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Linguagem Jornalistica Professora autora/conteudista: Marcia Furtado Avanza INTRODUÇÃO O jornalismo tem uma linguagem própria. As notícias são escritas usando um idioma que tem suas próprias características, uma língua conhecida como linguagem jornalística ou linguagem informativa. Não é o mesmo escrever literatura, poesia, música ou o diálogo de um quadrinho. Cada gênero apresenta suas diferenças e uma delas é o tipo de linguagem utilizada. Um gênero jornalístico é uma forma literária usada para contar os eventos atuais através de um jornal. Esses gêneros têm sua origem na história do jornalismo e são divididos em vários subgêneros. Se você lê um jornal, notará que contém notícias, artigos, fotografias, propagandas etc. Na imprensa, três tipos de gêneros jornalísticos são diferenciados: o informativo, o opinativo e o interpretativo. O gênero informativo é baseado em reportagens e relatos objetivos das notícias. A notícia é a história de um fato atual que desperta interesse público. A reportagem é uma história que descreve um fato sem incluir a opinião ou avaliação do jornalista. O gênero opinativo inclui editoriais, artigos, colunas e até as cartas de leitores, que trazem suas opiniões. O editorial é o artigo de opinião do jornal e os artigos ou comentários constituem a abordagem pessoal de quem os escreve. Já o gênero interpretativo é uma espécie de gênero híbrido entre informação e opinião que adota diferentes formas jornalísticas. Combina a informação com a opinião e, dessa mistura, surgem as grandes reportagens, as narrativas interpretativas, as grandes entrevistas etc. Jornais e revistas incluem páginas reservadas para informações (notícias, relatos objetivos); outras são reservadas para oferecer opiniões sobre notícias atuais (editoriais, colunas, artigos); também podemos encontrar fórmulas jornalísticas que interpretam a realidade, combinando dados informativos com determinadas abordagens e julgamentos pessoais do próprio jornalista. JORNALISMO: FATO, ACONTECIMENTO E NOTÍCIA Provavelmente, muitos dos leitores desta aula não serão jornalistas. Por isso, o primeiro passo será explicar o que é jornalismo e os conceitos de fato, acontecimento e notícia. Vamos começar pelo conceito maior: jornalismo. Azevedo (1979, p. 23), define jornalismo como sendo “feito de idealismo, de energia pessoal e de perguntas, além de uma boa dose de conhecimentos diversos, visando informar bem ao leitor, este sim, o objetivo primordial do trabalho jornalístico”. Para justificar a palavra “idealismo”, Azevedo defende que o jornalista é um homem com a capacidade de se indignar diante de abusos cometidos ou de elogiar um ato bem executado. Esta é, com certeza, uma visão romântica da atividade do jornalista, já que a função do profissional está ligada fundamentalmente à informação e não à indignação ou à emissão de opinião, exceções à parte no caso do gênero opinativo, que trataremos mais adiante. Frazer Bond (1962) traz uma compilação do pensamento de diversos autores sobre o conceito de jornalismo. Citando Leslie Stephens, diz que “jornalismo consiste em escrever, mediante remuneração, sobre assuntos em que não se é versado” (Bond, 1962, p. 15). Isso significa que o jornalista traduz conceitos técnicos (políticos, econômicos, científicos etc.) para a sociedade. Trata-se de uma verdade parcial. Apesar de o jornalista ser considerado um especialista em generalidades, o profissional da imprensa vem se especializando cada vez mais, procurando conhecer mais profundamentre – ou ser “versado”, como coloca a autora – os assuntos que cobre com regularidade. Por exemplo, é comum um jornalista da editoria de economia cursar pós-graduação na área para se capacitar e aprofundar na elaboração de suas matérias. A formação qualificada do jornalista já era defendida por Joseph Pulitzer, editor do jornal norteamericano The World que, em 1903, entregou 1 milhão de dólares à Universidade de Colúmbia para a criação de uma escola de jornalismo. Pulitzer afirmava que “o jornalismo é a