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Desenvolvimento Apego Formação do vínculo Afetivo

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A FORMAÇÃO DO VÍNCULO AFETIVO: 
A QUESTÃO DO APEGO
JULIANA ALENCAR DE SOUZA 
Resumo: A pesquisa que se apresenta, de natureza bibliográfica, tem por objetivo levantar teorias a respeito da relação mãe-bebê. O mito do amor materno é um tema abordado por vários autores. Pois alguns defendem que o bebê desenvolve o vínculo com sua mãe, somente depois 
do nascimento, enquanto, outras explicam que o surgimento desta relação didática desenvolve-
se muito antes da concepção do filho. Este artigo tem por objetivo específico analisar esta 
questão da formação deste vínculo afetivo, dando ênfase à questão do apego. Para assim 
favorecer a construção e a intensificação da interação mãe e filho, haja vista ser essa construção 
a base para toda a constituição psíquica do futuro adulto.
Palavras-chave: Psicopedagogia, Vínculo afetivo, Interação mãe-bebê, Apego.
I. Introdução
Toda ciência que procura compreender o comportamento humano recai um dia na questão de como e por que o ser humano estabelece vínculos afetivos e 
emocionais.
Até meados da década de 1950, tanto os
psicanalistas, como Freud, Lacan e outros, como os teóricos 
da aprendizagem, Piaget, Vygotski, compartilhavam do 	
mesmo ponto de vista sobre a formação dos vínculos 
afetivos: necessidades de satisfação dos impulsos primários, 
tais como a alimentação e o sexo. Na psicologia, várias 
teorias tentam explicar o estabelecimento de vínculos, como, 
por exemplo, as teorias com embasamento teórico em 
Winnicott, (1999); Spitz, (1988); John Bowlby, (1962); 
Maldonado (1988) e Soifer (1980).
Em vista disto, fez-se necessária uma revisão teórica a 
respeito desta “construção” da maternidade, pois muito se 
fala a respeito e, no entanto, não se chega 
a uma conclusão a respeito do assunto. 
Ao discutir o assunto, verifica-se 
que para se chegar à maternidade e à 
formação de vínculos, deve-se examinar 
a interação mãe-bebê, levando-se em 
conta:
A mãe: através da complexidade 
que envolve a figura materna, onde a 
questão do instinto materno faz-se
presente ou não; isto na visão,
principalmente, de Bowlby, Maldonado e 
Klein;
O bebê: na visão de Winnicott, 
prioritariamente, teórico da área
transicional e do espaço potencial,
defende que a criança pra se desenvolver 
bem só necessita de uma mãe
suficientemente boa; por outro lado, existe 
Klein, onde diz que o primeiro objeto de 
amor e ódio do bebê é sua mãe;
O vínculo: a questão do apego de 
Bowlby, onde de acordo com suas idéias, o 
apego é uma necessidade básica e vital do 
ser humano, tendo em vista que este 
nasce predisposto e equipado para se 
apegar a um indivíduo em especial que se 
disponha a se relacionar com ele de uma 
f o r m a t a m b é m e s p e c i a l . Ta l
comportamento de ligação persiste
durante a vida adulta (pode ser
particularmente observado nos adultos 
nas situações de doença ou de tensão), 
embora a freqüência e a intensidade 
tendam a diminuir com a idade. Winnicott 
(1999) assinala que a ausência da
segurança materna terá efeitos sobre o 
desenvolvimento emocional e acarretará 
danos a personalidade e ao caráter. Além 
de Spitz, (1988); Maldonado (1988); e 
Soifer (1980) que têm demonstrado que a 
criança passa a identificar sua mãe 
através da discriminação perceptual,
sorrindo pra ela, vocalizando-a e a
olhando. Aparece aqui, também,
pesquisas de outros autores sobre o 
assunto (suas pesquisas) mas os mesmos 
se basearam nos autores citados acima.
É interessante ressaltar que, no 
corpo do trabalho, falar-se-á na díade 
mãe-bebê e, não necessariamente, será a 
mãe a figura de apego com quem o bebê 
estabelecerá o vínculo, pois quando se 
fala da interação mãe-bebê na UTI 
neonatal está implícito que a mãe está 
com seu bebê. Mas o que se pode 
observar é que esta figura (de mãe - da 
maternagem) pode ser alguém que exerça 
o papel de mãe: um parente, uma babá. 
Enfim, o vínculo se estabelece com uma 
figura disponível, independentemente de 
ser ela a mãe ou não da criança. 
E quando se inicia a formação 
desse vínculo? Esta é a pergunta na 
continuação do trabalho. Aqui se expõem 
autores diversos como, Macedo e Barros 
(2002); Pupo (2000); Durand (2003); que 
abordam esta questão.
Tal questão é ainda polêmica e 
resulta em opiniões diversas; muitos 
estudiosos, como por exemplo Papalia e 
Olds (2000) Montenegro (1992) e Valério 
(2003) acreditam que a formação do 
vínculo de apego começa antes mesmo do 
nascimento do bebê. Sabe-se que antes 
da concepção e durante a gestação 
existem fatores influenciando a formação 
do vínculo, como por exemplo:
O desejo inconsciente dos pais 
com relação ao desenvolvimento dos 
seus papéis de pai e de mãe;
A existência do bebê enquanto 
possibilidade;
A qualidade da relação seja do 
próprio casal, como da mãe/bebê;
Aexistência de fantasias. (Aqui, por 
exemplo, entram as fantasias com relação 
ao sexo do bebê, ao como ele vai ser 
quando crescer.)
Finalizando o estudo bibliográfico, 
destaca-se a questão sobre como os 
vínculos se transformam e podem se 
romper se não houver uma integração 
multidisciplinar dentro das instituições. 
Pois humanizar é um caminho que pode 
ser tomado, visando à diminuição dos 
riscos que a falta de um vínculo afetivo 
pode ocasionar. 
Dessa forma, é a atitude emocional da 
mãe que irá conferir a qualidade de vida à 
experiência do bebê, o qual passará a 
responder também afetivamente a esse 
investimento emocional, numa relação 
recíproca e desejante.
