Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
CRESCIMENTO E REGULAÇÃO POPULACIONAL Introdução A imensa capacidade de crescer das populações não pode ser melhor ilustrada do que pela população humana, a qual tem crescido continuamente, por vezes dobrando a cada quarto de século (Ricklefs, 1996). Desde que a espécie humana começou a compreender o seu rápido crescimento, ele tem causado preocupação. Esta preocupação levou ao desenvolvimento de técnicas matemáticas que prevêem o crescimento das populações e ao estudo intensivo de populações naturais e de laboratório para determinar os mecanismos de regulação das populações. Estrutura Espacial das Populações A estrutura espacial de uma população tem três propriedades principais: distribuição, dispersão e densidade. A distribuição de uma população descreve a sua abrangência geográfica e ecológica, a qual é determinada primordialmente pela presença ou ausência de habitats adequados. O clima, a topografia, a química e a textura do solo exercem influência progressivamente mais refinada sobre a distribuição geográfica do arbusto Clematis fremontii. O clima e talvez as interações com outras espécies ecologicamente relacionadas restringem esta espécie a uma pequena área geográfica (Figura 1) e, dentro desta abrangência, C. fremontii está restrita aos solos rochosos e secos dos afloramentos de calcário. Pequenas variações no relevo e na qualidade do solo confinam ainda mais a distribuição de Clematis dentro de cada clareira de calcário. Figura 1. Hierarquia dos padrões de distribuição geográfica de Clematis fremontii no Missouri, EUA. Fonte: Ricklefs, 1996. A dispersão de uma população caracteriza o espaçamento dos indivíduos formando padrões que variam da distribuição agregada até distribuições regulares ou homogêneas (Figura 2). Entre estes 2 extremos encontra-se a distribuição aleatória ou randômica, na qual os indivíduos estão distribuídos ao acaso em toda uma área independente da presença de outros indivíduos. Figura 2. Tipos de distribuição espacial dos indivíduos em uma população: distribuição regular, aleatória e agregada. A densidade populacional é definida como o número de indivíduos por unidade de área. Este parâmetro tem duas aplicações importantes em ecologia. A primeira surge da dificuldade prática em estimar os tamanhos de populações inteiras distribuídas sobre grandes áreas. Em tais situações, o pesquisador assume que a densidade e os atributos que são observados dentro de uma pequena área amostral espelhem os da população como um todo. A Segunda aplicação surge do fato de que a densidade indica a capacidade do meio ambiente em suportar a população particular sob estudo. Em geral, os indivíduos são mais numerosos onde os recursos são mais abundantes. CRESCIMENTO POPULACIONAL O crescimento de uma população descreve a variação do número de indivíduos em função do tempo, e reconhece-se, pelo menos, dois tipos de crescimento: o exponencial e o logístico. Crescimento Exponencial Uma população que experimenta um crescimento exponencial aumenta em proporção ao seu próprio tamanho, exatamente como uma conta bancária ganha juros mais rapidamente quando tem um saldo maior. Um aumento nos números depende da reprodução dos indivíduos na população. Portanto, uma população que cresce numa taxa exponencial constante ganha indivíduos cada vez mais rápido à medida que a população aumenta. Por exemplo, uma taxa anual de crescimento de 10% adiciona 10 indivíduos por ano numa população de 100, mas 100 novos indivíduos numa população de 1000. Deixada a continuar a crescer nessa taxa a população rapidamente chegaria ao infinito e a Terra seria rapidamente coberta pelos filhotes de um único casal. Vejamos como este tipo de crescimento populacional funciona através de um exemplo. Suponha uma população de amebas que se dividem em duas a cada geração, como mostrado no quadro abaixo. Neste exemplo, a população pode começar com 1, 5 ou a indivíduos. Número inicial de indivíduos Geração 1 5 a 0 1 (20) 5 (5 x 20) a x 20 1 2 (21) 10 (5 x 21) a x 21 2 4 (22) 20 (5 x 22) a x 22 3 8 (23) 40 (5 x 23) a x 23 4 16 (24) 80 (5 x 24) a x 24 N N (2N) N (5 x 2N) a x 2N Assim, para uma população que dobra a cada geração