Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
História da Educação UNIDADE 3 1 Para início de conversa Olá, caro(a) estudante! Espero que você esteja preparado para darmos continuidade a nossa jornada de estudos. Conto com seu comprometimento em relação ao estudo do nosso guia! orientações da disciPlina Antes de iniciar o estudo do nosso guia faça a leitura do seu livro-texto, assista a videoaula e ao final da unidade, teste seu conhecimento respondendo a atividade. Caso tenha alguma dificuldade, não perca tempo e pergunte logo a seu tutor! O fundamental mesmo é que você, aluno(a), consiga aproveitar ao máximo essas reflexões. Vamos dar continuidade ao estudo da nossa disciplina! Palavras do Professor Prezado(a) estudante, retornando nossa viagem pela história da educação, nessa unidade, passaremos pelas grandes alterações ocorridas no período denominado de modernidade. Inovações significativas principalmente na forma em como direcionar e executar as práticas pedagógicas surgem nesse período; tratou-se de uma verdadeira revolução na cultura escolar. Procuraremos analisar como o universo cultural das sociedades europeias mudará a partir da padroniza- ção das condutas sociais desenvolvidas nos colégios modernos. E de que maneira irá impactar no desen- volvimento dos projetos políticos e sociais, que serão concretizados nos séculos seguintes. Veremos também aspectos ligados à história da educação no Brasil, passando pela fase inicial, o período colonial, discutindo as atuações da educação jesuíta em nosso país e, por ora, discutiremos as mudanças executadas pelo Marquês de Pombal que foi o responsável por modernizar o estilo de governo em toda a extensão do domínio português. Em torno desses estudos produziremos reflexões importantes, uma vez que poderemos cruzar os acontecimentos históricos ocorridos na Europa com o surgimento e desenvolvi- mento da educação brasileira, pois é nesse momento que passamos a ser colônia, sofrendo um processo de aculturação intenso. Onde a educação tem papel fundamental. Trabalharemos ainda nessa II unidade, um pouco do estudo histórico sobre a Pedagogia Realista do século XVII, e o empirismo debatido por Locke, com suas consequentes implicações na educação com as ideias próprias da filosofia iluministas do século XVIII. Refletiremos sobre como o pensamento moderno, racio- nal e científico, terá uma forte ligação com o estilo de vida de uma classe social que se fortalece nesse período, a burguesia. Durante os séculos XVII e XVIII, muitas novidades políticas, sociais e culturais ocorrem: surgem novos fundamentos para as formas de organização social (Estado), são desenvolvidos métodos para o estudo dos fenômenos (ciência moderna) e novos contornos para as instituições educacionais surgirão em vários sentidos. 2 cUltUra escolar nos colÉGios Modernos Para iniciarmos alguma conversa sobre os colégios e modelos escolares existentes na modernidade precisamos, primeiramente, descortinar um pouco desse tão falado período da história da humanidade. Como já vimos em estudos anteriores, após a áurea do período clássico, com descobertas filosóficas que perduram até hoje, passamos por um momento muito longo (1000 anos) na dita idade das trevas, com o conhecimento cerceado, para então a partir da “saída da escuridão” renascer com um novo modelo, jeito de pensar e viver na/em sociedade. Alguns motivos ou acontecimentos são relevantes para o processo de transição da Idade Média para a Moderna. Uns inclusive já citados por aqui, como por exemplo, a maior abertura para navegação com o consequente surgimento de aglomerações urbanas e a emergência de um novo grupo social, os bur- gueses. No entanto, para fins didáticos, consideraremos como grande marco histórico dessa transição a queda de Constantinopla, determinando o fim do império romano oriental. É neste período que as índias ocidentais são descobertas e submetidas ao processo de colonização, onde hábitos medievos ainda perduraram, enquanto na Europa já florescia, sobretudo no campo das artes, o espírito revolucionário do renascimento. Onde o homem passa a ser visto como o centro do universo (antropocentrismo) e os seus desejos, vonta- des e inquietações passam a ser