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- Poder Judiciário, (( Positivação" do Direito Natural e Política Luiz Werneck Vianna Neste meio século que nos distancia do último conflito mundial, os três Poderes da conceituação clássica de Montesquieu se têm sucedido, sintomati camente, na preferência da bibliogmfia e da opinião pública: à prevalência do tema do Executivo, instância da qual dependia a reconstrução de um mundo arrasado pela guerra, e que trouxe centralidade aos estudos sobre a burocracia, as elites políticas e a máquina governamental, seguiu-se a do Legislativo, quando uma sociedade civil transformada pelas novas condições de democracia política impôs a agenda de questões que diziam respeito à sua representação, para se inclinar, agora, para o chamado Terceiro Poder e a questão substantiva nele contida - Justiça. Nessa forte mudança de sinalização, que pode ser percebida na emergência de uma welfare society, 1 se faz presente um processo de internali zaçào do Estado por parte de uma sociedade civil- claros os ecos de Tocqueville de A democracia naAmérica- que se vem organizando em torno de postulações Nora: Este texto faz parte d1 introdução a Corpo (! 1I1mll tlll magistratura brasileira, ainda em prepar-dçào, com o que SC' dá forma final à pesquisa sohre o Perfil do magistrJdo brasileiro, reali7..ada nos Icnnos do convênio entre ri A.<;SQCinção dos l\lagislrados Brasileiros c o lUPERj. Agmdcço aos colegas Maria Alice Rezende de C:lrvalho, Manuel Palacios Cunha Melo c Marcdo Raumann Burgos a autori7,.<lÇào para a publicação deste fragmento do nosso trabalho comum. 263 • I 264 estudos históricos e 1996 - 18 por novos direitos e de práticas igualitárias. Tal processo não somente aponta para um novo arranjo da clássica antinomia público/privado, como também, na medida em que tensiona a identificação entre Direito e Poder,2 reatualiza as rdações entre direito e justiça, como argumentam correntes contemporâneas do neojusnaturalismo e da filosofia do direito.3 A sociabilidade moderna, filha do processo da globalização, além de levar ao desgaste as bases particularistas do Estado-nação, ator por excelência, desde Hobbes, do direito positivo, bem longe de trazer consigo a superação do direito, parece designá-lo como o lugar da praxis por onde se pode ter acesso ao terreno da utopia.1 O final do século XX, ao retomar a inquirição sobre a justiça, se encontra com o século XVIII de Rousseau e Kant,o; embora destituído da carga revolu cionária daquele contexto, que, sob o escrutínio da razão, denunciou o mundo efetivamente existente. Pragmático, este fim de século não se comprometeria com uma exploração metafísica da idéia de justiça, assim como evitaria a clássica contraposição entre o direito natural e o direito positivo, sendo marca contem porânea a "positivação" daquele direito nas cartas constitucionais6 Desse modo, a filosofia política contemporânea não precisa desafiar o mundo, porque, de alguma maneira, estaria encontrando nele a sua naturalização. J. Rawls, ao recusar as linhas de uma abordagem metafísica, sustenta que o ponto de partida efetivo para uma teoria da justiça deveria ser encontrado na "nossa própria cultura política pública, aí compreendidas as suas instituições principais e as tradições históricas que instituem as bases para a sua interpre tação, assim como o legado comum de idéias e princípios fundamentais implicitamente aceitos,,7 O legado dessa cultura política, cuja raiz histórica estaria na afinnação do princípio da tolerância, com o fim das guerras de religião que se seguiram à Reforma, e no progresso do governo constitucional e das instituições da economia de mercado,8 constituir-se-ia no terreno sedimentado das "idéias intuitivas comuns", que, coordenadas em uma concepção política da justiça, demonstrar-se-iam suficientes para garantir um regime constitucional justo. Seria, então, possível chegar-se a uma concepção da Justiça pela teoria política e não, como em Kant oU S. MiII, "por uma doutrina moral completa", permitindo-se que cada doutrina filosófica, religiosa ou moral viesse a reconhe cer a "justiça como eqüidade" a partir das suas próprias razões9 De uma outra perspectiva - a do neojusnaturalismo -, a revitalização das correntes concernentes a esse campo se prenderia ao fato de o positivismo jurídico ter sido incapaz de levantar barreiras valorativas à emergência do nazi-fascismo na Europa dos anos 20 a 40 e, como C. Lafer lucidamente chama a atenção, ao domínio dos regimes burocrático-autoritários na América Ibérica nos anos 60 a 7010 Como reação ao positivismo jurídico, foram impostos, nos preâmbulos e nas declarações dos direitos fundamentais de muitas constituições "Positivação" do Direito Natural do pós-guerra, assim como daquelas que sucederam os regimes burocrático autoritários nos anos 70, tal como a do Brasil, princípios normativos de regitimidade absoluta como fonte obrigatória de limitação de todo o direito positivo e do Estado, com o que se generalizou a experiência do constitucio nalismo democrático. I I Assim é que, com o constitucionalismo moderno, o direi to público passaria a internalizar uma concepção do justo, em uma efetiva rup tura com a arquitetura do Estado de direito kelseniano.12 Como é sabido, a incorporação dos ideais de justiça pelo constitucio nalismo moderno carece, em geral, de eficácia nOIJJlativa, podendo tal incor poração ser entendida como uma "legislação simbólica", visando a atender a "finalidades políticas de caráter não especificamente normativo-jurídico,,13 Contudo, recusando-se a sugestão de que a ausência de eficácia dos textos legais dessa natureza os condenaria à irrelevância social, considera-se que eles podem cumprir efeitos sociais latentes, como sustenta Marcelo Neves, bem mais significativos "do que os efeitos manifestos que lhes faltaram"I4 Ainda segundo esse autor, o sentido positivo da legislação simbólica residiria em produzir infornJações para a orientação do sistema político, legitimando, pela própria explicitação dos fundamentos da ordem jurídica, valores, expectativas, compor tamentos e tipos de ação coletiva que estariam comprometidos com elaI5 Assim, a dita legislação simbólica, quer referida a direitos fundacionais, quer aos direitos sociais, exprimiria, como anota T. Sampaio Ferraz, um "sentido promocional prospectivo" que supõe, para além da liberdade individual en quanto liberdade negativa, uma liberdade positiva, cujo exercício não está remetido a um tempo passado, e sim a um tempo futuro, na medida em que, no conteXlo do Estado social, ela não é "um princípio a ser defendido, mas a ser realizado".16 Pelo fato de serem prospectivos, e não disposições com eficácia normativa, os direitos fundacionais e sociais exigem uma implementação, salvo quando se inscrevem no teXlo constitucional apenas para cumprir a função de uma "legislação-álibi", isto é, quando, na caracterização de M. Neves, "o legislador, sob pressão direta, elabora diplomas normativos para satisfazer a expectativa dos cidadãos, sem que com isso haja o mínimo de condições da efetivação das respectivas normas,,]7 Mas, se a exigência de implementação é reconhecida no texto constitucional,18 legitima-se a desneutralização da função do Judiciário, ao qual "perante eles [os direitos sociais] ou perante a sua violação, nâo cumpre apenas julgar no sentido de estabelecer o certo e o errado com base na lei (responsabilidade condicional do juiz politicamente neutralizado), mas também e sobretudo examinar se o exercício discricionário do poder de legislar conduz à concretização dos resultados objetivados (responsabilidade finalística do juiz