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EAE0416 - FORMAÇÃO ECONÔMICA E SOCIAL DO BRASIL I Prof. Dr. José Flávio Motta, 1º semestre de 2012. QUESTIONÁRIO II 1. Na etapa em que se processou a gênese do capitalismo na Europa Ocidental, escreve Fernando Novais, houve “... a necessidade de pontos de apoio fora do sistema, induzindo uma acumulação que, por se gerar fora do sistema, Marx chamou de originária ou primitiva. Daí as tensões sociais e políticas provocadas pela montagem de todo um complexo sistema de estímulos. O mercantilismo foi, na essência, a montagem de tal sistema, e o sistema colonial mercantilista, sua peça fundamental, a principal alavanca na gestação do capitalismo moderno”. Explique, seguindo a interpretação de Novais, as razões pelas quais a referida peça fundamental transforma-se em obstáculo para o desenvolvimento capitalista, do que decorre a crise do antigo sistema colonial. 2. A partir das considerações avançadas por Mircea Buescu, critique o trecho a seguir: “Dificilmente um observador que estudasse a economia brasileira pela metade do século XIX chegaria a perceber a amplitude das transformações que nela se operariam no correr do meio século que se iniciava. Haviam decorrido três quartos de século em que a característica dominantes fora a estagnação ou a decadência. ... As fases de progresso, como a que conheceu o Maranhão, haviam sido de efeitos locais, sem chegar a afetar o panorama geral. A instalação de um rudimentar sistema administrativo, a criação de um banco nacional e umas poucas outras iniciativas governamentais constituíam ... o resultado líquido desse longo período de dificuldades” (FURTADO, Celso. Formação econômica do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2009, p. 176). 3. Comente, baseando-se na interpretação de Celso Furtado, a seguinte citação: “É verdade que, conforme cálculos ainda precários, porém aceitáveis, a Renda ‘per capita’ ficou estacionária entre 1800 e 1850, mas é justamente este fenômeno que é importante: depois de uma queda secular desta Renda, ela deixa de cair entre 1800 e 1850, para começar a subir na segunda metade do século. O mesmo fato, apresentado dentro de uma perspectiva global, toma outra significação: não é mais uma simples estagnação, mas sim, o marco da mudança de direção. (...) A época de Mauá só foi possível graças à de Cairu.” (BUESCU, Mircea. História econômica do Brasil: pesquisas e análises. Rio de Janeiro: APEC, 1970, p. 231). 4. Explique as seguintes afirmações: a) sobre a abertura dos portos: “A decisão, cuja importância não é preciso encarecer -- bastando notar que ela quebrava o exclusivismo colonial e abria nova fase na história do Brasil -- favorecia as nações amigas, em especial a Grã-Bretanha ...” (PANTALEÃO, Olga. A presença inglesa no Brasil. In: HOLANDA, Sérgio Buarque de, org. História Geral da Civilização Brasileira. 6.ed. São Paulo: DIFEL, 1985, vol. 3, p. 72); b) sobre o tratado de comércio e navegação de 1810: “O tratado de 1810 foi o preço pago por Portugal à Inglaterra pelo auxílio que dela recebera na Europa. Segundo Canning, por esse tratado, os ingleses recebiam ‘importantes concessões comerciais às expensas do Brasil’, em troca de ‘benefícios políticos marcantes conferidos à Mãe Pátria’. ... O governo português tinha os olhos no território europeu da Monarquia ao negociar o tratado. Mas a Inglaterra tinha-os voltados para o Brasil” (IDEM, p. 80-81). 5. Alan Manchester descreve Dom João como “um obeso príncipe real que sofria de um caso crônico de indecisão”. Elabore um comentário acerca dessa descrição enfatizando o período 1808/21. Nesse comentário caracterize, valendo-se em especial da análise de E. Viotti da Costa, as diversas pressões incidentes sobre D. João e suas consequências 2 sobre a política seguida pelo príncipe e sobre o próprio processo de emancipação política do Brasil. 