Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Page 1 A FORMAÇÃO DO VÍNCULO AFETIVO: A QUESTÃO DO APEGO JULIANA ALENCAR DE SOUZA Resumo: A pesquisa que se apresenta, de natureza bibliográfica, tem por objetivo levantar teorias a respeito da relação mãe-bebê. O mito do amor materno é um tema abordado por vários autores. Pois alguns defendem que o bebê desenvolve o vínculo com sua mãe, somente depois do nascimento, enquanto, outras explicam que o surgimento desta relação didática desenvolve- se muito antes da concepção do filho. Este artigo tem por objetivo específico analisar esta questão da formação deste vínculo afetivo, dando ênfase à questão do apego. Para assim favorecer a construção e a intensificação da interação mãe e filho, haja vista ser essa construção a base para toda a constituição psíquica do futuro adulto. Palavras-chave: Psicopedagogia, Vínculo afetivo, Interação mãe-bebê, Apego. I. Introdução Toda ciência que procura compreender o comportamento humano recai um dia na questão de como e por que o ser humano estabelece vínculos afetivos e emocionais. Até meados da década de 1950, tanto os psicanalistas, como Freud, Lacan e outros, como os teóricos da aprendizagem, Piaget, Vygotski, compartilhavam do mesmo ponto de vista sobre a formação dos vínculos afetivos: necessidades de satisfação dos impulsos primários, tais como a alimentação e o sexo. Na psicologia, várias teorias tentam explicar o estabelecimento de vínculos, como, por exemplo, as teorias com embasamento teórico em Winnicott, (1999); Spitz, (1988); John Bowlby, (1962); Maldonado (1988) e Soifer (1980). Em vista disto, fez-se necessária uma revisão teórica a respeito desta “construção” da maternidade, pois muito se fala a respeito e, no entanto, não se chega a uma conclusão a respeito do assunto. Ao discutir o assunto, verifica-se que para se chegar à maternidade e à formação de vínculos, deve-se examinar a interação mãe-bebê, levando-se em conta: A mãe: através da complexidade que envolve a figura materna, onde a questão do instinto materno faz-se presente ou não; isto na visão, principalmente, de Bowlby, Maldonado e Klein; O bebê: na visão de Winnicott, prioritariamente, teórico da área transicional e do espaço potencial, defende que a criança pra se desenvolver bem só necessita de uma mãe suficientemente boa; por outro lado, existe Klein, onde diz que o primeiro objeto de amor e ódio do bebê é sua mãe; O vínculo: a questão do apego de Bowlby, onde de acordo com suas idéias, o apego é uma necessidade básica e vital do ser humano, tendo em vista que este nasce predisposto e equipado para se apegar a um indivíduo em especial que se disponha a se relacionar com ele de uma f o r m a t a m b é m e s p e c i a l . Ta l comportamento de ligação persiste durante a vida adulta (pode ser particularmente observado nos adultos nas situações de doença ou de tensão), embora a freqüência e a intensidade tendam a diminuir com a idade. Winnicott (1999) assinala que a ausência da segurança materna terá efeitos sobre o desenvolvimento emocional e acarretará danos a personalidade e ao caráter. Além de Spitz, (1988); Maldonado (1988); e Soifer (1980) que têm demonstrado que a criança passa a identificar sua mãe através da discriminação perceptual, sorrindo pra ela, vocalizando-a e a olhando. Aparece aqui, também, pesquisas de outros autores sobre o assunto (suas pesquisas) mas os mesmos se basearam nos autores citados acima. É interessante ressaltar que, no corpo do trabalho, falar-se-á na díade mãe-bebê e, não necessariamente, será a mãe a figura de apego com quem o bebê estabelecerá o vínculo, pois quando se fala da interação mãe-bebê na UTI neonatal está implícito que a mãe está com seu bebê. Mas o que se pode observar é que esta figura (de mãe - da maternagem) pode ser alguém que exerça o papel de mãe: um parente, uma babá. Enfim, o vínculo se estabelece com uma figura disponível, independentemente de ser ela a mãe ou não da criança. E quando se inicia a formação desse vínculo? Esta é a pergunta na continuação do trabalho. Aqui se expõem autores diversos como, Macedo e Barros (2002); Pupo (2000); Durand (2003); que abordam esta questão. Tal questão é ainda polêmica e resulta em opiniões diversas; muitos estudiosos, como por exemplo Papalia e Olds (2000) Montenegro (1992) e Valério (2003) acreditam que a formação do vínculo de apego começa antes mesmo do nascimento do bebê. Sabe-se que antes da concepção e durante a gestação existem fatores influenciando a formação do vínculo, como por exemplo: O desejo inconsciente dos pais com relação ao desenvolvimento dos seus papéis de pai e de mãe; A existência do bebê enquanto possibilidade; A qualidade da relação seja do próprio casal, como da mãe/bebê; Aexistência de fantasias. (Aqui, por exemplo, entram as fantasias com relação ao sexo do bebê, ao como ele vai ser quando crescer.) Finalizando o estudo bibliográfico, destaca-se a questão sobre como os vínculos se transformam e podem se romper se não houver uma integração multidisciplinar dentro das instituições. Pois humanizar é um caminho que pode ser tomado, visando à diminuição dos riscos que a falta de um vínculo afetivo pode ocasionar. Dessa forma, é a atitude emocional da mãe que irá conferir a qualidade de vida à experiência do bebê, o qual passará a responder também afetivamente a esse investimento emocional, numa relação recíproca e desejante. Esse desejo pelo filho vem desde antes a gestação, refletindo as fantasias de maternidade, à medida que o bebê é pensado e inscrito numa rede de significantes, numa gradativa construção do filho imaginário. (Macedo e Barros, 2002). 