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Exame de Ordem Direito Penal Prof. Geibson Rezende redejuris.com 2 CONTEÚDO PARTE GERAL E ESPECIAL ............................................................................................................................................ 5 1. INTRODUÇAȆO .......................................................................................................................................................... 5 2. FONTES DO DIREITO PENAL ..................................................................................................................................... 5 3. DA NORMA PENAL .................................................................................................................................................. 7 4. INTERPRETAÇAȆO E INTEGRAÇAȆO DA LEI PENAL ....................................................................................................... 9 5. PRINCI ǶPIOS GERAIS DO DIREITO, APLICAǶVEIS AO DIREITO PENAL.......................................................................... 11 6. CLASSIFICAÇAȆO DOUTRINAǶRIA DOS CRIMES ......................................................................................................... 15 7. DA APLICAÇAȆO DA LEI PENAL ................................................................................................................................ 19 8. PRINCI ǶPIO DA TERRITORIALIDADE – LEI PENAL NO ESPAÇO .................................................................................. 23 9. EXTRATERRITORIALIDADE ..................................................................................................................................... 25 10. APLICAÇAȆO DA LEI PENAL EM RELAÇAȆO ADZS PESSOAS .......................................................................................... 26 11. DISPOSIÇOȆ ES SOBRE A APLICAÇAȆO DA LEI PENAL ................................................................................................ 27 12. CONTAGEM DE PRAZO ........................................................................................................................................ 28 13. FRAÇOȆ ES NAȆO COMPUTAǶVEIS NA PENA .............................................................................................................. 28 14. LEGISLAÇAȆO ESPECIAL ......................................................................................................................................... 28 15. CONFLITO APARENTE DE NORMAS ...................................................................................................................... 29 16. TEORIA DO DELITO .............................................................................................................................................. 30 17. FATO TI ǶPICO ........................................................................................................................................................ 31 18. CRIMES DOLOSOS ................................................................................................................................................ 42 19. CRIME CULPOSO .................................................................................................................................................. 44 20. CRIME CONSUMADO E TENTADO ........................................................................................................................ 46 21. DESISTEǻNCIA VOLUNTAǶRIA E ARREPENDIMENTO EFICAZ .................................................................................... 49 22. ARREPENDIMENTO POSTERIOR ........................................................................................................................... 50 23. CRIME IMPOSSI ǶVEL .............................................................................................................................................. 51 24. DELITO QUALIFICADO PELO RESULTADO ............................................................................................................. 52 25. ERRO DE TIPO ...................................................................................................................................................... 53 Exame de Ordem Direito Penal Prof. Geibson Rezende redejuris.com 3 26. ILICITUDE OU ANTIJURIDICIDADE ........................................................................................................................ 56 27. DA CULPABILIDADE ............................................................................................................................................. 66 28. POTENCIAL CONSCIEǻNCIA DA ILICITUDE DO FATO ............................................................................................... 69 29. CONCURSO DE PESSOAS ...................................................................................................................................... 72 30. DAS PENAS .......................................................................................................................................................... 81 31. ESPEǶCIES DE PENA ............................................................................................................................................... 84 32. Direitos do preso ................................................................................................................................................. 93 33. PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS ........................................................................................................................ 95 34. PENA DE MULTA ................................................................................................................................................ 100 35. APLICAÇAȆO DA PENA ......................................................................................................................................... 102 36. CONCURSO DE CRIMES ...................................................................................................................................... 108 37. SUSPENSAȆO CONDICIONAL DA PENA – “SURSIS” ............................................................................................... 115 38. LIVRAMENTO CONDICIONAL ............................................................................................................................. 120 39. EFEITOS DA CONDENAÇAȆO ................................................................................................................................ 126 40. REABILITAÇAȆO ................................................................................................................................................... 129 41. DAS MEDIDAS DE SEGURANÇA .......................................................................................................................... 131 42. DA AÇAȆO PENAL ................................................................................................................................................ 134 43. DA EXTINÇAȆO DA PUNIBILIDADE ....................................................................................................................... 141 44. PRESCRIÇAȆO ...................................................................................................................................................... 146 DOS CRIMES CONTRA A VIDA .................................................................................................................................. 156 HOMICÍDIO (art. 121 do CP) .................................................................................................................................... 156 II – INDUZIMENTO, INSTIGAÇÃO OU AUXÍLIO A SUICÍDIO (ART. 122DO CP) ........................................................... 161 III– INFANTICÍDIO (ART. 123 DO CP) ........................................................................................................................ 162 IV – ABORTO (ARTS. 124 A 128 DO CP) .................................................................................................................... 163 V – LESÃO CORPORAL (art. 129 do CP) .................................................................................................................... 165 VI – CONDICIONAMENTO DE ATENDIMENTO MÉDICO‑HOSPITALAR EMERGENCIAL ............................................... 168 Exame de Ordem Direito Penal Prof. Geibson Rezende redejuris.com 4 VII - DOS CRIMES CONTRA A HONRA ...................................................................................................................... 173 VIII - DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO ........................................................................................................... 181 IX- DOS CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL ..................................................................................................... 200 X - DOS CRIMES CONTRA A PAZ PÚBLICA ............................................................................................................... 209 XI- DOS CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA ................................................................................................................... 