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A VIAGEM 5. rOTEIRO DE AULA E SÍNTESE PARA ESTUDO.

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A VIAGEM - V ESTAÇÃO
(Ou Filosofia Geral e Jurídica -I Estágio)
Prof.ª' Ms. Maria das Neves Franca - 2018.1
Período socrático, ou antropológico
Final do século V e todo o século IV a.C.
Quando a Filosofia investiga as questões humanas, isto é, a ética, a política e as técnicas (em grego ântropos quer dizer homem, por isso o período recebeu o nome de antropológico). Coincide com a última fase da filosofia naturalista e a sua dissolução e tem como protagonistas os Sofistas e, sobretudo, Sócrates, que pela primeira vez procura determinar a essência do homem.
Período que coincide com a passagem da aristocracia para a democracia na Grécia do século V. Maior florescimento da democracia e perda do poder dos aristocratas.
Coexistência de dois partidos políticos:
Aristocráticos – Concebiam a vida política a partir de laços de sangue, parentesco e, por esta razão, julgavam usos e costumes, valores e idéias como naturais, instituídos por natureza, absolutos, perenes e superiores ao nomos.
Democráticos – Defendido pelos sofistas. Os costumes e as leis não escritas não são considerados naturais: são nomos, são por convenção e, portanto, relativos a cada sociedade. 
O que vamos examinar nesta aula: 
1. Os sofistas
2. Sócrates
OS SOFISTAS
 IDÉIAS A RETER
Aspectos fundamentais da sofística:
Humanismo – Relativismo - Imoralismo
Percebem a discordância radical entre experiência e razão 
Duvidam da pretensão da filosofia de conhecer a verdade última das coisas
Introduzem o ardor pela dialética e pela retórica
RETÓRICA – arte de persuadir através dos logói, razão, argumentos e definição das coisas tal como elas aparecem e nos serão úteis. Parte da opinião e nos ensina a persuadir os outros de que a nossa opinião é a melhor. Para a persuasão se realizar precisa da DIALÉTICA , ou seja, do confronto de argumentos contrários. 
 A RETÓRICA - ARTE DA PERSUASÃO, PRECISA DA DIALÉTICA - ARTE DA DISCUSSÃO. 
Estabelecem a diferença entre physis e nomos . PHYSIS – Natureza, cuja ordem independe da vontade humana. NOMOS – convenção, que depende de uma vontade humana. O que é acordado por um grupo e que se torna lei para esse grupo. NOMOS deriva de NOMÒS, divisão do território em distritos e regiões, “aquilo que é distribuído em uma partilha”, “aquilo de que se faz uso” . Nomos passa a significar USOS, COSTUMES, O COSTUME COM FORÇA DE LEI ou a LEI NÃO ESCRITA, COSTUMEIRA. 
Relativizam a justiça
Com os SOFISTAS (de SOPHOS, sábios – 450-400 A C) a filosofia se volta para o homem que conhece e o valor do seu conhecimento. Para os Sofistas, se a verdade é um conhecimento que não pode ser desmentido, então o conhecimento da realidade não pode se tornar verdade porque esta se encontra em conflito consigo mesma. Eles se apresentavam como “professores de sabedoria” e ensinavam, por dinheiro, aos jovens abastados. Diziam que para ser bem sucedido na vida é preciso satisfazer os desejos; para isso, é preciso um máximo de riqueza; mas, a riqueza somente não basta. É preciso poder sobre os outros e, sendo assim, faz-se necessário convencer os outros a lhe confiar o poder. Portanto, é necessário aprender a arte de falar bem, a RETÓRICA. O importante é saber convencer. Os Sofistas diziam ainda que os valores morais são invenções dos fracos, que por não terem força para resistir às agressões dos fortes, imaginam uma solução para dominá-los: educa-os. Para eles não há bem nem mal absoluto, apenas interesses entre fortes e fracos. De maneira sucinta podemos dizer que três aspectos caracterizam o pensamento sofista: humanismo – valorização da percepção sensorial, “o homem é a medida de todas as coisas”; relativismo – isto é, o conhecimento depende das circunstâncias; e imoralismo , ou seja, negação dos valores morais. 
