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KARL POPPER O PROBLEMA DA INDUÇÃO E A FALSEABILIDADE COMO CRITÉRIO DE DEMARCAÇÃO - Douglas João Orben

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Vol. 11 | N. 02 | 2012 ISSN 2237-6291 
 
 
Revista Litterarius – Faculdade Palotina 
www.fapas.edu.br/revistas/litterarius 
litterarius@fapas.edu.br 
KARL POPPER: O PROBLEMA DA INDUÇÃO E A FALSEABILIDADE COMO 
CRITÉRIO DE DEMARCAÇÃO1 
 
Douglas João Orben
* 
 
Resumo: O presente artigo pretende abordar o problema da indução e a falseabilidade como critério 
de demarcação em Karl Popper. Inicialmente, de acordo com análise popperiana apresentada, 
sobretudo, na obra A lógica da Pesquisa Científica, examina-se o método indutivo utilizado pelas 
ciências empíricas. Neste trecho, a referência incide, principalmente, sobre o Círculo de Viena, pois, 
segundo Popper, o modelo científico do grupo expressa muito bem as pretensões do método indutivo. 
Na sequência, analisa-se a crítica popperiana à indução, bem como às ciências empíricas que usam a 
indução como método científico, estabelecendo sobre a base empírica (indutivamente verificada) o seu 
critério científico de demarcação. Considerando o fracasso lógico e balizador do método indutivo, por 
fim, apresenta-se a proposta popperiana da falseabilidade como critério de demarcação, articulando-a 
com o método dedutivo de investigação científica. 
Palavras-chave: Popper. Indução. Ciência. Falseabilidade. 
 
KARL POPPER: THE PROBLEM OF INDUCTION AND FALSIFIABILITY AS THE 
CRITERION OF DEMARCATION 
 
Abstrac: This article seeks to address the problem of induction and falsifiability criterion of 
demarcation in Karl Popper. First of all, according to Popperian analysis presented, especially in the 
work The logic of Scientific Discovery, examines the inductive method used by the empirical sciences. 
In this section, the reference focuses mainly on the Vienna Circle, because, according to Popper, the 
scientific model of this group expresses very well the claims of the inductive method. Next we analyze 
the Popperian critical to induction, as well as the empirical sciences that use induction as a scientific 
method, setting about the empirical basis (inductively verified) its scientific criterion of demarcation. 
Considering the logical failure of the inductive method, in conclusion is introduced Popper’s 
falsifiability proposal, as a criterion of demarcation, linking it with the deductive method of scientific 
research. 
Keywords: Popper. Induction. Science. Falsifiability. 
 
 
 
1
 O presente trabalho foi realizado com o apoio da CAPES, entidade do Governo Brasileiro voltada para a 
formação de recursos humanos. 
*
 Mestrando do Programa de Pós-graduação em Filosofia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do 
Sul - PUC/RS (Porto Alegre) e professor do Curso de Filosofia da Faculdade Palotina – FAPAS (Santa Maria). 
douglasorben@hotmail.com 
 
 
Karl Popper: o problema da indução e a falseabilidade como critério de demarcação 
Douglas João Orben
 
 Revista Litterarius – Faculdade Palotina Vol.11 | N. 02 | 2012 – ISSN 2237-6291 
www.fapas.edu.br/revistas/litterarius litterarius@fapas.edu.br 
1 Considerações Iniciais 
 
Karl Popper (1902 – 1994), no início da obra A Lógica da Pesquisa Científica, deixa 
claro que seu objetivo é analisar a lógica do conhecimento científico, mais precisamente, o 
método das ciências empíricas2. O método, utilizado pelas ciências empíricas, caracteriza-se 
pela lógica indutiva. Com feito, a análise do conhecimento científico segue o problema da 
lógica da indução. 
O problema da indução (enquanto método científico) é apresentado por Popper da 
seguinte forma: em que condições e de que modo se justificam as inferências indutivas? Ou 
ainda, considerando que a ciência pretende firmar leis pretensamente verdadeiras, articuladas 
em enunciados universais e, não obstante, fundamentadas em base empírica, como então 
justificar esta inferência indutiva? Existe, por ventura, um princípio da indução que assegure 
a validade da lógica indutiva?3 São, pois, questões desta natureza que exigem, segundo 
Popper, uma análise do método das ciências empíricas, sobretudo, o método indutivo 
defendido pelo Círculo de Viena. 
Para Popper, o método da indução não justifica suas inferências num ato lógico, pois a 
certeza inferencial (necessidade lógica) só é possível numa lógica dedutiva. Ora, se não existe 
um princípio lógico da indução, como salvaguardar a legitimidade da pesquisa científica? A 
resposta popperiana é a seguinte: basta mudar o método. Assim, a proposta de Popper baseia-
se numa lógica de inferências dedutivas (modus tollens) que permite verificar a falsidade de 
enunciados universais a partir dos dados da base empírica4. 
 
