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COMPORTAMENTO EMPREENDEDOR AULA 1 Prof. Elton Schneider 2 CONVERSA INICIAL “Empreendedorismo é o processo de criar algo diferente e com valor, dedicando tempo e esforço necessários, assumindo os riscos financeiros, psicológicos e sociais correspondentes e recebendo as consequentes recompensas da satisfação econômica e pessoal” (Hisrich, 2014). Tal definição não passa a sensação de que o empreendedor é uma espécie de Super-Homem ou, ao menos, alguém muito especial? Daí surge o mito de que o empreendedor é alguém raro, altamente qualificado e além do alcance de nós, simples mortais. O mito é algo criado pelo imaginário popular e que se torna verdade sem que ninguém o questione. Felizmente, ser um empreendedor não é missão para escolhidos ou pessoas “fora da curva de normalidade”. Todos nós podemos e devemos ser empreendedores. A partir desta aula, derrubaremos esse mito e mostraremos que é, sim, possível agirmos em nossa vida, no campo pessoal, social ou profissional, como verdadeiros e eficazes empreendedores. Conheceremos, portanto, mais sobre essa figura cada vez mais importante à sociedade e, com isso, aprenderemos a exercitar mais nosso espírito empreendedor. Vamos à nossa aula! CONTEXTUALIZANDO O ato de empreender é antigo, e com o tempo passou por transformações em termos do que fazer, como fazer, onde fazer e até mesmo por que fazer, porém sua essência não mudou. De forma simples, podemos dizer que empreender é transformar, seja a si mesmo, seu entorno, seu negócio, sua sociedade, seu mundo; enfim, empreender é agir pela mudança, mas não de forma impensada e desastrada. Empreender é a arte de transformar uma ideia em realidade, com o máximo de impacto positivo possível. A figura do empreendedor é a de uma pessoa que tem certo perfil e que segue algumas crenças e características. Ela tem um conjunto de competências e age com determinação, não temendo o fracasso ou o erro, aprendendo sempre. A presente rota apresenta inicialmente os conceitos e as características da ação empreendedora, mostrando que ela tem atributos próprios que podem 3 ser analogamente considerados uma caminhada, na qual se percebem um começo, um caminho e um destino, havendo em seu caminhar diferentes desafios, riscos e decisões. A seguir, serão apresentados os diferentes focos e tipos de ações empreendedoras, de modo que o ato de empreender assuma diferentes feições, dependendo como, onde e por que se empreende. Posteriormente, discutiremos a relação entre a sorte, a criatividade e a ação empreendedora, buscando entender melhor como se processa o desafio de obter resultados mediante o esforço empreendedor. Isso nos remeterá ao CHA empreendedor; não à bebida quente e saborosa, mas às Capacidades, às Habilidades e às Atitudes (CHA) do empreendedor. Para finalizar, descreveremos quais elementos podem ser considerados as bases do empreendedor; ou seja, se o empreendedor tem um perfil, é preciso que se entenda quais são as características desse perfil, pois serão essas características que descreverão quem é esse tipo de pessoa que comumente é chamada de empreendedor. Também há muito mais: são indicados exercícios que propiciam melhor fixação do conteúdo aqui descrito. Bom estudo! TEMA 1 – CONCEITOS E CARACTERÍSTICAS DA AÇÃO EMPREENDEDORA Ao analisarmos a evolução dos conceitos de empreendedorismo, notamos que se trata de um tema com diferentes facetas, conectando-se de modo amplo a pontos de vista bastante variados. No quadro a seguir, no qual se vê a definição de diferentes autores, essa realidade fica bastante perceptível: 4 Figura 1 – Conceitos de empreendedorismo Fonte: Farah, 2008. Essa diversidade de definições é útil, pois nos faz analisar esse fenômeno da ação humana de modo mais amplo. No entanto, mesmo com todas essas vertentes, há elementos presentes nas diferentes definições que se repetem. Podemos dizer que empreender é todo esforço que se refere a uma pessoa que busca uma mudança, ao desejo de se querer sair de uma situação para outra. Empreender, portanto, tem forte relação com as palavras decidir e agir. Decidir, porque