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Unidade I ESTUDOS DISCIPLINARES Formação Geral Prof. Bruno César Questão 45: Sociedade brasileira – invisibilidade social Questão 45: Sociedade brasileira – invisibilidade social A dignidade morreu no horário de pico – María Martín Vendedor de doces e balas nos superlotados trens do Rio de Janeiro, Adílio dos Santos, como o resto dos colegas de profissão, cruzava os trilhos para evitar que os fiscais apreendessem sua mercadoria. Até que um maquinista o atropelou na tarde desta terça-feira. Ele caiu entre os trilhos e, minutos depois, outro trem passou por cima de seu corpo por ordem da empresa que gerencia o serviço. O corpo de Adílio estava interrompendo o tráfego, a estação de Madureira estava lotada e 6.000 passageiros precisavam que o trecho fosse liberado para chegar às suas casas. Adílio dos Santos teve o azar de morrer no horário de pico. Questão 45: Sociedade brasileira – invisibilidade social A morte e o tratamento dado ao corpo desse vendedor ambulante e ex-presidiário de 33 anos seria invisível não fossem os passageiros gravarem a cena com seus celulares. A SuperVia, companhia responsável pelos trens urbanos da região metropolitana do Rio, reconheceu que o centro de controle da empresa ordenou que o trem continuasse, em um “procedimento de exceção, sob absoluto controle”, devido ao tráfego intenso de trens com milhares de passageiros. A companhia afirma que Adílio já estava morto, mas a perícia ainda não havia chegado para atestá-lo. Horas depois, Eunice Feliciano, mãe de Adílio, assistia estarrecida à cena na televisão sem saber que aquele corpo pixelado na tela... Questão 45: Sociedade brasileira: invisibilidade social ... que sumia embaixo de um trem sob o comando de funcionários da estação, era do seu filho. “É uma coisa terrível, uma desumanidade, fizeram sinal para o trem vir, mas o que é isso?”, desabafou Eunice, de 61 anos, aos repórteres. “A gente já estava horrorizada com a situação e depois anunciam que era meu filho. Tem como?”, questiona, antes de as lágrimas cortarem sua fala. A empresa considerou que o trem tinha altura suficiente para ultrapassar o corpo sem atingi-lo e que a paralisação da linha criaria transtornos para toda a movimentação do horário, quando cerca de 200.000 pessoas viajam em todo o sistema ferroviário. Questão 45: Sociedade brasileira – invisibilidade social “Passageiros retidos em trens parados tendem a descer irregularmente na linha, aumentando riscos de incidentes, como já ocorreu outras vezes”, justificou a SuperVia. O trem que passou por cima do corpo de Adílio liberou o espaço para desviar outras duas composições que aguardavam lotadas no mesmo trilho. Três trens dando marcha a ré era uma “manobra complicada”, diz a empresa. Apesar dos potenciais problemas que o corpo de Adílio poderia ter causado no sistema, os bombeiros o encontraram por coincidência. A empresa assegura que os acionou logo depois do acidente, mas o Corpo de Bombeiros nega. Questão 45: Sociedade brasileira – invisibilidade social Eles foram chamados mais de duas horas após o atropelamento por uma ocorrência de trauma, não relacionada com a morte de Adílio, na mesma estação. “Durante o atendimento, a equipe foi informada pelos funcionários da SuperVia que havia um corpo na linha férrea, próximo ao local de atendimento à vítima de trauma. Um policial militar já estava no local aguardando perícia”, afirma a assessoria do Corpo de Bombeiros. A equipe, então, constatou o óbito e continuou o atendimento do caso para o qual foi chamada até que os bombeiros foram acionados de novo, agora para retirar o cadáver. O corpo de Adílio deixou a linha do trem por volta das 20h, três horas depois do atropelamento. Questão 45: Sociedade brasileira – invisibilidade social O Governo do Rio pediu punição para os culpados. O secretário estadual de Transportes, Carlos Osório, disse que os responsáveis devem ser identificados. “O que aconteceu em Madureira é um absurdo, uma situação que não pode acontecer em hipótese nenhuma. Foi um desrespeito, uma desumanidade você autorizar um trem passar por uma via que está interrompida por um corpo