 
2 O problema da indução 
 
O problema da indução, denominado por Kant como o “problema de Hume”5, é 
investigado por Popper como sendo o problema fundamental das ciências empíricas. Para 
 
2
 POPPER, Karl R. A lógica da pesquisa científica. São Paulo: Cultrix, 1972. p. 27. 
3
 POPPER, Karl R. Op.cit. p. 28. 
4
 POPPER, Karl R. Op.cit. p. 43. 
5
 Foi David Hume (1711 – 1776) o primeiro filósofo a perguntar-se sobre a questão da validade universal e 
necessária da indução. Para Hume, não existe nenhum fundamento lógico ou a priori que justifique 
necessariamente a indução, pelo que todo e qualquer conhecimento possível nada mais é do que simples relações 
de percepções, oriundas da experiência. Neste sentido, o princípio epistemológico da causalidade (relação entre 
causa e efeito) é posto em xeque, pois nada justifica, necessariamente, a ligação entre uma causa e seu efeito. 
Segundo Hume, a aparente relação causal é tão somente uma crença, fundamentada no mero hábito 
 
Karl Popper: o problema da indução e a falseabilidade como critério de demarcação 
Douglas João Orben
 
 Revista Litterarius – Faculdade Palotina Vol.11 | N. 02 | 2012 – ISSN 2237-6291 
www.fapas.edu.br/revistas/litterarius litterarius@fapas.edu.br 
Popper, uma ciência pode ser qualificada como indutiva, “caso ela conduza de enunciados 
singulares (por vezes denominados também enunciados “particulares”), tais como descrições 
dos resultados de observações ou experimentos, para enunciados universais, tais como 
hipóteses ou teorias” 6. As ciências empíricas, operando por meio do método indutivo, 
buscavam na experiência, por meio de observações e testes empíricos, validação para suas 
hipóteses e leis pretensamente universais. Esta postura científica é comum entre os membros 
do Círculo de Viena. 
Influenciados pelas ideias
7
 do Tractatus Logico-Phylosophicus de Wittgenstein (1889-
1951), os membros do Círculo de Viena assumem uma postura radicalmente empirista. Para 
Schlick, por exemplo, toda a ciência deveria limitar-se à descrição empírica, valendo-se das 
ferramentas da lógica tão somente para analisar e esclarecer estas descrições. Os sistemas 
metafísicos, neste caso, perderiam todo sentido e significado, pois, por situarem-se além dos 
limites da experiência possível, não podem ser conhecidos, não possuindo assim significado 
algum. É logicamente impossível, portanto, falar sobre mundos metafísicos. Nas palavras de 
Schlick, “não pode haver discussão sobre outro mundo, pois uma existência não verificável 
não pode entrar como sentido em nenhuma proposição possível” (SCHLICK, 1973, p. 68). 
O princípio da verificabilidade, formulado pelo Círculo de Viena como pretenso 
fundamento basilar para a ciência empírica, expressa muito bem o que o grupo entendia por 
ciência: “o significado de uma proposição reduz-se ao conjunto de dados empíricos imediatos, 
cuja ocorrência confere veracidade à proposição e cuja não-ocorrência a falsidade; o 
significadode uma proposição são suas condições empíricas de verdade” 8. Neste sentido, 
toda ciência deve operar segundo o modelo sintético/indutivo9, buscando assim na experiência 
o fundamento para as teorias científicas. 
 
experimental. “A associação de idéias é fortalecida pela repetição, sendo a força que guia todos os nossos 
pensamentos e ações. As idéias são associadas por princípios de conexão que unem os diferentes pensamentos do 
espírito humano e os introduzem com certo método e regularidade na memória” (HUME, 1972, p. 20). 
6
 POPPER, Karl R. Op. cit. p. 27 
7
 Toda proposição significativa, para Wittgenstein (Tractatus), pode ser compreendida a partir de suas 
proposições atômicas, as quais devem descrever o mundo ou figurar a realidade. Cf. Tractatus: 2.161, 2.17. 
8
 SCHLICK, Moritz; CARNAP, Rudolf. Coletânea de textos. 3. ed. São Paulo: Nova Cultural, 1988. (Os 
pensadores) p. X. 
9
 O Círculo de Viena não admite uma ciência sintética e a priori, como Kant acreditava ser a matemática e a 
geometria. Para os filósofos vienenses, as proposições poderiam ser sintéticas e, portanto, passíveis de 
comprovação empírica ou, então, analíticas, verdades lógicas/matemáticas e totalmente a priori (Cf. CARNAP, 
1965, p.82). 
 