levados em consideração através da razão, com expressões nas artes e na ciência. Assim, são com estas ressalvas que gostaria que você encarasse esta unidade. Saber que a modernidade é o período histórico consequente à idade média e que os preceitos educacionais utilizados nele têm perspectivas para além das praticadas no período anterior é fundamental. A consolidação do pensamento moderno que surge com os renascentistas, fez gerar na sociedade euro- peia um projeto de vida em grupo com fundamento no antropocentrismo e contextualizado na vida urbana; caberia à educação realizar esse empreendimento social ambicioso. A educação moderna então passa seguir um movimento rumo à efetivação desses valores sociais nas mentes e corpos dos indivíduos. Será necessária a edificação de práticas educacionais que padronize as condutas sociais aceitas dentro desse novo contexto histórico e cultural. São padrões trazidos e adaptados da corte, que impostos como universais, são tidos como essenciais para o bom convívio (civilidade) nos centros urbanos. 3 ??? Homens estudando - Fonte: http://sereduc.com/7CWTXj As escolas no período medieval trabalhavam com crianças, jovens e adultos misturados em grupos. Pos- teriormente, já na modernidade, houve uma mudança nesse quadro, buscou-se agrupar os estudantes de acordo com uma faixa etária aproximada. A partir dessa nova organização, tentou-se sistematizar também os conteúdos para cada fase da vida. Nesse sentido surgem diferentes concepções ligando o desempenho educacional ao desenvolvimento humano. você sabia? Até o século XVI a infância não existia, a partir do momento em que um ser humano saísse da dependência física de sua mãe, ele era integrado à vida como um ser adulto. Essa forma de entender a vida gerava, logicamente, alguns problemas experienciais: os mais jovens ficariam expostos às violências dos mais velhos, ou poderiam existir crianças que deveriam ser obedecidas como se já fossem adultas. Fonte: http://sereduc.com/uAcFRZ http://sereduc.com/7CWTXj http://sereduc.com/uAcFRZ 4 Aos poucos, já no século XVII, as pessoas começaram a se preocuparem com as crianças, pelo fato de serem fracas e dependentes passaram a ser protegidas. Mas não foi só isso que mudou, em determinado momento, como consequência do sentimento de proteção, percebeu-se que as crianças não eram apenas seres biológicos, mas necessitavam de cuidados, disciplina e uma educação para que se tornassem adul- tos adaptados aos padrões modernos. Outro aspecto da educação moderna que o estudante deve saber é: quem frequentava essas escolas? Em sua maioria as escolas eram frequentadas pelos filhos de uma classe de burgueses, nobres, funcionários públicos e profissionais liberais. Vale destacar para o estudante crítico e atento que o trabalho infantil só começou a ser combatido no século XX, então a opção de estudar ao invés de trabalhar só existia para as classes mais abastadas. O último aspecto da cultura escolar surgida na modernidade que mencionamos faz referência ao apare- cimento de um padrão cultural universal, proveniente dos conteúdos que eram impostos como verdades absolutas. Essa característica da cultura escolar foi muito importante para as expansões territoriais pró- prias desse período, dentre elas, a chegada dos portugueses ao Brasil. Como você já deve ter percebido, o período histórico em que ocorrem todas essas significativas mudanças no modo de vida dos povos que habitavam a Europa, ou seja, a chamada era moderna (século XV ao XVIII), ascende devido aos novos modos de entendimento filosófico e moral de viver a vida, que consideram um maior número de possibilidades para chegar a determinadas respostas: a razão passa a sobrepor-se a fé. Dentro de tal perspectiva notamos que é nesse momento em que os povos ibéricos,principalmente, che- gam ao ‘novo mundo’, pois as navegações se expandiam, o oriente não era mais o único destino. É importante dizer que com o processo de colonização das Américas, mesmo às portas da modernidade, muitos resquícios da moral e dos costumes feudais chegam com os colonizadores. O processo de divisão do Brasil em capitanias, hereditárias, é um bom exemplo. Contudo, não é difícil de imaginar que outros exemplos