Esse desejo pelo filho vem desde 
antes a gestação, refletindo as fantasias 
de maternidade, à medida que o bebê é 
pensado e inscrito numa rede de
significantes, numa gradativa construção 
do filho imaginário. (Macedo e Barros, 
2002).
2. Contribuições teóricas
Interação mãe-bebê
AMãe
De acordo com Sayers (1992),
Melanie Klein, em sua vida particular, 
acolheu sua mãe no que ela tinha de 
“bom” e de “ruim”. Com isso, ela promoveu 
uma revolução na psicanálise, desde a 
preocupação com a subjugação dos
instintos “anárquicos” da criança como 
dizia Anna Freud até uma compreensão 
dos instintos como algo sempre
relacionado com o outro, a começar pela 
mãe, amada e odiada.
Para Sayers (1992), ao citar Klein, 
demonstrou progressivamente que essas 
relações e não os instintos, despojados 
da relação com o outro é que constituíram 
a matéria-prima da vida mental.
Vários autores (Klein, 1975;
Maldonado, 1988 e 1989; Soifer, 1980; 
Szejer & Stewart, 1997; e Lukas, 1983) 
concordam que na complexidade, onde se 
envolve a figura da mãe, devemos
priorizar o que há em um verdadeiro 
relacionamento amoroso entre a mãe e 
seu bebê, tal como se desenvolve quando 
a mulher atingiu uma personalidade
plenamente maternal. Além disso, existem 
vários caminhos que vinculam o
relacionamento da mãe com o seu filho ao 
seu próprio relacionamento com a sua 
mãe na infância. Tanto os bebês quanto as 
crianças pequenas possuem um desejo 
intenso, este consciente ou inconsciente: 
nas fantasias inconscientes da menina 
pequena, o corpo da mãe está cheio de 
bebês, na qual ela imagina que tenham 
sido ali colocados pelo pênis do seu pai, 
que a seus olhos significa toda a
“criatividade, poder e bondade”. É esta 
atitude de admiração para com o pai e 
seus órgãos sexuais como poder criador e 
fonte de vida que associado ao desejo 
intenso da menina de ter seus próprios 
filhos dentro delas, que se tornam o seu 
bem mais precioso, ou seja, o desejo de 
ser mãe.
Frente a isto Klein (1975) relata que é 
quando a criança brinca com suas
bonecas como se fossem bebês vivos e 
reais que ela desenvolverá, na vida 
adulta, o amor que a mulher grávida 
experimenta pela criança que se
desenvolverá em seu ventre, e depois 
pelo bebê a que deu à luz. Esta realização 
a tornará uma pessoa menos agressiva e 
irá intensificar a sua capacidade de amar o 
seu filho. 
De acordo com a autora existem,porém, algumas mães que exploram esse 
relacionamento para a gratificação de 
seus próprios desejos, ou seja, de sua 
possessividade e da satisfação de ter 
alguém dependente delas. Mulheres
assim desejam que os seus filhos
permaneçam grudados a elas e detestam 
a idéia de que eles venham a crescer e 
adquirir individualidades próprias.
Por outro lado, Karen Horney, citado 
por Sayers (1992), se opôs, em particular, 
à a u t o - e s t i m a d a s m u l h e r e s
representadas pela explicação freudiana 
de sua psicologia com base na inveja do 
pênis. Ao fazê-lo, ela usou sua experiência 
materna, essencialmente, para inverter a 
teoria de Freud: primeiro, para argumentar 
que a psicologia da mulher era
determinada pela identificação inata com 
a mãe, e não pela identificação frustrada 
com o pai; segundo, para chamar a 
atenção para a inveja masculina do 
maternalismo feminino.
Frente a esta dicotomia, de acordo 
com Sayers (1992), Lopes (1983) e 
Langer (1981), não se pode dizer que a 
vida e a obra de Anna Freud tenham 
envolvido a rejeição materno-centrada de 
Horney ao patriarcalismo freudiano. Muito 
pelo contrário. Embora tenha vivido com a 
mãe por mais de meio século, Anna 
parece tê-lo ignorado quase por completo, 
enquanto assumia seu lugar como
secretária, enfermeira e principal
representante das idéias do pai.
Mas também as ultrapassou. Nesse 
aspecto, surpreendentemente, ela
recorreu em particular à experiência de 
maternalização de seu sexo.
A primeira experiência fez dela a 
pioneira da análise com crianças e da 
psicologia do ego, e a segunda fez com 
que modificasse a visão de seu pai sobre o 
desenvolvimento infantil, passando a levar 
em conta sua dependência da
maternalização primária.
Devido à sua experiência na
assistência às crianças durante a guerra, 
Anna Freud passou de uma centralização 
no pai para uma centralização na mãe. Ela 
voltou sua atenção para “o anseio de todos 
os indivíduos por uma união perfeita com 
a mãe” (Sayers, 1992, p.187).
Em condições diferentes, Helene
Deutsch teve problemas na sua vida 
particular com sua mãe, por conseguinte 
não gostava dela (Sayers, 1992). Ela 
estava mais interessada na psicologia 
feminina, e, com isso, dizia ela que os 
problemas advindos do aparecimento da 
menstruação, do ciclo menstrual, da 
perda da virgindade e conseqüentemente 
da relação sexual, gravidez e parto, e 
ainda da menopausa, sugeriu Helene, não 
se deviam tanto, como argumentava 
Freud, ao fato de essas funções
significarem a castração. Antes, afirmou 
ela, eram efeito dos conflitos
desencadeados por estes eventos
reprodutivos entre o amor-próprio
narcísico e o amor maternal pelos outros.
Maldonado (1989), estudando este 
tema, acrescenta que a maternidade e a 
p a t e r n i d a d e s ã o f a s e s d o
desenvolvimento psicológico que estão 
sempre em possibilidades de
reestruturação, modificações e
reintegrações da personalidade, ou seja, 
a pessoa nunca cessa de crescer, de se 
desenvolver e de aprender com suas 
experiências.
