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3. Direito Internacional Privado Direito Internacional Privado no Mundo Globalizado

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1. INTRODUÇÃO
		Cidadãos do mundo. Os seres humanos não vivem mais apenas com seus pais, cônjuges, famílias ou vizinhos. Sequer vivem apenas em sua cidade, estado ou mesmo país.
		O mundo globalizado permite uma infindável conexão de pessoas e culturas que, inegavelmente, saem dos restritos limites de um território, viajam pelos cabos de fibra ótica, por aeronaves ou mesmo por um pequeno produto importado vendido na esquina de casa – o mundo está pequeno, ao alcance das mãos.
		Nesse contexto, o Direito Internacional Privado é a disciplina jurídica que trata das relações privadas com conexão internacional, tendo como objeto justamente as normas que permitem escolher o direito aplicável a estas lides.
		Estudar este ramo do direito, seu conteúdo e seus conceitos é de suma importância para que se estabeleça uma harmônica convivência no mundo globalizado.
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2. NOÇÕES BÁSICAS DE DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
		Se as relações humanas atravessam as fronteiras de um país, diferentemente não poderia ocorrer com as relações jurídicas, dado que o Direito é fruto da sociedade humana. Cabe ao direito, portanto, adequar-se a esta realidade.
		A internacionalização da vida e das atividades humanas gera fenômenos jurídicos que devem ser resolvidos pelo Estado. O Direito Internacional Privado, como disciplina que estuda a escolha da norma a ser aplicada a uma relação jurídica com conexão internacional, tem, como objeto de seu estudo, pela doutrina mais ampla, a nacionalidade, a condição jurídica do estrangeiro, o conflito das leis no espaço e o conflito de jurisdições.
		Acontece que parte da doutrina questiona que se incluam como objeto desta disciplina, notadamente, a nacionalidade e a condição jurídica do estrangeiro. Ora, a nacionalidade é um elemento de conexão internacional e, como tal, indubitavelmente deve integrar o objeto de estudo desta disciplina, haja vista sua importância na escolha da lei aplicável ao caso concreto, objetivo principal do Direito Internacional Privado. A condição jurídica do estrangeiro, por sua vez, é crucial na determinação das capacidades dos estrangeiros no país, pois podem vedar e restringir seus direitos, sendo inaplicáveis, portanto, quanto a estes direitos vedados, as normas de direito internacional quanto à escolha do direito, se nacional ou estrangeiro.
		O conflito de jurisdições, outrossim, tem suma importância no estudo da matéria, pois uma decisão de um órgão incompetente pode ser nula ou anulável, pois foge à delimitação legal da jurisdição.
		Em relação ao conflito de leis, não há questionamentos doutrinários. Este é o objetivo principal do direito internacional do trabalho, sendo, portanto, indispensável o estudo da norma aplicável à relação jurídica com conexão internacional.
		A grande maioria das lides que, por ventura, chegam à apreciação do poder judiciário, são resolvidas pelo juízo competente segundo as normas gerais de competência, comumente estudadas no processo civil. No entanto, o mundo globalizado tem trazido à justiça relações jurídicas com conexão internacional, ou seja, aquelas que, por algum motivo, como a nacionalidade ou o local de celebração, possuem um elemento internacional.
		Entende-se, assim, que apesar de poderem, hipoteticamente, aplicar o seu direito para todos os casos, sejam eles dotados de elementos internacionais ou não, os Estados optaram por estabelecer regras específicas para regular os casos em que haja conexão internacional. Estas regras visam estabelecer o direito aplicável, nacional ou o estrangeiro, e não adentram no mérito da lide, pois, como dito, limitam-se a indicar o direito aplicável dentre aqueles que têm conexão com a lide.
		
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		Por esta característica, de escolher o direito, não adentrando no mérito, pode-se dizer que as normas de direito internacional privado constituem um sobredireito.
		Há casos em que o elemento internacional intrínseco à lide é de tamanha grandeza que a aderência aos direitos estrangeiros ao quais se vincula é notadamente maior que a existente em relação ao direito pátrio. Nestes casos, observados os dispositivos legais pertinentes, será aplicada a lei estrangeira mais cabível ao caso concreto sub judice.
		As normas do direito internacional privado apenas indicam o direito a ser aplicado, por isso são denominadas indicativas ou indiretas.
		Por outro lado, quando apresentadas em juízo, as lides com conexão internacional não suscitam conflito de leis. Isto porque, em juízo pátrio, se aplicam de imediato as leis internas. As possíveis leis alienígenas que versem sobre a questão somente se aplicam se o legislativo nacional assim determinar. Ou seja, o Estado estrangeiro, bem como suas disposições legais, não tem poder algum de interferir diretamente num caso apresentado em juízo sem que estas disposições sejam previamente integradas, pelo legislativo nacional, ao ordenamento pátrio.
