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jusbrasil.com.br 25 de Fevereiro de 2018 As teorias da concepção e o nascituro no Direito brasileiro A personalidade jurídica no Código Civil de 2002 Olá Jusbrasileiros, no presente tópico, far-se-á a abordagem de um tema bastante controverso no atual Direito brasileiro, assunto esse concernente ao nosso Direito Civil. Antes de entrarmos em mais detalhes a respeito do assunto, precisamos entender o que é concepção e, ainda, o que é nascituro. O primeiro termo diz respeito ao momento em que o feto já está completamente formado, portanto, no momento da concepção o embrião passa a ter os formatos biológicos propriamente ditos de uma pessoa. Já concernente ao segundo termo, nascituro, podemos conceituá-lo como um ser que já está concebido, mas que seu nascimento ainda é fato pendente, em outras palavras, "[...] é aquele que foi concebido, mas que ainda não nasceu" (TARTUCE, 2017, p. 75). Superada essa análise inicial, partirmos para observar os termos constantes do art. 2º do Código Civil de 2002 (Lei nº 10.406/2002), dispositivo polêmico que afirma, in verbis, que "a personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro." Sendo interessante destacar que tal proteção também abrange o embrião, malgrado isso não seja pacífico na doutrina e que aqui não será vista de maiores aprofundamentos. A questão que mais gera atritos e polêmicas no aludido comando normativo da lei geral privada é a que se refere a personalidade civil do nascituro, buscando dizer se o este último possui ou não as proteções inerentes ao instituto elencada no citado PUBLICAR CADASTRE-SE ENTRARPESQUISAR artigo, dando vida a um imenso óbice ao manter a constante discussão entre natalistas e concepcionistas (teorias da concepção que serão vistas mais a adiante). Ao analisarmos o dispositivo de maneira desmembrada, vemos a indicação das duas rivais teorias da concepção, o que torna o texto ali constante, pelo menos na sua essência, um pouco contraditório e confuso. Vejamos que na primeira parte, ao elucidar que "a personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida [...]", verifica-se que o nascituro, portanto, não seria pessoa, e, consequentemente, não teria direito algum, tese essa sustentada pela teoria natalista. Já na segunda parte, onde aduz que "[...] a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro", podemos depreender que o nascituro seria pessoa, e, por consequência disso, possui direitos, mesmo que não possua capacidade de gozo (ainda). Em que pese o tema abarque uma imensa discussão, influenciada principalmente por ideias jusnaturalistas, devemos considerar que se há pessoa, há direitos. Ad argumentandum, pode-se até mesmo utilizar o método dedutivo para que se chegue a tal conclusão, pois, senão vejamos, toda pessoa tem direitos, o nascituro, por hora, é uma pessoa (não é um mero objeto); logo, o nascituro tem direitos. Importante registrar que, nesse caso, tanto as premissas quanto a conclusão se dão por verdadeiras. Vamos de forma um pouco mais aprofundada visitar a base teórica e prática das três teorias existentes a respeito da existência ou não de direitos durante o período conceptivo, iniciando pela teoria natalista. 1.1- Teoria Natalista Para a teoria natalista, sucintamente falando, o nascituro não é pessoa, não possuindo, por hora, qualquer direito, já que o Código Civil, exige, em tese, o nascimento com vida para que se venha a ter, eventualmente, a personalidade civil. Podemos, de forma concisa concluir que o nascituro, nessa perspectiva, possui apenas uma mera expectativa de direitos. O óbice dessa teoria é justamente o exposto no parágrafo anterior, uma vez que realiza tão somente uma interpretação literal e simples do que se trata no art. 2º do códex privado. Adepto a essa teoria, em sede de doutrina, temos Sílvio Venosa, além de alguns outros clássicos que aqui não serão citados. O questionamento que a teoria natalista nos traz é: ora, se o nascituro não é pessoa humana, seria ele tão somente um objeto? Ou uma coisa? Podemos depreender que por virtude dos entendimentos firmados pela equívoca teoria, a resposta a tal pergunta seria positiva, uma vez que sim, o nascituro é coisa (para natalistas). Ante o pretexto trazido, devemos entender que a teoria natalista está totalmente superada, já que está plenamente distante e em desacordo aos preceitos do ideal da personalização do Direito Civil, negando ao nascituro inclusive direitos de cunho fundamental (vida, integridade, honra, imagem, alimentos...), consequentemente, observamo-nos tal teoria em conflito com a pretensão de uma ampla tutela dos direitos envolventes da personalidade, encontra-se essencialmente, longe dos avanços que a sociedade vem exigindo e vivenciando, isso é, teoria um tanto externa a realidade fática do atual direito privado. 