A partir desta premissa, a mulher 
passa, em sua vida, por três períodos 
críticos de transição: a adolescência, a 
gravidez e o climatério. Estas fases 
afetam o desenvolvimento da
personalidade da mulher, pois
intimamente ligadas com o papel delas na 
sociedade, com as novas adaptações, 
reajustes interpessoais e intrapsíquicos e 
com sua mudança de identidade, passam 
da menina, para a mãe e depois para a 
menopausa.
Existem várias vertentes de análise 
sobre a origem da maternidade se ela é 
instintiva ou adquirida. De acordo com 
Papalia e Olds (2002), o desenvolvimento 
humano possui crenças básicas e por 
meio de perspectivas distintas surgiram 
teorias importantes como: na
Psicanalítica, a teoria psicossexual de 
Freud. Essa teoria defendia que os fatores 
inatos eram modificados pelas
experiências, ou seja, a mulher já nascia 
com seu instinto de mãe e se modificava 
com passar do tempo. Já a teoria
psicossexual de Erikson e a teoria
relacional de Miller defendem a existência 
de uma interação dos fatores inatos com a 
experiência.
Na perspectiva da Aprendizagem; os 
Behavioristas (Pavlov, Skinner e Watson), 
relatam que a ênfase recai somente na 
experiência, as mulheres aprendem a ser 
mães de acordo com suas experiências 
vividas; já a teoria da aprendizagem social 
(Bandura, 1989) preconizava que essas 
experiências eram modificadas pelos
fatores inatos.
Para a perspectiva cognitiva, segundo 
a teoria dos estágios de Piaget e a teoria 
do processamento de informações, ocorre 
uma interação dos fatores inatos com a 
experiência vivida. E na perspectiva 
etológica de Bowlby (1962) e Ainsworth 
(2000), esta interação se repete. Por fim, 
na perspectiva contextual de Vygotsky 
(1999), ocorre que o contexto sociocultural 
de uma criança tem impacto importante no 
desenvolvimento, ou seja, somente a 
experiência interfere neste processo
(Pulaski, 1986).
Em uma entrevista cedida por
Maldonado (2001) sobre a ciência do 
amor materno, ela fala sobre instinto 
materno, se ele é adquirido ou inato, e 
superproteção, e foi dito que o instinto 
materno não existe, ou seja, que ele não é 
inato, que o que ocorre é uma construção 
de amor, onde este nasce no dia-a-dia, em 
etapas, desde o planejamento do filho até 
a vida adulta deste. Portanto, o amor a 
uma criança não depende do vínculo 
biológico, a “maternagem” é um processo 
global de envolvimento mãe-filho. Fiori 
(1981) concorda com Maldonado,
assinalando que o instinto materno é um 
mito.
O que existe na realidade é amor 
materno (“sentimento adquirido que se 
estabelece pelo contato e disposição da 
pessoa em amar a criança”- p23). Mas ela 
diz que a frase "amor, só de mãe" tem 
certamente um fundo de verdade. Pois 
este amor de mãe costuma ser mais 
estável, confiável, puro e supera melhor 
as dificuldades. Ele é mais do que o amor 
entre um homem e uma mulher. Mesmo 
ele, porém, pode ser desconstruído.
Pois, “as relações humanas são muito 
complexas. Como entre os seres
humanos todo amor é construído, ele 
também pode ser desconstruído. Um 
homem e uma mulher se amam porque o 
amor deles foi construído. Sendo assim, 
pode ser demolido. Um fato novo pode 
acabar com ele. As separações e os 
divórcios estão aí para mostrar. Quantos 
irmãos que a princípio se amavam
rompem e passam o resto da vida sem se 
falar? Às vezes, os próprios pais têm um 
vínculo de amor com um filho e acontece 
algo em certa altura da vida e esse vínculo 
é cortado. Os motivos são variados: o filho 
se casa com uma mulher que os pais 
desaprovam”.(Maldonado, 2001)
Continuando, na mesma entrevista, a 
autora explica que o instinto materno seria 
verdadeiro se a mulher tivesse em seu 
equipamento biológico algo que a levasse 
a amar automaticamente seu filho. E ela 
não tem, ou seja, o amor é construído no 
seu psiquismo. É por isso que muitas 
mães acham que amam seus filhos antes 
deles existirem/nascerem, pois é verdade, 
um bebê “planejado” já começa a existir 
mesmo antes de sua concepção, vai ser 
bem-vindo, amado incondicionalmente e 
esperado; já um bebê não planejado vai 
demorar a ser aceito, terá que ser 
construído este amor através de cada dia, 
com a convivência, com contato, enfim, 
com a assiduidade. Ser mãe é muito mais 
do que gerar um filho; é saber que “... 
muitas das mais intensas emoções
humanas surgem durante a formação, 
manutenção, rompimento ou renovação 
dos vínculos emocionais...” (Bowlby,
1962, p.23).
O bebê
Teórico da área transicional e do 
espaço potencial, conceitos de grande 
importância em seus textos, Winnicott 
(1994) alterou as idéias recebidas com a 
sua célebre fórmula, segundo a qual a 
criança para bem se desenvolver em seus 
primeiros momentos de vida necessita, 
apenas, de uma “mãe suficientemente 
boa”. Esta díade mãe/bebê será uma 
unidade essencialpara a construção da 
vida psíquica do ser humano. Amãe terá a 
grande responsabilidade de oferecer a 
proteção ambiental, sabendo que as 
falhas que vierem a acontecer serão 
inevitáveis; elas poderão prejudicar
enormemente a construção do psiquismo 
da sua criança, mas também
possibilitarão que ela se adapte, ao 
suportá-las. Winnicott (1994) chamou
estes cuidados de “preocupação materna 
primária”. 
Além disso, a criança passa por uma 
experiência traumática de intrusão ou 
invasão. Esta intrusão é necessária por 
preparar o bebê para ir se adaptando ao 
meio ambiente, satisfazendo às suas 
necessidades. Se há invasão há também 
a necessidade de reagir, pois o
significativo é a reação a ela (Lebovici, 
1987).
