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Livro - Historia do Brasil da construcao da nacao ate o golpe de 1930

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HISTÓRIA DO BRASIL: 
DA CONSTRUÇÃO DA NAÇÃO 
ATÉ O GOLPE DE 1930
Lorena Zomer
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No Brasil, a Proclamação da República, em 15 de novembro 
de 1889, não alterou de imediato e de modo significativo a vida 
da população, mas foi resultado de muitas ações políticas e sociais. 
Nessa mesma época, os impérios se estabeleciam na Europa, prática 
política que também atingiu decisões tomadas na América Latina, 
inclusive no Brasil. É nesse contexto de alterações mundiais que se inicia a 
abordagem deste livro, que pretende esclarecer aspectos históricos da 
formação do Brasil-Nação, desde a construção do Estado Nacional 
Republicano até a ascensão da chamada “República do Café com 
Leite”, na década de 1930, culminando com a “revolução” que levou 
Getúlio Vargas ao poder. Essa longa e importante trajetória do 
país é o foco de análise desta obra. 
Fundação Biblioteca Nacional
ISBN 978-85-387-6370-3
9 788538 763703
Lorena Zomer
IESDE BRASIL S/A
Curitiba
2018
Hist ria do Brasil: 
da constru o da na o 
até o golpe de 1930
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO 
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
Z77h Zomer, Lorena
História do Brasil: da construção da nação até o golpe de 1930 / 
Lorena Zomer. - 1. ed. - Curitiba, PR : IESDE Brasil, 2018. 
234 p. : il. ; 21 cm.
ISBN 978-85-387-6370-3
1. Brasil - História. I. Título.
17-46664 CDD: 981
CDU: 94(81)
Direitos desta edição reservados à Fael.
É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Fael.
© 2018 – IESDE Brasil S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer 
processo, sem autorização por escrito da autora e do detentor dos direitos autorais.
Todos os direitos reservados.
IESDE BRASIL S/A. 
Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 
Batel – Curitiba – PR 
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
Produção
FAEL
Direção Acadêmica Francisco Carlos Sardo
Coordenação Editorial Raquel Andrade Lorenz
Revisão IESDE
Projeto Gráfico Sandro Niemicz
Capa Vitor Bernardo Backes Lopes
Imagem Capa NWM/Shutterstock.com
Arte-Final Evelyn Caroline dos Santos Betim
Sumário
Carta ao aluno | 5
1. A crise no Império e a emergência do discurso republicano | 7
2. Republicanismo no Brasil Imperial | 31
3. Movimentos urbanos e sociais | 55
4. O Sertão e o interior do Brasil | 77
5. República civilizatória e a resistência | 97
6. Reforma urbana e questão social na
capital da República | 117
7. Literatos, literatura e vida intelectual
na Primeira República | 137
8. Discursos eugênicos no Brasil | 155
9. 1920 e as efervescências sociais e políticas | 173
10. “Revolução” de 1930: história e historiografia | 189 
Gabarito | 205
Referências | 221 
Carta ao aluno
No Brasil, a República – proclamada em 15 de novembro 
de 1889 – não alterou de imediato e de modo significativo a vida 
da população, mas foi resultado de muitas ações políticas e sociais. 
Nessa mesma época, os impérios se estabeleciam na Europa, prática 
política que também atingiu decisões tomadas na América Latina, 
inclusive no Brasil.
É nesse contexto de alterações mundiais que se inicia a abor-
dagem desta obra, que pretende esclarecer aspectos históricos da 
formação do Brasil-Nação, desde a construção do Estado Nacional 
Republicano até a ascensão da chamada República do Café com 
Leite, na década de 1930, culminando com a “revolução” que levou 
Getúlio Vargas ao poder. 
Essa longa trajetória do país é esclarecida nesta obra, sub-
dividida em dez capítulos. 
– 6 –
História do Brasil: da construção da nação até o golpe de 1930.