No regime democrático que vigorava em Atenas, o exercício da política dependia do bom uso da palavra e os sofistas foram mestres da arte de falar bem. Platão via, no ensino dos sofistas, um perigo para a cidade, pois a retórica sofística era, para ele, apenas uma técnica de persuasão. O bom orador, segundo os sofistas, é aquele que sabe persuadir qualquer um de qualquer coisa. Para Platão, aquele que realmente sabe não pode persuadir do contrário; o sofista nega que exista a verdade, ou pelo menos a possibilidade de acesso a ela. Para os sofistas só existem opiniões: boas e más, melhores e piores, úteis ou prejudiciais, mas jamais falsas e verdadeiras. 
Os sofistas abandonam a verdade para alcançar o poder sobre as coisas e utilizam a linguagem como técnica de persuasão para obtenção de fins. Górgias, um sofista, dirá que a razão tem um caráter antinômico e contraditório e que “o homem é a medida de todas as coisas”. Não existe, para ele, uma verdade absoluta e válida para todos. A verdade é a experiência de cada um, é o conjunto de fenômenos e das coisas que se manifestam a cada homem. Exemplo: Se a comida parece amarga para o doente, é amarga; se parece doce para o saudável é doce. O sofista não é o sábio que tem a verdade, porque todas as experiências são verdadeiras. Radicalizando ainda mais os resultados alcançados pela filosofia, Górgias dirá: “Nada existe; se existe é incognoscível; se é cognoscível não é comunicável.” Com isto ele quer dizer: Nada existe - isto é, a antinomia razão e experiência é inultrapassável. Se existe é incognoscível - Com base na razão não se pode afirmar a verdade da experiência. A vista não pode afirmar a verdade do ouvido; uma percepção visual não pode afirmar a verdade de uma percepção auditiva. Se é cognoscível, não é comunicável – A verdade não pode ser comunicada porque a linguagem é diferente das coisas. 
Górgias aponta ainda para o caráter antitético da vida e do conhecimento: a verdade é inútil porque nas decisões humanas entra a preferência. Sábio não é o que escolhe o verdadeiramente bom ou justo, mas o mais oportuno em determinada situação. A escolha é determinada pelos instintos e pela força. Justiça é, segundo eles, o domínio dos fortes sobre os fracos.
 A crítica de Platão aos sofistas pode ser melhor compreendida considerando a diferença que ele estabelece entre os sofistas e Sócrates:
O sofista é um professor ambulante. Sócrates é alguém ligado aos destinos da sua cidade, tanto que mesmo condenado à morte recusa-se a fugir, acatando a decisão dos seus concidadãos.
O sofista cobra para ensinar. Para Sócrates, filosofar não é profissão, é a atividade do homem livre. 
O sofista “sabe tudo”. Para persuadir alguém de qualquer coisa é preciso saber tudo, mas saber tudo é impossível, logo, o saber sofístico é somente uma aparência, a retórica dos sofistas é a arte do engodo e o sofista, segundo Platão, é um grande charlatão. Sócrates, ao contrário, afirma nada saber e colocando-se no nível do seu interlocutor, dirige uma aventura dialética em busca da verdade, que está no interior de cada um.
O sofista faz retórica. Sócrates faz dialética. Na retórica o ouvinte é persuadido por uma enxurrada de palavras que não transmitem conhecimento algum. Na dialética, que trabalha com perguntas e respostas, a pesquisa procede passo a passo e não é possível ir adiante sem deixar esclarecido o que ficou para trás. 
O sofista refuta por refutar, para ganhar a disputa verbal. Sócrates refuta para purificar a alma de sua ignorância. 
