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ISBN 85-7387- 964-5 I I 97885738796 4 3 WWvV .com.br EDITORES Joôo JOé)ü LUlz da Sil'\/a PJrneida Amílton BUUlO ele Cezar Hober!o BitCL\ ."c Cesar Flores Cristiano Chaves de Farias Carlos Eduardo Adriano EuçJônio Rosa J. M. Leoni Lopes de Oliveira José dos Santos Carvalho Filho Manoel Messias Peixinho Marcellus Polastri Lima Marcos Juruena Villela Souto Nelson Rosenvald Paulo de Bessa Antunes Paulo Rangel Ricardo Máximo Gomes Ferraz Sala de Carvalho Victor Gameiro Drummond Társis Nametala Sarlo Jorge Rio de Janeiro Av. Londres, 491 .. Bonsucesso Rio de Janeiro - RJ .. CEP 21041·030 C.N.P.J.: 31661.374/0001·81 Inscr. Est.: 77.297.936 TEL. (21) 3868·5531/2564·6319 Ernail: lumenjuris@msm.com.br / Home wvrw.iumenjluís.cOlTI.br São Paulo CEP 04044·060 Telefone: (11) 5908·0240 ,..L'\ntonio Carlos IVIartins Soares ~AuÇJusto Zimrnt:ln1al1Il Aurélio V']anrler Bastos Elida Séguin Flávia Lages de Castro Flávio Alves Luiz Ferlizarelo Barroso Marcello Ciotola Omar Gama Ben Kauss Sergio Demoro Hamilton Rio Grande do Sul Rua Cap. João de Oliveira Lima, 129/202 Santo Antonio da Patrulha - Pitangueiras CEP 95500·000 Telefone: (51) 3662·7147 Brasília L Telefone (61) 3225·8569 35 I :1 :1 n ti I AUGUSTO de Diu'i!o F'Cl1u! c f'rocllrlli!or do Es!([t!n do Rio de JOlleiru, Crim iI! il I. o Crirne e o Criminoso: Entes Políticos 2ª edição LUMEN JURIS Rio de Janeiro 2007 2007 Editorial Lumen Jur: teb. /\ LIVRARIA E EDITORA LUi'vlEN .lUFUS LTDA. ilbde desta obr:1. l~ proibida a , por meio ou processo, inclusive às características c/ou editoriais. A violação de direitos autorais Penal, art. 184 e e Lei nQ 6.895, a busca e e diversas (Lei nº 9.6] 0/98). Todos os direitos desta reservados il Livraria c Editora Lumcn Juris Ltda. r mpresso no Brasil Prinfed in Brasil "Por que é qlle ell me colo "Como um monge medieval que tivesse passado (I vida inteira no deserto pelejol1do contra o demónio e lim dia corno a notícia de que o diabo nrlo existe. " f\FFONSO Rorvl/\NO DE SANT' ANNA AUTOR ~ Norma Penal em Branco e Retrocrtil'idade HisíÔriL'() do Di/'c'i!u C'rillli!lu! {:f\'o-Brusiíeiro - lV/C/fluol de jJara de - Q Advogado de Defeso !l FICÇÃO: Capítulo 1 - A Cifra Negra .......................... , ............................... . Capítulo 2 - A Inconsistência da Criminologia Tradicional.......... 21 Capítulo 3- A Discriminação da Justiça Penal...... ......... .............. 45 4 O Verdadeiro Conteúdo do Direito Penal Corretivo ...................... .......................... ................. 95 5 - Conclusões .................................. ..... ....................... 127 I _. I 8.149 elo Juiz Verani)........... 141 II- Procuradores Reclamam das Pressões.... ................. ...... 152 m - Superpopulação Prisional ................................... · .... ·.... 156 IV·- O Malogro do Sistema Penitenciário Sueco ............. · .. · 158 V -- Um Caso de Medida de Segurança Detentiva ......... ..... 165 VI -- Pena de Morte, Prisão Cautelar e Cia. Ilimitada .......... 171 Referências Bibliográficas ............. ... ...... .......... ... ...... ...... ............. 175 ix "Eu ser esta {ante do que tcr ([qllc{a velho illada soúre tudo, " E Raul Seixas Thompson - Acho que ultimJ.mente minha convlvcncÍa com vocês tem sido intensa. Eu não saberia dizer se nas biritas interminá- veis que tomamos a filosofia é um pretexto pra cachaça ou o inverso. O certo é que vocês epistemologizaram meu botequim. Rosa - Thompson, não seja mentiroso. Você semprc gostou de cachaça e filosofia. Talvez não estivesse acostumado é com o boteco como um lugar pra gente negar as "certezas científicas", O boteco sempre foi () território da eloqüência fácil, onde se trocam as receitas do senso comum, ou do senso comum teórico, como se as últi- as grandes verdades da ciência. Kant é que di,scutindo com os percalços de sua pesquisa sobre o júri te perple- xo eom a implosão constante dos conceitos que você supõe con- fiáveis. Kan! - Pô, eu que não tenho nenhuma para o terror como incendiário ... Vá pra mim, o pensamento meus - também. cientista antro- Poderiam, entuo, eom a leal frente ao leitor, sobre livro. converSH. foi o do consumo dc duas Forestier tinto. Seriam necessélrias mais xi xii tcm que cwtodevorar··sc, . T,~m que 1111er- mú di () cercam. que há muitas verda- (k.~. nilp Glbcl1l p~\rtiuu CLl S slema. l:u que pra 1111111 dcvorando as semprlê a mudar é um jurista que a velhas conv' d~\s na escola de direito saher" dns tribunais. é um jurista em "!udila" no campo do direito, também como um destruir as tramos no e mOllGlitízar instrumentos cfosse dominClnte elc, Em seu discurso parece que o é coisa centralizada e de uma elite CJue detém os pri- sócio-económicos. Como se nuo houvesse d eI ou da classe dominante se o caso é de elites ou de entre as mesmas, resistência dos dominados etc. r -- É verdade que sou um J em e como eliz o Nelson vai abandonando LI entrando el11 outros dom sta, Nesta acho que tenho mesmo uma illcli a pensar por OpOS refletir com mais matizes. Fundamentar certas que anoto. Afinal, isto seria pensar teoricamente de um modo sante, Mas há razões para a forma deste livro. Eu não sou um sociólo- go, um cientista um metodólogo, um de como vocês, Venho certas coisas com voracidade mas, ao mesmo tempo, com cautelas. pra evitar uma incli Inclusive um de í que me deixasse enfastiado, paralisa- do pra intervir sobre o mCl! dia-a-dia, que se passa cm grande na esfera elo !las jurídicas. Eu lenho coisas pra dizer, pra StlO os criminoso,\'? Crinu! crinri!1(Js(l:~': ('flfc'S xiii mudar e não vou deix:lr de fazê-lo porque não sou um súbio moderno, E lssÍemais do direito - Eu que pra outns pessoas, Acho não estou me avocando urna missão e muito tlutrd . . t ~ . t l c 'I) ',\[TU-ISSO que ear~\C[enza o eonco: es ru ura- l. ::;- tórios; j Llstapondo a mais plausível. fvlas a minha é outra, é , , a especialmente stificar para , JUizes, , que fundamenta a e o tratamento ele entIda- des como o o Cri E antes que eu me acusam de simplificar nante, sistema etc., I a que. dou ú que llão tenho urna vi são sempre t'xpressa uma ao K. - Não fui eu quem Calou que você não stra a d~s dcll1liné\dos. Acho. que há uma a você considerar a clJ- . ". . .\ 1·' 'c . d' rhr VilQem económICa um lllchcador seQuro e l e 111ltlVO no . L; , ( cO;1ta da da ~ e das estratégias de tratamos do Brasil, que uma estamos dié1l1te de uma sociedade de fundada no que que de acordo COI11 uma ideologia . . ld·1 I t d 'os cid'lel'íOS perante a contrato SOCial, que a Igua ac e (e () os. . ~ ( . lei, porque lhes a igualdade perante o merc:ld~), Ol;de todas as são de conversuo a padrões econoJ11ICos? Penso que xiv em nosso pJís a justiçJ se concebe, se representJ, não como um servÍ- de forma pública e mas como que assuma os missos" necessúrios, nem sempre de caráter económico. O ideal bur- da a!dade não se realizaria , nfío só porque essa inexiste por num sistema de e desde o início CO;110 mas porque nos concebemos e lima sociedade de s, ele e de hierarquias, eIXO é mas não O processo de aplicaçélo da lei no Brasil nada mais faria, po1'1<,1I1- to, do que referendar sistematicamente esta desigualdade que entre nós ,i ica que recobre ;t nfio ideal é o de "nos locupletarmos todos" ... R. Pois é, Kant, acho que esse viés analítico é muito significa- tivo. Aqui, não somente a sociedade se divide em explorados e explo- radores, em opressores e oprimidos,mas nós também assimilamos o ideal burguês de igualdade, de forma muito complicada. Quer dizer, os do direito aprendem este ideal na faculdade, na medi- da cm que importam uma cultura jurídica européia. Contudo, confliw com essa ideologia setorial uma macro-ideologia relativa ii totalidade social onde nos percebemos como desiguais, como investidos ou não de certos vilégios. Por aceitamos a lei como emanação de um poder que não é o nosso, que é o poder dos poderosos. ainda, opomos ao ideal europeu de cidadania a representaçélo de uma socie- dade hierarquizada como coisa natural. T - E vocês acham que não percebo essa O por a mil+ha Lln;ilise sobre a "cifra ela mostra que há outros e outras normas que não são as ionais do resolvendo 0:-, de resolver os aprendidas na as recitadas direito lhes interessa utilizar LI da . Esta forma na cifra negra, é,inclusi Crinle e criminosos: entes xv R. - Thompson, certamente mais a conversar, , a essas alturas, trouxemos o nossa discussão. ele agora lendo seu trabalho confira a de nossa refle- xão. Kant e eu que este livro tem uma virtude funcla- : ele contra o uso dos illsti- e não contra o seu abuso. E se a ess;1 outro diretor de sistema penitenciário - você é do Desipc - ou cm escolas de Direito, ou em cursos da OAB, anda dizendo estas coisas'? A A CI "Então lhe trollxeram os escribas e os fariseus lima 111ul qt!C fura Clll adultério c :1 puscranl no 6. lJiziClIl1 i:,lO os tLntlilHJo () acusar. Porém Jesus abaixando-se, o dedo na terra. 7. E como eles perseveravam em fazer-lhe perguntas, ergueu- se Jesus e disse-lhes: O que de vós outros está sem o que a 8. E tornando a abaix,tr-se, escrevia na terra. 9. Mas eles ouvindo·o, foram saindo um a um, sendo os mais velhos os E ficou só Jesus, e a mulher, que estava no me.io, cm 10. Enti'ío ergueu·se Jesus, e disse· lhe: Mulher. onde estão os (!1te te aellSitV:llll') te condenou') II. ela: Senhor. Enti'ío disse Jcsus: Nem eu tampouco te condenarei. Vai e não peques mais:' Silo JOcl(), 8, Novo Testamento I do vcl visualizá-lo como um em si mesmo, tornou natural c, de pronto, abriu oportu- I. B SACRADA. Vers:lu de pl'. Antonio Pereira de Figueiredo. São Paulo, AlIléricus, 1950. 