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Elaboração de Laudos Psicológicos Um guia descomplicado é* M Éf <^>Vetoreditora Elaboração de Laudos Psicológicos Um guia descomplicado Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Pessoa, Rockson Costa Elaboração de laudos psicológicos : um guia descomplicado / Rockson Costa Pessoa. - 1. ed. - São Paulo : Vetor, 2016. 1. Laudos psicológicos - Elaboração I. Título. 16-00023 CDD-150.287 índices para catálogo sistemático: 1. Laudos psicológicos : Elaboração : Psicologia 150.287 150.287 ISBN:978-85-7585-834-9 CEO - Diretor Executivo: Ricardo Mattos Gerente de Livros: Fábio Camilo Diagramação e capa: Rodrigo Ferreira de Oliveira Revisão: Márcia Nunes © 2016 - Vetor Editora Psico-Pedagógica Ltda. É proibida a reprodução total ou parcial desta publicação, por qualquer meio existente e para qualquer finalidade, sem autorização por escrito dos editores. SUMáRIO Prefácio 9 Apresentação 11 1 Laudo e interseções 13 A importância do laudo psicológico 14 O respaldo técnico do laudo 15 A possibilidade do diagnóstico 15 2 Aspectos importantes relacionados ao laudo 17 Parecer versus laudo psicológico 18 3 A estrutura do laudo psicológico 21 Modelos de laudos inadequados 23 4 Três distintos solicitantes: o início do laudo 29 Personagem1: sra. Beatriz e a queixa de memória 29 Personagem 2:A impulsividade do jovem Rubem 30 Personagem 3: A tristeza do sr. Firmino 31 5 Identificação 33 Identificação-Caso clínico1 34 Identificação-Caso clínico 2 34 Identificação-Caso clínico 3 34 6 Descrição de demanda 37 Sobre a queixa ou demanda 38 Entrevista clínica k 38 Anamnese 39 Observação do comportamento 39 Rapport , 40 Informe do teste a ser utilizado 42 Descrição de demanda-Caso clínico1 42 Descrição de demanda-Caso clínico 2, Descrição de demanda-Caso clínico 3, 7 Procedimento 47 Procedimento-Caso clínico 1 48 Procedimento-Caso clínico 2 48 Procedimento-Caso clínico 3 49 ^ CO 8 Análise 51 Análise-Caso clínico1 52 Análise - Caso clínico 2 52 Análise - Caso clínico 3 53 9 Conclusão dos casos 55 Conclusão - Caso clínico1 57 Conclusão - Caso clínico 2 58 Conclusão - Caso clínico 3 59 10 Modelos de laudo 61 Laudo psicológico - Caso clínico 1 61 Laudo psicológico - Caso clínico 2 64 Laudo psicológico - Caso clínico 3 67 11 Aspectos éticos, devolutiva e guarda do laudo 71 Considerações 75 Referências 77 Com amor a Bernardo, Klicyane, João, Maud, Alexandra, Robson, Alda e Francisco... Nomes que compõem meu universo. Nem sempre sou igual no que digo e escrevo. Mudo, mas não mudo muito. A cor das flores não é a mesma ao sol De que quando uma nuvem passa Ou quando entra a noite E as flores são cor da sombra. Mas quem olha bem vê que são as mesmas flores. Por isso quando pareço não concordar comigo, Reparem bem para mim: Se estava virado para a direita, Voltei-me agora para a esquerda, Mas sou sempre eu, assente sobre os mesmos pés - O mesmo sempre, graças ao céu e à terra E aos meus olhos e ouvidos atentos E à minha clara simplicidade de alma... Fernando Pessoa (O guardador de rebanhos, 1918) PREFáCIO A elaboração correta e adequada de laudos e pareceres psicológicos é tarefa exclusiva do profissional de Psicologia. A análise e a síntese de um psicodiagnóstico têm como pilar o raciocínio clinico do profissional, que o realiza, eo conhecimento referente às teorias eàs técnicas psicológicas utilizadas na avaliação. A publicação deste livro preenche lacunas das referências científicas de orientação para estudantes de Psicologia e também para psicólogos. Seu grande mérito é simplificar e unificar conhecimentos teóricos e téc¬ nicos com a prática em Psicologia, na busca da atuação coerente e eficaz, sendo auxílio para professores da área e ponto de referência para alunos de Psicologia. O estudo do psicólogo mestre Rockson Pessoa originou-se de sua ativi¬ dade como professor do curso de Psicologia da Faculdade Metropolitana de Manaus (Fametro) e desenvolveu-se na elaboração de sua dissertação de mestrado para obtenção do grau de mestre em Psicologia pela Uni¬ versidade Federal do Amazonas (Ufam). Na certeza de que este livro contribui como instrumental técnico e prático para o dia a dia de alunos e profissionais da Psicologia, parabenizo o professor Rockson por sua iniciativa e contribuição à Psicologia. Profa. Ms. Niura Luci Schuch 9 APRESENTAçãO O aspecto mais relevante deste livro é sua simplicidade. De fato, ambicionou-se, do início ao fim desta obra, elaborar um guia de fácil compreensão e que, acima de tudo, pudesse ser útil para a prática pro¬ fissional em Psicologia. Um livro técnico dedicado aos estudantes, psicó¬ logos recém-formados, que ainda apresentam certos temores e anseios relacionados à prática clínica, professores de Psicologia e profissionais dos mais diversos campos psicológicos. Esta obra é dividida em quatro grandes blocos. O primeiro refere-se a uma breve, porém pertinente discussão, acerca do laudo psicológico e suas particularidades, potencialidades e aspectos estruturais relevantes para a prática psicológica. O segundo aspecto compreende o objetivo primordial deste livro e envolve a elaboração de cada elemento que compõe um laudo psicológico, esquematizando e conceituando cada item pelo emprego de casos clínicos fictícios no intuito de “ diagramar” cada etapa, que deve ser considerada para a realização de um relatório psicológico. A terceira questão discutida nesta obra são os aspectos éticos e pro¬ cedimentais pertinentes à entrega do laudo para os indivíduos solicitan¬ tes e profissionais dos mais diversos campos, bem como a guarda desse documento. No quarto e último bloco, debate-se sobre a necessidade de se ajuizar uma formação adequada, com o propósito de edificar um profissional de Psicologia habilitado e com afinidade e domínio de determinados tópicos da ciência psicológica. Essa discussão dá-se em todo o livro, uma vez que nãose pode conceber uma prática eficaz sem a reflexão adequada sobre a formação profissional, pois é da prática da leitura que desenvolvemos o pensamento crítico econcretizamos os primeiros esboços de uma escrita que culminará em relatório psicológico. 11 1 LAUDO E INTERSEçõES O bom profissional de Psicologia é um exímio leitor, pois o cliente ou paciente nada mais é que uma história ambulante. E muito mais que ler, o exímio leitor domina a interpretação, o que, na prática clínica, se revela pela capacidade de enxergar além da queixa. Infelizmente o hábito de leitura é uma das competências menos observadas nos alunos, tanto de Psicologia quanto dos demais cursos de ensino superior. O exímio leitor tem facilidade na escrita pela familiaridade com as palavras e habilidade na elaboração de ideias. Tal qual o entusiasta que busca compreender o mundo, o profissional de Psicologia aventura-se emdesvelar os fenômenos comuns ao universo humano e somente alcança tal objetivo pelo domínio das teorias e técnicas psicológicas. Por esse motivo, muito da dificuldade em elaborar o laudo e demais documentos psicológicos está relacionada ao deficiente comportamen¬ to de leitura e consequentemente inabilidade em aplicar determinado conhecimento teórico de determinada abordagem psicológica. Logo, é necessário avaliar tal deficiência a fim de superá-la. O aprendizado das técnicas do exame psicológico desconexo e pontual não garante essencialmente o estabelecimento das aptidões imprescin¬ díveis, a expressão de habilidades como a conclusão de indicativos e a elaboração de laudos psicológicos (GUZZO, 2001). O laudo psicológico está relacionado à função diagnóstica das técnicas de exame psicológico, de tal forma que seus limites e possibilidades são reflexo do domínio teórico e operacional do profissional de Psicologia( CRUZ, 2002). A elaboração de um laudo não é algo fortuito, uma vez que evidencia a qualidade da formação do discente. O instrumento primordial para a realização de um exame psicológico e, consequentemente, de um laudo 13 Rockson Costa Pessoa adequado não é nenhuma técnica psicológica, mas sim o próprio profis¬ sional psicólogo (CRUZ, 2002). Não obstante ao percurso acadêmico, vale destacar outro ponto de análise, aquele relacionadoao fato do laudo psicológico ser alvo de críticas por algumas questões. Alguns fenômenos são frequentemente arrolados quando se busca pro- blematizar sobre o laudo psicológico em sua total essência. A necessidade de construí-lo, a sua relevância e o impacto de sua entrega são alguns dos muitos pontosquecomumentesão discutidosnocampopsicológico, por isso é importante problematizá-losantesde aprofundaradiscussãosobre laudos. A importância do laudo psicológico A elaboração de documentos psicológicos é mais uma das muitas res¬ ponsabilidades dos psicólogos, e o laudo psicológicoé um desses documen¬ tos. Entre esses documentos, o laudo é o mais complexo (HENRIQUE; ALCHIERI, 2011; CFR 2005; CFR 2003) e pode ser considerado uma demonstração da competência profissional (GUZZO, 2001). É pertinente oresgate daetimologiadapalavra laudo, que temsuaorigem no verbo latino laudo, laudare, que significaelogiar, enaltecer, exaltar. De lau- dare, dimanam louvar, emportuguês; lodare, em italiano; louer, em francês, e os contornos discordantes loar e laudar, em espanhol (REZENDE, 2010). O laudo em sua aproximação do termo “ louvar” expressa a destreza técnica de um profissional especializado em aferir ou informar sobre determinado fenômeno. Na Psicologia, ao investigarmos os fenômenos psicológicos nos é garantida a função de elaboração dos laudos e demais documentos psicológicos, uma vez que nos é assegurado pela classificação brasileira de ocupações tal oficio (BRASIL, 2002). Arelevânciae a eficácia do laudo psicológico estão determinadas não tão somente peladestreza técnicade quemelaboratal documento, mas também