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@jupdireito_ > HANS KELSEN < . TEORIA PURA DO DIREITO . Hans Kelsen, ao formular a Teoria Pura do Direito, no início do século XX, objetivou eliminar do campo da ciência jurídica os elementos sociológicos e filosóficos. Os motivos para a elaboração da dogmática jurídica kelseniana foram o de construir uma ciência do direito autônoma e independente, bem como o de levar o positivismo jurídico às últimas consequências. O seu enfoque era superar a falta de um rigor metodológico e evitar que a análise científica do Direito se tornasse manipulada, haja visto que antes, na Europa, o Direito era manipulado por interesses econômicos, psicológicos e essa manipulação, segundo Kelsen, recebia o nome de sincretismo metodológico. Isso constata que a ciência do Direito estava frouxa e era alvo de manipulações, já que havia mistura de indagações e valores pessoais em sua abordagem. Evidencia-se a objeção de Kelsen frente a uma dogmática jurídica, ou seja, as condições de possibilidade de uma estruturação metodológica para a análise do Direito que, além de descrever, tenha autonomia para propor, opinar e contribuir para a definição, a investigação e a operacionalização do Direito. Para o formalismo kelseniano, o objeto da ciência jurídica é a cognição das normas e não sua prescrição. Para essa concepção, ao operador do Direito não importa o conteúdo ou valor das normas, apenas sua vinculação formal ao sistema normativo, ou seja, a Teoria Pura do Direito descreve as normas válidas que regulam a conduta humana, não importando porque são essas e não outras. Além disso, essa teoria considera que o método e o objeto do direito deveriam ter enfoque normativo, desprendido de qualquer fato social ou valor. A partir da Teoria Pura do Direito, as normas jurídicas passaram a representar um “dever ser” de maneira imperativa, ou seja, impondo e proibindo os comportamentos, esse “dever ser” representa a relação de uma razão objetiva com a vontade. Kelsen durante a abordagem dessa teoria não aborda sobre a justiça dentro do direito positivo, mas ressalta sobre o problema de deixarem que os valores interfiram na noção de justiça dentro de um ordenamento jurídico. Assim, ele sustenta que o que é justo está representado nas normas e injusto é aquilo que as desrespeitam. Por fim, por meio da Teoria Pura do Direito, Kelsen pretendeu purificar o Direito, libertando-o de especulações filosóficas e sociológicas. Ele pretendia a independência científica do Direito, sendo que o método é o objeto da ciência jurídica deveria ser apenas a norma. Dessa forma, ele buscou objetividade, autonomia e neutralidade do Direito. . O GIRO PARA O DECISIONISMO . O objetivo principal da construção teórica kelseniana era evitar o decisionismo, que ocorre quando a autoridade usa seus valores pessoais para tomar suas decisões sem consultar as normas ou as ignorando. Porém, esse objetivo se degenera em arbítrio dos que exercem institucionalmente o poder político (legislativo) e o jurídico (judiciário). A dogmática jurídica sofre uma fragilização jurídica, pois partindo do pressuposto de que esta é competente apenas para a descrição da dinâmica jurídica, a produção, a interpretação e a aplicação do direito acabam se tornando uma consequência da vontade de certa autoridade. A interpretação autêntica, então, representaria, segundo Kelsen, não um ato de conhecimento científico, mas um ato de vontade, que o autor considera objetivo simplesmente porque tais intérpretes estariam autorizados pelo próprio direito a interpretá-lo, de maneira que a decisão de tal autoridade se torna uma norma juridicamente válida. A partir disso, surge o giro da teoria pura do direito para o decisionismo. Quer dizer que o direito, enquanto objeto de um método científico de análise, perde totalmente sua autonomia, tornando-se completamente dependente das conveniências e interesses das autoridades que representam o Estado. Ademais, em um escrito de 1965, intitulado “Direito e Lógica”, Kelsen afirma que todo dever-ser somente o é por causa de um querer: “não existe norma sem uma vontade que a ponha, isto é não