que, de certa forma, o repolitiza)"I9 265 • . estudos históricos e 1996 - 18 . . --------������������= I 266 A tendência à desneutralização do Judiciário, no entanto, ultrapassaas questões constitucionais, na medida em que se encontra associada às profundas transfonnações das relações entre o Estado e a sociedade civil no capitalismo contemporâneo. Daí deriva o seu caráter universal, irradiando-se inclusive em territórios culturais historicamente adversos à sua imposição, como a França.20 Tais Irdnsfonnações se iniciam quando, uma vez conquistados os direitos políticos por parte dos setores subalternos da sociedade, os sindicatos e os partidos de extração popular passam a pressionar em favor da institucionalização dos direitos sociais,21 criando-se o que M. Cappelletti denominou um Weifare de "estado legislativo",22 convertido, a seguir, no Weifare S/a/e com seu formato administrativo-burocrático. É o weifare que introduz na legislação um sentido promocional prospectivo, deslocando temporalmente o direito do tempo pas sado - de onde se extrai a norma fonnalizada de caráter geral e abstrato, fundamento da chamada certeza jurídica - para o tempo futuro, quando a promoção social estipulada pela lei deverá ser realizada por meio da intervenção do Estado. Como é de observação consensual na bibliografia, um dos impactos da legislação "welfareana" sobre a ordem jurídica foi fazê-la incorporar a vagueza e a imprecisão das normas de sentido promocional prospectivo, afetando a neutralidade do judiciário e ampliando a criatividade do juiz no ato da interpretação. No conhecido argumento de M. Cappelletti: "É manifesto o caráter acentuadamente criativo da atividade judiciária de interpretação e de atuação da legislação e dos direitos sociais. Deve reiterar-se, é certo, que a diferença em relação ao papel mais tradicional dos juízes é apenas de grau e não de conteúdo: mais uma vez impõe-se repetir que, em alguma medida, toda interpretação é criativa, e que sempre se mostra inevitável um mínimo de discricionariedade na atividade jurisdicional. Mas, obviamente, nessas novas áreas abertas à atividade dos juízes haverá, em regra, espaço para mais elevado grau de discricionariedade e, assim, de criatividade, pela simples razão de que quanto mais vaga a lei e mais imprecisos os elementos do direito, mais amplo se torna também o espaço deixado à discricionariedade nas decisões judiciárias".23 A desneutralização do Judiciário seria, então, um dos efeitos do novo tipo de articulação, resultante da imposição do Weifare S/ate, entre a esfera do público e a do privado, repercutindo sobre a clássica fórmula da separação entre poderes nos países de civil /aw, caudatários da Revolução Francesa e da sua concepção daquele poder como a "boca inanimada da Lei". Mais recentemente, outros efeitos macroestruturais vieram reforçar as tendências à redefinição da fórmula canônica de separação entre os poderes, atribuindo-se crescentemente ao Executivo papéis legislativos, especialmente em matéria econômica, sob o imperativo das necessidades dos governos de agir com presteza e eficácia para "Positivação" do Direito Natural impedir ou contornar conjunturas adversas. Processo semelhante vem-se pro duzindo a partir da institucionalização do chamado neocorporativismo societal, que, ao mobilizar os conflitos de interesses das empresas e do sindicalismo para o interior de câmaras de negociação sob a arbitragem do Executivo - à margem, portanto, do Parlamento e dos partidos -, concede alcance "legislativo" às suas tomadas de decisão, as quais, freqüentemente, não só obrigam as partes diretamente envolvidas, como também a sociedade como um todo, em razão das repercussões abrangentes das suas resoluções.24 A ação combinada desses processos tem levado a um enfraquecimento do Legislativo quanto à iniciativa das leis, cada vez mais dependente da ação do Executivo, Poder onde se radica o conhecimento, a perícia e os comandos tecnoburocráticos da regulação dos processos econômicos, essenciais à repro dução do capitalismo moderno. Tal regulação, animada por uma racionalidade instrumental que visa à realização de resultados na esfera econômica, opera no sentido de privilegiar o viés da governabilidade em detrimento da agenda da legitimidade racional-legal.25 Segue-se daí uma exacerbação do poder dis cricionário do Executivo, cuja ação está voltada parA intervir em uma realidade em permanente mutação, e que, por isso mesmo, requer um alto grau de indeterminação na regulamentação que a institucionaliza. É a indeterminação da nOIlna que autoriza a intervenção do Executivo, uma vez que é este quem lhe garante a eficácia, derivando disso a autonomia do corpus da tecnocracia para decidir que interesses devem ser sacrificados ou contemplados em nome da satisfação das exigências do sistema e da maximização da ralionale econômica 26 Na observação epigramática de J. E. Faria, quanto maior o poder decisório dos economistas, menor a certeza jurídica27 O gigantismo do ramo administrativo28 esvazia o Parlamento como lugar da vontade geral e da expressão de uma racionalidade universal. Nesse novo contexto, o papel do Estado não se vê mais contido no modelo de nOIll1aS gerais, formais e universais, estando referido a regulamentações particulares, respostas contingentes às variaçôes conjunturais da imediata realidade econômico-social. Como observa N. Poulantzas, "a legitimação, encarnada pelo Parlamento e que tinha como quadro referencial uma racionalidade universal, transforma-se em uma legitimação da ordem a partir de uma racionalidade instrumental da eficácia, encarnada pelo executivo-administração" 29 Se a regulação que importa para a cidadania e os interesses dos indivíduos provém do poder discricionário do Estado, com sua intrínseca necessidade de indeterminação, a fim de jurisdicionar o particular e o conjun tural, a preservação do cânon da lei geral, formal e abstrata pelo juiz, fixa-o no passado, dissociando, como diz M. R. Ferrarese, a jurisdição do tempo da política.30 Afmal, a "certeza do direito" depende, além de uma jurisdição pautada 267 I 268 estudos históricos e 1996 - 18 por critérios técnico-profissionais, de a legislação estar enraizada em siruações pretéritas, estabilizadas ao longo do tempo,31 sendo esse o pressuposto do modelo de uma magistratura neutralizada, ao se limitar a aluar sobre o presente com leis elaboradas em um tempo passado. Tal modelo, segundo Ferrarese, reduziria o judiciário à passividade diante das decisões relevantes operadas no tempo da política e originárias da vontade do Estado e das grandes organizações nas câmaras corporativas, que interferem no cotidiano da cidadania e implicam alterações nos interesses constiruídos dos indivíduos.32 A hipertrofia "legislativa" do Poder Executivo traria consigo, então, uma perda de distinção entre os temas e o tempo da política e os do direito, repercutindo sobre a própria noção de legaliebde, que, nessas novas condições, não poderia mais ser concebida classicamente, isto é, como o produto da separação característica do Estado de direito entre a decisão legislativa e o momento da sua aplicação. A confirmação do judiciário em seu papel neutrali- . zado faria dele um Poder anacrônico, voltado para o tempo passado em que a lei foi produzida e, como tal, limitado à função de arbitragem dos conflitos privados, sem exercer jurisdição sobre o novo tipo de contencioso social, cuja natureza é pública e se expressa na manifestação da vontade de sujeitos coletivos. À invasão do direito pela política, com a passagem do Estado de direito ao Welfare State, segue-se, com o constitucionalismo moderno, a