...). La regoÌazione giuridica della g\obalízzazione ltende] (...) ad essere piü 'soft', pragmática e pluralista (...). Si trata di sapere se, nonostante questa inne- gabiÌe frammentazione delÌe forme giuridiche, esite ancora - nel sistema giwidico - qua- cosa che ci permetta, ad esempio, di distinguere il diritto dall"economia o dalla política (CAMPILONGO, Celso Fernandes. Diritto, democrazia e globaTízzazíone. Scienza del Diritto 2. Lecce: Pensa Multimidia, 2000, pp. 66, 96). [Regulamentaçáo consiste na] implementação de instrumentos gue propiciem a exis- tência de um mercado competitivo, com a garantia da universalizaçáo na prestaçáo do servi- ço" (CÂfrnana, Jacintho de Arruda. TeÌecomunicações e Globalização.Iru SUNDFELD, Carlos Ari & VIEIRA, Oscar ViÌhena. Direito Globa| São Paulo: Max Limonad, 1.999, p. 184). 3;86 Res O crescente número de fusões e ofertas púbticas de açoes que ultrapassavam as fronteiras criou uma demanda de novos esquemas de regulamentação tanto em nível europeu quanto nacionaÌ e ofereceu novas oportunidades para as organizações multina- cionais de serviços jurídicos (DEZALAY, Yves & TRUBEK, David M. A Reestruturação Global e o Direito. In; FARIA, José Eduardo. Direito e Globalizaçáo Econômica. São Paulo: Malheiros, 1996, p. 59). Os interesses globais precisam de um sistema unificado de regulamentação a fim de simpÌificar suas operações, maximizar o alcance de suas economias de escaÌa e reduzir os custos (...) Se no plano doméstico a regulamentação estatal nunca privilegiou os interes- ses dos cidadãos mais fracos contra o forte poder das corporações, não fica muito claro o que o capital global teria a temer por parte do Estado (MUZIO, Gabriele. A globatização como o estágio de perfeição do paradigma moderno: uma estratégia possível para sobre- viver à coerência do processo. In: OLIVEIRA, Ftancisco de & PAOLI, Maria Célia. O Sentido da Democracia. Petrópolis: Vozes, 1.999, p. 154). [...] direito procedente de negociaçóes, de mesas redondas etc., constitui[ndo] uma tentativa para encontrar uma nova forma de regulaçáo social, outorgando ao Estado e ao direito um papel de guia ( e não de direção) da sociedade (ROTH, André-Noël. O Direito em Crise: Fim do Estado Moderno? In: FARIA, José Eduardo. Direito e Globatização Econômica. São Paulo: Malheiros, 1996, p.22). O direito estafalnão é mais, hoje, o único modo de regnrlação jurídica da sociedade. Esta úItima, trad.icionalmente ligada à soberania do Estado monocentrista, não mais emana somente dos órgáos representativos da nação, mas, em parte, de numerosos centros de dec! são que se encontram acima, abaixo, e até além ou à margem do Estado. O gue era antiga- mente o objeto de uma regulamentaçáo unicamente elaborada pelo direito estatal é, agora, assumido por instâncias de revezarnento, quando não é simplesmente substituído ou suplan- tado por normas gue emergem de outros lugares de autoridade. [...] O gue gueremos eviden- ciar [...] é 1...] a existência de lugares múttiplos de produçáo da regulaçáo jurídica. [...] A pro- dução da norma jurídica tem cada vez menos o Estado como fonte central única; ela é cada vez mais a obra de uma multiplicidade de órgãos de regulação, entre os quais os da regrrla- çáo jurídica tradicional náo são nem sempre, nem obrigatoriamente, predominantes(ARNAUD, André-Jeart. Govemar sem Flonteiras. Entre globalização e pos-globalização (Crítica da Razáo Jurídica, vol. 2) Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2005, notadamente, cap. 3). Representação Ver Democracia. Responsabilidade Pode-se dizer que o termo responsabilidade assume dois significados dis- tintos: (i) por um lado é o sentimento gue se tem em relação a determinados obje- tos, capaz de demandar ações referentes aos mesmos, donde se pode falar em sentimento de responsabilidade; (ii) por outro, consiste na obrigação de reparar, ou na imposiçáo de uma puniçáo em virtude de ações praticadas por alguém. Ao qualificar um agente, o adjetivo responsável toma como referência deter- minada ação, realizada ou a se realizar. Disto se pode inferir que o conceito de res- ponsabilidade pode ser encarado sob dois aspectos distintos: responsabilidade sobre açóes já reaÌizadas e responsabilidade sobre as ações a serem realizadas. 