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1) INFORMAÇOES BIBLIOGRÁFICAS EMKIN, Leroy Z. Misuse of computers by structural engineers: A clear and present danger. Structural Engineers World Congress, 1998. STADTHERR, Mark A. High performance computing: are we just getting wrong answers faster?. CAST Division Awards, 1998. 2) DADOS SOBRE OS AUTORES Leroy Z. Emkin é engenheiro civil e mestre pelo Instituto de Tecnologia da Geórgia, Ph.D. pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), fundador e codiretor do Centro de engenharia estrutural auxiliado por computadores (CASE). Consultor e palestrante internacional em confiabilidade, ética e uso adequado dos computadores nos projetos estruturais. O GT STRUDL, desenvolvido com o auxilio de Leroy Z. Emkin é utilizado no desenvolvimento de sistemas de infraestrutura, tais como geração de energia, nuclear, industriais, petróleo e gás, sistemas marítimos e transporte. Mark A. Stadtherr é formado pela Universidade de Minnesota, doutor em engenharia química pela Universidade do Wisconsin, é professor na Faculdade de engenharia química biomolecular em Notre Dame e palestrante internacional sobre o uso da matemática de intervalo aplicada na engenharia química. O foco das pesquisas de Mark A. Stadtherr é no desenvolvimento e aplicação de estratégias para tornar a computação aplicada à engenharia segura e confiável. 3) RESENHA CRÍTICA “Computação em favor da engenharia” Celso Pissinatti Cardoso O uso do computador é indispensável na vida moderna, o engenheiro que não está em constante aprimoramento não consegue sobreviver em um mercado de trabalho cada vez mais competitivo. Emkin destaca que os problemas acontecem quando os computadores são usados para tomar decisões de engenharia, como um substituto do conhecimento e da experiência. Isso representa um perigo claro e permanente, pois o engenheiro precisa dessas características para fazer engenharia, sem o uso de computadores. O autor enfatiza que um bom software não torna um engenheiro competente, mas um engenheiro competente deve fazer bom uso de um software. Com o uso descontrolado dos computadores, os engenheiros estão perdendo a capacidade de realizar qualquer tarefa que o computador realize. Repetidas vezes, o autor destaca que qualquer engenheiro que não pode realizar uma tarefa sem a ajuda de um computador, não pode se considerar um engenheiro projetista (o autor usa o termo “real structural engineers”). Para Emkin, os principais critérios adotados pelos engenheiros para comprar um software são: baixo custo, a interface gráfica e a facilidade de utilização. As empresas e os desenvolvedores aproveitaram o nicho de mercado, criando softwares cada vez mais comercializáveis, em que o conhecimento técnico do “usuário" é deixado de lado para facilitar sua utilização do programa. Qualquer pessoa pode ler o manual do software e utilizá-lo. É obvio que popularização do computador e a disseminação do uso de softwares possibilitaram avanços significativos em diversos campos da engenharia, como analisar modelos mais complexos e realistas de forma muito mais rápida. Dessa maneira, Stadtherr nos lança a seguinte pergunta: “E se o avanço do desempenho dos computadores nos levou apenas a obter as mesmas respostas, porém de maneira mais rápida?”. O desempenho de um software está intimamente relacionado com a capacidade de seus desenvolvedores/programadores, o computador é apenas uma ferramenta utilizada para processar os dados. Partindo de uma premissa errada, o resultado será errado, independente da velocidade do processamento das informações. Para os dois autores, isso representa um problema, já que os programadores poderiam ter pouco ou nenhum conhecimento sobre engenharia. Nos dias de hoje, diversos engenheiros aprendem programação computacional antes, durante ou depois da universidade. Diversos escritórios de engenharia desenvolvem suas próprias rotinas de cálculo, para validar as respostas obtidas nos softwares utilizados. Sobre o aumento da capacidade de processamento dos computadores, Emkin cita que as respostas incorretas podem ser apresentadas que em um curto espaço de tempo, e graças às interfaces com gráficos coloridos, essa apresentação se dará da forma mais esteticamente e agradável possível. Stadtherr