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Edmund Husserl (18591938) Nasceu de família judaica em Prossnitz, Moravia, no antigo Império Austríaco. Faleceu em Friburgo, Alemanha, onde lecionou até 1928. Fundador da Fenomenologia O filósofo Edmund Husserl foi um dos principais pensadores do século XX, que influenciou tanto as correntes filosóficas de seu tempo quanto às ciências em geral. A fenomenologia de Husserl surgiu no início do século XX, na Alemanha. Influências de: Platão, René Descartes e Franz Brentano. Alguns pensadores influenciados por Husserl: Martin Heidegger, Jean Paul Sartre e Maurice MerleauPonty. O encontro com Brentano: marco decisivo. O objeto da psicologia humana brentaniana: consciência. Husserl se dedica agora somente ao estudo da filosofia. Final séc. XIX e início séc. XX momento em que a fenomenologia ganha impulso: momento histórico em que as ciências humanas e a filosofia encontramse em crise. Conhecimento era visto em duas perspectivas da relação sujeitoobjeto: realismo/positivismo e idealismo. Ambas procuram chegar ao conceito absoluto de cada coisa, definição. Assim como para Platão (idealismo), Aristóteles (realismo/ positivismo) compreende a Verdade como conceito absoluto. Isso significa que devese alcançar “A” verdade una (universal) e imutável sobre o ser de cada ente. Eles levantaram a questão de como reconheceríamos a forma correta, ou perfeita, de qualquer coisa: uma forma que fosse verdadeira para todas as sociedades e épocas. a apreensão objetiva e passiva do sentido de um objeto, ou seja, do que ele é em si (visão chamada realismo/positivismo) ou a representação subjetiva das emanações do objeto, construindo o seu sentido (idealismo). A fenomenologia se propõe como uma alternativa a essa bipolarização (SUJ – OBJ); nega essa possibilidade, afirmando que a consciência sempre se dá em função de algo, em uma intencionalidade. Husserl problematizou definitivamente a questão da subjetividade e da objetividade na obra “A crise das ciências européias e a fenomenologia transcendental”. ➢ implicações epistemológicas e históricas que esta dicotomia* criou no século XX, levando a humanidade a uma espécie de crise das ciências e da filosofia. *Dicotomia SUJEITO x OBJETO Preocupação com a crise do espírito europeu e a precária situação da ciência moderna. Husserl se propõe a refundar as ciências positivas a partir de seu projeto filosófico. (Objetivo central: oferecer um solo seguro para validar o conhecimento das ciências em geral através da filosofia como unidade universal das ciências.) século VII a.C.: o saber filosófico servia ao propósito de fundamentação de todo conhecimento das ciências particulares. A partir da renascença (fim do século XIII) assistimos ao agravamento de uma situação já iniciada no período pós socrático, quando as ciências começaram a se desenvolver seguindo um caminho orientado mais pela práxis do que pela filosofia como ciência global que deveria fundamentar todas as ciências particulares. O que seria o Objetivismo* das ciências: é a separação entre o Sujeito que conhece e o Objeto a ser conhecido. Enquanto que no surgimento da filosofia como ciência universal o mundo era compreendido como um todo integrado que existe por si mesmo (phisis), na modernidade temos a crescente valorização do método científico que busca a certeza matemática para as verdades de uma natureza objetificada, medida e controlada. (*slide 8) A separação entre o sujeito que conhece e a natureza (objetificada): abstração da subjetividade. Porém, “o mundo nunca é percebido objetivamente, através de fórmulas e conceitos. Ele é vivido, experienciado”. A objetificação do mundo por certo tipo de ciência que carece de fundamentação universal provocou o agravamento da situação de penúria em que se encontravam as ciências modernas. “A maneira exclusiva pela qual a concepção do mundo do homem moderno na segunda metade do século XIX determinada pelas ciências positivas e falseada pela ‘prosperity’ que a elas se devia significava o abandono cheio de indiferença dos problemas que são decisivos para um humanismo autêntico. As ciências dos fatos puros e simples produzem homens que só veem puros e simples fatos.” “Tudo se passa como se a racionalização científica só pudesse tematizar o objeto negligenciando os sujeitos existentes, como se o estabelecimento das verdade objetivas deixasse a liberdade humana ainda mais desamparada em suas escolhas e em suas condutas: ´Na angústia de nossa vida...essa ciência nada significa para nós. Ela exclui por princípio justamente os problemas que são os mais pungentes para os homens de nossa desventurada época (...): os problemas do sentido ou do não sentido de toda essa existência humana...O que tem a ciência a dizer sobre a Razão e a DesRazão, sobre nós homens enquanto sujeitos dessa liberdade?´” A crise se manifesta de fato como ruptura de um mundo: o mundo da ciência, tal como a ciência o constitui e o vê, se destacou do mundo da vida. Que relação permanece entre o mundo de que fala o físico e aquele de que fala o poeta ou do qual falamos na linguagem da vida cotidiana? *A objetividade das ciências se perverteu em objetivismo. Um tal discurso é considerado como não sendo dito, no final das contas, por ninguém, como sendo o discurso sobre si próprio, e portanto, verdade absoluta. FENOMENOLOGIA TRANSCENDENTAL Edmund Husserl Husserl intitula a fenomenologia como uma ciência eidética (relativa à essência), pura e transcendental. A busca não é a prova de que o mundo concreto existe, mas, antes, reconhecer como o próprio mundo e todo conhecimento possível apenas é possível para cada pessoa em suas experiências (que tem seu sentido próprio). Ou seja, ele se debruça sobre o mundo vivido (sobre o fenômeno). >Fenomenologia: busca compreender a experiência; as coisas como elas se manifestam. Experienciandose o mundo, este se abre para o homem, e esse abrir para o homem, esse se desvelar para o homem, é o fenômeno (versus a idéia de um “fato”). A fenomenologia transcendental (Husserl) busca compreender a essência da consciência. As essências se referem ao sentido do ser do fenômeno. A preocupação da fenomenologia é descrever o fenômeno, não explicálo; é compreendêlo, não achar relações causais. O que é essência? É o sentido verdadeiro de alguma coisa; é a maneira característica do aparecer de um dado fenômeno. É o que é; é impossibilidade de ser outra coisa. O que é intencionalidade? A consciência é sempre consciência de algo, consciência dirigida a um objeto, o qual só pode ser definido na relação com a consciência, ou seja, ele só tem sentido de objeto para uma consciência; é sempre objetopara umaconsciência; ele não é objeto em si, mas um objeto percebido ou objetopensado (não há cisão entre sujeito e objeto). Epoché ou redução fenomenológica ou eidética: método pelo qual as essências podem ser conhecidas; coloca entre parênteses valores, morais, conceitos teóricos a priori, verdades científicas, culturais e sociais. A descrição rigorosa do fenômeno é que permite chegar à sua essência. Ao se voltar para as coisas mesmas e para o mundo vivido, com o intuito de apreender a essência do fenômeno, acabase por negar sujeito e mundo como existentes independentes um do outro. Essa concepção põe em evidência o conceito de intencionalidade da consciência, isso é, a sua direção. Fenomenologia Transcendental tem em seu propósito geral um caráter epistemológico: a fundamentação de todo e qualquer conhecimento possível do mundo como ele aparece em nossa própria experiência, determinando o que é mundo para nós. Principais obras: “A idéia da fenomenologia”, “Pesquisas lógicas “(1901), “A filosofia como ciência rigorosa” (1911), “Idéias diretrizes para uma fenomenologia” (1913), entre outras. Martin Heidegger(18891980) Nasceu em Baden, Alemanha. Foi aluno de Husserl na Universidade de Freiburg. Lecionou em Marburg e Freiburg. Foi reitor na Universidade de Freiburg. Heidegger ingressa