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DDIIRREEIITTOO PPRROOCCEESSSSUUAALL CCIIVVIILL IIVV –– 22001177//22ºº SSEEMM PPRROOFF.. EESSPP.. AANNDDRRÉÉ LLUUIISS CCAAMMAARRGGOO MMEELLLLOO MMAATTÉÉRRIIAA NNºº 22 1 DA FUNÇÃO JURISDICIONAL JJUURRIISSDDIIÇÇÃÃOO Vocábulo jurisdição: formado pela junção das palavras latinas juris (ius, iuris = direito) e dictio (substantivo derivado do verbo dico, dicere = dizer); Funções do Estado moderno (soberanas): Poderes distintos e harmônicos entre si: Legislativo, Executivo e Judiciário. Função do Poder Judiciário: poder de atuar o direito objetivo, compondo os conflitos de interesses e resguardando a ordem jurídica e a autoridade da lei com o processo. Expressa imperativamente o conceito (através de uma sentença de mérito) → realizando no mundo das coisas o que o preceito estabelece (através da execução forçada). • Poder: manifestação do poder estatal. Capacidade de decidir imperativamente e impor decisões; • Função: encargo dos órgãos estatais de pacificar os conflitos interindividuais; • Atividade: complexo de atos do juiz no processo (exercício do poder e cumprimento de sua função legal). A jurisdição é função atribuída a terceiro imparcial de realizar o Direito de modo imperativo e criativo (reconstrutivo), reconhecendo/efetivando/protegendo situações jurídicas concretamente deduzidas, em decisão suscetível de controle externo e com aptidão para tornar-se indiscutível. (Fredie Didier Júnior) CARACTERÍSTICAS 1. Substitutividade: Estado substitui com uma atividade sua as atividades daqueles que estão envolvidos no conflito trazido à apreciação (imparcialidade) - Chiovenda; • Técnica de solução de conflitos por heterocomposição: um terceiro substitui a vontade das partes e determina a solução do litígio. • Em atividade meramente declaratória a jurisdição é essencialmente criativa. 2. Escopo jurídico de atuação do direito: Estado garante por meio da substituição das partes a realização dos objetivos da norma de direito substancial violada no caso concreto (Chiovenda). • A jurisdição sempre atua sobre uma situação concreta, um determinado problema que é levado à apreciação do órgão jurisdicional. • Imperatividade e inevitabilidade da jurisdição: a jurisdição é manifestação de um Poder e, portanto, impõe-se imperativamente, reconstruindo e aplicando o Direito a situações concretas que são submetidas ao órgão jurisdicional. DDIIRREEIITTOO PPRROOCCEESSSSUUAALL CCIIVVIILL IIVV –– 22001177//22ºº SSEEMM PPRROOFF.. EESSPP.. AANNDDRRÉÉ LLUUIISS CCAAMMAARRGGOO MMEELLLLOO MMAATTÉÉRRIIAA NNºº 22 2 As partes submetem-se ao quanto decidido pelo órgão jurisdicional, o que revela a inevitabilidade. 3. Inércia: Os órgãos jurisdicionais por sua própria índole são inertes (art. 2º do CPC), a atividade jurisdicional não é prestada de ofício, salvo raras exceções (Ex: habeas corpus ex officio (art. 654, § 2º, CPP), execução trabalhista (CLT, art. 878); 4. Definitividade ou imutabilidade: os atos jurisdicionais são os únicos passíveis de transitar em julgado, de se tornarem imutáveis, não podendo ser revistos ou modificados pelas partes, pelos juízes ou pelos próprios legisladores. • Aptidão para a coisa julgada, revela a situação situação jurídica que diz respeito exclusivamente às decisões jurisdicionais. Somente uma decisão judicial pode tornar-se indiscutível e imutável pela coisa julgada (art. 5º XXXVI, CF/88). 