profissão que requer o conhecimento mais largo e profundo e os mais firmes fundamentos de caráter” (Silva 2010 p. 57). Hoje, Pulitzer dá nome a um prêmio, entregue desde 1917, que tem como objetivo distinguir personalidades do jornalismo que se destacam pelo seu trabalho. Voltando a Fraser Bond, ele explica que jornalismo significa “todas as formas nas quais e pelas quais as notícias e seus comentários chegam ao público” (Bond 1962, p. 15), embora as diferentes definições possam ter o caráter mais comercial ou idealista, como vimos nas definições anteriores. No entanto, Fraser Bond destaca os deveres do jornalismo como a questão principal. Para ele, a imprensa deve ser: • Independente: para isso, deve apoiar-se em bases econômicas próprias, sem subvenção governamental. É impossível servir ao público se estiver sendo manobrada por alguém. • Imparcial: considerado o ideal do jornalismo – embora utópico –, deve permitir que as partes contrárias exponham suas razões. A imprensa deve evitar ser tendenciosa, preconceituosa e sensacionalista. • Exata: difundir a verdade e objetivar os fatos é a principal medida de qualidade do jornalismo. • Honesta: nenhuma atividade está sujeita a tal multiplicidade de contatos com o povo e a tantos problemas variados pedindo decisão, mas os elementos básicos de caráter devem permanecer fixos nos veículos jornalísticos. • Responsável: a imprensa é uma instituição semipública, isto é, deve uma obrigação à comunidade à qual serve e que a sustenta. • Decente: não compreende apenas a linguagem ou as imagens, mas também o modo pelo qual obtém as notícias, porque há situações da vida humana nas quais nenhum jornal pode, decentemente, justificar uma invasão. Esta é uma questão muito discutida atualmente, em razão da ação dos paparazzi (fotógrafos que vigiam famosos com o objetivo de conseguir fotos da vida particular) e dos espaços destinados a fofocas e celebridades nos diferentes meios de comunicação. A questão central é que difundir notícias é o primeiro objetivo do jornalismo, conforme definição da Sociedade Americana de Diretores de Jornais (apud Bond, 1962, p. 20): “a função primordial dos jornais é comunicar ao gênero humano o que seus membros fazem, sentem e pensam”. Nesse sentido, o jornalismo tem quatro razões de ser: informar, interpretar, orientar e entreter. Períodos históricos do jornalismo Ou, ainda, de acordo com o conceito de Beltrão (1960, p. 62), é a “informação de ideias, situações e fatos atuais, interpretados à luz do interesse coletivo e transmitidos periodicamente à sociedade, com o objetivo de difundir conhecimentos e orientar a opinião pública, no sentido de promover o bem comum”. Ciro Marcondes Filho (2000, p. 48), no livro Comunicação e jornalismo: a saga dos cães perdidos, separa em cinco períodos a evolução histórica do jornalismo: Características do jornalismo O teórico alemão Oto Groth (Genro Filho, 1987) propõe quatro características fundamentais do jornalismo. São elas: • Variedade das informações: corresponde ao fato de que o jornalismo deve levar ao seu público a mais completa síntese dos acontecimentos e, ao mesmo tempo, apresentar-se suficientemente segmentado para interessar aos leitores de toda uma família. • Interpretação: Beltrão a considera como a principal característica, do ponto de vista filosófico. Mais do que selecionar os fatos que vão virar notícia, o autor defende que o jornalismo deve apresentar comentários e projeções capazes de orientar o leitor sobre os desdobramentos futuros de tais ocorrências. No entanto, alerta que a interpretação jornalística se diferencia da histórica, porque está relacionada com o presente imediato. Nesse sentido, distingue dois tipos de jornalismo: o extensivo, que trata da informação de última hora, e o intensivo, de profundidade, capaz de orientar o público. • Popularidade: característica que se relaciona com a existência da disputa pelo públicoe pela audiência. Trata-se de uma consequência da expansão da tecnologia, que facilitou a difusão das informações, a rapidez na transmissão e a amplitude na