na filosofia para estudar a questão sobre o sentido do ser. “Ser e tempo” (1927): sua obra mais conhecida. Aborda “a questão do ser” por caminhos radicalmente diferentes daqueles percorridos até então pela tradição filosófica, pois não interroga “o que é o ser”, mas “qual o sentido do ser”. Definição – do lat. Definire = dar um fim. Dar um fim às possibilidades de ser de um determinado ente, mantêlo como um conceito inabalável, universal” (COLPO, 2007, p. 23). “Fenomenologia hermenêutica”. A investigação pela essência dos entes se transforma em uma questão hermenêutica. (Hermenêutica: O sentido que se desvela através do homem nunca se dá a partir de algum a priori transcendental; é sempre interpretação). A fenomenologia visa dirigirse às coisas elas mesmas (tal como aparecem, se desvelam), que nada tem a ver com a coisa “emsi” da tradição filosófica. * Crítica a idéia de que o ser ESTÁ no ente. O ente está no ser, e o SENTIDO deste SER se dá em relação ao Dasein (ser humano). > Crítica a entificação do ser. * A tradição filosófica busca definir o que as coisas são. A cadeira é....A geladeira é...Aqui, o ser é tratado de forma atemporal : (É), o que revela um caráter estático, universal, imutável. Definição – do lat. Definire = dar um fim. Dar um fim às possibilidades de ser de um determinado ente, mantêlo como um conceito inabalável, universal” (COLPO, 2007, p. 23). Heidegger rompe com a dicotomia Sujeito X Objeto e também introduz a TEMPORALIDADE: SENDO (qual o sentido do ser). (ex: o que é este livro PARA MIM neste momento? E como eu vejo este livro vai mudando ao longo do tempo. Por isso é SENTIDO) *Esquecimento do ser pela filosofia ocidental. O autor postula que, a partir de Platão, a filosofia abandonou o sentido original atribuído ao ser pelos présocráticos: desocultação do princípio (arché) de todas as coisas que possibilita a compreensão do ser em geral. Mas a questão do ser, objeto de estudo de Platão e Aristóteles, foi esquecida e trivializada pela metafísica tradicional. Heidegger tem como questionamento o sentido do ser. Com base na preponderância da linguagem, ao invés de buscar uma definição para o que é o ser, Heidegger postula a necessidade de se interpretar o sentido do ser. O primeiro ente a ser interrogado deve ser aquele ente capaz de linguagem, pois somente ele poderia se questionar sobre o sentido do ser. “Esse ente que cada um de nós somos e que, entre outras, possui em seu ser a possibilidade de questionar, nós o designamos com o termo Dasein (seraí/ presença).” (Heidegger) Logo, aquele que pode oferecer acesso ao sentido do ser é o ente denominado Dasein. o Dasein é o único ente que se pergunta sobre o ser das coisas e sobre o seu próprio ser/ único ente aberto à compreensão do ser. Heidegger dará lugar de destaque ao homem, na sua pesquisa sobre o sentido do ser, porque é justamente o homem que pergunta sobre as coisas; que interroga sobre o ser das coisas. Então antes de analisar o ser dos entes, Heidegger vai ver quem é este ente que se pergunta sobre as coisas. A pedra, o cachorro não se perguntam sobre as coisas. O Dasein é o único ente que tem abertura para o ser. O homem existe (eksistere = ser para fora), enquanto a folha de papel é. TEMPORALIDADE: sentido. sendo, ao invés de “é”. A única determinação que o Dasein tem é não ter determinação nenhuma. (por ser abertura; futuro). Dasein é ontologicamente indeterminado (negatividade) (determinação = algo fixo, que não muda. Algo passivo, que é moldado por fatores sem poder mudar). (e nem o PASSADO é fixo, estático. Os acontecimentos do passado também podem mudar, podem ser resignificados!) O ser do Dasein, sendo, coloca em jogo o seu próprio ser. Para Heiddeger, é sendo que Dasein se compreende em seu ser. (ou seja, é neste movimento que o homem está sempre se compreendendo e compreendendo as coisas e os outros) Uma de suas características essenciais é que, sendo, ele se abre e se manifesta no mundo por meio de seu próprio