1 nidade para a criação de uma ciência que tivesse por objeto específico u seu estudo, a minologia. O novo ramo do conhecimento do delito como de tudo CJue lhe anda ú sando a í Daí, em sua aI iSt,lS escreveram, escrevem e V;)O escrever incontáveis obras, em todas as línguas, , medi classi icadas fórmulas matemáticas, teo- rias, , conclusões -- ah, conclusôes em avalanche, ainda que inconsistentes ou contraditórias - tudo envelopado cm atmosfera grave, scca, para UlTlCt ve rdudei r{f ciêncio, mi nal ch::ntn) definido conseguiu-se, cm boa medida, barrar seu à lllvasão do interes- se ou da curiosidade daqueles que vivenciam a realidade concreta das infrações penais - isto é, o comum dos mortais - porque havidos como carentes da formação indispensável que lhes autorize a penetra- ção em tão complexa disciplina. Conquistada a prerrogativa de con- templar o crime em "esplêndido Ísolamento",2 os especialistas atribUÍ- ram-se o direito de reservar um espaço de sua exclusiva competência, rejeitadas intromissões indébitas a quem não ostentasse suficiente qualificação p~a merecer o título de criminólogo, Afinal, o templo do sábio-técnico deve cerrar as portas à entrada da ignorância do vulgo, a quem cabe apenas suportar a catadupa generosa e cachoante do saber científico, que esguicha da boca erudita dos sacerdotes, tardou a surgir um movimento de rebeldia contra fortale- za assim hermética, puderam os criminólogos gravitar em torno às suas fantasias com desenvoltura e na segurança do proprietário que não teme esbulhos quanto ao terreno cuidadosamente cercado c defendido. 2. CHRISTIE, Nils, Prcfácio do London, Tavíslock Pub" 1968, . SC({lIdinol'inll SI/Idies iii sâo os criminosos: Crime e 3 Aliás, a criminologia seguiu, pura e simplesmente, o exemplo da irmã mais velha, Jpsiquíatria, Talvez passJr, e logo, à dos erros deste engendrJmento, Isso, contudo, estaria ent .kl.i)acor- do com a forma pela qual se deu o levantamento daqueles S o curso natural das coisas, partindo do dado que se apresen- tou como a ponta de verdade a ser A pJrtir de meados do nosso século, algumas pesquisas ram evidenciar a existência de discrepância entre o número de cri- mes constantes das estatÍsticüs oficiais e a realidade escondida por trás dele, Observou-se que, embora os índices da ordem formal indiquem existir uma considerável quantidade de infrações, o total dos delitos de fato prat , A reduz.ida minoria das viul cimento A brecha os [rados denominou-se "clÍ' il expressão que logo se firmou, enquanto ômel10 muito comum. Para bem compreender a questão, impõe-se lembrar que crimi- noso, em sentido formal, é o indivíduo condenado pela justíça sobretudo se for recolhido à prisão, fazendo jus, dessa maneira, ao rótulo de delinqüente por parte do grupo social. De outro lado, cabe recordar que, da prática do delito à condenacão do autor indo um pouco adiante, até seu encarceramento) há um obrinatório caminho a , b ser percorrido, o qual oferece como etapas marcantes as seguintes: a) ser o fato relatado LI polícia; b) se relatado, ser registrado; c) se trado, ser investigado; d) se investigado, gerar um inquérito; se o inquérito, dar origem a uma denúncia por parte do promo- tor; f) denunciado, redundar em condenação pelo g) se, haven- do condenação e expedido o mandado de prisão, a polí- cia vamente o executa. Estigmatizada como criminoso a suportar a conceitos e tratamento diferenciado por elemento será a pessoa que, além de haver cm abstrato em norma indicadas e termina confinada numa penitenciária. Se alguém viola um escapa de lido pnl' criminoso. na este idadns<ls demonstrar que Cll c;\da uma fascs n.:ferida:.; ocorrc Ullla cntre o Ullivcr:;o dditos o número dos qUL' a ordem oficial. H~. P()I descumpasso 110 CIC!!/'{j ( ifra n:ío ter os dados que ,Ipenas ínfima la dos crimes a receber npe sendo que destes tão-somente uma minoria leva os autores ao cárce- lit:lr dd ifra negra. honestamente através de um exame em nossa viua: de nós é de assegurar jamais haver come- tido sequer llm único ilícito até o dia de Lembremos que concorrer de qualquer modo para sua prúti ca) os ::ttos a arrolados do de vista ideal: comprar de cuntrabandista uÍs- de levar sem suficiente provisão de fundos; de dív cometer adultério; atestado médico gn sem paralelo, para usar ex mais ; jogar no no buquemêiquer; sendo funcionário (inclusive juiz e char num dado sentido para atender a pcdido de e crinlinosos: Cl1rcs 5 assinar lista ele presença à auja por ausente; etc., . etc. de ern conse seremos cap(u~es ele nos j u inOCC1l1 de todo delito'! pr()va\'l~ll1lcllte - cntre este:s, dizer, n~ío se encontra o autor ckstas línlus. descritas constitui crime c, S()S, n a maioria. de nós nunca teve nenhuma fafo delituoso sequer relatado à o conforto da ci fra ncgra. antos abortos !cVàUOS a c to ao conhecimento das autoriuades? E fUl'tos em relacionadas com a lesões freqüência através de entre víti- mas e ; os roubos (a vítima, por medo ou por julgar uma de prefere não comunicar o fato Zl ; a acidentes de trânsito, e assim por diante'! a própria polícia conduz o lesado a concorrer para o da cifra negra, já para evitar que as estatísticas demonstrem com toda a crueza a enormidade das práticas o que em dúvida sua em sufocante plctora de casos que a esmaga no Nem se que escapa ao fenômeno da cifra negra um to como o homicídio. entre parentespor melO do emprego de veneno ou de ficam no por certidões de óbito inexatas ou des- por médicos que se basearam em ln de familiares da vítima'? "Nos Estados e ainda no a de uma vítima conduziu à de muitas outras que sido ass,lssinadas uma a lima, enterradas c, aparentemente, nunca dadas como Histórias se com som- bria acerca de corpos encontrados enterrados cm isolados. de homicídios cm massa por empregados ou 6 guardas de prisão tanto quanto por anarquistas ou por políticos extre- rnistas."3 da mortos, foram executados pelos Quantas pessoas encontradas a no sentido de terem natural, quando, cm Veja-se, a a de morte "Uma após outra, oito mulheres idosas, cada qual vivendo sozinha na mesma rua cm Manhattan, foram encontradas mortas durante a e venl0 ele I havia li duas das s m morrer, ainda mais duas."4 a alcoolismo. ando Ulll a lí ltil muI a as havia matado a todas e Sobretudo ingleses e americanos têm investigado e tentado a mensuração da cifra negra neste primeiro passo (relato à polícia), pro- curando quantificá-la, ao menos, aproximadamente, concentrando as pesquisas nas três pontas do fenômeno mais propícias para tal finali dade. Para isso, realizam inquirições com respeito a grupos, os mais numerosos possíveis da população, indagando, por meio de formulcl- .-/ adequadamente preparados, quantas vezes caela uma das pessoas já praticou (pólo ativo) ou foi vítima (pólo passivo), ou de alguma forma tomou conhecimento (pólo neutro) de delitos que não rarn a ser relatados à polícia. A elos dados élssÍm obtidos com nas oficiais tornou possível a inferência de algumas conclusões que, se ser tomadas como fornecem, de qualquer sorte, uma idéia da extensão do tema. RADZINOWICZ. Leon Hamilton Lid., 1977. p. 4. Id., p. CrOl1'11r sao os cril71l!1(J,I,'()S? Cl'ime e (TI.'11I170\,{.IS. 7 Em Nova Iorque, por exemplo, ocorrem pelo menos duas vezes mais ais do que as que são objeto de relato. Em Filadélfia, cinco. Na Alemanha, em termos de aborto, a é de 500 para um; cm matéria de crimes sexuais, de 10 para um; no que toca a homicídios, entre três ou seis para um; e no caso dos cri- mes contra o património, de oito a lO para cada um. Na Inglaterra, ;1S mais modestas vas indicam que o total dos delitos cados deve ser superior a quatro sendo certo que metade ao conhecimento das autoridades. Em termos de homicídio: "Algumas estimativas v50 ao ponto de afirmar que somente um homicídio em cclda três ou dos outras quc a rel se a ainda mais precário em face pobreza das próprias estatísticas ofi- ciais, resulta difícil dimensionar o espaço escuro onde se abriga a delinqUência n50 relatada. Contudo, valendo-me dos 43 anos que me ligam ao cotidiano criminal, sou levado a concluir que as estimati- vas anteriormente referidas são por demais reduzidas para o panora- ma brasileiro. À minha experiência, somo a intuição de policiais, promotores, juízes, advogados, com dedicação de muitos anos na área da administração da justiça, os quais, por mim consultados, manifestaram a mesma impressão. Creio que, ainda numa previsão cautelosa, no mínimo dois da globalidade das condutas delituosas de fato adotadas não chegam à ciência da polícia. Crimes Mas Não Registrados Por vezes, a notícia de um fato lO da !11 o que / 8 deve estar r, e bera social, possível razões duros que for independentemente do e que lhe ordenam for- mal um procedimento criminal contra o autor de um delho, desde que este, de alguma lhe ao conhecimento, de uma os COll Í1.os com o dos jurisdi Mostra-se vi,'ive!, em inúmeros casos, compor os interes- ses do criminoso e da vítima por meio de um trabalho de persuasão, de apelo à mútua compreensão, de desarmamento dos espíritos; por que desprezar essa via para obedecer cegamente ao texto frio das registrando o fato, expondo o