 
Karl Popper: o problema da indução e a falseabilidade como critério de demarcação 
Douglas João Orben
 
 Revista Litterarius – Faculdade Palotina Vol.11 | N. 02 | 2012 – ISSN 2237-6291 
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Os enunciados protocolares, de Carnap, pretendiam abarcar todas as proposições 
científicas, produzindo uma ciência estritamente empírica. O critério de demarcação, neste 
caso, segue os limites da experiência possível: o conjunto dos enunciados protocolares, 
empiricamente verificáveis, determinava os domínios do conhecimento científico 
(proposições com significado); a metafísica, por sua vez, por não possuir condições empíricas 
de verificação, tornar-se-ia não significativa. 
Neste sentido, Carnap distingue três classes de proposições: 1ª) proposições 
tautológicas, verdades formais que nada dizem sobre a realidade, são meramente analíticas; 
2ª) proposições formalmente falsas, portanto, contraditórias; 3ª) proposições empiricamente 
verificáveis. São estas últimas, sobretudo, que despertam o interesse do autor. Nas 
proposições verificáveis, segundo Carnap, “la decisión sobre su verdad o falsedad reside en 
las proposiciones protocolares, por lo que son “proposiciones empíricas” (verdaderas o falsas) 
y pertenecen al dominio de la ciencia empírica. Cualquier proposición que se descara 
construir y que no encajara en ninguna de estas clases devendría automáticamente en 
sinsentido” (CARNAP, 1965, p.82). 
A ciência radicalmente empírica e sintética, proclamada pelo Círculo de Viena, serve-
se, fundamentalmente, do método indutivo. A lógica vienense enquadra-se na definição 
popperiana de “indução”. A ciência proposta pelo Círculo de Viena tinha a pretensão de 
conduzir, indutivamente, de observações e experimentos particulares, cuidadosamente 
analisadas, para enunciados universais, tais como teorias e leis. 
Ora, se as ciências empíricas utilizam, em seu proceder científico, o método da 
indução, deve-se, portanto, buscar uma justificativa para este método ou, como Popper 
assevera, deve-se buscar um possível princípio da indução 10. Este fundamento lógico 
validaria, por assim dizer, o método das ciências empíricas. 
 
 
2.1 A crítica de Popper à indução 
 
Segundo Popper, a indução não possui fundamento lógico, puramente racional. Nada 
pode assegurar a validade lógica do proceder indutivo, pois é perfeitamente possível, 
seguindo rigorosamente o método indutivo, atingir conclusões inválidas. Por mais numerosa e 
 
10
 POPPER, Karl R. A lógica da pesquisa científica. São Paulo: Cultrix, 1972. p. 28. 
 
 
Karl Popper: o problema da indução e a falseabilidade como critério de demarcação 
Douglas João Orben
 
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exaustiva que a confirmação empírica possa ser, a inferência indutiva, ao pretender justificar 
um enunciado universal, não possui legitimidade lógica. Neste sentido, escreve Popper: 
 
Ora, está longe de ser óbvio, de um ponto de vista lógico, haver justificativas 
no inferir enunciados universais de enunciados singulares, independente de 
quão numerosos sejam estes; com efeito, qualquer conclusão colhida desse 
modo sempre pode revelar-se falsa: independentemente de quantos casos de 
cisnes brancos possamos observar, isso não justifica a conclusão de que 
todos os cisnes são brancos
11
. 
 