invasão da política pelo direito, ampliando-se a esfera da legalidade: o judiciário, por meio do controle da constirucionalidade das leis, especialmente no que se refere à declaração dos direitos fundamentais, passa a fazer parte, ao lado do Legislativo, da sua formulação. De outra parte, a jurisdição passa a afetar os interessesde indivíduos e os conflitos de C'dfáter coletivo diretamente envolvidos com a dimensão da política, território naruralmente estranho à "certeza do direito", com o que o tempo da política passa a fazer parte do direito.33 Assim, com o constitucionalismo moderno, o processo de adjudicação de direitos conheceria um novo ator - o Judiciário -, em clara contraposição ao contexto original do welfare, quando a luta por novos direitos foi travada no campo da política, levando à polarização entre os setores da sociedade civil que demandavam por direitos sociais e o Estado, até se resolver com o ato de incorporação desses setores a uma plena cidadania. Com a investidura consti rucional do judiciário nesse novo papel, o território da incorporação se requalificaria, não só porque ela inclui este novo lugar instirucional, como também porque passa a admitir a linguagem da justiça, e não apenas a do direito na sua caracterização como o resultado da supremacia de um direito sobre um outro de sentido antagônico ao seu, tal como o entendeu Marx em conhecida passagem de O capital. Pelo caminho da "positivação" dos ideais igualitários "Positivação" do Direito Natural nas constituições, a filosofia como que poderia se internalizar no próprio aparelho do Estado, encontrando no Poder judiciário o seu intérprete insti tucional.34 Assim é que, além de se poder chegar a uma concepção de justiça a partir de uma teoria política, haveria uma "sociologia política", inscrita nas mutações sofridas pelo capitalismo moderno e pelas suas principais instituições, que a tornaria realizável. Nos países de civillaw, a positivação do direito natural teria introduzido uma mudança de paradigma na ordem jurídica, levando o juiz a transcender as suas funções tradicionais de simplesmente adequar o fato à lei, uma vez que também lhe caberia a atribuição de inquirir a realidade à luz dos valores e dos princípios dispostos constitucionalmente. A filosofia política se faria exprimir, assim, nas ações do Poder judiciário, ator que manteria sob sua guarda os direitos fundamentais, de cuja observância dependeria a legitimidade das leis. Por tudo isso, a justiça não seria dependente da política, tal como ocorre no Estado Iiberal,3S pois o constitucionalismo democrático conduz a uma crescente expansão do âmbito de intervenção do Poder judiciário sobre as decisões dos demais poderes, pondo em evidência o novo papel daquele Poder na vida coletiva - o que já justificaria o uso da expressão "democracia jurisdicional" como designação política do Ocidente desenvolvido.36 A desneu tralização do judiciário, a emergência do seu ativismo e sobretudo a "judiciali zação da política" seriam processos afirmativos em escala universal, compreen dendo tanto os sistemas de common law como os de civil law, diagnóstico que, uma década atrás, levou M. Cappelletti à conhecida previsão de que ojudiciário se constituiria no "Terceiro Gigante", e que, agora, se reforça com o influente 7be global e:>-pansioll of judicial Power, coletânea de textos organizada por C. N. Tate e T. Vallinder, que sinali7.a par-d a mesma direção.37 A "judicialização da política", 38 processo por meio do qual se indica a capacidade do Poder judiciário de garantir os direitos fundamentais, estaria sendo favorecida por um conjunto de variáveis contextuais, cuja presença variaria, em alcance e em intensidade, segundo as características histórico-sociais de cada país, mas que tendencialmente deveriam encontrar expressão ho mogênea nisso que se poderia qualificar como o Ocidente político. Partindo-se da sistematização de C. N. Tate,39 tais variáveis poderiam ser agrupadas com base em dimensões institucionais, em aspectos referidos à prática social e em situações conjunturais, contando-se entre as primeiras: a institucionalização de uma ordem democrática - valendo notar, aliás, que não há registro de qualquer exemplo de "judicialização" em um contexto não-democrático, apesar dos diagnósticos sombrios de alguns que a interpretam como uma ameaça à cláusula da maioria e da soberania democrática; o princípio da separação dos Poderes e da independência do judiciário; c, por fim, a existência de uma Constituição 269 , I estudos históricos e 1 996 - 1 8 ._-----=="'-".='-'="----=---"-"-'=-� 270 que explicite direitos e valores, os quais possam ser invocados em defesa dos indivíduos e grupos que se sintam lesados pela vontade da maioria. Entre as variáveis referidas à prática social, estariam: um sistema de orientação vigente na opinião pública - quer na massa da população, quer em suas elites - que concedesse uma maior respeitabilidade e legitimação ao judiciário diante das demais esferas institucionais; e uma consciente delegação de responsabilidade do Poder Legislativo ao judiciário em matérias fortemente controversas e que envolvem pesados custos eleitorais e políticos, do que é exemplo a disciplinarização do aborto. Finalmente, uma maior afirmação da "judicialização" dependeria de conjunturas políticas particulares, principalmente naqueles casos em que, devido à fragilidade dos partidos ou das coalizões governamentais - a situação italiana é, decerto, paradigmática disso -, se vivenciasse uma ineficiência do governo das instituições de representação . . .. . maJontana. Como evidente, a "judicialização da política" exprime, ainda, profundas t .... lOsformações nos campos jurídico e político-institucional: quanto ao primeiro, na forma abundantemente registrada pela literatura cspccializada,40 constata-se a convergência dos sistemas de civillaw com os de common law, aproximando as tradições da Europa Continental com as da cultura anglo-saxã, secularmente distanciadas entre si; quanto ao segundo, em estrita associação com o anterior, observa-se o esvaziamento do cânon doutrinário da separação entre os Poderes, tal como compreendido pela cultura jurídico-política dos países de civillaw, passando o terna da limitação a prevalecer sobre o da separação, que supõe a neutralidade política do judiciário41 Contudo, para além desses efeitos tangíveis nas relações entre as instituições e os Poderes, o fenômeno contemporâneo da "judicializaçào da política" tem dado partida a uma reinterpretação das condições de passagem para o mundo moderno, em tudo diversa do que parecia, até então, consolidado na bibliografia das ciências sociais. O primado que as correntes do humanismo jurídico concediam à flIosofia política em detrimento da política, ao judiciário em desfavor do Legislativo, e a uma "vontade geral" encarnada nas declarações fundamentais das constituições em detrimento da vontade da maioria, vem se tornando um novo ponto de partida para a inquirição da história recente do Ocidente. O tempo da prevalência da política teria sido o das revoluções, o da resolução dos conflitos pela força, o da imposição da tirania da vontade das maiorias sobre as minorias, o do monismo jurídico como representação da vontade estatal, o da dissociação entre direito e justiça. A própria dependência do judiciário em relação ao poder político seria flIha das revoluções, o que o teria levado à burocratização e à hierarquização dos seus quadros e das suas funçôes, tal como na obra de reconstrução do "Positivação" do Direito Natural Estado francês realizada por Napoleão - não por acaso uma das Mies noires da leitura revisionista