por aspectospolíticose ideológicos da própria Psicologia. O que exphcaapre¬ terição sofrida por algumascorrentes, que desconsideram sua legitimidade. Entretanto, independentemente da forma de como é concebido, o laudo é um instrumento que legitima a prática eficaz do profissional de Psicologia. Uma possibilidade de resposta ao questionamento relacionado à ne¬ cessidade de se confeccionar um laudo psicológico é afirmar que eles são elaborados de acordo com a atuação coerente do profissional psicólogo e, 14 ELABORAÇÃO DE LAUDOS PSICOLÓGICOS - UM GUIA DESCOMPLICADO por último e não menos importante, laudos são produzidos pelo respeito à pessoa do paciente ou cliente que nos solicita atendimento. O respaldo técnico do laudo Outro ponto que deve ser observado é o relacionado ao emprego de instrumentos psicológicos. Em uma de suas possibilidades de análise, o laudo psicológico deve representar o consenso sobre determinado aspecto do sujeito que solicita intervenção, desse modo, tal conformidade se ex¬ pressaria pelo emprego de testes projetivos ou psicométricos (CFR 2003). Segundo a Resolução n. 007/2003, do Conselho Federal de Psicologia (CFP), que institui o Manual de Elaboração de Documentos Escritos produzidos pelo psicólogo, decorrentes de avaliação psicológica, e revoga a Resolução CFP 17/2002, adverte em artigo 3o e parágrafo único que: Toda e qualquer comunicação por escrito decorrente de avaliação psicológica deverá seguir as diretrizes descritas neste manual. A não observância da presente norma constitui falta ético-disciplinar, passível de capitulação nos dispositivos referentes ao exercício profissional do Código de Ética Profissional do Psicólogo, sem prejuízo de outros que possam ser arguidos (CPF, 2003, p. 11). Ponderar sobre um laudo que não emprega formas de mensuração, usualmente sinaliza um laudo inconsistente. Na máxima de que o “ olhô- metro” não é parâmetro algum para a prática psicológica, o laudo, para ter relevância, deve estar alinhado aos instrumentos psicológicos. Por esse motivo, o uso de instrumentos e a consequentemente apro¬ priação de seus resultados para a confecção de documentos psicológicos representam a maneira mais segura de se caucionar o encaminhamento de um paciente para outros profissionais e de assegurar um resultado adequado aos solicitantes. A possibilidade do diagnóstico O último ponto é o relacionado à repercussão do laudo elaborado. Sendo uma das críticas mais rotineiras a afirmação de que o laudo pode contribuir para a construção de rótulos a ponto de reduzir o indivíduo a uma dificuldade, patologia ou transtorno. 15 Rockson Costa Pessoa Nocampodaavaliação psicológica, essa crítica é consistente por muitos considerarem que a avaliação em si é uma maneira de rotular pessoas (ALVES, 2009). Infelizmente muitos profissionais psicólogos, de maneira inadvertida, concebem o diagnóstico como rótulo e isso é inaceitável. O termo de diagnóstico tem origem na palavra grega diagnostikós, que significa discernimento, faculdade de conhecer, de ver através de. Na atualidade é visto como o estudo qualificado que tem por objetivo reco¬ nhecer determinado fenômeno com base no conjunto de procedimentos teóricos, técnicos e metodológicos (ARAÚJO, 2007). O diagnóstico, dessa forma, não pode ser encarado como certeza ab¬ soluta ou pré-fabricada, mas sim como hipótese estabelecida com base na realidade objetiva e/ou subjetiva que nos é apresentada, uma vez que ela é avaliada à luz de um aporte teórico (DAVOGLIO, 2011). Há apenas uma possibilidade de se observar o rótulo. Na elaboração de um diagnóstico inadequado, o que prejudicaria o paciente em vez de ajudá-lo (ARAÚJO, 2007). Aoseatribuir ao sujeito uma condição inexistente, ficaria caracterizado um rótulo e aqui a distinção é clara. O diagnóstico é um parâmetro. Uma formadeestabelecerasfronteirasdofenômenopara,a partir disso, permitir um prognóstico e até mesmo estratégias interventivas quando admissíveis. Naelaboraçãode um laudo, realiza-se,dealguma maneira, um diagnós¬ tico, pois é de sua natureza suscitar conhecimento especializado (CRUZ, 2002). Por mais que nem todo laudo resulte em diagnóstico, a maioria dos diagnósticos está relacionada à elaboração de um laudo psicológico, uma vez que uma de suas finalidades é informá-lo (CFR 2003). Ajuizar de modo coerente acerca do diagnóstico e suas possibilidades é indiscutivelmente uma das maneiras de compreender a relevância do laudo psicológico e sua tessitura na prática do profissional de Psicologia. Em linhas gerais, sempre haverá impacto com a repercussão de um laudo psicológico, o que se espera é que ela seja positiva, independente¬ mente da necessidade de informar sobre um diagnóstico faceà apreciação do sujeito de maneira holística. Os profissionais psicólogos devem ser preparados de modo adequado em relação à metodologia e à literatura necessárias para a elaboração de um laudo psicológico, para que saibam analisar e interpretar os dados obtidos na avaliação e posterior construção do relatório psicológico, de modo que reflitam as consequências dos resultados que podem produzir (HUTZ, 2009). 16 2 ASPECTOS IMPORTANTES RELACIONADOS AO LAUDO Há alguns anos, os Conselhos Regionais de Psicologia e até mesmo o Conselho Federal, preocupados com o alto índice de denúncias contra psicólogos, muitas delas relacionadasàerrónea elaboração de laudos psi¬ cológicos, têm reforçado que o profissional de Psicologia seja cauteloso na elaboração de quaisquer documentos psicológicos. Entretanto, conforme salientado por Henrique e Alchieri (2011), ainda assim novas denúncias se avolumam nesses órgãos pela inobservância de preceitos técnicos. Em um estudo recente, Noronha colaboradores (2013) constataram que o ensino da avaliação psicológica no Brasil dá maisênfase ao ensino das técnicas de avaliação e, em contrapartida, menos importância ao ensino da elaboração de documentos psicológicos. Esses dados ajudam a explicar o cenário atual, em que alunos finalistas do curso de Psicologia eaté mesmo profissionais demonstram inabilidade em elaborar laudos psicológicos. O CFP instituiu um Manual de Elaboração de Documentos Escritos, em que o psicólogo, na confecção dos documentos, deve adotar como princípios norteadores as técnicas da linguagem escrita e os princípios éticos, técnicos e científicos da profissão (CPF, 2003). Outrossim, esta¬ beleceu uma Resolução que dispõe sobre a obrigatoriedade do registro documental decorrente da prestação de serviços psicológicos (CFR 2009). Por mais que seja oportunizado ao profissional de Psicologia parâme¬ tros para a construção de documentos psicológicos e o cuidado com eles, observa-se o quão deficitário e ineficiente tem sido o ensino da elaboração de documentos e laudos psicológicos. Por conta dessas problemáticas, constata-sea proliferação de laudoscom estruturasdiversase inadequadas (NORONHAet al., 2004).E muitasvezes essa falha resulta de orientação inadequada.Inúmerasvezes ouvi de alunos 17 Rockson Costa Pessoa queseu orientador, supervisor, professor havia rejeitado o laudo elaboradoe lheorientadoa produzir um novo com layout diferente, e issoé preocupante. Muitasvezes, pelo usodafigura deautoridade, imposiçãode poder enão cumprimento dos parâmetros estabelecidos peloCFR grande de psicólogos passa a elaborar seus próprios documentos e, não satisfeitos, reproduzem equívocos técnicos na supervisão de alunos em estágios diversos. Ao longo de minha breve experiência como docente, recebi uma série de ditos “ laudos psicológicos” , que em nada se assemelhavam a um do¬ cumento técnico. E pela existência de laudos pseudotécnicos como esses, que a ciência Psicológica perde cada vez mais sua credibilidade a ponto de continuamente ser taxada como apêndice místico da ciência. Não obstante aos preceitos estabelecidos no Código de Ética do Pro¬ fissional Psicólogo (CPF, 2005), oriento meus alunos a sempre respeitar os parâmetros já previstos pelo CFP para a elaboração de Manuais de Documentos Escritos (CFR 2003). Essa miscelânea documental acaba contribuindo para outra proble¬ mática, que também representa risco para o psicólogo que é a rotineira confusão entre parecer e laudo psicológico. Parecer versus laudo psicológico O parecer e a declaração psicológica não são documentos que resultam da avaliação psicológica, embora muitas vezes apareçam dessa forma. Apre¬ sentam distinçõesquando comparados aos demaisdocumentos psicológicos. O parecer é um documento fundamentado e resumido sobre uma questão focal do campo psicológico, cujo resultado pode ser indicativo ou conclusivo. Tem por finalidade apresentar resposta esclarecedora, no campo do conhecimento psicológico, por meio da avaliação especializada. Visa dirimir dúvidas que estejam interferindo nadecisão, sendo, portanto, uma resposta a uma consulta, que exige competência de quem se habilita a responder sobre determinado assunto (CFR 2003). Diametralmente inverso ao parecer, o laudo psicológico constitui-secomo instrumento de caráter científico que descreve circunstâncias, condições psicológicas e seus multideterminados averiguados no decorrer do processo de avaliação psicológica. Seu desígnio é relatar orientações, intervenções e diagnóstico, e consignar prognóstico e progresso do caso, além de nortear, indicar e/ou requerer uma proposta terapêutica (HEN¬ RIQUE, ALCHIERI, 2011; CFR 2003). 