213 XII – FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO PARTICULAR (ART. 298 DO CP) ...................................................................... 216 XIII- DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ......................................................................................... 224 XIV– CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL ........................................... 232 XV– CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA ............................................................................................ 241 XVI– EXERCÍCIO ARBITRÁRIO DAS PRÓPRIAS RAZÕES (art. 345 do CP) .................................................................... 246 Exame de Ordem Direito Penal Prof. Geibson Rezende redejuris.com 5 DIREITO PENAL PARTE GERAL E ESPECIAL PARTE GERAL – Art. 1 ao 120 do CP 1. INTRODUCA̧ȆO 1.1. Conceito de direito penal: EǶ o ramo do direito público que define as infracõ̧es penais (crimes e contravencõ̧es penais), estabelecendo as sancõ̧es penais (penas e medidas de seguranca̧) aplicáveis aos infratores. 1.2. Direito penal objetivo: EǶ o conjunto de normas penais editadas pelo Estado definindo crimes e contravencõ̧es penais, isto é, impondo ou proibindo determinadas condutas sob ameaca̧ de sancã̧o ou medida de seguranca̧, bem todas as outras que cuidem de questões de natureza penal, v.g., excluindo o crime, isentando de pena, explicando determinados tipos penais. 1.3. Direito penal subjetivo: EǶ o direito de punir que surge para o Estado com a prática de uma infracã̧o penal. EǶ a possibilidade que tem o Estado de criar e fazer cumprir suas normas, executando as decisões condenatórias proferidas pelo Poder Judiciário. EǶ o próprio jus puniendi, que se classifica em positivo, compreendido como o poder que tem o Estado de criar tipos penais e executar suas decisões condenatórias e negativo consubstanciado na faculdade que tem este mesmo Estado de derrogar preceitos penais e também restringir o alcance das figuras delitivas. 1.4. Legislacã̧o penal brasileira: Código Penal e leis especiais (ex.: LCP, Abuso de Autoridade, Lei de Tóxicos, Sonegacã̧o Fiscal, Porte de Arma, Crimes de Trânsito etc.). 1.5. Finalidade do direito penal: EǶ a “tutela jurıd́ica”, ou seja, a protecã̧o aos bens jurıd́icos. Nas precisas licõ̧es de Nilo Batista, “a missão do direito penal é a protecã̧o de bens jurıd́icos, através da cominacã̧o, aplicacã̧o e execucã̧o da pena.”1. A pena é simplesmente o instrumento de coercã̧o de que se vale a lei penal para a protecã̧o destes bens, valores e interesses que são considerados os mais significativos para a sociedade. 2. FONTES DO DIREITO PENAL 2.1 Conceito. Fonte, no seu sentido mais amplo, quer dizer o lugar de procedência, de onde se origina alguma coisa. Fontes no direito como sistema são todas as formas pelas quais são criadas, modificadas ou extintas as normas de um determinado ordenamento jurıd́ico. Nos dizeres de Carlos Fontań Balestra, podemos falar “em fontes do direito, atribuindo-se à palavra uma dupla significacã̧o: primeiramente, devemos entender por fonte o sujeito que dita ou do qual emana as normas jurıd́ica; em segundo lugar, o modo ou meio pelo qual se manifesta a vontade jurıd́ica, quer dizer, a forma como o Direito Objetivo se cristaliza na vida social. Esse duplo significado dá lugar à distincã̧o entre fontes de producã̧o e fontes de cognicã̧o ou conhecimento.”2. Assim, as fontes do direito penal, seguindo esta orientacã̧o, divididas em: Exame de Ordem Direito Penal Prof. Geibson Rezende redejuris.com 6 a) Fontes de producã̧o ou materiais. Sempre o Estado, através da união federal que tem competência privativa pra legislar em matéria penal (art. 22, I, CF). b) Fontes de conhecimento ou formais, subdivididas em diretas e indiretas. Fonte direta do direito penal é somente a lei. Para sabermos se determinada conduta praticada por alguém é proibida pelo direito penal, devemos recorrer exclusivamente à lei, pois que somente a ela cabe a tarefa, em obediência ao princıṕio da legalidade, de proibir comportamentos sob ameaca̧ de pena. Fontes mediatas ou indiretas do direto penal são os costumes e os princıṕios gerais do direito. Nos dizeres de Mirabete, “o costume é uma regra de conduta praticada de modo geral, constante e uniforme, com a consciência de sua obrigatoriedade.”3 Têm como finalidade auxiliar o intérprete a traduzir conceitos, tais como o repouso noturno, honra etc., para um perfeito enquadramento do fato ao tipo penal. Princıṕios gerais do direito são os que se fundam em premissas éticas extraıd́as do material legislativo e que serão analisados mais detidamente, em capıt́ulo próprio - ex. princıṕio da insignificância. Fontes do direito penal na visão do STF: Segundo oritentação do STF, as fontes do direito penal possuem uma diversa da apresentada pela doutrina tradicional até o momento, tratando como fontes diretas de conhecimentos outros institutos que não só a lei. Assim, de acordo com a suprema corte, poderímas classificar as fontes do direito penal nos seguintes termos: 1 - Imediata: a) Direito incriminador: lei, ato administrativos complementares nas normas penais em branco (portaria do m. saúde). b) Direito não incriminador: constituição, tratados internacionais, lei e jurisprudência (súmula vinculante). 2 - Mediata: a) costumes b) princípios gerais de direito. Por sua vez os costumes são assim classificados? a) Contra legem - Inaplicabilidade da norma jurıd́ica pelo desuso, pela inobservância constante e uniforme da lei (jogo do bicho). Inaceitável, porquanto não pode revogar a lei (art. 2o, §1o, LICC – Decreto-lei no 4.657/42). b) Secundum legem - Orienta a aplicacã̧o da lei penal, sempre de acordo com o caso concreto. c) Praeter legem – Objetiva preencher as lacunas e especifica o conteúdo da norma (vg honra, dignidade, decoro – art. 140). Exame de Ordem Direito Penal Prof. Geibson Rezende redejuris.com 7 Obs.1: Através do costume não se pode criar delitos nem cominarpenas – princıṕio da reserva legal (art. 5o, inc. XXXIX, CF). Isto porque o artigo 2°, caput, da Lei de Introducã̧o ao Código Civil, de forma clara e precisa determina: “não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue.” Ex. em que pese ser corriqueiro em nossa sociedade a prática do chamado Jogo do Bicho, não há possibilidade de se deixar de aplicar a lei de contravencõ̧es penais a esta prática sob o argumento que é conduta costumeira praticada de forma reiterada pela sociedade. Obs. 2: Alguns autores, a exemplo de Luiz Régis Prado, acrescentam como fontes formais mediatas do direito penal a doutrina e a jurisprudência. 3. DA NORMA PENAL 3.1. Introducã̧o. De acordo com o princıṕio da reserva legal, corolaŕio do princıṕio da legalidade, em matéria penal, pelo fato de lidarmos com o direito de liberdade do cidadão, pode-se tudo aquilo que não esteja expressamente proibido em lei, uma vez que, segundo o inciso XXXIX, do artigo 5°, da Constituicã̧o Federal, e o artigo 1° do Código Penal, não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominacã̧o legal. Isso quer significar que, embora a conduta do agente possa até ser reprovável socialmente, se não houver um tipo penal incriminador proibindo-a, ele poderá praticá-la sem que lhe seja aplicada qualquer sancã̧o de caráter penal. A lei, portanto, é a bandeira maior do Direito Penal. Sem ela, proibindo ou impondo condutas, tudo é permitido. A proibicã̧o e o mandamento, que vêm inseridos na lei, são reconhecidos como normas penais, espécies do gênero norma jurıd́ica que são aquelas cuja execucã̧o é garantida por uma sancã̧o externa e institucionalizada. 3.2. Caracterıśticas: a) Exclusividade: Somente a norma penal define crimes e comina penas (princıṕio da legalidade); b) Imperatividade: A norma penal é imposta a todos, independentemente de sua vontade; c) Generalidade: A norma penal vale para todos (“erga omnes”);; d) Impessoalidade: A norma penal é abstrata, sendo elaborada para punir acontecimentos futuros e não para punir pessoa determinada. 