2e? Dicionârio EÍrciclopedico e Teotia e e Sociologia o Direito d d d Obra reaiizaCa no âmbito das atividacles da Rede Etn'opeín Direito e Sociedade Versão brasiieira reahzada no âmbito das Programa lttregrado de Estutdos de Direito atividades do PIED'I-ERJ. REGULAÇAO vogaclas (rules of cbange, mudança) e como são aplicadas (rules of adiudicntion, decisão). F. O. 682 CORRELATOS Analítica (Abordagem - do clireito) - Com- pletude - Estado - Estaclo-providência - Nor- ma - Rule of law. REGUTAçÃO - 1. Processo pelo qual o comportamento de um sistema percebido como complexo é rnantido ou ajustado "em conformidade com algumas regras ou normas" (G. Canguilhem). 2. Teoria constitutiva da cibernética. 3. Ferramenta conceitual de representação - e portanto de apoio à reflexão -' de fácil interpretação p^ra o estudo dos sistemas complexos. - Do lraixo latin-r regttlare, "regtlat" ot"t "sttbutcter a ltula regra". HISTORIA - séculos XVIII Ã1.: Regulierung;Ingl.: Regulation; Esp.: RegtLlaciott; Ital': Regolaz'ion'e; Fr': Régulation' ETIMOLOGIA e XIX. TRADUÇÃO- BIIILISGRAFIA - Afticle ,,Régr-rlation" de G. Cangtúlbem dans Etzc|clopaedia uniuersalis, vol' 14, p'7-3; l. uchnerowicz, I.. pcrroux, G. Gacioffre, sémináires interdisciplinaires út Collège de France: "l'idée de régttlariottdanslessciences",NlaloineSA'Paris,1977;N'Wiener'C'ybemeticsorControlandCotnmunication in the animal ora Ã, ,rocbine, 7918: 2c éd.. 796f , ìvÍlT Press, Cambridge, Mass.; E. Morin, La méthode, norarÌrlr-ìenr T.7 Og77, p.236-2g0); ct T. iI (1g80, p.19-110), Éditions clu Seuil, Paris;J. Piaget, L'équilibration des stTtrctttTes cognfti:uìs, problème centra! clu déuetoppernent, PUF, Paris, 7975; R' Boyer, La tbéorie de la régtilatiott: ,r-te anal,yse critique, Éd. ta ciécor.tverte, Paris, 1986; O. Lange, Introdttction à l'éconornie cfbernétiqtte, 1965, trad. françáise 1976, Editions Sirey, Paris; G. Donnadiev, Jalon pour une autre éconornie, Préface <le F' Perrottt, Èa' ãtt cet'nt'ion' Paris' 1976; J' Fontanet' Le Social et le uiuartt: rtne nou'uelle ú;;ã;r; jãt.itiqrri, Éà. pto.r, paris,1977; R. Passet, L'Économiqueetleuiuant,Fd Payot, Paris'-7979;F' Varela, principles o.f biotogical arúonomy, North Holland Pttb., Aursterdam, 7979 Gradttction française, tgel, í:.a. clu Seuil, 'i'aris); R. Ashby, Meíánisms of intelligence: Ross Ashby tt'lfitings on cybentetics' ediÍed lry R. Cona nt, Interq)sterns publication, Scaside, Cát., fggf-: uoir en partisulier l'article intituié: "Every good regtrlaror of a systeril ,r'r.,r, be a ruoclcl of thai systenì", de R. CoÁant et C' Ashby, 1970, p'205-.214; M' w., Alttopoiesis: A Tbeoty of tbe Liuntg organizalior.t;'Mtl3n zelerty edít., Amsterdan/New York, Nortlt Holland, 1981; M. W., AtttomataTbeory, E. il. Caianiello eclit., Ncw York, 1966; AA'\7', Applied General Systems Researcb; Re'cent Deuelopments artd Trertd, G. J. 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Boyer, A' Lipietz .etc') até a cla Ëngenh aria (*s,ãg"i^a"r a bola cle watt política de "desregulação" da administração tofnou possível a cl"ifusão da rnáquina a americana por- volta de 7983, o conceito de vapor, eliminanclo os riscos cle expiosão"). regulação - e de aLlto-regulação - difundiu-se A palavra regulação aparece cle início timi- amplamente na maioria clos campos clo co- clamente, no século XIX, no âmbito cla fi- nhêcimento. Pode-se pensar que o conceito siologia (Claucle Bernarcl não a utiliza, W. mais complexo cle eq1úlibração' inttoduzido Cannoncria em 6Ziipalavra"homeostasia" por J. Piaget por volta de 1970, vai pouco pafa clesignar ,,os ajLlstes automáticos no a pouco sr-rbstituir-se ao cle regulação para interior cle urn sistema biorógico perturbaclo", expressar "oantigoisomorfistttoentrea'sidéias e cle moclo mais -g;tui 'os"eqrriiíbrios clinâ- d; equ'ilíbrio no organismo, de moderaçã'o micos clo corpo"). Hoie, assegLÌra G. Can- na cònclula, cle eqiiidade na socieda'de e de gr-rilhem, ,,u ,"gú"faã'-à o feïto blológi.o harmonia no cosmoS' (G' Canguilhem)'2. No sentido I, forjado PMa Prestarpor excelência"' contas clo comportamento clesefável cle um No sécr,rlo )C(, o conceito cle regr-rlação sistema mecânico (moinho, relógio"'), este vai clifunclir-se nas ciências clo homJm e cla conceito general\zou-se como modelo dos socieclacle, sem clúvida com a propagação sistemas biológicos e' em seguida, dos sis- clos moclelos cibernéticos (O' tang,idest temas econômicos e sociais e' doravante' de Economie Cybernétiqr-re) e .rr..,t.,ru'Íistas Ç. toclo sistema percebiclo como complexo e piaget o torna um clos três caracteres cle alltônomo. quaÌquer estrutura). Da "regulação clos nas- 3. A teoria da regulação - em geraì - é cimentos" até a,,regulaçãocõntratual" (direito constitutiva da cibernética: esta c:sc:c[na 683 contLrdo não consegue preencher a plenitude deste conceito, falha qLle contribuiu para fazer emergir a "ciência dos sistemas" em gerál, ou sistêmica. 4. Regulação cinematica (ou sincrônica) e Regulaçã.o dinâ.mica (ou diacrônica). Por um lado, com efeito, a regulação envolve: - o compoftamento exogeno de um sis- tema (as transações pelas qr-rais se manifesta a relaçã.o do sistema e de seu ambiente: relações às vezes irregulares tais como per- turbações ou flutuações), - e seu comportamento endógeno (as transformações internas tais como aquelas observadas no desenvolvimento de LÌrrì em- brião, por exemplo): a dinâmica interna. 5. Eco e Au.to-regulaçao. Por outro lado, a regulação entende-se como: - um fenômeno de tipo exoca.usali esta função é presumidamente assegurada por um órgão autônomo: o regu.lador, ou con- trolador, ou governador, conjuntamente com os acionadores, através dos quais estabele- ce-se o comportamento do sistema. Como o piloto, ar:tomático ou não, de um avião; - e como um fenômeno cle tipo endo- czusz[ a ftrnção é assegr-rrada por uma con- junção considerada espontânea dos compor- tamentos dos órgãos do sistema, sem inter- venção perceptível de r,rm órgão de regr-rlação específico e autônomo. Desta forma, o cé- rebro é habitualmente considerado regr-ilado sem a intervenção de um regulador, que seria então... o cérebro do cérebro. Fala-se então da auto-regulaçao. 6. O conceito de regr-rlação (no sentido 3) constitui uma ferramenta de representação e portanto cle apoio à reflexão, de fácil interpretação para o estuclo dos sistemas complexos e particularmente dos sistemas sociais (político, administrativo, econômico etc.). Utilizado de modo simplista (ou seja, ignorando sua dupla conjr-rnção constitutiva: exo e endógena, exo e endocausal) ele conduz geralmente a modos de intervenção ricos em efeitos perversos (entre a anarquia, suscitada pela "mão invisível" e o totalitaris- mo, suscitado pelo planificador central). 7. A espantosa generalidade do conceito de regulação (encontrado há mais de um sécr-rlo em quase todas as disciplinas cientí- ficas) é sem dúvida devida à sua capacidade de prestar contas da contradiçã.o.forntal sus' cítada pela simr-rltaneidade das experiências sensíveis: elas expressam ao tnestno tempo o decurso, a ntudança irreversível, o desen- volvimento, o envelhecimento do universo percebiclo e a permanência, a constância, a estabilidade, a rtnidade identitária, a regr-rla- ridade, a autonomia do ator que percebe e se percebe. O aforismo popular "quanto mais se muda mais tudo permenece igual" ilustra este paradoxo familiar. A imagem não menos familiar hoje em dia do terÍnosuto qì-re "re- REGULACAO gula" a temperatura do cômodo enquanto a temperatura exterior sofre alteraçÕes, ou aquela clos mecanismos ainda relativamente misteriosos que asseguram a espantosa es- tabilidade cla temperatura interna do corpo humano entre o Ártico e o Equador (ho- meotermia), sugerem uma interpretação in- teligível destes tipos de fenômenos cle ob- servação corrente ("um homem que perde seus cabelos não deixa de ser o mesmo homem", assegLìra com humor R. Thom!): tratando-se quer da intervenção de um órgão especializado na prodn.