2. Contribuições teóricas Interação mãe-bebê AMãe De acordo com Sayers (1992), Melanie Klein, em sua vida particular, acolheu sua mãe no que ela tinha de “bom” e de “ruim”. Com isso, ela promoveu uma revolução na psicanálise, desde a preocupação com a subjugação dos instintos “anárquicos” da criança como dizia Anna Freud até uma compreensão dos instintos como algo sempre relacionado com o outro, a começar pela mãe, amada e odiada. Para Sayers (1992), ao citar Klein, demonstrou progressivamente que essas relações e não os instintos, despojados da relação com o outro é que constituíram a matéria-prima da vida mental. Vários autores (Klein, 1975; Maldonado, 1988 e 1989; Soifer, 1980; Szejer & Stewart, 1997; e Lukas, 1983) concordam que na complexidade, onde se envolve a figura da mãe, devemos priorizar o que há em um verdadeiro relacionamento amoroso entre a mãe e seu bebê, tal como se desenvolve quando a mulher atingiu uma personalidade plenamente maternal. Além disso, existem vários caminhos que vinculam o relacionamento da mãe com o seu filho ao seu próprio relacionamento com a sua mãe na infância. Tanto os bebês quanto as crianças pequenas possuem um desejo intenso, este consciente ou inconsciente: nas fantasias inconscientes da menina pequena, o corpo da mãe está cheio de bebês, na qual ela imagina que tenham sido ali colocados pelo pênis do seu pai, que a seus olhos significa toda a “criatividade, poder e bondade”. É esta atitude de admiração para com o pai e seus órgãos sexuais como poder criador e fonte de vida que associado ao desejo intenso da menina de ter seus próprios filhos dentro delas, que se tornam o seu bem mais precioso, ou seja, o desejo de ser mãe. Frente a isto Klein (1975) relata que é quando a criança brinca com suas bonecas como se fossem bebês vivos e reais que ela desenvolverá, na vida adulta, o amor que a mulher grávida experimenta pela criança que se desenvolverá em seu ventre, e depois pelo bebê a que deu à luz. Esta realização a tornará uma pessoa menos agressiva e irá intensificar a sua capacidade de amar o seu filho. De acordo com a autora existem,porém, algumas mães que exploram esse relacionamento para a gratificação de seus próprios desejos, ou seja, de sua possessividade e da satisfação de ter alguém dependente delas. Mulheres assim desejam que os seus filhos permaneçam grudados a elas e detestam a idéia de que eles venham a crescer e adquirir individualidades próprias. Por outro lado, Karen Horney, citado por Sayers (1992), se opôs, em particular, à a u t o - e s t i m a d a s m u l h e r e s representadas pela explicação freudiana de sua psicologia com base na inveja do pênis. Ao fazê-lo, ela usou sua experiência materna, essencialmente, para inverter a teoria de Freud: primeiro, para argumentar que a psicologia da mulher era determinada pela identificação inata com a mãe, e não pela identificação frustrada com o pai; segundo, para chamar a atenção para a inveja masculina do maternalismo feminino. Frente a esta dicotomia, de acordo com Sayers (1992), Lopes (1983) e Langer (1981), não se pode dizer que a vida e a obra de Anna Freud tenham envolvido a rejeição materno-centrada de Horney ao patriarcalismo freudiano. Muito pelo contrário. Embora tenha vivido com a mãe por mais de meio século, Anna parece tê-lo ignorado quase por completo, enquanto assumia seu lugar como secretária, enfermeira e principal representante das idéias do pai. Mas também as ultrapassou. Nesse aspecto, surpreendentemente, ela recorreu em particular à experiência de maternalização de seu sexo. A primeira experiência fez dela a pioneira da análise com crianças e da psicologia do ego, e a segunda fez com que modificasse a visão de seu pai sobre o desenvolvimento infantil, passando a levar em conta sua dependência da maternalização primária. Devido à sua experiência na assistência às crianças durante a guerra, Anna Freud passou de uma centralização no pai para uma centralização na mãe. Ela voltou sua atenção para “o anseio de todos os indivíduos por uma união perfeita com a mãe” (Sayers, 1992, p.187). Em condições diferentes, Helene Deutsch teve problemas na sua vida particular com sua mãe, por conseguinte não gostava dela (Sayers, 1992). Ela estava mais interessada na psicologia feminina, e, com isso, dizia ela que os problemas advindos do aparecimento da menstruação, do ciclo menstrual, da perda da virgindade e conseqüentemente da relação sexual, gravidez e parto, e ainda da menopausa, sugeriu Helene, não se deviam tanto, como argumentava Freud, ao fato de essas funções significarem a castração. Antes, afirmou ela, eram efeito dos conflitos desencadeados por estes eventos reprodutivos entre o amor-próprio narcísico e o amor maternal pelos outros. Maldonado (1989), estudando este tema, acrescenta que a maternidade e a p a t e r n i d a d e s ã o f a s e s d o desenvolvimento psicológico que estão sempre em possibilidades de reestruturação, modificações e reintegrações da personalidade, ou seja, a pessoa nunca cessa de crescer, de se desenvolver e de aprender com suas experiências. A partir desta premissa, a mulher passa, em sua vida, por três períodos críticos de transição: a adolescência, a gravidez e o climatério. Estas fases afetam o desenvolvimento da personalidade da mulher, pois intimamente ligadas com o papel delas na sociedade, com as novas adaptações, reajustes interpessoais e intrapsíquicos e com sua mudança de identidade, passam da menina, para a mãe e depois para a menopausa. Existem várias vertentes de análise sobre a origem da maternidade se ela é instintiva ou adquirida. De acordo com Papalia e Olds (2002), o desenvolvimento humano possui crenças básicas e por meio de perspectivas distintas surgiram teorias importantes como: na Psicanalítica, a teoria psicossexual de Freud. Essa teoria defendia que os fatores inatos eram modificados pelas experiências, ou seja, a mulher já nascia com seu instinto de mãe e se modificava com passar do tempo. Já a teoria psicossexual de Erikson e a