empreender depende do momento e do contexto em que o empreendedor percebe um caminho o qual deseja percorrer, vê que se trata de uma ação que vale a pena, e acredita que ela não só é possível como desejada. Daí a decisão de ir em busca de sua realização. Por tal razão, os dicionários colocam decidir fazer algo ou cismar como sinônimos de empreender, além de relacionar essa palavra com tentar, experimentar, resolver executar. Conclui-se que o começo da caminhada empreendedora está na decisão de percorrer certo caminho em busca do alvo percebido, e isso só acontece quando a pessoa se mostra efetivamente disposta a participar desse processo de mudança. É importante considerar que a decisão de empreender está altamente relacionada à situação política, econômica, cultural e social do meio em que o empreendedor pretende interferir. Mesmo considerando que o empreendedorismo tem suas raízes na própria origem do homem – já que foi mediante sua ação que todas as transformações da humanidade aconteceram – , o empreendedor ganhou relevância no final do feudalismo, ampliando seu papel 5 e sua importância a contar da Revolução Industrial, e depois com todas as transformações dos séculos XX e XXI. Cabe aqui analisar o empreendedorismo na realidade brasileira, e, para isso, analisaremos o quadro que se segue: Figura 2 - Análise histórica da relação entre o empreendedor e seu contexto de atuação ÉPOCA LOCAL CONTEXTO CONSTATAÇÕES Século XIV Europa Ocidental Fim feudalismo e início transformações como renascimento, reforma protestante, burguesia e cidades/nações. Surgimento do capitalismo comercial como um novo modo de produção, impulsionando, por sua vez, a expansão marítima europeia. 1500 a 2000 Brasil A colonização atendeu a objetivos bem claros: o fornecimento de matéria prima para a Europa Sociedade alicerçada sobre o latifúndio, o trabalho escravo e a monocultura voltada à exportação. Sociedade em que as classes e grupos sociais fossem extremamente desiguais. Contexto adverso ao desenvolvimento do “espírito empreendedor”. A economia foi, quase sempre, negócios de poucos (os grandes proprietários), pois os escravos e, depois, os trabalhadores livres e assalariados pouco participaram como empreendedores. O burguês, nosso efetivo empreendedor, só aparecerá tardiamente no Brasil e, ainda por cima, ligado aos proprietários rurais (os cafeicultores). Nossa história, em seus cerca de 500 anos, não privilegiou a liberdade seja econômica, social ou política. Tal situação dificultou muito a ação do empreendedor já que para ele a liberdade é de suma importância. A família patriarcal junto ao catolicismo, por sua vez, foram fatores de inibição do ethos empreendedor. A sociedade tinha duas castas: escravos negros e homens livres. Nestas, o trabalho sempre foi entendido como algo negativo, pejorativo, desvalorizado. O trabalho – no universo simbólico do catolicismo – é um fardo que se deve carregar por conta do pecado original. Foi em meados da década de 1930, que o Brasil e sua sociedade assumem um caráter urbano e, portanto, de face capitalista. A sucessão de presidentes que saiam dos estados mais poderosos (Política do café com leite), fez com que o desenvolvimento econômico padecesse de agentes individuais empreendedores. Por fim,no regime militar, com supressão das liberdades democráticas, que se terá o maior Essa modernização gerou, em seu bojo, uma enorme dificuldade nas esferas sociais, tornando a 6 volume de geração de capital, por conta da indústria. sociedade brasileira uma das mais industrializadas do mundo, mas com uma das piores distribuições de renda entre todos os países do globo. Fonte: Adaptado de Prando, 2010, p. 98-100. Essa abordagem é muito rica, pois nos mostra que temos uma herança empreendedora nem sempre favorável, na qual influências históricas de ordem cultural, política, religiosa e social fizeram com que nosso espírito empreendedor sofresse muito em seu crescimento e sua evolução. O importante é ver que, mesmo com todas essas limitações, o empreendedor brasileiro tem atuado de forma dinâmica e transformadora. Podemos perceber que a verdadeira ação