ção das coordenações dos tztttrterosos orgaos atittos cuja conltt.nçao cottstittti o cotnportcilneltto do sistenm coÌ|t- plexo (o ''regulador'', ou o "piloto", ou o "sistenra cle conduta": control s_ystem em in- glês), quer cie Lìma "função sem órgào", auto-assegurada pela atividade interna do sistema, a regr,rlação é reconhecida na regu- Iaridade do ftrncionamento do sistema con- sicleraclo. Este modo de representação instituído como definição da regr,rlação implica Llma propriedade fundamental dos sistemas ruo- delizóueis: pan que haja um sistema iden- tificauel (clotado de uma identidade), sob a diversidade de seus comportamentos e am- bientes, é preciso qlle selÌ .funcionamento apresente algr-rmas formas de regu.laridade... e, portanto, colno definição recursiva, qtte ele disponha de processo próprio de regu- lação. Daí r-rma espécie de tar-rtologia: qr-ral- quer sistema modelizável dispõe de uma regulação, e somente existe regr-riação quan- do exercida clentro e sobre um sistema mo- delizável. Este critério de regularidade do .ft.tncio' r;a.mento, constitutivo da noção de regr-rlação, vai levar a Llma difícil reflexão sobre a identificação e a formaçõo das regras ou nonnas em relação às quais a regr,rlação(com ou sem regulador, eco oLÌ alÌto-regu- lação) vai se exercer. S-eriam elas produzrdas pelo próprio sistema e, eventualmente, trans- formadas por este no decorrer de um pro- cesso autônomo de an'tofinalizaçao? - En- tende-se que N. Viener e os fundadores cla cibernética tenham siclo os restauradores do conceito de ,finalidade na modelização cien- tífica, ai.ravés de um artigo publicaclo em 7943 e intitulado "Comportamento, intenção e teleologia". Depois disto, a epistemologia das ciências da vicla e das ciências sociais esforça-se pua assumir este conceito de finaliclacle oLÌ de projeto; lembramos qLÌe, para J. Monod em 7970 (Le Hasard et ln Necéssité - [O Acaso e a ]{ecessidadelt. a recuse (para ele necessária ) Co caráter cien- tífico do conceito de "Drr,.,_ie:: de un srstema constit,líe rinc: ".Ìnì3 contracicão epistenro- ióg:ca croi'-lnc: . E .\ see;ni: característica fundamental cia noçào c.e regulaçào repousa sobre a REGULAÇÃo socur 684 noção de "circunferência informacional" oLr A partir clo momento qLle se pretencle mo- feedback. A regr-rlação é às vezes designada delizar um sistema autônom o, €^purportanto pelo termo retroação, e a relação de ".fecba- cle procluz ir e transformar as leis cte iua ação mento de circunferência",através da qual (cls "cleterminar conscientemente como léi a ela é representada, como vma circunferência sua ação,,: K. Marx), clevemos admitir que cle seruidão. Mesmo que possa existir regll- outras norïnas e outras regras, além claquelas la.ção sem fechamento de circunferência (des- visanclo à automanutenção, poclem emergirta forma, o papel regulador dos estoques ou serem reconheciclas: é em reÌação a elas numa fabricação em cadeia submetida a per- que o sistema guiará, mais clo qr-re regula-turbações prévias oLl posteriores; mais ge- nzarár, sr-ra própri a ação.A extensão implícita ralmente, os tampões, os jogot, ut,:"t-"1"?:, Àulro cecloacéita cla funçã o d,e regularizaçaoconstituem mecanismos clássicos de resula- , -- ção), a reoria (cibernétic a) da'"*",'::liï:{ f.ï:"J iffiã:';"tÏ:i{:ïj;,:: l;"p:':Kf:rrydamentou-se na modelização das circunfe- _: rências informacionais através clas "uuiï^.À vai necessitar de uma variedacle de conceitos sistema pocle aiusrar seu próxim"Ë;O*- :1" a ftrnção de regulação nã'o pode nem tamento informanclo_se sobr" " a"iur;"; deve assumir sozinha. E. Morin demonstrou enrfe seLr comportamento instantâneã ;-;.; a,necessidade cle uma conceitualização com- comportamento clese jâvel. as cliferenç"r;;- plexa da organizaçao de um sistema: slla r. ò, pÍazos cle clecisão e os pr"io, ã" capacidade não somente de manter e 'man- reação poclem suscitar efeitos cle ,,bombea- let'-se(regulação e aLtto-regttlaçao), mas tam- *..,to" (flutuaçÒes) que r'ão amplificanclo-se bém de ligare ligar-se (comunicação e auto- exponencialmènte. ou uma regúlaçao desre- referência) e prodnzir e procluzlr-se (produ- guladora ou an'rplificadora