teoria relacional de Miller defendem a existência de uma interação dos fatores inatos com a experiência. Na perspectiva da Aprendizagem; os Behavioristas (Pavlov, Skinner e Watson), relatam que a ênfase recai somente na experiência, as mulheres aprendem a ser mães de acordo com suas experiências vividas; já a teoria da aprendizagem social (Bandura, 1989) preconizava que essas experiências eram modificadas pelos fatores inatos. Para a perspectiva cognitiva, segundo a teoria dos estágios de Piaget e a teoria do processamento de informações, ocorre uma interação dos fatores inatos com a experiência vivida. E na perspectiva etológica de Bowlby (1962) e Ainsworth (2000), esta interação se repete. Por fim, na perspectiva contextual de Vygotsky (1999), ocorre que o contexto sociocultural de uma criança tem impacto importante no desenvolvimento, ou seja, somente a experiência interfere neste processo (Pulaski, 1986). Em uma entrevista cedida por Maldonado (2001) sobre a ciência do amor materno, ela fala sobre instinto materno, se ele é adquirido ou inato, e superproteção, e foi dito que o instinto materno não existe, ou seja, que ele não é inato, que o que ocorre é uma construção de amor, onde este nasce no dia-a-dia, em etapas, desde o planejamento do filho até a vida adulta deste. Portanto, o amor a uma criança não depende do vínculo biológico, a “maternagem” é um processo global de envolvimento mãe-filho. Fiori (1981) concorda com Maldonado, assinalando que o instinto materno é um mito. O que existe na realidade é amor materno (“sentimento adquirido que se estabelece pelo contato e disposição da pessoa em amar a criança”- p23). Mas ela diz que a frase "amor, só de mãe" tem certamente um fundo de verdade. Pois este amor de mãe costuma ser mais estável, confiável, puro e supera melhor as dificuldades. Ele é mais do que o amor entre um homem e uma mulher. Mesmo ele, porém, pode ser desconstruído. Pois, “as relações humanas são muito complexas. Como entre os seres humanos todo amor é construído, ele também pode ser desconstruído. Um homem e uma mulher se amam porque o amor deles foi construído. Sendo assim, pode ser demolido. Um fato novo pode acabar com ele. As separações e os divórcios estão aí para mostrar. Quantos irmãos que a princípio se amavam rompem e passam o resto da vida sem se falar? Às vezes, os próprios pais têm um vínculo de amor com um filho e acontece algo em certa altura da vida e esse vínculo é cortado. Os motivos são variados: o filho se casa com uma mulher que os pais desaprovam”.(Maldonado, 2001) Continuando, na mesma entrevista, a autora explica que o instinto materno seria verdadeiro se a mulher tivesse em seu equipamento biológico algo que a levasse a amar automaticamente seu filho. E ela não tem, ou seja, o amor é construído no seu psiquismo. É por isso que muitas mães acham que amam seus filhos antes deles existirem/nascerem, pois é verdade, um bebê “planejado” já começa a existir mesmo antes de sua concepção, vai ser bem-vindo, amado incondicionalmente e esperado; já um bebê não planejado vai demorar a ser aceito, terá que ser construído este amor através de cada dia, com a convivência, com contato, enfim, com a assiduidade. Ser mãe é muito mais do que gerar um filho; é saber que “... muitas das mais intensas emoções humanas surgem durante a formação, manutenção, rompimento ou renovação dos vínculos emocionais...” (Bowlby, 1962, p.23). O bebê Teórico da área transicional e do espaço potencial, conceitos de grande importância em seus textos, Winnicott (1994) alterou as idéias recebidas com a sua célebre fórmula, segundo a qual a criança para bem se desenvolver em seus primeiros momentos de vida necessita, apenas, de uma “mãe suficientemente boa”. Esta díade mãe/bebê será uma unidade essencialpara a construção da vida psíquica do ser humano. Amãe terá a grande responsabilidade de oferecer a proteção ambiental, sabendo que as falhas que vierem a acontecer serão inevitáveis; elas poderão prejudicar enormemente a construção do psiquismo da sua criança, mas também possibilitarão que ela se adapte, ao suportá-las. Winnicott (1994) chamou estes cuidados de “preocupação materna primária”. Além disso, a criança passa por uma experiência traumática de intrusão ou invasão. Esta intrusão é necessária por preparar o bebê para ir se adaptando ao meio ambiente, satisfazendo às suas necessidades. Se há invasão há também a necessidade de reagir, pois o significativo é a reação a ela (Lebovici, 1987). Segundo Winnicott (1994), a mãe vai apresentando os objetos ao bebê, permitindo que se crie um espaço necessário para que possa percorrer um caminho da subjetividade à objetividade. Inaugura-se, assim, a área de ilusão em que se sobrepõe o que a mãe oferece e o que a criança pode perceber. Esta área de ilusão ou espaço transicional será de suma importância para a criação dos objetos transicionais. A criança se relaciona com os objetos que são reais e concretos, de modo altamente subjetivo, embora não se possa, ainda, chamá-los de objetos internos. Tudo ocorre numa zona intermediária entre a realidade psíquica e a realidade externa, entre o eu e o não-eu, articulando presença e ausência maternas. Papalia e Olds (2000) dizem que “o bebê recém-nascido é, num sentido extremo, um imigrante” (p.92). Após o parto, ele terá que enfrentar problemas mais difíceis, como, por exemplo, começar a respirar, comer, adaptar-se ao clima e responder a um ambiente confuso; e isso é um desafio para um ser tão pequeno que ainda os seus sistemas orgânicos ainda não estão totalmente maduros. Mas eles nascem prontos para enfrentar estes desafios, exceto os prematuros, como veremos adiante. O nascimento é tanto um início quanto um fim, ou seja, fim da vida fetal e início da vida externa. E é a maturação deste feto que determinará o início da