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O PROBLEMA DAS RELAÇÕES INDIVÍDUO E SOCIEDADE antropologia

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O PROBLEMA DAS RELAÇÕES INDIVÍDUO E SOCIEDADE 
Prof. MsC. Marcos Macedo
Antropologia Jurídica
O PROBLEMA DAS RELAÇÕES 
INDIVÍDUO E SOCIEDADE
- ÉMILE DURKHEIM - 
Émile Durkheim nasceu em 15 de abril de 1858, na cidade de Épinal, na região francesa da Alsácia-Lorena. Formou-se na Escola Normal Superior de Paris em 1882. Lecionou filosofia nos liceus de Sens, Saint-Quentin e Troyes entre 1882 e 1885. Em 1887, aos 29 anos de idade, tornou-se responsável pela cátedra de sociologia na Universidade de Bordéus, onde começou a escrever algumas de suas obras. Em 1902, de volta a Paris, foi nomeado assistente na cadeira de Ciência da Educação, e, em 1910, transformou-a em cadeira de Sociologia.
A sociologia de Durkheim tem como objeto de estudo os fatos sociais, por meio dos quais é possível apreender o que é uma sociedade. 
Essa preocupação tem origem no positivismo, pensamento social atuante na França do século XIX, que procurou estudar a sociedade da mesma forma como ocorre nas ciências naturais.
Segundo Durkheim, o fato social é tudo aquilo que pode ser considerado como coisa, ou seja, tudo o que existe nas sociedades humanas e que pode ser tratado da maneira como a Física estuda os corpos e seus movimentos. Nas palavras do próprio autor, o fato social “é toda aquela maneira de fazer, fixada ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior”.
O FATO SOCIAL
“é um fato social toda maneira de agir, fixa ou não, capaz de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior, ou ainda, que é geral no conjunto de uma dada sociedade tendo, ao mesmo tempo, uma existência própria, independente de suas manifestações individuais.”
 03 CARACTERÍSTICAS FUNDAMENTAIS
GENERALIDADE
Generalidade é a característica que qualifica um fato como social. De acordo com essa particularidade, é social todo fato que é geral.
Isso significa que é considerado fato social tudo o que é repetido em todos os indivíduos e sociedades, ou, ao menos, na maioria deles. 
Os fatos sociais manifestam sua natureza coletiva ou um estado comum ao grupo. A generalidade de um fato social está relacionada à periodicidade regular e frequente com que ocorre e é observada em um grupo humano.
Como exemplos desses aspectos, citemos as formas de habitação, os sentimentos, a moral, os movimentos de êxodo rural, a organização de sindicatos e de partidos políticos, entre outros.
COERCITIVIDADE
É a qualidade de imposição que todo fato social deve exercer sobre os indivíduos. a coerção social seria a força que os fatos exercem sobre os indivíduos, levando-os a se conformarem e a aceitarem as regras da sociedade em que vivem, independentemente de sua vontade e escolha, se não as acatamos, somos passíveis das respectivas punições.
A existência da coerção social, segundo Durkheim, é de importância essencial, porque afirma o papel de regulamento da moral para promover a integração social.
Sem os vários aspectos da moral, traduzidos por leis, regras e convenções, as sociedades não podem viver e conviver em harmonia.
O sistema educacional, de acordo com Durkheim, é considerado instrumento de coerção. A educação desempenha importante função para conformar os indivíduos às regras da sociedade em que vivem. 
As regras sociais, pela atuação do sistema educativo, aos poucos são incorporadas pelos indivíduos, que as transformam em hábitos.
EXTERIORIDADE
A exterioridade é outra característica do fato social. Todo fato social é exterior ao indivíduo, sua existência e atuação são manifestadas e exercidas sobre as pessoas, independentemente de sua vontade ou de sua aceitação consciente. 
Por exemplo, as convenções, as regras sociais, as leis e os costumes já existem antes do nascimento dos indivíduos.
O enquadramento das pessoas ao conjunto das regras sociais é imposto por mecanismos de coerção social, como a educação e as sanções.
Os fatos sociais existem e atuam sobre os indivíduos, independentemente de sua vontade ou de sua adesão consciente. Os costumes e as leis FUNCIONAM INDEPENDENTEMENTE DO USO QUE FAÇO DELES.
Outra preocupação de Durkheim foi com a questão da neutralidade e objetividade da sociologia. Segundo esse pensador social, é recomendável ao pesquisador social manter uma atitude de distanciamento do objeto de estudo, como ocorre nas ciências naturais. 