tditá de -feeclback ção criadora). Esta conjunção recursiva de- positit'o''). A coordenação, no âmbito cle urn senvolve-se em relação a algumas norïnas e mesmo Sistema, de r'árias circunferências in- regras suscitadas e transformadas pelo pró- formacionais associadas a diversas regras ou prio sistema (endocausalidade). norïnas (e desta forma afetando diversos A representação do sistema, desta forma "pontos cle comando": velociclacle e direção, entendido em sua complexidade, não pode por exemplo, no caso de se clirigir um mais ser reduzicla a Ltma única função de automóvel), vai com freqüência suscitar a rc$ulação. Vincr-rlando-se à modelização do emergência dos "nós de conflitol': uma re- sistema cerebral,J. Piaget proporâ o conceito gulação destinada a regvlaúzar o comporta- de equilibraçã'o (das estruturas cognitivas), mento de um sistema tem geralmente como que F. Perroux particularmente estenderá à primeira conseqürência ^ complexificaçao representação das dos sistemas econômicos, deste. Em se tratando de uma exorregulaçao E. Morin, atçavés da formalização do para-(um órgã.o regr-rlador), esra complexidacle digma da Eco-Auto-Re-Organizaçã.o, estabe- será de modo geral enfraquececloia ("basta leceu o quadro conceitual no âmbito do qual que os golpistas tomem a central telefônica"); a regulação e a auto-regulação podem do- em se tratando de enclorregu.lação (or-r cle ravante ser entendidas sem mutilação nem uma aLlto-regr-rlação), ela será pelo contrário exagero. Desta forma, particularmente, po- fortificante ("existe pelo menòs uma outra dem ser levadas em consideraçào as funções circunferência através da qual a informação de tnemorização, de inteligência, de con- pode circular na hipótese de empecilho"). cepção-resolução de problema e de .finaliza- 9. A terceira característica da noção cle ção, sem as quais a regulação reduz-se ine- regulação é paradoxalmente talvez a sua xoravelmente às repetições intermináveis de incompletude, um "autômato cle estados concluídos". Corresponde a empobrecer a repre- sentação de um sistema percebê-lo exclusi- J. L. M- vamente em relação à sua aptidão em "man- ter-sd' tão regulàrmentequanro possível no coRRELAToS clecorrer do lempo' O objetirro á" vicla hu- - Crise - Decisão - Norma - Organização mana seria apenas a sobrevicla clo n.-"-i - Regulação social - Sistema - Sistêmico. REGUrá.ÇÃo socrat - Aplicação do conceiro (ver Regu.ração) ao esrudo das sociedades (anirnais ou humanas) e seu funcionamento. As ciências sociais referem-se à regulação social conforme duas acepções: 1. De acordo coln a definição de G. Canguilhem, a regulação social tende a assegurar o equilíbrio de um processo social desencadeado ou a restabelecer este equilíbrio quando a "estrutura nonnal é perturbada" (Encyclopaedia [Jniuersallg. Esta definição é sem dúvida próxima àquela extraída diretamente da noção de "social control", utilizada pelos anglo-saxões para designar o "processo de conjunto que contribui (..) para assegurar a manutenção e a permanência da estrurura social'', e 685 REGULAÇÃo socier que parece ser mais judicioso traduzi-Ia por "regulação social" para sublinhar a idéia de uma "regulação, de uma influência reguladora e diretoÍa" da sociedade sobre o co-mportamento de seus membros (8. p. Lécuyer). 2. As sociedades industriais avançadas constituem sistemas sociais complexos, cada vez mais complexos, cujo funcionamento e a reprodução estabelecem-se conforme uma regulação social constituída tanto de equilíbrios, mantidos ou reen- contrados, como de tensões, rupturas e contradições provocadas pela multiplicidade das instâncias e dos atores sociais implicados e pela pluralidade das estratégias sociais em ação. ETIMOLOGIA - HISTORIA - Ver a palavra Regulaçào. fnenUÇÃO - Al.: Soziale Regulienn'tg; Esp.: Regulacion social; Ingl; Social Regulation, Social Control; Ital.: Regolazione socialq Fr.: Régulatiott sociale. BIBLIOGRAFIA - AA. W., "L'approche en tenlìes de régtrlation", Éconornies et Societés, Cabiers de I'ISMEA, Série R, na 1, PUG, L984; A. J. Arnatrd, "Droit, régulation, changement social. Remarques critiques pour une théorie en sociologie juridique", Lau), Regulation, Social Change: some critical linearnents about tbe sociological theory o.f law, Mexico, Xth Congress of Sociology, ISA, 1982; R. Baldwin, Regulating the Airlines. Administratiuetustice andAgencyDiscretinn, Oxford, Clarendon Press, 1985; Y. Barel, Leparadoxe et le systàne. Essai sur le.fantastique social, Grenoble, ItLJG, 7979; J. G. Belley, "L'Etat et la régulationy'rridiqtre des sociétés globales. Ponr une problématique du pluralisme juridiqtre", Sociologie et sociétés, vol. XWII, na 1, avril 1986, p.I1.