ser. Portanto, o que pode dar sentido ao ser do homem é a sua própria existência, que se dá no modo de compreensão do ser. (compreensão de cada ser humano se dá num tempo) (compreensão aberta numa dada direção. Essa abertura/direção, muda do decorrer do tempo). Dasein (Dasein, alemão = seraí): A diferença radical em relação aos outros entes, é que seu ser está sempre em jogo no seu existir (ser para fora). (não tem determinação; poderser) Ser dos entes não humanos (pedra, cadeira, água, cachorro, pomba): “ser simplesmente dado” (porque o que eles são, o seu sentido, nunca está em jogo em seu devir temporal (não tem abertura). Um ser simplesmente dado (um ser intramundano) não se pergunta pelas coisas (não pergunta pela seu ser e nem pelo ser de qualquer outra coisa). Acerca da constituição ôntica do Dasein, sendo no mundo, cotidianamente, ele se move desde sempre numa compreensão vaga e mediana do ser (préontológica). A partir deste entendimento, a temporalidade será interpretada como o sentido do Dasein. Isso significa que o tempo é o referencial e o fio condutor mais seguro para o questionamento e a interpretação do sentido do ser. Desta forma, o alvo principal de toda ontologia se funda no fenômeno do TEMPO. “Se o ser deve ser apreendido a partir do tempo e os diversos modos derivados do ser só são de fato compreensíveis em suas modificações e derivações na perspectiva do tempo e com referência a ele, o que então se mostra é o próprio ser, e não apenas o ente, enquanto sendo e estando “no tempo”, em seu caráter “temporal”. TEMPORALIDADE: o ser se dá a partir do tempo (sendo). A compreensão que tenho de algo se modifica no tempo. O sentido de algo para mim tem a ver com passadopresentefuturo. ➢ O tempo do Dasein NÃO é cronológico. É Kairós. (ex: uma hora pode ser longa e pode ser curta.) ➢ (tempo/ritmo de cada um – tem a ver com seu serparaamorte; tem a ver com sentido) O modo de ser do homem é a “existência”, o “seraí”, o “ser nomundo”. “Sernomundo” = revela a unidade estrutural ontológica da existência do Dasein. A análise dessa estrutura “sernomundo” remete a três aspectos constitutivos da totalidade desse fenômeno: “mundo” como estrutura de sentido (os animais e coisas são destituídos de mundo) o “quem é no mundo”: de início, impessoalidade cotidiana o modo de “serem” um mundo, que se dá sempre via compreensão e disposição. A MUNDANIDADE O Dasein é “mundano”, é cooriginário ao “mundo”. Diferente dos entes simplesmente dados, que não têm mundo, isto é, não são aberturas de sentido. Não têm compreensão. (não existem). (mundo histórico= não é o mundo físico. É mundo no sentido dos valores, crenças, significados, importâncias...) O homem, enquanto sernomundo, é “sercom”. É nesse sernomundocomosoutros que se desvela (que se manifesta) o sentido dos entes que lhe vêm ao encontro. O COTIDIANO IMPESSOAL De início e na maior parte das vezes, o existir encontrase no impessoal = vive o mundo como se tudo já estivesse dado; vive de forma “automática”; é o “a gente”. Vive de modo mais impróprio no impessoal. O Dasein tem uma tendência para o “encobrimento”, isto é, foge de si mesmo, esquecendose do seu “ser próprio” (vivendo como se o mundo e ele mesmo já estivesse preestabelecido, previamente dado.) Domínio do impessoal. Sob o domínio da decadência, a partir dessa compreensão “mediana”, o Dasein se distancia de si mesmo, lidando com ele mesmo como se fosse um ente simplesmente dado e não realizando suas possibilidades mais próprias e singulares (Não se angustiando). “SegundoHeidegger, o homem vive no impessoal e permanece protegido pelo modo público de agir e de pensar. O impessoal tira o encargo de ter de ser do Seraí e é, portanto, um alívio da pesada e dolorosa carga que é a facticidade humana. Assim, vivendo sob o imperativo do como se vive, o homem garante seu assentamento no mundo e suaviza o peso da tarefa de ter de ser” (Vianna, 2006, p.105) Angústia existencial: é a disposição afetiva que rompe com a impropriedade