18 ELABORAÇÃO DE LAUDOS PSICOLÓGICOS - UM GUIADESCOMPLICADO Em linhas gerais, o parecer considera a opinião de um especialista sobre determinado assunto muito comumente após a análise do laudo psicológico. Por exemplo: um psicólogo especialista em transtornos do desenvolvimento humano pode observar uma criança com traços comuns desse comportamento e, ao perceber que os dados da avaliação psicológica se relacionam a determinado comportamento desadaptado, elabora uma hipótese diagnóstica específica. Outro exemplo é o que geralmente ocorre em equipe multidisciplinar. No atendimento de um paciente idoso que apresenta sutis alterações cognitivas, o médico neurologista pode solicitar uma avaliação de outros profissionaisda saúde, inclusive do profissional de Psicologia e, apósobter os resultados por meio de laudos técnicos, elaborar um parecer sobre o real do estado do paciente. Além de apresentarem objetivos claramente distintos, outro ponto que deve e pode ser empregado para distinguir laudo e parecer psicológico é o relacionado à estrutura de ambos os documentos. Oselementos que compõe um parecer são:1) identificação; 2) exposição de motivos-,3) análise; 4) conclusão.Cabe ao psicólogo parecerista reali¬ zar a análise do problema apresentado, destacar os aspectos relevantes, opinar a respeito e considerar os quesitos apontados, com fundamento em referencial teórico-científico (CFP 2003). O laudo psicológico é uma peça de caráter científico e deve apresen¬ tar narrativa detalhada e didática, com clareza, precisão e harmonia, tomando-se acessível e compreensível aodestinatário. Os termostécnicos devem, portanto, estar acompanhados das explicações e/ou conceituação retiradas dos fundamentos teórico-filosóficos que os sustentam. É fun¬ damental que o relatório psicológico contenha, no mínimo, cinco itens: 1) identificação; 2) descrição da demanda; 3) procedimento; 4) análise; 5) conclusão (CFF 2003). Observados os pontos citados, conclui-se que há parâmetros para a elaboração de um laudo apropriado e são acessíveis. Cabe a você respeitar tais instruções e elaborar laudos em consonância com o modelo proposto. 19 3 A ESTRUTURA DO LAUDO PSICOLÓGICO O laudo ou relatório psicológico consiste em um relatório técnico de natureza descritiva e interpretativa que expõe situações ou condições psicológicas e suas consignações históricas, sociais, políticas e culturais, pesquisadas no processo da avaliação psicológica. Como qualquer outro documento psicológico, o laudo deve ser auxi¬ liado por dados alcançados e avaliados, à luz de um instrumental técnico e embasado em referencial científico e técnico adotado pelo profissional de Psicologia (CFR 2003; CRUZ, 2002). O laudo psicológico, a ser apre¬ sentado de forma escrita, constitui uma conclusão sobre uma avaliação psicológica (GUZZO, 2001). O laudo psicológico é visto como instrumento de saber-poder que, além de possibilitar a investigação acerca da condição subjetiva dos indivíduos, em relaçãoaos dispositivos sociais normalizadoreseà população em geral, permite, o que é mais extraordinário, ser um instrumento efetivo sobre o modo de conhecer fenômenos ou processos psicológicos que ocorrem neles (CRUZ, 2002). É ainda um instrumento frequentemente utilizado como forma de comunicação dos resultados obtidos após determinado processo avaliativo, podendo ser útil aos profissionais de Psicologia para as seguintes situações: elaboração de diagnóstico e prognóstico, planeja¬ mento de intervenções e/ou sugestão de projeto terapêutico, tomada de decisão, solicitação de acompanhamento psicológico, evolução do caso e realização de encaminhamentos (HENRIQUE; ALCHIERI, 2011). A finalidade de um laudo é identificar as caraterísticas de um indiví¬ duo ou grupo para entender seu processo de desenvolvimento, bem como esclarecer ou explicitar aquilo que não é de conhecimento ou que não se tem juízo razoável, limitando-se a fornecer somente as informações necessárias relacionadas à demanda, à solicitação ou à petição (ALVES, 2009; CFR 2003; CRUZ, 2002). 21 Rockson Costa Pessoa Como os demais instrumentos psicológicos, o laudo deve apresentar redação bem estruturada e definida, expressar o que objetiva comunicar e apresentar ordenação que permita a compreensão do leitor.Porisso, deve considerar a estrutura proposta e respeita parágrafos, frases e demais elementos que regem a escrita técnica (CFP 2003). Aqui vale um parêntese: infelizmente muitos acadêmicos não prezam pela boa escrita. Erros na escrita de palavras, na construção de frases e na concordância verbal repercutem em textos pouco claros, nada agradáveis e que fragilizam até mesmo a imagem do profissional que os elaborou. Imagine um paciente que observa um erro de grafia em um laudo ou em qualquer outro documento, como você acha que ele se sentiria? É importante o zelo na escrita, pois ele é necessário. Uma vez que escreve¬ mos para médicos, psicólogos, fonoaudiólogos, pedagogos, pacientes, etc. A construção do laudo psicológico supõe o emprego de expressões próprias do profissional psicólogo, mas sem prejudicar a efetividade da comunicação e tampouco usar a variedade de significações da lingua¬ gem utilizada pelo senso comum, pois o laudo será apreciado por outros profissionais (CFE 2003). Desse modo, não seria interessante empregar expressões como: o paciente “ está fraco das ideais, ou o paciente parece muito amuado”. Conforme discutido no capítulo anterior, os elementos que compõem o laudo psicológicosão:identificação, descriçãodademanda, procedimentos, análise e conclusão. De modo resumido, pode-se informar que: -a identificação revela os sujeitos envolvidos na avaliação psicológica (psicólogo e solicitante). -a descrição de demanda denuncia a queixa relatada pelo paciente e analisada pelo terapeuta. -o procedimento retrata o trabalho delimitado para avaliar a queixa. -a análise retrata impressões iniciais após a correção dos resultados obtidos na avaliação, e a conclusão representa a integração de dados da descrição da demanda e os resultados considerados na análise. A seguir, observam-se os elementos que compõem a estrutura de um laudo psicológico.Sobre cada um deles se discutirá maisdetalhadamente adiante. 22 ESTRUTURA DO LAUDO ELABORAÇÃO DE LAUDOS PSICOLÓGICOS - UM GUIA DESCOMPLICADO Modelos de laudos inadequados B9BHi4 A QUEM SEDESTINA 0 LAUDO? HMiSflWIIHílHSMih'li aBBggggiimtg^ 0 QUE A QUEIXA SINALIZOU? COMO ELABOREI MINHA INTERVENÇÃO? MáíiplÈ k: DEQUE FORMAA ANÁLISE SE RELACIONOU COM A DESCRIÇÃO DA DEMANDA? Figura 1. Modelos de laudos inadequados. 23 Rockson Costa Pessoa LAI DO PSICOLÓGICO I- IDENTIFICAÇÃO: Nome: Data de Nascimento:i Idade: 56 amts Estado civil: casada II- PAREC ER: Avaliação realizada era março de ãBiÉfl. Durante a avaliação psicológica Maria Jdsê apresentou bom contato interpessoal, interagindo de maneira adequada, revelando-se segura, centrada e colaborativa. Demonstrou conteúdo e curso de pensamento coerente com a realidade Apresenta bom estado emocional, bom aspecto físico e sem dificuldades de relacionamentos sociais. Reflete seriedade, responsabilidade e comprometimento com suas questões pessoaise profissionais. No momento, não foram observados indícios de distúrbios psicológicos III -PARECER CONCLUSIVO: Através dos resultados obtidos ria avaliação psicológica verifica-se que ÉÉMÉaÉBMiestá apta para exercera função de professora. , 22 de março d> CRP: Figura 2. Exemplo de laudo psicológico. 24 ELABORAÇÃO DE LAUDOS PSICOLÓGICOS - UM GUIA DESCOMPLICADO RELATÓRIO PSICOLÓGICO AUTOR RELATOR CRP: N° MMAfel INTERESSADO MINISTÉRIO PÚ BLICO IX) ASSUNTO: Avaliação Psicológica para fins de processo judicial I. Introdução O presente Relatório trata de solicitação da Exma Procuradora de Justiça Dra. fcapMasafit do Centro de Apoio ao Consumidor e Contribuinte do Ministério Público do Estado dníáMBH para procedimento de Avaliação Psicológica, objetivando subsidiar ação movida pela Sra.tliiBKGf&SSB contra a empresa EitfÉttttpa&iBgmzi MmWBBBat- A reclamante, juntamente com seu cônjuge. Vinícius Lima, comprou o pacote "Casa Impossível” , da referida empresa de viagens. Cabe ressaltar que para utilização do daquele pacote fa/-se necessário um procedimento de lobotomia parcial. Após utilização dos serviços contratados, a Sra. áÉÚsaatÉm alega que seu esposo começou a apresentar comportamento estranho, inclusive com crises de histeria. Segundo conta, as oscilações de humor, além de sintomas físicos, começaram a ocorrer alguns dias após a experiência virtual. II. Descrição Os dados coletados na primeira entrevista, fornecidos pela descrição dos sintomas ( medo imenso, falta de ar. sensação de desmaio, palpitação, desarranjo intestinal, consciência da irracionalidade do medo, comportamento evitante de certas situações ou sofrimento demasiado quando enfrenta a situação), a postura corporal observada (gagueira, inquietação, tremor nas mãos) c as consequências negativas ( isolamento social ) indicam que o distúrbio de ansiedade vivido pelo ÊSKÍSHi^ feÉ^aí,assumiu proporções impeditivas na sua vida. Estudos recentes apresentados em várias publicações têm indicado serem os distúrbios de ansiedade os mais IreqUentemente encontrados na população cm geral. Em alguns casos, esses distúrbios se manifestam após uma experiência traumática. De acordo com algumas características. eles são classificados como quadro patológico, cuja evolução, comprometimento e complicações ensejam busca de tratamento medicamentoso e/ou psicológico. 25 Rockson Costa Pessoa IH.Conclusão Diante dos dados colhidos na primeira entrevista com e, considerando que os sintomas relatados levam o referido Sr. a vivência de sofrimentos subjetivos e considerando que os mesmos estão comprometendo sua qualidade de vida pessoal e profissional, apontando para a possibilidade de complicações maiores, inclusive predisposição a um distúrbio depressivo, conclui-se, como terapêutica preventiva dessa evolução para remissão total ou parcial dos sintomas, a necessidade urgente de Acompanhamento Psicológico. >. 