vida aqui fora; a maturação dos órgãos vitais, como os pulmões, coração, estão prontos para iniciar seu funcionamento fora do útero (Papalia e Olds - 2000). Para alguns autores, além do supracitado Montenegro (1992), no período neonatal, nas primeiras quatro semanas de vida, temos uma época de transição. No nascimento, os sistemas circulatório, respiratório, gastrintestinal e de regulação de temperatura do neonato tornam-se independentes da mãe. Klein (1975), ao falar do bebê e suas emoções, diz que o primeiro objeto de amor e ódio do bebê é sua mãe, ou seja, é ao mesmo tempo desejado e odiado com toda a intensidade. No início, ele ama a mãe assim que ela satisfaz suas necessidades de alimentação, que alivia suas sensações de fome e lhe oferece o prazer sensual que experimenta quando sua boca é estimulada pelo sugar do seio. Essa “gratificação” faz parte da sexualidade da criança, é na realidade sua expressão inicial. Mas quando o bebê sente fome e seus desejos não são gratificados, ou quando sente dor ou desconforto físico, então toda a situação subitamente se altera. Nele surgem sentimentos de ódio e agressivos e ele se vê dominado pelos impulsos de destruir a pessoa mesma que é objeto de todos os seus desejos e que sua mente está ligada a tudo o que ele experimenta - seja de bom ou de mau. No bebê, esses sentimentos, acima citados, originam estados extremamente penosos, como sejam sufocação, falta de ar e outras sensações análogas, que ele experimenta como sendo destrutivas de seu próprio corpo; com isso, a agressividade, a sensação de infelicidade e os temores são novamente intensificados. O meio imediato e primário para aliviar este bebê desses estados dolorosos de fome, ódio, tensão e medo é a satisfação de seus desejos pela mãe. Este, para quem a mãe é antes de tudo apenas um objeto que satisfaz a todos os seus desejos, começa a corresponder a essas gratificações e aos seus cuidados por meio de crescentes sentimentos de amor para com ela como pessoa. Mas este primeiro amor já está perturbado em suas raízes por impulsos destrutivos. Amor e ódio lutam entre si na mente do bebê; e essa luta persiste, até certo ponto, durante toda a vida, podendo tornar-se uma fonte de perigo nos relacionamentos humanos. Crianças e suas mães: o vínculo De acordo com Winnicott (1994) e Lebovici (1987), o assunto é amplo, mas certos fatos se destacam com muita clareza; um deles é que quanto menor for a criança, maior será o perigo de separá-la de sua mãe. Pois quanto mais jovem for a criança, menor será sua capacidade para manter viva em si mesma a idéia de uma pessoa; quer dizer, se ela não vir uma pessoa, ou não tiver provas tangíveis de sua existência em x minutos, horas ou dias, essa pessoa estará morta para ela. A criança não se recupera facilmente do trauma de separação de sua mãe. Sem negar, de forma alguma, que o dano físico pode vitimar crianças em ataques aéreos, e sem minimizar o dano que pode resultar do fato de elas testemunharem o medo em adultos, ou destruições concretas a sua volta, é importante continuar apresentando o lugarcomum de que a unidade familiar é mais do que uma questão de conforto e conveniência. De fato, a unidade familiar p r o p o r c i o n a u m a s e g u r a n ç a indispensável à criança pequena. A ausência dessa segurança terá efeitos sobre o desenvolvimento emocional e acarretará danos à personalidade e ao caráter da criança. Foi Bowlby (1989), o primeiro a tratar do tema apego e vínculo, com suas teorias a respeito da formação do vínculo. Esse autor criou a teoria da sucção do objeto primário. Segundo ele, a criança, ao relacionar-se com a mãe por meio do seio, aprende ao longo do tempo que ligada a este seio existe a mãe e passa aos poucos a ter um relacionamento também com ela. Ele formulou, também, a Teoria da adesão ao objeto primário, na qual defende que as crianças têm uma propensão natural para o contato físico. Os estudos de Bowlby (1962), Spitz (1988), Maldonado (1989), Soifer (1980) têm demonstrado que a criança passa a identificar sua mãe através da discriminação perceptual, ou seja, a criança relaciona-se com sua mãe sorrindo para ela, vocalizando e olhando- a muito mais tempo do que olharia para outra pessoa. E mais, a mãe passa a ser um ponto fundamental neste processo de formação de vínculo, pois a interação não acontece apenas de um dos lados, tanto a mãe quanto a criança se auto-estimulam a partir do contato que estabelecem e há uma receptividade de criança para a mãe. Por conseguinte, Maia (2000) diz tratar-se de “um processo bidirecional orientado mais especificamente para analisar os laços afetivos mãe-bebê” (p.16); é por isso que se faz necessário distinguir os termos “apego” e “vínculo”. Para a referida autora, o termo “apego” é utilizado quando esses laços afetivos se formam na direção pais-bebê, e o termo “vínculo” refere-se no sentido bebê-pais. Podemos dizer então que, de acordo com Maia (2000), citando Bowlby, um vínculo bem formado vai proporcionar à criança segurança e bem-estar, e por isso este laço afetivo tem que ser estável e harmônico, sem ameaças questionadas. A mesma autora mostra, para o primeiro trimestre de vida do bebê, uma tabela a respeito das etapas evolutivas na formação do apego. Essas etapas são: proximal (do nascimento as 6 semanas); transição (6 a 8 semanas) e a proximal/distal (8 a 12 semanas). De acordo com este trabalho realizado por Maia (2000), o bebê tem preferência pelo rosto e a mãe responde com uma atração especial pelo bebê e valorização de suas reações; necessidade de aproximação estreita da parte do bebê para facilitação de aconchego, reconhecimento docorpo do bebê e suas partes; enquanto o bebê tem intolerância e frustração, a mãe responde com consolação imediata a inquietação do bebê; e por último, o bebê tem a capacidade de regular a