agente ativo aos riscos de um processo criminal e cortando, praticamente, a possibilidade de o sujeito passivo ter seu prejuízo indenizado? (A lei penal empresta nenhum valor - de fato, apesar de sua retórica não admitir isso com franqueza - ao ressarcimento do dano, de maneira que se tiver de enfrentar uma acusação já formalizada o criminoso se recusará a reparar a lesão causada, pois que a providência em nada melhorará sua posição.) Ademais, a existência do registro vai determinar, necessariamen- te, uma série de atividades por parte dos servidores da polícia; evitá- lo, pois, representa economia de trabalho e de gastos - meta de abso- luta prioridade numa delegacia policial, sempre assoberbada com quase insuportável quantidade de casos, Lesões corporais entre parentes (sobretudo marido e mulher, pais e filhos, amigos ou colegas), mero uso de tóxicos, furtos em super- mercados, crimes contra o património de forma etc., embora levados à mesa da autoridade de dia, e embora consubsc slio os cril1únosos? CriJJ7e tanciem verdadeiramente delitos negra, por falta de Neste passo, por implica a cri exame resvalam para a cifra opera gozam de tanta ou absolutórias. efeito, a o criminoso da trilha Cc única via) capaz de conduzi-lo à da Naturalmente, como em todo e qualquer julgamento, o episódio e o autor são encara- dos da subjetiva do julgador, que os por meio cÍl; a crim oculta. Importante motivação a engrossar a hipótese, encontramo-Ia no espírito de corpo dos membros da instituição policial. Quem traba:ha no ramo sabe que, a qualquer momento, pode encontrar-se env.olvld.o em evento no qual se veja apontado como infrator de algum dISpOSI- tivo penal. Semelhante expectativa é inerente à profissão. Como a própria polícia apura os delitos atribuídos a policiais, compreende-se que tal circunstância crie uma atitude de protecionismo dos colegas que atuam como autoridade repressora relativamente aos colegas que são acusados, uma vez que as posições, num amanhã próximo e pro- vável, poderão estar invertidas. Vigora, então, uma forte coesão fun- cionai, sendo considerados aqueles que recusam endossá-la como maus companheiros, traidores da classe, indignos de pertencer a seus quadros, condenados a viver em ostracismo e, até, em regime de pe!'- seguição. Ora, a maneira mais expedita de inviabiliza~'-s~ a pumçao do autor de um delito é de registrar o fato cnmll1Oso. Uma forma atenuada, ou habilidosa, largamente de executar a manobra consiste em: "Instaurar sindicância administrativa sumária e ~vo~ar.o inquérito para a Corregedoria de Polícia são as pn~clpals providências que a polícia toma para investigar cnmes e 10 arbitrariedades em que figuram policiais como autores ou envolvidos. "6 Em vez do no I ele a-se para uma disci inar, que correrá no âmbito interno da Secretaria de Segurança, obviada assim a submissão do problema à do Mi o Público e do Juiz. xam de ser de vanta- gens, dinheiro) e de prevaricação (atendimento a de pessoas poderosas, chefes, colegas, amigos, protetares e por aí afora). o mero do evento um mCI- piente no rumo de sua exposição ao claro. Se a ele faltar a conseqüên- cÍa de uma investigação com êxito, o fato que mereceu um lampejo de luz retroage à escuridão. Com enorme incidência, verifica-se a ausên- cia de qualquer investigação com respeito a delitos que foram objeto de registro. Este é o caso de absoluta predominância no concernente aos crimes contra o patrimônio. Já por causa do elevadíssimo número em que ocorrem, já parque em geral fornecem diminutos elementos a permitir um simples vislumbre de elucidação, tendem a jazer esqueci- dos no mofo dos livros de ocorrências. Quem já foi vítima de furto ou de roubo - de automóvel, de valores que possuía na casa assaltada, de bens partados na condução ou na rua - sabe que, mesmo ficando em cÍmados funci a fornecer apoio, meios, gratificações etc., dificilmente a real de uma investigação sistemática, cui- dadosa, ou mesmo interessada. A maioria das pessoas, por tomar conhecimento de tal circunstância, desanima de sequer tentar provo- car algum nos deteti ves formalmente encarregados no caso, o qual só será por pura questão de sorte. 6. SILVA, J. Paulo da & BRAGA. Ronaldo . .Ioma! do Brasil, Rio de Janeiro, 198 I. 12 cad., p. 22. selo os crinlinosos? CriUie e crinllnosos: entes Embora o problema seja mundial, dificilmente se encontram dados elucidativos a a título de exemplo aleatório, para o quadro a TIPO ou INCIDENTE Homicídio Suicídio rncêndio doloso Furto de automóvel Lesão corporal grave Roubo Estelionato Crimes sexuais graves Lesões corporais leves Furto não-residencial Cadáveres encontrados Furto em residência Furto simples Vandalismo Perda de coisas Todos os tipos juntos Fonte: Cidade de Kansas - maio/novembro de 1 PORCENTAGEM 100 70,4 65,5 64,4 62,6 59,6 59 41,8 36,3 35,7 30,0 18,4 6,8 0,9 7. Apud CHAIKEN, Jan M ; GREENWOOD, Peter W. & PETERSILIA, Joan. Criminology Review Yearbook. 1 :711-41, 1979. . , motivaram Se crimes a ser relata- e, que certamente muitas das não obtêm sucesso, fica fácil avaliar a que ostenta o mundo da criminalidade oficial relativamente ao universo da Crimes de Processo Penal polícia a possibilidade de arquivar autos de inquérito. Naquela época, pois, a faixa de acomodação viável de ser conseguida na delegacia estreitava-se entre a ciência do fato e seu registro. Depois, com força irresistível, surgiu uma prática que, como ver- dadeiro direito costumeiro, veio a suplantar e revogar a norma escrita. Por ela, tornou-se possível à polícia deixar de instaurar inquérito com referência a fatos delituosos, mesmo que tenham sido objeto de relato, registro e investigação. Abriu-se, pois, à revelia do.--Código, uma opor- tunidade a mais de perda entre a globalidade dos crimes efetivamente perpetrados e aqueles a serem iluminados pelo facho das estatísticas oficiais. Conhece-se o uso ern causa pelos nomes de acaute!wnento ou arquivamento de sindicâncias. Verifica-se ocorrer, aqui, mais uma hipótese de transferência para a polícia do julgamento da causa, espé- cie de delegação manifestamente contrária a toda a sistemática de nossa legislação. até, com a atribuição de um poder mais discricio- nário ao delegado do que aquele conferido a promotores e juízes, uma vez que se dispensam maiores formalidades na citada solução, inclusi- ve no relativo à motivação justificadora da medida. Reiteradas vezes, o despacho terminativo do feito restringe-se a um lacônico e imotiva- do "Acautele-se", de sorte que ao delegado se poupa o trabalho incô- modo de armar uma convincente süstentação em amparo ao decidido, silo os' crilninosos? CriJl1e e crinú!1()so,s': entes coisa a que estão obrigados os membros do Poder Judiciário A moda para o escuro. vazadouro de do claro Para comprovar a acaso fosse insuficiente o testcmu- nbo de bastaria lembrar um vendo-se frustrada em na busca de melhoria de vencimentos, que chamou de . se não () aumento reívindica- seriam instaurados inquéritos para todos os eventos objeto de registro, ou seja, obedecendo literalmente à determinação da lei, aban- donaria o aos aeautelamenlos. Atender a e1 a sol os por obedecerem à (ou olhando de outro por recusarem a agir fora da lei). De outro lado, caso nascessem inquéritos de todos os registros, o judiciário estaria afogado em uma semana, mortalmente paralisado, sem sequer espaço físico para amontoar a ava- lanche de papel que para lá jorraria das delegacias. Na base do arquivamento de sindicâncias predomina, com inci- dência largamente superior, a corrupção e a prevaricação, embora, por vezes, expresse o sincero convencimento de que, naquela hipótese específica, inexistiu um verdadeiro delito ou, mais freqUentemente, que o indiciado refoge ao estereótipo de um típico criminoso, fazendo jus, dessa maneira, a um ato de complacência e compreensão. Novidade mais recente que os acautelamentos, os autos de resis- tência contribuem para o incremento da cifra negra, suprindo-a de um contingente de delitos graves, perpetrados por policiais. Emprega-se o expediente como fórmula de suprimir ao exame do Judiciário homicí- dios e lesões corporais praticados pelos agentes da ordem pública quando matam OLl ferem supostos meliantes no exercício (também presumido) da atividade repressiva. Em episódios dessa na~ureza, a autoridade de plantão limita-se a lavrar um termo no qual regIstra que o sujeito ativo da infração agiu em estado de legítima defes.a, c(~n:e de-lhe liberdade e procede à confecção de um simulacro de lI1~uento, no qual se limita a tomar as declarações dos policiais envolvldos~no 14 caso. Obviamente, apenas uma única versão fica consicrnada no feito b , exatamente a que favorece a posição do agressor Oll dos agressores. algum outro magistrado levanta a voz para demonstrar a ile- galidade do procedimento em pauta, a judiciária ollvi- moucos, preferindo encarar a questão numa perspectiva pragmáti- ca, e se acomodar com a solução quc simplifica e facilita as coisas. para o exemplo concreto no APÊNDICE 1. se os policiais cobram de maneira tão exaltada o direito de dispor da vida jurisdicionados, a recusa a tal prerrogativa por dos promotores e juízes poderia gerar um estremecimento nos laços que ligam as respectivas instituições, algo que se considera muito prejudicial ao bom funcionamento da máquina repressora como um todo. O que o sistema deseja é vê-las agir em perfeita harmonia e entrosamento. a a, "a a do de bí Jorge Elefante i estourada na mesma hora em que o Secretário de Segurança, general Waldyr Muniz, e o comandante da PM, coronel Nilton Cerqueira, acabavam de almoçar no 12º BPM, em Níterói, eom 27 delegados do interior, 13 comandantes de quartéis da PM, sete juízes e dois promotores, convocados para a reunião a fim de 'sanar qualquer divergência entre a PM, a Polícia Civil e a Justiça. ' ........................................................................................................ Na reunião, Nilton Cerqueira disse que a PM desenvolve um trabalho 'em defesa dos direitos humanos e cristãos'. 