cobertura física e temática dos acontecimentos. O autor alerta que é preciso não se esquecer da Luiz Beltrão (1960), um dos mais importantes pesquisadores do jornalismo no Brasil, considera que, dentre essas, a característica predominante é a atualidade, destacando que o jornalismo deve relatar o que ocorre no presente, levando em conta o seu desdobramento no futuro imediato. No entanto, propõe novas características para o jornalismo: a variedade, a interpretação, a popularidade e a promoção jornalísticas, mantendo também a periodicidade. responsabilidade social do jornalismo. Por isso, lembra que entre a popularidade e a liberdade de que necessita o jornalismo, coloca-se a censura e a publicidade, a última característica da comunicação de massa a tolher eventualmente o responsável exercício do jornalismo. • Promoção: é a característica ligada à responsabilidade, que leva o jornalismo a realizar campanhas cívicas, a se preocupar com o bem comum em face dos interesses privados e a resistir aos regimes totalitários que pretendem valer-se do jornalismo para a propaganda de suas ideologias. A notícia Como vimos, a notícia é a matéria-prima da opinião, sendo responsável por informar e formar a opinião pública. A matéria-prima da notícia é o fato, o acontecimento, a ideia, a situação atual. Mas atenção, notícia não é um acontecimento, mas a narrativa desse acontecimento. Não se trata do fato real, mas do modo como esse fato é narrado. O manual da United Press define notícia como “qualquer coisa interessante sobre a vida das pessoas e as coisas em todas as suas manifestações”. Já o jornalista Neil McNeil define notícia como “uma compilação de fatos e eventos de interesse ou importância para os leitores do jornal que a publica” (apud BOND, 1962). De acordo com Fraser Bond (1962), quatro principais fatores determinam o valor da notícia: Valor-notícia A necessidade de se pensar critérios de noticiabilidade vem da constatação prática de que não há espaço nos veículos informativos para a publicação ou veiculação da infinidade de acontecimentos que ocorrem diariamente no mundo. Nesse sentido, é preciso selecionar, escolher, qual acontecimento merece virar notícia. Os estudos de seleção de notícias partem geralmente do conceito de gatekeeper – que vamos detalhar mais à frente –, termo utilizado para definir aquele que escolhe o que será publicado ou veiculado em uma determinada mídia, conforme os valores-notícia, a linha editorial ou outros critérios pelo veículo de comunicação. No entanto, muito antes do conceito de gatekeeper, segundo Kunczik (2002), já havia registros de estudos sobre o modo como se selecionam as notícias, seja pela veracidade dos fatos, pelas consequências ou mesmo pela importância. O fato é que todos eles definem valores para as notícias, mesmo que de forma primária. Outra questão é que esses valores definem não apenas as notícias que serão selecionadas, mas também hierarquizam essa seleção no noticiário, embora outros critérios façam parte dessa seleção, como o formato do produto, a qualidade da imagem, o custo, a linha editorial, o público alvo, entre outros. Silva (2005, p. 102-103), a partir da análise de pesquisas elaboradas por Nelson Traquina, Mauro Wolf, Michael Kunczik, Manuel Carlos Chaparro, Mário Erbolato e Nilson Lage, elaborou o seguinte quadro de critérios de noticiabilidade ou de valores-notícias, conforme conceitos definidos pelos autores a seguir. A LINGUAGEM JORNALÍSTICA O exercício do jornalismo está necessariamente subordinado ao uso da linguagem, uma vez que se baseia na comunicação, ou seja, no ato através do qual se transmite uma mensagem. Porém, o conceito de linguagem apenas como subsistema do uso de uma língua não pode ser aplicado no jornalismo, porque precisamos de um conceito mais amplo, que não se refira apenas a uma língua, mas à variedade delas. Em primeiro lugar, porque as principais normas da linguagem jornalística são comuns a muitos idiomas. Em segundo, porque o conceito de linguagem jornalística ultrapassa o estudo da linguística, já que utiliza outros