do impessoal na qual o Dasein se encontra de início e na maior parte das vezes. Ou seja, a Angústia existencial é a disposição afetiva que possibilita ao Dasein romper com o “sou igual a todo mundo”, e com isso o possibilita se singularizar. Dasein se aproxima da sua condição de poderse de modo mais próprio/mais autêntico. Momento fecundo de possibilidades. (Não é ficar triste). CRISE EXISTENCIAL (como um despertar do homem para um modo de ser mais autoral) Não se deixa o modo de ser impróprio (inautêntico) para um outro próprio de modo definitivo. Sempre estamos no impessoal. Mas posso viver de modo mais autêntico (próprio) ou inautêntico (impróprio ) no impessoal. COMPREENSÃO E DISPOSIÇÃO “serem” não significa sujeito e objeto em relação. E sim, que Dasein e mundo são cooriginários, coexistentes. Dasein é abertura de sentido. As dimensões essenciais dessa abertura são a “compreensão” e a “disposição”. Compreensão: não é intelectual, conceitual, racional, teórico. (não é entender, explicar) A compreensão é sempre dotada de uma “coloração” afetiva, de um “humor” ou “disposição”. Dasein = abertura de sentido do ser dos entes. Porém, no cotidiano, tende ao fechamento. “Ao circunscreverse num horizonte de instrumentalidade, toma o sentido de si mesmo e dos outros entes como simplesmente dado. Algo falha, não funciona: revela a possibilidade de outros sentidos, mostrandose a nãonaturalidade e a ausência de um fundamento seguro e absoluto para a estrutura de sentido em que ele antes parecia ser algo dado para além de qualquer espanto. > Rompese, então, a ilusão da naturalidade (de mundo, das coisas, de si mesmo): surge a Angústia diante do nada, da falta de sentido. Quando um instrumento falha, anunciase o “mundo”. É a partir dos imprevistos que o Dasein é lançado numa perspectiva em que aquilo cujo sentido era simplesmente dado revelase como dependente de uma tessitura mais ampla e complexa de sentido, de mundo. Angústia: rompimento com a familiaridade cotidiana. Estranhamento (o que fazia antes sentido é colocado em xeque). Momento em que se revela o poderser mais próprio. Percebo meu ser em jogo, meu ser frente a finitude, percebo que o caminho das pedras não existe, e abrese a possibilidade de eu fazer escolhas próprias/autênticas. “A angústia é a disposição compreensiva na qual o Dasein está aberto para si mesmo, para seu sernomundo”. Angústia frente à liberdade de seu poderser. O SERPARAAMORTE E O PODERSER EM SENTIDO PRÓPRIO Antes Heidegger fala do Dasein no cotidiano, no impessoal. Depois fala sobre as possibilidades mais próprias e autênticas desse ente. Enquanto existe, o Dasein é serparaamorte. Desde que nascemos já está implícita em nossa existência, a qualquer momento, essa possibilidade. Porém, há uma dificuldade ôntica de fazer a experiência ontológica do serparaamorte. É somente experienciando a angústia diante do nada/morte/ finitude que o Dasein pode escolher a si mesmo, encontrar o que tem de mais próprio e singular para além das estruturas do “mundo público” e “impessoal”. (O que faz sentido para mim? O que faz minha vida digna de ser vivida?) A tendência cotidiana a fugir da angústia da morte encobre o “serparaa morte” mais próprio. Ao compreender o meu serparaamorte de forma mais própria (ao invés de fugir, negar), compreender que meu existir está sempre em jogo, abrese a possibilidade de eu voltar para as minhas possibilidades mais singulares, determinada a partir da minha finitude, desvencilhandome do impessoal. A angústia convida o Dasein a recuperar o seu projeto, abre o poderser como singularidade de cada Dasein, não oferecendo, portanto, nenhuma interpretação universal. (indica um sersimesmo em sentido próprio.) “Somente na compreensão do seu “serparaamorte”, na experiência de sua finitude, o Dasein pode dissipar o encobrimento de si mesmo e lançarse nas suas possibilidades mais singulares, modificando o seu cenário existencial.” Sou SÓ EU que morro a minha morte. Perceber isso me