O Capítulo 1 aborda a crise no Império e a emergência do discurso repu-
blicano no território brasileiro, com as contradições evidentes entre o litoral e 
o interior e compreendendo os debates político-sociais trazidos pelo processo 
abolicionista. No Capítulo 2, reflete-se sobre os debates políticos surgidos 
com o fim do regime monárquico e a ascensão do Partido Republicano, até o 
estabelecimento da Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, 
em 1891. 
O Capítulo 3 aborda os movimentos sociais e urbanos no Brasil da 
época, principalmente as primeiras manifestações socialistas e anarquistas. 
O Capítulo 4 caracteriza o sertanismo e a segregação social, apresentando 
os importantes movimentos do Cangaço, de Canudos e do Contestado. 
No Capítulo 5, o foco são as contestações e resistências do período de 1900-
1917, em especial a Revolta Armada, a Revolta da Vacina e o Movimento 
Grevista de 1917.
Por sua vez, o Capítulo 6 analisa as novas organizações do cotidiano, a 
formação das elites, o coronelismo e as dimensões culturais e sociais desse novo 
contexto, inclusive com a insurgência da Revolta da Chibata. No Capítulo 7, 
é feita uma reflexão sobre a efervescência cultural e a renovação dos grandes 
centros, indo da Belle Époque ao modernismo, incluindo a Semana de Arte 
Moderna de 1922. O Capítulo 8 trata da eugenia no Brasil, da imigração e 
das teorias raciais da década de 1920.
No Capítulo 9, são abordados a identidade nacional, o movimento ope-
rário e a onda feminista do país. Por fim, o Capítulo 10 apresenta as ques-
tões políticas da República do Café com Leite, o tenentismo e a entrada de 
Getúlio Vargas no poder. 
Boa leitura!
A crise no Império 
e a emergência do 
discurso republicano
No Brasil, a República – proclamada em 15 de novembro de 
1889 – não alterou de imediato e de modo significativo a vida social 
e política da população, mas foi resultado de muitas ações políticas 
e sociais.
Nessa mesma época, os impérios se estabeleciam na Europa, 
criando uma prática política que chegaria a influenciar decisões 
tomadas na América Latina e, inclusive, no Brasil. O imperialismo 
na Europa refere-se a
um período histórico específico, que abrange de 1875 a 
1914, quando a Europa Ocidental passou a exercer intensa 
influência sobre o restante do mundo. O conceito designa 
também o conjunto de práticas e teorias que um centro 
metropolitano elabora para controlar um território dis-
tante [...]. Foi o momento do surgimento do Capitalismo 
monopolista, em que a livre concorrência entre diferentes 
empresas gerou concentração da produção nas mãos das 
mais bem-sucedidas, levando à formação de monopólio. 
Rapidamente, os bancos passaram a dominar o mercado 
1
História do Brasil da construção da nação até o golpe de 1930
– 8 –
financeiro, exportando capital, influenciando as decisões de seus 
Estados e impelindo-os para a busca de novos mercados. Nascido, 
assim, da formação dos monopólios, o imperialismo promoveu dis-
putas por fontes de matérias-primas entre trustes e cartéis que, já 
tendo dominado o mercado interno em seus países de origem, preci-
savam se expandir para além de suas fronteiras, defrontando-se com 
cartéis e trustes de países concorrentes. (SILVA; SILVA, 2009, p. 218)
Neste capítulo, nosso intuito é tratar dos acontecimentos importantes 
que colaboraram com o fim do Império brasileiro1 e resultaram no surgi-
mento do Brasil republicano.
Com base nessa consideração, traçamos primeiramente ideias sobre 
questões políticas, como a imigração e as consequências da Guerra da Tríplice 
Aliança (Guerra do Paraguai). Posteriormente, nas duas últimas seções, obje-
tivamos pensar a respeito do processo de abolição e a situação social/política 
daqueles que deveriam ser inseridos na sociedade de modo igualitário – pre-
missa não muito respeitada –, assim como sobre o desenvolvimento do sis-
tema de transporte ferroviário.