23 dcHBÉBdc 1997. X CRP N.m Figura 3. Exemplo de relatório psicológico. Conformese podeobservar,aestruturade um laudo nãoé algocomplexo, uma vez que os parâmetros são claros. Entretanto, em busca rápida pela internet, foi possível encontrar modelos dedocumentosdenominados laudos e relatórios psicológicos que em nadase assemelham ao referido documento. O primeiro exemplo de laudo (Figura 2), conforme visto, evidencia um documento que, além de apresentar estrutura imprópria, é muito simplório. Entretanto, até mesmo laudos bem elaborados podem estar errados, como visto no segundo exemplo (Figura 3). Os modelos aqui disponibilizados demonstram claramente que, inde¬ pendentementeda qualidade da elaboração das ideiasou achados clínicos, a inobservância dos parâmetros estruturais pode invalidar um laudo ou relatório psicológico. Outro aspecto relevante que deve ser ressaltado nesses dois laudos é a ausência de instrumentos psicológicos. Ao elaborarem os documentos, os psicólogos realizaram informes que não estão embasados em parâmetros científicos, o que fragiliza a avaliação. 26 ELABORAÇÃO DE LAUDOS PSICOLÓGICOS - UM GUIA DESCOMPLICADO O segundo modelo de relatório, por exemplo, esclarece que o assunto do laudo psicológico é uma avaliação psicológica, o que causa estranheza, pois não se identifica emprego de instrumentos psicológicos. A avaliação psicológica caracteriza-se como procedimento que está inserido em todas os campos de atuação do profissional de Psicologia, de modo que, antes de se iniciar qualquer intervenção psicológica, é im¬ prescindível que se realize a análise do funcionamento do(s) indivíduo(s) para acolher satisfatoriamente suas demandas (NUNES et al., 2012). O uso de instrumentos psicológicos é uma das primeiras referências profissionais do profissional psicólogo (GOMES, 2009) . Por esse motivo, é imperioso ratificar a necessidade de assegurar a cientificidade do laudo psicológico a ser realizado para, além de assegurar uma avaliaçãocon¬ sistente e adequada, permitir respaldo técnico em casos de contestação do relatório elaborado. 27 4 TRêS DISTINTOS SOLICITANTES: O INÍCIO DO LAUDO Discussões realizadas, delinearemos o laudo psicológico que se inicia com o solicitante. Utilizaremos o termo solicitante com o intuitodeabran¬ ger as terminologias cliente e paciente. Como já dito, o laudo começa com o solicitante que, na maioria das vezes, traz a queixa ou demanda que justifica esse primeiro contato. Propomos aqui trêssolicitantes distintos e fictícios para que, com base em suas demandas, possamos construir passo a passo o laudo psicológico. Eles representam as demandas comuns no campo psicológico. Seja ele no atendimento psicoterápico, na avaliação psicológica resultante de encaminhamentos ou no atendimento multidisciplinar. Personagem 1 : sra. Beatriz e a queixa de memória A sra. Beatriz tem 40 anos, é solteira, não tem filhos, reside com os pais e tem ensino médio completo.Trabalha como auxiliar administrativa em uma empresa na área de logística. Procurou atendimento psicológico por conta de um comprometimento relacionadoà memória. Informou que sempre teve muita dificuldade para assimilar novos conteúdos e relem¬ brar situações diversas, mas que, nos últimos quatro meses, a situação se agravou e o que era uma dificuldade se tornou de fato um problema. Ao ser questionada acerca da existência de algum evento que explicasse a piora no campo mnemónico, informou que, nos últimos cinco meses, a empresa vem sofrendo por conta das dificuldades financeiras e isso a deixa muito preocupada. Informou ainda que não faz uso de medicamentos e que habitualmente costuma dormir muito tarde e acordar muito cedo. 29 Rockson Costa Pessoa A respeito de sua história pregressa, disse que seu parto fora normal, sem nenhum tipo de alteração, de modo que cumpriu todas as etapas do desenvolvimento conforme o esperado. Não teve intercorrência no decorrer da infância e adolescência e tampouco no início da vida adulta. Em relação ao histórico familiar, não há relato de quadros neurológicos e tampouco psiquiátricos. É válido informar ainda que, quando questio¬ nada sobre sua dificuldade de memória anterior ao agravo do quadro, disse ser muito ansiosa e que geralmente apresentava baixo rendimento na semana de prova, por mais que dominasse o assunto. Personagem 2: A impulsividade do jovem Rubem Rubem tem 22 anos, universitário, não tem filhos, reside com pais e não trabalha.Procurou atendimento psicológico por conta deestar muito impulsivo e isso o faz ficar agressivo e intolerante; essa impulsividade é vivenciada nos últimos três meses.Segundo o solicitante, esse novo com¬ portamento assusta, pois nunca foi uma pessoa explosiva, mas agora isso tem se tornado um hábito muito indesejado. Informou que sua mudança de comportamento fez sua família ficar preocupada e que até mesmo os amigos de longa data evitam estar com ele. Disse que seu pai, por vezes, conversou sobre os perigos das drogas e que, por mais que assegurasse não fazer uso de entorpecentes, parece não ter crédito com seu pai, o que segundo ele, o entristece muito. No tocante ao dia a dia, informou que é estudante de Direito e que, quando não está em sala de aula, estuda e frequenta academia. Pelo menos uma vez por dia, exercita-se. Aoser questionadosobrealgum evento que pudesse ter desencadeadosua alteração no comportamento, informou que nadaocorrera.Quando ratificou sobre o não uso de drogas, disse apenas que consumia anabohzantes e que não considerava que eles fossem nocivos, uma vez que muitos conhecidos os utilizam. Disse que faz usode nandralona (conhecida no Brasil por Deca- -durabolin) com posologia de 200 mg por semana há sete semanas, sem nenhuma orientação médica. Com relação à sua história pregressa, não foram observados dados anormais. Gestação muito tranquila e desenvolvimento dentro do espe¬ rado.Da infânciaaté a adolescência, nenhuma intercorrência importante foi considerada. 30 ELABORAÇÃO DE LAUDOS PSICOLÓGICOS - UM GUIA DESCOMPLICADO A apreciação do histórico familiar pode explicar a alteração do com¬ portamento, pois o avô materno apresenta diagnóstico de Transtorno Afetivo Bipolar (F31) há 5 anos, e um tio, por parte de pai, tem histórico de abuso de álcool. Personagem 3: A tristeza do sr. Firmino O sr. Firmino tem 74 anos, é agricultor aposentado e viúvo há oito anos. Foi encaminhado a seu consultório por um neuropsicólogo, que deu continuidade à avaliação multidisciplinar iniciada por um médico geriatra. Este primeiro solicitou avaliação neuropsicológica com vistas a investigar possível quadro demencial. O profissional neuropsicólogo em questão, após avaliação neuropsicológica, não observou indícios de demência, no entanto notou padrões que sinalizam possível quadro de depressão. Por esse motivo, ele realizou a investigação. No primeiro contato com o sr. Firmino, ele realizou a escuta do idoso e de seu filho para melhor compreender a problemática do caso. Primeiro ele concretizou a escuta do filho do sr. Firmino, o qual in¬ formou ser filho único e ter sido responsável por encaminhar o genitor ao atendimento com médico geriatra, em virtude de perceber que seu pai apresentava estar muito triste nos últimos quatro meses e também desorientado. Isso o fez temer que algo errado estivesse ocorrendo com o pai. Informou ainda que ele tem boa saúde e que sempre foi muito ativo e independente. Afirmou desconhecer o motivo da tristeza do pai, uma *ez que ele é bem assistido, tendo até mesmo uma cuidadora. Por fim, esclareceu que sempre teve excelente relação com o pai e que se preocupa nuito com seu bem-estar. Após a entrevista com o filho do solicitante, foi realizada a escuta do neferido idoso e, com base nela, o neuropsicólogo destacou alguns pon- 6-Sr. Firmino informou que muito o incomodava estar diante de outro * loutor” por considerar estar muito bem, mesmo que seu filho acredite :_e esteja doente. Quando questionado sobre a alteração de humor, disse que sentia -ii-dade de seu sítio localizado em um município distante e que, desde - -e seu filho o trouxe para viver com ele na cidade grande, isso há um havia perdido o sentido da vida. Disse ainda que a casa em questão - nuito grande e solitária e que não entendia por que ela tinha tantas 31 Rockson Costa Pessoa grades, já que não era criminoso. Contou que se sentia prisioneiro e que sempre foi independente, mas que seu filho não compreendia isso. Ressaltou também que, desde essa mudança, tem estado muito irritado e impaciente, o que o faz ter dificuldade para iniciar o sono pela noite e até mesmo a perder a fome. É importante salientar que tanto o pai quanto o filho disseram não haver na família histórico de transtornos neurológicos e psiquiátricos. Foi constatado que o idoso não faz uso de medicamentos. Agora que os casos já foram descritos, iniciaremos a elaboração dos referidos laudos passo a passo, para que você possa compreender sua construção. Mãos à obra. 32 5 IDENTIFICAçãO Em linhas gerais a identificação consiste no componente de menor complexidade do laudo psicológico, mas, por mais que seja de fácil elabo¬ ração, pode gerar equívocos que podem invalidar seu relatório. Pode ser entendida como a parte superior do primeiro tópico do laudo psicológico que tem a finalidade de identificar o autor/relator, o interessado e a razão do documento (CFR 2003). No identificador deve constar impreterivelmente nome do psicólogo, número de registro e nome do interessado pelo laudo (HENRIQUE; ALCHIERI, 2011). E aqui cabe uma observação importante, no campo interessado, o profissional de Psicologia informará o nome do autor do pedido (seasobcitação foi da Justiça, daempresa, da entidade ou do clien¬ te). Logo, em caso de avaliação de crianças, por exemplo, o interessado será seu responsável legal. Em contrapartida, se aescola encaminha uma criança para reafizar uma avaliação, o requerente é a escola. Em relação ao campo assunto, é válido informar