		O conflito existe, em verdade, quando se parte para uma visão supranacional, onde os ordenamentos jurídicos, de diferentes países, conexos a lide, dispõem, segundo suas legislações, sobre o direito sub judice.
		Existindo uma lide na qual haja um elemento internacional que determine mais de um sistema normativo para a sua resolução, ao Direito Internacional Privado incumbe utilizar suas normas e princípios no sentido de escolher qual a norma aplicável. Isso sem, no entanto, adentrar diretamente no mérito da lide em si, dirigindo-se apenas ao conflito de leis.
		O Conflito, na acepção comum da palavra, não existe. Pois quando um ordenamento estabelece determinadas regras e outro sistema, por sua vez, estabelece as suas próprias, visam regular situações internas, não objetivando, de plano, que houvesse ocasião em que estes ordenamentos se colidissem. O que ocorre é, em verdade, a concorrência ou o concurso de leis, pois estas não são conflitantes, as normas de direito internacional privado indicarão a lei que, em verdade, deve incidir.	
		Neste ponto, cabe a ressalva de que a denominação Direito Internacional Privado, apesar das diversas críticas sofridas, é o termo universalmente utilizado para designar o tema.
		As primeiras críticas à denominação desta disciplina são relativas ao caráter nacional da sua legislação. A grande maioria de suas normas é interna, ou seja, não há nada, ou muito pouco, de internacional na legislação que determina o direito a ser aplicado. Outrossim, a denominação internacional denota relação inter Estados, o que não ocorre senão, no direito internacional público.
		Outra crítica versa sobre o termo privado, haja vista que não se trata apenas de direito privado, conquanto que há questões de direito público no estudo da disciplina.
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		Finalmente, apesar das incisivas e insistentes críticas, a terminologia Direito Internacional Privado vem sendo mantida e, didaticamente, com bons resultados.
3. O DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO E OUTROS RAMOS DO DIREITO
		Além das afinidades, o alcance desta disciplina se materializa na aplicação de seus princípios e regras às demais disciplinas jurídicas, na influência de suas regras sobre a aplicação das normas de todos os campos do direito.
		No tocante a relação entre direito internacional privado e o direito comercial, há grande relacionamento, haja vista que as regras de nacionalidade de pessoa jurídica estrangeira e validade de títulos extrajudiciais firmados no exterior, dentre outros, se inserem na área daquela disciplina.
		A divergência principal de que versa a doutrina acerca da relação entre o direito internacional privado e o direito internacional público está na alegação de dependência daquele em relação a este, ou ainda que aquele deste se origina. No entanto, aquém desta discussão, devemos manter o entendimento principal que ambas as disciplinas guardam grande afinidade, haja vista que são voltadas para questões que afetam múltiplos relacionamentos internacionais, esta dedicada a questões políticas,militares e econômicas dos Estados em suas manifestações soberanas e aquela concentrada nos interesses particulares, dos quais os Estados participam cada vez mais intensamente.
		Apesar da discussão doutrinária quanto ao conteúdo do objeto do direito internacional privado, se em seu âmbito inserem-se questões de direito público, na ordem prática, um juiz não poderá escolher o direito aplicável à lide de direito público, pois não servem e não são aplicáveis à estrutura do direito público. Tratando-se de direito privado, tal escolha é plenamente cabível, tanto que é o objeto principal do estudo da referida disciplina. Logo, pode-se dizer que o direito internacional privado refere-se somente às relações jurídicas com conexão internacional de direito privado, ou seja, não se aplica este ditério a lides que não tenham origem no direito privado.
		Por outro modo, a impossibilidade de influência do direito internacional privado nos litígios com conexão internacional oriundos de direito público não elimina a inferência das normas de direito internacional público no direito internacional privado.
		Existem, em outros ramos do direito, questões que possuem conexão internacional e que, por isso, havendo conflito de leis no espaço, carecem de resolução com uma visão supranacional.
		Neste sentido, existem normas de outros ramos do direito que escolhem o direito aplicável. No entanto, as normas e princípios gerais do direito internacional privado são inadequadas para resolver esse tipo de conflito, simplesmente pela natureza da lide da qual se originam, respeitando-se as peculiaridades próprias de cada ramo científico.
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4. OBJETO DE ESTUDO DO DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
		Muito se discute sobre o objeto do Direito Internacional Privado. A primeira consideração se refere aos elementos de conexão. Estes são a característica que qualifica certa relação jurídica como internacional, ou seja, ligam uma lide ao direito de dois ou mais países.
		Enquanto elemento de conexão, a nacionalidade vem perdendo seu prestígio, sendo paulatinamente substituída pelos modernos elementos de conexão domicílio e residência habitual. No entanto, tal substituição não se deu por completo, sendo ainda observado o elemento de conexão nacionalidade em alguns ordenamentos.
		Como elemento de conexão, a nacionalidade é objeto de estudo do direito internacional privado. Logo, para efeito desta disciplina, regime jurídico da nacionalidade somente será observado quando relacionar-se com a determinação do direito aplicável a uma relação jurídica com conexão internacional, fugindo do estudo desta disciplina, portanto, as demais questões referentes à nacionalidade.