existem, e a educação é um deles, tendo em vista que as coroas portuguesa e espanhola tinham parcerias e apoio da Igreja Católica, que era responsável pela fomentação da educação aos povos nati- vos, que passam por um processo de catequização, a princípio pelos padres jesuítas. Estudaremos esses períodos com mais calma adiante. Pedagogia realista O século XVII também é chamado de o século do método, foi marcado pelo desenvolvimento das ciên- cias. Após o fortalecimento da burguesia no campo econômico e político com o chamado mercantilismo, marcado pela aliança entre esses e os monarcas. Sendo um dos principais teóricos do período Thomas Hobbes, que era entusiasta dos estudos acerca do poder soberano dos monarcas absolutistas. 5 Fonte: http://sereduc.com/XLeuo0 No entanto, essa união entre monarcas e burgueses começou a ser minada à medida que o desejo de um menor nível de intervenção do Estado nas ações econômicas vai aumentando. Vai aos poucos surgindo o liberalismo político e econômico que proporcionará mudanças significativas na estrutura e nas dinâmicas da sociedade. Como exemplo dessas mudanças liberais, temos um evento histórico importante ocorrido na Inglaterra, a chamada Revolução Gloriosa (1688) que acabou com um sistema absolutista e instaurou uma monarquia constitucional, regida por direitos e deveres que seriam aplicados a todos, inclusive ao monarca. Ressurge como parte desse pensamento burguês e liberal, a ideia de democracia como fundamento para o poder político, ou seja, a legitimidade da autoridade política é conferida pela participação social. Esse aspecto vai ter especial importância para a educação, pois projetos educacionais voltados para a forma- ção de cidadãos participantes na construção de uma sociedade de ideais burgueses são fecundados. A educação irá trabalhar em cima da edificação do pensamento e dos ideais burgueses. As universidades, por exemplo, passam a não apenas ser formada por alguns privilegiados, mas também a diversificar suas capacidades formativas, e curriculares, para atender à demanda da revolução em an- damento. O pensamento burguês aqui se configura como a ciência moderna, um conhecimento fundamentado não mais na contemplação (como era o conhecimento medieval), mas numa racionalidade ativa e transforma- dora que valoriza a técnica e as tecnologias. Serão as ciências modernas que irão compor o conteúdo do conhecimento educacional a partir do século XVII. A educação religiosa continuou existindo, a Companhia de Jesus contava com centenas de colégios es- palhados pelo mundo, mas outros grupos religiosos começaram a se destacar no cenário educacional também. A Congregação do Oratório, por exemplo, teve uma atuação diferenciada, acolheram as ciências modernas, utilizaram a filosofia cartesiana e idiomas nacionais. Outro grupo importante da educação reli- giosa foi o denominado de jansenistas, que tinham na educação um projeto de renovação moral da Igreja. http://sereduc.com/XLeuo0 6 Mas talvez o mais marcante desse período tenha sido o surgimento de iniciativas de organização da edu- cação pública. As primeiras manifestações desse fenômeno que irão se espalhar nos séculos seguintes ocorreu em 1619, no Ducado de Weimar, com a obrigatoriedade da frequência escolar para a faixa etária de 6 a 12 anos de idade. Posteriormente, houve outras manifestações dessa natureza com o incentivo e desenvolvimento do Estado. De maneira geral, o pensamento educacional foi influenciado pelo esforço de compreender a realidade através da razão. Vários filósofos empenharam-se em compreender os fenômenos humanos e de formular modos de melhorar a ação humana no mundo. Entre esses pensadores que irão fundamentar a chamada pedagogia realista destacaram-se o empirista John Locke, Comênio e Fénelon. É com Locke que ganha força o pensamento empirista. Corrente filosófica que tem a procura das respostas para os problemas não só nas teorias, mas, principalmente, nos acontecimentos reais nos quais podemos encontrar evidências o seu grande diferencial. No empirismo, as chamadas percepções sensoriais são levadas em consideração e tidas como fundamen- tais para a compreensão dos fatos; nesta teoria filosófica aprendemos que todo