que muitas vezes utihzamos a frase: avaliação psicológica relacionada à problemática desencadeadora do atendimento psicológico. Como já referendado pelo CFR esse campo tem a função de identificar tanto o profissional de Psicologia quanto o solicitante. Se já ressaltamos que impreterivelmente o psicólogo deve informar o número de seu regis¬ tro, é importante destacar que da mesma forma os dados do solicitante devem ser notificados. A maioria dos laudos, exceto os relacionados ao campo jurídico e à tbtenção da Carteira Nacional de Habilitação (CNH), atém-se apenas à tomunicação do nome do interessado, não informando RG, escolaridade e profissão do interessado. Inclua esses subitens no seu relatório, con¬ i’:rme os exemplos: 33 Rockson Costa Pessoa Identificação - Caso clínico 1 Autor: Rockson Costa Pessoa-CRP 20 / 03665 Interessado: Beatriz Assunção Venâncio Idade: 40 anos RG: 134376764-4 Estado civil: Solteira Escolaridade: Ensino médio completo Profissão: Auxiliar administrativa Assunto 1: Avaliação psicológica relacionada a queixa no comportamento mnemónico. Assunto 2: Solicitação de investigação psicológica de dificuldade de memória. Assunto 3: Resultado de avaliação psicológica de alteração da memória. Identificação - Caso clínico 2 Autor: Rockson Costa Pessoa -CRP 20 / 03665 Interessado: Rubem Francoso Gusmão Idade: 22 anos RG: 8232323-0 Estado civil: Solteiro Escolaridade: Ensino superior incompleto Profissão: Estudante Assunto1: Avaliação psicológica relacionada a investigação de comportamento impulsividade. Assunto 2: Solicitação de investigação relacionada a comportamento impulsivo. Assunto 3: Resultado de avaliação psicológica de comportamento impulsivo. Identificação - Caso clínico 3 Autor: Rockson Costa Pessoa-CRP 20 / 03665 Interessado1:Firmino de Paes Freitas Interessado 2: (NOME DO PROFISSIONAL GERIATRA) Interessado 3: (NOME DO NEUROPSICÓLOGO) Idade: 74 anos RG: 21293239-5 Estado Civil: Viúvo Escolaridade: Ensino fundamental completo Ocupação: Aposentado Assunto: Avaliação psicológica relacionada a alteração de humor. Assunto 2: Investigação psicológica relacionada a suspeita de depressão. Assunto 3: Resultado de avaliação psicológica de alteração de humor. 34 ELABORAÇÃO DE LAUDOS PSICOLÓGICOS - UM GUIA DESCOMPLICADO Observe que, no Caso 3, há várias possibilidades de solicitante e, nesse caso em especial, é necessário considerar dois pontos. O primeiro adverte que somente o responsável legal pode solicitar intervenção psico¬ lógica e isso se aplica aos menores de 18 anos e a pacientes adultos que, por transtornos ou condições diversas, passam a ter um representante legal. O segundo ponto orienta que podemos elaborar o laudo para dois solicitantes. Dessa forma, elabora-se um laudo tanto para o profissional que encaminhou o paciente, quanto para o paciente em questão ou seu responsável. Válido destacar também que todos os componentes do laudo devem ser elaborados de modo articulado. O informe dos subitens, como idade e escolaridade, deve constar por eles serem importantes paraa compreensão da escolha do instrumento aplicado, uma vez que existe público etário- -alvo, da mesmaformaque alguns instrumentosapresentam normasque consideram a escolaridade do indivíduo. 35 6 DESCRIçãO DE DEMANDA Diametralmente oposta ao item informação, a descrição da demanda é um dos elementos mais complexos do laudo psicológico, junto com o componente conclusão, que também exige habilidade do profissional. É a má elaboração desse elemento que mais gera entraves para a concre¬ tização do informe técnico. A descrição da demanda é o item destinado à exposição das infor¬ mações alusivas à problemática exibida e das razões para se elaborar o documento. Nessa peça do laudo, deve-se expor a análise que se faz da demanda de forma a abonar os procedimentos tomados (HENRIQUE; ALCHIERI, 2011; CFR 2003). Um dos erros mais comuns neste item é considerá-lo como apresen¬ tação simplista, onde, além de ater-se ao informe da data de realização da avaliação, insere-se dados desconexos relacionados à história do soli¬ citante da avaliação psicológica. A descrição da demanda deve considerar uma série de itens que vai desde o informe da data até a escolha dos instrumentos para a avaliação psicológica. Vejamos a seguir os itens que devem ser respeitados para a construção adequada da descrição de demanda do laudo psicológico. No esquema a seguir, observam-se os elementos que compõem a des¬ crição de demanda e sua interação. 37 Rockson Costa Pessoa Sobre a queixa ou demanda Esse elemento é a base de uma boa avaliação psicológica, uma vez que é por meio dele que o percurso para a realização desse processo será arquitetado. Em geral, a demanda é complexa e multifacetada. Mesmo que não seja || sempre possível explicitar todos os seus elementos, o avaliador deve estar | atento para reconhecer as decorrências, subdivisões e implicações mais | significativas da situação específica (TAVARES, 2012). A ampliação da queixa é uma primeira concepção do sujeito em seu I contexto existencial que o ajuda a elaborar o que estava vivenciando. | Essas elaborações permitem ao paciente refletir sobre novas formas de lidar com suas dificuldades (HERZBERG; CHAMMAS, 2009). Existem quatro fatores preliminares, básicos ao processo de avaliação psicológica: a) análise da demanda: contempla a relação do psicólogo i avaliador com o profissional que solicita a avaliação e as influências institucionais; b) avaliação da compreensão: o sujeito apresenta essa | demanda-sua postura e atitudes em relação à avaliação psicológica; c) características da relação entre o psicólogo avaliador e o sujeito: expõem- I -se no primeiro contato e na entrevista inicial, gerando as formulações iniciais que vão direcionar o processo; d) influência de atributos pessoais § do psicólogo avaliador (TAVARES, 2012). Para o desvelar da queixa de modo satisfatório, o profissional psicólogo deve fazer uso da (a) entrevista clínica e da (b) anamnese. Discutir-se-á sobre esses elementos adiante. Entrevista clínica Etimologicamente, a entrevista psicológica refere-se à “ visão entre” duas ou mais pessoas e constitui-se de troca, conversa, relação, diálogo ou encontro (ALMEIDA, 2004; ANASTASI; URBINA, 2000). A entrevista clínica não pode ser vista como uma técnica única, pois há diversas, cada uma pertinente ao objetivo proposto na intervenção. Pode ser definida como conjunto de técnicas investigativas, de tempo abalizadoe conduzida por um entrevistador treinado, que faz uso de modo competente deconhecimentos psicológicos (TAVARES, 2000).Éacorrespondência entre comportamento verbal e não verbal, e é ainda utilizada por psicólogos no exercício de suas atividades nos mais diversos campos (ALMEIDA, 2004; BECKERT, 2001).A entrevista clínica consiste na técnica e habilidade em 38 ELABORAÇÃO DE LAUDOS PSICOLÓGICOS - UM GUIA DESCOMPLICADO realizar tais entrevistas, as características basais e insubstituíveis do pro¬ fissional de saúde geral e mental (DALGALARRONDO,2008; ALMEIDA, 2004; SULLIVAN, 1983). Paraelaboraradescriçãode demanda,aentrevista clínicaé fundamental, poisécom base nelaquea queixaque muitasvezessurge incorpóreacomeça a materializar-se de modo que os objetivos terapêuticos sejam elaborados. Tavares (2000) salientaque,naentrevista,sedeseja reconhecer osujeitoem profundidade, propendendoa compreender a queixa que levou àentrevista. O resultado de uma entrevista depende amplamente do conhecimento r da habilidade do profissional de Psicologia (ALMEIDA, 2004; TAVA¬ RES, 2000). Anamnese A palavra anamnese etimologicamente origina-se de aná = trazer de :lta, recordar e mnese = memória. Significa trazer à mentetodos os acontecimentos relacionados à doença e ao indivíduo adoecido (PORTO, 2004). Consiste no relato pessoal do paciente de sua história desenvolvi- asental, familiar, médica anterior (VANDENBOS, 2010), que é utilizado ::m o intuito de compreender o sujeito à luz de sua singularidade. Considera-se que a anamnese é alcatifada de potencialidades para . mracterização do outro, da pessoa, de suas indigências e aspirações -mplícitas, anseios e temores (SOARES, 2014). Aapreciação e o zelo no estabelecimentodo contato com o paciente quali- icam umaboaanamnese,embora o avanço tecnológico tenhalevado muitos - wisiderá-lasecundária (DICHI;DICHI, 2006).E até mesmodesnecessária. Em sua essência, a anamnese é uma entrevista que tem objetivo e '.Aidade bem delimitados e que, historicamente, foi elaborada com o ':_::o de direcionar o olhar do médico para a doença, desconsiderando a pessoadoente (SOARES, 2014). Na Psicologia, diametralmente oposto à > rspectiva médica, seu emprego valoriza a pessoa em sua singularidade, : :’:rmaqueseu emprego busca elucidar elementos úteis paraa resolução pueixa que é do sujeito e não consequência isolada de seu organismo. Icservação do comportamento ' _tro elemento indispensável na descrição da demanda é a observação I - -.