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O PAPEL DO JORNALISTA - ANABELA GRADIM

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CAPÍTULO 3
O PAPEL DO JORNALISTA
Anabela Gradim
Informar, segundo o dicionário universal da Língua Portuguesa, é “dar conhecimento, noticiar,
avisar, esclarecer; colher informações ou notícias, inteirar-se de”. Como tarefa, é das mais exigentes: requer
atenção, perspicácia, vivacidade de espírito e inteligência para a recolha da informação; e ainda um perfeito
domínio da língua em ordem a transmitir, de forma adequada, essa mesma informação. Não é raro
encontrar estas qualidades reunidas num candidato a jornalista. Muito mais raro é encontrar a outra grande
qualidade do jornalista: humildade suficiente para se apagar face ao acontecimento que se relata.
Salvo muito raras excepções, o papel que um jornalista desempenha num acontecimento, as
emoções ou dificuldades por que passou, não fazem parte da notícia. Os americanos sintetizam-no muito
bem com o newsmen is no news. O jornalista pode é, por vezes, informar os seus leitores das condições de
produção da notícia – como lhe foi vedado o acesso a certas áreas ou fontes, ou como certos efeitos
resultaram precisamente da presença dos media no local. É que neste caso a informação que ele aporta
contribui para que o leitor ou espectador possa avaliar com outros olhos o acontecimento que relata
É ridículo o homem que vai cobrir o grande incêndio na Serra da Estrela, do qual já resultaram
vários mortos e dezenas de habitações destruídas, abrir a reportagem de forma descabidamente emotiva, e
contando como quase se viu cercado pelo fogo, mas felizmente escapou ileso. Pese embora o exagero do
exemplo, o jornalista tem de perceber que o critério de proximidade se aplica à proximidade do
acontecimento com os seus leitores, e não com ele próprio.
Outra vertente da humildade necessária ao exercício da profissão prende-se com a capacidade de
resistir a misturar factos com opiniões e, de alguma forma, manipular os leitores induzindo-os a retirarem
determinado tipo de conclusões. As opiniões do jornalista são certamente muito importantes para a
namorada, o cão, os vizinhos e o seu círculo de amigos – serão até muito importantes em termos absolutos
– mas ele não tem o direito de se servir do medium onde trabalha para tentar influenciar o público que
espera dele seriedade, rigor e isenção. Misturar factos com opinião, aparência de rigor com manipulação,
devem ser consideradas faltas profissionais muito graves.
O papel do jornalista é fazer com que o jornal cumpra o seu dever de informar os leitores, e por isso
muito do que já foi dito se aplica também à actividade de quem escreve para jornais. O jornalista não é uma
vivandeira que espalha boatos e devassa a intimidade e privacidade das figuras públicas; não trafica
influências; não paga nem presta favores; não promove nem desfaz a imagem de ninguém; não ameaça;
não dá recados; não trai a confiança dos leitores ou das fontes; não se arvora juiz ou autoridade moral das
questões quando relata factos. Limitar-se-á a relatá-los.
Tudo o que fará se resume pois numa frase: o jornalista cumpre escrupulosamente o código
deontológico e os princípios éticos que norteiam a sua actividade. Por dever, mas também no seu melhor
interesse.
Todo o jornalista que permaneça tempo suficiente em actividade descobrirá, mais cedo ou mais
tarde, que uma vez ou outra se enganou ou foi enganado – por pessoas hábeis ou desonestas, ou em
questões de peritagem que não pode dominar. O cumprimento de regras de equidade e distanciamento na
apresentação dos factos assegura, mesmo em tais casos, que nem ele nem o leitor foram ludibriados. Para
isto é preciso humildade e admitir sempre, como princípio heurístico, que as coisas podem não ser aquilo
que parecem apesar de parecerem muito ser aquilo que são. Nunca pode esperar não se enganar.
Referência: GRADIM, Anabela. Manual de jornalismo Livro de estilo do Urbi et Orbi. Universidade da
Beira Interior Covilhã, UBI: 2000, p.19-21. Disponível em: http://www.bocc.ubi.pt/pag/gradim-anabela-
manual-jornalismo-1.pdf Acesso em: 25 fev. 2018.

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