		De natureza pública e evidentemente substantivas, pois diretamente aplicáveis à pessoas de nacionalidade estrangeira, as normas sobre a condição jurídica do estrangeiro, majoritariamente encontradas na Constituição Federal, no Estatuto do Estrangeiro e em tratados, convenções e acordos internacionais, definem, em regra, restrições e limitações à pessoa do estrangeiro no estado pátrio.
		Há países em que a etnia ou a religião, por exemplo, determinam qual a legislação aplicável. Assim, tem-se um conflito de leis originado de uma pessoalidade. No entanto, trata-se de um conflito de leis e, como o conflito de leis é a matéria-prima do direito internacional privado, estes conflitos de leis derivados de qualificações pessoais também integram o objeto de estudo do direito internacional privado.
		O direito processual civil internacional está intimamente ligado ao direito internacional privado, por isso, constitui objeto de seu estudo. Notadamente, para a determinação da lei aplicável a uma lide que apresente elemento internacional, necessário que o órgão que tome esta decisão seja competente internacionalmente.
		Destarte, o direito transnacional engloba vários direitos internacionais, pois que caracteriza quaisquer matérias jurídicas que ultrapassem os limites de um estado. No entanto, este termo até hoje não obteve aceitação geral na doutrina.
		Cabe salientar que se trata de disciplinas autônomas. Embora, em outros tempos, tenha havido entendimentos de que o direito internacional privado originava-se do direito internacional público, hodiernamente, aquele direito é indiscutivelmente autônomo, e plenamente diferente deste.
		O direito internacional privado, como dito, designa o direito aplicável a uma relação jurídica de direito privado com relação internacional. O direito 
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internacional público, por sua vez, preocupa-se com as relações existentes entre os sujeitos de direito, entidades internacionais.
		A relação entre os dois ramos do direito encontra-se evidenciada, como dito anteriormente, na inferência das normas do direito internacional público na própria decisão do juiz ao aplicar as normas de direito internacional privado. Isso por que, notadamente, as normas do direito internacional público obrigam todo o estado.
		O direito internacional privado, de uma ótica supranacional, resolve conflitos de leis no espaço. No entanto, como bem ressalvado, sua aplicação está restrita ao conflito de leis de direito privado. Quando, por ventura, apresentarem-se conflitos de leis de direito público, não incidirão as normas de direito internacional privado, haja vista, principalmente, o caráter substantivo ou material das normas de direito público, aplicadas diretamente.
		Os direitos intertemporal e internacional privado assemelham-se, conquanto escolhem qual a norma aplicável. Sendo que aquele disciplina conflitos de lei no tempo, enquanto este disciplina o conflito de leis no espaço.
		A função principal do direito comparado é promover a harmonização dos ordenamentos jurídicos, permitindo alternativas para o legislador, propiciando uma evolução jurídica uniforme. Ao mesmo tempo, visa que os países acabem por adotar regimentos análogos, aproximando-se da padronização de ordenamentos jurídicos.
		A harmonia proposta pelo direito internacional privado, por sua vez, visa à pacífica coexistência dos diversos ordenamentos jurídicos existentes.
		Em sua inter-relação, o direito comparado proporciona ao direito internacional privado os subsídios necessários à analise do ordenamento jurídico alienígena, permitindo melhor entendimento destas normas, para que nelas se identifiquem os requisitos que, no direito pátrio, permitem sua aplicação.
5. CONCLUSÃO
O Direito Internacional Privado é importante disciplina jurídica no trato das hodiernas relações jurídicas, cada vez mais ligadas entre diferentes pontos do globo.
Conquanto não resolva diretamente a lide, ele estabelece as regras gerais que definem qual direito será aplicado ao caso, ou seja, a norma de qual Estado.
Persistem muitos debates sobre seu objeto de estudo e sua relação (ou mesmo dependência) com outros ramos do direito. Mas deve prevalecer que guarda sua autonomia própria e que seu conteúdo, ainda que tangencie objetos de outros ramos, pode e deve conter tudo quanto necessário a sua finalidade de constituir norma de sobredireito em relações jurídicas dotadas de elemento de conexão internacional.
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6. REFERÊNCIAS:
ARAÚJO, Nadia de. Direito Internacional Privado. 4ª ed. amp. e atual. Renovar: 2008.
DEL’OMO, Florisbal de Souza. Direito Internacional Privado. 6ª ed. Rio de Janeiro: Forense 2008.
DINIZ, Maria Helena. Lei de Introdução ao Código Civil Brasileiro Interpretada. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2002.
DOLINGER, Jacob. Direito Internacional Privado (Parte Geral). 7ª ed. amp. e atual. Renovar: 2003.
RECHSTEINER, Beat Walter. Direito Internacional Privado, teoria e prática.11ª ed. rev. e atual. Saraiva: 2008.

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