estimulação materna e a mãe busca de um ritmo ótimo na estimulação. A partir da 6ª semana, os bebês deveriam começar a sorrir e vocalizar, e a mãe responderá com brincadeiras provocadoras de prazer e conversas com o bebê; o bebê vai buscar o contato face a face, e a mãe, por conseguinte, faz brincadeiras face a face e por fim o bebê terá acoplamento seletivo a certas reações maternas e a mãe apresentará compreensão dos “sinais” do bebê e resposta aos mesmos. E como se dá esse processo nos bebês prematuros? É o que veremos mais adiante. Aorigem do vínculo mãe-bebê Muito se fala a respeito da origem do vínculo, se ele é inato ou aprendido; vários autores divergem a este respeito. O instinto materno existe afinal? De acordo com Valério (2003), devemos esclarecer, primeiramente, o que venha a ser o instinto, desde seus primórdios, ou seja, nos animais. De acordo com ele, o Instinto é na verdade uma espécie de programa operacional básico que garante aos animais a sobrevivência, não há indícios claros de que os vegetais o tenham. Ele nada nos diz a respeito da realidade, a não ser, talvez, a indução de uma experiência que nos leve a conhecer características do mundo físico através da SENSAÇÃO. Mesmo assim, não nos ajuda numa compreensão mais elevada. Tal programa está presente em praticamente todas as criaturas animadas, desde amebas até o ser humano. Ele é um grupo de diretrizes básicas de ação que garantem as funções primárias da espécie como a subsistência, o crescimento e a reprodução. Sendo assim, muito se fala em instinto materno, instinto de preservação da vida, instinto de reprodução e similares. Mas, na verdade, todos os instintos, programas para garantir a sobrevivência da espécie, traduzem-se no plano físico meramente como dois aspectos básicos: ABusca pelo Prazer e a Fuga da Dor. (Valério, 2003). A s s i m , n o s s o i n s t i n t o d e autopreservação não é baseado operacionalmente numa idéia de conservação da vida, mas sim de fuga da dor. Evitamos um perigo físico, não devido a uma imediata e inerente idéia de que nossa existência estará ameaçada, mas devido ao fato de pressentirmos que aquilo nos trará sofrimento. Procuramos nos alimentar, não baseados num conhecimento antecipado de que por intermédio da alimentação sustentaremos o funcionamento de nosso organismo, mas sim no de que eliminaremos a sensação desagradável da fome e teremos talvez o prazer do sabor do alimento. Isso tudo, é claro, em um nível primário animal. Mesmo o instinto sexual não visa conscientemente à reprodução e sim ao prazer. Nos animais superiores, esse programa de evitar a dor e obter o prazer desenvolve todo um complexo de estruturas emocionais, nos animais inferiores isso não é evidente, mas, mesmo assim, acredita-se que haja grande diferença no instinto de um inseto e no instinto humano, não no instinto em si, apenas na forma com que o "sentimos", principalmente de forma emocional. Alguns animais possuem instintos que aparentam ser até mesmo mais elaborados, como a espetacular "engenharia" das abelhas e formigas em construir suas moradas e operar suas funções, algo que o ser humano não parece possuir por natureza e sim por cultura. Dessa forma, este autor não acredita numa superioridade do instinto humano em relação ao dos animais. Pois, para ele, o instinto nada mais é do que um programa sem qualquer capacidade de adaptação a situações imprevistas, e por isso um besouro não parece ser capaz de aprender. Para Valério (2003); Maldonado (1988); Papalia e Olds (2000), o instinto materno parece ser nada mais do que um instinto de busca e conservação de prazer, não necessariamente de si próprio, mas também refletido num semelhante. Afinal, como seres humanos, somos capazes de nos sentir mal apenas ao observar o sofrimento do próximo. Em vista disto, percebe-se que, lamentavelmente, a palavra Instinto é amplamente confundida com Intuição, mesmo sendo conceitos diametralmente opostos. É comum vermos expressões do tipo, "siga seus instintos", para a resolução de problemas que transcendem em muito as funções primárias da espécie. Na verdade, tal expressão deveria ser "siga sua intuição". Os instintos são absolutamente inúteis no sentido de ajudar a resolver problemas racionais, por exemplo. Portanto, para Valério (2003), o Instinto humano não é um poder de conhecimento da realidade, não evolui como eles e nem sequer é superior ao dos animais inferiores. Em vista disto, alguns autores como Badinter (1985) e Nazareth (2004) desenvolveram o “Mito do Amor materno”. Em “Um amor conquistado o mito do amor materno”, Elizabeth Badinter (1985) nos mostra de maneira muito clara que o amor materno inato é um mito. Não é “dado”, mas sim, como deixa antever o título da obra, “conquistado”. Porém, acreditamos em nosso imaginário que tal amor seja algo natural. Algo que nasce com as mulheres, verdadeiro, único das mulheres. Falando- se até de “instinto materno”. De acordo com Nazareth (2004), essa convicção se dá basicamente por duas razões: A primeira é devido à imposição feita pela cultura, responsável pelo desenvolvimento do modelo de amor materno conhecido atualmente e com o qual temos convivido desde o século XIX. A segunda, em uma relação de causalidade circular com a anterior, deve- se à necessidade de se idealizar a relação mãe-filho, idealização que obedece ao desejo de união perfeita, fantasia de completude que protege o indivíduo das ansiedades e medos mais primitivos de separação, abandono e perda. Desse modo, para Badinter (1985), a mãe é concebida como alguém puro a quem são atribuídos apenas sentimentos nobres de acolhimento, abrigo e continência no que diz respeito à sua cria. A criança é vista como um ser que se satisfaz total e plenamente com uma relação fusional. O caráter ambivalente e contraditório desse modelo de vínculo que reúne