Segundo Winnicott (1994), a mãe vai 
apresentando os objetos ao bebê,
permitindo que se crie um espaço
necessário para que possa percorrer um 
caminho da subjetividade à objetividade. 
Inaugura-se, assim, a área de ilusão em 
que se sobrepõe o que a mãe oferece e o 
que a criança pode perceber. Esta área de 
ilusão ou espaço transicional será de 
suma importância para a criação dos 
objetos transicionais. A criança se
relaciona com os objetos que são reais e 
concretos, de modo altamente subjetivo, 
embora não se possa, ainda, chamá-los 
de objetos internos. Tudo ocorre numa 
zona intermediária entre a realidade
psíquica e a realidade externa, entre o eu 
e o não-eu, articulando presença e 
ausência maternas.
Papalia e Olds (2000) dizem que “o 
bebê recém-nascido é, num sentido 
extremo, um imigrante” (p.92). Após o 
parto, ele terá que enfrentar problemas 
mais difíceis, como, por exemplo,
começar a respirar, comer, adaptar-se ao 
clima e responder a um ambiente confuso; 
e isso é um desafio para um ser tão 
pequeno que ainda os seus sistemas 
orgânicos ainda não estão totalmente 
maduros. Mas eles nascem prontos para 
enfrentar estes desafios, exceto os
prematuros, como veremos adiante.
O nascimento é tanto um início quanto 
um fim, ou seja, fim da vida fetal e início da 
vida externa. E é a maturação deste feto 
que determinará o início da vida aqui fora; 
a maturação dos órgãos vitais, como os 
pulmões, coração, estão prontos para 
iniciar seu funcionamento fora do útero 
(Papalia e Olds - 2000).
Para alguns autores, além do
supracitado Montenegro (1992), no
período neonatal, nas primeiras quatro 
semanas de vida, temos uma época de 
transição. No nascimento, os sistemas 
circulatório, respiratório, gastrintestinal e 
de regulação de temperatura do neonato 
tornam-se independentes da mãe.
Klein (1975), ao falar do bebê e suas 
emoções, diz que o primeiro objeto de 
amor e ódio do bebê é sua mãe, ou seja, é 
ao mesmo tempo desejado e odiado com 
toda a intensidade. No início, ele ama a 
mãe assim que ela satisfaz suas
necessidades de alimentação, que alivia 
suas sensações de fome e lhe oferece o 
prazer sensual que experimenta quando 
sua boca é estimulada pelo sugar do seio. 
Essa “gratificação” faz parte da
sexualidade da criança, é na realidade 
sua expressão inicial. Mas quando o bebê 
sente fome e seus desejos não são 
gratificados, ou quando sente dor ou 
desconforto físico, então toda a situação 
subitamente se altera. Nele surgem
sentimentos de ódio e agressivos e ele se 
vê dominado pelos impulsos de destruir a 
pessoa mesma que é objeto de todos os 
seus desejos e que sua mente está ligada 
a tudo o que ele experimenta - seja de 
bom ou de mau. No bebê, esses
sentimentos, acima citados, originam 
estados extremamente penosos, como 
sejam sufocação, falta de ar e outras 
sensações análogas, que ele
experimenta como sendo destrutivas de 
seu próprio corpo; com isso, a
agressividade, a sensação de infelicidade 
e os temores são novamente
intensificados.
O meio imediato e primário para aliviar 
este bebê desses estados dolorosos de 
fome, ódio, tensão e medo é a satisfação 
de seus desejos pela mãe. Este, para 
quem a mãe é antes de tudo apenas um 
objeto que satisfaz a todos os seus 
desejos, começa a corresponder a essas 
gratificações e aos seus cuidados por 
meio de crescentes sentimentos de amor 
para com ela como pessoa. Mas este 
primeiro amor já está perturbado em suas 
raízes por impulsos destrutivos. Amor e 
ódio lutam entre si na mente do bebê; e 
essa luta persiste, até certo ponto, durante 
toda a vida, podendo tornar-se uma fonte 
de perigo nos relacionamentos humanos.
Crianças e suas mães: o vínculo
De acordo com Winnicott (1994) e 
Lebovici (1987), o assunto é amplo, mas 
certos fatos se destacam com muita 
clareza; um deles é que quanto menor for a 
criança, maior será o perigo de separá-la 
de sua mãe.
Pois quanto mais jovem for a criança, 
menor será sua capacidade para manter 
viva em si mesma a idéia de uma pessoa; 
quer dizer, se ela não vir uma pessoa, ou 
não tiver provas tangíveis de sua
existência em x minutos, horas ou dias, 
essa pessoa estará morta para ela. A
criança não se recupera facilmente do 
trauma de separação de sua mãe.
Sem negar, de forma alguma, que o 
dano físico pode vitimar crianças em 
ataques aéreos, e sem minimizar o dano 
que pode resultar do fato de elas
testemunharem o medo em adultos, ou 
destruições concretas a sua volta, é 
importante continuar apresentando o
lugarcomum de que a unidade familiar é 
mais do que uma questão de conforto e 
conveniência. De fato, a unidade familiar 
p r o p o r c i o n a u m a s e g u r a n ç a
indispensável à criança pequena. A
ausência dessa segurança terá efeitos 
sobre o desenvolvimento emocional e 
acarretará danos à personalidade e ao 
caráter da criança.
Foi Bowlby (1989), o primeiro a tratar 
do tema apego e vínculo, com suas teorias 
a respeito da formação do vínculo. Esse 
autor criou a teoria da sucção do objeto 
primário. Segundo ele, a criança, ao 
relacionar-se com a mãe por meio do seio, 
aprende ao longo do tempo que ligada a 
este seio existe a mãe e passa aos poucos 
a ter um relacionamento também com ela. 
Ele formulou, também, a Teoria da adesão 
ao objeto primário, na qual defende que as 
crianças têm uma propensão natural para 
o contato físico.