pode-se calcular o número de indivíduos através da equação y = a . bx. Como o crescimento trata da variação do número de indivíduos em uma população, então: Nt = N0 . R0t EQUAÇÃO 1 onde: • Nt = número de indivíduos no tempo t • N0 = número inicial de indivíduos • R0 = taxa reprodutiva líquida ou taxa básica de crescimento O gráfico que descreve a variação do número de indivíduos em função do tempo em uma população que cresce numa taxa exponencial é: Capacidade Intrínseca de Crescimento (r) É uma variável que dá idéia da capacidade de crescimento da população como um todo, independente do número de gerações, é a chamada taxa de crescimento exponencial. É calculada pelo logaritmo neperiano de R0. Se r = lnR0, então pode-se dizer que R0 = er. Substituindo R0 na equação 1 tem-se: Nt = N0 . ert EQUAÇÃO 2 Para calcular a variação do número de indivíduos em função do tempo, a taxa na qual os indivíduos são adicionados à população sob um crescimento exponencial é derivada da equação 2, isto é: dN = rN Equação Exponencial dt Basicamente, esta equação expressa 2 princípios. Primeiro, a taxa de aumento (dN/dt) varia em proporção direta ao tamanho da população. Segundo, a taxa de crescimento exponencial (r) expressa o aumento ou diminuição populacional numa base individual. Em outras palavras, esta equação poderia ser lida da seguinte forma: (taxa de mudança no tamanho da população) = contribuição de cada indivíduo ao crescimento populacional) . (número de indivíduos na população no tempo atual). Esta contribuição individual ao crescimento populacional é chamada taxa intrínseca de crescimento e também pode ser calculada pela diferença entre a natalidade (b, do inglês birth) e a taxa de mortalidade (d, do inglês death). Assim, r = b-d. Mas, será que o crescimento exponencial descreve realmente o crescimento de uma população, ou existem limites a este crescimento? Crescimento Logístico Mesmo as espécies de reprodução mais lenta cobririam a Terra num curto espaço de tempo se as populações crescessem sem restrições. Charles Darwin escreveu na “Origem das Espécies”: “O elefante é tido como o reprodutor mais lento de todos os animais conhecidos e eu sofri um pouco para estimar sua provável taxa mínima de crescimento natural; será mais seguro assumir que ele começa a reproduzir aos 30 anos de idade, e segue reproduzindo até os 90 anos, trazendo à luz seis filhotes nesse período e sobrevivendo até os 100 anos de idade; se isto é assim, após um período de 740 a 750 anos, haveria aproximadamente 19 milhões de elefantes vivos, descendentes do primeiro casal.” Colocando um certo limite na equação de crescimento exponencial chega-se à variável K, chamada de capacidade de suporte do ambiente – número máximo de indivíduos de uma população. Mas, como incluir K no modelo matemático? Os pesquisadores Pearl e Reed (1920) estudando a taxa de crescimento da população dos EUA, argumentaram que as mudanças nas taxas exponenciais de crescimento deveriam estar relacionadas com o tamanho da população. E assim, no lugar de um valor constante de r para crescimento populacional irrestrito (dN/dt = rN), Pearl e Reed sugeriram que r diminui à medida que N aumenta de acordo com a relação: r = r0 (K-N) K onde: • r0 = taxa intrínsecade crescimento populacional quando seu tamanho é muito pequeno • K = capacidade de suporte do ambiente Substituindo r na equação exponencial, tem-se o modelo de crescimento populacional restrito: dN = rN (K-N) Equação Logística dt K O gráfico que descreve a variação do número de indivíduos em função do tempo em uma população que cresce no modelo logístico é: A equação logística permite avaliar que enquanto o tamanho da população N não exceder a capacidade de suporte K, isto é (K–N/K) é menor que 1 a população continua a aumentar. Quando N excede o valor de K, o termo entre parênteses torna-se negativo e a população diminui. Devido às populações abaixo de K aumentarem e acima de K diminuírem, K é o eventual tamanho de equilíbrio de uma população que cresce de acordo com a equação logística. No ponto 1 na figura acima a derivada (dN/dt) é próxima de zero por que existem poucos indivíduos na população, no ponto 2 ela é máxima por que existem indivíduos