A justiça – Com os sofistas a justiça é relativizada. De acordo com a tradição literária e filosofica grega, a natureza faria com que as leis fossem idênticas em toda parte. Mas não é assim que pensam os sofistas. Segundo eles, a lei natural (physis) é diferente da lei artificial (nomos), cujo conteúdo é deliberado pelos homens, cabendo a estes definir o justo e o injusto. Se o que é justo é o que está na lei e se a lei é convencionada pelos homens a justiça é relativa, o que é justo hoje pode não ser amanhã. A justiça, como nos diz Trasímaco em A República (ver Livro I) é a vantagem do mais forte. 
Sócrates
 IDÉIAS A RETER
Filho da parteira Fenarete e do escultor Sofronisco.
Pelo menos por razões antropológicas,intelectuais e morais provoca uma verdadeira revolução na história da filosofia.
Rebela-se contra o saber dos naturalistas que se revelava vão.
Rebela-se contra o saber dos sofistas que se revelava presunção
Concentra seu pensamento na problemática do homem; para ele, o saber fundamental é o saber a respeito do homem
Esse saber é um conhecimento universalmente válido, antes de tudo é um conhecimento moral e
 é um conhecimento prático: conhecer para agir corretamente.
Seu pensamento é expresso nos diálogos de Platão.
Elabora uma ética racionalista e teleológica, concebendo a felicidade como fim da ação. O homem age bem quando conhece o bem. Conhecendo o bem é feliz porque é dono de si mesmo.
Lema do seu filosofar: “Conhece-te a ti mesmo”
Método socrático: Protréptico e elenkhos (Ironia e maiêutica)
 PROTRÉPTICO – exortação, convite para o interlocutor encontrar a verdade. 
 ELENKHOS – indagação. O elenkhos se divide em duas partes:
 A IRONIA - Refutação com a finalidade de quebrar os preconceitos. Feita a pergunta, Sócrates comenta as várias respostas mostrando que são preconceitos recebidos, imagens sensoriais, opiniões subjetivas e não a definição buscada.Fingindo que não sabia de nada, Sócrates forçava as pessoas a usar a razão. A ironia destrói o saber constituído.
 A MAIÊUTICA – O termo se refere a arte de realizar um parto; no caso seria o parto da idéia verdadeira, a reconstrução em busca de conceitos. Fazia perguntas como se nada soubesse até levar o interlocutor a reconhecer a fragilidade de suas próprias reflexões. A capacidade de dar à luz é natural, assim as pessoas podem usar a razão e trazer para fora o verdadeiro conhecimento que está dentro de si. 
Opõe-se á idéia de que a justiça é expressão dos mais fortes. 
Exatamente porque a crítica dos sofistas à verdade se torna radical, Sócrates estabelece uma relação positiva com a verdade. Ele afirma não saber: “Só sei que nada sei”. Com isto ele quer dizer que nada ao seu redor lhe permite saber: nem leis, nem hábitos sociais, nem crenças religiosas, nem princípios morais, nem doutrinas filosóficas. Isto porque, para ele, o saber é a verdade e esses conhecimentos, quando são examinados se revelam gratuitos, afirmados e praticados sem que se saiba por quê , ou então se revelam contraditórios, acabam negando o que afirmam. Declarar não saber significa que nenhuma das convicções humanas que se conhece se apresenta como verdade. Sócrates sabe que não sabe; os outros, não. Sabe que a sociedade e a cultura não correspondem à idéia de verdade que os primeiros pensadores haviam revelado. Saber que nada sabe é ter presente a idéia de verdade e estar na verdade. A verdade nasce num plano diferente, quando nos damos conta de não possuí-la: a verdade é a verdade da crítica. É uma verdade pobre, mas que se dispõe a se tornar rica, no sentido de se lançar à procura do verdadeiro saber que se sabe não possuir. Sócrates defende a reflexão livre, independente da autoridade e da tradição. Procurava o CONCEITO, a definição daquilo que uma coisa, um valor, ou uma idéia verdadeiramente é. A OPINIÃO é instável, varia, depende de gostos e preferências. Os sofistas aceitavam a validade das opiniões e trabalhavam com elas para produzir argumentos. A diferença entre eles e Sócrates é que para este último as percepções do sentido são fonte de erro e falsidade. A verdade está em nós mesmos, na dimensão da consciência. Conhecer é passar da aparência a essência, da opinião ao conceito, do ponto de vista individual à idéia universal de cada um dos seres e de cada um dos valores da vida social e política.