5. Atividade criativa: o juiz deve ao se deparar com os fatos da causa compreender o seu sentido, a fim de poder observar qual a norma geral que se lhes aplica. Identifica a norma geral aplicável que deve ser conformada à Constituição através de técnicas de interpretação conforme, de controle de constitucionalidade em sentido estrito e de balanceamento dos direitos fundamentais. Assim, o julgador cria uma norma jurídica (norma legal conformada à norma Constitucional) que vai servir de fundamento jurídico para a decisão a ser tomada na parte dispositiva do pronunciamento, que contém a norma jurídica individualizada ou individual. A criatividade jurisdicional revela-se em duas dimensões: cria-se a regra jurídica do caso concreto (extraível da conclusão da decisão) e a regra jurídica que servirá como modelo normativo para a solução de casos futuros semelhantes àquele. É o processo compreendido como modo de produção de norma jurídica. 6. Técnica de tutela de direitos: dá-se pelo seu reconhecimento judicial (tutela de conhecimento), ela sua efetivação (tutela executiva) ou por sua proteção (tutela de segurança, cautelar ou inibitória). 7. Insuscetibilidade de controle externo: tem por característica produzir a última decisão sobre a situação concreta deduzida em juízo. PRINCÍPIOS DA JURISDIÇÃO 1. Territorialidade ou Aderência ao Território: Os magistrados só têm autoridade nos limites territoriais do seu Estado, nos limites do território da sua jurisdição. A jurisdição, como manifestação da soberania, exerce-se sempre em um dado território. • Limitação da própria soberania nacional ao território do país; • Os juízes exercem jurisdição nos limites da circunscrição territorial que lhes é traçada pelas leis de organização judiciária. DDIIRREEIITTOO PPRROOCCEESSSSUUAALL CCIIVVIILL IIVV –– 22001177//22ºº SSEEMM PPRROOFF.. EESSPP.. AANNDDRRÉÉ LLUUIISS CCAAMMAARRGGOO MMEELLLLOO MMAATTÉÉRRIIAA NNºº 22 3 O CPC/2015 mitigou o princípio da territorialidade em algumas hipóteses. Ex. art. 60; art. 255; art. 385, § 3º; art. 453, §§ 1º e 2º Não se confunde territorialidade da jurisdição com o lugar onde a decisão irá produzir efeitos. 2. Indelegabilidade: O exercício da atividade jurisdicional não pode ser delegado. O órgão jurisdicional não pode delegar funções a outrem, o que se aplica integralmente no caso de poder decisório. Possibilita-se a delegação de outros poderes judiciais, como o poder instrutório, o poder diretivo do processo e o poder de execução das decisões. Ex. art. 102, I, “m”, da CF; art. 93, XI, da CF. Art. 93, XIV, da CF, permite a delegação, a serventuário da justiça, do poder de praticar atos de administração e atos de mero expediente sem caráter decisório, o que o NCPC ratificou no inciso VI do art. 152 e § 4º do art. 203 que aponta exemplos desses atos. 3. Inafastabilidade (ou princípio do controle jurisdicional): A lei não pode excluir da apreciação do Poder Judiciário qualquer lesão (tutela reparatória) ou ameaça a direito (tutela preventiva), nem pode o juiz, a pretexto de lacuna ou obscuridade da lei, escusar-se de proferir decisão (CF, art. 5º, XXXV; LINDB, art. 4º, CPC/2015, art. 3º). É o Judiciário que profere, sobre o litígio, a última palavra. O direito ação é o principal efeito do princípio da inafastabilidade. 4. Juiz Natural: garantia fundamental não prevista expressamente, mas que resulta da conjugação de dois dispositivos constitucionais: o que proíbe juízo ou tribunais de exceção e o que determina que ninguém será processado senão pela autoridade competente (incisos XXXVII e LIII do art. 5º da CF). Garantia de julgamento por juiz preexistente, independente, competente e imparcial, indicado pelas normas constitucionais e legais; Investidura: a jurisdição só pode ser exercida por quem dela se ache legitimamente investido. A jurisdição é função do Estado e seus órgãos (os juízes) deverão ser nela investidos por ato oficial e legítimo. Parte da