'A união faz a força', disse o general Muniz."8 Crimes Cujos Inquéritos São Arquivados pelo Ministério Público Muitos dos inquéritos instaurados terminam sem que a polícia logre elucidar a autoria dos crimes em apuração, sendo, nesse caso, 8. O Rio de 27 jan. 1982, p. 11. S{{O os' cril71inos{).f;: CriJne e cr;',11iI10,I,'OS: l'emetidos a Juízo sem a indicação do culpado. Em tais hipóteses, outra alternativa falta ao Promotor senão a de pedir o arquivamento do feito. I-louve o delito, disso há certeza; porém, por falta de tos, torna-se inviável processar - e, condenar - o crimino- so, o qual, fica oculto à sombra da cifra negra. Outras razões, como veremos adiante, podem levar o Promotor ~l renúncia quanto a movimentar uma penal contra alguém. Por ora, contudo, chamar a para o já referido: delitos de existência comprovada, mas autores, não ter sido levan- tada a autoria, não são considerados criminosos ordem formal, ficando de fora das estatísticas oficiais. É que o dado a seguir forneci- do desacredita a alegação, por vezes sustentada pelos defensores da criminologia tradicional, de que a cifra negra só mostra relevância a de mínima a, sendo ele delitos graves, como, por lUdo o mais vimos sustenbndo fosse a desrazüo do a só do ria tal efeito: o para (lémonstrar detclmina- "O Departamento de Polícia Especializada (DPE) admitiu ontem que existem atualmente cinco mil inquéritos de crimes de morte san solução,todos a cargo da Delegacia de Homicídios. Esta estatística - apontando uma média de um mil homicídios por ano foi feita considerando apenas os anos que se seguiram à fusão dos antigos Estado do Rio e Guanabara . Estes números constam do relatório sobre as atividades da Delegacia de Homicídios durante o ano que passou, encami- nhado pelo delegado Arnaldo Campana ao diretor do DPE, que remeteu ao Secretário de Segurança, general Edmundo Mllrge1. 9 Somente entre 1975 e 1980, alguns milhares de assassinos engordaram as hostes da cifra negra. Como, no mesmo período, as por homi não a casa das centenas, 9. O GLOBO, Rio de Janeiro, 15 ago. 1980, p. ! 2. 16 torna-se crimes relativamente às como é o caso do mais enfaticamente separa o universo dos num dei merecem as real formal assim pela ordem à penitenciária), na elos que identificados que servem ínfima da totalidade? Além dos processos em que o próprio de um culpado hipótese em que se vê Iram pUf . r de uma e outro de acentuada no tante ú aquilatação do valor probante dos elementos carreados aos autos. Por isso mesmo, ainda quando a polícia dá o caso por resolvido, conside- rando haver descoberto a autoria do crime, ao promotor ocorre pedir o arquivamento do feito, por lhe parecer serem os indícios reunidos insu- ficientes para gerar sequer um princípio de convicção. Percebemos aqui que também ao promotor se faculta uma oportunidade de julgamento do caso, uma vez que decidir aquilo a ser considerado como indícios s~~ficientes ou insuficientes exige uma consideração valorativa sobre o conteúdo do processo. Como em todo o julgamento, a matéria será enfocada através do subjeti- vismo de quem a examina, uma vez que inexiste a possibilidade de alguém adotar uma posição inteiramente desinteressada frente a qualquer problema relativo à espécie humana. Por outro lado, em área tão fluida como essa, inexiste fórmula apta a limitar de manei- ra rígida e exclusiva os verdadeiros motivos aceitáveis no sentido de autorizar a solução do arquivamento. Necessariamente, espaço para a manifestação da atividade discricionária quem vai decidir a matéria. Como conseqüência, embora sustentando a posição por meio de um discurso dissimulador, muitas vezes o promotor reqller o arquiva- mento por entender que o apontado autor não um verda- 17 cieiro ainda que do e de ser o indiciado seu Tudo isso de fato concretizados e os aparecem na claridade da ordem formal - para cOnlradizer a realidade do r Na ondc há acerca da conveniência da do !''lIi!li Poder no concernente ao a denúncia. recursos nesse e se resolvem no àmbito interno da instituição. manipulação dessa faixa de poder, como sempre acontece fora dos lei, influenciando-se o m, são se busca aliviar a sobrecar- ga de serviço das Varas Criminais, ou porque o promotor discorda da criminalização de certos fatos, ou porque se apieda de alguns acusa- dos, ou porque, naquele dia, se reconciliou com a namorada e deseja expressar sua satisfação por meio de uma atitude de magnanimidade, ou por mil outros motivos que nada têm a ver com a efetiva existência de um delito praticado por uma pessoa perfeitamente identificada. O que, de resto, não representa nada novo no front ocidental: ./ "Noventa e nove de cada 100 pessoas detidas por acusação de delítos graves, na maior cidade da nação (Nova Iorque), jamais vão para uma prisão estadual e mais de 80 não são sequer denunciadas como criminosas."lo Claro, também a corrupção e os pedidos e ordens podem intluir no ânimo do promotor para conduzi-lo à decisão entre o arquivamento e a denúncia - embora a primeira causa seja infreqUente (o pape! do corrupto, o sistema designou a polícia para desempenhá-lo). 10. THE NEW YORK TIMES, aplld Tlle Atlanta Journal, Georgia, USA, 5 jan. 1981, p.9A. ! i ,.l 'j 18 Quanto à ÍndícÍo de seu alcance na CriU1eS que em Instaur,lda a "Tudo são absolver." o processo terá de pros- terminativa do Juiz. Às demolls- em sentido a crer que houve o cnme e o acusado é seu aquela certeza capaz de uma por que me na contingência de muitas vezes esconde tal fórmula o verdadeiro motivo que levou o Juiz a livrar o réu de uma pena, sendo tão- somente. como a mais e cómoda maneira de Àtrás do biombo, podem estar o de a. sistência das afirmativas da criminologia positivista, a qual se alimen- ta quase que exclusivamente de pesquisas realizadas sobre os mem- bros das populações prisionais. Àdiante, atrevo-me a pensar. ~ . Condenado o réu a urna pena Juiz expede uma ordem (mandado de que efetue a captura do condenado. de que nào surs'is, o determinando à polícia . Pois .bem, existem no país mais de mil mandados por cum- pnr. ConsIderando que contamos com cerca de 120 mil encarcerados, constata-se haver muito mais condenados soltos do que dentro das p~ni.tenciárias, ou ainda: a população prisional representa uma parcela d1l1l1nuta no que concerne aos criminosos assim etiquetados pela ordem formal, os quais, por seu turno, configuram reduzido número da cri rní total. Àlgumas evidentes conseqüências decorrem da existência da cifra negra, como anota, por exemplo, Sir Leon Radznowicz: II a) representa a substância do crime, enquanto as estatísticas oficiais são tão-somente sua sombra; b) torna extremamente difícil descobrir os verdadeiros caminhos e composição da criminalidade; c) restrin- g~ e distorce nosso conhecimento a respeito dos criminosos; d) as atItudes d~sociedade com relação ao crime e à punição são inevita- velmente irrealistas; ,e) impõe-se como o maior fator no enfraqueci- mento de qualquer efeito intimidativo que a punição ou o tratamento dos criminosos pudesse ter; f) provavelmente, o sistema não tem o menor interesse em tentar diminuir a cifra pois a polícia, os promotores, o Judiciário e os estabelecimentos prisionais sucumbi- ~'iam se tivessem que lidar com todos os que, realmente, praticam mfrações penais. Também a ONU já afirmou que os estudos acerca da crimínaJi- dade oculta em xeque as tradicionais relativas ao problema da delinqUência. Estas doses de ! ! . 0v cit., pp, 52-4. 20 de modo a demonstrar que toda l~(ILL!" de e Capitulo II A CRIMINOLOGIA TRADICIONAL "O conhecillli'nto r('!l{ç'{{.')1 tl.\'sinlÍ!u os' coj,,>'{f,\' I1cn/llurt de perdae/c. (f i,\'so, o conhecilllento SenljJre lilll de.'lconhe- cimento. Por outro !ado, é sel!Jpre que visa, nwfdosa, insidiosa e ag.ressÊvCl/l1ente, indiv(duos, coisas, situaç6es. " Michel Foucault l Três postulados seguram todo o edifício da construção crimino- lógico-positivista: l. O crime é um fenômeno naturaL O estudo do crime deve ser realizado através do mesmo processo de conhecimento usado para as ciências naturais. 3. Pela observação e pesquisa dos minosos, assim identificados oficialmente, é possível desvendar as causas do crime e extirpá-las da sociedade. Submetidas a uma crítica que prescinde de maior profundidade, tais afirmações se esboroam, deixando à mostra o miolo nelas conti- do: um saber promovido pelo poder dominante, permeado de conteú- do político. Tratemos de examiná-las, olhando-as pelo avesso. l. CADERNOS DA PUe. A verdade e as fórmas jurídicas. Rio de Janeiro, 1978, p. 19. 