3.3. Classificacã̧o das normas penais: 3.3.1. Normas penais incriminadoras. São as normas para as quais são reservadas as funcõ̧es de definir as infracõ̧es penais, proibindo ou impondo condutas, sob ameaca̧ de pena. São normas penais em sentido estrito, proibitivas ou mandamentais. Preceitos da norma penal incriminadora: Exame de Ordem Direito Penal Prof. Geibson Rezende redejuris.com 8 a) Preceito primaŕio (preceptum juris): EǶ encarregado de fazer a descricã̧o detalhada e perfeita da conduta que se procura proibir ou impor (art. 155 do CP: subtrair para si ou para outrem, coisa alheia móvel). b) Preceito secundaŕio (sanctio juris): Encarregado de individualizar a pena, estipulando-a em abstrato (art. 155 do CP: Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa) 3.3.2. Normas penais não incriminadoras. São as normas penais para as quais foram atribuıd́as as finalidades de tornar lıćitas determinadas condutas; afastar a culpabilidade do agente; esclarecer determinados conceitos; e fornecer princıṕios gerais pra a aplicacã̧o da lei penal, subdivididas em: a) Permissivas justificantes, quando tem por finalidade afastar a ilicitude da conduta do agente (arts. 23, 24 e 25 do CP) b) Permissivas exculpantes, quando se destinam a eliminar a culpabilidade, isentando o agente de pena (ex., art. 26, caput, e 28 parágrafo 1°, do CP) c) Explicativas são aquelas que visam esclarecer ou explicar conceitos (arts. 327, e 150, parágrafo 4°, do CP) d) Complementares são as que fornecem princıṕios gerais para a aplicacã̧o da lei penal (art. 59 do CP) 3.3.3. Norma penal em branco ou primariamente remetidas a) Conceito. São aquelas que, embora completo o preceito secundário, a descricã̧o da conduta é vaga, incompleta, necessitando, pois, de complementacã̧o de outra disposicã̧o legal ou regulamentar (lei, decreto, regulamento, portaria, etc), Segundo Assis Toledo, “são aquelas que estabelecem a cominacã̧o penal de forma completa, mas remetem a complementacã̧o da descricã̧o da conduta proibida para outras normas legais, regulamentares ou administrativas.” b) Classificacã̧o: Normas penais em branco em sentido amplo ou homogêneas: Quando o complemento é oriundo da mesma fonte legislativa que editou a norma que necessita deste complemento (art. 297 a 302, 304, CP). A norma complementar é também lei, assim como a norma penal em branco. Ambas têm origem no Congresso Nacional. As normas penais em Branco homogênas, por sua vez podem ser assim classificadas: - Homo ou univitelina: quando o complemento está dentro da mesma lei. Art. 312 e 327 do CP - Hétero ou bivitelinas: quando o complemento advém de outra lei. Ex. Art. 236 do CP e CC Normas penais em branco em sentido estrito ou heterogêneas: Quando o complemento provém de fonte formal diversa (vg art. 32 da Lei n. 9.605/98). Neste caso, a norma complementar, integradora da norma penal em branco, é ato do poder público, mas não tem a mesma origem da lei, pois constitui, em regra, ato da autoridade administrativa. Exame de Ordem Direito Penal Prof. Geibson Rezende redejuris.com 9 Observacã̧o 1. Ha ́distincã̧o entre norma penal em branco e tipos abertos. Em ambas as hipóteses a descricã̧o é vaga. Nos tipos abertos, porém, a complementacã̧o é realizada pela jurisprudência e pela doutrina, por não conterem a determinacã̧o dos elementos do dever jurıd́ico cuja violacã̧o significa realizacã̧o do tipo, tal como ocorre nos crimes culposos e nos crimes omissivos impróprios. Ja ́ em relacã̧o à norma penal em branco, o complemento decorre sempre de ato do poder público. Observacã̧o 2. Há divergência doutrinária quanto à ofensa ao princıṕio da legalidade pelas normas penais em branco em sentido estrito, prevalecendo entendimento no sentido de que não ha ́ tal incompatibilidade, uma vez que o próprio legislador permitiu tal construcã̧o legal. 3.3.4. Normas penais incompletas ou imperfeitas são aquelas que para saber a sancã̧o imposta pela transgressão de seu preceito primário o legislador nos remete a outro texto de lei. Pela leitura do tipo penal incriminador, verifica-se o conteúdo da proibicã̧o ou do mandamento, mas para se saber a conseqüência jurıd́ica é preciso se deslocar a outro tipo penal. (art. 304 do CP) Observacã̧o: anomia ocorre quando para determinada conduta não existe nenhuma norma legal que a proıb́a, ou quando exista tal norma a sociedade não lhes dá o devido valor, desrespeitando-a; antinomia éa situacã̧o que se verifica entre duas normas incompatıv́eis, pertencentes ao mesmo ordenamento jurıd́ico e tendo o mesmo âmbito de validade. 4. INTERPRETACA̧ȆO E INTEGRACA̧ȆO DA LEI PENAL Interpretar é buscar o efetivo alcance da norma. EǶ procurar descobrir aquilo que ela tem a nos dizer com maior precisão possıv́el. Como toda norma jurıd́ica, a norma penal não pode prescindir do processo exegético, tendente a explicar-lhe o verdadeiro sentido, o justo pensamento, a real vontade, a exata razão finalıśtica, quase nunca devidamente expressos com todas as letras. 4.1. Espécies de interpretacã̧o. a) Quanto ao sujeito que interpreta a lei: Autêntica – EǶ dada pela própria lei, a qual, em um dos seus dispositivos, esclarece determinado assunto. Subdivide-se em contextual, que é realizada no mesmo momento em que é editado o diploma legal que se procura interpretar (ex. artigo 327 do CP) e posterior, quando a interpretacã̧o é realizada pela lei depois da edicã̧o de um diploma legal anterior; Doutrinaŕia – EǶ feita pelos estudiosos, professores e autoresde obras de direito, através de seus livros, artigos, conferências, palestras etc. EǶ conhecida como communis opinio doctorum. Não é de obediência obrigatória. Judicial – EǶ feita pelos tribunais e juıźes em seus julgamentos, realizada intra-autos, ou seja, sempre no bojo dos processos, nunca fora deles. Não vincula a decisão dos demais juıźes e tribunais, devendo-se levar em consideracã̧o que a o artigo 103-A, acrescido pela EC n. 45 de 2004, concedeu efeito vinculante às súmulas editadas pelo Supremo Tribunal Federal, quando editadas com esta finalidade. Exame de Ordem Direito Penal Prof. Geibson Rezende redejuris.com 10 b) Quanto ao modo: Gramatical – Leva em conta o sentido literal das palavras contidas na lei. Ex. o significado da expressão alguém no crime de homicıd́io – art. 121 do CP; Teleológica – Busca descobrir o seu significado através de uma análise acerca dos fins a que ela se destina. A interpretacã̧o lógica ou teleológica consiste na indagacã̧o da vontade ou intencã̧o realmente objetivada na lei e para cuja revelacã̧o é, muitas vezes, insuficiente a interpretacã̧o gramatical. Ex. art. 59 do CP; Histórica – avalia os debates que envolveram sua aprovacã̧o e os motivos que levaram à apresentacã̧o do projeto de lei; Sistemat́ica – Busca o significado da norma através de sua integracã̧o com os demais dispositivos de uma mesma lei e com o sistema jurıd́ico como um todo. Nesta interpretacã̧o intérprete deve levar em consideracã̧o dispositivo legal no qual está contido, e não de forma isolada. Interpreta-se com os olhos voltados para o todo, e não somente parte dele. Ex. o crime de latrocıńio e a competência do juıźo singular para o processo e julgamento deste delito. c) Quanto ao resultado: Declarativa – Quando se conclui que a letra da lei corresponde exatamente àquilo que o legislador quis dizer. Neste tipo de interpretacã̧o, o intérprete não amplia nem restringe o seu alcance, mas apenas declara a vontade da lei. Ex. art. 141, III do CP; Restritiva – Quando se conclui que o texto legal abrangeu mais do que queria o legislador (por isso a interpretacã̧o irá restringir seu alcance). Nesta, pois, o intérprete diminui, restringe o alcance da lei, uma vez que ela, a primeira vista, disse mais do que efetivamente pretendia dizer. Ex. art. 28, II do CP; Extensiva – Quando se conclui que o texto da lei ficou aquém da intencã̧o do legislador (por isso a interpretacã̧o irá ampliar sua aplicacã̧o). Ex art. 235 do CP (bigamia), abrange obrigatoriamente a poligamia. d) Interpretacã̧o analógica (“intra legem”). O legislador, em determinadas passagens do Código penal, por não poder prever todas as situacõ̧es que poderiam ocorrer na vida em sociedade, e que seriam similares àquelas por ele já elencadas, permitiu, expressamente a utilizacã̧o de um recurso, que também amplia o alcance da norma penal, conhecido como interpretacã̧o analógica. Este recurso é possível quando, dentro do próprio texto legal, após uma seqüência casuıśtica, o legislador se vale de uma fórmula genérica, que deve ser interpretada de acordo com os casos anteriores - ex.: o crime de “estelionato”, de acordo com a descricã̧o legal, pode ser cometido mediante artifıćio, ardil ou “qualquer outra fraude”;; o art. 28, II, estabelece que não exclui o crime a embriaguez por álcool ou por “substâncias de efeitos análogos”. e) Analogia. A analogia não é forma de interpretacã̧o da lei penal, mas um método de auto-integracã̧o da norma. Consiste em se aplicar a uma hipótese não regulada por lei, disposicã̧o relativa a um caso semelhante. Tem por fundamento ubi eadem ratio, ibi eadem jus (onde existe a mesma razão fundamental prevalece a mesma regra de direito). Consiste em aplicar a uma hipótese não prevista em lei (lacuna Exame de Ordem Direito Penal Prof. Geibson Rezende redejuris.com 11 da lei) a disposicã̧o relativa a um caso semelhante - ex.: o legislador, através da lei A, regulou o fato B; o julgador precisa decidir o fato C; procura e não encontra no direito positivo uma lei adequada a este fato; percebe, porém, que há pontos de semelhanca̧ entre o fato B (regulado) e o fato C (não regulado); então, através da analogia, aplica ao fato C a lei A; é forma de integracã̧o da lei penal e não forma de interpretacã̧o; em matéria penal, ela só pode ser aplicada em favor do réu (analogia “in bonam partem”), e ainda assim se ficar constatado que houve mera omissão involuntária (esquecimento do legislador) - ex.: Aplicacã̧o do perdão judicial previsto no art. 121, § 5°, do CP, ao artigo 303 do Código de Trânsito Brasileiro (homicídio culposo). f) Distincã̧o entre analogia e interpretacã̧o analógica Na analogia, omissa a lei, parte-se da solucã̧o nela prevista para certo caso, chegando-se à validade da norma para aquele caso análogo, mas sem previsão legal. Na interpretacã̧o analógica (permitida pela própria lei) é o próprio dispositivo que determina que se aplique analogicamente preceito. Na primeira, não é vontade da lei abranger os casos semelhantes; na segunda, a própria lei, após definir a fórmula casuıśtica, menciona os casos que devem ser compreendidos por semelhanca̧. A diferenca̧ está na vontade da lei. (vg: outro recurso análogo à traicã̧o, emboscada e dissimulacã̧o – art. 61, II, c). 