doutrina entende que a garantia do Juiz Natural se espraia para o Ministério Público e para o âmbito administrativo, sempre com a exata dimensão objetiva e impessoal. JURISDIÇÃO CONTENCIOSA E VOLUNTÁRIA A Jurisdição Contenciosa atua em conflitos de interesses qualificadospor pretensões resistidas, isto é, seu objeto são as lides propostas. A Jurisdição voluntária, graciosa ou integrativa é atividade estatal de integração e fiscalização. Busca-se do Poder Judiciário a integração da vontade, para torná-la apta a produzir determinada situação jurídica. Há certos efeitos jurídicos decorrentes da vontade humana, que somente podem ser DDIIRREEIITTOO PPRROOCCEESSSSUUAALL CCIIVVIILL IIVV –– 22001177//22ºº SSEEMM PPRROOFF.. EESSPP.. AANNDDRRÉÉ LLUUIISS CCAAMMAARRGGOO MMEELLLLOO MMAATTÉÉRRIIAA NNºº 22 4 obtidos após a integração dessa vontade perante o Estado-juiz, que o faz após a fiscalização dos requisitos legais para a obtenção do resultado almejado. • Aplicam-se as garantias fundamentais do processo e da magistratura, asseguradas constitucionalmente Administração pública de interesses privados. Certas categorias de interesses privados cuja administração é especialmente conferida à órgãos jurisdicionais. Ex: Art. 725, CPC/2015 – emancipação (inciso I), alienação, arrendamento ou oneração de bens de crianças ou adolescentes (inciso II), homologação de divórcio e separação consensuais etc. Crítica: se atos da vida privada só podem ser exercidos por meio da jurisdição, sem opção, não há que se falar em jurisdição voluntária. MEDIAÇÃO E CONCILIAÇÃO Mediação e conciliação são formas de solução de conflito pelas quais um terceiro intervém em um processo negocial, com a função de auxiliar as partes a chegar à autocomposição. Técnicas de “solução alternativa de controvérsias”. • Ao terceiro não cabe resolver o problema, como acontece na arbitragem: o mediador/conciliador exerce um papel de catalisador da solução negocial do conflito. • Por isso trata-se de autocomposição e não heterocomposição do conflito. • Conciliador: tem uma participação mais ativa no processo de negociação, podendo, inclusive, sugerir soluções para o litígio; • Mediador: cabe a ele servir como veículo de comunicação entre os interessados, um facilitador do diálogo entre eles, auxiliando-os a compreender as questões e os interesses em conflito, de modo que possam identificar, por si mesmos, soluções consensuais que geram benefícios mútuos. Ex. conflitos anteriores e permanentes como societários e familiares. A Resolução nº 125/2010 instituiu no Brasil a política pública de tratamento adequado dos conflitos jurídicos, com o estímulo à solução por autocomposição. A solução negocial não é apenas um meio eficaz e econômico de resolução dos litígios, mas sim importante instrumento de desenvolvimento da cidadania, em que os interessados passam a ser protagonistas da construção da decisão jurídica que regula suas relações. Revela um esforço da participação popular no exercício do poder de solucionar litígios, o que demonstra seu caráter democrático. DDIIRREEIITTOO PPRROOCCEESSSSUUAALL CCIIVVIILL IIVV –– 22001177//22ºº SSEEMM PPRROOFF.. EESSPP.. AANNDDRRÉÉ LLUUIISS CCAAMMAARRGGOO MMEELLLLOO MMAATTÉÉRRIIAA NNºº 22 5 O CPC/2015 ratifica e reforça essa tendência nos §§ 2º e 3º do art. 3º como norma fundamental, e ainda ao: a) Dedicar um capítulo para regular a mediação e conciliação (arts. 165-175); b) Estruturar o procedimento de modo a pôr a tentativa de autocomposição como ato anterior ao oferecimento da defesa pelo réu (arts. 334 e 694); c) Permitir a homologação de acordo extrajudicial de qualquer natureza (art. 515, III e art. 725, VIII); d) Permitir