da história empreendida pelo humanismo jurídico. Daí que nessa corrente não seja inusual o acento tocquevilleano, não só pelo pro tagonismo que em Democracia naAméricaé concedido ao papel do magistrado nas sociedades democráticas, como também pela percepção de que a mudança social deveria provir de sucessivas transformações moleculares e não das revoluções políticas,42 em particular porque, hoje, como na América de Tocqueville - um país que se ori�inou deuma revolução democrática "sem ter passado pela própria revolução" 3 -, a revolução estaria em curso no mundo, o acervo ideal da filosofia política incorporado nas instituições do constitucio nalismo democrático. Com efeito, a "revolução sem revolução" de que tratava Tocqueville consiste numa referência recorrente ao humanismo jurídico. S. Rodorã, ciranda o historiador do direito americano L. M. Friedman, menciona a "revolução dos direitos civis" ocorrida nos anos 50 e 60 nos EUA, como sendo inimaginável sem as cortes federais, uma vez que, sem elas, o caminho para a igualdade racial seria o das "formas brutais e violentas". Segundo Rodotà, a própria Itália, a partir de 1992, teria conhecido uma "revolução judiciária", sob o protagonismo da magistratura, quando dos inquéritos que apuraram a corrupção política naquele país.44 A revolução como que abandonaria a forma do especificamente político para se internalizar nas instituições, tendo encontrado nelas o seu portador, igualmente institucional - a magistratura. No mundo contemporâneo, a afirmação de uma nova "sociologia política" que estaria ensejando alterações nas relações entre o Estado e a sociedade civil e na tradicional disposição dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, como que propiciaria uma reinterpretação dos processos de revolução passiva - no seu conceito clássico uma revolução sem revolução -, suprimindo o seu sentido negativo de fórmula política orientada para fazer de cada movimento de mudança um novo triunfo das forças da conservaçã04S Ao se inscrever a idéia de justiça no coração das constituições modernas, ela se tomaria o fiai da dialética como "tranqüila teoria",46 que se encaminharia, progressiva e molecularmente, para uma nova síntese por meio de um Poder de Estado - o Judiciário - investido da capacidade de interpretar o seu movi mento e erigido em seu funcionário. A revolução como momento "explosivo", conduzida no plano político e ético-moral por um portador da antítese, como na França de 1789 e na Rússia de 1917, teria produzido, no primeiro caso, o resultado de umJudiciário como "boca inanimada da lei", prisioneiro das concepções formalistas do positivismo jurídico, e, no segundo, como mera expressão oracular do que deveria ser entendido como a vontade do povo russo. Subjaz uma forte sugestão de que a 271 • estudos históricos e 1996 - 18 �.-' --------������������ I 272 transição para o moderno deveria ter prescindido da via revolucionária, como no Tocqueville de O Antigo Regime e a Revolução, em franca dissidência com a bibliografia das ciências sociais, que vincula as raízes históricas das democracias às rupturas revolucionárias no momento da transição da ordem tradicional para a moderna, a falta delas tendo importado nas soluções de tipo totalitário, como na Alemanha, Itália e Japão, na fOllna do consagrado argumento de B. Moore em As origens sociais da ditadura e da democracia. A reviravolta na perspectiva se manifesta na mudança das referências intelectuais: Montesquieu, Rousseau, Marx e Hegel cedem lugar a Burke, Kant e Tocqueville, a eticidade à moralidade, a política ao direito. Em congresso sobre a magistratura européia e o papel de suas associações, realizado em 1991 na cidade italiana de Trieste, promovido pelo Movimento de Magistrados Europeus pela Democracia e as Liberdades, A. Pizzorusso, ao defender a independência e a autonomia do Judiciário diante do Executivo nos países de civil /aw, desenvolve uma interpretação sobre as condições de imposição da ordem moderna no Ocidente, na qual, ao levar em conta apenas os seus sistemas legais, favorece a via transforrnista inglesa em detrimento da solução "explosiva", à francesa: A distinção entre os dois domínios [o da civillaw e o da common /aw J derivou principalmente da transformação redutiva do direito em direito legislativo, levada a cabo pela Revolução Francesa e preservada no essencial durante o período da Restauração. A isto se seguiu a tentativa de transformar o juiz em um simples executor dos comandos contidos na lei, a tal ponto que se proibiu a ele qualquer papel em sua interpretação. Ao contrário, nos setores que não tinham sido afetados pelas idéias da Revolução, o papel do juiz baseado em sua qualidade como jurista foi conservado. Na Inglaterra, tal papel ainda foi acrescido em razão da afirmação de uma série de princípios, entre os quais o do que atribuía ao precedente, em certos casos, um valor a ser considerado; nos Estados Unidos, o papel do juiz foi expandido pelo reconhecimento fOllnal, no plano constitucional, do princípio da separação dos poderes e, em seqüência, pela criação da Corte Suprema47 Nos países de common law, o direito não seria apenas a emanação da atividade do poder soberano, na medida em que constaria igualmente do direito precedente, acumulado em fases históricas anteriores - as "leis comuns" à Europa de que trata Tocqueville -, e que teria nascido do interior da feudalidade e das antigas cidades burguesas que floresceram a partir dela48 Tal direito demandava a figura do jurista, personagem intelectual treinado na pesquisa e na técrlica jurídica, figura da tradição que, assim, encontrava o seu lugar no "Positivação" do Direito Natural mundo moderno, como intérprete de leis que deitavam suas raízes em uma história remota, preservado em sua dignidade profissional e no antigo estatuto político da sua atividade.ó9 Contrariamente, nos países de civil law, como observa A. Pizzorusso em uma passagem cujo sentido é recorrente na bibliografia de juristas sobre juristas, ter-se-ia despojado o juiz de um papel político em nome da soberania do povo. A Revolução Francesa, em seus primeiros momentos, instituiu a função de juiz por eleição popular, cancelando o estatuto de profissão do ato de julgar, "uma vez que qualquer cidadão honesto podia se tornar juiz, já que lhe cabia simplesmente aplicar as leis aprovadas pelos representantes do povo sobe rano".50 Mais tarde, institucionalizada a revolução, como na lei napoleônica de 1810, criou-se a figurd do magistrado como membro da burocrdcia do Estado, concebendo-se o judiciário como personagem sem rosto tia ordem racional-le gaI do Estado de tlireito, capaz de garantir previsibilidade à reprodução do mundo mercantil e certeza jurídica na administração do direito. Essa seria a herança de um judiciário desencantado, atrelado às nOIlllas ger.lÍs e abstratas produzidas pelo Legislativo, dissociado, pela revolução que rompeu com o Antigo Regime e a sua ordem legal, do j1ls commU/'le, com os seus profissionais destituídos da antiga aura que lhes vinha da função de intérpretes especializados da tradição e convertidos em prisioneiros dos códigos legais. Contra essa história de subortlinação e de burocratização, caberia instituir umjutliciário autônomo, supremo guardião das leis fundamentais -estoque dos melhores valores acumulados na história do Ocidente -, obra dos juízes e das suas associações, e que deveria resultar no autogoverno da magistratura. A partir dessa visão prescritiva, a leitura revisionista empreendida por tal bibliografia registra de modo negativo, em nome das exigências de mudança social e da perseguição de ideais de justiça, a Revolução Francesa e a teoria de soberania popular dela emanada, para valorizar, como na tradiçào da commOIt law, o direito como uma narrativa continuada no tempo - "a legislação dos anteceden tes" da análise de Tocqueville51 - produzida por juízes.'