abre para assumir a minha vida, que é de mais ninguém. a tarefa de ser a MINHA vida. A compreensão de que no horizonte da minha vida está a minha morte (não tem escapatória), me faz ter que me apropriar do meu ser (da minha vida) que tem finitude. E isso me abre para cuidar autenticamente da vida que é a minha. A angústia existencial me mostra com ênfase: O caráter de indeterminação do meu ser. (negatividade) O caráter de incompletude da minha existência, e consequentemente, o dever de ser (o ter de ser) (a tarefa de ter de ser, de ter de CUIDAR da sua própria existência) Tarefa da qual não se tem como fugir, abrir mão! Trecho da dissertação da Priscilla Glaser - “Educação Infantil na Era da Técnica: Des- caminhos para o Poder-ser mais Autêntico” (página 33). Além do ser do homem se encontrar sempre lançado no mundo fático, no início e na maioria das vezes, o homem existe no mundo decaído de seu modo fundamental de ser, isto é, no impessoal. O modo do homem no cotidiano impessoal é marcado pela sua tendência para o “encobrimento”, isto é, foge de si mesmo, vive como se o mundo e ele mesmo já estivessem preestabelecidos (NUNES, 2002). Sob o domínio do impessoal, a partir da compreensão mediana, o homem se distancia de si mesmo, lidando consigo como um ente simplesmente dado, não realizando suas possibilidades mais próprias e singulares. Este modo de ser do homem é conhecido como impropriedade (inautenticidade). Casanova (2009) nos ensina que além da impropriedade temos a propriedade (autenticidade), sendo que estas modulações de ser determinam o modo como cuidamos de nossa existência: Jogado em mundo fático específico, o ser-aí já é sempre a partir da possibilidade da propriedade e da impropriedade: a partir de uma plena absorção no mundo fático e de uma desoneração do caráter de cuidado que é o seu ou a partir de uma assunção de um tal caráter de cuidado e de uma escuta ao seu poder-ser mais próprio (p. 133). Vale complementar que, imerso na ditadura do impessoal, o homem se ocupa de um mundo armado de decisões que não lhe são próprias, chamado, este movimento, por Heidegger (2007, p. 422), de lógica da ocupação: De início e na maioria das vezes, o ser-no-mundo ocupado compreende-se a partir daquilo com que ele se ocupa. O compreender impróprio projeta-se com vistas àquilo com o que podemos nos ocupar, o factível, urgente, incontornável dos negócios da ocupação cotidiana. Aquilo com o que nos ocupamos, porém, é tal como é em virtude do poder-ser que se ocupa. Esse poder-ser deixa o ser-aí chegar até si mesmo no ser ocupado junto àquilo com o que se ocupa. O ser-aí não chega até si mesmo desprovido de relações, mas ocupando-se, ele espera por si a partir daquilo que o ente com o qual se ocupa resulta ou recusa. O ser-aí chega até si mesmo a partir daquilo que se ocupa. O homem se perde no impessoal, no “a gente” (das Man), na tentativa de aplacar o incômodo de se encontrar jogado na existência sem garantias e ter de ser o responsável por ela (SAPIENZA, 2007). É preciso explicitar que o modo de ser da impropriedade e da propriedade são possibilidades constitutivas de todo homem. Logo, não se trata de valorar um modo em detrimento do outro, ou de se tentar extinguir a existência imprópria (CRITELLI, 2007). Evidencia-se, que, mesmo o homem sendo possibilidade (próprio ou impróprio),o seu ser não está jogado no mundo, sem direção. Ao contrário, por ser abertura e ter a tarefa de ser, a todo o tempo, o homem se entrelaça no mundo, por meio da busca incessante pelo sentido. Heidegger (2007, p.212) define sentido como “aquilo em que se sustenta a compreensibilidade de alguma coisa. Chamamos de sentido aquilo que pode articular-se na abertura compreensiva”. Porém, esse sentido pode nos faltar. A origem da angústia primordial é a possibilidade da morte, vivenciada pelo confronto entre a necessidade de realizar as suas potencialidades e o perigo de não ser capaz de realizá-las. A angústia, ao compreender a sua própria