6. Vincule as características definidoras da crise do antigo sistema colonial ao diagnóstico da situação brasileira elaborado pelo desembargador João Rodrigues de Brito. 7. Baseando-se na interpretação de Celso Furtado e tomando como ponto de partida as citações que se seguem, analise os efeitos, para a economia brasileira, do Tratado de Comércio e Navegação firmado, em 1810, entre Portugal e Inglaterra: a) “O tratado de 1810 aniquilava ainda o surto manufatureiro que se ia verificando no país, após a revogação, em 1808, do célebre decreto de D. Maria I, que proibia as indústrias no Brasil” (ROBERTO C. SIMONSEN); b) “... o privilégio aduaneiro concedido à Inglaterra e a posterior uniformização da tarifa ao nível de 15% ad valorem, numa etapa de estagnação do comércio exterior, criaram sérias dificuldades financeiras ao governo brasileiro” (CELSO FURTADO). 8. Descreva, baseando-se nos escritos de Celso Furtado, a dinâmica das variáveis econômicas reveladora das grandes dificuldades financeiras defrontadas pelo Império brasileiro em suas décadas iniciais. 9. Elabore uma comparação entre a crítica à política metropolitana constante do “libelo” do desembargador Rodrigues de Brito, escrito em 1807, e os dizeres do manifesto do Príncipe Regente, redigido no palácio do Rio de Janeiro aos 7 de março de 1810, a seguir transcritos: “(...) para criar um Império nascente, fui servido adotar os princípios mais demonstrados de sã economia política, quais o da liberdade e franqueza do comércio, o da diminuição dos direitos das Alfândegas, unidos aos princípios mais liberais, e de maneira que promovendo-se o comércio, pudessem os cultivadores do Brasil achar o melhor consumo para os seus produtos, e que daí resultasse o maior adiantamento na geral cultura, e povoação deste vasto território do Brasil, que é o essencial modo de o fazer prosperar, e de muito superior ao sistema restrito e mercantil, pouco aplicável a um país, onde mal podem cultivar-se por ora as manufaturas, exceto as mais grosseiras, e as que seguram a navegação, e a defesa do Estado.” 10. Explore as implicações, para a emancipação política brasileira, dos movimentos revolucionários pré-independência, tomando como ponto de partida o trecho seguinte, extraído de carta escrita em Pernambuco, por João Lopes Cardoso, em 15 de junho de 1817: “os cabras, mulatos e crioulos andavam tão atrevidos que diziam que éramos todos iguais e não haviam de casar senão com brancas das melhores. (...) Vossa Mercê não suportava chegasse a Vossa Mercê um cabra, com o chapéu na cabeça e bater-lhe no ombro e dizer-lhe: ─ Adeus Patriota, como estais, dá cá tabaco, ora tomais do meu, como fez um cativo do Brederodes ao Ouvidor Afonso. [Cativo este que já recebera o justo castigo pela insolência:] já se regalara com 500 açoites.” 11. Comente a citação seguinte e, através dela, o processo de nossa emancipação política, com fundamento na caracterização dos limites do liberalismo e do nacionalismo no Brasil, efetuada por Emília Viotti da Costa: “na metáfora predileta dos periodistas e oradores patrióticos, representava-se o Brasil como escravo de Portugal. Os escravos parecem haver compreendido a hipocrisia do discurso patriótico. Se era para libertar o país da figurada escravidão portuguesa, por que não libertá-los também da autêntica escravidão brasileira?” Em junho de 1822, observou o “... barão de Roussin em correspondência para o ministro da Marinha francesa: ‘É já certo que não somente os brasileiros livres e crioulos desejam a independência política, mas mesmo os escravos, nascidos no país ou importados há vinte anos, pretendem-se crioulos brasileiros e falam de seus direitos à 3 liberdade’” (REIS, João José & SILVA, Eduardo. Negociação e conflito: a resistência negra no Brasil escravista. São Paulo: Companhia das Letras, 1989, p. 93-94). 