í2 Tem-se, então, a sugestão de que o Poder judiciário, a fim de assumir um formato institucional compatível com as exigências contemporâneas, se desprenda do ideário e dos processos que conduzirdm, pela via da revolução, a passagem do mundo trddicional ao moderno, e que teriam dado o resultado da imobilização política daquele Poder. O tipo inglêsde passagem ao moderno, no qual as formas da tradição foram preservadas, concedendo-se a elas, em um processo molecular, uma nova substãncia -e que encontrou seu prolongamento na experiência americana -corresponderia melhor às necessidades institucionais das modernas democracias e dos ideais igualitários nelas emergentes, com suas 273 • estudos históricos e 1 996 - 1 8 . . _._-----.!::!=""-"="-="'---=--��� I 274 práticas de criação jurisprudencial do direito c de influência política do juiz, em razão do seu papel no controle de constitucionalidade das leis.53 Daí que, nos países de civil law, a crescente valorização dos institutos da common law se faça associar - como inevitável - ao abandono da concepção da teoria de separação entre Poderes segundo a tradição Montesquieu-Rousseau, visando-se a uma aproximação com o modelo de checks and balances dos federalistas americanos, terreno de onde se originaria a figura do juiz-herói - em oposição ao juiz-funcionário da civil law-, guardião dos direitos fundamen tais e não simples operador da doutrina da certeza jurídica. Esse processo de convergência entre os sistemas de civil law e de common law teria a sua mais forte indicação na irreversível tendência à decodificação e à constitucionalização da ordem legal entre os países daquele primeiro sistema, mutação institucional que estaria na base das postulações por autonomia dos judiciários formados em sua tradição. Convergência, porém, não implica abdicação quanto aos pressupostos históricos da matriz de origem: ao se abrirem às práticas da common law, como o judicial review e o slare decisis da experiência americana, os países de sistema de civil law preservam a constituição da magistratura como uma burocracia especial do Estado, o sistema de concurso público para o recrutamento dos seus quadros e a socialização interna corporis, à margem, portanto, do ambiente político, realizando uma experiência institucional inteiramente diversa daquela dos países de common law, cujos magistrados são recrutados politicamente e cuja socialização no campo jurídico inclui um prévio e longo treinamento em outras profissões legais, como a dos advogados.)4 Assim é que, nos países de sistema de civil law onde se aprofunda a convergência com o de common law, especialmente nos contextos nacionais em que, de jure e de fato, o judiciário se autonomiza do controle do sistema político, ele tende a se manifestar como um "poder difuso", sem que conheça a ação de mecanismos institucionais que Ule sirvam como contrapeso. Tal "excentricidade", segundo a lúcida análise de C. Guarnieri sobre a magistratura italiana,55 apresenta esse Poder como um novo protagonista no sistema político do mundo moderno, paradoxalmente mais ativo e intervencionista nos países de civil law - como nQ caso da Itália - do que nos de CQmmon law, em que a sua ação é dependente de um juiz singular, na medida em que a institucionali zação dos conselhos nacionais de magistratura tende a lhe conceder um caráter de ator coletivo vocacionado para o exercício de um papel ético-moral na pedagogia da sociedade e de animador da difusão do justo. Parte do Estado, encravado em suas estruturas, o judiciário como ator não está destinado a irromper como portador de rupturas a partir de um constructo racional, que denuncie o mundo como injusto. Ele já está no mundo, "Positivação " do Direito Natural instalado no coração das suas instituições e na própria história delas. A idéia de justiça não lhe chega como obra da razão, meta fisicamente, uma vez que estaria contida nas concepções que materializaram a democracia constitucional, entra nhando-se, assim, no tecido dos falos. 56 Neste sentido, a este ator não cabe o papel derniúrgico - ele é o intérprete que desvela a noção de bem e os princípios de justiça já presentes nas institu ições. Daí que a realização do ideal de justiça não reclame um ator posto em relação de externalidade quanto àquelas últimas, dado que ele é o intelectual especializado em indagar sobre O seu sentido e garantir continuidade, no seu papel de julgador de casos concretos, aos princípios de justiça e de eqüidade. Como observa P. Bouretz, em seus comentários sobre a obra de]. Rawls e R. Dworkin, seria a partir de procedimentos de interpretação, com base nas categorias de justiça e de eqüidade, que "a democracia inventa um entendimento sobre o seu passado, o seu presente e o seu futuro".')] Do passado ela interpelaria positivamente a proclamação dos direitos do homem, em uma história de revisitações sucessivas que a institui como um princípio fundador do sistema das liberdades, momento inaugural da narrativa que a sociedade faz sobre si mesma. No presente, a contínua atualização dessa herança poria sob penna nente escrutínio as normas jurídicas vigentes, "como se o texto das leis positivas sofresse um déficit de significação em relação à idéia de dircito",óB denúncia da incompletude da regulação jurídica efetivamente existente quando confrontada com o ideal de justiça. Mas seria na invenção do futuro que a idéia do direito associado ao ideal de justiça demandaria um novo ator, nesta hora de "der ruimento das utopias messiânicas, quando as grandes teleogias se esgotaram". O novo ator nasce com papel substitutivo ao das utopias que até recentemente estariam a animar o mundo - somente um direito que venha a subsumir a idéia de justiça poderia consistir na "última defesa contra a petrificação das relações sociais em um mundo desencantado". ';9 De esfera especializada na regulação social e na arbitragem entre conflitos, o direito deveria, então, convocar para si o estatuto de uma filosofia em ato, expressiva de um programa de refoll1l3 social, as interpretações dos juízes, narrativa que se desdobra inventivamente ao longo do tempo, na forte metáfora de R. Dworkin, consistindo em momentos moleculares de afirmação da justiça e da eqüidade em cada fragmento da realidade submetido ao seu julgamento. O Judiciário, quer como ator coletivo, quer por meio da ação heróica e compadecida do juiz individual, abandona seu canto neutro e se identifica com a preservação dos valores universais em uma sociedade que cada vez menos se reconhece no seu Estado, em seus partidos e no seu sistema de representação. Assim, em um mundo destituído de transcendência, que não mais conhece a cultura heróica das utopias, sob um processo universal de 275 estudos históricos e 1 996 - 18 . ,._---==:...:===----=----"'-"-"-'''--� , J 276 asscmelhamento e de afIrmação do "direito de ter direitos", o futuro deixaria de ser concebido em ruptura com o presente. Ele passa a ser a projeção cumulativa de valores e direitos já conquistados, narrativa em permanente progressão, a exprimir a aventura do homem em busca de autonomia, de uma vida em comum plena de sentido e orientada pela razão. Os intelectuais do Judiciário seriam a consciência dessa revolução silenciosa que se desenrolaria a partir do interior do núcleo do Estado, "narradores" do texto que fala da escalada do ideal de igualdade e da expansão dos direitos, em um processo perene de renovação das antigas instituições. De Poder "mudo" a Terceiro Gigante, os "séculos democráticos", previstos por Tocqueville, seriam aqueles em que "os juristas talvez sejam chamados a desempenhar o principal papel na sociedade política que procura nascer".60 Notas 1. Uma tentativa de conceituar a welfare sociely está em J. Cohen, J. lIogers, "Secondary associations ano democratic governance", in E. O. Wright (org.), ASSOCiatiOllS Qlld democracy, LonuresINova York, Verso, 1995, p. 39. 