Portanto, se o método da indução não permite justificar enunciados universais, então 
as hipóteses e teorias científicas não podem ser empiricamente comprovadas, já que nenhum 
enunciado universal pode ser empiricamente verificado. Neste caso, com efeito, o próprio 
princípio da verificabilidade, que demarca como científico tão somente o que pode ser 
empiricamente verificado, ele próprio, enquanto pretenso princípio científico, não pode ser 
empiricamente confirmado. O que é, evidentemente, uma contradição. Para Popper, este 
modo de pensar pode ser aplicado a toda e qualquer teoria que pretenda ser científica e, não 
obstante, empiricamente verificável. 
Ao tentar encontrar um princípio da indução, a lógica, segundo Popper, conduz o 
raciocínio a uma regressão infinita: o próprio princípio da indução deve ser um enunciado 
universal, pois é um princípio; “assim, se tentarmos considerar sua verdade como decorrência 
da experiência, surgirão de novo os mesmos problemas que levaram à sua formulação” 12. 
Com efeito, “para justificá-los, teremos de recorrer a inferências indutivas e, para justificar 
estas, teremos de admitir um princípio indutivo de ordem mais elevada, e assim por diante” 13. 
Ora, se não existe um princípio lógico para a indução, como salvaguardar a 
legitimidade da pesquisa científica? Como assegurar a validade científica das teorias e, ao 
mesmo tempo, estabelecer um critério legítimo de demarcação? Para tanto, a ciência deveria 
demarcar seu domínio, distinguindo-se assim das posturas puramente analíticas, bem como de 
especulações metafísicas, e, ao mesmo tempo, validar suas teorias. 
 
 
 
11
 POPPER, Karl R. Op.cit. p. 27-28. 
12
 POPPER, Karl R. Op.cit. p. 29. 
13
 POPPER, Karl R. Op.cit. p.29. 
 
 
Karl Popper: o problema da indução e a falseabilidade como critério de demarcação 
Douglas João Orben
 
 Revista Litterarius – Faculdade Palotina Vol.11 | N. 02 | 2012 – ISSN 2237-6291 
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3 O problema da demarcação 
 
Se o problema da indução foi caracterizado, por Kant, como o “problema de Hume”, o 
problema da demarcação, para Popper, pode ser denominado de “o problema de Kant” 14. A 
demarcação caracteriza-se como sendo “o problema de estabelecer um critério que nos 
habilite a distinguir entre as ciências empíricas, de uma parte, e a Matemática, e a lógica, bem 
como os sistemas “metafísicos”, de outra” 15. 
Opondo-se ao que acreditavam os epistemologistas empiristas, que só o método 
indutivo poderia oferecer um critério evidente de demarcação, Popper afirma que as ciências 
indutivas, sobretudo o positivismo, não têm um critério claro de demarcação.Na verdade, o 
empirismo lógico, de orientação positivista, não pretende estabelecer uma legítima 
demarcação: a sua proposta aproxima-se mais de uma eliminação da metafísica, e 
consequente afirmação da ciência empírica, do que uma verdadeira demarcação entre 
domínios distintos. 
Ao caracterizar a metafísica como “sem sentido”, negando assim veementemente a sua 
validade, o empirismo lógico pretende expressar algo sobre questões que fogem a sua alçada 
de possibilidades. Neste caso, segundo Popper, o objetivo do positivismo não é estabelecer 
uma demarcação, senão que promover uma extinção: “as expressões “sem sentido” ou 
“absurdo” traduzem e pretendem traduzir uma posição depreciativa; e não há dúvida de que o 
que os positivistas realmente desejam não é tanto uma bem sucedida demarcação, mas a 
derrubada total e a aniquilação da Metafísica” 16. 
Como se não bastasse, o suposto critério de demarcação das ciências indutivas, ao 
tentar eliminar a metafísica, acaba eliminando, igualmente, toda e qualquer lei científica. Ora, 
se a metafísica não tem sentido, por não ser empiricamente verificável, então todo enunciado 
universal, bem como as leis naturais, deixam, inevitavelmente, de ter sentido. “De fato, as leis 
científicas também não podem ser logicamente reduzidas a enunciados elementares de 
experiência” 17, portanto elas estariam na “mesma situação” inverificável dos sistemas 
 
14
 POPPER, Karl R. Op.cit. p. 35. Ao determinar os limites entre o domínio do conhecimento possível 
(experiência fenomênica) e ideias metafísicas (objetos do puro pensamento, númeno), determinando, igualmente, 
modos específicos de se operar em cada um destes domínios, Kant estaria, segundo Popper, demarcando os 
limites entre ciências empíricas e sistemas metafísicos. Acerca da “demarcação” kantiana, o Capítulo III da 
Analítica dos Princípios da Crítica da Razão Pura é esclarecedor: Cf. Kant, 1985, p. 257-294. 
15
 POPPER, Karl R. Op.cit. p. 35. 
16
 POPPER, Karl R. Op.cit. p. 36. 
17
 POPPER, Karl R. Op.cit. p. 37. 
 