Isto é possível através de uma rígida separação entre o objeto a ser estudado e o sujeito que o estuda, além do que, cabe ao sujeito tratar o respectivo objeto como coisa.
CONSCIÊNCIA COLETIVA E INTEGRAÇÃO SOCIAL
A consciência coletiva, é a força coletiva exercida sobre um indivíduo, que faz com que este aja e viva de acordo com as normas da sociedade na qual está inserido.
Pode-se definir consciência coletiva como a forma moral que vigora na sociedade, apresentando-se como um conjunto de regras fortemente estabelecido, que atribui valor e controla os atos individuais. 
Em uma sociedade, a definição de atitudes, comportamentos e pensamentos considerados imorais, reprovados ou inadequados, é realizada pela consciência coletiva.
O sociólogo francês também buscou elaborar uma classificação das sociedades, cujo critério era baseado na solidariedade humana, dividida em dois tipos: a solidariedade mecânica e a solidariedade orgânica. 
OS DOIS TIPOS DE SOLIDARIEDADE
As sociedades passam por processos de evolução, caracterizados pela diferenciação social.
SOLIDARIEDADE MECÂNICA
A solidariedade mecânica é típica das sociedades pré-capitalistas ou sociedades tidas como primitivas. Nesse tipo de solidariedade, os indivíduos se identificam pelos laços familiares, pela religião, pelas tradições e pelos costumes, reconhecendo os mesmos valores, os mesmos sentimentos e os mesmos objetos sagrados, de forma a apresentar pequenas diferenças entre si. 
Na solidariedade mecânica, a tradição e os aspectos culturais são fatores que identificam os indivíduos, tornando-os coesos.
Os indivíduos, guiados pela solidariedade mecânica, pertencem a uma coletividade, em que não há divisão social nem distinção entre eles quanto à função que desempenham. 
SOLIDARIEDADE ORGÂNICA
A solidariedade orgânica é característica das sociedades capitalistas, em que há divisão do trabalho social, e os indivíduos tornam-se interdependentes. 
Essa interdependência, resultado da especificação das funções desempenhadas por cada indivíduo, garante a união social. 
A solidariedade orgânica é comum entre as sociedades modernas ou capitalistas, e está calcada na divisão do trabalho, pois Durkheim afirmava que esta divisão é básica em qualquer sociedade, porém, nas sociedades capitalistas, ela praticamente é a mais importante para a manutenção da coesão social.
No caso particular da solidariedade orgânica, o efeito mais importante da divisão do trabalho social, de acordo com Durkheim, não é o aumento da produtividade, mas a solidariedade gerada entre os homens.
O BOM FUNCIONAMENTO DA SOCIEDADE
Durkheim também manifestou uma grande preocupação com o bom funcionamento das sociedades humanas, o que nos levou a classificá-lo como um funcionalista. Para avançarmos um pouco mais nessa questão, precisaremos tomar contato com o conceito de instituição social.
INSTITUIÇÃO SOCIAL
Por instituição social, podemos tomar uma determinada regra ou um valor que sejam reconhecidos, aceitos e confirmados pela sociedade, pois sua importância advém do fato de serem estratégicos para manter a organização social e satisfazer as necessidades dos indivíduos. 
Assim, em qualquer sociedade, há várias instituições desse tipo, como a família, a escola, o governo, a religião; todas elas são mecanismos de proteção e manutenção da sociedade.
A NATUREZA DOS FATOS SOCIAIS
Para Durkheim, a sociologia deveria desempenhar duas funções básicas: explicar a sociedade e seu funcionamento e encontrar soluções para a vida social. Segundo ele, a sociedade apresentaria estados normais e patológicos; saudáveis e doentios.
Dessa forma, ele revela que o fato social pode apresentar duas características: fato social
normal ou fato social patológico.
Um fato social é considerado normal quando se encontra generalizado na sociedade e nos grupos sociais ou quando desempenha alguma tarefa importante para a adaptação e a evolução daquela sociedade. O trabalho é um exemplo de fato social normal.
A generalidade de um fato social garante a sua normalidade, porque expressa a vontade coletiva ou o acordo de um grupo em relação a um assunto.
Por outro lado, um fato social é considerado patológico quando estabelece perigo ao consenso social, à vontade coletiva, ao acordo, à evolução e à adaptação da sociedade. 