5. PRINCI ǶPIOS GERAIS DO DIREITO, APLICAǶVEIS AO DIREITO PENAL 5.1. Princıṕio da intervencã̧o mıńima Segundo este princıṕio, o Direito Penal só deve preocupar-se com os bens mais importantes e necessários à vida em sociedade. Serve de limitacã̧o ao poder punitivo estatal, orientando o legislador não só na selecã̧o dos bens a serem protegidos e tutelados pelo direito penal, mas também na descriminalizacã̧o de condutas que, com o passar do tempo, perderam relevância perante a sociedade e não mais necessitam da intervencã̧o deste ramo do direito para a pacificacã̧o social. Segundo este princıṕio o direito penal tem caráter subsidiário, só podendo atuar quando os demais ramos do direito não forem suficientes para resolver o conflito de interesses. Não há, pois, necessidade de intervencã̧o do direito penal na contenda existente entre locatário e locador pra resolver questões relativas ao não pagamento do aluguel, o Direito Civil, por si só, é suficiente para resolver o conflito de interesses daı ́ resultante. Deste princıṕio decorrem outros quatro, a saber: a) Princıṕio da lesividade. O princıṕio da intervencã̧o mıńima e da lesividade são como duas faces de uma mesma moeda. Se de um lado, a intervencã̧o mıńima somente permite a interferência do direito penal quando estivermos diante de ataques a bens jurıd́icos importantes, o princıṕio da lesividade nos esclarecerá, limitando mais ainda o poder do legislador, quais são as condutas que poderão ser incriminadas pela lei penal. Este princıṕio, cuja origem se atribui ao perıódo iluminista, procurou desfazer a confusão entre direito e moral, possui, quatro funcõ̧es: Proibir a incriminacã̧o de uma atitude interna; Exame de Ordem Direito Penal Prof. Geibson Rezende redejuris.com 12 Proibir a incriminacã̧o de uma conduta que não exceda o âmbito do próprio autor; Proibir a incriminacã̧o de simples estados ou condicõ̧es existenciais; Proibir a incriminacã̧o de condutas desviadas que não afete qualquer bem jurıd́ico. b) Princıṕio da adequacã̧o social da conduta Segundo Hanz Welzel, citado por Luis Régis Prado, “a teoria da adequacã̧o social, significa que apesar de uma conduta se subsumir ao modelo legal (tipicidade formal) não sera ́ considerada tıṕica (tipicidadematerial) se for socialmente adequada ou reconhecida, isto é, se estiver de acordo com a ordem social da vida historicamente condicionada.” Este princıṕio possui precipuamente, duas funcõ̧es: A primeira visa restringir o âmbito de abrangência do tipo penal, limitando a sua interpretacã̧o, e dele excluir as condutas consideradas socialmente adequadas e aceitas pela sociedade; A segunda é dirigida ao legislador em duas vertentes: a) orientar na selecã̧o das condutas que mereca̧m tutela penal; b) orientar o legislador a retirar da protecã̧o penal as condutas que são consideradas socialmente adequadas (art. 240 do CP). Obs.: O Princıṕio da adequacã̧o social da conduta, assim como os costumes como fonte formal mediata do direito penal, não tem poderes para revogar tipos penais, em obediência ao principio constitucional da legalidade, em que pese posicionamento jurisprudencial e doutrinário em sentido contrário. c) Princıṕio da insignificância Este princıṕio é endereca̧do tanto ao legislador quando ao julgador. Fundamenta-se na determinacã̧o de que o Direito penal não deve se preocupar com bagatelas. Ao legislador na determinacã̧o de impedir a tutela de bens de ıńfimo valor, ao juiz, para desconsiderar a tipicidade material de determinadas condutas. Assim, como nem sempre é Possıv́el à técnica legislativa excluir dos tipos penais determinados bens, pela impossibilidade de graduacã̧o dentro do próprio tipo, cabe ao juiz, dentro de uma acurada técnica de hermenêutica, afastar do alcance do Direito Penal as condutas que violem bens dessa natureza. Desta forma, para que possamos saber qual é, de fato, a integridade corporal a ser protegida pelo artigo 129 do CP, devemos nos recorrer a um estudo aprofundado da tipicidade penal. Por primeiro devemos indagar: a tutela penal prevista no artigo 129, parágrafo 6°, do CP, abrange a conduta do agente que, negligentemente, ao dar ré em seu veıćulo automotor para sair de casa, causa pequeno arranhão de 2 cm em um pedestre que transitava pela calca̧da? (exemplo trazido por Rogério Greco). Segundo este autor, a primeira pergunta que nos deve vir à mente é a seguinte: será que o condutor do veıćulo ofendeu culposamente a integridade fıśica daquele pedestre, devendo, portando, responder pelo fato praticado nos termos do artigo 303 do Código de Trânsito Brasileiro, que prevê expressamente tal infracã̧o penal? Obviamente que não, o que torna o fato atıṕico, por ausência de tipicidade material (matéria a ser analisada mais detalhadamente em capıt́ulo próprio). Exame de Ordem Direito Penal Prof. Geibson Rezende redejuris.com 13 O princípio da insignificância encontra na doutrina moderna a seguinte classificação: - Insignificância própria: torna o fato atípico por ausência de tipicidade material. Para que seja reconhecida a insignificância própria é necessário que a conduta do agente seja pouco reprovável perante a sociedade (ausência de reiteração, ou seja, que o fato seja isolado. Ex. um único furto) e que a lesão ao bem jurídico também seja mínima (Ex. subtração de um frasco de shampoo no valor de 5 reais de uma grande rede de supermercado). Para o reconhecimento, portanto, é indispensável a presença dos requisitos. - Insignificância imprópria: nesta hipótese o fato praticado pelo agente é crime, ou seja, típico, ilícito e culpável. Entretanto a pena se apresenta desnecessária em razão de vários fatores legais ou supra legais. Ex. escusa absolutória prevista no artigo 181 do CP. Nesta hipótese, quando o ascendente subtrai do ascendente, sem violência ou grave ameaça, em que pese o crie existir, o legislador, por questão de política criminal, deixa de aplicar a pena. Requisitos para o reconhecimento do princípio da insignificância na visão do STF: d) Princıṕio da fragmentariedade O caráter fragmentário do Direito Penal significa que uma vez escolhidos os bens jurıd́icos fundamentais tuteláveis por este ramo do ordenamento jurıd́ico, eles passarão a fazer parte de uma pequena parcela que é protegida pelo Direito Penal. EǶ uma conseqüência lógica da adocã̧o do princıṕio da intervencã̧o mıńima. 5.2. Princıṕio da individualizacã̧o da pena. Art. 5°, XLVI, da Constituicã̧o Federal cuida do referido princıṕio, assim preconizando: “a lei regulará a individualizacã̧o da pena e adotará, entre outras, as seguintes: Privacã̧o ou restricã̧o de liberdade; Perda de bens; Multa; Prestacã̧o de social alternativa; Suspensão ou interdicã̧o de direitos.” Desta forma, podemos concluir que a individualizacã̧o da pena ocorre em dois momentos, a saber: a) Quando o legislador, para a conduta punıv́el, escolhe a pena necessária e suficiente pra reprovacã̧o e prevencã̧o da infracã̧o penal em abstrato, cominando pena mıńima e máxima em seu preceito secundário, que variam de acordo com a importância do bem a ser tutelado. EǶ o momento polıt́ico de individualizacã̧o da pena. Ex. Art. 121. Matar algueḿ. Pena – reclusão, de 6 (seis) a 20 (vinte) anos. b) Quando feito pelo julgador e leva em consideracã̧o o fato concreto, obedecendo-se ao critério trifásico do artigo 68 do CP. Exame de Ordem Direito Penal Prof. Geibson Rezende redejuris.com 14 5.3. Princıṕio da proporcionalidade Da mesma forma que o princıṕio da individualizacã̧o da pena, o princıṕio da proporcionalidade é dirigido tanto ao legislador quando ao juiz. Segundo este princıṕio, a pena aplicável ao cidadão deve ser, essencial, pública, pronta, necessária, suficiente, a menor das penas aplicáveis nas circunstâncias referidas, proporcional ao delito e determinada por lei. Ao legislador cabe procurar alcanca̧r a proporcionalidade em abstrato, cominando penas semelhantes a fatos semelhantes e penas distintas a fatos igualmente distintos em gravidade. Ao julgador cabe velar pela proporcionalidade em concreto, nos moldes do artigo 68 do CP. Assim, por exemplo, se depois de analisar, isoladamente, as circunstâncias judiciais, o juiz concluir que todas são favoráveis ao agente, jamais poderá determinar a pena-base na quantidade máxima cominada ao delito por ele cometido, o que levaria, ao final de todas as três fases, a aplicar uma pena desproporcional ao fato praticado. 5.4. Princıṕio da responsabilidade pessoal Previsto no inc. XLV do artigo 5°, da Constituicã̧o Federal, nos seguintes termos: “Nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigacã̧o de Reparar o dano e a decretacã̧o do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, ate ́o limite do valor do patrimon̂io transferido.” Em virtude de tal princıṕio, também conhecido como princıṕio da pessoalidade ou da intranscendência da pena, somente o condenado é que tera ́de se submeter a sancã̧o que lhe foi imposta. Isto significa que em matéria penal, somente ele, e mais ninguém, poderá responder pela infracã̧o penal praticada. Qualquer que seja a natureza da penalidade aplicada (privativa de liberdade, restritiva de direitos ou multa) somente o condenado é que poderá cumpri-la. O princıṕio da personalidade da pena, entretanto, possui excecõ̧es. A primeira de ordem legal constitucional, quando permite que a pena de perda de valores ou bens possa ser executada contra os herdeiros do sentenciado, até o montante do patrimônio transferido. E a segunda de ordem prática, quando não impedem que uma terceira pessoa efetue o pagamento das penas consideradas pecuniárias impostas ao condenado (multa e prestacã̧o pecuniária estrictu sensu). 