Importa ressaltar que, noinício do século XIX, o Brasil ainda era uma colônia 
portuguesa, situação que se transformou após a Proclamação da Independência, 
no ano de 1822. Depois disso, o Brasil vivenciou conflitos importantes, como a 
Revolução Farroupilha (1835-1845), a Sabinada (1837-1838), a Balaiada (1839-
-1841) e a Revolução Praieira (1848-1850), que questionavam a organização 
política e social do país, incluindo o Poder Moderador (presente na Constituição 
de 1824).
A Revolução Farroupilha e a Sabinada foram conflitos elitistas e da classe 
média. No caso do primeiro, por exemplo, a elite gaúcha questionava o valor 
dos impostos pagos sobre o charque. Contudo, ambos os conflitos defendiam 
uma “descentralização” do poder.
A Revolução Praieira e a Balaiada, por sua vez, foram movimentos con-
tra as elites locais em Pernambuco e no Maranhão, respectivamente, símbolos 
da opressão e da miséria vividas pelo povo.
1 Nome dado ao período pós-independência, em que o Brasil era uma monarquia e não se 
relacionava com a perspectiva “imperialista” europeia.
– 9 –
A crise no Império e a emergência do discurso republicano
Com tudo isso, a partir de 1860, Dom Pedro II viu seus prestígios e pri-
vilégios serem cada vez mais questionados, tanto pelas discussões relacionadas 
ao tráfico negreiro quanto pela escravidão mantida no país, temas que vinham 
sendo debatidos desde 1830. Além disso, oposições políticas à monarquia 
colaboraram para a formação das campanhas republicanas, apoiadas também 
pelo desgaste ocasionado pela Guerra do Paraguai.
As características do Brasil, em meados do século XIX, já eram diversas 
daquelas do início do mesmo século. Do mesmo modo, ocorriam mudan-
ças globais, permitindo ao Brasil buscar outras posturas políticas para que 
pudesse fazer parte das transformações sociais vividas em outros países. É 
sobre essas mudanças e algumas das discussões do período que falaremos nas 
próximas seções.
1.1 O Brasil de meados do século XIX
As transformações e as revoluções mais profundas no mundo social, polí-
tico, econômico e cultural não ocorrem em um período, mas gradualmente e 
vêm cercadas de vários acontecimentos. São mudanças paulatinas, processadas 
ao longo dos anos, que ocasionam as “grandes” transformações. O Brasil do 
fim do século XIX foi resultado de muitas reivindicações e de novos compor-
tamentos e sentimentos, que foram maturando ao longo desse mesmo século.
Nesse sentido, o historiador Eric Hobsbawm, assim caracteriza o período 
compreendido entre 1880 e 1914: “Era muito provável que uma economia 
mundial cujo ritmo era determinado por seu núcleo capitalista desenvolvido ou 
em desenvolvimento se transformasse num mundo onde os ‘avançados’ domina-
riam os ‘atrasados’; em suma, num mundo de império” (HOBSBAWM, 2010, 
p. 98). O que o historiador destaca é a alteração do panorama sociopolítico de 
muitos países. Fosse o Brasil um país “avançado” ou “atrasado”, com base no 
entendimento de Hobsbawm, ele também teria sido atingido. Apesar de ter rece-
bido diversas influências exteriores, as principais perspectivas foram fomentadas 
por acontecimentos do âmbito interno do Brasil.
Dom Pedro II, após o período regencial, preparou várias estratégias 
para organizar e dar tranquilidade ao seu próprio reinado. Segundo Lilia M. 
Schwarcz e Heloisa M. Starling:
História do Brasil da construção da nação até o golpe de 1930
– 10 –
Na falta de uma classe burguesa, capaz ela própria de regular as relações 
sociais por meio de mecanismos do mercado, coube ao Estado a con-
solidação do comando nacional e do protecionismo econômico. [...]
As elites brancas entenderiam a corte como um clube, onde con-
viviam sócios sortudos; independentemente das facções políticas. 