subsistemas simbólicos. A disciplina mais ampla, nesse sentido, é a semiologia (conceito do linguista suíço Ferdinand de Saussure) ou a semiótica (conceito do matemático Charles Sanders Peirce), que tem como objetivo estudar os códigos, convencionais ou não, da comunicação. A semiologia tem base linguística e a semiótica trabalha com um suporte lógico e filosófico. Isso significa que, por exemplo, quando alguém compra uma revista, não busca comprar um número determinado de folhas grampeadas sob uma capa de papel de uma determinada gramatura e um determinado tamanho, mas sim a informação contida naquele produto. Dependendo da mídia, a informação, como explica Lage (2006), traz mais do que palavras, na maioria das vezes: traz o projeto gráfico, no caso de revistas e jornais; traz o ambiente sonoro, no caso do rádio; traz o cenário, os trajes e os personagens, no caso da TV; e pode trazer todas essas opções (imagem, som, projeto gráfico etc.), mais o hipertexto, no caso da internet. Lage (2006) separa essas camadas de significação em três tópicos: • Projeto gráfico: o sistema simbólico de manchas, traços, ilustrações e letras, que preserva a individualidade do veículo. Faz com que ele seja reconhecido, mesmo quando não é lido; presume uma relação com a realidade social, porque geralmente identifica o público a que se destina; e traz uma infinidade de informações que caracterizam o tipo de veículo, a informação que é mais importante, entre outras. • Sistemas analógicos: fotografias, ilustrações, charges, cartoons, infográficos. São unidades semânticas autônomas de grande valor referencial porque fixam e comentam momentos, mas podem ser interpretadas de diferentes formas. Uma foto de uma pessoa caída no chão pode significar: morte, cansaço, acidente. Enfim, conceitos ambíguos como a própria observação da realidade, que geralmente exigem legendas ou títulos para diminuir a ambiguidade. • Sistema linguístico: o componente digital da comunicação jornalística é representado por textos, manchetes, títulos e legendas. Trata-se da organização de parágrafos compostos por períodos, por frases, por locuções e por palavras, em um encadeamento sucessivo e lógico. Mas, ainda assim, é um sistema que tem semântica pobre, como explica Lage (2006), já que dizer que um cadáver está ensanguentado é menos impactante do que mostrar um cadáver ensanguentado. Por isso, o texto impresso só ganha sentido quando o leitor faz sua tradução em signos e sons, ainda que de forma subjetiva. Por não conter elementos próprios do rádio, da telelevisão, e da internet, o texto precisa enriquecer sua sintaxe. A pesquisadora Paula Cristina Lopes, da Universidade Autônoma de Lisboa, lembra que escrever sobre jornalismo “pressupõe revisitar uma série de teorias, estilos, formas discursivas e gramáticas” adaptadas pelos diferentes veículos de comunicação. “É uma construção narrativa apoiada na linguagem, na palavra, em uma construção narrativa de realidade, submetida à determinada técnica e sujeita a determinadas regras e gramática.” (p. 1) Isso nos remete, conforme Muniz Sodré e Ferrari (1986, p.11), ao conceito de narrativa como “todo e qualquer discurso capaz de evocar um mundo concebido como real, material e espiritual, situado em um espaço determinado”. Os autores lembram que a narrativa não é privilégio da arte ficcional e distinguem a narrativa jornalística como baseada predominantemente na informação. Voltamos então ao que Lage (2006) explica como organização do texto, já que cabe ao jornalismo organizar a informação discursivamente, o que se dá por meio da narrativa. Nesse sentido, Sodré e Ferrari destacam que a reportagem é o lugar por excelência da narraçãojornalística. Para mostrar a complexidade de se produzir informação, em razão de intervenções e pressões pelas quais passou – e passa – a construção do texto jornalístico, Lopes resgata o conceito de Franz Kafta, de que “o jornal é uma mercadoria com que se faz comércio”. O desdobramento das seis perguntas que compõem o lead (o parágrafo introdutório das matérias jornalísticas) – o