que, no acordo judicial, seja incluída matéria estranha ao objeto litigioso do processo (art. 515, § 2º); e) Permitir acordos processuais atípicos (sobre o processo e não sobre o objeto do litígio – art. 190). Na doutrina moderna há quem defenda a existência de um princípio do estímulo da solução por autocomposição, quando recomendável, a orientar toda a atividade estatal na solução dos conflitos jurídicos. ARBITRAGEM Técnica de solução de conflitos mediante a qual os conflitantes buscam em uma terceira pessoa, de sua confiança, a solução amigável e imparcial do litígio. É heterocomposição. • Regulamentada pela Lei 9.307/96. • A instituição da arbitragem é optativa, constituída por meio de um negócio jurídico denominado convenção de arbitragem que, na forma do art. 3º da Lei 9.307/96, compreende tanto a cláusula compromissória quanto o compromisso arbitral; • A decisão arbitral fica imutável pela coisa julgada material, se a parte intimada da decisão não buscar sua rescisão judicialmente no prazo de 90 dias, na hipótese de error in procedendo. CCOOMMPPEETTÊÊNNCCIIAA A jurisdição é exercida em todo o território nacional. Por questão de conveniência e melhor prestação do serviço, especializam-se setores da função jurisdicional. • Necessidade de repartição da jurisdição entre os órgãos que a exercem; • Princípio da divisão do trabalho. Distribuição das causas entre os vários órgãos jurisdicionais: atribuições previamente estabelecidas; • Decorrência: extensão territorial, distribuição da população, a natureza das causas, valor, complexidade, entre outros fatores; • A CF e a Lei prefixam as atribuições dos órgãos jurisdicionais nos limites nas quais podem exercer a jurisdição (competência internacional e interna); DDIIRREEIITTOO PPRROOCCEESSSSUUAALL CCIIVVIILL IIVV –– 22001177//22ºº SSEEMM PPRROOFF.. EESSPP.. AANNDDRRÉÉ LLUUIISS CCAAMMAARRGGOO MMEELLLLOO MMAATTÉÉRRIIAA NNºº 22 6 • Juiz competente: quando, no âmbito de suas atribuições, tem poderes jurisdicionais sobre determinada causa; Competência: é o poder de exercer a jurisdição nos limites estabelecidos pela Lei. Âmbito dentro do qual o juiz pode exercer a jurisdição. Medida de jurisdição, cada órgão só exerce a jurisdição dentro da medida que lhe fixam as regras sobre competência. Quantidade de jurisdição cujo exercício é atribuído a cada órgão ou grupo de órgãos (Liebman). Resultado de critérios para distribuir entre vários órgãos as atribuições relativas ao desempenho da jurisdição. A Competência jurisdicional é o poder de exercer a jurisdição nos limites estabelecidos por lei. É o âmbito dentro do qual o juiz pode exercer a jurisdição. (Fredie Didier Júnior). DISTRIBUIÇÃO DA COMPETÊNCIA A distribuição da competência faz-se por meio de normas constitucionais (inclusive as constituições estaduais), legais, regimentais (distribuição interna da competência dos tribunais) e até mesmo negociais (foro de eleição). Para distribuir a competência, o legislador o faz mediante três operações lógicas: a) Constituição diferenciada de órgãos judiciários; b) Elaboração da massa de causas em grupos. Características das causas e do processo; c) Atribuição a cada um dos diversos grupos de causas ao órgão mais idôneo para conhecer destas. Caminho do plano abstrato ao concreto da competência: ✓ Competência de jurisdição (qual a justiça competente?); ✓ Competência originária (competente o órgão superior ou o inferior?); ✓ Competência de foro (qual a comarca, ou seção judiciária, competente?); ✓ Competência de juízo (qual a vara competente?); ✓ Competência interna (qual o juiz competente?); ✓ Competência recursal (competente o mesmo órgão ou um superior?). CRITÉRIOS