12. Discuta a citação seguinte: “A rigor, o que se origina do confronto entre o partido autonomista, de um lado, e o imperador e os centralistaslocais, de outro, não é a mera oposição de uma província isolada, que insiste em manter seu autogoverno a despeito das medidas adotadas a partir de um centro qualquer de peregrinação. Antes, trata-se de um confronto entre dois projetos de nação para o que fora outrora o conjunto do território da América portuguesa.” (SILVA, Luiz Geraldo Santos da. O avesso da independência: Pernambuco, 1817-1824. In: MALERBA, Jurandir, org. A Independência Brasileira: novas dimensões. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006, p. 343-384). 13. Tomando como ponto de partida o texto seguinte, exponha os distintos interesses presentes no processo que teve por corolário nossa independência política: “se d. Pedro não pode ser taxado de lento nas decisões, isso aponta para o fato de que ele soube absorver o espírito de sua época, encarnando perfeitamente o novo papel que cabia ao chefe de Estado. Contudo, apesar de sua trajetória posterior em Portugal, tais características não o tornam um liberal. Desde as primeiras notícias do movimento constitucional, as opiniões que manifestou, ou que deixou escritas, revelam-no indignado com a usurpação da soberania a seu pai que as Cortes haviam promovido. Posteriormente, embora hesitante, por breve intervalo, entre obedecer ao Congresso ou permanecer no Brasil, logo aprendeu a jogar com os interesses de coimbrãos e brasilienses, vendo no Império americano não só a possibilidade imediata de livrar-se do jugo da Assembléia, como a perspectiva futura de um Império dual, sobre o qual reinaria, após a morte de d. João VI, com redobrada autoridade e autonomia, de acordo com concepções derivadas ainda na maior parte do universo do Antigo Regime. Como resultado dessas contradições, o Império do Brasil não brotou das inspirações liberais que o período da Independência colocou em circulação, mas nasceu e foi acalentado, mais propriamente, sob o signo do mesmo absolutismo ilustrado que forjara a idéia de império para conservar o que supunha sempre haver sido” (NEVES, Lúcia Maria Bastos Pereira das. Corcundas e constitucionais: a cultura política da independência, 1820-1822. Rio de Janeiro: Revan / FAPERJ, 2003, p. 418). 14. Comente de maneira articulada os seguintes elementos: o pensamento liberal, a revolução do Porto e o movimento de independência do Brasil. 15. Com amparo na interpretação de Caio Prado Júnior, discuta a afirmação seguinte: “... a política repressiva inglesa à época em que o comércio negreiro para o Brasil se encerrou, visava exclusivamente à assinatura de um tratado consignando a pesquisa de indícios ... . Entretanto, essa exigência, em si pequena, assumiu tal relevância que acabou fornecendo o terreno onde encontraria expressão, no plano político, um passo já inscrito estruturalmente, uma vez preenchidas condições determinadas. Ou seja, uma vez amadurecido, o problema do encerramento da especulação em escravos encontra no contexto das relações anglo-brasileiras o conveniente e já preparado quadro que o traz à tona” (BEIGUELMAN, Paulo. A formação do povo no complexo cafeeiro: aspectos políticos. São Paulo: Livraria Pioneira Editora, 1968, p. 34-35). 16. Compare as distintas interpretações discutidas no curso acerca da extinção do tráfico atlântico de escravos para o Brasil. Elabore a comparação solicitada tomando por base o trecho abaixo transcrito, extraído do romance-reportagem histórico escrito por Carlos Marchi e publicado em 1998: “O Brasil dispunha de muitas terras e deixá-lo renovar e aumentar constantemente o plantel escravo significaria perder o controle do mercado mundial de açúcar. Para a Inglaterra, o cerne da questão era estratégico, mas ela a apresentava como uma abordagem humanista, e assim mesmo esse humanismo só valia 4 para os outros; tanto era assim que os ingleses passaram a