e recursos e no ponto 3 (N=K) a população fica estável (dN/dt = 0). O que determina o valor de K em um ambiente ? Externamente à população, K é determinado pela quantidade de recurso – basicamente alimento – que um ambiente possui. Internamente, K é determinado pelo tamanho dos indivíduos, eficiência no uso e assimilação dor recurso. Seleção r e K Imaginemos agora uma situação em que duas populações de espécies distintas sejam mantidas por um grande tempo (suficiente para que mudanças evolutivas ocorram) em baixo tamanho populacional (ponto I, na figura abaixo) e em tamanho populacional próximo à capacidade de suporte do ambiente (ponto II na figura). Estes dois tipos extremos de seleção foram chamados por MacArthur & Wilson (1967) de seleção r e K, respectivamente, de forma que as letras se referem aos parâmetros da equação exponencial e logística. A seleção r se refere a indivíduos que são favorecidos por sua habilidade de reproduzir rapidamente (alto valor de r) enquanto a seleção K refere-se a indivíduos que são competitivamente capazes de sobreviver próximo à capacidade limite do ambiente. A tabela I exemplifica as principais diferenças entre os indivíduos r e K selecionados. Tabela 1. Principais diferenças entre indivíduos r e K selecionados. Seleção r Seleção K ⊇ maturidade cedo ⊇ maturidade tardia ⊄ pequeno tamanho ⊄ grande tamanho ⊂ semélparos (reproduz e morre) ⊂ iteróparos (vários eventos de reprodução) ⊆ grande no de pequenos descendentes ⊆ pequena prole de grandes indivíduos ∈ pouco investimento em sobrevivência ∈ cuidado parental ∉ habitat imprevisível e efêmero ∉ ambiente estável, saturado ∠ períodos de crescimento populacional rápidos, sem competição ∠ intensa competição entre os adultos determina sobrevivência e/ou fecundidade REGULAÇÃO POPULACIONAL A percepção de que as populações não crescem indefinidamente levou à conclusão de que alguns processos – os chamados processos regulatórios - estariam impedindo o crescimento indefinido. Regulação significa a tendência de uma população decrescer em tamanho quando acima de certo nível e aumentar quando abaixo deste. A regulação, normalmente, é resultado das características da população que agem sobre as taxas de nascimento (e/ou imigração) e nas taxas de mortalidade (e/ou emigração). Mecanismos de Regulação da População Voltando-se à equação logística, observa-se que a taxa de crescimento da população diminui com o aumento do número de indivíduos, ou seja, é um processo que está relacionado com a densidade. Desta forma, pode-se distinguir dois tipos de fatores: os independentes da densidade (id) e os dependentes da densidade (dd). 1. Fatores independentes da densidade: são aqueles cujos efeitos não variam com as mudanças da densidade, ou seja, seu efeito na população permanece constante, qualquer que seja seu tamanho. Geralmente, são fatores ambientais abióticos, muitas vezes considerados catastróficos, como tempestades, neve, passagem do fogo. Os fatores id podem até influenciar na abundância das populações, mas somente fatores dd podem manter a população sob certo controle. 2. Fatores dependentes da densidade: são aqueles cujos efeitos aumentam proporcionalmente com o aumento da densidade populacional. São normalmente fatores bióticos, como a COMPETIÇÃO INTRAESPECÍFICA (competição entre indivíduos da mesma espécie). Assim, a estabilização da população próximo à capacidade de suporte significa que os indivíduos estariam competindo por recursos, e a competição intraespecífica tem um poder regulatório sobre a população. Tanto os fatores dd quanto id podem interagir para determinar as densidades observadas em uma população, mas somente os fatores dd podem regulá-la. CONCLUSÃO Embora os ecólogos teriam muito menos trabalho se as populações mantivessem um tamanho constante, observa-se que na verdade elas flutuam, seja porque seu tamanho reflete variações no ambiente ou porque ela apresenta propriedades oscilatórias intrínsecas à sua dinâmica. Alguns fatores governam, regulam a dinâmica das populações como a interação entre os indivíduos (competição intraespecífica) além das influências do meio externo, que podem determinar a abundância, a densidade de uma população.
Compartilhar