o conhecimento, tudo o que existe em nossa mente, é fruto de contatos sensoriais anteriores. Ou seja, o empirismo entende que tudo o que sabemos, de alguma forma só está em nossa mente por termos em algum momento vivenciado. A prova prática, empírica, é o reforço às perspectivas teóricas, porém, sem aquela, estas não são levadas nem em consideração; teorias de base metafísica, por exemplo, são antagônicas ao empirismo. A chamada pedagogia realista surgiu como consequência de todos os fatores vivenciados ao longo do século XVII, culminou com a construção de práticas pedagógicas envolvendo os conteúdos das ciências modernas que só foram aplicadas diante da articulação em instituições micro e macrossociais (desde a estrutura familiar, passando pelas escolas e chegando até os Estados). o iluminismo e suas relações com a educação Prezado(a) aluno(a), o século XVIII chegou com intensas agitações, sacudido por movimentos de transformações políticas conhecidos como revoluções burguesas, foi palco também de intensas mudan- ças econômicas, sociais, culturais e educacionais. As ideias burguesas já consolidadas passam a se fazer presentes em todas as áreas da vida humana (cultura, educação, alimentação, costumes, crenças, polí- tica, economia, direito, etc.) novos modelos políticos e de ordem social são organizados para garantir os interesses dessa classe e a educação segue esse rumo também, o padrão educacional que surgirá desse momento em diante será tipicamente burguês. leitUra coMPleMentar Sobre as chamadas Revoluções Burguesas, você pode aprofundar seus conhecimentos clicando aqui. Boa leitura! http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=30 7 Fonte: http://sereduc.com/wvO8P2 Nesse contexto a educação rompe quase completamente com a religião, a tendência secularizante (afas- tamento das ideias religiosas da estrutura de pensamento humana que culminará com a separação entre Estado e religião) passa a predominar. A escola torna-se um projeto do Estado, livre do controle das reli- giões, deixando de lado o universalismo religioso e focando no nacionalismo. A orientação prática foi outra característica marcante, o incentivo de voltar o conhecimento para uma formação técnica, deixando de lado o estudo humanístico que visa à formação humana. Um dos principais pensadores dessa tendência educacional foi o marquês de Condorcet que elaborou programas para pro- fissionalização pública e gratuita na França. Contraditoriamente, a aplicação do pensamento educacional burguês não estava tão desenvolvida como o discurso que a fundamentava. A precariedade era bastante comum e envolvia uma fragilidade, em muitos casos, generalizada: conteúdos defasados, ausência de cientificidade, poucas escolas, poucas vagas, professores sem qualificação e mal pagos. Perceba que, ao colocarmos essas questões, parece que falamos sobre a análise da educação nos tempos atuais. Havia uma dualidade na qualidade do serviço educacional: as escolas da burguesia eram diferentes das escolas frequentadas pelo resto da população. A educação continua, no século XVIII, a refletir a domina- ção social, política e cultural de uma classe sobre as demais. No entanto, importantes reformas foram feitas na Alemanha em 1763, ao se instaurar um processo de avaliação para garantir que apenas os estudantes que alcançassemum nível de aprendizagem satisfatório ingressariam na etapa seguinte da formação educacional. Procedimento que adotamos até a atualidade. Se a prática deixou muito a desejar, o pensamento nos forneceu a base necessária para a edificação nas noções fundantes da educação moderna. Veremos agora um pouco mais sobre essa pedagogia moderna do século XVIII. As principais reflexões foram desenvolvidas por pensadores que desenvolveram críticas sobre política e Estado, sendo assim, as principais contribuições foram sobre projetos políticos para a educação, onde temos significativas contribuições com os franceses La Chalotais, o já citado marquês de Condorcet e Le Peletier, cujos projetos influenciaram planos educacionais em diversas regiões do mundo. http://sereduc.com/wvO8P2 8 As grandes reflexões críticas da época ainda estavam muito presas à estrutura política como um todo; a