21 22 o Crime Não é um Fenômeno Natural para posicií).tHlf o crime corno ci em reconhecer-lhe a natura!", isto é, que vel como. um ser em si mesmo. vistas a tal mister, impunha-se recusar o na fase do Direito Penal de acordo com o qual, na elegante sentença do scu mais completo e coerente mestre, Francesco Carrara: "O crime é um ente jurídico." Aceitar a concepção deli- to como alguma coisa dependente da legislação importaria em empurrá-lo parao mundo das normas, e este, obviamente, constitui regaço uado para aninhar uma natural. Dentro da a onde nasceu a crim as ou tra. CGmo incomu ma deJas com por O objeto da ciência positiva tem que ser, de modo estável, defi- nido, absoluto. Ora, a definição das infrações pelos preceitos legais caracteriza-se pela fluidez, pela mutabilidade, pela extraordinária variação em função de sua colocação em termos de tempo/espaço. Agir de uma certa maneira pode ser crime hoje e aqui, mas pode ser lícito hoje lá ou tê-lo sido aqui ontem ou vir a sê-lo aqui. amanhã. Como observou um autor: "Uma criminalidade que é regulada em parte pela cronologia, em parte pela longitude, não se presta facilmen- te para uma discussão científica."2 A rigor, se por cientifica queremos dizer cientifica-natural, não se presta de jeito nenhum. Somente conceituando o crime em total independência quanto leis é que se poderia elegê-lo como objeto próprio de uma disciplina ex ata. No de atender a esse pressuposto incontáveis tentati- vas foram feitas, e continuam a sê-lo, na busca de apresentar lima de delito. 2. ELLIS, Havelock. The Criminal. Londres, $. cd., 19 J 4. p. 2. os crinzinosos? Crirlle e Cri!11ino:üJs: ente}; muito talento, resmas de papel e de tinta do em causa. Desde dos uma profusão cada crimi que se preza adota no que concerne ao O fato indiscu- tível é ínexistir a mais longínqua ou remota esperança de consenso a o que parece comprovar a presença de l:m fico i para cevar experirnentaI. Nesse passo, os psicólogos obtiveram mais sucesso, ou foram mais o elemento metafísico "alma" na de tude dessa dela descartar em o contas, normativa. que tira da iI idéia de lei que só em vir- lado i. Trau. B Silveira. Süo 24 outros, cuja criminalidade é criminosos em todos os resultariam que se possa chamar atribuído por uma lei "6 U<"-,LlIJ':L{A;;' de superar o relativo à conceituação do crime como "fenômeno natural", a maior parte dos criminólogos adota impassível postura: concorda quanto a estar num beco sem saída, con- forma-se, elimina das cogitações qualquer preocupação relativamente ao ponto, mas persiste com afinco na tarefa de trabalhar no edifício da criminologia positivista - que flutua no éter, à falta de alicerces. Assim, criminologiza-se numa espécie de colorido balão solto no espaço, carente de vínculos que o liguem ao chão da realidade. .Quadro singular o da criminologia: ciência natural que não dis- põe de um objeto de estudo precisamente definido. o Estudo do Crime Pode Ser Realizado Através do Mesmo Processo de Conhecimento Usado as Ciências Naturais do das tentativas de conformar o crime à condi- de fenómeno natural, nem por um instante ocorreu qualquer vaci- 6. BRUNO, AníhaL Direito Penal. 2. ed. Rio de Janeiro, Forense, s,d. tomo I, 'p. 269. sua slio os crhnillOSOS? CriJne e critninosos: entes 001.1111"']\' 25 com referência à escolha científica: "Uma sol ciências naturais mcnto da das do :~;tatlls ele objetos a serem na método das sob o argu- o avanço obtido na química, física, astronomia, biologia encheu o homem para a buscasse usar o mesmo conduto no concernente ao novo campo que se abria, aquele em que o principal objeto de estudo era o próprio homem, enquanto ser político. A assimilação deu-se de forma tão decidida que se projetou, até mesmo, na nomenclatura escolhida: v.g., à sociologia apelidou-se defísica social. Não parece difícil, porém, apontar o erro básico que macula tal postura. Quanto ciências naturais, o homem assume a posição de sujei- to e a matéria de seu interesse oferece-se corno objeto, algo à sua frente, autónoma com respeito ao investigador. (Advirta-se estarmos procurando simplificar a explanação, pois, em verdade, em nenhum domínio do conhecimento se identificará alguma coisa que seja intei- ramente objeto relativamente a um homem sujeito: ambos estão no mesmo mundo e, de alguma forma, interagem).8 No caso das ciências sociais, torna-se evidente a impossibilidade de realizar a cisão sujeito x objeto, haja vista estar o homem, de forma principal, nos dois pólos 7, SANTOS, Juarez Cirino dos. A da Rio de Janeiro, Forense, 1979, p. 16. 8, A da nm,b""A'''' María Alice Máximo, coIbida oralmente. 26 da relação. "O homem é, a um só tempo, sujeito e objeto das relações . ,') m humana são funde com o di sociedade." I o desenvolvimento c trL1nsfor- em que se desdobra a ex istência S, um que se con- cito que o conhece: não a ser ela natureza e as ciências da Com efeito, o sucesso do método ou positivo medularmente, da neutralidade e desinteresse por parte do sujeito cln elo estu- c vel encontrar neutralidade por parte do cientista enquanto trabalha no terreno das ciências humanas? "A questão da neutralidade do conhecimento científico (produto de um instrumental técnico, neutro), ou de sua objetívi- dade (relativa a dados objetivamente verificados), depende, por- tanto, da imparcialidade de um sujeito que como parte de s~u próprio objetó." II "A questão, agora, é esta: corno é possível a imparcialidade do sujeito, se este, como sujeito, é, também, do objeto investigado?" 12 o cientista está encarnado num homem, situado numa dada na qual ocupa um determinado lugar específico em aos outros indivíduos, com se relacionando politicamente, vincu- 9, SANTOS, Juarez Cirino dos. 10. Id., íb. I I. leL 1. 12.ld., p. I .v{ío os criJlÚnOS05'! Cri/11e c cri"ú!losos: enTes lado a grupos que se formam em funçã,o da distribuição inigualitária da da propriedade, do status, das recompensas etc . ser - ou, para usar s elucidativa, ser político - é-lhe impossível toda essa gama de a ponto de o meio a que como alguma coisa que não lhe diz e, forma, observá- lo com a distância necessária para fazê-lo um objeto alienado de seus interesses: "... como se uma ameba saltasse da làmi- na de um para o visor, c do visor para a lâmina, tentando observar a si própria".13 Só na mais das será viáVtl conceber alguém capaz de enxergar o grupo humano sem fazê-lo atra- vés da intermediação de representações de valor, as quais estarão meadas da influência da posição do sujeito no que concerne ao confli- to de entre as chtsses Em suma, na h;i um resultado grupos ante adas qu ainda que se pretenda cientista, sofrerá a influência do oeu relativamente ao jogo do poder, quando procurar refletir sobre a reali- dade na qual está imersa. . Importante papel desempenha, na construção das ciências sociais de cunho positivista, a ideologia adotada pelas classes superiores. Esse "conjünto de idéias, crenças e princípios, mais ou menos sincera- mente professados, mas que não correspondem aos I apresen- tado como fruto da atividade espiritual, mas, em verdade, decorrente da ligação do espírito humano a rnúltiplas formas e pressuposições materiais e, sobretudo, leva pessoas do grupo dominante a impor como verdadeiro aquilo que ajuda à continuidade do status quo social e, à manutenção de suas e Anexar o atributo "científico" à importa em a sobremaneira, inclusive de um que a torna indene aos de todos os do título de - a 13. GOLDTHORPE, .1.E. c Social. Trad. Cabral. Rio. Zahar, I pp,31 LT L 14. CUV1LLIER, Armam!. \'ocoblllârio do, Tl~(1. 010 . de 01 íveira e J, g, Damasceno Penna. São Paulo, NacIOnal, 1961, p. 7 f. 28 dor dos elementos de ser de re,lcionári o. da ciél1cizl, ou a sociais, nas socied conheci- articu diz Foucault: "O ítico não está ausente do saber; ele é (ramado com o saber."1 Penso que ficarão stradas as afirmações alinhadas, não apenas por forç:a do tópico seguinte, mas, especialmente, quando cui- da concernente aocaráter di da criminal. Na medida em que quanto a definir e ficar o eto da disci ma - o crime como natural _. a crimi- nologia renunciou a el como o ponto básico ele suas investi- IS. Juarcz Cirino dos, 0/). cito p, 25, 16. FOUCi\ULT, Michel. Vigiar e jJllnir. Trad. Vozes. 1977. p, ~2, M. PUl1dG Vassalo, is. StlO os crilJlinos{;s? Crinlf? e crinúnoso.y: entes 29 a H lassirica- (p!e recusava revestir ;\ concreticidade para se lhe reconbt:cer a ljllalidadc de o de uma ciCncía V;l. obstáculo. manobra no sentido ele altCl'm !la subs- Sé: l1l fazc-l () fOlTnél decl;1rada em lU b.:órico e verbal, o conteúdo da C!'Im! Certo de que sem material para a de um trabalho de laboratório ficmia difícil o novu ramo elo conhl2cilllcnto com ,)S louros da de "ciência", o por baixo da mesa, de sorte a oferecer coisa utilizóvel na pe"sqllis~1 resumida: a doença é um mal, realizando-se muitas das suas illvesti- gações sobre o corpo do doente; o crime é um mal, logo, por anal possível seria investigá-lo por meio do corpo dos seus portadores, os , criminosos. O achado era, como o comprova todo o or [- mento da criminologia, de alcance extraordinário. Criminoso é um homem, e homem é algo concreto, real, existente no mundo descritível, classificável, . Contando com um com a entidade delito, inada a o de objeto de uma clcncia Claro, desnecessário seria eliminar ostensivamente da nova objeto "crime". mas seria considerado como um ser de ao e. por via deste último. se faria a naturalística daquele. Eis a verdade: a criminologia positivista, o fato mediante uma retórica sofisticada e tomou para seu o criminoso, com o que, se livrou de enfrentar a difi- culdade ele transformar um ente político o crime -- em ser natural. dev o problema permane- é quem pratica um ilícito penal, somente sabendo- 30 se o que é crime seria possível reconhecer em alguém a qualidade de nesses termos, voltaríamos à estaca zero. verdadeiro modelo de entretecido dc conteúdo o beco sem saída em encalhada a se as coisas colocadas ele franca: O que é em sentido isto é, não-normativo ou - Não sabemos. - E quem é crimi - É quem pratica crime. as não SabClTlU'-) u que é crime. o recemhecimento romper a das barreiras que, ele uutro qualquer saída para a aventura do novo ramo do conhecimento. A ideologia, fazendo as vezes de Sócrates nos diálogos de Platão, guiou os cientistas à tranqüilidade do porto em que deseja- vam atracar, usando uma lógica aparentemente razoável: Ideologia - Que é crime, cm sentido concreto? - Não sabemos. Por mostra-se impossível tomá-lo como objeto de uma ciência natural. Ideologia - não é crime o ato praticado pelo criminoso? - Sim, corresponde à verdade. criminoso não é real? - De fato, não há como negá-lo: são homens e, o criminoso pode servir de objeto a uma cia natural. - Mas como encontraremos o criminoso, para exa- miná-lo cientificamente, se o que crime? Tal desconhecimento não que se encontre o Já ficou assentado que ao crime, não é verdade? 