DETERMINATIVOS Competência Internacional: é aquela em que há distribuição das atribuições da atividade de dizer o direito entre juízes de países diferentes (arts. 21/23 do CPC/2015, art. 12, LINDB). Limites da jurisdição dos tribunais brasileiros perante os órgãos judiciários estrangeiros. Visa delimitar o espaço em que deve atuar a jurisdição, na medida em que o Estado possa fazer cumprir soberanamente as suas sentenças. Aplicação do princípioda efetividade, que orienta a distribuição da competência internacional, segundo o qual o Estado deve abster-se de julgar se a sentença não tem como ser reconhecida onde deve exclusivamente produzir efeitos. DDIIRREEIITTOO PPRROOCCEESSSSUUAALL CCIIVVIILL IIVV –– 22001177//22ºº SSEEMM PPRROOFF.. EESSPP.. AANNDDRRÉÉ LLUUIISS CCAAMMAARRGGOO MMEELLLLOO MMAATTÉÉRRIIAA NNºº 22 7 A competência internacional brasileira diz quais causas que deverão ser conhecidas e decididas pela justiça brasileira. a) Cumulativa ou concorrente (arts. 21 e 22). Coisa julgada: possibilidade de homologação (art. 961/963). b) Exclusiva (art. 23) – não produção de coisa julgada – sentença nunca poderá ser homologada. Será ato sem qualquer importância. c) Concorrência e litispendência (art. 24). Supremacia da jurisdição nacional em face da estrangeira. Por sua vez, a pendência de demanda perante a jurisdição brasileira não impede a homologação de sentença judicial estrangeira quando exigida para produzir efeitos no Brasil (parágrafo único). CRITÉRIOS DETERMINATIVOS DA COMPETÊNCIA INTERNA 1. Objetivo: competência é determinada por certos elementos da própria demanda. Leva em consideração a demanda apresentada ao Poder Judiciário como dado relevante para a distribuição da competência. a) Em razão da matéria (ratione materiae): segundo a natureza da relação jurídica controvertida, objeto da causa. É a causa de pedir que contém a afirmação do direito discutido, o dado a ser levado em consideração para identificação do juízo competente. Ex: varas especializadas em direito de família, sucessões e acidentes do trabalho; b) Em razão do valor da causa: segundo o valor econômico da relação jurídica controvertida. Ex. Foros regionais em SP, Juizados Especiais Cíveis, art. 63 do CPC/2015. c) Em razão da pessoa (ratione personae): segundo a condição ou peculiaridade das pessoas envolvidas na lide. Ex: Vara privativa das Fazendas Públicas; art. 102, I, “d”, CF/88 (STF – mandado de segurança contra ato do Presidente da República). 2. Critério Territorial: o fator determinante da distribuição das atribuições inerentes ao ato de dizer o direito é o elemento geográfico. Determina em que território a causa dever ser processada. Ex. 46 do CPC/2015. 3. Critério Funcional: o que determina a distribuição das atribuições jurisdicionais é a função exercida pelos juízes nas diversas fases processuais. Ex: funções definidas dos juízes de 1ª e 2ª instância a) Por graus de jurisdição (originária e recursal). b) Por fases do processo (cognição e execução). c) Por objeto do juízo: assunção de competência (art. 947 do CPC/2015), arguição de inconstitucionalidade (art. 948 do CPC/2015). DDIIRREEIITTOO PPRROOCCEESSSSUUAALL CCIIVVIILL IIVV –– 22001177//22ºº SSEEMM PPRROOFF.. EESSPP.. AANNDDRRÉÉ LLUUIISS CCAAMMAARRGGOO MMEELLLLOO MMAATTÉÉRRIIAA NNºº 22 8 REGRAS DE COMPETÊNCIA • Regra geral: domicílio do réu (art. 46). Foros subsidiários ou supletivos – parágrafos do art. 46. o No Código de Defesa do Consumidor o foro competente para discussão das relações de consumo é o do domicilio do autor-consumidor (art. 101, I, CDC) – Regra de competência relativa. o Domicílio: art. 70 e 75, IV, CC. Especiais arts. 32 a 41, CC. • Ações