2. Ver C. Lafcr, A recolls/lllçào dos direitos bumallos- 11m diálogu com o j;e'lStlme1ll0 de Hannab Amlld/, São Paulo, Companhia das LcLras, 1991, p. 39. 3. Ver especialmente de P. Ricoeur,1e jl/sle, Paris, Esprit, 1995, e ue P. l3ouretz, "l<J force uu uroit', in P. Bourctz (org.), IA force dll droi/, Paris, Esprit, 1991; e também, de A. Renaut e L. Sosoe, Pbi/osopbie du droi/, Paris, PUF, 1991, particularmente os três capítulos da Introdução Geral. 4. Como é bem conhecido, Marx sustentava que "o direito não pode estar - . . nunca em um estagio supenor ao contexto econômico da sociedade e ao grau de civilização a ele correspondente" - Crítica ao programa de GOlba, Paris, Éditions Sociales, 1966, p. 32. O horizonte limitado do direito burguês - "um direito fundado sobre a desigualdade, como todo direito", op. cit., p. 31 - seria superado em uma fase superior da sociedade comunista, quando as fontes da riqueza social jorrassem com abundância e quando o lrabalho deixasse de ser apenas um meio de vida par:1 ser a primeira necessidade vital, tomando obsoleta a forma de medida que o direito representaria. Sobre esse texto de Marx ver de E. Pasukanis, A teoria geral do direito e o marxismo, Coimbra, Ed. Perspectiva Jurídica, 1972. 5. Ver ue A. Renaut c L. Sosoe, Philosophíe du droil, op. cil., particulam1cnte os capítulos dedicados à relação entre Kant c o direito natural e ao tema do retorno a Kant, p. 367 e s. 6. É clássica a análise uesse processo por M. Cappelleni, 7be judicial process ill cmnparative perspective, Oxford, Clarendon Press, 1989. 7. J. Rawls. "La lhéorie de la juslice comme équité: une théorie politique ft )lon pas mélaphysique", in C. Audard el alii (orgs.), I"divida et justice soc ia/e au/ouI" dejabll Rawls, Paris, Ed. <.lu Seuil, 1988, p. 285. Uma importante análise brasileira da obra de Rawls é a de Álvaro de Vila, justiça liberal, Rio de janeiro, Paz e Terra, 1993. Ressalte-se também, do mesmo aUlor, "Direito e moralidade na polílica liberal", Seminário Ibero-Americano de Direito Comparado, mimeo, Rio, 1995. Ver, ainda, de P. Bourcrz, "Prendre Ic droit au sérieux: De Rawls à Dworkin'\ in P. Bourelz (org.1, La force du dl'Oit, op. cit. Por fim, de C. Lafer, A recollstrução dos direitos humanos, op. CiL, p. 234. 8. j. Rawls, op. cit., p. 281. 9. Idem, ib., p. 304-305. 10. C. Lafer, op. cit., p. 78. 11. Para uma visão histórica do constitucionalismo em seus vínculos com o direito natural, ver o excelente As !l.IndClçôes do pel1samel1to polrtico mudemo, de Q. Skinner, São Paulo, Companhia das Letras, p. 393 e s. 12. Nas palavras de M. Cappellelli, "o constitucionalismo moderno, com seus elementos básicos - uma carta de direitos civis Iibenária com um judiciário domdo da capacidade de . . , � . Impor o seu cumpnmento - e a unira tentativa realista de implementar os valores da lei natural em nosso mundo real. Nesse sentido, nossa época. é a d1 lei natural I .. ,], As constituições modernas, suas cartas de direitos c o controle constitucional das leis por pane do Poder Judiciário, são OS componentcs de uma 'Iei positiva superior' rornada vinculante e obrigatória: elas representam uma síntese de uma cspécie de positivismo legal e lei natural." Op. cit., p. 210. "Positivação " do Direito Natllral 13. Marcelo Neves, A cOlzstiluciollalização simbólica, São Paulo, Ed. Acadêmica, 1994, p. 32 e 34. 14. Idem, ib., p. �2. 15. Idem, ib., p. 51. 16. T. S. Ferraz, "O Judiciário freme à divisão dos poderes: Um princípio em decadência?", Revista USP, Dossiê Judiciário, Universidade de São Paulo, nO 2 1 , março/abriVmaio 199�, p. 18. 17. Marcelo Neves, op. cit., p. 37. 18. Sobre o mandado de injunção na experiência brasileira, ver de O. Vilhena Vieira, Supremo Tribunal federal, jurisprudêHcia poliLica, São Paulo, Ed. ReviSIa dos Tribunais, Im, p. 120. 19. T. S. Ferraz, op. cit., p. 18. 20. Ver de M. Cappellelli, juízes legisladores?, Porto Alegre, Sergio Anlonio Fabris Editor, 1993, p. 42. 21. Sobre a conquisL,1 da cidadania em ondas sucessivas de afim1ação de direitos ver o clássico de T. 1-1. Marshall, Cidadania, classe social e SUI/US, Rio de janeiro, lahar, 1967. 22. M. Cappelleni, jllízes legisladores?, op. cit., p. 39. 23. Idem, ib., p. 12. 24. Ver de C. Offe, "A atribuição de status público aos grupos de inLeresse", in Capitalismo desorgallizado, São Paulo, Brasiliense, 1985; e de M. L. Teixeira \Verneck Vianna, At1icu/açào de illteresses, estratégias de bem-estar e políticas públicas: CI amen'callizaçâo penx!rsa da seguridade social tiO Brasil, lesc de douloramento, IUPERj, 1995, mimeo, especialmente a inlroduçào. 25. Sobre a questão da governabilidade, ver Luciano Manins, "Instabilidade política e governabilidade na construção democrática", in J. P. dos Reis Velloso (coord'), GouemabilidClde, sistema político e violência urbana, Rio de 277 estudos históricos e 1 996 - 1 8 ----�- ------===.::...=�""'-----=-�'-"-"'---"-'" • I 278 Janeiro, José Olympio, 199'1 ; e F.li Diniz, "Governabilidade, democracia e reforma do Estado: os desafios da construção de uma nova ordem no Brasil dos anos 90", Dados, vol. 38, nO 3, 1995. 26. Ver J. E. Faria, Direito e economia lIa de1nocralização brasileira, São Paulo, Malheiros Edilores, 1993, p. 139. 27. Idem, ib., p. 10. 28. M. Cappellelti, Juízes legisladores', op. cit., p. 46. 29. N . Poulantzas, O Estado, o poder, o socialismo, Rio de Janeiro, Graal, 1980, p. 252. O aUlor ainda observa: "o Parlamento perdeu praticamente a iniciativa de propor leis, cabendo isso ao Executivo. Os projetos de leis são revisados diretamente pela Administração. Essas leis não se inscrevem mais na lógica fonnal do sistema jurídico, fundamentacL1 na universalidade da norma e na racionalidade da vontade geral representada por seu editor, mas num registro diferente, o da política econômica concreta e rotineira, encarnada pelo aparelho adminisl!d{ivo." Idem, ib., p. 252-53. 30. M. R. Ferrarese, L'Istilllzlolle d!ffícile - la magistratura tra professione e sistema poli/leD, Bari, Edizioni Scientifiche Italiana, Publicazione clella Facohà Giuridica dcll'Università di Bari, 1984, p. 97. 31. Idem, ib., p. 96. 32. Idem, ib., p. 97; ver também de C. Guamieri, Afagistra/ura e pali/ica in Ital ia: pesi setlZa cOlllrapesi, Bologna, 11 Mulino, 1992, p. 26. 33. M. R. Ferrarese, op. cit., p. 100 e s. 34. Sobre o juiz como guardião das leis fundamentais, ver de A. Garapon, Le gardien des promesses.justiee e/ dêmocratie, Paris, Ed. Odile Jacob, 1996. 35. P. A, lbanes, nestas palavras, é bastante representativo da corrente do constitucionalismo democrático europeu: "A introduçào em Constituições rígidas [de uma) nova tábua de valores introduziu na ordem jurídica uma mudança de paradigma: do jurista e do juiz se espera confrontar a realidade com OS princípios 1...1. O juiz se toma ator de uma 'outra política', aquela dos direitos fundamentais e das garantias [da liberdade), que agora encontra lima sólida base normativa. Avaliar a obra do legislador ordinário em relação à C..onstituição, trazendo para si a questão da legitimidade da lei, exercitar, em última instância, o controle da legalidade do exercício do poder, contribuir para reforçar a precária garantia dos 'débeis' direitos sociais, tudo isso é, hoje, função do juiz imposta pela Constituição", E. adiante: "Esse processo pcmlitiu à Justiça sair de uma situação de uma simples dependência d'l política, característica do modelo de Estado liberal". "Corruzione de lia politica e giurisdizione, 11 caso spagnolo" . in E. B. Liberati, A. Ceretti, A. Giasauti (orgs.), Gove,.no dei giudlce La magistratura Ira dirilto e poli/lea, Milano, G. FeltrineJli Editore, 1996, p. 171-2. 