exemplifica erros históricos provenientes dos métodos de cálculo utilizados pelos computadores, erros de precisão que causaram catástrofes. O curso de um foguete ou a velocidade e posicionamento espacial de um míssil exigem precisões milimétricas. Na engenharia civil, erros milimétricos são mascarados pelos coeficientes de segurança e amplificados pela diferença entre a solução teórica e a solução aplicada (diferença entre a armadura necessária e armadura adotada, por exemplo). Acredito que nenhuma estrutura ou método de cálculo são tão inovadores que não podem ser verificados de maneira simples pelos engenheiros projetistas, pela análise de tensões, deformações, equilíbrio ou compatibilidade. É claro que problemas com projetos e obras de engenharia sempre existiram e certamente vão continuar a existir. Acredito que foram os “usuários” que mudaram de 1998 pra cá. A modelagem da estrutura, por ser um trabalho mais braçal, fica sob a responsabilidade dos engenheiros menos experientes, estagiários ou até dos profissionais “CADistas”, que ganharam muito espaço com a utilização dos softwares de estruturas e desenhos. O uso indiscriminado do computador por pessoas menos capacitadas nos levou a uma inversão de valores, onde a competência do engenheiro/usuário está relacionada à correta utilização de determinado software e não ao conhecimento técnico em si. Além disso, na maioria das vezes, altera-se a necessidade de saber o "por que" das coisas, e a preocupação passa a ser "como" usar o computador para obter as respostas. Com isso, usam-se diversos artifícios para que o modelo da estrutura no software se assemelhe com o comportamento da real estrutura. O perigo real é quando os engenheiros assumem que os computadores produzirão sempre as soluções corretas para os problemas, sem que o resultado seja exaustivamente qualificado e verificado pelo engenheiro. Claro que o tempo extra possibilitou que engenheiros e arquitetos raciocinarem sobre a concepção e melhoria do projeto. A análise dos esforços e os detalhamentos, complicados e que consumiam muito tempo do engenheiro, passaram a ser feitos e repetidos quantas vezes fosse necessário. Em contrapartida, as modificações de projeto, que já eram numerosas e pagas, passaram a ser rotina e gratuitas. O escritório onde trabalhava sempre investiu muito em tecnologia, e começaram a quantificar o tempo gasto com as modificações e retrabalho, para barganhar prazos e a remuneração com os clientes. Emkin é radical em defender que os engenheiros não precisam utilizar nenhum software, e sim criar modelos simplificados dos sistemas estruturais e realizar análises a partir dai. Acredito que essa é uma das formas de encontrar erros e validar cada uma das rotinas e etapas de cálculo de um software. Em um cenário ideal, Emkin defende que o engenheiro deve "saber" a resposta, e usar o computador para validar a solução, usando-o como uma ferramenta, capaz de processar uma grande quantidade informações em um curto espaço de tempo. No final do artigo, Emkin faz duas listas, com mandamentos para reduzir a dependência e aumentar a qualidade do uso do computador naengenharia estrutural. 4) AVALIAÇÃO DA CRÍTICA O questionamento de Stadtherr é perfeito. De nada adianta aumentarmos a velocidade de processamento dos computadores sem melhorar a capacidade e os conhecimentos dos desenvolvedores de softwares. Porem, o autor afirma que o desempenho computacional aumenta cerca de duas vezes por década, como o texto foi escrito em 1998, é possível afirmar que ele errou essa previsão. Emkin tem razão na maioria de suas ideias, porém é muito radical ao afirmar que os engenheiros estruturais não deveriam usar o computador. Os engenheiros devem reconhecer os perigos dos computadores, ser céticos em relação aos seus resultados, entender os conceitos básicos de engenharia antes de aplica-los em um software para nunca produzir um modelo computacional de uma estrutura na qual ele não sabe projetar. Por ser um texto de 1998, ainda deviam existir algumas dúvidas sobre o uso dos computadores, se o texto fosse escrito hoje, talvez o autor não fosse tão radical assim. PCV UEM 2017 Celso Augusto Pissinatti Cardoso Análise de Estruturas Auxiliada por Computador
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