reais imobiliárias (forum rei sitae) - art. 47 do CPC/2015 o Foros concorrentes: §§ 1 e 2º do art. 47. Ex. Ação pauliana. • Foro da sucessão hereditária (at. 48 do CPC/2015) • Ausente (art. 49 do CPC/2015) – foro universal: último domicílio. • Incapaz (art. 50 do CPC/2015; art. 76, par. ún., CC). • Foro da União, Estados e Distrito Federal: art. 51 e 52 do CPC/2015 e art. 109, §§ 1º e 2º da CF/88. • Casamento e união estável (art. 53, I do CPC/2015). o Se houver guarda compartilhada, o foro deve ser do domicílio do réu, já que ele também é guardião do incapaz; o Demandas cíveis em cuja causa de pedir se afirme a ocorrência de violência doméstica e familiar à mulher aplica-se o art. 7º da Lei 11.340/2006, cuja escolha fica a cargo da mulher: a) seu domicílio ou residência, b) do lugar do fato em que se baseia a demanda, c) do domicílio do suposto agressor (art. 15 da Lei 11.340/2006). • Alimentos, revisional de alimentos e paternidade cumulada com alimentos (art. 53, II, do CPC/2015). • Pessoas jurídicas de direito público e de direito privado (art. 53, III, a e b). • Sociedade ou associação sem personalidade jurídica (art. 53, III, “c”; arts. 986 e 990 do CC). • Foro ratione loci em matéria de obrigações (art. 53, III, “d”). DDIIRREEIITTOO PPRROOCCEESSSSUUAALL CCIIVVIILL IIVV –– 22001177//22ºº SSEEMM PPRROOFF.. EESSPP.. AANNDDRRÉÉ LLUUIISS CCAAMMAARRGGOO MMEELLLLOO MMAATTÉÉRRIIAA NNºº 22 9 • Ação proposta por idoso, em que se afirma direito decorrente do Estatuto do Idoso, poderá ser proposta no foro de sua residência (art. 53, III, “e”) • Foro da sede da serventia notarial ou de registro nas ações de reparação de dano por ato praticado em razão do ofício (art. 53, III, “f”). • Foro para responsabilidade civil extracontratual (art. 53, IV, “a”). No caso de veículos será o domicílio do autor, do local do fato ou do réu (art. 53, V). • Réu administrador ou gestor de negócios alheios (art. 53, IV, “b”) • Foro de Eleição: arts. 62 e 63. COMPETÊNCIA ABSOLUTA E COMPETÊNCIA RELATIVA O Juiz deverá exercer as funções jurisdicionais nos limites da sua competência. Exercendo-a além de seus limites, fora da sua competência, diz-se juiz incompetente. Relativa: suscetível de sofrer modificação. Territorial e em razão do valor da causa (art. 63). • Quando a regra de competência atende a interesses privados dos envolvidos no processo. • A parte interessada é quem alega a incompetência em preliminar de contestação, com as razões em que se funda. Caberá ao próprio juiz examinar a questão e declara-se competente ou não. • A incompetência relativa prorroga-se, torna competente o juiz incompetente, se não for alegada pelo réu preliminarmente em contestação (art. 64/65). Absoluta: insuscetível de sofrer modificação pela vontade das partes ou por prorrogação (conexão e continência). Ratione materiae e a Funcional (art. 43). • Casos de competência determinada segundo o interesse público e não meramente privado, das partes envolvidas no conflito. Em princípio o sistema jurídico processual não tolera modificações nos critérios estabelecidos, e muito menos em virtude da vontade das partes em conflito. Trata-se da competência absoluta, que não pode jamais ser modificada. (CPC/2015, art. 64, § 3º). • A incompetência absoluta é vício insanável, incorrigível, que torna nula a sentença de mérito, suscetível de rescisão, mesmo depois de transitada em julgado, por meio de ação rescisória. • Pode ser alega pela parte e deve ser reconhecida de ofício (art. 64). DDIIRREEIITTOO PPRROOCCEESSSSUUAALL CCIIVVIILL IIVV –– 22001177//22ºº SSEEMM PPRROOFF.. EESSPP.. AANNDDRRÉÉ LLUUIISS CCAAMMAARRGGOO MMEELLLLOO MMAATTÉÉRRIIAA NNºº 22 10 