de uma pessoa morta”, disse Osório. A Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil qualificou o episódio como uma “barbaridade” e a Agetransp, agência reguladora que fiscaliza os transportes no Rio de Janeiro, abriu uma investigação para apurar as responsabilidades. Questão 45: Sociedade brasileira – invisibilidade social A família de Adílio não tinha condições de pagar o funeral. O vendedor foi enterrado nesta sexta-feira com o dinheiro da SuperVia. Disponível em <http://brasil.elpais.com/brasil/2015/07/31/politica/1438377272_774029.html>. Acesso em 05 ago. 2015 (com adaptações). Questão 45: Pergunta Com base na leitura, analise as afirmativas. I. A charge e a reportagem revelam a insensibilidade frente à morte de pessoas que são consideradas invisíveis pela sociedade. II. A charge e a reportagem denunciam situações de descaso em relação aos indivíduos socialmente menos favorecidos. III. A charge e a reportagem defendem que o interesse coletivo deve prevalecer sobre os problemas individuais. Está correto o que se afirma em: a) I e II somente. b) II somente. c) I e III somente. d) II e III somente. e) I, II e III. Questão 45: Resposta I. Incorreta: a charge não faz referência à morte. II. Correta: a charge e a reportagem revelam situações em que indivíduos economicamente pouco favorecidos são tratados como invisíveis. III. Incorreta: o objetivo da charge e da reportagem é denunciar a invisibilidade de certas pessoas, e não defender que os interesses coletivos devem prevalecer sobre os individuais. Alternativa correta: B. INTERVALO Questão 46: Educação – ensino e política Disponível em <https://goo.gl/l G0QLB>. Acesso em 22 jun. 2015. Questão 46: Pergunta Com base na leitura, analise as afirmativas. I. A charge aponta os alunos que não estudam e depredam a escola como os responsáveis pela má qualidade do ensino brasileiro. II. O pronome “eles” refere-se aos políticos e o pronome “tu” refere-se aos alunos displicentes. III. A charge estabelece uma relação entre a má qualidade da educação brasileira e a escolha de políticos. IV.Os elementos visuais da charge remetem ao universo da escola, e a estrutura do texto simula uma aula de estudo dos verbos. Questão 46: Pergunta É correto o que se afirma apenas em: a) I, II e III. b) I, II e IV. c) I, III e IV. d) II, III e IV. e) III e IV. Questão 46: Resposta I. Incorreta: a charge menciona a falta de investimento em educação como responsável pela má qualidade do ensino brasileiro. II. Incorreta: o pronome “eles” refere-se aos políticos que se elegerão, o pronome “eu” refere-se aos alunos que não terão boa educação e o pronome “tu” refere-se aos pais, que também sofrerão com a situação. III. Correta: a charge aponta que “eles” não investem em educação e “eles” se elegem. Questão 46: Resposta IV. Correta: a disposição do texto em blocos com os tempos verbais (pretérito, presente e futuro), com os pronomes pessoais do caso reto e com as conjugações remete a uma aula, o que se confirma com a presença de folha de caderno como cenário e de um aluno em uma carteira escolar. Alternativa correta: E. Questão 47: Movimentos migratórios – xenofobia Disponível em <www.operamundi.uol .com.br>. Acesso em 10 set. 2015. Questão 47: Movimentos migratórios – xenofobia A relação dos europeus comos náufragos nas suas costas expressa, da forma mais radical, a concepção predominante no Velho Continente, conforme o antigo adágio: civilização ou barbárie. A preocupação dos governos europeus é apenas a proteção do seu território, para que episódios dramáticos, como os que vêm acontecendo há tempos e se agudizando nas últimas semanas, deixem de ocorrer ou diminuam. Não há nenhuma posição em relação às causas da imigração. É de tal forma escandalosa a postura europeia, que nenhum governo ou instância africana participa das reuniões que buscam soluções para os problemas. Questão 47: Movimentos migratórios – xenofobia As únicas referências a governos africanos são ao Marrocos e à Tunísia, buscando apoiar ações que permitam dificultar a saída de embarcações – já que a Líbia, que antes funcionava como contenção para essa saída, agora nem sequer um Estado tem. O que