quê, quem, quando, como, onde e por quê – transforma-se em uma narrativa orientada pela realidade factual do dia a dia. A linguagem jornalística não é um gênero literário a mais. Pelo contrário, mais do que a preocupação com a questão estética, o jornalismo se preocupa com a informação. Nesse sentido, processa informações em uma escala industrial e para consumo imediato, reduzindo as variáveis formais de maneira significante. “A produção do texto no jornalismo pressupõe restrições do código linguístico. A redução do número de itens léxicos (palavras, expressões) e de regras operacionais não apenas facilita o trabalho como permite o controle de qualidade”, explica Lage (2006, p. 47). Todas as línguas têm uma modalidade oral e uma modalidade escrita. Poderíamos considerar que são duas línguas com gramáticas diferentes, “o que não impede que certos textos escritos apresentem traços de oralidade ou que determinadas realizações orais se pautem pela gramática normativa a qual rege, na maioria das vezes, a modalidade escrita” (OLIVEIRA; BARROS, 2010, p. 153). Por exemplo, o radiojornal e o telejornal, apesar de falados, têm como base um texto escrito que procura se aproximar da linguagem oral. A modalidade oral pressupõe o contato direto e é mais espontânea, o que a torna mais concreta e econômica, já que os elementos a que se refere estão presentes na situação do diálogo e porque gestos e olhares desempenham, ao lado da linguagem verbal, um papel importante. Ainda na modalidade oral, cadências e pausas dão ritmo à fala e auxiliam na decodificação de mensagem. Essa modalidade caracteriza-se pela fragmentação, pela presença de marcadores conversacionais e pelo envolvimento em razão da alta taxa de feedback. A linguagem oral também reflete a realidade comunitária e regional imediata, sendo que alguns termos desaparecem e outros são incorporados à literatura. A verdade é que a linguagem jornalística tem como objetivo ser compreendida por todos, por isso, aproxima-se muito mais da oralidade, ou da linguagem coloquial, do que da linguagem formal. Isso acontece porque os textos não literários privilegiam a função referencial (isto é, falam de algo no mundo, exterior ao emissor, ao receptor e ao processo de comunicação em si), portanto, a importância da concisão, da objetividade, da clareza e da coerência. A adequação ao nível hierárquico do destinatário é sua principal característica, a qual pode ser dividida entre os elementos listados no quadro a seguir. Ao contrário da modalidade oral, a linguagem formal é mais durável e tende a preservar usos linguísticos do passado. A escrita é um ato de produção solitário, lento, planejado, que possibilita alterações, ou seja, ela é editável. Caracteriza-se pela integração e pelo distanciamento, preferindo a subordinação, e o jogo de cadências e pausas deve ser recriado pela pontuação e pelos caracteres gráficos. Como tem de recuperar todos esses elementos, a modalidade escrita resulta menos econômica, mas mais precisa que a oral. Embora a linguagem formal seja mais valorizada socialmente e se confunda com a ideia de nação ou de cultura diferenciada, como coloca Lage (2003), a linguagem coloquial tem muito mais eficiência, do ponto de vista da comunicação, no sentido em que é acessível para públicos de diferentes condições culturais e sociais. A união da aceitação social, por meio de uma linguagem adequada, e da eficiência da comunicação é que define a linguagem jornalística: ela é “constituída por palavras, expressões e regras combinatórias que são possíveis no registro coloquial e aceitas no registro formal”. A natureza do conhecimento jornalístico Embora indispensável para a divulgação e difusão de saberes e do conhecimento científico, a comunicação não é considerada ciência, no sentido estrito do termo, por não possuir um arcabouço teórico próprio e procedimentos metodológicos orgânicos. Ela é interdisciplinar desde sua origem, porque se valeu de outras ciências. As teorias iniciais sobre os processos comunicativos não constituem teorias da comunicação em si, mas