5.5. Princıṕio da Limitacã̧o das Penas EǶ a própria Constituicã̧o Federal que, visando impedir qualquer tentativa de retrocessoquanto à cominacã̧o das penas levadas a efeito pelo legislador e para atender a um dos fundamentos de nosso Estado Democrático de Direito, previsto no inc. III, do artigo 1° (dignidade da pessoa humana), que preceitua no inc. XLVII do art. 5°: “Não haverá penas: De morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do artigo 84, XIX; De caráter perpet́uo; De trabalhos forca̧dos; Exame de Ordem Direito Penal Prof. Geibson Rezende redejuris.com 15 De banimento; Crueís.” 5.6. Princıṕio de humanidade Com base neste principio a Constituicã̧o Federal afasta, expressamente, qualquer pena ou método que possa infligir padecimento fıśico ou moral ao ser humano. São vedadas as galés, banimentos, torturas e outras penas desta espécie. A constituição Federal garante aos presos o respeito à integridade fıśica e moral (art. 5o, XLIX), condicõ̧es para que as presidiárias possam permanecer com seus filhos durante o perıódo de amamentacã̧o (L), além de proibir as penas de caráter perpétuo, de trabalhos forca̧dos, de banimento, cruéis, e de morte, salvo, nesta última, em caso de guerra declarada (XLVII). Afora essas garantias, instituiu tipos penais com penas graves aos autores de crime de tortura (Lei no 9455/97). Na aplicação da pena o juiz não pode desprezar tais garantias, sob pena de violar o princıṕio expresso e desvirtuar a finalidade da pena. 5.7. Princıṕio da Culpabilidade Culpabilidade é o juıźo de censura, de reprovabilidade que se faz sobre o injusto penal (fato típico e ilícito) praticado pelo agente. Reprovável ou censurável é aquela conduta que levada a efeito pelo agente que, nas condicõ̧es em que se encontrava, podia agir de outro modo. EǶ o juıźo de uma reprovacã̧o jurıd́ica que se apóia sobre a crenca̧, fundada na experiência do dia-a-dia, de que ao homem é dada a possibilidade de, em certas circunstâncias, agir de outro modo. Trata-se de um princípio constitucional implícito, podendo ser extraıd́o do texto constitucional, principalmente, através do chamado princıṕio da dignidade da pessoa humana. Este princípio possui três funções básicas: a) Integra o conceito analítico de crime (fato típico, ilícito e culpável); b) Serve como instrumento de dosagem da pena; c) Impede a aplicação da responsabilidade penal objetiva em matéria penal. 5.8. Princıṕio do “in dubio pro reo”. Se persistir dúvida, após a utilizacã̧o de todas as formas interpretativas, a questão deverá ser resolvida da maneira mais favorável ao réu. 6. CLASSIFICACA̧ȆO DOUTRINAǶRIA DOS CRIMES 6.1. Instantâneo. EǶ aquele cuja consumacã̧o ocorre em um só instante, sem continuidade temporal. Tem momento consumativo definido. Instantâneo não significa praticado rapidamente, mas significa que uma vez realizados seus elementos constitutivos, nada mais se poderá fazer para impedir sua ocorrência. Ex.: “estupro”. 6.2. Permanente – EǶ aquele cujo momento consumativo se prolonga no tempo por vontade do agente, que poderá cessar quando este quiser. Ex.: “seques troo”. 6.3. Instantâneo de efeitos permanentes – EǶ aquele cuja consumacã̧o se da ́em determinado instante, mas seus efeitos são irreversıv́eis - ex.: “homicıd́io”. Exame de Ordem Direito Penal Prof. Geibson Rezende redejuris.com 16 6.4. Comissivo – EǶ aquele praticado através de uma acã̧o positiva, visando um resultado tipicamente ilıćito, ou seja, no fazer o que a lei proıb́e. A maioria dos delitos previstos no Código Penal e na legislacã̧o extravagante é constituıd́a pelos delitos de acã̧o, isto é, pelos delitos comissivos. 6.5. Omissivo próprio – Consiste no fato de o agente deixar de realizar determinada conduta, tendo a obrigacã̧o jurıd́ica de fazê-lo; configura-se com a simples abstencã̧o da conduta, quando podia e devia realizá-la, sem risco pessoal, independentemente da producã̧o do resultado. 6.6. Omissivo impróprio (ou comissivos por omissão) – Neste tipo de delito, a omissão é o meio pelo qual o agente produz o resultado, que tinha do dever jurıd́ico de evitá-lo. Nestes crimes, o agente responde não pela omissão simplesmente, mas pelo resultado desta decorrente, a que estava, juridicamente, obrigado a impedir (art. 13, parágrafo 2°, do C). Ex.: a mãe, que tinha o dever jurıd́ico de alimentar seu filho, deixa de fazê-lo, provocando a morte da crianca̧ (a simples conduta de deixar de alimentar não constitui crime, mas o resultado morte que dela decorre constitui infracã̧o penal). 6.7. Material ou de resultado naturalıśtico – EǶ o que descreve a conduta cujo resultado integra o próprio tipo penal, isto é, sendo indispensável para a sua consumacã̧o a producã̧o de um dano efetivo. O fato se constitui da conduta humana e da modificacã̧o do mundo exterior por ele operada. A não- ocorrência do resultado caracteriza tentativa. Nos crimes materiais a acã̧o e o resultado são, ou podem ser, cronologicamente distintos. Ex. Homicıd́io, furto, estelionato. 6.8. Formal – No crime formal o tipo penal também descreve o resultado, que, contudo, não precisa verificar-se para ocorrer à consumacã̧o. Basta a acã̧o do agente e a vontade de concretizá-lo. Consuma-se o crime no momento da acã̧o, independentemente da producã̧o do resultado, sendo este, mero exaurimento do delito. Ex.: “extorsão mediante seques troo”. 6.9. De mera conduta - A lei descreve apenas uma conduta e, portanto, consuma-se no exato momento em que esta é praticada. Não há descricã̧o de resultado pelo tipo penal. Ex.: “violacã̧o de domicıĺio”. 6.10. De dano – São aqueles que pressupõem uma efetiva lesão ao bem jurıd́ico tutelado - ex.: “homicıd́io”, “furto”. 6.11. De perigo – São aqueles que se consumam com a mera situacã̧o de risco a que fica exposto o objeto material do crime - ex.: “periclitacã̧o de vida e da saúde”, “rixa”. Se subdividem em: a) Abstrato (ou presumido) – A lei descreve uma conduta e presume que o agente, ao realizá- la, expõe o bem jurıd́ico a risco; trata-se de presuncã̧o absoluta (não admite prova em contrário), bastando à acusacã̧o provar que o agente praticou a conduta descrita no tipo para que se presuma ter havido a situacã̧o de perigo - ex.: “omissão de socorro”. b) Concreto – Nesses delitos a acusacã̧o tem de provar que pessoa certa e determinada foi exposta a uma situacã̧o de risco em face da conduta do sujeito; há que se provar que o perigo efetivamente ocorreu, pois este não é presumido - ex.: “periclitacã̧o de vida e da saúde” c) Individual – São os que expõem a risco o interesse de uma só pessoa ou de grupo limitado de pessoas - exs.: arts. 130 a 137. d) Comum (ou coletivo) – São os que expõem a risco o interesse de número indeterminado de pessoas - exs.: arts. 250 a 259. 6.12. Comuns – São aqueles que podem ser praticados por qualquer pessoa - exs.: “furto”, “roubo”, “homicıd́io”. Exame de Ordem Direito Penal Prof. Geibson Rezende redejuris.com 17 6.13. Próprios ou especial – São os que só podem ser cometidos por determinada categoria de pessoas, por exigir o tipo penal certa qualidade ou caracterıśtica do sujeito ativo. Pode ser condicã̧o jurıd́ica (acionista); profissional ou social (comerciante); natural (gestante, mãe); parentesco (descendente). Exs.: “infanticıd́io”, “corrupcã̧o passiva”. 6.14. De mão própria ou de atuacã̧o pessoal – São aqueles cuja conduta descrita no tipo penal só pode ser executada por um único indivıd́uo, não admitindo interposta pessoa e, por isso, não admitem co-autoria, mas apenas a participacã̧o. Ex.: “falso testemunho”. Obs.: Segundo Damásio “a diferenca̧ existente entre crime próprio e de mão própria, consiste no fato de que, nos crimes próprios, o sujeitoativo pode determinar a outrem a sua execucã̧o (autor), embora possam ser cometidos apenas por um número limitado de pessoas; nos crimes de mão-própria, embora possa ser praticado por qualquer pessoa, ninguém os comete por intermédio de interposta pessoa.” 6.15. Principais – São aqueles que não dependem de qualquer outra infracã̧o penal para que se configurem - ex.: “homicıd́io”, “furto”. 6.16. Acessórios – São aqueles que pressupõem a ocorrência de um delito anterior - ex.: “receptacã̧o”. 6.17. Simples – Protegem um único bem jurıd́ico - ex.: “homicıd́io” (visa-se à protecã̧o da vida), “furto” (protege-se o patrimônio). 6.18. Complexos – Surgem quando ha ́ fusão de 2 ou mais tipos penais, ou quando um tipo penal funciona como qualificadora de outro; a norma penal tutela 2 ou mais bens jurıd́icos - Exs.: “extorsão mediante seques troo” (surge da fusão do “seques troo” e da “extorsão” e, portanto, tutela o patrimônio e a liberdade individual), “latrocıńio” (é um roubo qualificado pela morte e, assim, atinge também 2 bens jurıd́icos, o patrimônio e a vida). 6.19. Progressivos – Ocorrem quando o sujeito, para alcanca̧r um resultado mais grave, passa por um crime menos grave - ex.: para causar a morte da vıt́ima, o agente necessariamente tem de lesioná-la. 6.20. Putativo – Dá-se quando o agente imagina que a conduta por ele praticada constitui crime, mas, em verdade, é um fato atıṕico. 6.21. Falho (ou tentativa perfeita) – Ocorre quando o agente percorre todo o “iter criminis”, mas não consegue consumar o crime. 