significa que os governos europeus nem cogitam atacar a raiz dos problemas, os que geram a imigração maciça para a Europa desde a África. As condições econômicas e sociais dos países africanos estão inquestionavelmente na origem do problema. E essas condições, por sua vez, têm raízes históricas diretamente vinculadas à Europa. A África foi não somente explorada profunda e extensamente nos seus recursos naturais pelas potências colonizadoras europeias, como foi vítima do mais brutal dos crimes – a escravidão. Questão 47: Movimentos migratórios – xenofobia Milhões e milhões de africanos foram arrancados do seu mundo para serem transferidos para um continente alheio, para trabalhar como raça inferior, produzindo riquezas para a elite branca europeia. A África foi colonizada até poucas décadas atrás e, mesmo com a independência, não mudou sua situação econômica e social, porque seguiu sendo explorada nos seus recursos naturais. A imigração de africanos para um dos continentes mais ricos do mundo – em grande medida por ter sido colonizador e escravizador – é um fenômeno que ocorre já há algumas décadas. Questão 47: Movimentos migratórios – xenofobia Porém, pelo menos uma parte desses trabalhadores imigrantes eram absorvidos, porque eram funcionais a um mercado de trabalho que necessita de mão de obra de pouca qualificação, para funções secundárias. Quando veio a crise econômica, que atinge frontalmente a Europa, em 2008 e ainda sem prazo para acabar, a África foi prejudicada de várias maneiras. Por um lado, a retração europeia foi exportada para os países africanos pela diminuição da demanda dos seus produtos e pela retração nos investimentos. E, por outro, especialmente em alguns deles, pela diminuição brusca do turismo, que em alguns países é um fator essencial para o emprego e a economia no seu conjunto. Questão 47: Movimentos migratórios – xenofobia Nestes anos de crise, as tentativas desesperadas dos africanos de chegar à Europa se intensificaram, enquanto o desemprego e a expulsão de trabalhadores imigrantes nos países europeus aumentaram a crise. Como resultado dessa combinação de fatores, a quantidade de tentativas de chegada à Europa e o número de pessoas envolvidas nelas aumentaram exponencialmente. Disponível em <www.redebrasilatual.com.br>. Acesso em 10 set. 2015. Questão 47: Pergunta I. A charge e o texto propõem ações que solucionam as causas da imigração de africanos para o continente europeu. II. A crise econômica na Europa tem impulsionado movimentos xenófobos, que se opõem à entrada de imigrantes em países desse continente. III. O esgotamento dos recursos naturais dos países africanos é a principal causa do movimento migratório dos africanos em direção aos continentes americano e europeu. Questão 47: Pergunta Assinale a alternativa certa: a) Apenas as afirmativas I e II estão corretas. b) Apenas as afirmativas II e III estão corretas. c) Apenas as afirmativas I e III estão corretas. d) Apenas a afirmativa II está correta. e) Nenhuma afirmativa está correta. Questão 47: Resposta I. Incorreta: a charge mostra a reação hostil dos europeus à entrada dos imigrantes, e não ações que solucionem as causas da imigração. E o texto critica a postura dos países europeus ao não olharem para as causas da imigração. II. Correta: são muitos os casos de agressão e hostilidade aos imigrantes praticados por europeus xenófobos. III. Incorreta: o texto aponta como causa da imigração os séculos de exploração, por parte dos europeus, principalmente, que o continente africano sofreu, e não o esgotamento de seus recursos naturais. Alternativa correta: D. INTERVALO Questão 48: Direitos humanos – literatura e arte Trecho “O direito à literatura”, de Antonio Candido. E aí entra o problema dos que lutam para que isso aconteça, ou seja: entra o problema dos direitos humanos. Por quê? Porque pensar em direitos humanos tem um pressuposto: reconhecer que aquilo que consideramos indispensável para nós é também indispensável para o próximo. Esta me parece a essência do problema, inclusive no plano estritamente individual, pois é necessário um grande esforço de educação e autoeducação a fim de reconhecermos