•eixodaavaliação (NUNESet al., 2012).Desde sua chegada no setting, 39 Rockson Costa Pessoa o probando1 deve ser visto como sujeito em análise e o modo como ele se apresenta no primeiro contato e/ou no dia da avaliação, é um item muito importante para a análise. Ao realizar atendimento de crianças, por exemplo, o primeiro conta¬ to é item de extrema importância. O modo como ela interage, se mais tímida ou mais espontânea, se extrapola no contato ao ponto de abraçar exageradamente ou se evita de modo sistemático qualquer tipo de toque, tudo é passível de análise. Convém ressaltar que os itens da descrição da demanda estão intima- mente relacionados, uma vez que a apreciação do comportamento do su¬ jeito pode denunciar muito sobrea queixa. Por esse motivo,aobservação do comportamento deve sinalizar aspectos gerais do sujeito que, apriori , é um desconhecido para o profissional psicólogo. Se ansioso, desatento, aparentemente cansado, nervoso. O sujeito se expressa de variadas for¬ mas, e o comportamento é um item que pode predizer sobre o indivíduo. Rapport O rapport pode ser compreendido ou expresso por relacionamento cordial, relaxado de entendimento, aceitaçãoe compatibilidade simpática mútua entre dois ou mais indivíduos. Na prática psicoterápica, consiste na meta indireta significativa para o terapeuta a fim de facilitar e aprofundar a experiência terapêutica e promover progresso e melhora do paciente ou cliente (GAVA, PELISOLI; DELL’AGLIO, 2013; MENEZES, QUEIROZ; CRUZ, 2013; VANDENBOS, 2010). Quando aplicado de maneira eficaz, o rapport favorece a colaboração do candidato e o encorajará a responder de modo satisfatório os objetivos dos testes e instrumentos psicológicos (ANASTASI; URBINA, 2000). Do mesmo modo que permite o relato sincero. Indispensável para a adequada prática profissional, o rapport é muito mais que um elemento considerado na atuação clínica do profissional de Psicologia. Na elaboração do laudo psicológico, seu uso repercute na sinceridade do documento, ou seja, se seu emprego for satisfatório, aumenta-se e muito a probabilidade da obtenção de itens de apreciação próximos da realidade. O profissional psicólogo tem por obrigação e compromisso saber esta- 1 Expressaa ideia de sujeito em avaliação. 40 ELABORAÇÃO DE LAUDOS PSICOLÓGICOS- UM GUIA DESCOMPLICADO belecer rapport no momento da avaliação e no atendimento clínico. Por isso, o psicólogo deve estar acautelado de que está abordando a situação de modo apropriado, ressalvando a qualidade do rapport (NUNES et al., 2012; TAVARES, 2012). O emprego do rapport inicia-se na intervenção psicológica de modo conjunto com: (a) entrevista clínica, que deve estender-se até a coleta de dados da (b) anamnese, quando se realiza na própria sessão. No tocante ao tempo despendido no rapport é válido destacar duas situações. A primeira situação refere-se à prática clínica de modo geral, em que o rapport está atrelado efetivamente à entrevista clínica e ao preenchimento da anamnese, e pode estender-se até o término da pri¬ meira sessão. A segunda situação compreende seu emprego na avaliação psicológica, mais precisamente em situações que recebemos um paciente encaminhado para umaavaliação específica.Em casos como esse o rapport não pode ser superior a 10 minutos. Como bem referendado por autores daárea de avaliação psicológica (ELY, NUNES; CARVALHO, 2014; MAR¬ QUES, SARRIERA; DELL’AGLIO, 2009). Sua aplicação é considerada em diversos estudos no campo da avaliação e perícia psicológica (GAVA, PELISOLI; DELL’AGLIO, 2013; NUNES et al., 2012; SCHAEFER, ROSSETTO; KRISTENSEN, 2012; OLIVEIRA-CARDOSO; SANTOS, 2012; TAVARES, 2012; BRODSKI, ZANON; HUTZ, 2010; SISTO, NO¬ RONHA; SANTOS, 2005). A figura a seguir retrata a interdependência entre os elementos: rap¬ port, entrevista clínica e anamnese. Figura 4. Rapport, entrevista clínica e anamnese: interdependência. 41 Rockson Costa Pessoa Informe do teste a ser utilizado O último e não menos importantecomponentedadescrição de demanda é o informe do teste a ser empregado, que, além de esclarecer o domínio do profissional psicólogo em relação à escolha eficaz de instrumentos psi¬ cológicos, ajuda no enlace final desse componente do laudo (PACANARO et al., 2011; NORONHA, 2009; CRUZ, 2002; ANASTASI; URBINA, 2000). O psicólogo habilitadocompreendeaexistência de umasérie de fenôme¬ nos psicológicos.Cada um deles pode, na maioria das vezes, ser mensurado por meio de testes diversos (KATSURAYAMAet al., 2012; BUENO, 2012; PIRES, 2012;THADEU, FERREIRA; FAIAD, 2012; OTTATI, NORONHA; SALVIATI, 2003). Desse modo, o informe no final da descrição de demanda expressa o julgamento clínico acerca de um fenômeno desvelado após análise da queixa. Vamos aos exemplos. Descrição de demanda - Caso clínico 1 No dia12de fevereiro de 2015,a paciente Beatriz AssunçãoVenâncio, 40 anos,solteirae residente nacidade deManaus, procurou atendimento psico¬ lógico em virtude de estar apresentando, nos últimos quatro meses, agravo no componente mnemónico. Quando do referido atendimento, observou-se quea paciente aparentavaestar visivelmente extenuada e muito desatenta. Na realização da entrevista clínica e coleta de itens da anamnese, sen¬ do considerado o estabelecimento de rapport, alguns dados importantes foram observados. Informou que nos últimos cinco meses estava muito preocupada por conta de problemas relacionados ao campo de trabalho e que, por mais que não fizesse uso de medicamentos, apresentava sono reduzido nesse período. Outro dado que merece destaque é o fato de a probanda afirmar que sempre apresentou muito ansiedade, a ponto de ter baixo rendimento nas provas mesmo quandosabia o assunto. No tocante à sua história pregressa, não foram observados elementos que corrobo¬ rassem a queixa atual, do mesmo modo que não há histórico familiar de indícios clínicos que predissessem a dificuldade de memória. Com base nessas informações, optou-se pela escolha dos testes psicológicos: Escala Beck- inventário de Ansiedade (BAI); Teste Dígitos-WAIS III; Figura Complexa de Rey (FCR) -memória visual e imediata; Teste de Atenção Dividida (TEADI); Teste de Atenção Alternada (TEALT), e Teste de Atenção Concentrada (TEACO-FF). 42 ELABORAÇÃO DE LAUDOS PSICOLÓGICOS- UM GUIA DESCOMPLICADO Descrição de demanda - Caso clínico 2 Em 8de março de 2014, o paciente Rubem Françoso Gusmão, 22 anos, solteiro e residente na cidade de Manaus, procurou atendimento psicoló¬ gico em virtude de estar apresentando, nos últimos três meses, compor¬ tamento impulsivo. Por conta disso, tinha comportamentos agressivos eirritadiços. Ao longo do atendimento, observou-se que o paciente estava excessivamente ansioso, a ponto de fazer uso de repertórios comporta- mentais que denunciavam sua ansiedade, tais como:tamborilar os dedos, mexer os braços e balançar as pernas de modo constante. Na realização da entrevista clínica e coleta de itens da anamnese, sendo considerado estabelecimento de rapport,alguns dados importantes foram observados. Informou que, nas sete últimas semanas, fez uso do anabolizante nan- dralona com posologia de 200 mg por semana, sem orientação médica. Referente à apreciação de sua história pregressa, não foram observados dados sugestivos para esclarecer sobre comportamento desadaptado. Entretanto, no que compete à análise do histórico familiar, é válido in- :':rmar que o avô materno do referido paciente apresenta diagnóstico de Transtorno Afetivo Bipolar (F31) há cinco anos e que um tio, por parte de pai, tem histórico de abuso de álcool. Considerados os dados, optou- -se pela escolha dos testes psicológicos: Inventário de Ansiedade Beck BAI), Escala de Avaliação de Impulsividade (ESAVI-B), Escala Barrett de Impulsividade (BIS-11) e Inventário Fatorial de Personalidade (IFP-II) r Escala de Autenticidade, Agressividade e Inibição (EdAAI). Descrição de demanda - Caso clínico 3 Em 23 de junho de 2014, o paciente Firmino de Paes Freitas, 74 anos, •rivo, aposentado e residente na cidade de Manaus, foi encaminhado por .rofissional neuropsicólogoem continuidade de avaliação multidisciplinar, m razão de um sugestivo quadro de depressão. Por esse motivo, foi reali¬ zada entrevista com o referido idoso e escuta de seu filho, o qual procurou, --jcialmente, atendimento com médico geriatra. Quanto ao que importa p:ntuar sobre o comportamento do idoso, observou-se que ele demons- :rxi incómodo por estar em novo atendimento, uma vez que considerava scar bem desaúde, do mesmo modo que apresentou sutil desatenção. No tocante à realização da entrevista clínica e anamnese,sendo observado o ’-upport,alguns dados merecem destaque. Verbalizou que, desde quando passou a residir com seu filho há cerca de um ano, perdeu o sentido da ia e que sentia falta de seu sítio. Conforme relatou o filho do idoso, o 43 Rockson Costa Pessoa i i paciente não faz uso de medicamentos e apresenta embotamento afetivo há cerca de quatro meses, perda de apetite e dificuldade para efetivar o sono noturno. Na análise da história pregressa, não há dados preponde¬ rantes para explicar aalteração de humor, do mesmo modo que não há, na família, histórico de transtornos psiquiátricos e neurológicos. Com base nessas informações, optou-se pela escolha dos seguintes instrumentos: Miniexame do Estado Mental (MEEM), Figura Complexa de Rey (FCR) - memória visual, imediata e evocação tardia; Inventário de Depressão de Beck Versão II (BDI-II); Escala Batista de Depressão (EBADEP-A) e Escala de Depressão Geriátrica-versão reduzida (GDS-15). Nos casos 1, 2 e 3, os dados da Entrevista clínica e Anamnese estão intimamente relacionados à queixa e ajudam a explicar o transtorno ou comportamento indesejado. O psicólogo deve ser sensível para extrair os dados da avaliação psicológica. A seguir, observa-se um esquema que demonstra como se organizam os elementos na descrição de demanda. Esse plano permite orquestrá-los de modo harmonioso, o que facilita sua elaboração adequada. O 1. Data da avaliação 2. Explicitação dia queixa 3. Observação do comportamento 4. Rapport 5. Entrevista clínica e Anamnese 6. Informe de instrumentos Figura 5. Organização dos elementos na descrição da demanda. O outro dado interessante relacionado à descrição da demanda é que esse componente é útil para identificar aptidões e competências do profis¬ sional que os elabora. E perceptível que, em todas as descrições edemanda 44 ELABORAÇÃO DE LAUDOS PSICOLÓGICOS - UM GUIA DESCOMPLICADO •qui elaboradas, foram considerados instrumentos psicométricos e não :rojetivos, o que demonstra conformidade à perspectiva psicométrica. Os testes psicométricos são os instrumentos psicológicos que fazem í^O de medida matemática para avaliar o sujeito. Os resultados alcança¬ is e trabalhados estatisticamente são comparados com uma tabela do resultado para a população em geral. Os testes projetivos compreendem os instrumentos psicológicos que realizam a análise dos indivíduos pelo emprego da projeção, permitindo que o indivíduo manifeste aspectos relacionados à sua história ou de sua personalidade, mesmo que não perceba isso. A predileção pelos testes psicométricos expressa apenas a expertise do rrofissional e sua orientação teórica. Logo, se seu aporte teórico orienta JO emprego de projetivos, você pode considerá-los tranquilamente. 