1.2- Teoria da Personalidade Condicional Nesta segunda teoria, os direitos do nascituro encontram-se em condição suspensiva, condição essa que seria, por sua vez, o seu nascimento (com vida). Como sabemos, a condição suspensiva está elencada no art. 121 do Código Civil de 2002, sendo essa um elemento acidental do negócio ou ato jurídico que subordina sua eficácia a um evento futuro e incerto, que, nesse caso, o evento (futuro e incerto), logicamente seria o nascimento com vida. Vemos o nascituro portanto, como titular de um direito eventual. Sob esfera desse último ponto, podemos observar o art. 130 também do códex privado, nos afirmando que "ao titular do direito eventual, nos casos de condição suspensiva ou resolutiva, é permitido praticar os atos destinados a conservá-lo", nesse caso, ora, a gestante faria tais atos representando o nascituro. Como adeptos a essa teoria, temos Clóvis Beviláqua, Washington Monteiro, dentre outros clássicos, e, na doutrina contemporânea, por sua vez, adepto a essa tese temos Arnaldo Rizzardo. Mas onde se encontra o problema da teoria, que põe direitos sob condição? Justamente nesse ponto da dúvida levantada, logo que direitos da personalidade jamais podem ser postos, e ficarem sujeitos, a qualquer condição, termo ou encargo (elementos acidentais do negócio jurídico; plano da eficácia na escada ponteana). Por essa virtude, o nascituro só terá direitos (mesmo aqueles existenciais) com o implemento da condição, ou seja, seu nascimento com vida. Essa teoria é, ao menos na sua essência, natalista. Além ainda, de ser apegada a questões meramente técnicas e patrimoniais, estando longe da festejada pretensão de personalização do Direito Privado. Superada a observância dessas duas teorias, vamos à análise da tese adotada pelo ordenamento jurídico brasileiro na atualidade (principalmente na esfera doutrinária e jurisprudencial). 1.3- Teoria Concepcionista Para essa última teoria, o nascituro é pessoa humana e, justamente por essa razão, possui seus direitos. Em princípio, aduz a tese que a personalidade já se faz presente desde a concepção. Adeptos a essa corrente doutrinária, temos Pontes de Miranda, Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho, Maria Helena Diniz, Flávio Tartuce e, ainda, a professora Silmara Chinellato, uma das percussoras da tese concepcionista no Estado brasileiro. Um ponto importante a ser destacado, é que a teoria concepcionista ainda chega a ser mais ampla do que estender somente direitos ao nascituro, pois também traz direitos da personalidade (nome, imagem e sepultura, por exemplo) para aquele que nasceu morto, que em termos técnicos é denominado natimorto, sustenta-se tal tese na corrente positivada no enunciado nº 1 da I Jornada de Direito Civil realizada pelo Conselho de Justiça Federal e pelo Superior Tribunal de Justiça. A magnífica Professora Maria Helena Diniz, já que adepta a brilhante teoria, elaborou em suas obras uma fundamental classificação da personalidade civil, dividindo-aem formal e material. A personalidade jurídica formal está terminantemente relacionada com os direitos da personalidade em si, aqueles que o nascituro já possui desde a sua concepção. Não se fala aqui em direitos de cunho patrimonial, mas sim de caráter puramente existencial. Já a personalidade jurídica material, por sua vez, não seria aquela que tão somente que abrange direitos da personalidade, mas, outrossim, abarca em seu campo os direitos patrimoniais, aqueles que o nascituro só passa a ter após o seu nascimento (com vida), caso por exemplo, do direito de sucessão, ou até mesmo do direito de propriedade. Lembre-se que a personalidade jurídica formal pressupõe a material, logo, não há de se falar e personalidade material sem a prévia existência da personalidade formal. Importante destacar, por fim, que somente com a personalidade jurídica material, se adquire a capacidade de direito (ou de gozo). Em se tratando da jurisprudência nacional, "o Supremo Tribunal Federal não tem uma posição definida a respeito das referidas teorias, ora seguindo a teoria natalista, ora a concepcionista [...]