Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Radiac¸a˜o de corpo negro e a formula de Planck Valery Shchesnovich F´ısica Quaˆntica 2016-III Valery Shchesnovich Aula 1: Radiac¸a˜o de corpo negro Desenvolvimento historico: Radiac¸a˜o de corpo negro 1859. Gustav Kirchoff introduziu o conceito de corpo cuja superf´ıcie consegue absorver toda radiac¸a˜o recebida, chamado o corpo perfeitamente negro, que no estado de equil´ıbrio te´rmico emite e absorve radiac¸a˜o em qualquer intervalo de frequeˆncia e com as mesmas taxas (conceito de corpo negro). 1879. Josef Stefan usou conceitos da termodinaˆmica de Ludwig Boltzmann para explicar as medic¸o˜es experimentais de radiac¸a˜o emitida de corpos aquecidos e o fato que radiac¸a˜o emitida em equil´ıbrio na˜o depende do material, mas somente de temperatura (formulado como Lei de Stefan-Boltzmann). 1893. Wilhelm Wien, usando os dados experimentais, formulou a lei de radiac¸a˜o de corpo negro que determina a frequeˆncia do ma´ximo no espectro com a temperatura do corpo (lei de Wien). 1900. Max Planck propoˆs a formula para radiac¸a˜o de corpo negro que depende de uma constante nova “h”, chamada a constante de Planck. 1905. Albert Einstein propoˆs que radiac¸a˜o e´ emitida e absorvida por quantas de energia (o termo “fo´ton” foi proposto por G. Lewis em 1925, que erradamente acreditava que os fo´tons se conservam como, por exemplo, a carga ele´trica). 1924. Satyendra Nath Bose ponderou que fo´tons (bosons) sa˜o, de princ´ıpio, entidades indistinguiveis e derivou a formula de Planck a partir de abordagem da F´ısica Estat´ıstica (adotando a lei de Gibbs para esse fim, junto com Einstein propuseram existeˆncia do estado condensado de mate´ria, o condensado Bose-Einstein, o efeito devido somente a` estat´ıstica de bosons chamada de Bose-Einstein). Valery Shchesnovich Aula 1: Radiac¸a˜o de corpo negro Radiac¸a˜o de corpo negro: A base termodinaˆmica do problema Ludwig Boltzmann: Equil´ıbrio Te´rmico como ponto final de evoluc¸a˜o Gustav Kirchoff: Aplicac¸a˜o ao radiac¸a˜o, Corpo Negro Transferencia de calor: por (i) convec¸a˜o, (ii) conduc¸a˜o, e (iii) radiac¸a˜o Um modelo de corpo negro: cavidade com uma abertura pequena (paredes de cavidade em equil´ıbrio com radiac¸a˜o no dentro) Valery Shchesnovich Aula 1: Radiac¸a˜o de corpo negro Distribuic¸a˜o de velocidades de a´tomos em equil´ıbrio te´rmico de um gas I. Gas de a`tomos em caixa Distribuic¸a˜o de Maxwell-Boltzmann para velocidades de gas dP(v) = ρ(v)dv (probabilidade) ρ(v) = 4piv2 ( m 2pikBT ) 3 2 exp { − mv 2 2kBT } v2 ≡ v2 = v2x + v2y + v2z kB = 1.38× 10−23 J K (constante de Boltzmann) Valery Shchesnovich Aula 1: Radiac¸a˜o de corpo negro “Essa distribuic¸a˜o de energia chamada normal representa algo absoluto, e por que pesquisa em algo absoluto sempre mi aparecia ser uma forma mais elevada de fazer pesquisa, devotei vigorosamente a soluc¸a˜o desse problema. ” – Max Planck (23 Abril 1858 – 4 Outubro 1947). “Nada restou a