empreendedora é formada pela percepção e pelo desejo de ação, seguida de um trabalho de mobilização de recursos e de cálculo de riscos que orienta e viabiliza a realização da mudança desejada. Esse trabalho é permeado por desafios de ordem pessoal, interpessoal, técnica e gerencial, sendo realizado mediante recursos de ordem física, humana, material, financeira e tecnológica, trabalhados de forma planejada, ordenada, negociada e voltada para a minimização dos riscos e erros. TEMA 2 – PRINCIPAIS FOCOS E TIPOS DE AÇÕES EMPREENDEDORAS O querer é o grande elemento motivador e direcionador da ação humana. É a contar da hora que a pessoa define o que ela quer que todo o processo de caminhar em direção à conquista desse alvo desejado começa. Contudo, em muitas vezes, as pessoas manifestam seu querer por aquisições de bens, realização de viagens, casamentos, constituição de família, etc. No fundo, tudo isso é apenas parte do efetivo querer de todas elas, que é a felicidade. Gikovate (1981) referenda essa visão ao dizer que “a meta do homem livre é a felicidade em vida; ou seja, aquilo que a religião prometeu para depois da morte e a ciência sugeriu que é impossível”. Toda e qualquer ação, de forma direta ou indireta, tem relação com o fato de as pessoas quererem a felicidade. Em busca disso, as pessoas se abastecem para enfrentar as lutas e desafios da vida. Portanto, todo empreendedor é um excelente caçador de felicidade, ainda mais porque ele sabe que a felicidade, na verdade, não é um alvo, mas, sim, um caminho; ou seja, ser feliz tem relação com o que somos e fazemos a cada dia. Se nos dedicamos a algo que nos 7 remete a boas sensações e nos motiva a seguir, significa que vivemos a felicidade. Sabendo disso, torna-se muito mais coerente pensar em enfrentar caminhadas empreendedoras, pois percebemos que esse caminhar é o que nos dá a saúde pessoal que nos faz levantar todo dia em busca de novas realizações. Nessa percepção, podemos inferir que empreender é o combustível para nossa felicidade. 2.1 Então, só é feliz quem monta o próprio negócio? Aí reside um dos grandes enganos relacionados ao empreendedorismo. Empreender é fazer acontecer e, portanto, criar a própria empresa empreendendo é apenas uma das maneiras possíveis de empreender. Há várias outras maneiras de empreender. Tudo que possa acontecer dentro do caminhar em busca de realizações são formas de se empreender. Dentre essas formas, destacam-se: O empreendedorismo de negócios: Aqui está o empreender mais clássico em termos do reconhecimento da palavra empreender. É o sujeito que deseja fazer acontecer de modo próprio, gerando retornos para si, sendo o grande senhor e o responsável por tudo que se relaciona com suas ações empreendedoras. Em outras palavras, o empreendedor aqui é o dono do negócio. Aquele que empreende em busca da montagem de um negócio próprio. O intraempreendedor: Esse especial tipo de empreendedor é cada dia mais importante no mundo. São aquelas pessoas que agem e batalham para que tudo aconteça conforme planejado e desejado pelo dono do negócio, porém o empreendedor não é o dono. Ele age e trabalha como se fosse o dono, atuando dentro de seu espaço e nível de poder, e busca a transformação com o mesmo grau de motivação e fé do verdadeiro dono. Aqui se descreve o perfil de colaborador que o mercado mais quer, ou seja, aquela pessoa que se empodera pela energia de realização e parte para a ação com a máxima dedicação, usando o limite de suas capacidades e habilidades. O empreendedor público: Aqui fazemos essa distinção em virtude do alvo do empreendedor. O empreendedor público é um intraempreendedor clássico, porém sua motivação não está na captação de lucros financeiros como o empreendedor tradicional. Sua ação, como um agente público, é a obtenção da maior efetividade por parte do cidadão. Toda a energia do 8 servidor é direcionada para o atendimento das demandas públicas, trabalhando para que os resultados sejam os melhores possíveis com o máximo de amplitude. O empreendedor social: O empreendedor dessa natureza pode ser o dono de uma organização não governamental (ONG) ou mesmo