Os estudos de Bowlby (1962), Spitz 
(1988), Maldonado (1989), Soifer (1980) 
têm demonstrado que a criança passa a 
identificar sua mãe através da
discriminação perceptual, ou seja, a 
criança relaciona-se com sua mãe
sorrindo para ela, vocalizando e olhando-
a muito mais tempo do que olharia para 
outra pessoa.
E mais, a mãe passa a ser um ponto 
fundamental neste processo de formação 
de vínculo, pois a interação não acontece 
apenas de um dos lados, tanto a mãe 
quanto a criança se auto-estimulam a 
partir do contato que estabelecem e há 
uma receptividade de criança para a mãe.
Por conseguinte, Maia (2000) diz 
tratar-se de “um processo bidirecional 
orientado mais especificamente para
analisar os laços afetivos mãe-bebê” 
(p.16); é por isso que se faz necessário 
distinguir os termos “apego” e “vínculo”. 
Para a referida autora, o termo “apego” é 
utilizado quando esses laços afetivos se 
formam na direção pais-bebê, e o termo 
“vínculo” refere-se no sentido bebê-pais.
Podemos dizer então que, de acordo 
com Maia (2000), citando Bowlby, um 
vínculo bem formado vai proporcionar à 
criança segurança e bem-estar, e por isso 
este laço afetivo tem que ser estável e 
harmônico, sem ameaças questionadas.
A mesma autora mostra, para o 
primeiro trimestre de vida do bebê, uma 
tabela a respeito das etapas evolutivas na 
formação do apego. Essas etapas são: 
proximal (do nascimento as 6 semanas); 
transição (6 a 8 semanas) e a
proximal/distal (8 a 12 semanas).
De acordo com este trabalho realizado 
por Maia (2000), o bebê tem preferência 
pelo rosto e a mãe responde com uma 
atração especial pelo bebê e valorização 
de suas reações; necessidade de
aproximação estreita da parte do bebê 
para facilitação de aconchego,
reconhecimento docorpo do bebê e suas 
partes; enquanto o bebê tem intolerância 
e frustração, a mãe responde com
consolação imediata a inquietação do 
bebê; e por último, o bebê tem a 
capacidade de regular a estimulação 
materna e a mãe busca de um ritmo ótimo 
na estimulação.
A partir da 6ª semana, os bebês 
deveriam começar a sorrir e vocalizar, e a 
mãe responderá com brincadeiras
provocadoras de prazer e conversas com 
o bebê; o bebê vai buscar o contato face a 
face, e a mãe, por conseguinte, faz 
brincadeiras face a face e por fim o bebê 
terá acoplamento seletivo a certas
reações maternas e a mãe apresentará 
compreensão dos “sinais” do bebê e 
resposta aos mesmos.
E como se dá esse processo nos 
bebês prematuros? É o que veremos mais 
adiante.
Aorigem do vínculo mãe-bebê
Muito se fala a respeito da origem do 
vínculo, se ele é inato ou aprendido; vários 
autores divergem a este respeito.
O instinto materno existe afinal? De 
acordo com Valério (2003), devemos 
esclarecer, primeiramente, o que venha a 
ser o instinto, desde seus primórdios, ou 
seja, nos animais.
De acordo com ele, o Instinto é na 
verdade uma espécie de programa
operacional básico que garante aos 
animais a sobrevivência, não há indícios 
claros de que os vegetais o tenham. Ele 
nada nos diz a respeito da realidade, a 
não ser, talvez, a indução de uma 
experiência que nos leve a conhecer 
características do mundo físico através da 
SENSAÇÃO. Mesmo assim, não nos 
ajuda numa compreensão mais elevada. 
Tal programa está presente em
praticamente todas as criaturas
animadas, desde amebas até o ser 
humano. Ele é um grupo de diretrizes 
básicas de ação que garantem as funções 
primárias da espécie como a subsistência, 
o crescimento e a reprodução. 
Sendo assim, muito se fala em instinto 
materno, instinto de preservação da vida, 
instinto de reprodução e similares. Mas, 
na verdade, todos os instintos, programas 
para garantir a sobrevivência da espécie, 
traduzem-se no plano físico meramente 
como dois aspectos básicos: ABusca pelo 
Prazer e a Fuga da Dor. (Valério, 2003).
A s s i m , n o s s o i n s t i n t o d e
autopreservação não é baseado
operacionalmente numa idéia de
conservação da vida, mas sim de fuga da 
dor. Evitamos um perigo físico, não devido 
a uma imediata e inerente idéia de que 
nossa existência estará ameaçada, mas 
devido ao fato de pressentirmos que 
aquilo nos trará sofrimento. Procuramos 
nos alimentar, não baseados num
conhecimento antecipado de que por 
intermédio da alimentação sustentaremos 
o funcionamento de nosso organismo, 
mas sim no de que eliminaremos a 
sensação desagradável da fome e
teremos talvez o prazer do sabor do 
alimento. Isso tudo, é claro, em um nível 
primário animal. Mesmo o instinto sexual 
não visa conscientemente à reprodução e 
sim ao prazer. 
Nos animais superiores, esse
programa de evitar a dor e obter o prazer 
desenvolve todo um complexo de
estruturas emocionais, nos animais
inferiores isso não é evidente, mas, 
mesmo assim, acredita-se que haja
grande diferença no instinto de um inseto 
e no instinto humano, não no instinto em 
si, apenas na forma com que o "sentimos", 
principalmente de forma emocional. 
Alguns animais possuem instintos que 
aparentam ser até mesmo mais
elaborados, como a espetacular
"engenharia" das abelhas e formigas em 
construir suas moradas e operar suas 
funções, algo que o ser humano não 
parece possuir por natureza e sim por 
cultura.
Dessa forma, este autor não acredita 
numa superioridade do instinto humano 
em relação ao dos animais. Pois, para ele, 
o instinto nada mais é do que um 
programa sem qualquer capacidade de 
adaptação a situações imprevistas, e por 
isso um besouro não parece ser capaz de 
aprender. 