teorias sociais ou teorias de ciências que estudavam o fenômeno comunicativo, entendido como decorrência de um modelo sóciocultural determinado. Os estudos da comunicação, dentro de um campo mais amplo, já estavam presentes nas pesquisas de teóricos desde o século III a.C. Marques de Melo (1998) separa as pesquisas na área, desde sua origem, em quatro fases: fase dos sofistas, fase dos enciclopedistas, fase dos filósofos sociais e fase dos cientistas sociais. A essas quatro fases, Marques de Melo (1998) acrescenta a fase da pesquisa integrada, que é a atual fase de pesquisa na área da comunciação. Segundo o autor, é uma fase de transição da fase dos cientistas sociais e se caracteriza por reunir equipes integradas de diferentes áreas para desenvolver pesquisas que poderão chegar a uma visão mais completa dos problemas na comunicação, ao invés de analisar a área apenas de um ponto de vista, como era até então, sob o prisma sociológico, psicológico, linguístico, jornalístico, educacional etc. Estrutura do campo jornalístico O jornalismo é apenas uma vertente do grande mundo da Comunicação. Foi o primeiro objeto comunicacional a suscitar pesquisas e a demandar sistematização. O jornalismo de informação, como conhecemos hoje, remonta ao século XIX, o século da industrialização da informação e da cultura, quando se desenvolveu o primeiro mass media: a imprensa. Nesse período é que os jornais passaram a ser encarados como um negócio que poderia render lucros, e os estudos científicos passaram a analisar todos os fenômenos relacionados ou gerados pela transmissão de informações. O desenvolvimento do campo de estudo midiático foi acelerado por três fluxos convergentes, conforme quadro a seguir. Até a metade do século XX uma confusão epistemológica impediu a legitimação das pesquisas acadêmicas neste campo. O jornalismo era definido como uma simples prática profissional. Não havia necessidade de de uma formação universitária especializada e da produção de conhecimento sistemático, o que deixou o jornalismo relegado ao terreno das práticas. A demora no estabelecimento dos primeiros cursos e o ensino baseado nas técnicas fazia com que a produção de novos fosse ignorada na formação dos futuros jornalistas. O jornalismo tem um campo que envolve três funções diferenciadas, conforme quadro a seguir. No Brasil, ao longo dos últimos cem anos, a pesquisa em jornalismo passou por fases bem distintas. Do período anterior à exigência da formação universitária para o exercício da profissão, no século XIX, aos anos 1970 do século passado, quando foram criados os primeiros cursos de pós-graduação em comunicação, a pesquisa dependia das iniciativas isoladas de pesquisadores talentosos, sem uma articulação nacional clara. Entre os anos 1970 e 1990, a pesquisa na área se desenvolveu de forma sistemática nos cursos de pós-graduação, principalmente em São Paulo, na Escola de Comunicação e Artes da USP, e no Rio, na Escola de Comunicação da UFRJ. Essas escolas formaram pesquisadores em jornalismo que fomentaram os estudos na área. Marques de Melo (2003) define três etapas nesse desenvolvimento: • Legitimação empírica: conhecimentos gerados nas corporações que traziam reflexões críticas (manuais, livros etc.). • Assimilação universitária: as universidades, atendendo demandas do mercado, passam a aceitar novas formas de saber, criando cursos profissionais e privilegiando-as como objetos de estudo. • Reconhecimento acadêmico: criação de programas regulares de ensino avançado, com a formação de pesquisadores, quese constituem numa comunidade autônoma inserida numa comunidade internacional. As principais linhas de pesquisa desenvolvidas ao longo do tempo no jornalismo, de acordo com Machado (2004), são: História do Jornalismo, Teorias do Jornalismo, Análise do discurso, Produção da Notícia, Recepção, Jornalismo Especializado, Jornalismo Digital e Teorias da Narrativa. Na verdade, são sublinhas dentro de linhas de pesquisa mais amplas nos programas de pós-graduação em comunicação. 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