um funcionário ou voluntário que age com determinação em busca de resultados socioambientais. Sua meta, mesmo não sendo financeira, demanda uma atuação firme e dedicada, competente e equilibrada para que as metas não econômicas se tornem reais, conforme planejado. No fundo, os diferentes tipos são apenas fotografias diferentes de um mesmo elemento: aquela pessoa que compra a briga em termos de fazer acontecer as metas que foram estabelecidas sejam delas próprias, de terceiros, econômicas, sociais ou ambientais. Esse agente transformador responde pelo nome de empreendedor, independentemente do contexto e da natureza de sua ação. É importante salientar que se tratam também de pessoas com senso crítico, determinadas a fazer do melhor modo possível, aliadas às mudanças e conscientes de seu papel na sociedade e no planeta. Esses são aspectos importantes a serem considerados, sem considerar o tipo de ação que será alvo do agir do empreendedor. 2.2 Elementos que despertam as pessoas para a ação empreendedora Esses elementos são muito interessantes, pois, segundo estudos relacionados ao empreendedorismo, há dois grandes fatores que levam as pessoas a empreender: a necessidade e a oportunidade. O quadro a seguir resume o perfil desses dois tipos: 9 Figura 3 – Perfil das pessoas que empreendem por necessidade e/ou oportunidade Fonte: Schneider, 2011. É característica de sociedades com maior escassez de recursos e preparo a grande incidência de empreendedores por necessidade, já que se trata de um tipo de ação que busca essencialmente a sobrevivência, algo ainda mais desafiante em lugares onde o volume de pessoas com esse nível de exigência básico é elevado. O Brasil, nos primeiros estudos a respeito, adquiriu um perfil de país possuidor de mais empreendedores por necessidade do que por oportunidade. Entretanto, no decorrer do tempo, essa realidade se alterou a ponto de estudos mais recentes apontarem que o percentual de empreendedores por oportunidade superou os por necessidade. É interessante ver que esse fato nos remete à importância dos governos incentivarem seus empreendedores a agir, dando a eles condições e apoio, pois as economias nunca foram tão dependentes de seus empreendedores como hoje. Desse contexto, surge o conceito do empreendedor de impacto, ou seja, aquele tipo de empreendedor cuja ação gera uma repercussão extremamente alta e de grande importância para o país em que atua. Esses empreendedores de impacto são, na verdade, os empreendedores degrandes oportunidades, aqueles que conseguem perceber oportunidades de maior magnitude e se organizam para poder aproveitá-las da melhor maneira possível. TEMA 3 – A LIGAÇÃO ENTRE SORTE, CRIATIVIDADE E AÇÃO EMPREENDEDORA Seria muito superficial pensar que as ações empreendedoras de sucesso foram fruto da simples sorte. O sucesso hoje, em meio a tantas transformações 10 e complexidades, demanda uma boa dose de competência, arrojo, liderança, capacidade decisória e gestão, enfim, fatores como planejamento (capacidade técnica), gestão (capacidade gerencial), visão sistêmica (capacidade analítica) e criatividade (capacidade inovadora) são muito mais relevantes e decisivas do que a sorte. Se pensarmos que sorte é aquilo que acontece com a pessoa certa e preparada, na hora e no local certos, podemos concluir que o empreendedor se torna um excelente candidato à sorte. Afinal, é uma pessoa em constante processo de evolução (preparado), que consegue ter uma percepção acima da média do mercado e tendências, o que lhe coloca no lugar certo, e um timing dos acontecimentos que o habilita a chegar à frente dos outros (hora certa). Podemos até dizer que quando alguém diz que certo empreendedor de sucesso teve sorte, talvez ele esteja apenas dizendo que se trata de uma pessoa que se habilitou à maior colheita possível da sorte. No entanto, se pensarmos um pouco mais, concluiremos que a sorte é sempre bem recebida, e caso ela resolva aprontar no caminho do empreendedor, ele com certeza ficará muito feliz com sua ajuda, mesmo que já tenha se preparado para fazer acontecer sem contar com essa dose de sorte. 