6.22. Exaurido – Nos crimes formais, a lei descreve uma acã̧o e um resultado, mas dispensa a efetivacã̧o deste para que o crime se consume; assim, os crimes formais se consumam no momento da acã̧o; o crime, entretanto, estará exaurido se, após a acã̧o, efetivamente ocorrer o resultado - ex.: “extorsão mediante seques troo” (consuma-se no momento do seques troo, independentemente da obtencã̧o do resgate; entretanto, se os familiares da vıt́ima efetivamente o pagarem, o crime estara ́ exaurido). 6.23. Vago – São os que têm como sujeito passivo entidades sem personalidade jurıd́ica, como a famıĺia, a sociedade etc. 6.24. Simples – EǶ aquele em cuja redacã̧o o legislador enumera as elementares do crime em sua figura fundamental - ex.: “matar alguém” é a descricã̧o do crime de “homicıd́io simples”. 6.25. Privilegiado – Configura-se quando o legislador, após a descricã̧o do delito, estabelece circunstâncias com o condão de reduzir a pena - ex.: se o “homicıd́io” for praticado por motivo de relevante valor social ou moral, a pena será reduzida de 1/6 a 1/3. Exame de Ordem Direito Penal Prof. Geibson Rezende redejuris.com 18 6.26. Qualificado – EǶ aquele ao qual a lei acrescenta circunstâncias que alteram a própria pena em abstrato para patamar mais elevado - ex.: a pena do “homicıd́io simples” é de reclusão, de 6 a 20 anos; se o crime for praticado por motivo fútil, a qualificadora fará com que a pena passe a ser de reclusão, de 12 a 30 anos. 6.27. De acã̧o múltipla (ou de conteúdo variado) – São aqueles em relacã̧o aos quais a lei descreve várias condutas (possui vários verbos) separadas pela conjuncã̧o alternativa “ou”;; nesses casos, a prática de mais de uma conduta, em relacã̧o à mesma vıt́ima, constitui crime único - ex.: “participacã̧o em suicıd́io” (ocorre quando alguém induz, instiga ou auxilia outrem a cometer suicıd́io). 6.28. De acã̧o livre – EǶ aquele que pode ser praticado por qualquer meio de execucã̧o, uma vez que a lei não exige comportamento especıf́ico - ex.: o “homicıd́io” pode ser cometido através de disparo de arma de fogo, golpe de faca, com emprego de fogo, veneno, explosão, asfixia etc. 6.29. De acã̧o vinculada – São aqueles em relacã̧o aos qual a lei descreve o meio de execucã̧o de forma pormenorizada - ex.: “maus-tratos” (a lei descreve em que devem consistir os maus-tratos para que caracterizem o delito). 6.30. Habitual – EǶ aquele cuja caracterizacã̧o pressupõe uma reiteracã̧o de atos - ex.: “curandeirismo” (a prática de um ato isolado é atıṕica). 6.31. Conexos – A conexão pressupõe a existência de pelo menos duas infracõ̧es penais, entre as quais exista um vıńculo qualquer; por conseqüência, haverá a exasperacã̧o da pena e a necessidade de apuracã̧o dos delitos em um só processo; as hipóteses de conexão estão descritas no art. 76 do CPP. 6.32. ADZ distância – EǶ aquele em relacã̧o ao qual a execucã̧o ocorre em um paıś e o resultado em outro. 6.33. Plurilocais – EǶ aquele em que a execucã̧o ocorre em uma localidade e o resultado em outra, dentro do mesmo paıś. 6.34. ADZ prazo – Ocorre quando a caracterizacã̧o do crime ou de uma qualificadora depende do decurso de determinado tempo - exs.: “apropriacã̧o de coisa achada” (somente se aperfeico̧a se o agente não devolve o bem à vıt́ima depois de 15 dias do achado), “extorsão mediante seqüestro” é qualificado se a privacã̧o da liberdade dura mais de 24 horas. 6.35. Quase-crime – Dá-se nas hipóteses de crime impossıv́el (art. 17) e participacã̧o impunıv́el (art. 31). 6.36. Unissubsistente – EǶ aquele cuja acã̧o é composta por um só ato e, por isso, não admitem a tentativa - ex.: “injúria verbal”. 6.37. Plurissubsistente – EǶ aquele cuja acã̧o é representada por vários atos, formando um processo executivo que pode ser fracionado e, assim, admite a tentativa - exs.: “homicıd́io”, “furto” etc. 6.38. Monossubjetivos – São aqueles que podem ser cometidos por uma só pessoa - ex.: “homicıd́io”. 6.39. Plurissubjetivos – São aquele que só podem ser praticados por duas ou mais pessoas; são crimes de concurso necessário - ex.: “associação criminosa”, “rixa”, “bigamia”. 6.40. Doloso – O agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo. 6.41. Culposo – Quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperıćia. 6.42. Preterdoloso – Ha ́ dolo no antecedente (na figura fundamental) e culpa no conseqüente (no resultado mais grave). O agente quer um minus e produz um majus 6.43. Consumado – Quando nele se reúnem todos os elementos de sua definicã̧o legal. 6.44. Tentado – Quando, iniciada a execucã̧o, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente. Exame de Ordem Direito Penal Prof. Geibson Rezende redejuris.com 19 6.45. Impossıv́el – Por ineficácia absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do objeto. 6.46. De flagrante provocado - Quando o agente é levado à acã̧o por instigacã̧o de alguém que, ao mesmo tempo, toma todas as medidas para evitar a consumacã̧o do delito, com a prisão em flagrante do agente; não há crime quando a preparacã̧o do flagrante pela polıćia torna impossıv́el sua consumacã̧o (Súmula 145, do STF). 6.47. De flagrante esperado - O fato chega antecipadamente ao conhecimento de alguém, que não impede a realizacã̧o da acã̧o, mas toma providências para que haja prisão em flagrante no momento da consumacã̧o; alguns entendem haver tentativa no caso de crime material e consumacã̧o no caso de crime formal ou de mera conduta; outros acham não ser crime aplicando a súmula 145, STF. 6.48. Funcional - EǶ o praticado por funcionário público, desde que o fato tenha relacã̧o com as suas funcõ̧es. 6.49. De responsabilidade: a) Em sentido estrito – São os que podem ser praticados não por funcionários públicos em geral, mas apenas por certos agentes detentores do poder polıt́ico da Nacã̧o. b) Em sentido amplo – Abrangem tanto os crimes de responsabilidade em sentido estrito, como os crimes funcionais próprios e impróprios. 7. DA APLICACA̧ȆO DA LEI PENAL 7.1. Princıṕio da legalidade a) Conceito: art. 1o, CP e 5°, XXXIX, CF – “Não hácrime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominacã̧o legal”. EǶ o princıṕio da legalidade, sem dúvida alguma, o mais importante do Direito Penal. Conforme se pode perceber dos dispositivos legais supra mencionados, não se fala na existência de crime se não houver uma lei definido como tal. A lei é a única fonte do direito penal quando se quer proibir ou impor condutas sob ameaca̧ de sancã̧o. Tudo o que não for expressamente proibido é lıćito em direito penal. A doutrina subdivide o princıṕio da legalidade em: Princıṕio da anterioridade - Uma pessoa só pode ser punida se, à época do fato por ela praticado, ja ́ estava em vigor a lei que descrevia o delito; assim se consagra a irretroatividade da norma penal, salvo a excecã̧o do art. 3°; Princıṕio da reserva legal - Apenas a lei em sentido formal pode descrever condutas criminosas; é proibido ao legislador se utilizar de decretos, medidas provisórias ou outras formas legislativas para incriminar condutas. Neste rol devemos incluir as Leis-delegadas. Princípio da Taxatividade. Este princípio determina que o legislador ao descrever a conduta criminosa deve ser clara, precisa e objetiva. Este princípio proíbe a descrição vaga ou lacunosa da infração penal. Os tipos penais devem ser, portanto, fechados. b) Finalidades do princípio da legalidade: Proibir a retroatividade da lei penal (nullum crimen sine lege praevia); Exame de Ordem Direito Penal Prof. Geibson Rezende redejuris.com 20 Proibir a criacã̧o de crimes e penas pelos costumes (nulla poena sine lege scripta); Proibir o emprego de analogia para criar crimes, fundamentar ou agravar penas (nullum crimen nulla poena sine lege stricta); Proibir incriminacõ̧es vagas e indeterminadas (nullun crimen nulla poena sine lege certa) A legalidade, em obediência ao princípio, deve ser estrita. A estrita legalidade só será atingida se forem obedecidos os requisitos da Legalidade formal e legalidade material. Podemos assim conceitua-las: Legalidade formal é a obediência aos trâmites procedimentais previstos pela Constituicã̧o para que determinado diploma legal possa vir a fazer parte de nosso ordenamento jurıd́ico. Aqui estamos diante da mera legalidade Legalidade material é a obediência ao conteúdo da norma, respeitando-se suas proibicõ̧es e imposicõ̧es para a garantia de nossos direitos fundamentais por ela previstos. Aqui nos defrontamos com a estrita legalidade. Obs. 1: Por forca̧ do artigo art. 62, parágrafo 1°, alıńea b, da Constituicã̧o Federal, está vedada a possibilidade de edicã̧o de medida provisória versando sobre matéria penal. Observação importante é que o STF já decidiu no sentido de permitir que Medidas Provisórias podem tratar de matéria penal, desde que favoráveis ao réu; Obs. 2: Medida de Seguranca̧ e anterioridade da lei. A atual Constituicã̧o Federal, ao contrário das anteriores, veda expressamente a retroatividade da lei penal, salvo para beneficiar o réu (art. 5o, inc. XL). Essa proibicã̧o alcanca̧ as medidas de seguranca̧, pois são elas reguladas por leis penais. 