grande briga que ocorria no mundo ainda era sobre quem iria mandar na sociedade. Após a vitória e consolidação da burguesia no poder, as lutas mudaram um pouco: brigas sobre como mandar (ideologias), brigas sobre o dar em troca, da colaboração (direitos sociais), e por fim, como garantir a satisfação social e humana são potencializadas, trazidas à discussão. Um pensador, que apesar de ter contribuído muito para a política educacional, contribuiu muito também para a pedagogia moderna foi o Jean-Jacques Rousseau. Este filósofo político escreveu tratados de filosofia política que influenciaram toda uma era de vida e debate sobre a atuação do Estado, e sua concepção sobre educação está intimamente associada a seus conceitos políticos. Rousseau entendia que o ser humano tinha uma natureza boa e que ao longo da vida era corrompido pelos limites da sociedade, propõe então que para essa situação seja alterada é necessário que se faça um novo contrato social garantindo o interesse de todos. Situa, dessa forma, o povo como o verdadeiro soberano nos rumos que a sociedade deve seguir. O pensamento pedagógico de Rousseau está voltado justamente para o desenvolvimento de práticas que garantam a preservação da natureza humana sem que o caos se instaure. Compreende ensinar a lidar com os próprios desejos, entender a necessidade dos limites e a conquista da autonomia reflexiva. Fonte: http://sereduc.com/3R4qIB Outro pensador que muito contribuiu com a pedagogia moderna da fase iluminista foi o alemão Imma-nuel Kant, fundador da pedagogia idealista. Para o pensador, o conhecimento é fruto de impressões que tira- mos dos eventos que ocorrem ao nosso redor. Além de ser dotado da faculdade de conhecer, o homem, para Kant, é capaz ainda de questionar, criticar e de realizar aquilo que ele chamou de consciência moral. Será a consciência moral que norteará nossas experiências e todo o conhecimento por nós construído será a partir da interiorização dessas vivências. http://sereduc.com/3R4qIB 9 (iMPortante) O agir movido pela moral é, dessa forma, um agir pelo dever e tem por fundamento a autonomia reflexiva e social. A função da educação seria a de desenvolver nos seres humanos o caráter moral que os conduzirá a aprender a pensar por si mesmos, só assim poderão resolver os problemas sociais que já existiam e construir um mundo melhor para todos. O pensamento dos filósofos modernos expressa, de diferentes formas, os ideais burgueses para uma vida social entendida como melhor, sobretudo para os mais abastados que eram quem tinham condições de ter acesso às regalias na vida social. Aos poucos, no entanto, esse estilo de vida começará também a produ- zir problemas sociais e também com a mesma base reflexiva, racional e científica, esses novos desafios serão analisados e, na medida do possível, solucionados. A educação será um dos problemas e uma das soluções mais recorrentes nessa nova ordem social que surge com os princípios burgueses. Modernidade e o sUrGiMento da edUcaçÃo no brasil Palavras do Professor O início da história do Brasil pode ser contado de várias formas, afinal quem descobriu o Brasil? O Brasil foi de fato descoberto? Para dar continuidade aos nossos estudos vamos nos situar na nossa linha de raciocínio: estudaremos o Brasil como o resultado de ações políticas e sociais que permitiram a construção da realidade cultural vivida até os dias atuais no nosso território nacional. Sendo assim, estaremos falando de um Brasil que surgiu a partir da chegada dos portugueses no conti- nente americano, das relações com a cultura indígena e do uso da mão de obra africana em regime de escravidão. O continente americano foi descoberto durante as chamadas grandes navegações, esses eventos só fo- ram possíveis diante do desenvolvimento de novas tecnologias de transporte marítimo. A centralização política de Portugal permitiu unir esforços com uma classe de comerciantes para o desenvolvimento da economia do país através de empreendimentos bastante custosos, como foram as grandes navegações. E assim o Brasil foi descoberto pelos portugueses, como um empreendimento comercial. Inicialmente foi visto como fonte de extração de riquezas naturais ou minerais (pau Brasil e ouro) e em um momento posterior foi tratado como fonte de produção de gêneros agrícolas (cana de açúcar e café) valorizados no mercado internacional. 