finitude (morte), manifesta ao homem o seu caráter de poder-ser e o convida a tomar-se a seu próprio encargo. Ao possibilitar a suspensão do domínio incondicionado do impessoal, a angústia abre espaço para o homem assumir a árdua e intransferível tarefa de cuidar de seu ser de modo mais autêntico. De acordo com Heidegger (1927/2008), tal modo de ser com o outro e consigo mesmo em uma unidade estrutural da totalidade das relações do homem é cuidado (Sorge), que corresponde a uma unidade existencial ontológica do ser-aí, este como ser-no-mundo, que se dá em relação com os entes que lhe vêm ao encontro. O cuidado apresenta-se sempre se referindo a outro ente, seja ao modo de ser simplesmente dado ou ao modo ser-aí. Podemos compreender, respectivamente, o ser-junto ao manual como ocupação (Besorgen) e o ser com os outros, como coexistência que encontramos no mundo, como preocupação (Fürsorge). Na ocupação, tem se o manuseio e o uso subordinado ao ser para dos instrumentos, a partir da utilidade instrumental. Já na preocupação, como vimos, ser-aí se relaciona com entes dotados do mesmo modo de ser, podendo se dar de três modos: da indiferença, quando não me importo com o outro, como se o outro não existisse, da substituição, quando dou um passo à frente do outro, dizendo o que ele deve fazer (tal modo pode vir a resultar em uma relação de dependência entre dominador e dominado), e na anteposição, ou modo libertador, quando dou um passo atrás e deixo o outro decidir por si mesmo. Cabe ressaltar que, no cotidiano, tais modos se dão de forma não exclusiva (Feijoo, 2000; Sá, 2005; Heidegger, 1927/2008). Análise da escolha profissional: uma proposta fenomenológico-existencial, Feijoo De acordo com Heidegger (1927/2008), tal modo de ser com o outro e consigo mesmo em uma unidade estrutural da totalidade das relações do homem é cuidado (Sorge), que corresponde a uma unidade existencial ontológica do ser-aí, este como ser-no-mundo, que se dá em relação com os entes que lhe vêm ao encontro. O cuidado apresenta-se sempre se referindo a outro ente, seja ao modo de ser simplesmente dado ou ao modo ser-aí. Podemos compreender, respectivamente, o ser-junto ao manual como ocupação (Besorgen) e o ser com os outros, como coexistência que encontramos no mundo, como preocupação (Fürsorge). Na ocupação, tem se o manuseio e o uso subordinado ao ser para dos instrumentos, a partir da utilidade instrumental. Já na preocupação, como vimos, ser-aí se relaciona com entes dotados do mesmo modo de ser, podendo se dar de três modos: da indiferença, quando não me importo com o outro, como se o outro não existisse, da substituição, quando dou um passo à frente do outro, dizendo o que ele deve fazer (tal modo pode vir a resultar em uma relação de dependência entre dominador e dominado), e na anteposição, ou modo libertador, quando dou um passo atrás e deixo o outro decidir por si mesmo. Cabe ressaltar que, no cotidiano, tais modos se dão de forma não exclusiva (Feijoo, 2000; Sá, 2005; Heidegger, 1927/2008). Análise da escolha profissional: uma proposta fenomenológico-existencial, Feijoo Uns Ricardo Reis “Uns, com os olhos postos no passado, Vêem o que não vêem; outros, fitos Os mesmos olhos no futuro, vêem O que não pode verse. Por que tão longe ir por o que está perto A segurança nossa? Este é o dia, Esta é a hora, este o momento, isto É quem somos, e é tudo. Perene flui a interminável hora Que nos confessa nulos. No mesmo hausto Em que vivemos, morremos. Colhe o dia, porque és ele.” Álvaro de Campos “Ah, perante esta única realidade, que é o mistério, Perante esta única realidade terrível — a de haver uma realidade, Perante este horrível ser que é haver ser, Perante este abismo de existir um abismo, Ser um abismo por simplesmente ser, Por poder ser, Por haver ser.” (...) F. Pessoa situa-nos frente ao mistério do ser (a vertigem, a angústia, o medo presente na nossa era diante do enigma do ser).
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