45 7 PROCEDIMENTO É o componente do laudo que apresentará os recursos e instrumen-- técnicos empregados na coleta das informações (número de sessões, jesBoas atendidas, etc.) à luz do referencial teórico que os embasa. O :-xedimento empregado deve ser coerente para avaliar a complexidade * que está sendo exigido (HENRIQUE; ALCHIERI, 2011; CFR 2003). O procedimento compreende o primeiro momento da testagem psi- ceica, pois reflete o emprego dos instrumentos de modo dinâmico e ~mnÍ7,ado.Tal elemento assegura o respeito às normas dos instrumentos, : mesmo modo que busca assegurar a validade da operacionalização do tr-jcesso avaliativo. Esse item pode ser mais bem compreendido em uma organização de :«ticos, com destaque para: a) número de encontros para realização da - iiiaçáo; b) garantia da validade da avaliação psicológica; c) respeito às tcrmas do instrumento psicológico. O número de encontrosestabeleceque deve ser informado, nesse item, na quantas sessões foi realizada a avaliação psicológica. Sendo seu prin- nzal objetivo garantir que o sujeito foi submetido à avaliação psicológica, :< modo que sua integridade psíquica tenhasido resguardada. (Exemplo: : oaciente não foi submetido a uma avaliação extenuante). A garantia da validade da avaliação psicológica é observada quando o : issional de Psicologia informa sobre particularidades do instrumento- aplicação. (Exemplo: no teste Figuras Complexas de Rey, existe um»winrin momento de avaliação e, para a realização dele, o avaliador não : aitrapassar o tempo máximo de três minutos para fazer a aplicação), garantia de validade constitui uma medida de segurança para o pró- :n: gsicólogo, uma vez queé útil para provar que todos os procedimentos nacos foram respeitados em determinada avaliação. respeito às normas de avaliação é fundamental. Nela o psicólogo, 2 _rcavelmente, deve avaliar se o pacienteestá em condições de ser sub- 47 Rockson Costa Pessoa metidoàavaliação, assim como respeitar a integridadedoambiente e desua pessoa, de modo que esses fatores não interfiram nos resultados dos testes. Os seguintes itens devem ser observados: noite de sono adequada, o não uso de psicotrópicos e demais substâncias que possam ser preju¬ diciais aos resultados; padrões de estresse, acontecimentos trágicos ou impactantes, alimentação, etc. Outra possibilidade de informe no procedimento é o tempo despendido entre um teste e outro e a ordem de aplicação estabelecida entre um e outro. Vamos aos exemplos. Procedimento - Caso clínico 1 Antesdoinício daavaliação psicológica,queocorreuem umaúnicasessão, foi averiguado se a probanda estava apta a submeter-se aos instrumentos psicológicos, a qual foi considerada competente paraa execução dela.Desse modo, iniciou-se a avaliação com aplicação do instrumento BAI, sendo em¬ pregado sete minutos para sua realização. Em seguida, aplicou-se o teste dígitos, sendo despendido umtempo dedez minutos (compreendendo ordem diretae inversa do instrumento). Dando prosseguimento, foi aplicado teste Figura Complexa de Rey (padrão cópia) e, após ser considerado o tempo limite de três minutos do instrumento,realizou-se o padrão memória. Para esses dois momentos em FCR, foi utilizado um tempo de nove minutos pela probanda. Em seguida, foram aplicados os testes TEADI e TEALT (sendo respeitados os tempos limites de cinco minutos e dois minutos e 30 segundos, respectivamente).O último instrumento foi o TEACO-FF, sendo despendido um tempo de oito minutos para a realização da tarefa. No procedimento anterior se observa o cuidado do profissional de Psicologia para assegurar a integridade da avaliação ao averiguar a ap¬ tidão da probanda e, mais do que averiguá-la, é necessário informar sua realização como forma de respaldo técnico e legal. Procedimento - Caso clínico 2 A avaliação em questão ocorreu em uma única sessão, sendo obser¬ vada a aptidão do probando para sua realização. Após ser constatada competente para ser avaliada, a aplicação de instrumento iniciou com o 48 ELABORAÇÃO DE LAUDOS PSICOLÓGICOS - UM GUIA DESCOMPLICADO -.prego do instrumento BAI, sendo despendido cinco minutos para sua- úização.O próximo instrumento foi o ESAVI-B, utilizado pelo probando r nove minutos. Em seguida foi aplicado o BIS-11, em seis minutos. Na-ezjuência foi aplicado o instrumento EdAAI, sendo despendido pelo pro- tando o tempo de 20 minutos para sua realização. O último instrumento assa avaliação foi o IFP-II, sendo utilizado pelo probando 12 minutos. Nesse procedimento, destaca-se a realização de outra atribuição do :-zoólogo na concretização da avaliação psicológica: o informe do tempo -zzlizado pelo probando para a execução de cada um dos instrumentos. Isse informe configurar-se como medida útil, pois, em alguns casos, é rznsiderado elemento de avaliação. -^ocedimento - Caso clínico 3 Aavaliação psicológica foi realizada em um único atendimento e, antes deser iniciada, foi realizado rastreio para avaliar a aptidão do probando para efetivar-sea avaliação, o qual constatou que ele estavaapto. A partir nsso, iniciou-se a avaliação com aplicação do FCR (cópia do desenho) :. após um tempo inferior a três minutos, foi realizada a evocação ime¬ diata do teste para duas tarefas do FCR em que o probando fez uso de dez minutos. Dando sequência à avalição, foi aplicado o MEEM, sendo iz-spendido pelo probando nove minutos para respondê-lo. Em seguida :::utilizada a EBADEP-A,sendo empregado pelo probando um tempo de 13 minutos. Após 30 minutos de avaliação, foi solicitado que o paciente desenhasse maisuma vez oestímulo do FCR (evocaçãotardia), em seguida :ez-se a aplicação do BDIII, sendo utilizado um tempo de nove minutos pelo probando. O último instrumento aplicado foi o GDS-15, em que foi despendido um tempo de dez minutos pelo idoso. O Caso clínico citado ilustra bem o cuidado em informar o percurso já estabelecido no instrumento FCR. Na reprodução de memória do es¬ tímulo, o avaliador salienta que não excedeu o tempo de três minutos, conforme orientação das normas do teste. 49 8 ANáLISE É o componente do documento na qual o profissional de Psicologia realiza uma apresentação descritiva de forma metódica, objetiva e fiel ios dados obtidos e das circunstâncias vividas conexos à demanda em sua complexidade. Como apresentado nos princípios técnicos: o processo de avaliação psicológica deve ponderar que os elementos desse processo as questões de ordem psicológica) têm consignações políticas, históricas, -ociais e económicas (HENRIQUE; ALCHIERI, 2011; CFP, 2003). Na análise é esperado que o profissional de Psicologia informe o maior número de elementos relacionadas aos resultados obtidos com o emprego dos instrumentos. É válido ressaltar que nesse item, como bem orienta o CFE o profissio¬ nal psicólogo deve relacionar os resultados obtidos com os informes que compõem a descrição de demanda, em uma forma inicial de explicação da queixa (a final evidencia-se na conclusão do laudo). Na elaboração da análise, o informe dos resultados obtidos não deve :brigatoriamente respeitar a ordem utilizada na aplicação dos instru¬ mentos, conforme informado nos procedimentos do laudo. O critério para construção da análise deve respeitar informes conclusivos relacionados a dimensões. Por exemplo: se se avaliam dois fenômenos em um paciente, como atenção e memória, e foram utilizados quatro instrumentos em uma ordem específica, como Teste A + Teste B + Teste C + Teste D, não necessariamente haverá resultados respeitando essa ordem de aplicação. Os dados obtidos na aplicação do Teste D podem ser mais significa¬ tivos e intimamente relacionados aos resultados do Teste A, uma vez que o Teste D avalia atenção e memória de trabalho e o Teste A atenção concentrada. Do mesmo modo, pode-se iniciar a construção relatando resultados importantes obtidos no Teste B, que avalia memória visual, e associá-los com os achados do Teste C, que avalia memória tardia. 