7.2. Princıṕio da Extra-Atividade da Lei Penal – Lei penal no tempo Art. 2o - Ningueḿ pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execucã̧o e os efeitos penais da sentenca̧ condenatória. Parágrafo uńico - A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica- se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentenca̧ condenatória transitada em julgado. Art. 5°, XL, CF – a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o reú. 7.2.1. Princıṕios aplicav́eis ao conflito intertemporal de normas penais. a) Tempus regit actum. A norma, via de regra, aplica-se aos fatos praticados durante sua vigência, não alcanca̧ndo fatos ocorridos fora deu prazo de validade. Excecõ̧es: retroatividade e ultratividade da lei. Ultratividade se dá quando a lei continua a regular os fatos ocorridos durante sua vigência, mesmo depois de revogada a lei. Exame de Ordem Direito Penal Prof. Geibson Rezende redejuris.com 21 Retroatividade é a possibilidade que tem a lei de retroagir no tempo, a fim de regular os fatos ocorridos anteriormente a sua entrada em vigor. b) Novatio legis incriminadora. Quando lei nova considera crime fato que anteriormente era tido como indiferente penal, neste caso a lei não retroage, pois não é benéfica ao réu. c) Abolitio criminis. Ocorre quando o legislador, atento às mutacõ̧es sociais, resolve não mais continuar a incriminar determinadas condutas, retirando do ordenamento jurıd́ico-penal a infracã̧o que a previa, pois que passou a entender que o Direito Penal não mais se fazia necessário à protecã̧o de determinado bem. Estamos aqui diante do DIREITO PENAL SUBJETIVO NEGATIVO. Este princípio encontra previsão no artigo 2° do Código penal, sendo que nesta hipótese o agente é beneficiado pela descriminacã̧o da conduta, com a ocorrência da extincã̧o da punibilidade nos termos do art. 107, III, do mesmo diploma legal. São efeitos da Abolitio criminis: A extincã̧o da punibilidade; Cessacã̧o de todos os efeitos penais da sentenca̧ penal condenatória; Permanência dos efeitos civis da sentenca̧ penal condenatória, com trânsito em julgado. d) Novatio legis in pejus (Lei nova prejudicial ao réu). Quando lei nova contiver dispositivos que, de qualquer modo, torne mais severa a lei anterior, prejudicando o réu. Neste caso ela não podera ́ alcanca̧r os fatos anteriores, que continuarão a ser regulados pela lei da época da prática da conduta. Não retroagindo, portanto. e) Novatio legis in mellius (Lei nova benéfica ao réu). Quando a lei nova contiver dispositivos que, de qualquer modo beneficie o réu. Neste caso, retroagirá sempre para beneficiá-lo. 7.3. Leis temporárias e Leis excepcionais Como dito acima, a lei penal mais benéfica sempre se movimentará no tempo para beneficiar o réu, seja retroagindo (projetando-se para o passado), seja sendo ultrativa (hipótese em que se projeta para o futuro, aplicando-se a fatos mesmo após cessada sua vigência. A extra-territorialidade (retroatividade ou ultratividade) quando for para beneficiar o réu é regra e deverá acontecer sempre que esta situação se verificar. Entretanto se é regra comporta exceção, e a exceção está prevista no artigo 3° do código penal, uma vez que as lei penal excepcional ou temporária poderá ser aplicada aos fatos praticados durante a sua vigência, mesmo após revogadas. A este fenômeno se da o nome de ULTRATIVIDADE MALÉFICA, ou seja, a lei se movimentará no tempo mesmo em desfavor do réu. Assim dispõe do CP: Art. 3°. A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o perıódo de sua duracã̧o ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigen̂cia. 7.4. Lei intermediaŕia. Acontece na hipótese de que a lei a ser aplicada não seja nem aquela da vigente à época dos fatos, tampouco aquela em vigor quando da prolacã̧o da sentenca̧. Neste caso, a regra da ultratividade e da retroatividade são absolutas no sentido de que, sempre, ser aplicada ao agente a lei que mais lhe favoreca̧, não importando, na verdade, o momento de sua vigência, isto é, se na data do fato, na data da sentenca̧ ou mesmo entre esses dois marcos. Resumindo: em havendo conflito intertemporal entre três leis, sempre se aplica a mais benéfica; Exame de Ordem Direito Penal Prof. Geibson Rezende redejuris.com 22 7.5. Conjugacã̧o de leis. Diante do caso concreto é possıv́el o confronto entre duas leis regendo a mesma situacã̧o. Neste caso, segundo orientacã̧o majoritáriada doutrina, é permitido ao defensor do réu ou condenado escolher, entre duas leis, suas partes mais benignas (Frederico Marques). 7.6. Irretroatividade da Lei mais grave (lex gravior) e Medida de Seguranca̧. Em virtude do princıṕio constitucional da irretroatividade in pejus, mesmo em se tratando de medida de seguranca̧ não se pode falar em irretroatividade da lei penal mais grave por estrita obediência ao dispositivo constitucional supramencionado. 7.7. Retroatividade da Jurisprudência. Segundo Zaffaroni e Nilo Batista, “quando a jurisprudência massivamente muda de critério e considera atıṕica uma acã̧o que até o momento qualifica como tıṕica (ou quando julga simplesmente o delito que até então considera como qualificado, ou justificando o que considera antijurıd́ico, etc.) provoca um escândalo polıt́ico, pois duas pessoas que realizam idênticas acõ̧es reguladas pela mesma lei terão sido julgadas de modo que uma resultou condenada e a outra absolvida, só porque uma delas foi julgada antes. Elementares razões de equidade, assim como o artigo 5° da Constituicã̧o impõem que se tome aquela primeira condenacã̧o como uma sentenca̧ contraposta ao texto expresso da lei penal reinterpretada, viabilizando sua revisão (art. 621, inc. I do CPP).” RESUMINDO. A lei penal é em regra irretroativa, entretanto a lei penal pode retroagir, mas somente quando beneficiar o sujeito, nos termos do art. 5o, XL, da Constituicã̧o Federal. Para beneficiar o réu ela sempre poderá se movimentar para o futuro e para o passado se for mais benéfica. A única exceção permitida é a do artigo 3 do CP que permite a movimentação maléfica da lei, ou seja, leis temporárias e excepcionais tem efeito de ultratividade maléfica. Obs.1: Súmula 711 do Supremo Tribunal Federal: "A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessacã̧o da continuidade ou da permanência". Obs. 2: Competência para aplicacã̧o da lei mais benéfica. Conforme pacificado pela súmula 611 do STF, a competência para a aplicacã̧o da lei mais benéfica é sempre do juıźo da execucã̧o, desde que já transitada em julgado a sentenca̧ penal condenatória. 7.8. Retroatividade da Lei penal em Branco. A revogacã̧o da norma complementar (decreto, portaria, regulamento, etc) não faz desaparecer o crime, mesmo porque a lei (figura abstrata que prevê o delito) não foi revogada (Soler). Se a norma penal em branco tem caráter excepcional ou temporário, aplica-se o artigo 3° do CP, ou seja, ela é ultrativa, mas, ao contrário, não tendo aquela caracterıśtica, aplica-se o artigo 2° (abolitio criminis). 7.9. Retroatividade da lei processual penal. De regra, a legislacã̧o processual penal aplica-se de imediato, salvo disposicã̧o em contrário, podendo restringir direitos formais do réu, relativamente a Exame de Ordem Direito Penal Prof. Geibson Rezende redejuris.com 23 fato pretérito. Entretanto, se a lei processual veicular direito material aplica-se as regras do Código Penal. 7.10. Tempo do crime Art. 4o - Considera-se praticado o crime no momento da acã̧o ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado. O CP adotou a teoria da atividade. Com Isso evita o legislador o absurdo de uma conduta, praticada licitamente sob o império de uma lei, poder ser considerado crime, em razão de o resultado vir a produzir-se sob o império de uma outra lei incriminadora. Por esta razão, não se deve confundir tempo do crime com momento consumativo, que, nos termos do art. 14, I, ocorre quando se reúnem todos os elementos de sua definicã̧o legal; a importância da definicã̧o do tempo do crime tem a ver, por ex., com a definicã̧o da norma penal a ser aplicada, no reconhecimento ou não da menoridade do réu etc. A definicã̧o do tempo do crime resolve questões importantes, tais como: qual lei aplicável, inimputabilidade do agente, alcance da anistia concedida até determinada data, prescricã̧o, etc. 8. PRINCI ǶPIO DA TERRITORIALIDADE – LEI PENAL NO ESPACO̧ Art. 5o - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuıźo de convencõ̧es, tratados e regras de Direito internacional, ao crime cometido no territoŕio nacional. § 1o - Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do territoŕio nacional as embarcacõ̧es e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a servico̧ do governo brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as embarcacõ̧es brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem, respectivamente, no espaco̧ aeŕeo correspondente ou em alto-mar. § 2o - EǶ tambeḿ aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo de aeronaves ou embarcacõ̧es estrangeiras de propriedade privada, achando-se aquelas em pouso no território nacional ou em vôo no espaco̧ aeŕeo correspondente, e estas em porto ou mar territorial do Brasil. 