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FACULDADE NACIONAL DE DIREITO – UFRJ Teoria do Direito – Profª.: Cecília Caballero Lois Felipe Santos Resumo Juspositivismo Hans Kelsen pode ser considerado um revolucionário na Teoria do Direito. Seu pensamento rompeu com o jusnaturalismo e qualquer ideia de transcendentalidade da norma jurídica através de um fator externo. No direito natural, a legitimação da norma está ligada a uma ideia de moral universal que, por mais que varie em sua definição historicamente, ainda está presente como entidade superior que legitima a norma através de um conceito de justiça. Essa mistura entre a norma jurídica (direito) e o conceito de justiça historicamente apreciado (moral) estão em campos distintos na teoria de Kelsen. Segundo o jusfilósofo alemão, para se produzir uma ciência jurídica, é preciso analisar o direito isoladamente. Nesse sentido, a Teoria Pura do Direito que ele produziu tem como base o isolamento do direito de qualquer outro fator externo. O direito precisa ser analisado em separado e por isso não devem ser admitidos juízos morais perpassando a norma jurídica (segundo Kelsen, essa seria a área de estudo da Ética), assim como não pode haver questionamentos sobre a natureza da norma ou sua eficácia (o que seria próprio da Sociologia do Direito), entre outros exemplos. Essa tentativa de delinear e separar rigorosamente o objeto de estudo do seu meio, analisá- lo de forma isenta e sem contaminações externas é bem próximo ao Positivismo de Comte, dessa forma se explica o nome dessa escola jurídica. Com essa ideia de pureza metodológica, Kelsen vai construir a Teoria Pura do Direito como um sistema autorreferente. Para entender essa construção é preciso primeiro separar as ciências naturais da ciência jurídica. Kelsen vai dizer que a natureza opera em uma lógica distinta da norma: enquanto as leis naturais são do campo do ser, a norma jurídica pertence ao campo do dever ser. Em outra palavras, as leis naturais se dão em uma relação direta causa-consequência (causalidade), em sentido fático. O direito se dá de forma devida, podendo (ou não) acontecer a sanção, sendo regido pela lógica da imputação. Dessa maneira. fica separado o direito da natureza pela lógica da imputação em contraste com a lógica da causalidade. Kelsen define o Direito como uma ordem coativa da ação humana que está adjudicado à competência de alguém, sendo a norma jurídica um enunciado seguido de sanção. Essa definição vai ser flexibilizada em Bobbio com a ampliação do conceito de ordenamento jurídico em consonância com o Estado Social, mas dentro de Kelsen só é norma aquilo que descreve conduta (campo do ser) e em seguida imputa uma sanção (campo do dever ser) socialmente organizada e juridicamente estruturada, sendo direcionada para indivíduos com capacidade de agente tendo em vista as consequências de suas ações práticas. Mesmo estando a sanção no campo do dever ser, podendo ou não se concretizar, isso não afeta a existência ou a validade do Direito, pois, segundo Kelsen, ele está vinculado a autoridade com poder de coerção. Sai de jogo o ideal de justiça vindo de uma moral universal e entra em cena o conceito de validade da norma jurídica, que diz respeito se ela foi posta por autoridade competente para tal e que encontra amparo em uma norma anterior e superior. Dentro da ideia de validade da norma por meio de um sistema fechado, Kelsen exclui da sua teoria os elementos externos e fundamenta por meios internos a norma jurídica. A Construção Escalonada do Ordenamento Jurídico consegue oferecer uma lógica de validade costurada pelas próprias normas. Nessa dinâmica jurídica (relação entre normas em contraponto à estática jurídica da norma isolada), uma norma está colocada sobre a outra de forma a autorizar sua existência, trazendo a ideia de competência para dentro do ordenamento. Uma norma só é válida se há outra norma superior que a prevê. Nesse sentido, pela teoria kelseniana, é possível olhar o ordenamento "para cima" e "para baixo" e encontrar uma lógica nas disposições das normas e a validade da existência de cada uma. Não há norma que esteja solta no ordenamento. Em um ordenamento, os tipos normativos mais baixos vão encontrar previsão nos mais altos, e assim por diante, até chegar em um ponto fixo dentro do direito posto, o que poderia ser a própria Constituição. Nesse caso, Kelsen apresenta uma clausura ao seu sistema lógico que seria a validade da Constituição por meio da existência de uma Norma Fundamental Gnosiológica. A NFG seria uma norma não- posta, mas que permite saber o que é e o que não é direito. É um modelo teórico comparativo que posteriormente será nomeado de Norma Fundamental Hipotética, marcando uma relação de clausura para o sistema de Kelsen onde se encontra a validade de todas as normas com base na norma anterior.
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