31 então prossigamos, meus Se eu lhes pedir que me mostrem um me CO!1- -- A uma ica. se nós queremos encontrar o aonde é lá que os criminosos estão recolhidos. Ideologia Como vêem, vocês já conheciam a resposta correta, . üs vezes ocorrem no sistema Ideologia Não contesto tais possibilidades. Trata-se, porém, de hipóteses raras e a ciência deve desprezar as exceções na sistemati- zação do seu saber. E aí os criminólogos, de Lobroso, Ferri, Garofalo até os mais modernos e enciclopédicos autores, docemente convencidos por tal alaaravia que se alimenta tão apenas do senso comum, avançaram sobre as ~opulações prisionais, ou, na melhor das hipóteses, sobre os / indivíduos oficialmente designados como criminosos, para, em fun- da análise a que os submeteram, construírem sedutoras e brilhan- tes teorias científico-criminológicas. Na medida em que a ciência, por meio da conspicuidade dos abonou cientificamente o reconhecimento do o de cri- formal rotula como 32 /\ cirra a nu, defi!li í i vo, tI ma anteriormente r,~;gi ao para se resguarda da análise, positi vamente . Talvez um ". recebe-a com entusiasmo casa ü perfeição com a por ela vl'rcla ~ ti a lei cnCOI1- em clcs- ao lodo - por escondida no pode ser mais ilustrativo bas i 11 ~l le'()rJ' ,'I elc} C011tl','\10 S'l')C J' ;II', ( j . c., . coe as as pessoas são Iguais perante a lei; por é algo mau em si, soas. más; daí, nada mais do que mall! festação típica das concluir que o cnme é urna ernpresta sua la ao asserto cm os crinllnosos~? C/filIe' c crinli!l()5;oS: os CUl1l0 Cil:;klo quc a maioria dos prc:;os única conclusão ~1 característico do enCi\['cerUIl1C!HO. p;tr:l c:;tudo o criminoso constrói-se pela 33 o normativo) operadas pelo atuar discrimina- criminal. Muito pior a emenda que o soneto. Sem embargo a llloslTOll~SC fecunda, dando a extremamente úteis para o político. Vejamos isso. O direito criminal enraizado na idéia do contrato búsico desse de to caberia uma única pena, todo estranhas as características Beccaria amava tais leis executadas ú cuJar exalamente os inconvenientes de uma aI teria de ) 7 BECCARIA. de, nos deli/o" (' dus jJeI70S, Trac!. Paulo M, Oliveira. s. 1" Ec!. de Ouro, 1965, p. 35, 34 " ... o se mede pelo causado à e não sensibilidade do "18 Ao margem de d na leis: "A mcira que leis fixar as penas ele cada delito e que () direito de fazer as s não residir senão na do , qUt;; toda a sociedade por um contrato social. 19 "Resulta, ai dos precedente- mente, que os juízes dos crimes não podem ter o direito de as leis penais, a razão mesma de que não são SL~ () for um raciocínio a mais, ou se o fizer por conta própria, tudo se torna incerto e obscuro. "21 "Quando as leis forem fixas e literais, quando só confia- rem ao magistrado a missão de examinar os atos dos cidadãos, para decidir se tais atos são conformes ou contrários à lei escri ta ... ,,22 Dentro de um regime natureza, a diversificação da aplica-: ção da justiça em função do status do criminoso acarretava embára- ços, problemas, o risco de evidenciar de forma ostensiva que as eventuais inequanimidades praticadas resultavam aluar dis- criminatório do aparelho repressor. Obviamente, os donos do poder jamais tiveram a inten- ção de se ver feridos por suas armas. Afina] de contas: i8. Id., p. 37. 19. Id .. p. 20. Id., p. 39. 1 Id., p. 40 22. Id., p. 140 selo os critnil1osos? Critne e crinúnosos: entes "Um sistema penal deve ser mento para r diferencialmente como um Ínstru- idades, não para a todas. "23 , seri conciliar o discurso fi iluminismo com os fins pragmáticos a serem extraídos da , sem colocar em demasiada evidência sua interessa- damentc di Subordinada a lei a um lS1110 inelástico no que concerne ao tratamento Li todas as pessoas, o atuar a deixaria a descoberto diante dos olhos do Como solucionar o impasse? Aí troou a voz da ciência. Como vimos, em virtude da inconsistência de sua para da va o quadro de dificuldades nesta existente, maleabilizando a amarração das sanções a cada ação proibida. Transpirando autoridade, posto que ornada do título subli- me de ciência, a criminol sentiu-se suficientemente forte para invadir o campo do direito penal. Houve resistência por parte dos juristas (Escola Clássica). uma vez que as soluções propugnadas pelos invasores (Escola Positivista) pareciam incompatíveis com os pressupostos onde partiam . os princípios do direito penal do social. encontrando uma de compromisso através da qual se as duas melhor seria conseguem conviverenquanto ser mais absurdo que da reserva com o da 23. FOUCAULT, Michcl. op. cit. p. 82. to, há evidentes e de 36 D~lS penas retrihutivas com CU]]] elcrnel1(os !iornl,\tivos na l1l',mo III cc éll1 i ÍSla ~- i'undamc!1to tlV1Stc\ com u li cIsmo O caSLllllcnt" foi n~:di/~HJo :. 111:1S vIngou porque alUui1cnt~~ CUl1clonal i\ cnmmoso ares de sabichona recebc pronto e ver à parceira, prestigiando-lhe os padrôes de atuação. Dê] Do dctcnni- ]a , apLsar '-~S( Lido o dos Ou, em lermos : a justiça condena os membros das pobres da população e os envia para a penitenciária; a crimi- nologia vai aos pesquisa-lhes a e cumunica à a mais relevante característica do abonada sua eSl1lera~se em sekcionar os para o encarceramento; eom a de ondas de indivíduos miseráveis ~IS os CrI ali eneastel as mãos ele con- tentamento e sentenciam: confirmado, cada vez mais crime é ( co : o repressor, ciência bem meu árduo mister~ atesta que estou Na rneclida construindo o estereótipo do delin- através dessa de uma ciência com a j 24. FOUCAULT, Michcl. ClllÍemo\' do PUC. Op. cir., p. ('x. 37 cada vez menos se dj da pClld 0'111 lêlr CU]1l () coutra /WS{[S que na ln a a uma norma ]c ZÜ() suficiente p~l!·~l o mediel:ls repre mlivíduos a "Tocb a do século XIX passa a ser 111 controle, rü10 Umto sobre se. o que fizeram os mdivídllOS cstú cm c"onf\)rmi- dadc ou não com a lei, mas ao nível do que fazer. do que ~;lO capazes de Llzcr, do que estão a fazer, do que estJO na iminência de fazer."25 erradicar o mal do mundo. Criminosos, porém, para ela são as pessoas a quem a ordem ofi- ciaI semelhante rótulo, como vimos. Sem inebriados vapores elas retortas fumegantes, os criminólogos desapercebem-se de tão sin a verdade e se aventuram nas mais tas e variadas teorias a respeito da do delito. A matéria oportuniza uma vastidão de campo capaz de de a sorte, fantasias desen- obras anado com o resu mo das di versifiea- causas do crime - o ponto de das correntes que riscam a arena da crimí- que, em realid todas tomam por base um mesmÍsSll110 o conceito de de que se não tem nada de "natural", ou de , ou de "científi- co", urna vez que estritamente, ao do aparelho repressor na oficiaL 25. Id, p. 67. 38 ' Em meia dúzia de palavras é possível traçar a resenha das tais correntes - embora os pobres universitários percam no mínimo um semestre inteiro para conseguir uma pequena a dos seus quiméricos Os da deais a ser seguidas resultar () delito de de certos indivíduos VIve bido o resultado eclética). Para os LISO elo (não há segundas intenções no de um Daí ;\ criminoso nato". a dos nossos dias. O epígono da escola variou um pouco a respeito da exata identificação do tal defeito, ficando mais conhecido, porém, por pre- tender que poderia ser diagnosticado através do encontro de certas características morfológicas, tais como testa estreita, zigomas salien- tes" orelhas em couve-flor e por aí afora. Na esteira de tal visão, surge, maIS tarde, a explicação de que o delito resultaria do funcionamento anormal das glândulas internas (endocrinologistas). Nos nossos aparece a teoria genética, pela qual a existência de um Y a mais na composição cromossomas impele o portador, infal mente, Ú perpetração de A propósito, não resisto a transcrever alguns trechos de que saudou entre nós o surgimento de teoria: Lombroso, o autor livro O Delinquente, acaba de ver comprovada sua tese de que o crime é, na maioria sâo os crillú!losos? Crillle e criminosos: enles anos depois da teoria lombrosiana, a vou, no laboratório, que existenl pessoas à de todos os crirnes. o Leonidio Hibeíro diz que deveria haver uma revolu- mundial em ao invés de se de a um trabalho de associais: dos Ylo de elementos como se faz com os e cancerosos - cou -- a sociedade deveria dedicar-se ao estudo da personalidade dos anormais, a fim de apurar as razões que os levaram à prática anti-sociais, o facilitaria a defesa dos seus 8ltos interesses e, ao mesmo tratan- no lO da l' , U1Z, irresponsável (no sentido da conscientização e dos efeitos) entre pessoas sãs, contribuindo para o aumento da criminalidade em todo o Universo. Pois a verdade é que o crime (reiterado) é produto da ano- malia genética que condiciona malformações físicas, e todas as taras que deságuam na infração e no delito."26 Para os adeptos de , fundador da sociologia criminal, o /' mundo ao homem, no qual ele se cria_e v o ambiente que o cerca, os fatores em que imerso, seriam as condições determinantes no sentido de arrastar alguém, íncoercivelmente, à prática de ilícitos. As posteriores a esse pomo de vista atingiram construções extraordinariamente sofisticadas, das quais, talvez porque pejadas de altas de sabor hermético, ainda apaixonam os estudiosos hodiernos - tais diferencial, da anomia etc. Encampa a o forma de 26, O JORNAL, Rio de Janeiro, I ou!. 1969. 