Com efeito, luzias e saquaremas, como eram chamados conser-
vadores e liberais, partilhavam a mesma origem social; formação 
educacional em Coimbra; carreira voltada para a medicina e em 
especial para o direito; titulação, e relações pessoais. Divididos por 
ideias que privilegiavam ora a centralização do Estado ora a sua 
descentralização, fechavam, porém, em uníssono quando o negócio 
implicava manter a escravidão e a estrutura vigente. (SCHWARCZ; 
STARLING, 2015, p. 280)
Para a manutenção da política régia do Estado brasileiro, uma das estra-
tégias utilizadas para manter a ordem social vigente foi dar/consolidar privi-
légios sociais à classe produtora. Como já mencionado, Dom Pedro II teve 
de se posicionar diante de algumas rebeliões e conflitos importantes, proces-
sos questionadores da estrutura política do Brasil naquele momento. Para 
isso, ele precisou centralizar em suas mãos a ordem, cuja estratégia foi dele-
gar a administração e as políticas regionais a homens que o apoiavam, a fim 
de evitar que tais revoltas se repetissem e continuassem a questionar o seu 
próprio governo. Somado a isso, outra medida foi manter a escravidão, tanto 
pela mão de obra oferecida pelos escravizados quanto pela rentabilidade do 
tráfico, visto que as fazendas de café utilizavam essa força de trabalho, assim 
como boa parte do restante do país.
Segundo a historiadora Beatriz Mamigonian, os questionamentos 
acerca da escravidão vinham já desde o início do século XIX. De acordo com 
ela, o primeiro acordo para diminuir a escravidão foi firmado em 1810, entre 
Inglaterra e Portugal. Em 1815, após o Congresso de Viena, a Inglaterra 
conseguiu o compromisso de intensificar a campanha, porém tal medida 
somente foi efetivada em 1822, em territórios acima da linha do Equador. A 
rede de acordos sempre partia da Inglaterra. 
Em 1827, foi firmada a total proibição do tráfico de escravizados, que 
deveria ser colocada em prática até 1830, o que gerou um grande debate 
político. Em 1831, o primeiro e o segundo artigos da Lei Feijó diziam que 
todos os escravizados encontrados em barcos brasileiros deveriam ser soltos 
– 11 –
A crise no Império e a emergência do discurso republicano
e que os responsáveis seriam presos e multados. Entretanto, o regente Diogo 
Feijó, em 1834, defendeu a revogação dessa lei por considerá-la inexequível, 
ou seja, contraditória e injusta para a população (MAMIGONIAN, 2017, 
p. 90-130).
Leis, políticas e especialmente a educação seriam os únicos meios para 
mudar aquele contexto. Se a realidade social era difícil para os escravos, para 
a elite era promissora. Nesse período, a educação era para privilegiados e, 
em geral, conduzida por tutores pessoais. Posteriormente, esses alunos eram 
enviados a Portugal para estudar, de onde retornavam ao Brasil bacharéis e em 
busca de emprego público, de modo a fazer com que os cargos administrati-
vos e políticos continuassem, na maioria das vezes, com a elite.
No entanto, na primeira metade do século XIX, foi criada a escola pri-
mária. Segundo Circe Bittencourt, “desde o início da organização do sis-
tema escolar, a proposta de ensino de História voltava-se para uma forma-
ção moral e cívica, condição acentuada no decorrer dos séculos XIX e XX” 
(BITTENCOURT, 2009, p. 61).
Após as revoltas da primeira metade do século XIX, foram buscadas 
reformas escolares e a centralização educacional, a fim de se formar cidadãos 
de acordo com o esperado pelos grupos mais fortes do período: o de Dom 
Pedro II e o do Partido Conservador.
Do mesmo modo, o setor político público retomou o Conselho de 
Estado, que era o Poder Legislativo e espécie de “cérebro da monarquia”.
Agora chamado de Novo Conselho, que havia sido extinto em 1834, permane-
ceu vigente até 1889, mantendo cargos vitalícios cujos lugares eram ocupados 
por escolhidos de Dom Pedro II (SCHWARCZ; STARLING, 2015, p. 281).