	Toda a vida de Sócrates foi dedicada à procura desse saber do qual ele se sabia destituído. Ele estabeleceu condições fundamentais para que o pensamento filosófico pudesse se colocar no bom caminho para o encontrar. Em primeiro lugar, a verdade não pode nos ser transmitida por outros, ou vir do exterior. Já Górgias havia demonstrado a incapacidade da linguagem para revelar e transmitir aquilo de que ela fala. Sócrates aceita esta crítica e leva-a mais longe. Ele adverte a seus interlocutores que nada tem a ensinar. Se eles anseiam por descobrir a verdade é porque a têm em si e são, portanto, eles mesmos a gerá-la: ele apenas os pode ajudar nesta geração, repetindo com eles o mesmo que a sua mãe, parteira, fazia com as parturientes. A MAIÊUTICA (que significa, ao pé da letra, arte da obstetrícia) é o modo como Sócrates se relaciona com quem não está ainda na verdade. A eles pergunta o significado e a justificação daquilo que ele crê saber. Mas o interlocutor, que exprime uma vez após outra, as várias instâncias da cultura e da sociedade do seu tempo, acaba por não saber responder, porque Sócrates exige dele uma resposta que não possa ser contraditada e, muitas vezes é a própria resposta que se encontra em contradição consigo mesma. Sócrates questiona a verdade das convicções do seu interlocutor. E a verdade nasce deste último precisamente quando se dá conta de que todo o saber que pensava possuir não tem qualquer verdade – quando, portanto, atinge o ponto de saber que nada sabe. Este saber, ou reconhecimento, somos exatamente nós que o devemos realizar: a verdade apenas existe para nós quando a reconhecemos e este reconhecimento não pode outra pessoa efetuá-lo em nosso lugar, do mesmo modo que não nos pode ser ensinado ou transmitido. 
	A tese de Górgias da incomunicabilidade da verdade serve a Sócrates não para demonstrar que a verdade está ausente do homem, mas para afirmar que a verdade reside numa dimensão exterior da linguagem e do ensino. Essa dimensão somos nós mesmos, enquanto consciência. Nesse sentido, Sócrates reconhece o valor essencial do convite inscrito no frontão do templo de Delfos: “Conhece-te a ti mesmo”. 
Vale dizer, ainda, que com Sócrates se estabelece uma verdadeira revolução na história da filosofia, pelo menos por três razões:
Razões antropológicas – A origem do cosmos deixa de ser uma das questões mais importantes. A sua preocupação é o homem, sobretudo do ponto de vista político e moral.
Razões intelectuais – Claramente se dá importância ao papel desempenhado pela razão, já que no homem esta é indispensável na busca da verdade.
Razões morais – Coloca a ética em primeiro lugar. Os conceitos de verdade que o homem deve tentar alcançar - para alcançar a sabedoria – são essencialmente morais. Assim, acredita que a bondade depende da sabedoria. 
 A justiça - Contra a idéia da correspondência da lei com os designios divinos, os sofistas ressaltaram o caráter meramente convencional, humano da lei. Sócrates recusava tanto a concepção tradicional que hauria da mitologia de Themis e Diké uma espécie de direito religioso como a concepção sofista do caráter meramente convencional das normas. Ele não aceitava o direito como expressão de um mundo intermediado pela religião, mas também não aceitava resvalar pelo caráter meramente convencional da lei e da justiça. Para ele o justo não é uma imposição do mais forte, nem da maioria, nem de alguns contra os outros, mas antes uma busca efetuada pela razão.

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