3.1 Criatividade: será que isso é importante para o empreendedor? A seguir, há uma definição. Leia-a e tente descobrir se é a definição de empreendedor ou de criatividade: É uma qualidade adquirida por pessoas curiosas que buscam inspiração em informações e têm a sensibilidade de percebê-las de forma diferente. Pessoas criativas possuem comportamentos diferentes: são curiosas ao extremo, são persistentes, são bem-humoradas, são independentes em seus atos e responsáveis por tais, possui rápida desenvoltura em atividades, fácil percepção, habilidade no aprendizado e ainda são grandes visionárias, já que conseguem prever as consequências possíveis de ocorrer em suas criações por erros ou imprevistos. (Cabral, 2016) Tudo bem! Você viu a fonte e descobriu que é a definição de criatividade, mas será que não poderia ser também a descrição do perfil de um empreendedor? São dois elementos tão próximos que é possível confundi-los. O empreendedor é essencialmente uma pessoa criativa. Ele utiliza essa qualidade em toda sua caminhada e, muitas vezes, é ela a grande arma para obter o sucesso. O empreendedor usa a criatividade desde o momento de buscar uma ideia que tenha o potencial de ser uma oportunidade, passando pela montagem – 11 estruturação conceitual ou modelagem – dessa ideia, seu aprimoramento, seu planejamento e sua execução. Criar é uma das atividades mais úteis e frequentes de um empreendedor. A aliança da sorte com a criatividade pode ser um importante elemento de conquista do sucesso por parte do empreendedor. Contudo, ele conta com a criatividade e torce para que a sorte apareça, e não o contrário. É importante, então, que o empreendedor se esforce para obter o maior potencial criativo possível, pois se essa qualidade estiver presente em suas ações, com certeza ela servirá como um trevo de quatro folhas para atrair a sorte ou, pelo menos, para afastar o azar. TEMA 4 – O CHA EMPREENDEDOR Fica nítida a necessidade de o empreendedor desenvolver todo um conjunto de habilidades e competências para poder fazer sua caminhada em busca da realização de seus sonhos/objetivos. Isso não significa, no entanto, que sua ação somente poderá começar quando ele estiver pronto; pelo contrário, boa parte desses requisitos é adquirida no caminhar. Considerando os desafios das mudanças pretendidas, o empreendedor precisa: Figura 4 – Necessidades do empreendedor Também é preciso ter a consciência de que a decisão de empreender tem implícita a questão de que se vai agir ou estruturar algo novo, diferente do que está apresentado e com um bom grau de inovação em seu conteúdo, forma e/ou estrutura. 12 Importante notar que não comparamos o inteligente com o não inteligente ou o mais provido com o menos provido. Destacam-se a postura do empreendedor perante o mundo, sua complexidade, seus desafios e suas demandas. A maneira de ser e de agir do aquele um é a mais coerente com a realidade do século XXI, pois, em um mundo competitivo, globalizado, tecnológico e altamente dinâmico, pessoas acomodadas, medrosas e pouco ativas tendem a colher menores frutos, já que o contexto complexo premia quem melhor o percebe, age sobre ele e se orienta pela criatividade e inovação em busca da superação. Ser um empreendedor, portanto, é agir a cada dia com a confiança e a determinação de que se aprende sempre, de que cada passo é uma forma de evolução, mesmo que seja um passo mal dado. Mesmo sem estar pronto, começa-se a caminhar e se torna melhor a cada dia, tal qual fazemos quando aprendemos a andar de bicicleta: perdemos o equilíbrio a cada segundo em busca da obtenção do próprio equilíbrio, e cada movimento de compensação do desequilíbrio traz o novo equilíbrio, que gera novo desequilíbrio e nova ação de equilíbrio; assim se segue pedalando, aprendendo a se equilibrar, mesmo em estradas não pavimentadas, desconhecidas, perigosas ou fora de nosso caminho desejado. 