sinceramente este postulado. Na verdade, a tendência mais funda é achar que os nossos direitos são mais urgentes do que os do próximo. Nesse ponto, as pessoas são frequentemente vítimas de uma curiosa obnubilação. Elas afirmam que o próximo tem direito... Questão 48: Direitos humanos – literatura e arte ... sem dúvida, a certos bens fundamentais, como casa, comida, instrução, saúde, coisas que ninguém bem formado admite hoje em dia que sejam privilégio de minorias, como são no Brasil. Mas será que pensam que seu semelhante pobre teria direito a ler Dostoievski ou ouvir os quartetos de Beethoven? Apesar das boas intenções no outro setor, talvez isto não lhes passe pela cabeça. E não por mal, mas somente porque quando arrolam os seus direitos não estendem todos eles ao semelhante. Ora, o esforço para incluir o semelhante no mesmo elenco de bens que reivindicamos está na base da reflexão sobre os direitos humanos. Disponível em <https://goo.gl/8sqACq>. Acesso em 19 jun. 2015. Questão 48: Pergunta I. As pessoas que reconhecem os direitos humanos à saúde, à moradia e à alimentação também estendem aos mais pobres o direito à arte. PORQUE II. O reconhecimento de que os bens indispensáveis para nós são também necessários aos outros é fundamental para a discussão dos direitos humanos. Questão 48: Pergunta Assim: a) As asserções I e II são verdadeiras e a segunda justifica a primeira. b) As asserções I e II são verdadeiras e a segunda não justifica a primeira. c) A asserção I é falsa e a II é verdadeira. d) A asserção I é verdadeira e a II é falsa. e) As asserções I e II são falsas. Questão 48: Resposta I. Asserção falsa: o autor afirma que mesmo pessoas que reconhecem os direitos humanos à saúde, à educação e à moradia não veem como necessidade básica o acesso à arte e à literatura. II. Asserção verdadeira: de acordo com o texto, reconhecer que nossas necessidades não são maiores e nem mais urgentes do que as dos outros é pressuposto básico para a discussão dos direitos humanos. Alternativa correta: C. A asserção I é falsa e a II é verdadeira. Questão 49: Saúde – vida moderna e obesidade Reclama pro bispo – Dráuzio Varella Os brasileiros não param de engordar. Estão acima do peso 51% dos adultos (eram 43%, em 2006). São classificados como obesos 17% (eram 11%, em 2006). O futuro não parece promissor: 1/3 das crianças de 5 a 9 anos tem excesso de peso. Nessa toada, daqui a pouco, empataremos com os norte- americanos. Lá, 3 em cada 4 adultos carregam sobrepeso. Mais de 30% da população caem na faixa da obesidade. Teoricamente, o problema da obesidade pode ser resumido numa equação singela: quem ingere mais calorias do que gasta, ganha peso; quem faz o oposto, emagrece. Questão 49: Saúde – vida moderna e obesidade Seria ridículo negar que a agitação e as comodidades da vida moderna, a publicidade, a disponibilidade e o baixo custo de alimentos altamente calóricos conspiram a favor da disseminação da epidemia, mas jogar em fatores ambientais a culpa pela gordura que você acumulou no abdômen não vai ajudá-lo a evitar as complicações da obesidade (...) O corpo humano é uma máquina construída para o movimento. Se você precisa ou faz questão de passar o dia sentado, a liberdade à mesa fica comprometida. Se no seu dia não sobra um minuto para fazer exercício, você está vivendo errado, está deixando de levar em consideração seu bem mais precioso: o corpo. Enquanto não dá um jeito nessa vida miserável, aumente a atividade física no local em que estiver: Questão 49: Saúde – vida moderna e obesidade ... suba escada, fale ao telefone dando volta na mesa, alongue os caminhos a pé, abaixe e levante o tempo inteiro, não ande a passos de lesma. No começo, vão achar que você perdeu o juízo, mas o povo se acostuma. Sejamos claros: a medicina não sabe tratar obesidade. Descontados os conselhos dietéticos ou as cirurgias bariátricas indicadas para os casos extremos, quase nada temos a oferecer. Se os médicos não dispõem da pílula mágica, a responsabilidade com o peso e a sobrevivência é individual. É cada um por si e Deus por ninguém, porque gula é um dos pecados capitais. Disponível em <http://drauziovarella.com.br/obesidade/reclama-pro-bispo/>. Acesso em 05 ago. 2015 (com adaptações). Questão 49: Saúde – vida moderna e obesidade <https://goo.gl/0rZaWB>. Acesso em 31 ago. 2015 Questão 49: Pergunta I. De acordo com o texto, apenas 25% dos adultos norte- americanos não apresentam excesso de peso. II. A crítica da charge direciona-se às informações falsas que circulam na internet e ao efeito que elas geram nas pessoas. III. De acordo com o texto, a obesidade é provocada tanto por alimentação inadequada quanto por falta de atividade física. IV. O título do texto indica a necessidade de que as instituições educacionais e religiosas adotem medidas para conscientizar as pessoas de que o cuidado com o corpo é importante. V. A charge direciona seu foco para o problema da obesidade infantil, que, de acordo com o texto, já atinge mais de 30% de todas as crianças no Brasil. Questão 49: Pergunta Com base na leitura, analise as afirmativas e assinale a alternativa correta: a) I, II e III. b) I, II e V. c) I e III. d) III, IV e V. e) II e III. Questão 49: Resposta I. Correta: três em cada quatro adultos norte-americanos (75%) apresentam sobrepeso. II. Incorreta: o foco da charge é a questão do excesso de peso. III. Correta: o excesso de peso está associado ao fato de as pessoas consumirem mais calorias do que gastam no dia a dia. IV. Incorreta: o título tem sentido figurado e não remete, de forma alguma, à intervenção de instituições no problema. V. Incorreta: o foco da charge não é obesidade infantil e o texto diz que um terço (33%) das crianças brasileiras de 5 a 9 anos estão acima do peso (o que não significa que estejam obesas). Alternativa correta: C. INTERVALO Questão 50: Educação – papel do educador A complicada arte de ver – Rubem Alves Ela entrou, deitou-se no divã e disse: “Acho que estou ficando louca”. Eu fiquei em silêncio aguardando que ela me revelasse os sinais da sua loucura. “Um dos meus prazeres é cozinhar. Vou para a cozinha, corto as cebolas, os tomates, os pimentões – é uma alegria! Entretanto, faz uns dias, eu fui para a cozinha para fazer aquilo que já fizera centenas de vezes: cortar cebolas. Ato banal sem surpresas. Mas, cortada a cebola, eu olhei para ela e tive um susto. Percebi que nunca havia visto uma cebola. Aqueles anéis perfeitamente ajustados, a luz se refletindo neles: tive a impressão de estar vendo a rosácea de um vitral de catedral gótica. Questão 50: Educação – papel do educador De repente, a cebola, de objeto a ser comido, se transformou em obra de arte para ser vista! E o pior é que o mesmo aconteceu quando cortei os tomates, os pimentões... Agora, tudo o que vejo me causa espanto.” Ela se calou, esperando o meu diagnóstico. Eu me levantei, fui à estante de livros e de lá retirei as “Odes Elementales”, de Pablo Neruda. Procurei a “Ode à Cebola” e lhe disse: “Essa perturbação ocular que a acometeu é comum entre os poetas. Veja o que Neruda disse de uma cebola igual àquela que lhe causou assombro: ‘Rosa de água com escamas de cristal’. Não, você não está louca. Você ganhou olhos de poeta... Os poetas ensinam a ver”. Questão 50: Educação – papel do educador Ver é muito complicado. Isso é estranho porque os olhos, de todos os órgãos dos sentidos, são os de mais fácil compreensão científica. A sua física é idêntica à física óptica de uma máquina fotográfica: o objeto do lado de fora aparece refletido do lado de dentro. Mas existe algo na visão que não pertence à física. William Blake sabia disso e afirmou: “A árvore que o sábio vê não é a mesma árvore que o tolo vê”. Sei disso por experiência própria. Quando vejo os ipês floridos, sinto-me como Moisés diante da sarça ardente: ali está uma epifania do sagrado. Mas uma mulher que vivia perto da minha casa decretou a morte de um ipê que florescia à frente de sua casa porque ele sujava o chão, dava muito trabalho para a sua vassoura. Seus olhos não viam a beleza. Só viam o lixo. Questão 50: Educação – papel do educador Adélia Prado disse: “Deus de vez em quando me tira a poesia. Olho para uma pedra e vejo uma pedra”. Drummond viu uma pedra e não viu uma pedra. A pedra que ele viu virou poema. Há muitas pessoas de visão perfeita