sentimentos de aprisionamento e possibilidade de individuação será enfrentado só bem mais tarde na vida, com a entrada do terceiro na relação diádica composta por mãe e filho, cujo primeiro representante e protótipo para os demais é o pai. Contudo, de acordo com Nazareth (2004), o amor materno como o conhecemos atualmente é aquisição bem recente. Os estudos trazidos por Badinter (1985) nos fazem ver que nem sempre foi assim. A mãe tinha mais uma função biológica que afetiva, ficando as crianças ao cargo de amas-de-leite que lhes garantiam a sobrevivência física, o suporte emocional e humanização. Atualmente, em divergência, muitos autores, entre eles Rico (2001) e Trucharte e Knijnik (2002), afirmam que é muito antes do nascimento e ainda no ambiente intra-uterino que se tem início à formação do vínculo entre a futura mamãe e seu bebê, ou seja, que o vínculo poderia ser inato. Pois se trata de um processo de comunicação tão complexo quanto sutil e que torna possível esta troca íntima e profunda. O vínculo é de importância vital para o feto, pois precisa se sentir desejado e amado para propiciar a continuação harmoniosa e saudável de seu desenvolvimento. Trucharte e Knijnik (2002) afirmam que o processo de formação de vínculo mãe-filho se inicia ou se intensifica ao aparecerem os movimentos fetais. Quando citam Bowlby, as autoras salientam que existem condições necessárias para que o apego se dê entre a mãe e seu filho. Entre elas seria a sensibilidade da mãe frente aos sinais do bebê, como também a capacidade do bebê para sentir que suas iniciativas sociais levam à troca afetiva com sua mãe. Ele acredita que ao término do primeiro anode vida a dupla mãe-bebê já tenha desenvolvido um padrão próprio de interação. Como já foi dito antes, observa-se que a formação do vínculo não é automática e imediata, pelo contrário, é gradativa e, portanto, necessita de tempo, compreensão e amor para que possa existir e funcionar adequadamente. É, também, fundamental para que se possa c o m p e n s a r o s m o m e n t o s d e preocupações e reveses emocionais maternos a que todos nós estamos sujeitos no cotidiano. (Rico, 2001). E mais, de acordo com estudos realizados nesta área, ocorre nas mães uma dupla identificação: com o feto e com sua própria mãe. É importante salientar, neste sentido, que as relações estabelecidas pelas mães em sua família de origem podem influenciar a ligação com seu filho (Trucharte e Knijnik-2002). O amor e a rejeição repercutem sobre a criança muito precocemente, mas, para que possa dar significado a estes sentimentos, é preciso maturidade neurofisiológica. Assim, até os três primeiros meses de vida intra-uterina, as mensagens enviadas pela mãe são, em grande parte, incompreendidas pelo embrião, muito embora possam causar- lhe desconforto se percebidas como desagradáveis. (Papalia e Olds - 2000). Além disso, Rico (2001) destaca que, à medida que vai evoluindo, o feto torna- se capaz de registrar e de dar significado às emoções e sentimentos maternos. É quando, então, começa a se formar sua personalidade, o que ocorre por volta do terceiro trimestre de gestação. A ansiedade materna é, de certa maneira, até benéfica ao feto, pois perturbando a neutralidade do ambiente uterino, perturba-o também, conscientizando-o de que é um ser distinto, separado desse ambiente. Para se livrar desse desconforto, ele começa a elaborar progressivamente técnicas de defesa como dar pontapés, mexer-se mais ativamente, e que funcionam, para a sensibilidade materna, como um envio de mensagem de que está sendo perturbado. Se houver sintonia materno-fetal, imediatamente a futura mamãe capta esta mensagem e começa a passar a mão delicadamente em seu ventre, o que é percebido e decodificado pelo feto como atitude de compreensão, carinho e proteção, portanto, como tranqüilizadora. Como assinala Spitz (1988), as experiências e as realidades têm demonstrado que as influências formativas que se originam no ambiente, ou seja, na mãe, são dirigidas a essas totalidades vivas, receptivas e em desenvolvimento, o bebê, pois o que a mãe vive ela acaba transmitindo para o seu bebê. As ações e respostas do bebê, “provocadas” pela mãe, sem que se devam à intenção consciente da mãe; a existência da mãe, na sua simples presença, age como estímulo para as respostas do bebê; sua menor ação, por insignificante que seja, mesmo quando não está relacionada com o bebê, age como um estímulo. Essas atividades da mãe são as formas mais gerais e mais facilitadoras notadas de intercâmbio de estímulo da díade. Ainda tomando Rico (2001) como referência, podemos dizer que com o decorrer do tempo a experiência de desconforto transforma-se em emoção e tem início a formação de idéias sobre as intenções maternas em relação a si mesmo. Desta maneira, se a mãe for amorosa e tiver uma relação afetiva rica com seu bebê, contribuirá para que nasça uma criança confiante e segura de si. Assim também, mães deprimidas ou ambivalentes que, por uma razão qualquer, privam o feto de seu amor e apoio, certamente favorecerão o estado depressivo e a presença de neuroses na criança, que podem ser constatados após o nascimento, pois sua personalidade foi estruturada num clima de medo e angústia. Mesmo a gestante que rejeita seu filho comunica-se com ele através do fornecimento do alimento. Mas, a qualidade desse vínculo é diferente da mãe que o deseja e esta é a grande diferença, pois não é apenas uma comunicação biológica. Como o feto capta todas as emoções maternas, as que o fazem entrar em sofrimento como a ansiedade, temor e incertezas, provocam-lhe reações mais fortes e contínuas, enquanto que as de alegria e felicidade, por não alterarem o ambiente intra-uterino, permitem que seus movimentos permaneçam suaves e harmoniosos. De acordo com várias pesquisas realizadas acerca do