A violência urbana descontrolada é um exemplo de fato social patológico.
Consideram-se normais os fatos sociais que não ultrapassam os limites mais gerais dos acontecimentos de uma sociedade e que são repetidos frequente e regularmente.
Todo fato social normal comporta valores, condutas e vontade coletiva.
Os fatos sociais transitórios e excepcionais são considerados patológicos, pois ultrapassam os limites mais gerais dos acontecimentos de uma sociedade e não são frequentemente repetidos. Além disso, esses fatos não refletem os valores, a conduta, a moral vigente e a vontade coletiva.
O SUICÍDIO
Uma sociedade sem regras claras, sem valores delimitados e sem limites é uma sociedade em estado de anomia, o que pode levar os indivíduos que a compõem a um profundo desespero. Em sua obra O suicídio, de 1897, Durkheim procurou demonstrar a relação entre a anomia e o alto número de suicídios ocorridos na Europa no século XIX.
TAXAS DE SUICÍDIO
Durkheim concluiu que:
Taxas de suicídio são maiores entre os solteiros, viúvos e divorciados do que entre os casados;
Na maioria das vezes, quem sofre o "suicídio" quase sempre não sobrevive.
São maiores entre pessoas que não têm filhos;
São maiores entre protestantes que entre católicos.
SUICÍDIO EGOÍSTA
O egoísmo é um estado onde os laços entre o indivíduo e os outros na sociedade são fracos. 
Uma vez que o indivíduo está fracamente ligado à sociedade, terminar sua vida terá pouco impacto no resto da sociedade. Em outras palavras, existem poucos laços sociais para impedir que o indivíduo se mate. 
Esta foi a causa vista por Durkheim entre divorciados. Em outras palavras, o indivíduo se mata para parar de sofrer, como por exemplo o fim de um relacionamento com outro indivíduo.
Quando os indivíduos não estão integrados às instituições ou a redes sociais que regulam suas ações e lhes imprimam a disciplina e a ordem (como a igreja, o trabalho, a família), acabam tendo desejos infinitos que não podem satisfazer. Os indivíduos pensam essencialmente em si mesmos, sofrendo com depressão, melancolia e outros sentimentos.
Os homens estão mais inclinados ao suicídio quando não estão integrados num grupo social, quando seus desejos não podem ser reduzidos à autoridade e à força impostos pelo grupo.
SUICÍDIO ALTRUÍSTA
Durkheim viu isto ocorrer de duas formas diferentes:
Onde indivíduos se veem sem importância ou oprimidos pela sociedade e preferem cometer suicídio. Ele viu isto acontecer em sociedades "primitivas" ou "antigas", mas também em regimentos militares muito tradicionais, como guardas imperiais ou de elite, na sociedade contemporânea;
Onde indivíduos veem o mundo social sem importância e sacrificariam a si próprios por um grande ideal. Durkheim viu isto acontecer em religiões orientais, como o Sati no Hinduísmo. Alguns pesquisadores contemporâneos têm usado esta análise para explicar os kamikazes e os homens-bomba.
SUICÍDIO ALTRUÍSTA
Se trata do suicídio pelo completo desaparecimento do indivíduo no grupo;
O indivíduo se mata devido a imperativos sociais, sem sequer pensar em fazer valer seu direito à vida;
O indivíduo se identifica tanto com a coletividade que é capaz de tirar sua vida por ela (mártires, kamikases, honra, etc).
SUICÍDIO ANÔMICO
A anomia é um estado onde existe uma fraca regulação social entre as normas da sociedade e o indivíduo, mais frequentemente trazidas por mudanças dramáticas nas circunstâncias econômicas e/ou sociais. 
Este tipo de suicídio acontece quando as normas sociais e leis que governam a sociedade não correspondem com os objetivos de vida do indivíduo. 
Uma vez que o indivíduo não se identifica com as normas da sociedade, o suicídio passa a ser uma alternativa de escapar. Durkheim viu esta explicação para os suicidas protestantes.
SUICÍDIO ANÔMICO
Se deve a um estado de desregramento social, em que as normas estão ausentes ou perderam o sentido;
Quando os laços que prendem os indivíduos aos grupos se afrouxam, há uma crise social que provoca o aumento desse tipo de suicídio;
Atinge os indivíduos em função das condições de vida nas sociedades modernas;
Correlação entre a frequência do suicídio e as fases do ciclo econômico.

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