MODIFICAÇÃO DE COMPETÊNCIA Dá-se a modificação ou prorrogação de competência quando se amplia a esfera de competência de um órgão judiciário para conhecer certas causas que não estariam, ordinariamente, compreendidas em suas atribuições jurisdicionais. Só há modificação de competência relativa. Há casos de modificação legal (conexão e continência) e voluntária (foro de eleição e não alegação de incompetência relativa). Prorrogação é o fenômeno processual pelo qual o juiz incompetente se transforma em juiz competente.Amplia-se, dilata-se a competência daquele, prorroga-se a sua jurisdição para conhecer e decidir de causa em relação à qual, segundo os critérios determinativos da competência, ele seria incompetente. (art. 65) o Prorrogação legal ou necessária (conexidade ou continência – art. 55/56)). o Prorrogação voluntária: ✓ Prorrogação voluntária expressa: acordo expresso entre os titulares da relação jurídica controvertida, antes da instauração do processo (art. 63) ✓ Prorrogação voluntária tácita: não alegação pelo réu da incompetência relativa. FORO DE ELEIÇÃO A Competência relativa pode ser alterada pela vontade das partes, que elegerão foro onde serão propostas as ações oriundas de direitos e obrigações (art. 63, caput, CPC/2015; art. 78 do CC). Elege- se o foro não o juízo. Prorrogação voluntária da competência, assim como a não alegação da incompetência relativa. Derrogação. • Deve constar de negócio escrito e obriga herdeiros e sucessores. • Possibilidade de eleição de mais de um foro pelas partes contratantes. • Possibilidade de eleição de foro e convenção de arbitragem. • Possibilidade de reconhecimento ex officio de abusividade de foro de eleição, como nos contratos de consumo, em especial os de adesão até a citação. Após esta, necessária é a alegação do réu. o O reconhecimento de ofício deverá ser submetido ao prévio contraditório (art. 10). o Exceção à regra: competência relativa cognoscível de ofício pelo juiz. • Admite-se a escolha de foro exclusivo estrangeiro, na elaboração de contratos internacionais (art. 25), sendo vedado se a competência for exclusiva da jurisdição brasileira. DDIIRREEIITTOO PPRROOCCEESSSSUUAALL CCIIVVIILL IIVV –– 22001177//22ºº SSEEMM PPRROOFF.. EESSPP.. AANNDDRRÉÉ LLUUIISS CCAAMMAARRGGOO MMEELLLLOO MMAATTÉÉRRIIAA NNºº 22 11 CONEXÃO E CONTINÊNCIA Conexão é fato jurídico processual que normalmente produz o efeito jurídico de determinar a modificação da competência relativa, de modo a que um único juízo tenha competência para processar e julgar todas as causas conexas. • Revela uma relação de semelhança entre demandas, que é considerada pelo direito positivo como apta para a produção de determinados efeitos processuais. • Objetiva promover a eficiência processual e evitar a prolação de decisões contraditórias ou conflitantes. A reunião de causas em um mesmo juízo é o efeito principal e desejado, exatamente porque atende muito bem às funções da conexão. • O art. 55, § 1º, do CPC/2015, determina que as causas conexas serão reunidas para decisão conjunta. • Trata-se de norma cogente, que pode e deve ser conhecida de ofício pelo juiz o que revela ser a competência do juízo prevento absoluta (funcional). Arguível a qualquer tempo antes da sentença. • O § 3º do art. 55 do CPC/2015 traz hipótese de conexão mais flexível, que decorre do vínculo que se estabelece entre as relações jurídicas litigiosas de prejudicialidade ou preliminaridade. Ex. ação de despejo e ação de consignação de aluguéis; ação de alimentos proposta pelo filho menor e ação de guarda, busca e apreensão proposta pelo paai. • Não é possível a reunião de processos quando as causas tramitarem em juízos com