assunto, o feto sente o que a mãe sente, até como uma atitude de solidariedade, mas com intensidade diferente e sem a compreensão materna. As emoções negativas são percebidas como um ataque a si próprio (Papalia e Olds, 2000) e (Rico, 2001). Mais ainda, é fundamental lembrar que as preocupações passageiras e simples do cotidiano não lhe oferecem risco algum, pois sequer podem levar o organismo materno à produção de hormônios. O que o afeta e prejudica sobremodo são as situações que induzem à produção intensa e contínua de hormônios, como a ansiedade materna, que pode, inclusive, provocar o estresse da mãe. Concluindo, se o vínculo materno-fetal não foi consolidado durante o período gestacional, há de se tentar restabelece-lo nas horas e dias que sucedem ao nascimento, período ideal na vida extra- uterina e, se necessário, com a ajuda de um profissional capacitado. Para Nazareth (2004), todo afeto para se dar precisa de proximidade física e emocional. Deve ser conquistado com e na convivência. É na intimidade das relações construídas no cotidiano que germina, cresce e frutifica. E o amor materno não foge a essa regra. Não é decorrente, como se crê, da ação de algum instinto. É afeição que, como qualquer outra, necessita de reciprocidade desenvolvida em um relacionamento estreito e contínuo que assegure confiança e familiaridade aos que dele se nutrem. Mais ainda, segundo Trucharte e Knijnik (2002), quando alude a Klaus- Kennell (1978), vemos que o vínculo entre mãe e filho é a fonte de onde irão provir, depois, todos os futuros vínculos que se estabelecerão pela criança e que constituirão a relação a ser formada durante o curso de vida da criança. Para toda a vida, a força e a qualidade deste laço influirá sobre a qualidade de todos os futuros vínculos que serão estabelecidos com as outras pessoas de seu convívio. Com isso, é importante esclarecer que a qualidade do vínculo influencia diretamente o desenvolvimento físico e emocional do bebê, formando, assim, uma base para um posterior pregresso adicional. 3. Conclusões e considerações finais Podemos observar que a interação mãe bebê é interferida quando ocorre, por exemplo, uma situação de prematuridade, onde o vínculo e o apego são afetados. Ao nível da figura materna, o ponto fundamental é a presença de uma mulher que seja figura estável, que seja capaz de dar amor e que seja, ao nível qualitativo, capaz de compreender e atender às solicitações básicas feitas pela criança. Percebe-se que na literatura encontram-se trabalhos segundo a qual o bebê, já na barriga da mãe, agita-se quando elas estão nervosas e inquietas, e que se aquietam quando suas mães conversam e acariciam o próprio ventre. Ficando demonstrado, dessa forma, que na vida intra-uterina o feto é capaz de captar, perceber e reagir a estímulos de meio interno e externo, sendo de fundamental importância o momento da gestação para a formação de um vínculo de apego futuro. Com o nascimento, o recém-nascido traz consigo uma bagagem hereditária para relacionar-se com outro ser humano. Essa bagagem hereditária pode ser observada nos comportamentos de sucção, agarrar-se, choro, sorriso, balbucio, locomoção e são encontrados em outras espécies de animais e compreendidos, etnologicamente, como fatores que favorecem a sua sobrevivência enquanto espécie, podendo ser lida como uma predisposição do ser humano para apegar-se. Assim, quando o bebê encontra uma figura com disponibilidade para interagir consigo, com sensibilidade para interpretar e responder aos sinaisenviados por ele consegue desenvolver um satisfatório vínculo de apego. Conseqüentemente, d e s e n v o l v e r á s e n t i m e n t o s d e autoconfiança, confiança no mundo e nas pessoas, bem como terá construído uma boa base para o desenvolvimento de sua autonomia enquanto sujeito particular. Contudo, a situação descrita até então é uma situação ideal, embora se saiba que, após o nascimento, os primeiros contatos mãe/bebê são marcados por sentimentos ambivalentes: afeição, atração, dúvida, medo e angústia. A mãe, em particular, tem que elaborar o luto do bebê fantasiado durante a gestação e aprender a lidar com aquele novo ser, enquanto o bebê está sendo sobrecarregado e é absorvido pelos estímulos do mundo. Fica claro que o processo de formação do vínculo de apego é um processo complexo e delicado, dinâmico e não estático, embora se possam delimitar fases de desenvolvimento durante o desenrolar do mesmo. Portanto, uma parceria fortemente estabelecida no início da vida garante ao indivíduo um sentimento de segurança em si mesmo e nas pessoas, que lhe p r o p i c i a r á , s e n a d a o c o r r e r posteriormente, um desenvolvimento emocional sadio, a confiança suficiente para se envolver durante toda a vida em relacionamentos pessoais íntimos e gratificantes (Berthoud, 1998). Esse raciocínio se aplica para o desenvolvimento de todas as relações posteriores da vida do sujeito, o que serve para enfatizar mais uma vez a importância dos vínculos estabelecidos, de como eles são estabelecidos na vida de uma criança. Neste momento, cabe uma breve reflexão de como está a realidade dos nascimentos no Brasil e como esta realidade traz alguma conseqüência para o desenvolvimento do vínculo de apego interação mãe/bebê. Atualmente, o local de nascimento da maioria dos bebês é o centro cirúrgico de algum hospital, um ambiente desprovido muitas vezes de calor humano, longe de pessoas significativas para a gestante e nem sempre suprido de apoio profissional e técnico competente. Por outro lado, é bem verdade que o índice de mortalidade de recém-nascidos e de parturientes diminui com esse tipo de nascimento. Contudo, eleva-se o número de casos de depressão pós-parto. A situação chega a ser ainda mais complexa, pois o nosso país é campeão mundial de partos por casaria, há um