Para Valério (2003); Maldonado
(1988); Papalia e Olds (2000), o instinto 
materno parece ser nada mais do que um 
instinto de busca e conservação de 
prazer, não necessariamente de si
próprio, mas também refletido num
semelhante. Afinal, como seres humanos, 
somos capazes de nos sentir mal apenas 
ao observar o sofrimento do próximo.
Em vista disto, percebe-se que,
lamentavelmente, a palavra Instinto é 
amplamente confundida com Intuição, 
mesmo sendo conceitos diametralmente 
opostos. É comum vermos expressões do 
tipo, "siga seus instintos", para a
resolução de problemas que transcendem 
em muito as funções primárias da
espécie. Na verdade, tal expressão
deveria ser "siga sua intuição". Os
instintos são absolutamente inúteis no 
sentido de ajudar a resolver problemas 
racionais, por exemplo.
Portanto, para Valério (2003), o
Instinto humano não é um poder de 
conhecimento da realidade, não evolui 
como eles e nem sequer é superior ao dos 
animais inferiores.
Em vista disto, alguns autores como 
Badinter (1985) e Nazareth (2004)
desenvolveram o “Mito do Amor materno”. 
Em “Um amor conquistado o mito do amor 
materno”, Elizabeth Badinter (1985) nos 
mostra de maneira muito clara que o amor 
materno inato é um mito. Não é “dado”, 
mas sim, como deixa antever o título da 
obra, “conquistado”.
Porém, acreditamos em nosso
imaginário que tal amor seja algo natural. 
Algo que nasce com as mulheres,
verdadeiro, único das mulheres. Falando-
se até de “instinto materno”. 
De acordo com Nazareth (2004), essa 
convicção se dá basicamente por duas 
razões:
A primeira é devido à imposição feita 
pela cultura, responsável pelo
desenvolvimento do modelo de amor 
materno conhecido atualmente e com o 
qual temos convivido desde o século XIX. 
A segunda, em uma relação de
causalidade circular com a anterior, deve-
se à necessidade de se idealizar a relação 
mãe-filho, idealização que obedece ao 
desejo de união perfeita, fantasia de 
completude que protege o indivíduo das 
ansiedades e medos mais primitivos de 
separação, abandono e perda.
Desse modo, para Badinter (1985), a 
mãe é concebida como alguém puro a 
quem são atribuídos apenas sentimentos 
nobres de acolhimento, abrigo e
continência no que diz respeito à sua cria. 
A criança é vista como um ser que se 
satisfaz total e plenamente com uma 
relação fusional.
O caráter ambivalente e contraditório 
desse modelo de vínculo que reúne 
sentimentos de aprisionamento e
possibilidade de individuação será
enfrentado só bem mais tarde na vida, 
com a entrada do terceiro na relação 
diádica composta por mãe e filho, cujo 
primeiro representante e protótipo para os 
demais é o pai.
Contudo, de acordo com Nazareth 
(2004), o amor materno como o
conhecemos atualmente é aquisição bem 
recente. Os estudos trazidos por Badinter 
(1985) nos fazem ver que nem sempre foi 
assim. A mãe tinha mais uma função 
biológica que afetiva, ficando as crianças 
ao cargo de amas-de-leite que lhes 
garantiam a sobrevivência física, o
suporte emocional e humanização.
Atualmente, em divergência, muitos 
autores, entre eles Rico (2001) e
Trucharte e Knijnik (2002), afirmam que é 
muito antes do nascimento e ainda no 
ambiente intra-uterino que se tem início à 
formação do vínculo entre a futura mamãe 
e seu bebê, ou seja, que o vínculo poderia 
ser inato. Pois se trata de um processo de 
comunicação tão complexo quanto sutil e 
que torna possível esta troca íntima e 
profunda. O vínculo é de importância vital 
para o feto, pois precisa se sentir desejado 
e amado para propiciar a continuação 
harmoniosa e saudável de seu
desenvolvimento.
Trucharte e Knijnik (2002) afirmam 
que o processo de formação de vínculo 
mãe-filho se inicia ou se intensifica ao 
aparecerem os movimentos fetais.
Quando citam Bowlby, as autoras
salientam que existem condições
necessárias para que o apego se dê entre 
a mãe e seu filho. Entre elas seria a 
sensibilidade da mãe frente aos sinais do 
bebê, como também a capacidade do 
bebê para sentir que suas iniciativas 
sociais levam à troca afetiva com sua mãe. 
Ele acredita que ao término do primeiro 
anode vida a dupla mãe-bebê já tenha 
desenvolvido um padrão próprio de
interação.
Como já foi dito antes, observa-se que 
a formação do vínculo não é automática e 
imediata, pelo contrário, é gradativa e, 
portanto, necessita de tempo,
compreensão e amor para que possa 
existir e funcionar adequadamente. É, 
também, fundamental para que se possa 
c o m p e n s a r o s m o m e n t o s d e
preocupações e reveses emocionais
maternos a que todos nós estamos 
sujeitos no cotidiano. (Rico, 2001).
E mais, de acordo com estudos 
realizados nesta área, ocorre nas mães 
uma dupla identificação: com o feto e com 
sua própria mãe. É importante salientar, 
neste sentido, que as relações
estabelecidas pelas mães em sua família 
de origem podem influenciar a ligação 
com seu filho (Trucharte e Knijnik-2002).
O amor e a rejeição repercutem sobre 
a criança muito precocemente, mas, para 
que possa dar significado a estes
sentimentos, é preciso maturidade
neurofisiológica. Assim, até os três
primeiros meses de vida intra-uterina, as 
mensagens enviadas pela mãe são, em 
grande parte, incompreendidas pelo
embrião, muito embora possam causar-
lhe desconforto se percebidas como 
desagradáveis. (Papalia e Olds - 2000).