51 Rockson Costa Pessoa As possibilidades de elaboração da análise são diversas, cabendo ao I profissional de Psicologia a precaução na comunicação desses dados, de I modo a resguardar a integridade do instrumento psicológico, bem como I a prudência no momento de relacionar os resultados ao comportamento do indivíduo. Vamos aos exemplos. Análise - Caso clínico 1 A partir da apreciação dos dados obtidos com a avaliação, é prudente I afirmar que a probanda apresenta grau moderado de ansiedade e consi- I derável déficit atencional. Em contrapartida, seu desempenho mnemô- I nico, que foi a queixa desencadeadora da avaliação, foi satisfatório. No I instrumento BAI, alcançou uma pontuação de 26 pontos, o que lheatribui classificação moderada de ansiedade. Na avaliação do componente aten¬ ção, observa-se que a paciente apresentou um significativo comprometi¬ mento. Na atenção concentrada, avaliada pelo instrumento TEACO-FF e na atenção alternada, analisada pelo instrumento TEALT, a probanda obteve respectivamente, percentil 20 e 10, o que lhe conferiu classificação inferior no desempenho dos referidos componentes atencionais. Já na atenção dividida, mensurada pelo teste TEADI, obteve percentil 20,oque I lhe confere classificação média inferior. No teste dígitos (ordem direta I e inversa) obteve um percentil 16, que lhe confere classificação média I inferior e endossa o comprometimento atencional, bem como compro- I metimento na memória de trabalho. Entretanto, apresentou excelente I desempenho na memória imediata e visual, obtendo um percentil 80 e I classificação superior. Análise - Caso clínico 2 Os resultados obtidos na avaliação demonstram considerável grau de ansiedade, conforme apontado no instrumento BAI, em que o probando obteve 28 pontos, indicando ansiedade moderada. Na apreciação do de¬ sempenho obtido no instrumento ESAVI-B, observa-se alto desempenho nos fatores: concentração e persistência; audácia e temeridade, o que demonstradificuldade para lidar com demandas cotidianas por distração, acarretando dificuldade para cumprir tarefas, do mesmo modo que age 52 ELABORAÇÃO DE LAUDOS PSICOLÓGICOS - UM GUIA DESCOMPLICADO iescuidadamente a ponto de desconsiderar asconsequênciasde seus atos. Apresentou baixo desempenho nos fatores: planejamento futuro e con¬ trole cognitivo, o que sinaliza que o paciente não se preocupa de maneira adequada com os efeitos de seus atos e que age precipitadamente, sem pensar nas consequências. Na análise dos dados obtidos no instrumento EdAAI, nota-se a consonância, uma vez que apresentou escore extremo alto no fator agressividade.Os dados obtidos com o IFP-II e BIS-11foram conexos aos resultados obtidos com os instrumentos ESAVI-B e EdAAI. No teste IFP-II, o probando atingiu escores extremos nas subescalas: agressão (necessidade de lutar e revidar injúria), autonomia (tendência a resistir à coerção, resistência para cumprir ordens). No instrumento BIS-11, obteve pontuação 83, o que o classifica como indivíduo com alto padrão de impulsividade. Análise - Caso clínico 3 Combase na avaliação geral do desempenho do idoso utilizando os instrumentos aplicados, é prudente afirmar que o probando não apre¬ senta sinais ou indícios de depressão. Tal afirmativa é feita com base na análise dos instrumentos que avaliam sintomas e indícios de depressão. No instrumento BDI, o idoso alcançou escore13, o que sinaliza depressão mínima, mesma condição detectada no instrumento EBADEp em que o idoso obteve escore 62, indicando sintomatologia leve de depressão. Já o instrumento GDS-15 não detectou indícios de sintomas de depressão, uma vez que a pontuação alcançada foi 4 pontos. Corroborando com os achados desses instrumentos, o desempenho do probando no MEEM foi satisfatório, pois pontuou acima do ponto de corte, demonstrando bom funcionamento cognitivo, da mesma forma que a análise do seu desempe¬ nho no FCR denunciaa ausência de sintomas depressivos, uma vez que o probando obteve os seguintes percentise classificações: cópia do desenho percentil 80-classificação superior), memória imediata (percentil 50 - classificação média) eevocação tardia (percentil 50-classificação média), o que demonstra desempenho mnemónico satisfatório para sua idade. 53 9 CONCLUSãO DOS CASOS A conclusão do laudo psicológico é a peça do documento que expõe o resultadoe/ou considerações a respeito de sua investigação com base nas referências que auxiliaram a realização do trabalho. Os resultados obtidos pela avaliação psicológica informam ao solicitante o exame da demanda em sua complexidade e o processo de avaliação psicológica como um todo. Vale destacar a importância de propostase planos de trabalho que apre- dem a complexidade das variáveis envolvidas ao longo do procedimento. Após a narrativa conclusiva, o documento é finalizado, com informe do local, data de emissão, assinatura do psicólogo e número de registro no CRP (HENRIQUE; ALCHIERI, 2011; CFP, 2003). Habitualmente, quando lecionosobre laudo psicológico, discuto com os alunos sobre a seriedade do domínio das teorias e técnicas psicológicas. A conclusão do laudo requer habilidades queestão condicionadasaoexame adequado de uma teoria e, mais do que isso, familiaridade com ela. Por esse motivo, a perícia na elaboração da conclusão sempre será reflexo do percurso acadêmico satisfatório. Não se pode esperar que um acadêmico que não domine uma teoria ou aporte teórico desenvolva a conclusão de um laudo, valendo destacar que sua elaboração está condicionada ao domínio de uma doutrina científica. Desde aapreciação da demanda, passandoparaa escolha de instrumen¬ tos específicos, a realização do procedimento de testagem e da avaliação dos resultados na análise, constatamos que foi necessário o emprego de uma teoria. Não obstante, naconclusão, esse mesmo conhecimento teórico será útil para desvelar o objetivo principal do relatório psicológico, que é esclarecer a queixa ou demanda desencadeadora da avaliação. O profissional de Psicologia, com base na apreciação dos itens que permitem o desvelar daqueixa (observação do comportamento, entrevista clínica e anamnese) e conciliação desses elementos com os resultados 55 Rockson Costa Pessoa obtidos pela análise dos instrumentos, deve encerrar sua investigação. Sendo queesse término nem sempre representaa constatação de patologia ou transtorno, por mais que muitos psicólogos não consigam vislumbrar essa possibilidade no laudo. + * Figura 6. Conclusão. A conclusão do laudo é o término da investigação científica e, como toda investigação científica, baseia-se em hipóteses, as quais, em certos momentos, confirmam-se, e em outros não. E independentemente de confirmadaou não a hipótese, uma função importante deve ser realizada pelo componente conclusão: indicar possibilidades ao solicitante. Quando se encerra um laudo psicológico, deve-se ter em mente que essedocumentoserá lido por outra pessoa que esteja interessada em obter um dado conclusivo, mesmo que dados irretorquíveis não sejam alcança¬ dos. Por mais que em algumas situações os dados não sejam conclusivos, independentemente disso, há um sujeito que busca orientação; deve-se elaborar uma conclusão que permita avaliar possibilidades. Imagine uma mãe que procura uma avaliação psicológica por suspeitar que seu filho tenha Transtorno do Deficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e que, ao término desse procedimento, você conclua, com base em dados empíricos e rigorosa análise, que a criança não apresenta o transtorno. No laudo, possivelmente você apontará os possíveis fatores responsáveis pelo comportamento desajustado da criança. Presume-se ainda, que solicitará que acriança seja assistida por um psicólogo infantil. Outro dado importante relacionado ao item conclusão é o emprego de referências bibliográficas. Em muitos laudos psicológicos, é comum o uso de subsídios científicos como forma de explicar fenômenos. Entretanto, muitos profissionais, ao empregá-las, não informam a obra, artigo ou estudo que faz tal inferência. É prudente utilizar dados científicos como 56 ELABORAÇÃO DE LAUDOS PSICOLÓGICOS - UM GUIA DESCOMPLICADO forma desustentar uma afirmação e lembrar-se de informar as referências em um campo abaixo da conclusão. Existem dois elementos que comumente estão atrelados à conclusão: síntese e encaminhamento. A síntese é muito empregada quando se identifica um transtorno e é preciso atribuir um código da Classificação Internacional das Doenças (CID-10).Já o encaminhamento, que pode ou não ser informado no laudo, é o campo que identifica o nome do profis¬ sional que o solicitante deve buscar após o recebimento do laudo. Pode ser desde outro psicólogo para realização de psicoterapia até outros pro¬ fissionais da área da saúde, educação etc. Há ainda um item denominado indicação ou recomendação, que compõe o texto da conclusão, mas pode ser utilizado em campo distinto, como pauta de trabalho elaborado pelo profissional de Psicologia. Vamos aos exemplos. Conclusão - Caso clínico 1 É muito comum os pacientes informarem que têm comprometimento de memória quando, naverdade, o deficit está nofuncionamentoda aten¬ ção, conforme observado no deficiente desempenho de sua atenção. Para consolidação da memória, é necessário que o comportamento atencional esteja ajustado, pois, quando apresenta comprometimento, impedea con¬ solidação de novas informações, o que gera a falsa impressão de memória prejudicada. Uma vez que seudesempenho mnemónico foisatisfatório. No caso em questão, a ansiedade demonstra ser fator preponderante para esse prejuízo no campo atencionale demonstra estar atrelada às preocupações vividas em seu trabalho. A classificação de ansiedade moderada atribu¬ ída pelo instrumento BAI reforça essa afirmação, uma vez que estudos sugerem que a ansiedade interfira na atenção (MASCELLA et al., 2014; COSTA; BORUCHOVITCH, 2004). Ainda em relação à ansiedade, é im¬ portante salientar que estudos demonstram que mulheres no climatério são mais suscetíveis à ansiedade (PEREIRA, SCHMITT; BUCHALLA, 2009), do mesmo modo que pesquisas demonstram ser as mulheres as maiores vítimas da ansiedade (FREEMAN; FREEMAN, 2014). Desse modo considera-se necessário o acompanhamento médico e psico¬ lógico paraa resolução ou atenuaçãodoscomportamentos desadaptados. Indicações: acompanhamento psicológico Encaminhamento: médico ginecologista 57 Rockson Costa Pessoa Referências COSTA, E. D.; BORUCHOVITCH, E. Compreendendo relações entre estratégias de aprendizagem e a ansiedade de alunos do ensino fundamental de Campinas. Psicologia: Reflexão e Crí tica, v. 17, n. 1, p. 15-24, 2004. FREEMAN, D; FREEMAN, J. Ansiedade. São Paulo: L&PM Editores, 2014. MASCELLA, V. et al. Stress, sintomas de ansiedade e depressão em mulheres com dor de cabeça. Boletim Academia Paulista de Psicologia, v. 34, n. 87, p. 407-428, 2014. PEREIRA, W. M. E et al. Ansiedade no climatério: prevalência e fatores associados. Revista
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