A influência do grupo mais conservador na educação, na política e nos 
cargos públicos permite-nos entender a dificuldade em estabelecer mudanças 
sociais mais profundas. Mamigonian ressalta que a polêmica sobre o fim da 
escravidão ou do tráficode escravizados se acentuou na década de 1840. Os 
argumentos contrários a essa prática tinham por objetivo criar uma ideia de 
que tal decisão traria prejuízos ao Brasil, além de lançar dúvidas sobre o que 
fazer com os libertos (MAMIGONIAN, 2017, p. 209-280). É preciso con-
siderar que a formação do Brasil, seja enquanto colônia ou já como império, 
justificava a escravidão como uma instituição e a protegia legalmente.
História do Brasil da construção da nação até o golpe de 1930
– 12 –
Levando em consideração que o Poder Moderador permitia a D. Pedro 
II – junto àqueles que mantinham cargos administrativos e políticos indica-
dos pelo rei – decidir sobre várias demandas políticas, inclusive intervindo em 
conflitos regionais, entendemos que seu poder era amplo. No entanto, ainda 
restava ao imperador e a seu grupo político conseguir ou construir uma ideia 
de nação para o país. Para Dolhnikoff, o resultado disso era o interesse em 
uma unidade que tinha como base a “autonomia” tanto do governo central 
quanto do governo regional (DOLHNIKOFF, 2003, p. 433). Essa perspec-
tiva pode ser compreendida em diversas ações do grupo político de Dom 
Pedro II, que desejava ter o Brasil reconhecido como um local de cultura 
tropical, e não de escravidão.
Para tanto, era preciso criar imagens simbólicas, heróis nacionais, sele-
cionar imagens e paisagens idealizadas como naturais. Sobre isso, as histo-
riadoras Schwarcz e Starling (2015) apontam que o Romantismo foi uma 
das escolhas:
Procurar por homogeneidades num Estado de proporções continentais 
e caracterizado por uma população tão heterogênea era tarefa com-
plicada. A saída foi “esquecer” a escravidão e idealizar os indígenas, 
os quais, dizimados sistematicamente nas florestas, reapareciam em 
romances e pinturas oficiais ou semioficiais. A representação do país 
como indígena (e masculino) juntava as concepções de um Brasil ame-
ricano, mas também monárquico e português. Ou seja: uma mistura 
da cultura da velha metrópole com a identificação com a América, que 
nos faz independentes. (SCHWARCZ; STARLING, 2015, p. 283-4)
A imagem do Brasil trazia ideias sobre uma “ex-colônia” tropical, com 
aspectos de sua metrópole, porém modificada. Isso também possibilitou novas 
formações culturais ao recente país, mesmo que “branqueando” o indígena.
Além disso, Dom Pedro II também se tornou protetor do Instituto 
Histórico Geográfico Brasileiro (IHGB) em 1838, bem como conviveu nesse 
espaço com o historiador Francisco Adolfo Varnhagen e os escritores Joaquim 
Manuel de Macedo e Gonçalves Dias2. O instituto e homens como Varnhagen 
inauguraram a escrita da história brasileira, com o objetivo principal de criar 
uma ideia de nação para o país. A premissa era de que as histórias narradas 
pelo IHGB deveriam ter como fonte documentos e memórias oficiais.
2 Para um maior aprofundamento do tema, sugerimos a leitura de Julio Bentivoglio (2015).
– 13 –
A crise no Império e a emergência do discurso republicano
Um dos pontos ressaltados por Julio Bentivoglio é justamente o prêmio 
recebido por Carl F. von Martius, por um artigo em que 
defendia a escrita de uma história para o país que seria uma síntese 
do encontro das três raças que a compunham: brancos, negros e 
índios; superando um tipo de história que vinha sendo combatida 
na Alemanha, porque cronológica, filosófica e universalista; [...]. 
Essa nova história [...] visava o particular, a compreensão dos nexos 
entre os eventos, o encontro com o espírito do povo e da nação. 