Além disso, Rico (2001) destaca que, 
à medida que vai evoluindo, o feto torna-
se capaz de registrar e de dar significado 
às emoções e sentimentos maternos. É 
quando, então, começa a se formar sua 
personalidade, o que ocorre por volta do 
terceiro trimestre de gestação. A 
ansiedade materna é, de certa maneira, 
até benéfica ao feto, pois perturbando a 
neutralidade do ambiente uterino,
perturba-o também, conscientizando-o de 
que é um ser distinto, separado desse 
ambiente.
Para se livrar desse desconforto, ele 
começa a elaborar progressivamente
técnicas de defesa como dar pontapés, 
mexer-se mais ativamente, e que
funcionam, para a sensibilidade materna, 
como um envio de mensagem de que está 
sendo perturbado. Se houver sintonia 
materno-fetal, imediatamente a futura 
mamãe capta esta mensagem e começa a 
passar a mão delicadamente em seu 
ventre, o que é percebido e decodificado 
pelo feto como atitude de compreensão, 
carinho e proteção, portanto, como
tranqüilizadora.
Como assinala Spitz (1988), as
experiências e as realidades têm
demonstrado que as influências
formativas que se originam no ambiente, 
ou seja, na mãe, são dirigidas a essas 
totalidades vivas, receptivas e em
desenvolvimento, o bebê, pois o que a 
mãe vive ela acaba transmitindo para o 
seu bebê. As ações e respostas do bebê, 
“provocadas” pela mãe, sem que se 
devam à intenção consciente da mãe; a 
existência da mãe, na sua simples
presença, age como estímulo para as 
respostas do bebê; sua menor ação, por 
insignificante que seja, mesmo quando 
não está relacionada com o bebê, age 
como um estímulo. Essas atividades da 
mãe são as formas mais gerais e mais 
facilitadoras notadas de intercâmbio de 
estímulo da díade.
Ainda tomando Rico (2001) como 
referência, podemos dizer que com o 
decorrer do tempo a experiência de 
desconforto transforma-se em emoção e 
tem início a formação de idéias sobre as 
intenções maternas em relação a si 
mesmo. Desta maneira, se a mãe for 
amorosa e tiver uma relação afetiva rica 
com seu bebê, contribuirá para que nasça 
uma criança confiante e segura de si. 
Assim também, mães deprimidas ou 
ambivalentes que, por uma razão
qualquer, privam o feto de seu amor e 
apoio, certamente favorecerão o estado 
depressivo e a presença de neuroses na 
criança, que podem ser constatados após 
o nascimento, pois sua personalidade foi 
estruturada num clima de medo e
angústia.
Mesmo a gestante que rejeita seu filho 
comunica-se com ele através do
fornecimento do alimento. Mas, a
qualidade desse vínculo é diferente da 
mãe que o deseja e esta é a grande 
diferença, pois não é apenas uma
comunicação biológica.
Como o feto capta todas as emoções 
maternas, as que o fazem entrar em 
sofrimento como a ansiedade, temor e 
incertezas, provocam-lhe reações mais 
fortes e contínuas, enquanto que as de 
alegria e felicidade, por não alterarem o 
ambiente intra-uterino, permitem que 
seus movimentos permaneçam suaves e 
harmoniosos.
De acordo com várias pesquisas 
realizadas acerca do assunto, o feto sente 
o que a mãe sente, até como uma atitude 
de solidariedade, mas com intensidade 
diferente e sem a compreensão materna. 
As emoções negativas são percebidas 
como um ataque a si próprio (Papalia e 
Olds, 2000) e (Rico, 2001).
Mais ainda, é fundamental lembrar 
que as preocupações passageiras e 
simples do cotidiano não lhe oferecem 
risco algum, pois sequer podem levar o 
organismo materno à produção de
hormônios. O que o afeta e prejudica 
sobremodo são as situações que induzem 
à produção intensa e contínua de
hormônios, como a ansiedade materna, 
que pode, inclusive, provocar o estresse 
da mãe.
Concluindo, se o vínculo materno-fetal 
não foi consolidado durante o período 
gestacional, há de se tentar restabelece-lo 
nas horas e dias que sucedem ao 
nascimento, período ideal na vida extra-
uterina e, se necessário, com a ajuda de 
um profissional capacitado.
Para Nazareth (2004), todo afeto para 
se dar precisa de proximidade física e 
emocional. Deve ser conquistado com e 
na convivência. É na intimidade das 
relações construídas no cotidiano que 
germina, cresce e frutifica. E o amor 
materno não foge a essa regra. Não é 
decorrente, como se crê, da ação de 
algum instinto. É afeição que, como 
qualquer outra, necessita de
reciprocidade desenvolvida em um
relacionamento estreito e contínuo que 
assegure confiança e familiaridade aos 
que dele se nutrem.
Mais ainda, segundo Trucharte e 
Knijnik (2002), quando alude a Klaus-
Kennell (1978), vemos que o vínculo entre 
mãe e filho é a fonte de onde irão provir, 
depois, todos os futuros vínculos que se 
estabelecerão pela criança e que
constituirão a relação a ser formada 
durante o curso de vida da criança. Para 
toda a vida, a força e a qualidade deste 
laço influirá sobre a qualidade de todos os 
futuros vínculos que serão estabelecidos 
com as outras pessoas de seu convívio.
Com isso, é importante esclarecer que 
a qualidade do vínculo influencia
diretamente o desenvolvimento físico e 
emocional do bebê, formando, assim, uma 
base para um posterior pregresso
adicional.
3. Conclusões e considerações 
finais
Podemos observar que a interação 
mãe bebê é interferida quando ocorre, por 
exemplo, uma situação de prematuridade, 
onde o vínculo e o apego são afetados.
Ao nível da figura materna, o ponto 
fundamental é a presença de uma mulher 
que seja figura estável, que seja capaz de 
dar amor e que seja, ao nível qualitativo, 
capaz de compreender e atender às 
solicitações básicas feitas pela criança.
Percebe-se que na literatura
encontram-se trabalhos segundo a qual o 
bebê, já na barriga da mãe, agita-se 
quando elas estão nervosas e inquietas, e 
que se aquietam quando suas mães 
conversam e acariciam o próprio ventre. 