8.1. Princıṕios dominantes: a) Princıṕio da territorialidade. Pelo princıṕio da territorialidade, aplica-se a lei penal brasileira aos fatos punıv́eis praticados no território nacional, independentemente da nacionalidade do agente, da vıt́ima ou do bem jurıd́ico lesado. A territorialidade é regra que encontra exceções nas convencõ̧es, tratados e regras de direito internacional. b) Princıṕio real, de defesa ou de protecã̧o. Esse princıṕio permite a extensão da jurisdicã̧o penal do Estado titular do bem jurıd́ico lesado, para além dos seus limites territoriais, fundamentado na nacionalidade do bem jurıd́ico lesado (art. 7°, I do CP), independentemente do local em que o crime foi praticado ou da nacionalidade do agente infrator. Protege-se assim, determinados bens jurıd́icos que o Estado considera fundamentais. Exame de Ordem Direito Penal Prof. Geibson Rezende redejuris.com 24 c) Princıṕio da nacionalidade ou da personalidade. Por esse princıṕio, aplica-se a lei penal da nacionalidade do agente, pouco importando o local em que o crime foi praticado. O Estado tem o direito de exigir que o seu nacional no estrangeiro tenha determinado comportamento. Apresenta-se sob duas formas: 1) personalidade ativa, onde se considera apenas a nacionalidade do autor do delito (art. 7°, II, b, do CP); 2) personalidade passiva, que considera somente a personalidade da vıt́ima do delito (art. 7°, parágrafo 3°, do CP). Este princıṕio tem por objetivo impedir a impunidade de nacionais por crimes praticados em outros paıśes, que não sejam abrangidos pelo critério da territorialidade. d) Princıṕio da universalidade ou cosmopolita. Por este princıṕio, as leis penais devem ser aplicadas a todos os homens onde quer que se encontrem. EǶ caracterıśtico da cooperacã̧o penal internacional, porque permite a punicã̧o, por todos os Estados, de todos os crimes que forem objeto de tratados e de convencõ̧es internacionais. Aplica-se a lei nacional a todos os fatos punıv́eis, sem levar em consideracã̧o o lugar do delito, a nacionalidade do agente ou do bem jurıd́ico lesado (art. 7°, II, a, do CP). A competência é firmada pelo critério da prevencã̧o. e) Princıṕio da representacã̧o ou da bandeira. Trata-se de princıṕio subsidiário, e, quando houver deficiência legislativa ou desinteresse de quem deveria reprimir, aplica-se a lei do Estado em que esta registrada a embarcacã̧o ou aeronave ou cuja bandeira ostenta aos delitos praticados em seu interior (art. 7°, II, c, do CP). Obs.: O Código Penal brasileiro adotou como regra o princıṕio da territorialidade e, como excecõ̧es os princıṕios: a) real ou de protecã̧o; b) universal ou cosmopolita; c) nacionalidade ativa; d) nacionalidade passiva; e) representacã̧o. 8.2. Conceito de território nacional. O conceito de território nacional em sentidojurıd́ico deve ser entendido como âmbito espacial sujeito ao poder soberano do Estado. Em sentido efetivo ou real compreende o espaco̧ terrestre, fluvial, marıt́imo e aéreo, onde o Brasil exerce soberania. Os limites do mar territorial são aqueles fixados pela lei no 8.617/93 – doze (12) milhas marıt́imas, a partir da baixa-maré. O espaco̧ aéreo compreende todo aquele sobrejacente ao território brasileiro, incluindo o mar territorial (art. 2o). 8.2.1. Território Nacional por extensão: Embarcacõ̧es e aeronaves: a) públicas: são as de guerra, a servico̧ militar, ou em missão oficial; b) privadas: são aquelas de propriedade particular ou mercantes. As embarcacõ̧es e aeronaves públicas, onde quer que se encontrem, bem como as particulares, quando em alto mar ou no espaco̧ aéreo brasileiro, são considerados extensão do território nacional (§1o, art. 5o). Obs.: Aos crimes praticados a bordo de embarcacõ̧es e aeronaves estrangeiras somente se aplica a lei brasileira quando elas forem de propriedade particular e se acharem em porto ou mar territorial brasileiro (se embarcacõ̧es), ou em vôo no espaco̧ aéreo nacional ou aterrissadas em nosso território (se aeronaves). Exame de Ordem Direito Penal Prof. Geibson Rezende redejuris.com 25 8.3. Lugar do crime Art. 6o - Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a acã̧o ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado. Segundo disposto no artigo 6° do CP, acima mencionado, a lei penal pátria adotou, quando ao lugar do crime a teoria da ubiqüidade, segundo a qual o lugar do crime é tanto o da conduta quanto o do resultado; o CPP, ao contrário, adotou como regra para a fixacã̧o da competência a que estabelece ser competente o foro (comarca) no qual o crime se consumou (art. 70) - teoria do resultado. 9. EXTRATERRITORIALIDADE Art. 7o - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro: I - os crimes: a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República; b) contra o patrimônio ou a fe ́ pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de Território, de Municıṕio, de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundacã̧o instituıd́a pelo Poder Público; c) contra a administracã̧o pub́lica, por quem está a seu servico̧; d) de genocıd́io, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil (Lei no 2.889/56); II - os crimes: a) que, por tratado ou convencã̧o, o Brasil se obrigou a reprimir; b) praticados por brasileiro; c) praticados em aeronaves ou embarcacõ̧es brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando em território estrangeiro e aı ́não sejam julgados. § 1o - Nos casos do inciso I, o agente e ́ punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido ou condenado no estrangeiro. § 2o - Nos casos do inciso II, a aplicacã̧o da lei brasileira depende do concurso das seguintes condicõ̧es: a) entrar o agente no território nacional; b) ser o fato punıv́el tambeḿ no paıś em que foi praticado; c) estar o crime incluıd́o entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradicã̧o; d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aı ́cumprido a pena; e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável. § 3o - A lei brasileira aplica-se tambeḿ ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se, reunidas as condicõ̧es previstas no parágrafo anterior: a) não foi pedida ou foi negada a extradicã̧o; b) houve requisicã̧o do Ministro da Justica̧. Extraterritorialidade é a possibilidade de aplicacã̧o da lei penal brasileira a fatos criminosos ocorridos no exterior. As hipóteses são as seguintes: Exame de Ordem Direito Penal Prof. Geibson Rezende redejuris.com 26 a) Extraterritorialidade incondicionada. Aplica-se a lei brasileira sem qualquer condicionante, na hipótese de crimes praticados fora do território nacional, ainda que o agente tenha sido julgado no estrangeiro, com fundamento nos princıṕios de defesa e da universalidade, nas seguintes hipóteses: a) contra a vida ou liberdade do Presidente da República; b) contra o patrimônio ou fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, Território ou municıṕio, empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundacã̧o instituıd́a pelo poder público; c) conta a administracã̧o pública, por quem esta a seu servico̧; de genocıd́io, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil; b) Extraterritorialidade condicionada. Aplica-se a lei brasileira quando satisfeitos certos requisitos, com base nos princıṕios da universalidade, da personalidade, da bandeira e da defesa, aos crimes: a) que, por tratado ou convencã̧o, o Brasil obrigou-se a reprimir; b) praticados por brasileiros; praticados em aeronaves ou embarcacõ̧es brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando em território estrangeiro e aı ́não sejam julgados; praticados por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, desde que: 1) entre o agente no território nacional; 2) seja o fato punıv́el tem no paıś em que foi praticado o delito; 3) estar o crime incluıd́o entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradicã̧o; 4) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou ter ai cumprido pena; 5) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável; Obs. 1: Além das condicõ̧es acima, para a aplicacã̧o de lei penal brasileira a estrangeiro que tenha praticado crime contra brasileiro no exterior, é necessário que não tenha sido pedida ou tenha sido negada a extradicã̧o e que haja requisicã̧o do Ministro da Justica̧ (art. 7°, parágrafo 3°, do CP). Obs. 2: Por forca̧ da Emenda Constitucional 45/2004, compete aos Juıźes Federais processar e julgar as causas relativas aos direitos humanos. 10. APLICACA̧ȆO DA LEI PENAL EM RELACA̧ȆO ADZS PESSOAS O princıṕio da territorialidade faz ressalvas aos tratados, convencõ̧es e regras de direito internacional, dando origem às imunidades diplomáticas e regras de direito público interno que dão origem às imunidades parlamentares. Não se vinculam às pessoas, mas às funcõ̧es que elas exercem, não violando o princıṕio constitucional da isonomia. 10.1. Imunidades diplomat́icas. EǶ a imunidade que possuem os representantes diplomáticos de governos estrangeiros e Chefes de Estado, em relacã̧o aos fatos criminosos por eles praticados no Brasil. A imunidade alcanca̧ também funcionários do corpo diplomático e componentes da famıĺia do representante. Os cônsules somente são alcanca̧dos pela imunidade diplomática por crimes cometidos no exercıćio das funcõ̧es consulares (art. 43 da Convencã̧o de Viena), e somente podem ser presos preventivamente, por ordem de autoridade judiciária competente, e no caso de crime grave (art. 41). 10.2. Imunidade parlamentar. Por ser uma prerrogativa do mandato e não do parlamentar é irrenunciável, apresentando-se em duas espécies: a) Imunidade material ou absoluta (penal, civil, disciplinar e polıt́ica). Refere-se à inviolabilidade do parlamentar (senador, deputado federal, estadual, vereador), no exercıćio do mandato, por suas opiniões palavras e votos (arts. 53, caput, 27, parágrafo 1°, e 29, VIII, da CF). Tendo como termo inicial a diplomacã̧o e temo final o término do mandato. Exame de Ordem Direito Penal Prof. Geibson Rezende redejuris.com 27 b) Imunidade formal ou relativa. Também denominada imunidade processual, refere-se à prisão, ao processo, a prerrogativas de foro. Os parlamentares
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