36. E. B. Liberali, "Postfazionc. Potere e giustizia", in GouerrlO dei gilldiee, op.cit., p. 190. 37. C. N. Tale, T. Vallinder Corgs.l, 7be global expal/siol/ o/JudiCial Power, Ncw York, New York Press, 1995. 38. B. de S. Santos, M. M. L. Marques, J. Pedroso t! P. L. Ferreira não reconhecem na judicializaçào da política um fenômeno atual, começando por assinalar que "em quase todas as situaçõcs do passado, os tribunais destacaram-se pelo seu conselVadorismo ! . . .I, pela sua incapacidade para acompanhar os processos mais inovadores de transformação social c política, muitas vezes sufragados pela maioria da população", para. depois, concluírem no sentido de que "o novo protagonisrno judiciário partilha com o anterior [como no caso da tentativa de anulação do New Deal de Hoosevelt por parte da Suprema Corte americana) uma característica fundamental: uaduz-se num conrramo com a classe política e com outros órgãos de poder sobera no, nomeadamente com o poder executivo. E, é por isso, que. tal como anteriormente, se fala agora da judicialização dos conflitos políticos" (grifos nossos). Os tribullais 'Ias sociedades conlemporôl1ea5: o caso portugllês, Centro de Estudos do Judiciário e Edições Afrontamento, 1996, p. 19-20. A construção do argumento, que parece se orientar para uma desqualificação dos papéis latentes e manifestos da judicialização da política como indicadores da mudança social - associados como estão, no mundo contemporâneo, a um Poder Judiciário como guardião das leis fundamentais - é, contudo, contraditória com a afirmação dos próprios autores de que "o protagonisl11o dos tribunais nos lCmpos mais rccemes 1...1, parece assenlar num entendimento mais amplo e mais profundo tio controle da legalidade, que inclui, por vezes, a reconstitucionalização do direito ordinário como meio de fundamentar um garanlismo mais ousado dos direitos dos cidadãos." Idem, ib., p. 20. 39. C. N. Tate, "Why the expansion of Judicial power", in 71Je global expallsioll o/judicial Power, op. cit., p. 28 e s. 40. Entre tantos outros, J. H. Menyman, 7be civillaw Iradilioll, 2J 00. Stanford, Stanford Univcrsity Press, 1985; M. Cappelleui, juízes legisladores>, op. cit., e 71Je judicial process iH cOlnparalive perspeclive, op. cito "Positivação" do Direito Natural 41. Em L. Allhusser - A1onlesquieu, a política e a história, Lisboa, Ed. Presença, 1972 - se encontra uma persuasiva c convincente demonstração de que em Momesquieu haveria "um problema político de relações de forças e não um problema jurídico relativo à definição da legalidade e das suas esferas" (p. 134). Mario Machado, em um interessante e pequeno artigo, rClornando às lições dos Feder.llistas, não deixa de se aproximar da leirura de Althusser sobre o tema - embora com intençào analítica inteiramente diversa -, ao sustentar que os "poderes devem est..'lr 'conectados e reunidos' !cita Madison), de tal forma a dar-se a cada um o controle constitucional dos outros". "Raízes do controle externo do Judiciário", Monitor Ptíblico, nU 8, ano 3, jan./fev./mar. 1996, p. 7. Para Althusser, igualmente, em Montesquieu "'nào se tratava de separação, mas de combinaçào, de fusão e de ligação dos poderes" (op. cit., p. 132), com o que se preservaria um papel eSl�tlégico para a aristocracia na consLrUção do sistema institucional que viesse a garantir as liberdades. 42. "Se se chama revolução a toda transrormação capital produzida nas leis, a toda l11ud1nça social, a toda substituição de um princípio regulador por um ourro, cenamente que a Inglaterra vive em estado de revolução, pois o princípio que era o princípio vital da sua constiruição perde força a cada dia; c c! provável que, com o tempo, o princípio democrático tomará seu lugar. Mas, se se compreende por revolução uma altet:tçã.o violenl.:1 e brusca, a Inglaterra nào me parece madura para um acontecimento desse tipo, e tenho razões para pensar que ele jamais ocorrerá." A. de Tocqueville, "Dcrniercs impressions sur I'Angleterre", VC!.voge5 ell AlIg/elerre el ell lrlande, Paris, Gallimard, 1957, 1958 c 1967, p. 107. Sobre o transformismo em Tocqueville, 279 , estudos históricos e 1 996 - 18 ,,�. ---�=������� I 280 ver L. Werneck Viann...'1, "Lições d1 América: o problema do americanismo em Tocqueville" I Lua Nova, São Paulo, CEDEC, nU 30, 1993. 43. A. de Tocqueville, A democraci" tia Amén'ca, Belo Horizonte/São Paulo, Editora I�"iaia/Edusp, 1977, Livro I, Introdução, p. 19. 44. S. Rodorã, "Magistratura e política in Itália", in E. B. Liberati, A. Ceretti, A. Giasanti (orgs.), Governo dei gil/d/ci, ap. cit., p. 17. O lema do direito como revolução contínua e molecular no contexto do sistema da commoll. low nos EUA esL.'i de algum modo contido em S. C. Stimson, 71Je American Revo/aliou in ibe law, Allglo-Amen'carI jl//'ispnldellce beforejobll Mal'Sba/l, Princeton, N. ]crscy, Princeton Universiry Press, 1990, especialmente p. 86 e s. 45. O conceito de revolução sem revolução - uma revolução passiva - foi desenvolvido nos textos de Gramsci dedicados ao Risorgim.enlo, in V. Gerratana (org.), Antonio Gramsci - Quaderni deI carcere, Torino, Einaudi Ed., 1975, Livro !li, p. 1959 e s. Ver de L. \Verneck Vianna, "O ator e oos 'falOS': a revolução passiva e o americanismo em Gramscilt , Dados, Rio de Janeiro, IUPERJ, vol. 38, nU 2, 1995. 46. Esta a crítica dirigida por A. Gramsci a fi. Croce, que, em sua interpretação da dialética hegeliana, teria suprimido o elemento da negação; ver V. Gerratana (org.), Antonio Gramsci - Quadenlj deI carce/'e, op. cit., p. 1 . 160-1.473. 47. A. Pizzorusso, "Associationnismc des magistrats et modeles europeéns de systemes judiciaires", in iLI fonnali011 des magist/'als ell F.lIrape et /e rã/e des �yl1dicats el des associations professionllelles, Trieste, Casa Editrice Dou. Antonio Milani, 1992, p. 30. 48. A. de Tocqueville, O Auligo Regime e a Rem/lição, Brasília, Ed. da Universidade de Brnsma, 1979, Livro I, capo IV. 49. A. Pizzorusso, op. cit., p. 30. Sintomático corno a literatura do humanismo jurídico retoma os temas tocquevillianos, como o do juiz do jus commune, que em A democracia na América, op. cit., Livro I, p. 205·5, merece do autor este bizarro elogio: "As nossas leis escritas, muitas vezes, são difíceis de compreender, mas qualquer um as pode ler; pelo contrário, nada há de mais obscuro para o vulgo, nada está menos ao alcance da sua compreensão que uma legislação fundada em precedentes. Essa necessidade que se tem do jurista, na Inglaterra e nos Estados Unidos, essa idéia elevada que se fonna de seus conhecimentos, separam·no cada vez mais do povo e acabam por colocá-lo numa classe à parte. O jurista francês nào passa de um sábio; Illas o homem de lei inglês ou americano parece, de certo modo, com os sacerdotes do Egito; como eles, é o único intérprete de uma ciência oculta". 50. A. Pizzorusso, op. cit., p. 31. 51. A. de Tocqueville, A democracia na América, op. cie., Livro I, p. 205, assim a descreve, comparando-a com o direito originário do racionalismo da Revolução de 1789: "os ingleses e os americanos conservaram a tradição dos antecedentes, isto é, continuaram a aproveitar-se dela, [buscando] nas opiniões e decisões legais de seus antepassados, as opiniões que devem ler em matéria de lei, e as decisões que devem tomar 1. .. 