combater o tráfico negreiro a partir de 1807, mas mantiveram a escravidão nas Antilhas Britânicas até 1833, deixando a descoberto todo o hipócrita discurso libertário que perfilhavam. Para João VI, a equação era simples: não haveria como resistir às pressões inglesas, pois sua dinastia não sobreviveria ao apetite conquistador francês sem a permanente proteção da armada inglesa. Para os ingleses, além da perda de competitividade do açúcar antilhano, acumulava-se uma questão estratégica fundamental: era necessário povoar o mundo de assalariados para criar mercado consumidor para os variados artefatos que a pujante indústria inglesa produzia cada vez em maior quantidade” (Fera de Macabu: a história e o romance de um condenado à morte. Rio de Janeiro: Record, 1998, p. 45). 17. Discuta, confrontando-as, as afirmações seguintes, de autoria, respectivamente, de Fernando Novais e Paula Beiguelman: a) “(...) a exploração colonial, quanto mais opera, mais estimula a economia central, que é o seu centro dinâmico. A industrialização é a espinha dorsal desse desenvolvimento, e quando atinge o nível de uma mecanização da indústria (Revolução Industrial), todo o conjunto começa a se comprometer porque o capitalismo industrial não se acomoda nem com as barreiras do regime de exclusivo colonial nem com o regime escravista de trabalho”; b) “(...) desde o momento em que a economia internacional prescinde do tráfico negreiro como fator de acumulação, suprime- se um requisito básico para a persistência do escravismo. (...) Ou seja: temos que o sistema, depois da revolução industrial, tanto pode inserir como dispensar a escravidão, diversamente do que ocorria quando o tráfico (elemento ao qual se vincula a necessidade do escravismo) era peça relevante no processo de acumulação capitalista.” 18. Tomando por base a interpretação de autoria de Paula Beiguelman, critique o trecho seguinte: “O fato é que a Inglaterra, depois de abolir em 1807 o tráfico nas suas colônias, torna-se o paladino internacional na luta contra ele. É sob sua influência ou pressão ─diplomática muitas vezes, mas não raro também militar─ que o tráfico será sucessivamente abolido por todos os países do mundo. Quem resiste mais é Portugal e seu sucessor, o Brasil. {...} [D]iante da intransigência inglesa que nada abalava, comprometia-se cada vez mais a soberania brasileira e desorganizava-se a vida do país. De um modo ou de outro, era preciso sair do impasse, e afinal a política brasileira cede. Em 1850 adotam-se medidas efetivas de repressão ao tráfico: não só leis eficientes, mas uma ação severa e continuada.” (PRADO JR., Caio. História econômica do Brasil. 20.ed. São Paulo: Brasiliense, 1977, p. 145 e 152) 19. Discuta a citação seguinte, de Jaime Rodrigues, adotando a visão de Caio Prado Júnior sobre a extinção do tráfico de escravos para o Brasil: “a população livre e pobre, os escravos e os africanos livres também estiveram presentes no processo de extinção do tráfico para o Brasil. Embora o papel desempenhado por estes sujeitos não tenha sido determinante para o desfecho do processo, não se pode negligenciar sua presença.” 20. Comente, com fundamento nos distintos entendimentos da Lei do Ventre Livre explicitados por Caio Prado Júnior, Paula Beiguelman e José Murilo de Carvalho, as afirmações que se seguem: “O texto final da lei de 28 de setembro foi o reconhecimento legal de uma série de direitos que os escravos haviam adquirido pelo costume e a aceitação de alguns objetivos das lutas dos negros. (...) Na verdade, a lei de 28 de setembro pode ser interpretada como exemplo de uma lei cujas disposições mais importantes foram ‘arrancadas’ pelos escravos às classes proprietárias. E essa lei também pode ser interpretada como exemplo do instinto de sobrevivência da classe senhorial: o conselheiro Nabuco explicou que ‘a esperança de alforria’ que a lei daria aos escravos ‘em