4.1 Existe um CHA para o empreendedor? Veja bem: não estamos falando dos deliciosos líquidos que tomamos quentes ou gelados, mas, sim, da sigla que, em administração, significa a soma das capacidades (saber), habilidades (saber fazer) e atitudes (saber fazer acontecer) de uma pessoa. Há, com certeza, uma formação sistêmica desses elementos na identificação e formato do empreendedor. Como é que um empreendedor pode querer agir sobre um mercado sem o saber a respeito desse mercado? A partir desse saber, ele agrega análises, reflexões e metodologias que lhe permitiram identificar como agir sobre aquele mercado; ou seja, ele lançará mão de habilidades que lhe darão a condição de saber o que fazer nesse mercado. Por fim, sabendo o que fazer e planejando isso, ele precisa agir tornando esse plano de interferência no mercado algo real e dentro do esperado. Aqui se fala de saber fazer acontecer o que havia se estabelecido em seu planejamento. 13 Desse modo, podemos seguir em várias frentes nas quais se percebe essa relação das capacidades com as habilidades e atitudes. Um empreendedor precisa ter determinação e energia, mas não pode perder o controle ou se deixar levar pelo sentimento, comprometendo sua visão e sua necessidade de ação sobre os problemas. Esse controle dos sentimentos demanda um autoconhecimento (saber), que o remete à reflexão (saber fazer) em momentos de crise, evitando que reações intempestivas e inadequadas minem a efetividade de suas ações (saber fazer acontecer). Observando desafios como o de implantar processos sinérgicos, definir e colocar em condições de uso uma estrutura tecnológica ou desenvolver ações na qual dissemina valores, ética e moral, podemos ver que há essa estreita e importante relação entre capacidades, habilidades e atitudes. Falhas nessa rede podem representar fracassos, más decisões ou mesmo ações desastrosas. TEMA 5 – O PERFIL DO EMPREENDEDOR 5.1 Teria como apresentar o perfil do empreendedor? Existe um perfil que o represente? Sim, é possívelse falar de perfil empreendedor. Observando a prática empreendedora, é possível identificar elementos que se destacam na ação do empreendedor. De imediato, a importância de ele ser um bom gerente, já que a todo o momento é desafiado a gerenciar pessoas, tempo, processos, planos, finanças, materiais, logística, tecnologias etc. Ele não pode se eximir de tais questões, afinal, o negócio precisa que tudo isso funcione a contento para que se possa chegar aonde se deseja. É preciso gerenciar tudo ao mesmo tempo e de forma equilibrada, coerente e eficaz. Aquele perfil do empreendedor, no início da ação empreendedora, extremamente criativo, sonhador, corajoso e perceptivo, precisa, na ação gerencial, receber boas doses de razão, de controle emocional, de gestão de informação, de boa tomada de decisão e, ainda, de gerenciamento claro, objetivo, que sabe pedir, controlar e rever rumos. Portanto, gerir uma ação empreendedora é uma missão que não é simples e nem rotineira. Demanda constante atenção e determinação para não se perder o norte e, ao mesmo tempo, manter o barco na direção e na velocidade corretas. Isso demonstra que, 14 na verdade, o desafio passa pelo exercício de um triplo e dinâmico papel a ser desenvolvido: Por um lado, o empreendedor deve ter boas ideias, ser visionário, determinado, criativo e sonhador. Deve manter sua essência empreendedora. Deve também saber planejar, organizar os planos, ações, recursos e metas. Deve fazer uso de sua essência gerencial. Por fim, deve ser capaz de executar o que foi planejado. Fazer uso de sua essência técnica. 5.2 Características essenciais ao empreendedor Na verdade, as características mudam dependendo do local por ele ocupado em sua caminhada empreendedora. Algumas características são essenciais no começo da ação, outras lhe apoiam no meio do trajeto, e há ainda as que o suportam nos locais mais avançados da trilha empreendedora. De um modo sintético, pode se dizer que existe um mix de características que dão ao empreendedor o perfil e as condições necessárias para sua ação: Figura 5 – Características do empreendedor Com base na frase ir a campo, pode se resumir as características essenciais de um empreendedor, já que não se pode falar em empreender sem uma certa dose de inovação; muito menos, sem o exercício da gestão das diferentes frentes do negócio que demandam um reger bem afinado. A