existe norma sem uma autoridade que ponha normas” Isso também retrata o “giro decisionista”, uma fase da teoria pura em que Kelsen adota um perfil mais realista. Agora, a norma é tudo aquilo que um órgão estatal deseja. De notar a capitulação de Kelsen: o normativismo é decisionista. O direito válido não depende de uma cadeia de validação regressiva, mas sim de um querer. . A FUNÇÃO DA NORMA FUNDAMENTAL . Kelsen aborda em seu texto sobre a diferença entre a eficácia das normas e as validades delas. A eficácia está relacionada com o fato de determinada norma ser efetivamente aplicada e respeitada pela população, ela é expressa a partir da relação entre uma conduta e uma sanção imposta e se os indivíduos subordinados a essa determinada norma jurídica a respeitam. As validades já estão relacionadas ao dever ser imposto pela norma jurídica existente. Então, relacionada com a eficácia, Kelsen elabora o conceito de norma fundamental, que é ficcionalmente pressuposta, ou seja, ela é baseada e pensada como uma estratégia de decisão final de um ordenamento jurídico. A norma fundamental possui como objetivo a validação de todas as normas jurídicas existentes em um sistema, pois ela é a base de todas essas outras normas, logo, para que uma norma jurídica pertença a um ordenamento jurídico sua validade deve estar fundada na norma fundamental. Hans define a existência de apenas uma norma fundamental e ela é a responsável por validar todo o ordenamento jurídico, unindo todas as normas em um só sistema comum. A norma fundamental não é fundamentada a partir de um campo valorativo que envolve atos de vontade própria, mas sim de um campo racional que visa a criação de um método para o campo jurídico, ela planeja evitar que haja a arbitrariedade, dependendo necessariamente da existência da eficácia das normas. Assim, ela permite que o aplicador do direito intérprete quais as normas necessárias no momento em um sistema que não possui a contraditoriedade. O autor pressupõe a situação de existência de uma Constituição, ela seria o exemplo de uma norma fundamental, pois todos estão submissos a agir de acordo com os pressupostos presentes nela. Além disso a Constituição é a base para todas as decisões dentro de um ordenamento jurídico e é a responsável por promover uma coerção eficaz, *igualmente* as funções da norma fundamental. Kelsen ainda sustenta que essa pressuposição é fundamental para a ciência jurídica, uma vez que ela é a responsável por validar a ordem jurídica e por sistematizar o direito positivo em um sistema de normas jurídicas válidas. Por fim, o autor ressalta que a teoria da norma fundamental se trata do conhecimento jurídico. . O NORMATIVISMO LÓGICO . Como complemento da Teoria Pura do Direito, Hans Kelsen defendia um conceitualismo formal conhecido como normativismo lógico. As normas defendidas pelo autor, expressam um dever ser de como a realidade deve acontecer, ou seja, elas possuem um objetivo prático de regular as ações humanas dotadas de vontade. Segundo o normativismo defendido por Kelsen, as ações humanas são baseadas nas vontades dos homens e esses atos devem estar previamente estabelecidos no ordenamento jurídico. O ordenamento é considerado pelo autor algo completo, em que há a presença de juízos de valores que estão relacionados à regras e ideais que são impostos para que haja a ordem social. De acordo com ele, são esses juízos que dão base para a origem da norma fundamental. Kelsen defende a ideia de que o direito é algo puro e independente das outras ciências, é um sistema gradativo de normas que se apoiam umas nas outras formando um todo coerente e todas essas normas dependem da norma fundamental que é o suporte lógico da integridade de todo o sistema. Quando algo se torna interesse da sociedade, também se torna um fundamento do ordenamento e consequentemente se torna parte da norma. A norma é completa, logo vai se completando juntamentecom os atos de vontade e as experiências sociais vividas pela população. Então, Kelsen propõe que o direito é completo e se justifica, ou seja, encontra razão nele mesmo.
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