vez de perigo, é um elemento de ordem pública (...). Alguns autores viram na lei do ventre livre o momento de afirmação ou de consolidação de um projeto de5 transição para o trabalho livre e de formação de todo um contingente de trabalhadores disciplinados e higienizados. Essa pode ser uma parte da história. (...) O fato é que 1871 não é passível de uma interpretação unívoca e totalizante. É mais fácil fazer um boi voar do que tirar ilações desse tipo. O que nos interessa especificamente é perceber que a lei de 28 de setembro foi de certa forma uma conquista dos escravos, e teve consequências importantes para o processo de abolição na Corte. (...) Com efeito, Pancrácio, ‘tu cresceste imensamente’ (...).” (CHALHOUB, Sidney. Visões da liberdade: uma história das últimas décadas da escravidão na Corte. São Paulo: Companhia das Letras, 1990, p. 159-161) 21. Caracterize e avalie o “sistema de parceria”, tendo por referencial a chamada “imigração assalariada”, sobre a qual escreve Paula Beiguelman: “(...) o imigrante percebeu as vantagens que podia oferecer a lavoura cafeeira das terras novas, e o fazendeiro o partido que podia tirar do interesse despertado. Para a descoberta dessas vantagens recíprocas fora necessário entregar o cafezal à família colona, deixando-a explorar livremente as possibilidades da situação. É nesse sentido que Couty critica a substituição pura e simples de um ‘preto por um branco, um escravo por um contratado, ou assalariado’ ─ou seja, a inserção do imigrante no sistema fundado no quadro servil, tal como se procedera até então seria inoperante: impunha-se a própria substituição do trabalho coercitivo pelo incentivado” (BEIGUELMAN, Paula. A formação do povo no complexo cafeeiro: aspectos políticos. São Paulo: Pioneira, 1968, p. 90) 22. Considere os comentários transcritos a seguir: Sobre os ex-escravos, em 1888: “Os ex- cativos ... fogem ao trabalho. Se vão para uma fazenda como camaradas, poucos dias param. São excessivamente exigentes, morosos no trabalho, param a cada momento para fazer cigarro e fumar; nas horas de refeição demoram-se indefinidamente, bebem, poucos se sujeitam a fazer um feixe de lenha etc. Qualquer observação que se lhes faça recebem como ofensa e formalizando-se dizem que são livres, largam a ferramenta e lá se vão”; “O anedotário registra que não querem saber de café ‘nem pra beber’”. Sobre os imigrantes europeus, em 1869: “... os colonos seriam ‘homens que, por já ociosos’ não achavam ocupação nos seus países de origem, ‘oferecendo-se por isso a emigrar na primeira oportunidade que para isso se ofereça’”; “Em nosso país, e mesmo nesta América, é um fato esse que tenho de perto observado. Em geral, a gente que tem emigrado para o Brasil está bem longe de ter a moralidade e qualidades precisas para o trabalho. Ou porque já venham onerados de dívidas, ou porque fazem uma ideia muito mais vantajosa do Brasil, ou porque sejam incapazes do trabalho, o que é verdade é que os agentes do governo encarregados de promovê-la pouca atenção têm prestado a tão importante assunto”. Sobre o trabalhador nacional livre, em 1858: “Diz-se que os brasileiros, desde que estão com a espingarda ao ombro ou com o anzol no rio, desde que têm o lambari para comer e a viola para tocar, de nada mais cuidam”; e em 1874: “Os trabalhadores livres agora estão pimpões, porque eles já têm consciência da carestia de braços. Fora da lavoura, eles ganham um dia para o resto da semana. E quando mesmo assim não fosse, eles querem vadiar na segunda-feira, pois no domingo passaram a noite no cateretê, e também querem vadiar no sábado porque é dia de Nossa Senhora. Os quatro dias da semana que restam, querem passar bem, fazer o cigarro no serviço e comer bem sossegado ... qual, pois, a utilidade que poderão prestar ao lavrador que está com seus serviços atrasados?” Ora, se assim era, não é à toa que se afirme ter a cafeicultura se defrontado com uma crise de mão de obra a partir da extinção do tráfico negreiro. Pergunta-se: a) Colocava-se efetivamente nesses termos o problema da mão de obra? b) Como foi possível à lavoura cafeeira superar essa crise? 