Ficando demonstrado, dessa forma, que 
na vida intra-uterina o feto é capaz de 
captar, perceber e reagir a estímulos de 
meio interno e externo, sendo de
fundamental importância o momento da 
gestação para a formação de um vínculo 
de apego futuro.
Com o nascimento, o recém-nascido 
traz consigo uma bagagem hereditária 
para relacionar-se com outro ser humano. 
Essa bagagem hereditária pode ser
observada nos comportamentos de
sucção, agarrar-se, choro, sorriso,
balbucio, locomoção e são encontrados 
em outras espécies de animais e
compreendidos, etnologicamente, como 
fatores que favorecem a sua
sobrevivência enquanto espécie,
podendo ser lida como uma predisposição 
do ser humano para apegar-se. Assim, 
quando o bebê encontra uma figura com 
disponibilidade para interagir consigo, 
com sensibilidade para interpretar e
responder aos sinaisenviados por ele 
consegue desenvolver um satisfatório 
vínculo de apego. Conseqüentemente, 
d e s e n v o l v e r á s e n t i m e n t o s d e
autoconfiança, confiança no mundo e nas 
pessoas, bem como terá construído uma 
boa base para o desenvolvimento de sua 
autonomia enquanto sujeito particular.
Contudo, a situação descrita até então 
é uma situação ideal, embora se saiba 
que, após o nascimento, os primeiros 
contatos mãe/bebê são marcados por 
sentimentos ambivalentes: afeição,
atração, dúvida, medo e angústia. A mãe, 
em particular, tem que elaborar o luto do 
bebê fantasiado durante a gestação e 
aprender a lidar com aquele novo ser, 
enquanto o bebê está sendo
sobrecarregado e é absorvido pelos 
estímulos do mundo. Fica claro que o 
processo de formação do vínculo de 
apego é um processo complexo e
delicado, dinâmico e não estático, embora 
se possam delimitar fases de
desenvolvimento durante o desenrolar do 
mesmo.
Portanto, uma parceria fortemente 
estabelecida no início da vida garante ao 
indivíduo um sentimento de segurança em 
si mesmo e nas pessoas, que lhe
p r o p i c i a r á , s e n a d a o c o r r e r
posteriormente, um desenvolvimento
emocional sadio, a confiança suficiente 
para se envolver durante toda a vida em 
relacionamentos pessoais íntimos e
gratificantes (Berthoud, 1998).
Esse raciocínio se aplica para o 
desenvolvimento de todas as relações 
posteriores da vida do sujeito, o que serve 
para enfatizar mais uma vez a importância 
dos vínculos estabelecidos, de como eles 
são estabelecidos na vida de uma criança.
Neste momento, cabe uma breve 
reflexão de como está a realidade dos 
nascimentos no Brasil e como esta
realidade traz alguma conseqüência para 
o desenvolvimento do vínculo de apego 
interação mãe/bebê. Atualmente, o local 
de nascimento da maioria dos bebês é o 
centro cirúrgico de algum hospital, um 
ambiente desprovido muitas vezes de 
calor humano, longe de pessoas
significativas para a gestante e nem 
sempre suprido de apoio profissional e 
técnico competente. Por outro lado, é bem 
verdade que o índice de mortalidade de 
recém-nascidos e de parturientes diminui 
com esse tipo de nascimento. Contudo, 
eleva-se o número de casos de depressão 
pós-parto. A situação chega a ser ainda mais complexa, pois o nosso país é 
campeão mundial de partos por casaria, 
há um rígido e limitado horário de visitas 
além da separação do recém-nascido e de 
sua mãe (dados de 2001). Sabe-se que 
em muitas instituições essa realidade já 
vêm sendo questionada e modificada, 
porém, a permanência de atitudes
s e m e l h a n t e s p o d e o c a s i o n a r
conseqüências danosas para a formação 
do vínculo afetivo. A mãe pode ter 
dificuldades de aceitação e de contato 
com seu bebê, vivenciar fortes
sentimentos de perda, há um aumento da 
probabilidade de esta mãe desenvolver 
depressão pós-parto e comprometer a 
díade mãe-bebê, bem como o próprio 
bebê pode ter dificuldades de contato com 
relação à mãe.
Enfim, como coloca Berthoud (1998), 
apesar de tudo, felizmente, o ser humano 
é bastante maleável e o apego seguro e 
saudável pode se desenvolver no seio da 
família, apesar das condições adversas 
que cerquem o nascimento de seu novo 
membro. É importante estar atento e 
ciente dessa possibilidade, da capacidade 
de mudança e de crescimento do ser 
humano e da criança de uma forma geral.
Essa experiência, então, da
prematuridade, representa um forte
impacto para as mães, até porque o 
período dos nove meses de gestação 
consiste num processo fundamental de 
preparação biológica e psíquica para a 
experiência da maternidade. Assim, desde 
o momento em que deparam com esse 
acontecimento, as mães se confrontam 
com o inesperado, com o amedrontador... 
Com a maternidade prematura.
Diante dessas questões, vale ressaltar 
uma consideração extremamente
pertinente no que se refere não apenas à 
situação de prematuridade, mas à relação 
mãe-bebê de um modo geral. Trata-se da 
importância de que os serviços de
neonatologia possam desenvolver um 
trabalho interdisciplinar capaz de acolher 
a mãe e o seu bebê de uma forma mais 
humanizada e integral; um serviço que 
seja capaz, enfim, de dar conta das 
vicissitudes da díade mãe-bebê e das 
possíveis eventualidades que possam vir 
a surgir nesse momento tão constitutivo. É 
fundamental que os serviços de
neonatologia atuem de forma preventiva, 
oferecendo às mães um lugar mais 
participativo junto aos cuidados para com 
o bebê, no sentido de favorecer a 
construção e a intensificação do vínculo e 
da relação entre mãe e filho, haja vista ser 
essa construção a base para toda a 
constituição psíquica do sujeito (Macedo e 
Barros, 2002).
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