40 alo nascerem certas pessoas com nll1l n veremos adiante, ela está infensa ii contrúrio lidS suas duas f\lrInadolas, de glândulas u- A impugnação a elas também se nu campo da natural, embora de forma um pouco diferente da já citada, Ao encontrar nas uma popul caracterizada pela pobreza, pela ignorância, por se originar de famílias desorganiz.adas, por pertencer a minorias étnicas, os criminais concluíram solenemente: ii za, a ignorância, o ser originário de famílias degradadas, o pertencer a mi eis as causas do crime. que a verificação de campo três por cento o número relativo de del Para que determinantes, Mais cómoda revela-se a ecléticos. conducentes ü eclosão das condutas s veí.rias causas de cada natureza, ainda estas se mostram falhas na hora da com- ê sempre para uma tábua de sa]va- aumentar o número de fatores eaus,lis com ante- riormente não indicadas. Tal ani ser ampliado e o foi -- até tornar inviável a contraprova . Atentemos para ,\ palavra de um dos mais autores da corrente: ,<,'tlO os crimiu()S(Js? Crin7C e crinlfilOSOS: entes 41 ";\ i que são reconhecidos fenômeno illlli série; de um crime llÚO seriam criminos,ls car nada na de ordem ca" se consegue retirar dela. Se as causas são tantas c tão diversifica- termina-se retornando ii estaca zero, por concluir ser o crime o do imponderável. Creio que se me permitirá repetir, a essa altura, o antes afirmado: o fundamento da criminologia amesquinha-se a uma arenga empolada, que cm torno de um núcleo cuja essên- de mero senso comum. cri exatamente isso, ao dizer: sem o da o mento riência faz o crim de acordo com a sabedoria se condensou cm dois lcado do meio para o c "Tal pai, tal filho" (Der que na base da expc- "A ocasião desencadeamento do II veit vom 27. SEFUCJ, Ernst. Mallllo! di' Armcnio Amado, 1957. v, I, p, 314. Trad, Guilherme de Oliveira. Coimbra, 42 da hereditariedade a em crll1ll causa pasmo que do delito, tenha du crime, se vamos buscá-las a o descnvolvimen- comum <l tão s 111- aSSlm ordem ofici do criminoSll dificuldade cm ser idemificaclas: J. "a - uma conclusão que pare- 28. uu absurdn,,:!iJ do J1lccanÍs- u das normas s, com- de conhecimento da realidade e cimento. a mêUS tivas do mundo até o 'senso comum , ~lS vezes chanlado Dennis. Tavístod: Pub .. 1968, p. igioso, etc. Como modo de dornina- lhe a per- taria- assim, lhe criminul. London. .VelO os cri/Hlnos'os? Crin1e e crinzillOSOS: ente!'; todo conhecimento é em alguma medida uma forma de submeti- mento."30 o grande papel ela ideologia é convencer os de que, dominadores a que os submetem, devemdócil e disciplinadamente: "Por esse pra comer, por esse chão para dormir A certidão pra nascer e a concessão pra sorrir Por me deixar respirar, por me deixar Deus lhe pague ... Pela cachaça de graça que a gente tem que engolir a qlle a :\0. CUNHA, Rosa Maria Cardoso da. O carúter retórico Porto Alegre, Síntese, 1979, p. 20. que cair 31. CI-HCO BUARQUE DE HOLANDA. Deus lhe pague. da lU e nel77 () será acrescento r: niio deve sê· f(} e, sobrc[uc!o, n(/o del'c pensar que ~, " A maioria das pessoas acredita piamente, sem dúvidas ou questionamento, em certas "crenç~as jurídicas", inculcadas de maneIra pela ideologia, tais como: "1. Que existe um legisla- dor racional nelo um sistema jurídico coerente, económico, etc, 2, Que o ordenamento não contradições e redundâncias e, o direito penal não exibe lacunas, 3, Que a ordem justa c os 4. Que o julgador é, axiologicamente, neutro enquanto dec não há o na apl da I, LE DESIR DE PUNIR.. Pans, p, II. 45 46 Justiça. 5. Que o julgador, no direito penal, busca a verdade real e não o elo ponto de vista valorativo."2 Verdadeiros arrolados, até que se assertivas, por total acabado da indústria judiciário, para estu- porém, como o demonstra a com a realidade. resulta da ele dois momentos: a produção das leis (legisladores), mais sua aparelho servindo de matéria- prima para a manufatura os do povo. Busquemos analisar cada uma das fases referidas para, por fim, verificarmos' que valor pode ser atribuído à etiqueta de "criminoso", apl a pessoas ordem - "Deixe-me prossegui!; disse Colin. Você neIo se arruma mais aos domingos e não se barbeia mais todas as manhãs. - Isso não é wn crime, disse Nicolas. - Isso é um crime, disse Colin. " Boris Vian 3 Ingenuamente, tendem os cidadãos a,encarar as leis como man- damentos baixados por um poder transcendente, que as decreta com superior neutralidade e imparcialidade, verdadeiras revelações que um ente sagrado se digna a propiciar ao povo. Algo aureolado de um halo dívino, provindo de origens mágicas ou astrais, ditado por entidades supraterrenas, de natureza misteriosa. "A lei é a lei", diz-se religiosa- mente, e estamos conversados. Ora, a ordem jurídica resulta da atividade humana, elaborada que é por um legislador, isto é, por um ou mais indivíduos de carne e 2. Rosa Maria Cardoso da. O carâter do da If'!'nllnn/lp Síntese, 1979, p. 1 18. DES JOURS, Paris, Union Gen. Editions, 1980, p. 130. .';;clO os crinúnosos( C'riJne e cril1úno:u)s: ente.1) partilha de todas as que e ama, ça, tronco e vezes ao dia. a milit::lr, de estatuir as normas comuns aos seus semelhantes, que possui cabe- pura idealização ético- dita as leis a classe do sta/ils CfUO Tais considerações aplicam-se, às normas definidoras de crimes Penal e leis as orientadoras da pela qual se declarará alguém de Processo leis Aqui, mais do que em outro ramo do de passar por cima dessa realidade si e criminoso não são entidades ser vistas como /vontade cio slaclor a crença na embuchá-Ios com um o resultado da a tarefa de consolidar em dos grupos idealística que envolve devemos Na medida em que se obscurece a crueza de tais ene- articul voando-a por meio de uma retórica obter a adesão camadas finalidade de manter ditos a regras pro- em estado usá-la por i. 48 de de no sentido de eoartar tentativas de A lei, sem dúvida de no Penal relativo aos ü cri- imn resllmir a um bens ou direitos de uma pessoa para outra, sem o mento da"4 mais cantil, uma vez que vivem, na maioria E o que é um negócio, sobretudo um bom negócio, mais que tudo um excelente negócio? . ,Po~ieria u:na sociedade negocista sancionar com castigo os negó- ~IOS? ~na, entao, o da classe negocista punir os negócios, lmpedlfldo, des.s~rte, que tal classe praticasse os fatos que se consti- tuem em sua atlvldade precípua? vez de adotar aquele modelo, preferiu a lei estilhacá-Io em . figuras delituosas, pois, na medida em que rompe a'vincula- dl:'et,a da regra ética com a norma jurídica, oportunidade para subtraIr a a I . , -' c s que, se etIvamente, nao lhe ll1teressa per- turbar. A oratória jurídico-liberal, como seria de esperar, enxerga as coi- sas do m~do muito e dispõe de munição, em seu infi71ito arse- nal retÓrIco, para justificar plenamente a solução codificada: somente a precisa do comportamento proibido satisfaz à garantia da reserva legal ("não há crime sem lei anterior que o defina"). 4. CHAPMAN, Denllis. anel lhe lhe CrÍll1 inai. London. Tavistock Pub., 1968, p. 72. 49. Eu mesmo vago, inconcusso ser de um preceito a irlcertcza dos sobre a conduta que lhes é defesa, ao mesmo em que fica I do , se infiltra em os centes ou não, quando subjugados às ditaduras e regimes asse- melhados. A sufocação, o ambiente trevoso, o fazer ou não fazer transmudado em tortura permanente, assustadora e paralisante, o dia-a-dia repassado daquele terror mórbido que Kafka tão bem sabe transmitir em O processo."s Ufa! Por tudo a o Código preferido, à encampação de um conceito abrangente de lesão ao património, parti-lo num rol de definições, cada qual delimitando com rigor dado. comportamento específico (tipos penai tais como furto, estelionato, apropriação indébita, roubo, etc. Só minoso o indivíduo que observar no mundo fálico uma conduta precisamente adequada ao modelo abstrato prefixado em um daqueles da lei. Ocorrendo descoincidência cm algum ponto, o delito, por ausência de tipicidade. Por con ia, se alguém para si um bem ou direito do património de outrem, sem completa ciência ou pleno REVISTA DE DIREITO DA em bronco e relroof;vidade DO ESTADO. Lei Rio de Janeiro, 19:236, 1968. 