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1 Capítulo 3 – Equações Diferenciais O Wronskiano (de Josef Hoëné-Wronski, polonês, 1776 – 1853) Seja a equação diferencial, ordinária, linear e de 2ª. ordem Podemos dividir por os 2 membros e escrever a equação não homogênea Claro, na divisão por os zeros dessa função terão papel e tratamento especial. À equação (1) temos associada a equação homogênea A linearidade da equação acima tem uma propriedade fundamental - o Princípio da Superposição: se duas funções linearmente independentes, e são soluções de (2) então, qualquer combinação linear será também solução de (2), isto é, a função satisfaz identicamente a equação (2). Chamamos de funções linearmente independentes, duas funções e que satisfazem em outras palavras, não podemos escrever . Se fosse possível escrever as 2 soluções seriam linearmente dependentes e teríamos o sistema de equações diferenciais ( ) cuja solução é 2 Definimos o Wonskiano de 2 funções e da equação (5) vemos que se e são linearmente independentes então, O Wronskiano da equação homogênea (2) pode ser obtido simplesmente a partir da função . Senão, vejamos. Substituindo as soluções e , temos Multiplicando (6a) por , (6b) por e subtraindo (6a) de (6b) teremos ou Integrando (7) e incorporando a constante de integração onde é o valor de calculado num valor arbitrariamente escolhido . Para 2 funções linearmente independentes , consequentemente . A solução geral da homogênea (3), será a combinação linear das 2 soluções linearmente independentes As constantes e são determinadas pelas condições iniciais em Vamos agora demonstrar que se conhecemos uma solução da homogênea, então, a segunda solução linearmente independente, , pode ser obtida a partir do conhecimento de . Essa técnica é batizada de Método da Variação das Constantes. 3 Método da Variação das Constantes Vamos supor , onde é uma função inicialmente desconhecida. Derivando uma e duas vezes teremos Substituindo (9a) e (9b) em (6b), temos ou, por hipótese, o 1º. termo entre colchetes em (10) é nulo. Logo, Integrando a equação acima Ou seja, Portanto, obtivemos a função Solução da Não Homogênea A equação não homogênea para tem como solução geral, a soma da solução geral da homogênea com uma solução particular da não homogênea com 4 A solução particular também é conhecida como integral particular e a solução da homogênea é também chamada de função complementar. Obs. As soluções independentes da homogênea, , são obtidas a menos de uma constante multiplicativa arbitrária ! ( ) Podemos, novamente, utilizar o Método da Variação das Constantes para obter a solução particular da não homogênea. onde e são 2 funções arbitrárias a serem determinadas. Derivando (14) Podemos impor que ( e são 2 funções arbitrárias) Então Derivando mais uma vez (17) Substituindo (14), (17), (18) em (12), temos Colocando e em evidência Como os termos entre colchetes se anulam, teremos o sistema linear de 2 equações para 5 cuja solução é . Portanto, Resumindo, basta apenas determinar uma solução da homogênea que a 2ª. solução independente e a solução particular da não homogênea podem ser obtidas. O Método de Frobenius (Ferdinand Georg Frobenius, alemão, 1849-1917) As soluções da equação homogênea, em geral, podem ser obtidas utilizando a expansão de Frobenius (Laurent) em torno da origem ou Frobenius Generalizado Observe que sempre podemos escolher , já que os números racionais serão obtidos para serem solução da equação homogênea (20). Mais forte ainda, temos sempre que assumir . Se na origem, , as funções forem analíticas então a origem é chamada de ponto ordinário, caso contrário, ponto singular. Há 2 tipos de pontos singulares: regular e irregular. Chamamos a origem de ponto singular regular se a função tem, no máximo, um polo simples na origem e a função tem, no máximo, um polo de ordem 2 na origem, isto é, Os métodos de Frobenius e Frobenius Generalizado sempre funcionarão quando as condições acima estiverem satisfeitas e podem funcionar ou não, caso contrário. 6 Exemplo 1: A Equação de Bessel de ordem - funções esféricas de Bessel Analisaremos o caso , Bessel esférica de ordem 1. Vamos tentar o Frobenius padrão Substituindo em (24), temos Ou, coletando termos de mesma potênciaSimplificando, A equação (26) pode ser reescrita, explicitando os 2 primeiros termos da 1ª série, rerotulando os restantes e juntando-os com a 2ª. série O primeiro termo de (27) é chamado de equação indicial. Como e o termo tem que ser igual a zero para qualquer , teremos O segundo termo de (27) também tem que se anular para qualquer . Se substituirmos , obtemos . Se substituirmos , obtemos . 7 Logo, em ambos os casos, O último termo de (27) se anula para todo Ou, gera a assim chamada fórmula de recorrência Escolhendo , temos Para os índices pares, teremos Como . Toda a série ímpar se anula. Logo, para , temos uma solução em série de Frobenius Que, obviamente, tem um polo de ordem 2 na origem. Note que é uma função par. Escolhendo , (como é outra série com outro valor de , utilizaremos coeficientes de Frobenius ) temos Para os índices pares, teremos 8 Como . Toda a série ímpar se anula. Logo, para , temos uma segunda solução em série de Frobenius Que, obviamente, tem um zero de ordem 1 na origem. Note que é uma função ímpar. Portanto, a solução geral de (24) tem expansão em série de Frobenius Se fizermos , a função pode ser escrita Se fizermos , a função pode ser escrita --------------------------------------------------------------------------------- Exemplo 2: A Equação de Bessel de ordem – funções cilíndricas de Bessel Analisaremos o