10 Entretanto, mais que um projeto econômico, o Brasil foi também um projeto de expansão religiosa. Vale destacar que em meados do século XVI e XVII se viviam a Contrarreforma. E como Portugal era um país bastante católico, a atuação da Companhia de Jesus na conquista das almas do novo mundo foi bem forte. A chegada dos jesuítas no Brasil remonta o ano de 1549, logo após a instauração do Governo Geral do Brasil que teve como primeiro governador-geral o Tomé de Sousa, os primeiros jesuítas vieram também montar na cidade de Salvador uma escola. A atuação dos jesuítas no Brasil durou desde a chegada do seu primeiro grupo, liderado por Manuel da Nóbrega, que era padre encarregado por organizar e estruturar o ensino jesuíta no Brasil, numa perspectiva mais política; conceito que perdurou até a expulsão da Compa- nhia de Jesus, em 1759, pelo Marquês de Pombal. Inicialmente os jesuítas usaram uma abordagem superficial, passavam pelas tribos e realizavam batis- mos, trabalhavam um período com catequese que envolvia recursos diversos para atrair a atenção, so- bretudo das crianças (teatro, músicas, poesias e diálogos), e depois partiam para outras tribos. Durante quase todo o século XVI os jesuítas trabalharam seguindo esse modelo. Os principais representantes dessa fase além de Manuel da Nóbrega foram, Aspicueta Navarro (Foi o pri- meiro a aprender o idioma dos índios nativos brasileiros, por isso teve uma importante função no processo de avanço da missão jesuíta para dentro do continente) e o padre José de Anchieta, que teve a missão de organizar uma gramática tupi; ele também desenvolveu várias peças teatrais que mesclavam elementos da cultura indígena e cristã. Fonte: http://sereduc.com/1YqiUp Após a fixação dos jesuítas no Brasil, percebeu-se que o modelo usado até então não obtinha bons re- sultados. Muitos índios voltavam a praticar suas crenças, dessa forma, optou-se pela utilização de uma estratégia diferente que envolvesse, inclusive, menos risco. http://sereduc.com/1YqiUp 11 A consolidação das missões tinha como objetivo, além de uma ação duradoura e com continuidade, pre- servar os índios dos colonos ávidos por escravos, missões tiveram um caráter educacional diferenciado, tinham como finalidade civilizar os índios, que na visão dos europeus viviam num estado de pureza (sem lei, sem rei e sem fé). Caberia aos jesuítas despertarem a verdadeira vocação dos seres humanos que era viver de forma civilizada, com horários apropriados para as diferentes atividades da vida, com forma de organização social monogâmica, hábitos alimentares e de higiene apropriados de acordo com os costu- mes europeus. Paralelo à educação de catequese indígena nas missões, osjesuítas desenvolveram outro projeto educa- cional, voltado para os filhos dos colonos. O projeto educacional de catequese sobre os índios tinha uma função pacificadora, já o direcionado para a educação dos colonos tinha um caráter mais voltado para a conservação e expansão da fé cristã, por isso era focada na mulher e nas crianças. A estrutura educacional escolar jesuíta possuía três cursos após o aprendizado da leitura, escrita e da matemática, eram eles: as letras humanas; filosofia e ciência; e teologia e ciências sagradas. Após essa fase, havia as opções de seguir carreira religiosa e ter uma formação sacerdotal ou continuar estudando as chamadas profissões liberais (direito, filosofia ou medicina), em alguma universidade euro- peia, provavelmente a de Coimbra. A virada do século XVII para o XVIII foi recheada de novidades, há o desenvolvimento de tímidos, mas já presentes, centros urbanos. Apesar da maioria dos povoados portugueses no Brasil terem um caráter rural, as vilas já mostram sinais de vitalidade. O desenvolvimento dos centros urbanos será fundamental para o desenvolvimento da educação no Brasil, uma vez que, junto com a dinâmica comercial da vida nas cidades, também virão às tendências e expec- tativas culturais de uma burguesia que passara a surgir, pela primeira vez, no Brasil. Fonte: http://sereduc.com/EcM3QK http://sereduc.com/EcM3QK 