 
Karl Popper: o problema da indução e a falseabilidade como critério de demarcação 
Douglas João Orben
 
 Revista Litterarius – Faculdade Palotina Vol.11 | N. 02 | 2012 – ISSN 2237-6291 
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metafísicos. “Os positivistas, em sua ânsia de aniquilar a Metafísica, aniquilam, com ela, a 
Ciência Natural” 18. Para Popper, 
 
Isso mostra que o critério indutivista de demarcação falha no traçar uma 
linha divisória entre sistemas científicos e metafísicos e porque este critério 
deve atribuir a ambos status igual; com efeito, o veredito decorrente do 
dogma positivista relativo ao significado é o de que ambos são sistemas de 
pseudo-enunciados, destituídos de sentido. Assim, em vez de afastar a 
Metafísica das ciências empíricas, os positivistas levam à invasão do reino 
científico, pela Metafísica
19
. 
 
Considerando o fato inegável de que as ciências indutivas não estabelecem um critério 
legítimo de demarcação, o objetivo popperiano torna-se, portanto, elaborar um conceito 
logicamente aceitável de ciência empírica, traçando assim uma linha de demarcação entre 
sistemas científicos e elucubrações metafísicas 20. 
 
 
3.1 A falseabilidade como critério de demarcação 
 
A avaliação popperiana, acerca do critério indutivista de demarcação, encontra, como 
fundamento basilar da lógica indutiva, a pretensão de uma verificação (empírica) cabal dos 
enunciados científicos. Em outras palavras, o empirismo lógico pretendia decidir a verdade e 
falsidade dos enunciados, de modo a selar definitivamente o destino das teorias, por meio do 
método da verificação empírica. Este é (como já evidenciado) um erro lógico e metódico. 
Apesar do uso indevido da base empírica, manifesto no método positivista, Popper não 
descarta a experiência e seu inegável valor científico. Muito pelo contrário, ao propor um 
novo critério de demarcação, acentua a experiência como aspecto determinante. Como, então, 
resolve ele a questão? A resposta exige uma guinada lógica, quanto ao método científico. A 
proposta de Popper fundamenta-se numa estrutura lógica dedutiva, portanto, válida: a partir 
da forma lógica do modus tollens (se p, então q; não q; logo não p) é possível falsear, 
empiricamente, enunciados ou teorias universais. O método da falseabilidade permite deduzir 
 
18
 POPPER, Karl R. Op.cit. p. 37. 
19
 POPPER, Karl R. Op.cit. p. 38. 
20
 POPPER, Karl R. Op.cit. p. 40. 
 
 
Karl Popper: o problema da indução e a falseabilidade como critério de demarcação 
Douglas João Orben
 
 Revista Litterarius – Faculdade Palotina Vol.11 | N. 02 | 2012 – ISSN 2237-6291 
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a falsidade dos enunciados universais (se p, então q) a partir dos enunciados singulares (não 
q), encontrados na base empírica. 
Dentro desta nova estrutura de raciocínio, o critério de demarcação deixa de ser a 
verificabilidade e passa a ser a falseabilidade das teorias. Deste modo, as teorias científicas 
nunca serão cabalmente (certeza absoluta) verificadas, mas elas podem permanecer, 
temporariamente, não falseadas pela experiência: “Importa acentuar que uma decisão positiva 
só pode proporcionar alicerce temporário à teoria, pois subsequentes decisões negativas 
sempre poderão constituir-se em motivo para rejeitá-la” 21. A condição elementar para que 
uma teoria possa ser considerada científica, segundo Popper, é a possibilidade de a mesma 
poder ser empiricamente falseada. O critério que determina o domínio científico, portanto, 
segue os limites da experiência possível, enquanto possibilidade de falsear teorias. Neste 
sentido, Popper esclarece: 
 
Só reconhecerei um sistema como empírico ou científico se ele for passível de 
comprovação pela experiência. Essas considerações sugerem que deve ser tomado 
com critério de demarcação, não a verificabilidade, mas a falseabilidade de um 
sistema. Em outras palavras, não exigirei que um sistema científico seja suscetível 
de ser dado como válido, de uma vez por todas, em sentido positivo; exigirei, porém, 
que sua forma lógica seja tal que se torne possível validá-lo através de recurso a 
provas empíricas, em sentido negativo: deve ser possível refutar, pela experiência, 
um sistema científico empírico
22
. 
 