caso , Bessel esférica de ordem . Vamos tentar o Frobenius padrão 9 Substituindo em (31) Procedendo de maneira análoga ao exemplo 1, teremos A equação indicial fornece e . Substituindo esses valores no 2º. termo concluímos que se e se . Começaremos por . A fórmula de recorrência fica Série par: Logo a série par fica Série ímpar: Logo a série ímpar fica 10 Ambas têm um ponto de ramificação na origem. A solução geral é, portanto, Se tivéssemos escolhido , teríamos , e a fórmula de recorrência e Ou seja, De modo que , não é uma nova solução (e nem poderia, senão a eq. de 2ª. ordem teria 3 soluções L.I.). Esse resultado é válido sempre: Se a equação indicial gera 2 soluções que diferem por um número inteiro, então a solução com o menor valor de já é a solução geral. Obviamente, a solução geral (35) pode ser reescrita Onde são constantes e são as funções de Bessel de ordem , respectivamente. Exemplo 3: A equação diferencial de Legendre A série de Fourier , fornece 11 A equação indicial nos dá Para o 2º termo temos . Escolhendo , o valor de é arbitrário. A equação de recorrência é A série de Frobenius gerada a partir de (39) converge? Pelo teste da razão, devemos ter . Para suficientemente grande isso é sempre verdade para , mas para a série diverge. Existe, porém, uma solução finita para qualquer , basta que . Em geral, condições físicas exigem que a solução seja analítica em . Como a recorrência “morre” quando , como , o resultado será um Polinômio de grau !! Esse polinômio é chamado de Polinômio de Legendre, . Eles são obtidos de Usualmente, eles são escolhidos de sorte que . Obs.: uma vez fixado o valor de , a série par será polinomial se for par e a série ímpar será não polinomial e vice-versa. A série não polinomial corresponde à solução L.I. da equação de Legendre, , chamada de função de Legendre de 2ª. espécie. Abaixo, listamos os primeiros polinômios de Legendre Observe que a paridade do polinômio de Legendre depende de 12 As funções de Legendre de 2ª. espécie, (que convergem para , mas divergem para ) podem ser obtidas da equação de Legendre via método da variação das constantes As primeiras funções de Legendre de 2ª. espécie sãoObserve que a paridade de é dada por Exemplo 4: A Equação de Bessel de ordem - A raiz dupla na equação indicial Substituindo a série Frobenius , temos Simplificando, Ou, Donde, temos uma única raiz dupla e 13 A fórmula de recorrência fica Portanto, o Frobenius usual só fornece uma única solução, a série par onde é a função de Bessel de ordem zero Falta a 2ª. solução L.I. Vamos tentar Frobenius generalizado Substituindo essas expressões em (40) temos O termo entre colchetes é nulo (sumindo com o logaritmo), 2 termos se cancelam e o resultado final é uma equação não homogênea Simplificando, Ou, 14 Mas, os coeficientes podem facilmente ser obtidos. Voltando à (43), temos (44) Donde, ; ; ; ; A fórmula de recorrência fica Exemplo 5: A Equação de Euler – Raízes complexas da equação indicial Seja a equação de Euler A série de Frobenius , fornece Ou, A equação indicial é . Obviamente, . Então, Mas . Escolhendo o ramo principal . Para real . Escrevendo 15 Exemplo 6: A Equação de Bessel de ordem - Raízes diferem por inteiro Substituindo a série Frobenius , os 2 primeiros termos são a equação indicial e e fórmula de recorrência Desse modo em ambos os casos. As 2 raízes , fornecem e respectivamente. A equação (49 a) para explode e não pode ser utilizada. A equação (49 b) não tem problema e gera a Função de Bessel de ordem 1. Para obter a 2ª. solução, vamos usar Frobenius generalizado Que substituída em (47) nos dá Mas que substituída em (51) fornece Simplificando, 16 Da equação indicial de (52) vemos que . Se escolhêssemos , o 1º. termo zeraria e os próximos termos seriam e nunca seria possível igualar com o 2º. membro de (52) que começa com . Logo, escolhemos . Isso implica que e que Exemplo 7: Fórmula de recorrência de 3 termos Substituindo a série Frobenius teremos A equação indicial é com soluções e . A equação seguinte é . Portanto, escolhendo , teremos com valor arbitrário. Para os 2 primeiros termos de (55) , temos ( ) Ou, Para a situação com todos os 3 termos, fazemos ( ) no 1º. termo e( ) no 2º. termo de (55) Ou, Portanto, a solução geral será 17 Resumo: Se a equação indicial tem 1) Duas Raízes Distintas Cada uma delas fornece uma solução L.I. da equação diferencial homogênea. 2) Duas Raízes Distintas que diferem por um inteiro a) A menor raiz fornece a solução geral. b) A menor raiz fornece não fornece solução (coeficientes infinitos), a maior raiz fornece uma única solução e Frobenius Generalizado fornece a 2ª. solução L.I. 3) Raiz Dupla Frobenius fornece uma única solução e Frobenius Generalizado fornece a 2ª. solução L.I. Outros Métodos 1) Expansão em torno do infinito: A equação diferencial fica, Chamando e temos Exemplo: Reescrevendo 18 Pelos critérios discutidos tem um polo simples e um polo de ordem 4 na origem. Usando e as expressões acima temos Com soluções 2) Mudança da Variável Dependente Se mudarmos da função para a função através da equação , onde está à nossadisposição. A equação diferencial Pode ser reescrita a) Podemos impor Donde b) A equação diferencial Descreve um oscilador harmônico quântico unidimensional. Para , ele recai no exemplo 7 discutido acima, com solução . Chamando Obtemos Cuja solução leva aos Polinômios de Hermite 19 3) Mudança da Variável Independente Definindo uma nova variável , uma função arbitrária de , teremos, E a equação fica Exemplo: na equação de Euler , se substituirmos , temos Com solução
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