necessidade de agir e contribuir para que a mudança desejada saia do mundo dos sonhos para a realidade é crucial. Em vários momentos, a ação criativa será aliada e decisiva para o sucesso do empreendedor, ao se ter fé e acreditar que 15 dará conta dos desafios, mantendo sua autoestima em bom grau. Como nada é feito sozinho em termos de empreendedorismo, é extremamente importante que o empreendedor saiba motivar, não somente a si mesmo, mas também todos os demais envolvidos nas ações empreendedoras. Ele precisa não esmorecer perante os problemas e surpresas desagradáveis, pois sabe que nem tudo acontece conforme planejado e que o inesperado está sempre à espreita nas ações empreendedoras, desejando achar uma brecha para se manifestar. Deve se organizar no sentido de saber planejar e também de manter suas informações e ações bem claras, feitas da melhor forma possível e dentro dos custos e qualidades esperadas. Com a especificidade, a complexidade e os desafios das ações empreendedoras, outras características ganham magnitude e passam a ser relevantes em termos de estarem presentes no empreendedor. Questões como bom relacionamento interpessoal, empatia, liderança, competência técnica, ética e outras sempre são úteis e desejadas, porém muitas delas estão embutidas nas características listadas anteriormente. O importante é perceber quais as demandas advindas da realização do sonho e se preparar o máximo possível para dar conta delas com o melhor nível possível de efetividade. Novamente, o lema de eterno aprendiz se realça na vida do empreendedor. Essa lista de características, contudo, não deve nos levar a crer que somente depois de se atingir um certo grau de competência nessas características é que se poderá partir para a ação empreendedora. Não se trata disso. Aqui é importante saber quais elementos circulam nas veias dos empreendedores e, a partir disso, tratar da cobertura das lacunas, ou seja, buscar o aperfeiçoamento nessas direções, dando maior prioridade às que se apresentam mais limitadas, para depois seguir para as demais, não de modo sequêncial, mas sim sistêmico. A cada dia, deve se olhar essas características e buscar degraus a serem subidos na busca da obtenção do patamar adequado para se tornar um empreendedor de alto impacto e realização. FINALIZANDO A presente aula teve o desafiante objetivo de apresentar o empreendedor, seu perfil, seus requisitos, suas características e ainda uma evolução histórica, conceitual e contextual. Importantes elementos desse sujeito cada dia mais importante na economia, na sociedade e nos negócios foram trabalhos, 16 apontando não somente para sua relevância, mas também para os desafios a que nos submetemos quando resolvemos empreender em busca da obtenção de certos objetivos ou sonhos. Aprendemos que elementos como sorte, criatividade, capacidades, habilidades e atitudes permeiam as ações empreendedoras, fazendo com que os agentes dessas ações sejam pessoas preparadas, dinâmicas, persistentes e capazes de solucionar problemas, contornar obstáculos, superar resistências ou mesmo inovar quando o contexto assim o exigir. Esse conhecimento sobre o empreendedor e a ação empreendedora é de grande valia na formação do gestor na medida em que certas características presentes na essência do empreendedor precisam também estar presentes no gestor, possibilitando que alie a sua capacidade técnica e gerencial, uma personalidade empreendedora, criativa e inovadora, que incrementa muito sua atuação e a obtenção de resultados. 17 REFERÊNCIAS ALVES, A. Empreendedorismo no Brasil e seus principais números. Altair Alves, 14 maio 2014. Disponível em: <http://www.altairalves.com.br/blog/empreendedorismo-brasil-e-seus-principais- numeros/>. Acesso em: 19 dez. 2017. CABRAL, G. Criatividade. Mundo Educação. Disponível em: <http://www.mundoeducacao.com/psicologia/criatividade.htm>. Acesso em: 19 dez. 2017. CHIAVENATO, I. Empreendedorismo: dando asas ao espírito empreendedor. Barueri: Manole, 2012. DIAS, R. Empreendedorismo no setor público. Cruzeiro do Sul, Sorocaba, 27 jul. 2014. 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