que nada veem. “Não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. Não basta abrir a janela para ver os campos e os rios”, escreveu Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa. O ato de ver não é coisa natural. Precisa ser aprendido. Nietzsche sabia disso e afirmou que a primeira tarefa da educação é ensinar a ver. O zen-budismo concorda, e toda a sua espiritualidade é uma busca da experiência chamada “satori”, a abertura do “terceiro olho”. Questão 50: Educação – papel do educador Não sei se Cummings se inspirava no zen-budismo, mas o fato é que escreveu: “Agora os ouvidos dos meus ouvidos acordaram e agora os olhos dos meus olhos se abriram”. Há um poema no Novo Testamento que relata a caminhada de dois discípulos na companhia de Jesus ressuscitado. Mas, eles não o reconheciam. Reconheceram-no subitamente: ao partir do pão, “seus olhos se abriram”. Vinicius de Moraes adota o mesmo mote em “Operário em Construção”: “De forma que, certo dia, à mesa ao cortar o pão, o operário foi tomado de uma súbita emoção, ao constatar assombrado que tudo naquela mesa – garrafa, prato, facão – era ele quem fazia. Ele, um humilde operário, um operário em construção”. Questão 50: Educação – papel do educador A diferença se encontra no lugar onde os olhos são guardados. Se os olhos estão na caixa de ferramentas, eles são apenas ferramentas que usamos por sua função prática. Com eles, vemos objetos, sinais luminosos, nomes de ruas – e ajustamos a nossa ação. O ver se subordina ao fazer. Isso é necessário. Mas é muito pobre. Os olhosnão gozam... Mas, quando os olhos estão na caixa dos brinquedos, eles se transformam em órgãos de prazer: brincam com o que veem, olham pelo prazer de olhar, querem fazer amor com o mundo. Os olhos que moram na caixa de ferramentas são os olhos dos adultos. Os olhos que moram na caixa dos brinquedos, das crianças. Para ter olhos brincalhões, é preciso ter as crianças por nossas mestras. Questão 50: Educação – papel do educador Alberto Caeiro disse haver aprendido a arte de ver com um menininho, Jesus Cristo fugido do céu, tornado outra vez criança, eternamente: “A mim, ensinou-me tudo. Ensinou-me a olhar para as coisas. Aponta-me todas as coisas que há nas flores. Mostra-me como as pedras são engraçadas quando a gente as tem na mão e olha devagar para elas”. Por isso – porque eu acho que a primeira função da educação é ensinar a ver – eu gostaria de sugerir que se criasse um novo tipo de professor, um professor que nada teria a ensinar, mas que se dedicaria a apontar os assombros que crescem nos desvãos da banalidade cotidiana. Como o Jesus menino do poema de Caeiro. Sua missão seria partejar “olhos vagabundos”... Disponível em <https://goo.gl/1n3G5D>. Acesso em 28 jul. 2015. Questão 50: Pergunta I. O tipo de professor sugerido pelo autor teria a função de reduzir o problema exposto por Alberto Caeiro quando afirma que “não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores”. II. De acordo com o texto, a poesia causa perturbações e faz com que as pessoas não vejam a realidade tal qual ela é, como no caso de Drummond, que não viu a pedra. III. De acordo com o texto, as crianças gostam de brincar com o que veem e o papel do educador é fazer com que elas não percam o foco e aprendam a usar os olhos como ferramentas de conhecimento. Questão 50: Pergunta IV. O autor propõe um novo modelo de educação, em que o professor consiga corrigir os desvios individuais da visão e revelar aos alunos a noção correta da realidade. Está correto o que se afirma somente em: a) I. b) I e III. c) III e IV. d) II e IV. e) I e II. Questão 50: Resposta I. Correta: o autor propõe um tipo de professor que ensine os alunos a olharem de fato as coisas do mundo. II. Incorreta: o texto afirma que os poetas têm uma visão mais aguçada do que as demais pessoas, pois sabem olhar o mundo de outra forma. III. Incorreta: de acordo com o texto, o papel do educador é ensinar as crianças a olharem o mundo de outra forma. IV. Incorreta: o texto não propõe um educador que imponha uma visão correta do mundo. Alternativa correta: A. ATÉ A PRÓXIMA!
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