12 A educação ainda tinha pouco espaço diante das atividades produtivas rurais e o controle por parte dos jesuítas não abria espaço para iniciativas inovadoras. As mulheres e os africanos (escravos) eram im- possibilitados de estudar, apenas os curumins (crianças indígenas) e os filhos dos senhores de engenhos tinham espaço no mundo educacional jesuíta da colônia (não, é claro, no mesmo lugar). Comerciante - Fonte: http://sereduc.com/5SKAOq Mas os ventos do pensamento iluministas começaram a soprar e chegaram aos poucos nos trópicos latino americanos. A educação começa a ser valorizada e, com isso, passa a despertar o interesse de outros grupos, como o formado pelos mestiços, que a esta altura já eram numerosos, sendo tratados por alguns autores como os primeiros brasileiros de fato. Como não se vivia só de agricultura na Terra de Santa Cruz (primeiro nome atribuído ao Brasil), foram surgindo também algumas escolas-oficinas, que ensinavam tanto escravos como homens livres. dica Entretanto, só podemos falar de uma presença marcante mesmo do iluminismo no Bra- sil, ou mesmo em Portugal, com as reformas executadas pelo marquês de Pombal no século XVIII. A Europa vivia em luta contra o absolutismo monárquico que ainda sobrevivia em Portugal, burgueses já haviam tomado o poder em vários países (a exemplo da Revolução Gloriosa na Inglaterra, da Revolução Francesa e da Independência Americana) e, como a economia havia mudado nos últimos dois séculos, o mercantilismo não mais estava sustentando a estabilidade econômica de Portugal. Nesse período o Brasil vivia um deslocamento no eixo econômico das regiões produtoras de cana-de- -açúcar para a região das minas de ouro no Sudeste. Apesar da mudança de polo financeiro, a estrutura social e cultural permaneceu a mesma, escravocrata. Houve, entretanto, um desenvolvimento urbano maior no século XVIII e o surgimento de uma burguesia brasileira ligada com os ideais burgueses do resto do mundo. http://sereduc.com/5SKAOq 13 O marquês de Pombal instaurou uma série de reformas estruturais em Portugal, uma delas que obteve es- pecial destaque em todo o mundo, foi a reestruturação da educação, onde o primeiro passo foi a expulsão da Companhia de Jesus de toda a extensão de domínio português. Logo após a expulsão dos jesuítas, houve um intervalo de ausência de opções educacionais, uma vez que todas as escolas eram controladas pela Companhia de Jesus. A instauração do modelo pombalino de educação, completamente controlado pelo Estado, passou por duas fases: a primeira estava relacionada com a organização dos estudos menores (correspondendo ao ensino fundamental e médio) e, em um segundo momento, o desenvolvimento de um melhoramento dos estudos maiores (ensino superior, sobretudo na Universidade de Coimbra). Assim, prezado(a) estudante, com esta breve explanação sobre o momento da primeira grande mudança estrutural nos modelos educacionais do Brasil, a partir das atividades do marquês de Pombal, terminamos nossa terceira unidade. Porém, não se esqueça que ainda temos pela frente mais uma última unidade, a qual nos aprofundaremos um pouco mais nesses temas. Palavras do Professor Com isso, finalizamos nossa terceira unidade, espero que tenha gostado. Na próxima unidade traba- lharemos o século XIX e XX, que também promoveram grandes mudanças na sociedade, na política, na economia e também na educação. Nesse ponto em que chegamos, um estudante atento como você já deve ter começado a entender a dinâmica e os fatores que influenciam o processo de transformação das práticas educacionais. Essa compreensão será fundamental para você ser um profissional crítico e capaz de desenvolver refle- xões conjunturais precisas sobre a educação, que tanto precisa se ajustar às mudanças que chegam. Destacamos ainda que este guia faz parte de outras fontes de estudos, como o livro-texto da disciplina, do caderno de exercícios para fixação do conhecimento e do fórum de discussões. Utilizar todos os materiais vai permitir a você um aproveitamento ainda maior sobre os assuntos e reflexões, que foram preparados atentamente para o seu amadurecimento intelectual e profissional. Bons estudos e até a próxima unidade!
Compartilhar