(BENTIVOGLIO, 2015, p. 293)
Cabe ressaltar que as relações entre Dom Pedro II e os historiadores do 
período determinavam as ideias do que seria narrado sobre a memória nacio-
nal, de acordo com os interesses do imperador e das classes mais privilegiadas 
(SCHWARCZ; STARLING, 2015, p. 285-6). Segundo as historiadoras, um 
dos ápices da relação do Romantismo como movimento estético, cultural e 
político e das estratégias e relações de Dom Pedro II, foi a escrita de Iracema 
e O Guarani, ambos de José de Alencar.
Figura 1  – MEDEIROS, José Maria de. Iracema. 1884. Óleo sobre tela: 
168,3 cm × 255 cm. Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro.
Fonte: Wikimedia Commons.
História do Brasil da construção da nação até o golpe de 1930
– 14 –
A pintura datada de 1884, de José Maria de Medeiros, retrata Iracema, 
a indígena idealizada pelos padrões do Romantismo brasileiro. A imagem 
sugere um lugar bucólico, pois traz cores ao fundo, em perspectiva, revelando 
um pôr do sol. Além disso, demonstra a riqueza da flora, que leva à ideia de 
um “paraíso tropical”. Do mesmo modo, a seminudez da indígena mostra 
que o mundo não era assim tão “selvagem”.
A prática de relacionar os indígenas à ideia de selvagem faz parte da 
própria catequização direcionada a eles. Quando catequizados, geraram uma 
miscigenação própria no Brasil tropical, substituindo o imaginário de uma 
colonização repleta de diferenças sociais (baseada na escravidão e na opressão 
indígena) por uma nação americana próspera.
De acordo com Schwarcz e Starling, após 1848, alguns acontecimentos 
já mostravam que nem tudo era homogêneo e a favor de Dom Pedro II. 
Naquele período, embora a proporção fosse de 110 políticos conservadores 
na Câmara para apenas um liberal, algumas questões começaram a ser deba-
tidas e foram motivo de desgaste para a imagem do imperador: o problema 
da estrutura agrária, a questão escravagista e o incentivo ao início da imi-
gração (SCHWARCZ; STARLING, 2015, p. 274). Tais questões já vinham 
ganhando corpo desde o início da Guerra do Paraguai (1864-1870).
O trabalho escravo era um dos temas mais espinhosos, visto que, desde a 
Lei Feijó (de 7 de novembro de 1831), o debate sobre esse assunto já havia sido 
levantado e, aos poucos, ganhava mais defensores para o fim do tráfico, mesmo 
que isso se desse de maneira lenta e gradual (MAMIGONIAN, 2017).
É importante considerar que os debates não tratavam apenas do traba-
lho escravo como fonte de mão de obra ou do prestígio social em ostentar a 
posse de escravizados, mas dos valores financeiros muito vantajosos desse tipo 
de atividade.
Essa discussão interna se acirrou na década de 1850, tanto pela pres-
são de alguns grupos brasileiros quanto pela pressão estrangeira que buscava 
encarecer o valor dos produtos agrários no Brasil, visto que os de suas colônias 
também estavam mais caros devido à proibição do tráfico ou ao fim da escra-
vidão. Somado a isso, a Inglaterra também desejava matéria-prima da África, 
bem como desenvolver um comércio com o continente, mas, para isso, pre-
cisava diminuir o tráfico de africanos escravizados (BETHELL, 2002, p. 14).
– 15 –
A crise no Império e a emergência do discurso republicano
Com a intenção de extinguir o tráfico, algumas iniciativas começaram a 
ser realizadas ainda na década de 1850, a fim de trazer mão de obra imigrante. 