1. O jurista inglês ou americano procura O que foi feito, o francês, o que se devia fazer [ .. .I. Quando ouvimos um jurista inglês ou americano, surpreende-nos vê-lo citar tão freqüentemente a opinião dos outros e ouvi-lo falar tão pouco da sua própria, ao passo que se dá o contrário entre nós" . 52. R. Dworkin, com a metáfora do direito como um romance escrito a várias màos eem tempos sucessivos, raz da tradição - a legislação dos antecedentes - o ponto de partida para uma pem1anenle e contínua evolução das concepções de justiça, segundo os valores do tempo do "juiz-narrador". l..aw� empire, Cambridge, Mass., !.ondon, The Belknap Press of Harvard University Press, 1986, p. 22;. Sobre essa passagem em Dworkin, ver os excelentes comemários de P. Bouretz, "Prcndre le droit au sérieux: de Rawls à Dworkin", in P. Bouretz (org.l, La/orce du droil, op. cit., p. 83 e s. 53. J. H. Merryman, op. cit., p. 151 e s. 54. Idem, ib., p. 34. 55. C. Guarnieri, op. cit., p. n, 11;, 119 e s. "Positivação " do Direito Natural 56. "Falos", aí, como uma categoria da revolução passiva gramsciana, quando eles, por assim dizer, são os protagonistas e nào "os homens individuais" I expressando, "com pressão lenta e incoercível" I um processo de mudança social. V. Gerratana, op. cit, p. 1.818-9. 57. "Prendre le droit au sérieux: de Rawls à Dworkin", in P. Bouretz (org.), op. cit., p. 87. 58. Idem, ib., p. 88. 59. Idem, ib., p. 89. 60. A. de Tocqueville, A democracia /la América, Livro I, op. cit., p. 203. (Recebido para publicação em oUlubro de 1996) 281 , estudos históricos e 1 996 - 1 8 . �.--------���������� - I 280 ver L. Werneck Vianna, "Lições da América: o problema do americanismo em Tocqueville", Lua Nova, São Paulo, CEDEC, n" 30, 1993. 43. A. de Tocqueville, A democracia na América, Belo Horizonte/São Paulo, Editora ltatiaia/Edusp, 1977, Livro I, Introdução, p. 19. 44. S. Rodotà, "Magistratura e política in Itália", in E. B. LiberaLi, A. Cereui, A. GiasanLi (orgs.), Gove1"1lO dei giudici, op. cit, p. 17. O [ema cJo direito como revolução contínua e molecular no contexto do sistema da commoll /aw nos EUA está de algum modo contido em S. C. Stimson, 71Je Americart RevolutioH in lbe law, Auglo-Ame17.'ca1l jurisprudellce beforejoh" Marshall, Princeton, N. Jersey, Princc(on Universiry Press, 1990, especialmente p. 86 e s. 45. O conceito de revolução sem revolução - uma revolução passiva - foi desenvolvido nos textos de Gramsci dedicados ao Risorgimelllo, in V. Gerratana (org.), Antonio Gramsci Quaderní dei carcem, Torino, Einaudi Ed., 1975, Livro 111, p. 1 9)9 e s. Ver de L \Verneck Vianna, "O ator c os 'fatos': a revolução passiva e o americanismo em Gramsci", Dados, Rio de Janeiro, IUPERJ, vaI. 38, nO 2, 1995. 46. Esta a crítica dirigida por A. Gramsci a B. Croce, que, em sua interpretação da dialética hcgeliana, teria suprimido o elemento da negação; ver V. Gerratana (org.), Antonio Gramsci - QuadenJi dei carcere, op. cit., p. 1.160-1.473. 4 7. A. Pizzorusso, "Associationnismc des magistrats et modeles europeéns de sysrêmes judiciaires", in Lafonnati01l eles magislrals eu Europe el le rôle des �yndícafs el des associalíons professiorlnelles, Trieste, Cas.:1 Editrice Dou. Antonio Milani, 1992, p. 30. 48. A. de TocqueviJlc, O Amigo Regime e a Revu/uçâo, Brasília, Ed. da Universidade de Brasília, 1979, Livro I, cap. IV. 49. A. Pizzorusso, op. cit., p. 30. Sintomático como a literatura do humanismo jurídico retoma os temas tocquevillianos, como o do juiz do jus commUrle, que em A democracia na Amén'ca, op. dt., Livro I, p. 205-5, merece do autor este bizarro elogio: "As nossas leis escritas, muitas vezes, são difíceis de compreender, mas qualquer um as pode ler; pelo contrário, nada há de mais obscuro para o vulgo, nada está menos ao alcance da sua compreensão que uma legislação fundada em precedentes. Essa necessidade que se tem do jurista, na Inglaterra e nos Estados Unidos, essa idéia elevada que se forma de seus conhecimentos, separam-no cada vez mais do povo e acabam por colocá-lo numa classe à parte. O jurista francês não passa de um 5..'\bio; mas o homem de lei inglês ou americano parece, de certo modo, com os sacerdotes do Egito; como eles, é o único imérprete de uma ciência ocuha". 50. A. Pizzorusso, op. cit., p. 31. 51. A. de Tocqueville, A democracia na Amén'ca, op. cit., Livro 1, p. 205, assim a descreve, comparando-a com o direito originário do racionalismo da Revolução de 1789: "os ingleses e os americanos conservaram a tradição dos antecedentes, isto é, continuaram a aproveitar-se dela, [buscando] nas opiniões e decisões legais de seus antepassados, as opiniõcs que devem ter em matéria de lei, e as decisões que devem tomar 1. . .1. O jurista inglês ou americano procura O que foi feito, o francês, o que se devia fazer [ .. .1. Quando ouvimos um jurista inglês ou americano, surpreende-nos vê-lo citar tão freqüentemente a opinião dos outros e ouvi-lo falar tão pouco da sua própria, ao passo que se dá o contrário entre nós'. 52. R. Dworkin. com a metáfora do direito como um romance escrito a várias mãos e em tempos sucessivos, Faz da l!'3wção - a legislação dos antecedentes - o ponto de partida para uma pennanente e contínua evolução das concepções de justiça, segundo os valores do tempo do "juiz-narrador". IAw's empire, Cambridge, Mass., London. The Belknap Press of Harvard Universiry Press. 1986. p. 225. Sobre essa passagem em Dworkin, ver os excelentes comentários de P. Bouretz, uPrendrc le droir au sérieux: de Rawls à Dworkin". in P. Bouretz (org.l. Ú'Jfol'ce dll droil. op. cit.. p. 83 e s. 53. J. H. Merryman. op. cit., p. 1 5 1 e s. 54. Idem, ib., p. 34. 55. C. Guarnieri, op. cit., p. TI, 1 1 5, 119 e s. "Positivação " do Direito Natural 56. "Fatos", aí, como uma categoria da revolução passiva gramsciana, quando eles, por assim dizer, são os protagonistas e não "os homens individuais", expressando. "com pressão lenta e incoercível", um processo de mudança social. V. Gerralana, op. cit., p. 1.818-9. 57. "Prendre le droit au sérieux, de Rawls à Dworkin", in P. Bouretz (org.), op. cit., p. 87. 58. Idem, ib., p. 88. 59. Idem, ib., p. 89. 60. A. de Tocqueville, A democracia na América. Livro I, op. cit., p. 203. (Recebido para publicação em olllllbm de 1996) 281 . -' • • • I I , I I CI) c ... CI) . - c: (J) � CI) O "O j ... CI) (J) C ... CI) • > (J) ... revista estudos feministas é uma revista acadêmica, de caróter plundlsclplinar, que tem par obJet"'o am pliar o campo dos estudos de gênero no Brasil. revista estudos feministas é um projeto coletiva da comunidade acadêmica e um canal de expressão do movimento feminista. Necessnamos de apolo. As doações beneflclam·se da Lei Rouanet. Infarme-se! revista estudos feministas é semestral Ounho e novembro) e estó aberta a colaborações na forma de artigos, resenhas, ensaios e dossiês. In- formações de Interesse geral sabre o temo serão divulgadas na rubrica agen- da. tomo I voJ.O n.0/92 (esgotado) tomo 2 voU n.I /93 (esgotado) tomo 3 vol.1 n.2/93 (esgotado) tomo 4 vol.2 n. I /94 tomo 5 n° especlal/94(esgotado) lemo 6 vol.2 n. 2/94 lemo 7 vol.3 n, 1 /95 lemo 8 vol.3 n.2/95 tomo 9 vol.4 n.I /96 Oulho) lemo 1 0 vol.4 n.2/96 (novembro) A S S I N A T U R A (AN U AL) 2 números N . aCionai . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . R$ U$ U$ R$ 40,00 40,00 60,00 22,00 I nl . I ernaclona . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 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