competências materiais distintas ou que tramitem por procedimentos diferentes. Nessa hipótese, uma das causas deverá ser suspensa (art. 313, V, “a”, CPC/2015). • O CPC/2015, no inciso I do § 2º do art. 55, reconhece a conexão entre demanda executiva e demanda de conhecimento e entre demandas executivas. • O CPC/2015 também criou um sistema de julgamento de casos repetitivos (arts. 976 e segs.; arts. 1.036-1.041), o que revela a chamada conexão por afinidade. As causas repetitivas são aquelas em que os autores poderiam ter sido litisconsortes por afinidade, mas optaram por demandar isoladamente. • Diversos institutos processuais pressupõem conexão: cumulação de pedidos, litisconsórcio, reconvenção, modificação de competência etc. Porém, cada um com pressupostos próprios e efeitos jurídicos típicos. Continência. Relação que se estabelece entre duas ou mais ações. Identidade de partes, causa de pedir e pedido de uma mais amplo do que o da outra. Para que haja continência tem que haver conexão. Ex. pedido de anulação de contrato em uma demanda e de anulação de cláusula em outra. DDIIRREEIITTOO PPRROOCCEESSSSUUAALL CCIIVVIILL IIVV –– 22001177//22ºº SSEEMM PPRROOFF.. EESSPP.. AANNDDRRÉÉ LLUUIISS CCAAMMAARRGGOO MMEELLLLOO MMAATTÉÉRRIIAA NNºº 22 12 • O art. 57 regula a hipótese da ação maior (continente) ser anterior ou posterior à ação menor (contida). Se a continente for anterior, extingue-se a contida. Se a contida for anterior, são reunidas e julgadas conjuntamente. Qualquer das partes pode alegar a conexão/continência. Como regra o autor na inicial quando pede a distribuição por dependência (art. 286, I, CPC/2015). O réu pode alegar em preliminar de contestação. PREVENÇÃO Critério para exclusão dos demais juízos competentes de um mesmo foro ou tribunal. Não é fator de fixação de competência. • Permanecerá apenas a competência de um entre vários juízes competentes, excluindo- se os demais. Funciona como mecanismo de integração em casos de conexão: é o instrumento para que se saiba em qual juízo serão reunidas as causas conexas. • Juiz que primeiro tomou conhecimento de uma das lides coligadas por conexão ou continência (art. 58). • Juízos diferentes: a prevenção se dá com o registro (vara única) ou distribuição da petição inicial (art. 59). • Imóvel situado em mais de um Estado, comarca ou seção judiciária (art. 60). • Ações acessórias (art. 61). • Prevenção em segunda instância. • Distribuição por dependência (art. 286). CONFLITO DE COMPETÊNCIA É o fato de dois ou mais juízes se darem por competentes (conflito positivo, art. 66, I, CPC/2015) ou incompetentes (conflito negativo, art. 66, II, CPC/2015) para o julgamento da mesma causa ou de mais de uma causa (em caso de reunião por conexão, art. 66, III, CPC. • Competência para julgar o conflito é do Tribunal hierarquicamente superior. Se houver conflito entre tribunais será do STJ (art. 105, I, “d” CF/88). Competência do STF expressa no art. 102, I, “o”, da CF/88). • Legitimação para suscitar o conflito – art. 951; • Perda do direito de suscitar – art. 952; • Procedimento – art. 953 a 953. • Não se cogita conflito de competência se uma das causas já foi julgada (Súmula 59 do STJ). • As decisões proferidas pelo juízo tido como incompetente ficam, a princípio, preservadas, motivo pelo qual o Tribunal deve manifestar-se expressamente sobre a validade dos atos praticados pelo juízo incompetente. PERPETUAÇÃO DA JURISDIÇÃO Perpetuatio jurisdicionis: firmada a competência de um juiz, ela perdura até final decisão (art. 43, CPC). A regra da perpetuação da jurisdição compõe o sistema de estabilidade do processo.
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