-32; R. 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Le rência, surge como um "ideal de racionali- Roy Ladurie), voluntaristas, como na socie- dade" (G. Cangr,rilhem). O conceito de re- dade dos índios Guayaki onde urn desequi- gulação social pocle ser também usado por líbrio de sex ratio (1, mulher para 2 homens) esta disciplina quando ela estuda os modelos leva à instauração de um sistema de matri- de intervenções estatais no mercado (R. A. mônio poliândrico que permite a esrâ socie- Posner) ou sistemas internos de empresas dade "preservar-se de um perigo moÍtãl pela em relaçào a seu ambiente sócio-culrural e adaptação da família conjugal a esta demo- numa perspecriva compaÍativa (Ph. d'Iribar- grafia completamente clesequilibrada" (p. ne). Clastres). A própria criminologia também recorre ao conceito quando clesenr-oìr'e uma teoria Junto a estas ilustraçÕes extraíclas da his- integrativa de regulaçào do comportamento tória e da etnologia,as ciências sociais fazem delinqüente segundo a qual a delinqüência também uso do conceito de regulaçào social emergrria e se desenvolveria proporcional- REGULAÇÃo socrer mente à fraqueza do mecanismo de regulação da conduta dos indivíduos (M. Le Blanc), mecanismo de regulação qLle, segLlndo uma "teoria -da regulação social", situar-se-ia no vínculo entre o indivícluo, seu ambiente e a sociedade (T. Hirschi). As pesquisas sobre o direito (sociologia ou economia do clireito) apóiam-se também neste conceito de regr-rlação social, porém nLÌma perspectiva específica para muitas obras anglo-saxãs que o reserva ao estudo das formas legais cle controle asseguraclas principalmente por instituições púrblicas fre- qtientemente representadas por agências ad- ministrativas criadas par^ fins específicos, por exemplo, no campo industrial or-r de proteção ambiental (A.I. Ogr,rs e C. G. Vel-janovski). Uma definição mais ampla é for- necicla pelas obras que fazem do direito um processo privilegiado de regulacão. LÌm re- gr.rlador sociaÌ. Alér-n da reglrlaçào inrerna ao própno slstema jurídico e seLls processos de ar-rto-re-eulacào. frz-se tambénr necessária a apreensào dos nír'eis cìe inten'encão do cìrreito em suas reÌecÒes de interacào corr-r a socredade: criaeào de nornlas Ìegais no âmbito de uma "regulaçào a montante" con- sistindo ern Llma escolha estratégica em meio aos estatLìtos jurídicos qLle se deseja integrar a um sistema de direito imposto", sem deixar de respeitar "a unidade cle Íazào" deste; reação às defasagens da prâtica social em relação à norma legal instituída e ajustamen- tos normativos às moclificações sociais no âmbito de uma "regulação posterior" (A J. Arnaud). 2. A tomada de consciência cada vez mais viva na esfera das ciências sociais da existência de sistemas sociais complexos nas sociedades incil-rstriais adiantadas conduz àquilo qr-re poderia ser considerado como Lrrìa ampliação clo conceito cle reguÌação social. Confrontada a importantes pesqr-risas des- tas sociedades, a economia vai assim inda- gar-se a respeito da especificidade dos sis- temas sociais em relação aos sistemas da alçada clas ciências da vida e da natttreza, considerando que a regr-rlação destes sistemas sociais não pode ser tratada por analogia ou reduzir-se a uma "regulação sistêmica or-r fr-rncionalista", onde quaisquer icléias de an- tagonismos, contradições e ruptLÌras não exis- tiriam. Ao conceito de eqr-rilíbrio opõe-se assim o de coerência; as noções do processo e de contradição viriam substituir-se àquelas de estado or,r situação, "a noção de regulação devendo prestar contas tanto destes proces- sos contraditórios pelos e através dos quais, de período em período, se realiza a repro- c1.rção arnpliada clo sistema, como das rup- :-.r:s nesta reprodução" (8. Drr-rgman). Na :ì-.