rígido e limitado horário de visitas além da separação do recém-nascido e de sua mãe (dados de 2001). Sabe-se que em muitas instituições essa realidade já vêm sendo questionada e modificada, porém, a permanência de atitudes s e m e l h a n t e s p o d e o c a s i o n a r conseqüências danosas para a formação do vínculo afetivo. A mãe pode ter dificuldades de aceitação e de contato com seu bebê, vivenciar fortes sentimentos de perda, há um aumento da probabilidade de esta mãe desenvolver depressão pós-parto e comprometer a díade mãe-bebê, bem como o próprio bebê pode ter dificuldades de contato com relação à mãe. Enfim, como coloca Berthoud (1998), apesar de tudo, felizmente, o ser humano é bastante maleável e o apego seguro e saudável pode se desenvolver no seio da família, apesar das condições adversas que cerquem o nascimento de seu novo membro. É importante estar atento e ciente dessa possibilidade, da capacidade de mudança e de crescimento do ser humano e da criança de uma forma geral. Essa experiência, então, da prematuridade, representa um forte impacto para as mães, até porque o período dos nove meses de gestação consiste num processo fundamental de preparação biológica e psíquica para a experiência da maternidade. Assim, desde o momento em que deparam com esse acontecimento, as mães se confrontam com o inesperado, com o amedrontador... Com a maternidade prematura. Diante dessas questões, vale ressaltar uma consideração extremamente pertinente no que se refere não apenas à situação de prematuridade, mas à relação mãe-bebê de um modo geral. Trata-se da importância de que os serviços de neonatologia possam desenvolver um trabalho interdisciplinar capaz de acolher a mãe e o seu bebê de uma forma mais humanizada e integral; um serviço que seja capaz, enfim, de dar conta das vicissitudes da díade mãe-bebê e das possíveis eventualidades que possam vir a surgir nesse momento tão constitutivo. É fundamental que os serviços de neonatologia atuem de forma preventiva, oferecendo às mães um lugar mais participativo junto aos cuidados para com o bebê, no sentido de favorecer a construção e a intensificação do vínculo e da relação entre mãe e filho, haja vista ser essa construção a base para toda a constituição psíquica do sujeito (Macedo e Barros, 2002). Bibliografia BADINTER, E. Um amor conquistado: o mito do amor materno. Rio de Janeiro: ed. Nova Fronteira, 1985. BERTHOUD, C.M.E. Ensaios sobre formação e rompimento de vínculos afetivos. 2.ed. Taubaté: Cabral editora universitária, 1998. BOWLBY, J. Formação e rompimentos de vínculos afetivos. Trad. Álvaro Cabral. São Paulo, Martins Fontes, 1962. __________. Uma base segura. Aplicações clinicas de uma teoria do apego. Trad. Álvaro Cabral. São Paulo, Martins Fontes, 1989. Brazelton, T. Berry. O Desenvolvimento do Apego Porto Alegre: Artes Médicas,1988. DURAND, Bernard. Ahospitalização psiquiátrica conjunta mãe-bebê. In:LEITGEL-GILLE, M. (Org). Boi da cara preta: crianças no hospital. Tradução Helena Lemos. Salvador: EDUFBA: Álgama. 2003. Cap 10, p.196-217. (Coleção de calças curtas) HUFFMAN, K. et al. Psicologia. Trad. Maria Emilia Yamamoto. São Paulo: Atlas, 2003. KLAUS e KLAUS. Seu surpreendente recém nascido. Porto Alegre. Ed. Artmed. 2001. KLEIN, M. Amor, ódio e separação: as emoções básicas do homem do ponto de vista psicanalítico. Trad. Maria Helena Senise. 2. ed. Rio de Janeiro: Imago; São Paulo: ed. Da Universidade de São Paulo, 1975. LANGER, M. Maternidade e sexo: estudo psicanalítico e psicossomático. Porto Alegre: Artes médicas, 1981. Lebovici, Serge. O bebê, a mãe e o psicanalista. Porto Alegre: Artes Médicas, 1987. LOPES, G.P. Sexualidade humana. Rio de Janeiro: Medsi, 1983. MACEDO, L; BARROS, P. Aprematuridade na relação mãe-bebê. Recife: UNICAP, 2002. MAIA. E. M. C. Fortalecimento do vínculo diádico entre a mãe adolescente e seu bebê. 2000. 163f. Monografia (Doutorado em Psicologia clinica). Departamento de psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo. MALDONADO, M.T. Psicologia da gravidez parto e puerpério. Petrópolis: ed. Vozes, 1988. __________________. Maternidade e paternidade. Vol. II. Petrópolis: ed. Vozes, 1989. NAZARETH, E. R. O mito do amor materno. Rio de Janeiro: ed. Vozes, 2004. PAPALIA, D.; OLDS, S. W. Desenvolvimento Humano. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000. PULASKI, M. A. Uma introdução ao desenvolvimento cognitivo da criança. Rio de Janeiro: LTC, 1986 / Apêndice A: Esboço dos estágios do desenvolvimento p. 212/215. REVISTA CRISTÃ: Entrevista a Maria Tereza Maldonado. Feita por Antônio Edson em Maio de 2001. Disponível em <http:// www.revistacristã.com.br>. Acesso em 28 de março. 2004. SAYERS, J. Mães da psicanálise: Helene Deutsch, Karen Honey, Anna Freud, Melanie Klein / Janet Sayers; tradução, Vera Ribeiro-Rio de Janeiro: Jorge Zahar ed., 1992. SEGRE, C. A. de M.; ARMELLINI, P. A.; WANDA, T. RN. São Paulo: ed. Sarvier Ltda, 1991. SOIFER, R. Psicologia da gravidez, parto e puerpério. Porto Alegre: Artes Médicas, 1980. Spitz, René A. O Primeiro Ano de Vida. Trad. Erothildes Mielan Barros da Rocha. 5 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1988. SZEJER, M.; STEWART, R. Nove meses na vida da mulher: uma abordagem psicanalítica da gravidez e do nascimento. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1997. VALÉRIO, M. O motivo emocional. Disponível em < www. Xr.pro.br/excrania/psicoXR. Html> Acesso em 07 de Dezembro de 2003. Winnicott, D. W. Os Bebês e suas Mães. São Paulo: Martins Fontes, 1999. ________________.Tudo começa em casa. São Paulo: Martins Fontes,1996. ________________. Privação e delinqüência / D. W. Winnicott; Trad. Álvaro Cabral; revisão Mônica Stahel 2.ed- São Paulo: Martins Fontes, 1994. Revista Técnica IPEP, São Paulo, SP, v. 5, n. 1/2,p. 81-98, jan./dez. 2005
Compartilhar