. O Superior Tribunal de Justiça, no entanto, tem acolhido a teoria concepcionista, reconhecendo ao nascituro o direito à reparação do dano moral" (GONÇALVES, 2016, p. 197), caso ocorrido que pode ser visto no REsp 399.028/SP, onde foi reconhecido dano moral ao nascituro pela morte de seu pai, fato esse que ocorreu, por questões lógicas, anteriormente ao seu nascimento. De extrema relevância transcrever-se a ementa do acórdão, em julgado do egrégio Superior Tribunal de Justiça. DIREITO CIVIL. DANOS MORAIS. MORTE. ATROPELAMENTO. COMPOSIÇÃO FÉRREA. AÇÃO AJUIZADA 23 ANOS APÓS O EVENTO. PRESCRIÇÃO INEXISTENTE. INFLUÊNCIA NA QUANTIFICAÇÃO DO QUANTUM. PRECEDENTES DA TURMA. NASCITURO. DIREITO AOS DANOS MORAIS. DOUTRINA. ATENUAÇÃO. FIXAÇÃO NESTA INSTÂNCIA. POSSIBILIDADE. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. I - Nos termos da orientação da Turma, o direito à indenização por dano moral não desaparece com o decurso de tempo (desde que não transcorrido o lapso prescricional), mas é fato a ser considerado na fixação do quantum. II - O nascituro também tem direito aos danos morais pela morte do pai, mas a circunstância de não tê-lo conhecido em vida tem influência na fixação do quantum. III - Recomenda-se que o valor do dano moral seja fixado desde logo, inclusive nesta instância, buscando dar solução definitiva ao caso e evitando inconvenientes e retardamento da solução jurisdicional (STJ, REsp 399.028/SP) (grifou-se). Além desse, há vários e diversos julgados que aplicam a tese concepcionista, dando a entender que, no âmbito de competência do Judiciário brasileiro, é aplicada em grande maioria dos casos concretos. Corroborando-se com a tese, existem outras leis especiais (extravagantes) que sustentam a permanência da teoria concepcionista, caso, p. Ex., da Lei de Alimentos Gravídicos (Lei nº 11.804/2008), trazendo a possibilidade de o genitor paterno ter de pagar "pensão" para a genitora materna que ainda esteja em fase de gestação (nascituro tem direito a receber alimentos). Registre-se que o titular do direito alimentício não é a mãe, mas o filho em questão, cabendo a mãe apenas pleitear tal direito representando seu futuro rebento, legítimo ativo para tanto, embora incapaz (estudaremos a teoria geral da representação, que também se aplica a questões processuais, em momento oportuno, num próximo artigo). A tese concepcionista, arrimada na segunda parte do art. 2º do atual Código Civil, é a mais atual, além de estar mais próxima ao ideal de humanização do direito, da personalização do Direito Civil, estando, inobstante, adequada aos avanços científicos que viemos presenciando nos últimos dezessete anos. A ideia concepcionista, em seu campo, desliga-se de teorias meramente tecnicistas e apegadas ao patrimonialismo puro. Devemos então, concordar com a festejada obra do Professor Tartuce e com a Professora Maria Helena Diniz, já que sob o prisma do Direito Civil brasileiro, a teoria concepcionista está com a plena razão. REFERÊNCIAS BRASIL. Código Civil. In: VADE mecum Saraiva. 22. Ed. Atual. E ampl. São Paulo: Saraiva, 2016. P. 155-290. ______. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial 399.028 São Paulo. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira. Brasília, DF, 26 de janeiro de 2002. Disponível em: < https://ww2.stj.jus.br/websecstj/cgi/revista/REJ.cgi/IMG? seq=18388&nreg=200101473190&dt=2002.... Acesso em: 28 fev. 2017. GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil, 1: esquematizado: parte geral, obrigações e contratos. Coordenador Pedro Lenza. 6. Ed. São Paulo: Saraiva, 2016. TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil: volume único. 7. Ed. Rev., atual. E ampl. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2017. Disponível em: http://nicolasfelipe.jusbrasil.com.br/artigos/475128655/as-teorias-da-concepcao-e-o-nascituro-no-direito-brasileiro
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