-s:rì:. ordent de idéias, porém cle moclo r',: s :.::-rnscrito. a análise de conf'litos so- 686 ciais poderá referir-se a circnnferências de retroação negativas (negociação), mas tam- bénr positivas (escalada no conflito) (H. Tou- zard). Também para a sociologia, os sistemas sociais possuem especificidades em relação aos sistemas vivos o qLÌe não permite, por exemplo, assimilar "os processos da mudança social a processos de tipo mecânico como aqueles encontrados na análise clos ecossis- temas" (R. Boudon e F. Bourricar-rd). Caso "a sociedade possa ser analisada como um coniLlnto de mecanismos de controle simul- taneamente incitativos e limitativos, que en- volvem as iniciativas e os recLlrsos clos in- divídr-ros, os constrangimentos coletivos e as obrigações morais" (R. Boudon e F. Bourri- caud), a regulação social não poderia ser redr-rzicla ao conjunto de atos visando manter r-rm eqr-rilíbrio de sistema social ou permitir sLla preservação, perpetLÌação e renovação, para gerir uma ordem. De acordo com esta concepção, a "di- nensão intencional ou (...) 'estratégíca' da açào social" (.R. Boudon e F. Bourricaud), tão bem ilustrada pelo direito, apenas ins- crever-se-ia nLlm processo cle regulaçào so- cial e comportando relações múltiplas, ins- táveis, estratégias diversificadas que são açõ- es razoâveis "sem ser o produto de um projeto da razão", ações de aiustamentos, de oposições, de contradições entre lógicas múl- tiplas em diferentes "campos" sociais (Bour- dieu), estas lógicas podendo inscrever-se em ritmos e em tempos históricos variados. A regulação social não seria aqui r-rm ajuste porém um sistema de inter-relações, de in- terações agindo em volta, sobre e corì a sociedacle e seLÌs atores Ç. CommailÌe). Aqui-lo qr-re pareceria um enfraquecimento das norlnas universais e da função do controle social clo direito, instituindo menos a regra do qLre facilitando múltiplas apropriações desta oLÌ abrindo espaços de negociação permanente - fenômeno associado logica- mente à emergência de uma pluraiiclade de orclens jurídicas e de instâncias de gestão normativas - poderia conduzir de modo par- ticular as pesquisas sobre o direito a referir a esta definição da regr-rlação social. No entanto, esta definição coloca certa- mente a qllestão dos recortes institucionais das sabedorias e dos campos do conheci- mento na rnedida em qlÌe a apreensão de processos complexos de regulação social implica simultaneamente o jr-rríclico, o eco- nômico, o político e o social. A abertura de uma sociologia do direito voltada para LÌma sociologia política não seria sem dúr'ida su- ficiente e a aposta feita na proporcão da parada intelectr,ral suscitada poderia perfei- tamente ser mais LÌma vez aqueìe de uma verdadeira interdisciplinaridade Contudo, traçar-Se tão arnplas perspectii':s marca cla 687 mesma forma o risco do empreendimento. Se o obstáculo da primeira definição da regulação social era aquelede um conceito mecanista do funcionamento social, o obs- táculo da segunda definição é que, ao se admitir a parcela de indeterminação da vida social e de sua proliferação ,,multiplicando o acaso, a contingência, e a afilncionalidade das condutas humanas e da vida social" nLlm sistema social paradoxal posto qLÌe repre- senta uma combinação de ordem e ',desor- dem" (Y. Barel), qualquer operacionalidade RELAÇÃO JURÍDICA do conceito desaparece naquilo que seria uma quimera e não mais um objetivo do- minado clas ciências sociais. J.co. CORRETATOS Campo - Modificação - Controle social - Desregr-rlação - Organização (Sociologia da) - Política - Política pública - Processos penais - Regulação - Reprodução - Sistema (Socio- logia do direito). põe-se de qr,ratro elementos: os sLljeitos, o objeto, o dever e o direito. 