ser descoberto na F´ısica agora. O que resta e´ medic¸a˜o com mais e mais precisa˜o.” – Lord Kelvin (William Thomson, 26 Junho 1824 – 17 Dezembro 1907) em seu discurso na Associac¸a˜o Britaˆnica para Avanc¸o em Cieˆncia, 1900. Valery Shchesnovich Aula 1: Radiac¸a˜o de corpo negro Ondas Eletromagneticas Exemplo: ondas de som Harmonicas Espectro de radiac¸a˜o Onda eletromagnetica (polarizada) Valery Shchesnovich Aula 1: Radiac¸a˜o de corpo negro A discreta (na˜o continua) natureza de radiac¸a˜o Planck (1900): Radiac¸a˜o em equil´ıbrio te´rmico em cada frequeˆncia ν (usado tambe´m f ) tem valores discretos �n = nhν (ou �n = nhf ) , aonde n = 0, 1, 2, 3, . . . e h e´ uma constante. Einstein (1905): Radiac¸a˜o e´ emitida e absorvida em quantas de energia. O processo fundamental e´ de emissa˜o ou absorc¸a˜o de um quanta. Valery Shchesnovich Aula 1: Radiac¸a˜o de corpo negro Radiac¸a˜o em equil´ıbrio te´rmico, i.e., a radiac¸a˜o de corpo negro II. “Ga´s de ondas” em cavidade (ondas sobrepo˜em, na˜o tem colisa˜o) ou ga´s de fo´tons com 0 < λ <∞ λ1 > λ2 Formula para a potencia media de fluxo S(λ) radiado pelo orif´ıcio em todas direc¸o˜es S(λ) = c 2 × u(λ) pi 2∫ −pi 2 dθ cos2 θ = c 4 u(λ) Somente a metade de ondas sai com velocidade c (a outra metade entra) de profundidade c cos θ por ∆t = 1s na direc¸a˜o θ com o normal do orif´ıcio. Distribuic¸a˜o de Planck para energia de radiac¸a˜o E per volume dV e per intervalo de comprimento de onda λ dE(λ) = u(λ)dλdV u(λ) = 8pihc λ5 1 exp{ hc λkBT } − 1 h = 6.63× 10−34J · s (constante de Planck) Valery Shchesnovich Aula 1: Radiac¸a˜o de corpo negro Derivac¸a˜o da lei de Planck para radiac¸a˜o de corpo negro O nu´mero de a´tomos e´ discreto, quanto o espectro de ondas e´ continuo. Num intervalo [λ, λ+ dλ] em uma cavidade de volume V = 1m3 tem uma densidade de ondas que anotamos pelo ρ(λ). De acordo com Planck, a energia de ondas com comprimento λ ou frequeˆncia ν = c λ e´ discreta �n = nhν = nhc λ A energia media de ondas com comprimento λ encontrada no equil´ıbrio te´rmico com temperatura T e´ calculada com a distribuic¸a˜o de Boltzmann para energia �n: fn(λ,T ) = C exp { − nhc λkBT } , aonde C = 1− exp { − hc λkBT } e´ a constante de normalizac¸a˜o. Introduzindo q ≡ exp { − hc λkBT } temos C = 1− q e E(λ,T ) = ∞∑ n=0 �nfn(λ,T ) = hc λ (1− q) ∞∑ n=0 nqn = hc λ (1− q)q ∂ ∂q ∞∑ n=0 qn = hc λ (1− q)q ∂ ∂q 1 1− q = hc λ 1 q−1 − 1 = hc λ exp{ hc λkBT } − 1 A densidade de energia media per volume enta˜o e´ E(λ) = ρ(λ)E(λ,T ) Valery Shchesnovich Aula 1: Radiac¸a˜o de corpo negro Densidade de ondas ρ(λ) Ondas eletromagne´ticas satisfazem a equac¸a˜o de onda, e.g., ∂2E ∂x2 + ∂2E ∂y2 + ∂2E ∂z2 = 1 c2 ∂2E ∂t2 , e numa cavidade cubica com comprimento L (i.e., 0 ≤ x ≤ L) satisfazem condic¸a˜o de contorno E ,B = 0 nas paredes de cavidade. Assim elas podem ser expandidos em serie de Fourier. O campo ele´trico e´ E(x , y , z, t) = ∞∑ n1,n2,n3=0 E0(n1, n2, n3) sin (pi L n1x ) sin (pi L n2y ) sin (pi L n3z ) sin ( 2pict λ ) com uma condic¸a˜o para indices n1,2,3(pin1 L )2 + (pin2 L )2 + (pin3 L )2 = ( 2pi λ )2 . Para achar a densidade de ondas, consideremos quantos ı´ndices de onda n ≡ n1i + n2j + n3k correspondem as ondas num intervalo de comprimento de onda [λ, λ+ dλ]. Valery Shchesnovich Aula 1: Radiac¸a˜o de corpo negro Densidade de ondas ρ(λ) A soluc¸a˜o e´ geometrica: no espac¸o de indices de onda n Temos a condic¸a˜o para satisfazer a equac¸a˜o de onda n21 + n 2 2 + n 2 3 = 4L2 λ2 , aonde n1,2,3 ≥ 0. O numero de ondas N e´ dado por 1 8 do volume de esfera. Mas tem duas polarizac¸o˜es para cada campo – fator 2. N = 2× 1 8 × 4pi 3 (n21 + n 2 2 + n 2 3) 3 2 = 8piL3 3λ3 . Qual e´ a densidade de ondas em volume unita´rio V = 1m3, i.e., quantas ondas cabem no intervalo [λ, λ+ dλ] per volume e per dλ? Temos ρ(λ) = 1 L3 ∣∣∣∣dNdλ ∣∣∣∣ = 8piλ4 . Usando os resultados para ρ(λ) e E(λ,T ) obtemos a formula de Planck: u(λ) = ρ(λ)E(λ,T ) = 8pi λ4 × hc λ exp{ hc λkBT } − 1 = 8pihc λ5 1 exp{ hc λkBT } − 1 . Valery Shchesnovich Aula 1: Radiac¸a˜o de corpo negro Duas formas da lei de Planck: densidade de ondas em comprimento de onda λ ou em frequeˆncia ν Em respeito de comprimento de onda temos achado u(λ) = 8pihc λ5 1 exp{ hcλkBT } − 1 . Em respeito de frequeˆncia de onda ν = cλ . Temos ρ(ν) = ∣∣ dλ dν ∣∣ ρ(λ) = 8piν2 c3 . Enta˜o u(ν) = ρ(ν)E(ν,T ) = 8piν2 c3 × hν exp{ hνkBT } − 1 = 8pihν3 c31 exp{ hνkBT } − 1 . Valery Shchesnovich Aula 1: Radiac¸a˜o de corpo negro Poteˆncia de radiac¸a˜o total emitida – Lei de Stefan-Boltzmann Temos poteˆncia de radiac¸a˜o per comprimento de onda λ S(λ) = c 4 u(λ). Integrando sobre todos comprimentos de onda obtemos a poteˆncia total P emitida por um orif´ıcio per unidade de area A. Enta˜o P = A ∞∫ 0 dλS(λ) = A ∞∫ 0 dλ 2pihc2 λ5 1 exp{ hc λkBT } − 1 = σAT 4. aonde σ = 2pi5k4B 15h3c2 = 5.67× 10−8 W m2K4 . Exemplo: radiac¸a˜o de uma moeda a temperatura de ambiente T = 22C (so´ um lado, considerando-o como um corpo negro). P = σAT 4 = ( 5.67x10−8 W m2K4 ) × (8.54x10−4m2)× (295K)4 = 0.367W . Valery Shchesnovich Aula 1: Radiac¸a˜o de corpo negro O comprimento de onda do maximo no espectro de radiac¸a˜o – Lei de Wien Temos para o ponto de ma´ximo dS(λ) dλ = 0 ou qualquer coeficiente constante C e uma func¸a˜o x = x(λ), dx dλ dF dx = 0 com F = CS(λ) Usamos C = 1 2pic2h ( hc kBT )5 e notamos x = hc λkBT . Enta˜o, como dx dλ 6= 0 deve existir um x = x0 que satisfaz dF dx = d dx x5 ex − 1 = 0 (somente um x0, como e´ visto de grafico ao lado). Assim obtemos λmax = hcx0 kBT = b T , b ≡ hcx0 kB = 0.0029m × K . Para a moeda acima na temperatura de ambiente T = 22C temos λ = b T = 0.0029m × K 295K = 9.83× 10−6m = 9830nm (infra − vermelho) Quantos fo´tons sa˜o emitidos por essa moeda per segundo? Temos e energia do pico �max = hc λmax ≈ 10−34J·s×108m/s 10−6m = 10 −20J enta˜o estimamos dNdt = P �max ≈ 0.367W 10−20J ≈ 10 19 1 s . Valery Shchesnovich Aula 1: Radiac¸a˜o de corpo negro Aplicac¸o˜es da lei de Planck: Metal aquecido Mesmo na˜o e´ corpo negro, T ≈ 1500K e λmax = b T = 0.0029m×K 1500K ≈ 2× 10−6m = 2µm Quando espectro vis´ıvel ∈ [0.4...0.7]µm Valery Shchesnovich Aula 1: Radiac¸a˜o de corpo negro Aplicac¸o˜es da lei de Planck: Metal aquecido Mesmo na˜o e´ corpo negro, T ≈ 1500K e λmax = b T = 0.0029m×K 1500K ≈ 2× 10−6m = 2µm Quando espectro vis´ıvel ∈ [0.4...0.7]µm Valery Shchesnovich Aula 1: Radiac¸a˜o de corpo negro Aplicac¸o˜es da lei de Planck: Metal aquecido Mesmo na˜o e´ corpo negro, T ≈ 1500K e λmax = b T = 0.0029m×K 1500K ≈ 2× 10−6m = 2µm Quando espectro vis´ıvel ∈ [0.4...0.7]µm Valery Shchesnovich Aula 1: Radiac¸a˜o de corpo negro Aplicac¸o˜es da lei de Planck: Temperatura do Sol 1. (Cor claro no gra´fico) Para Sol temos λmax ≈ 500nm. Enta˜o, T ≈ b λmax ≈ 0.0029m × K 5× 10−7m ≈ 6000K . Mesmo assim, vemos cor amarelo com λvisto ≈ 570nm. Conclusa˜o: o Sol na˜o e´ exatamente um corpo negro! 2. (Cor escuro no gra´fico) Para Terra Tmedio ≈ 15C = 15 + 273 = 288K . Enta˜o λmax ≈≈ 0.0029m × K 288K ≈ 10−5m = 10µm. Valery Shchesnovich Aula 1: Radiac¸a˜o de corpo negro Aplicac¸o˜es da lei de Planck: Temperatura do Sol 1. (Cor claro no gra´fico) Para Sol temos λmax ≈ 500nm. Enta˜o, T ≈ b λmax ≈ 0.0029m × K 5× 10−7m ≈ 6000K . Mesmo assim, vemos cor amarelo com λvisto ≈ 570nm. Conclusa˜o: o Sol na˜o e´ exatamente um corpo negro! 2. (Cor escuro no gra´fico) Para Terra Tmedio ≈ 15C = 15 + 273 = 288K . Enta˜o λmax ≈≈ 0.0029m × K 288K ≈ 10−5m = 10µm. Valery Shchesnovich Aula 1: Radiac¸a˜o de corpo negro Aplicac¸o˜es da lei de Planck: Temperatura do Sol 1. (Cor claro no gra´fico) Para Sol temos λmax ≈ 500nm. Enta˜o, T ≈ b λmax ≈ 0.0029m × K 5× 10−7m ≈ 6000K . Mesmo assim, vemos cor amarelo com λvisto ≈ 570nm. Conclusa˜o: o Sol na˜o e´ exatamente um corpo negro! 2. (Cor escuro no gra´fico) Para Terra Tmedio ≈ 15C = 15 + 273 = 288K . Enta˜o λmax ≈≈ 0.0029m × K 288K ≈ 10−5m = 10µm. Valery Shchesnovich Aula 1: Radiac¸a˜o de corpo negro Aplicac¸o˜es da lei de Planck: Temperatura do Sol 1. (Cor claro no gra´fico) Para Sol temos λmax ≈ 500nm. Enta˜o, T ≈ b λmax ≈ 0.0029m × K 5× 10−7m ≈ 6000K . Mesmo assim, vemos cor amarelo com λvisto ≈ 570nm. Conclusa˜o: o Sol na˜o e´ exatamente um corpo negro! 2. (Cor escuro no gra´fico) Para Terra Tmedio ≈ 15C = 15 + 273 = 288K . Enta˜o λmax ≈≈ 0.0029m × K 288K ≈ 10−5m = 10µm. Valery Shchesnovich Aula 1: Radiac¸a˜o de corpo negro Aplicac¸o˜es da lei de Planck Em 1965, a Radiac¸a˜o co´smica de fundo em micro-ondas foi descoberta por Penzias e Wilson (Premio Nobel). Foi achado que a distribuic¸a˜o de radiac¸a˜o co´smica corresponde muito bem a radiac¸a˜o de um corpo negro com a temperatura de 2.725 K, isso foi interpretado como evideˆncia de expansa˜o do nosso Universo. A imagem em baixo e´ de alta resoluc¸a˜o obtida em 2013 pelo sate´lite “Planck”. http://sci.esa.int/planck/51551-simple-but-challenging-the-universe-according-to-planck/ Valery Shchesnovich Aula 1: Radiac¸a˜o de corpo negro
Compartilhar