6 23. Elabore uma caracterização do chamado “complexo cafeeiro” levando em conta o comentário seguinte: “há, a partir de 1870, um claro movimento de diversificação do investimento em São Paulo que se dá mesmo por meio da criação de empresas em novas atividades (estrada de ferro, transporte urbano, iluminação a gás). A concentração da riqueza, associada à dimensão relativamente reduzida dos novos ramos, acaba por multiplicar a presença das mesmas pessoas em duas, três ou mais empresas. {...} O surgimento do sistema bancário em São Paulo prende-se (...) a esse movimento mais amplo do capital paulista, detonado, sem dúvida, pelo aumento das exportações de café do planalto paulista a partir de 1850.” (SAES, Flávio A. M. de. Crédito e bancos no desenvolvimento da economia paulista, 1850-1930. São Paulo: IPE/USP, 1986) 24. Discuta: “O capital cafeeiro tinha portanto diversos aspectos; ele apresenta ao mesmo tempo as características do capital agrário, do capital industrial, do capital bancário e do capital comercial. {...} não havia uma burguesia agrária cafeeira, uma burguesia comercial etc., mas uma burguesia cafeeira exercendo múltiplas funções. {Não obstante, há que} ressaltar a dominação das funções comerciais. Em outros termos, a caracterizar o capital cafeeiro como um capital dominantemente comercial. Essa mesma análise nos permite também distinguir duas camadas bastante bem definidas no seio da burguesia cafeeira. {...} Os grandes capitais ─isto é, a camada superior da burguesia cafeeira─ definiam fundamentalmente uma burguesia comercial. Os médios capitais ─isto é, a camada inferior da burguesia cafeeira─ definiam sobretudo uma burguesia agrária, cuja fraqueza (resultante do fraco desenvolvimento do capitalismo ao nível de produção) a aproximava de uma simples classe de proprietários de terra.” (SILVA, Sérgio. Expansão cafeeira e origens da indústria no Brasil. São Paulo: Alfa-Omega, 1976, p. 60-61) 25. Discorra a respeito das características do fluxo de renda que se estabelece na economia cafeeira, enfatizando as peculiaridades que o distinguem do fluxo de renda próprio de uma economia exportadora "puramente escravista". Explique por que tais características acabam por implicar uma tendência ao desequilíbrio externo na economia brasileira. 26. Com base nos escritos de Furtado explique, tendo em vista o desenvolvimento cafeeiro verificado na segunda metade do século XIX — e o correspondente crescimento da renda per capita estimado para o Brasil —, o comportamento dito “patológico” da moeda brasileira. 27. Discuta o episódio da proclamação da República, situando-o com relação ao “(...) profundo desequilíbrio entre o poder político e poder econômico que se observava nos fins do Império, oriundo do empobrecimento das áreas de onde provinham tradicionalmente os elementos que manipulavam o poder e concomitantemente do desenvolvimento de outras áreas que não possuíam a devida representação no governo.” (COSTA, Emília Viotti da. Da Monarquia à República: momentos decisivos. São Paulo: Brasiliense, 1987, p. 344). 28. Elabore uma comparação entre os comentários seguintes: i) “O processo de independência do Brasil (...) envolveu apenas um público reduzido, formado pelos membros das elites e por um pequeno número de homens livres, com acesso mais ou menos direto à cultura escrita em que eram veiculados os principais debates” (Maria Lúcia Bastos Pereira das Neves); ii)“O povo assistiu àquilo bestializado, atônito, surpreso, sem conhecer o que significava. Muitos acreditaram seriamente estar vendo uma parada” (Aristides Lobo, em 18/11/1889).
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