3. Os sujeitos jurídicos são os sr-rjeitos qlle. de acordo com a regra, dispõem da capacidade jurídica. ou seja, são capazes de assumir os direitos e obrigaçoes. Os sujeitos da relação jurídica são pelo menos dois, unidos pelo laço direito-dever. Distingue-se a noção de parte n reìação jurídica do conceito de sujeito da relação jurídica. Este último define a situação bá.sica recíproca dos sujeitos, um dos quais sendo, por exemplo, vendedor e o outro comprador. A parte não é ele'mento cla relação; é uma noção deduzicla da análise do termo "relação jurídica". O fato de possuir capacidade jurídica somente decide com relação à capacidade de assumir os direitos e obrigações, mas não determina nem sua área nem tampouco o modo de assumi-los. Eis por que é necessário intro- duzir categorias suplementares, como a ca- pacidade de cr-rmpriÍ os atos jurídicos ou de exercer os direitos, de modo qLle a caracte- rística do sujeito da relação jurídica seja con'ipleta. Por "capacidade de cuntprir os atos jtrrídicos" significa-se qLÌe o indir-íduo e cspaz de assr,rnrir direitos e oDnq:ÇÒes Dor sua acão próorir. isro é. cel: rcão 1uríiica ou q'-ìSlquet olltfo 3Ic i:lì ccn:cr:l:d:ie com : regr:. oL :-e e:- \:n,s c::.ens juíciicas :::',-f :-":: : iSl; a:::Elr:f t;f:i:C:. ^:nf itan- ::->: ì ::.:: :- :i:lc:lrc- C- e.Tercer oS :.::-:-.s , :--: s.::-.::..1 : capacidade de -:r:.-:-.-: -: l--:-.::S ú Ofr:gaCÒeS. ESta de- :::-:-a ai -.';:tlS l;,'-:e-s: a idade dO SUjeitO, s*i sii.ri:: :lt3lf,,- aS COndenações ante- ^- -:ì :-t- REIÁÇÃO yUnÍUCA - Forma de relação social que une pelo menos dois sujeiros, onde, a Íegra jurídica vâlida sendo a meslna para os sujeitos em questão, o objetoda obrigação de um desses sujeitos consiste em um colnportamento determinado com rela ção ao outro. ETIMOTOGIA - Observa-se, entre os séculos XVII e XVIII, um clesvio progressivo do tenÌlo, de "referência a" ("As leis civis distingtteru as pes.soas por cleterminaclas qualiclacles, que possueuì rÌlÌra relação particular corÌl a nratéria do direito civil", l)omat, Leis ciuis (Lois ciuiles), L. préI., t. il, pr.), no sentido de ,,relação,,("por nrelhor qr:e seja ttura coisa da sua n tLtreza, se ela não tiver com ele àlg.,mu relação, ele não terápressa etrr procttrá-Ia", Barbeyrac, Írad. fr. de Pufendorf, O Direito da Natureza e das pessoas (Le Droü de la Nahtre et des Gens), yl, I, parâgr. Z itz.fine - 177I) t^JA). TRADUÇÃO - Al.: Rechtsuerbciltnis; Esp.: Relaciotz jttrídica; Fr.: Rapport juridique; lngl: Legal/Jyral Relations; 1ta1.: Rapporto p4ìuridico. Sobre "Relação iurídica" - 1. O fato de que as relações sociais (por ex., políticas e eco- nômicas) assLlmem a forma de relações ju- rídicas na maioria das vezes faz surgir a questão da conexão existente entre esses dois tipos de reÌação. Segr-rndo Lrma aritlÌcle realista, a reiação jr-rrídica é uma relação de fato, social em particular, que consiste em uma interação clos sujeitos. A atitude nor- mativista vê na relação jurídica uma relação exclusivamente normativa, que constitui o conteúdo da regra: vemos facilmente que não é possível criar uma relação jr_rrídica de fato, pois a caÍacterística dos comportamen- tos reconhecidos como relações jurídicas não pode existir sem a qualificação normativa dada peia regÍa. O problema da relação observado entre a relação jurídica e a relação social manifesta-se na distinção entre relaçõesjurídicas concretas e abstratas. A relação concreta nasce no ntomento em que se aplica a disposição de uma regra a un'ta sitr-ração social real, individr-ral e concrete. cìLÌe cor- responde às fórmuÌas contrcas na regra. A aplicação das clisposiçÒes. isro é a :orn:rcào da relação jr-rrídica concreta é possíi'e; DcrcÌ.Ìe as regras em vigor apóiam-se n: clnsrrucão da relação jurídica abstrata. E,:s c.:l:r::.::ir:l-. assirn, de modo geraÌ, as po_ssí', ers s::--;.13_. futuras bem como as disposrçÒes c:n-,-::-::- tes. Então, a relação concret3 ircc jz-s: -:-. conseqiìência da intervençào cos ::::. *.::, jr-rrídicos. 2. A estrutura básica da reÌaÇãc j,r::-:: abstrata e a estrutura da reÌacão clac:a:r são as mesmas: cada relação luríilc: -::---
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