Assim, teorias que não podem ser empiricamente falseadas não são teorias científicas. 
São, pois, verdades incondicionais, não dependentes de condições específicas, mas 
confirmadas em toda e qualquer condição, portanto impossíveis de serem falseadas. Teorias 
do tipo: “choverá ou não choverá aqui, amanhã”, não tem, segundo Popper, nenhuma 
informação científica, já que em qualquer caso ela será confirmada. Ao passo que, o 
enunciado, “choverá aqui, amanhã”, é cientificamente válido, pois é uma teoria que poderá ser 
falseada pela experiência 23. 
Por fim, vale mencionar que a teoria popperiana da falseabilidade, como critério de 
demarcação, não pretende ser um critério semântico. Para Popper, tanto os enunciados 
falseáveis quanto os enunciados não falseáveis são, igualmente, significativos24. A 
demarcação distingue duas classes de enunciados perfeitamente significativos: por um lado, 
 
21
 POPPER, Karl R. Op.cit. p. 34. 
22
 POPPER, Karl R. Op.cit. p. 42. 
23
 POPPER, Karl R. Op.cit. p.42. 
24
 POPPER, Karl R. Op.cit. p.42. 
 
 
Karl Popper: o problema da indução e a falseabilidade como critério de demarcaçãoDouglas João Orben
 
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os enunciados metafísicos ou puramente analíticos, que por não possuírem conteúdo empírico 
não são científicos; por outro, as teorias científicas, que, por sua vez, podem ser falseadas, não 
possuindo assim certeza absoluta, mas tão somente uma verdade provisória. 
 
 
4 Considerações finais 
 
As críticas de Popper à ciência empírica, bem como a sua inovadora proposta 
metodológica, são, certamente, importantíssimas para a filosofia da ciência. Popper coloca em 
xeque a ideia de que a observação empírica é neutra, totalmente livre de pressupostos e 
desinteressada. Ao negar esta ideia, ele abala os fundamentos das ciências verificacionais, 
pois, não sendo neutras, as observações poderiam, em todo caso, confirmar as hipóteses 
sugeridas (considerando que confirmar as hipóteses é o que interessa ao pesquisador). O golpe 
final, todavia, é operado pelo problema da indução: nada justifica o salto indutivo do “alguns” 
para o “todos”. As ciências indutivas, portanto, não teriam um fundamento lógico. 
Por outro lado, ao propor uma ciência hipotética e dedutiva, Popper conjuga a 
capacidade inventiva com o rigor lógico dedutivo. A imaginação, as elucubrações 
especulativas, o engenho criativo, todos estes aspectos que eram reprovados na ciência 
verificacional, agora, surgem com dimensões primordiais na formulação das hipóteses 
científicas. Entretanto, o método de avaliação destas hipóteses segue os limites da experiência 
possível, enquanto passíveis de serem empiricamente falseadas. 
Neste contexto, nada assegura a certeza absoluta de uma teoria científica, nenhuma 
experiência pode confirmá-la cabalmente. Teorias são conjecturas circunstanciais e 
temporárias, são aceitáveis enquanto não falseadas por novas experiências. Por mais que as 
circunstâncias presentes não as refutem, elas não estão definitivamente confirmadas, pois 
novas experiências poderão contradizer antigas teorias. 
 
 
REFERÊNCIAS 
 
CARNAP, Rudolf. La Superacion de la Metafisica Mediante el Analisis Logico del Lenguaje. 
In: AYER, A. J. (org). El Positivismo Lógico. Trad. L. Aldama, U. Frisch, C. N. Molina, F. 
M. Torner y R. Ruiz Harrel. Mexico: Fondo de Cultura Economica, 1965. p. 66-87. 
 
 
HUME, David. Del conocimiento. 4. ed. Buenos Aires, Argentina: Aguilar, 1965. 180 p. 
 
Karl Popper: o problema da indução e a falseabilidade como critério de demarcação 
Douglas João Orben
 
 Revista Litterarius – Faculdade Palotina Vol.11 | N. 02 | 2012 – ISSN 2237-6291 
www.fapas.edu.br/revistas/litterarius litterarius@fapas.edu.br 
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KANT, Immanuel. Crítica da Razão Pura. Tradução Manuela Pinto dos Santos e Alexandre 
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Recebido: 02/08/2012 
Received: 08/02/2012 
Aprovado: 18/09/2012 
Approved: 09/18/2012

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