50 consentimento do último, mas, apesar disso, sua conduta não se exatamente das condutas tas na lei, de delito, cm face da cubre as que contrariam a norma moral apresentada como razão de ser da dos contra o património: em easo vo, observemos se a ;Írea o por mero acaso, Toda vez o se dá pelo aos objetos em si ou facilmente se encontrará cia entre o do ativo e algum dos na lei penal. A tirada no roubo, a apropriação do dinheiro da firma pelo empregado-cobradór, e assim por diante, docilmente se adequa- 1710 aos modelos 111 dos infra- conlra os sím- se modifica kbdes em qualquer dos registrados no Código e, ausente a famosa tipicidade, torna-se inviá- vel qualificar a ação como crime. Isso é que permite permanecerem fora da área penal hipóteses como as de jogadas de bolsa de valores; não-pagamento de empréstimos estatais obtidos mediante oferecimen- to de garantias ÍnexÍstentes ou de valor muito inferior àquele por que foram avaliadas; recebimento de subsídios governamentais em contra- dição com o fim a que se destinam; concorrências de cartas marcadas; jogos contábeis; transações fictícias entre firmas de um mesmo con- glomerado; triangulares; especulação através da de mercadorias; evasão de impostos; subida artificial de preços; esma- gamento de empresas concorrentes, de sorte a obter o domínio do mercado e imposição de condições escorchantes; fraudes ao consumi- dor; anúncios falsos; enfim, toda a imensa gama de operações a permitir a de lucros e que caracterizam a retirada de bens e direitos dos outros (em , largas da população) con- tra a vontade deles e sem que tenham conhecimento de estarem sendo defraudados. Tais contudo, revelam a se amol- darem a dos Sabendo que os membros das classes a lidar com as coisas em (objetos, dinheiro) e as pessoas das classes StlO os crinzinoso,Ç? Crilll(~ e crinzinosos: entes 51 média e alta com seus símbolos (títulos, papéis), percebe-se com nÍti- dez que espéciede ladrões mais provavelmente cairão na teia do apa- relho de criminal e qnais os que incólumes seus buracos.6 Penso valer a pena submeter à ise a in elo art. 17! do Código Penal - ionato - pois oferece tal delito excelente material para etar o tema ora abordado. Reza o em causa: para si ou para outrem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifí- cio, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento." Levando "lO da letra o comando a comércio lima vez que cm todu erro crc nüo visa a outra sn senão a daquele resultado, pelo entorpecimento da capacidade de percepção do.'ô ~Jlnidores. Talvez por isso os comentadores, em geral, costu- mam criticar a fórmula legal do estelionato, por a considerarem ampla em demasia: "fraude" seria expressão vaga, de limites imprecisos, capaz de abarcar LIma enorme variedade de atos, muitos dos quais, por certo, não estavam nas cogitações do legislador ao instituir o delito. Se o anúncio da televisão e, depois, o vendedor da loja me afirmam que dada mercadoria é tanto a melhor como a mais barata que existe /' - na praça e por isso a compro, vindo mais tarde a constatar que nao era uma coisa nem outra, parece que fui "induzido em erro" "mediante artifício", ou fui vítima ele estelionato. Para a sociedade burgue- sa, como salta aos olhos, qualificar fato dessa natureza como crime representaria um insuportável despautério. Aí, apela-se para a capacidade inventiva dos juristas, a fim de dar um jeitinho na questão. , , Sem se fazerem de rogados, vêm eles e declaram: espera la, ha fraudes e fraudes, umas puníveis com pena de reclusão, outras não. E prosseguem. há fraudes s e fraudes civis, somente o (). Cf. CHAPMAN, Dennis, op. cit., passim. 52 rÓLulo de cnmlllOSOS Lll1~',H11-Se ~h lllais de estabelece L um tipo ele I:,) I membros ebs d J1l n lHes, A III ioria, po uinte : () problema llOS t rmo de fUiílbmclltal coincidem o delito ii u outro s:to uma rebeldia cuntnl ii ordem jurídí- ambos num fato exterior ao a título de dolo ou culpa, /\ única elo li men(o do forçada, restiflilio nulidade do só deve recorrer ii pena da ordem j não se obter com outros meios de isto é, com os meios próprios do direito civil (ou de outro ramo do direito que não o penal),"" Essa maneira de faz em dC;nlicas nu sua em razão do tipo de De pela jado princípio da mundo abstrato das mente para classificá-Ias de criminosas ou não que as da rompe-se o feste- não se resolve no matéria tal idéia representa inquestionável absurdo: o definido,;, crime em abstrato é o que é, uma com caracteres inteiramente na norma 7, HUNGRIA, Nél,üil, Comelllúrios (lO v. 2, p, ln, S. ld., ib, Peno!. Rio de Janeiro, Forense. I ')'i I S("lO (JS ( rlu:lu()sos? Crime t! criulino:úJ,v: {'nies 53 sem qu uer desses caracteres ou com o acréscimo ele nutros que nela inexi,;tam. vl:nto, do mundo cun- creto (l !ccem ,\s cin:un"U'ínc' confrontacl() com casu livo. dir-se·á: () mciro reqm ahstraLO JÜO é elemento do que o tipo do cste] ÍonaLo ele seus cuntornos. Onde sarcir o dano na área civil. Qual a "rebeldia ú ordem jurídica" alarme social? Ou, dito de outro modo, qual da rato relevante para o sistema formal-institucional, numa estratificada em classes verticalmente hierarqu ? dos membros das camadas superiores podem merecer podem vezes até irritar (individual porque não põem cm risco o Sf{{IllS quo c, carecem da c ponto de fazer jus aos go (visão de gru ,Incla mais i llferiores da sociedade de a de esta sim, causana e ai aos estratos Uma atitu- em face das conseqüências indesejadas que daí decorreriam, desde a quebra da solidmiedade do grupo até a demonstração de que as pessoas gra- das não são melhores, nem mais nem que ~\S das classes inferiores. Isso ocasionaria um ll~\ distância institucional que separa as classes e poderia elar lugar a lllovimentos de insubordinação, E, nos regimes de poder, "a,c~rrup- dos dominadores é muito menos dramática que a insurrelçao dos' 54 domínados".9 Ademais, a ideologia convence ser o crime coisa típica das pessoas Um indivíduo rico, pois, a ser consi- derado por seus pares como imoral, imerecedor de con- do de penúria. duro homem nunca, contudo, eapaz de merecer as atrozes do quem dis- quem vive em esta- passo, pois, aparece com mais clareza, ainda, a que a existência de delito (fraude penal) ou de não do estelionaUirio em termos no nua, te m autor de estel apanhado, não dispõe de patrimônio para indenizar o prejuízo e, por outro lado, seu golpe contra uma empresa alarma e perturba a ordem instituída. Já o dono de frigorífico que oculta a mercadoria cm mano- bra altista, se chega a ser objeto de alguma sanção, o será em área extrapenal: pode suportar os ónus da multa fiscal ("O Estado só deve recorrer à pena quando a conservação da ordem jurídica não se possa o~t~r com outros meios de reClção, isto é, os meios próprios do direito clv:1 ~~ de ou.tro ramo do direito que não o penal"); e o "alarma SOCIal ,quer dJzcr, o alarma da classe superior, foi mínimo, uma vez q:le a ação atingiu apenas os segmentos da população para quem faz dIferença pagar mais 2 ou 3 reais por um quilo de carne. Equivocado, por tudo isso, está o dito popular ao dizer: quem rouba pouco é ladrão, quem rouba muito é financista. O certo seria, se quem rouba .- pouco ou muito - se situa na classe baixa, é ladrão: sc pertence à classe alta, é financista. . Porque, afinal de contas, não são os comportamentos (delitos) que contam, uma vez que o importante, de fato, para o eht 9. SYKES, Gresham M. The 1972, p. 53. o( New Princcton Ul1. Prcss. sâo o.v criminosus;; Crinle crinlfllOS(}S: ente:'; 55 justi criminal, reside na posição social do autor. Como sugere . " .c s nao Austin Turk, o status elo é jJCSSO'l - mas pelo que são. Acerca do cabe 'rar uma manobra elo atuantes no campo criminólogos, e cidadãos comuns. ~cofari'nho branco" rUJln, eis que para desrnasca~ U,-",:>,"J"" de bons pro- angelicalmente - stas, "crimes de da lelra da vvhite collar crill1es; -- em bom a versão deveria ser "crimes de e Basicamente, estão assim conceituados: tal como defini~ livro de Sutherland haja ca central deste tipo de fato é seu caráter classista. Por isso, Heller (I967) o denomina Kavalliers-delict ou delito de cava- lheiros. Este caráter parece ser o elemento que contribui para dar a esses estudos, depois denominados das mais variadas formas (delitos económicos, delitos ocupacionais, delitos de enriqueci~ mento, deI inqüência de negócios), sua verdadeira importância em criminologia ... "11 Empolgados pela perspectiva de colher nas malhas da justiça os ';grandes" criminosos, revertendo dessa maneira o quadro cansativa- mente repetido de só eonternplar os cardumes de sardinhas que apare- cem como resultado da aparatosa manipulação do arrastão oficial, os penalistas se excitam. Escrevem, pesquisam, estudam e até pretendem agir, com vistas a tal propósito. o de certa forma uma penitência reequilibradora da consciência, que encontram 10. Cito mcmorw. II. CASTRO, LoIa Jc. para lInJa sobre eri- I1lCS colarinho branco na América Latina. RCl'ista Janeiro, 25:89, 1979. ícia, ele entrada da ce de acesso fácil ~l que- critninrtl c0l1tr~1 lada. ri de em tais áreas, elimina-se a forma mais qual a autorida- de toma da de crimes, dando início a seu para o mente esquema de da a a intestinos através da sol porque crimes não são ali tendem a os membros da classe alta rarissima- quando constatam ter por Há, desenvolvido e funcionaL todo um ser ~lcio!ladas dentro da e:-,fera
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