Uma delas, a Lei n. 601, de 18 de setembro de 1850 (a Lei de Terras) desenca-
deou mudanças, visto que um de seus objetivos era normatizar o controle das 
terras, para que se pudesse passar a falsa ideia de que os imigrantes poderiam 
adquiri-las, quando, de fato, ela acabava impedindo o acesso à posse da terra 
tanto por parte dos imigrantes quanto dos escravizados, uma vez que as terras 
só poderiam ser vendidas, e não doadas. Tal perspectiva tornava o Brasil bas-
tante atraente para esses estrangeiros que buscavam uma vida melhor, fugindo 
de crises e dificuldades em seus países de origem. Sobre esse processo, além de 
limitar o número de terras que poderia ser comprada,
a Lei de Terras instituiu no Brasil a terra como mercadoria e permitiu 
a vinda de imigrantes para promover a grande e a pequena lavoura 
[...]. E, ao impedir que desde o início esses camponeses pudessem 
se tornar proprietários, reafirmava o que deles se esperava: colonos 
morigerados e laboriososcomo força de trabalho para as proprieda-
des agrícolas do Estado ou Particulares. Portanto, a Lei de Terras, ao 
dificultar o acesso à propriedade ao conjunto da população campe-
sina, ao mesmo tempo colocava este coletivo aos ditames do capital. 
(SANTOS, 2001, p. 36)
Além de reforçar a posse das terras pelas elites, por meio dessa lei os 
imigrantes tinham seus lugares demarcados, assim como os negros. Embora 
a Lei de Terras não tivesse muitos recursos para controlar a demarcação, foi 
uma estratégia para manter a ordem social no Brasil, mesmo com a proibição 
do tráfico.
Diante do descontentamento de conservadores escravocratas, a Guarda 
Nacional foi reforçada, para que se cumprisse a lei. 
Nesse período, foram construídas as primeiras estradas de ferro e algu-
mas escolas, foram estruturados o serviço de iluminação pública e o sistema 
de telégrafos e foi criado o Código Comercial, a fim de estimular o comércio 
interno. Entretanto, se considerarmos todos os problemas políticos e sociais 
para que o país se desenvolvesse de fato, seria necessária uma transforma-
ção profunda. Só isso faria com que o Brasil fosse respeitado e visto como 
um país “em desenvolvimento”. E tal transformação era necessária porque os 
interesses dos grupos dominantes do período visavam ao desenvolvimento 
econômico e político, porém não ao social.
História do Brasil da construção da nação até o golpe de 1930
– 16 –
Toda a verba investida na estrutura considerada “modernizante” era pro-
veniente do que vinha do tráfico de escravos (SCHWARCZ; STARLING, 
2015, p. 274-275). Mesmo com tantas mudanças e com a alta do café na 
década de 1860, a imigração só seria acentuada após a abolição e com o 
incentivo da “política de branqueamento”.
O que percebemos das medidas mencionadas é que, enquanto algumas 
delas trouxeram as transformações econômicas esperadas, geraram também 
novas críticas acerca da condução política de Dom Pedro II. Um desses ele-
mentos foi a Guerra da Tríplice Aliança, ou, como é mais conhecida, a Guerra 
do Paraguai, entre os anos de 1864 e 1870, considerada o maior conflito 
armado da América do Sul.
Durante a guerra, presenciou-se a permissão, por parte dos López, de 
outras vertentes políticas para a reorganização política e social do Paraguai. 
Entretanto, esses capítulos contidos na Constituição paraguaia de 1844 e 
de 1856 nunca foram efetivamente postos em prática e, vale dizer, aque-
les que deveriam fomentar olhares diferentes, ou mesmo serem oposito-
res à política dos López, eram os próprios representantes e/ou indivíduos 
pertencentes às famílias relacionadas aos já dirigentes do país (SOUZA, 
2006a, p. 128-129). A organização política do Paraguai diferia da brasi-
leira, pelo fato de o Brasil apresentar um governo imperial e “centraliza-
dor”, enquanto o Paraguai tinha uma perspectiva mais “nacionalista” e de 
desenvolvimento econômico.
Além disso, o período político dos López contou com um crescimento 
econômico, com incentivo da indústria local, subsidiada pela venda da erva-
-mate, de fumo e de madeiras. Essa situação destacou o Paraguai dos demais 
países, oferecendo a possibilidade (mas não necessariamente a efetivação) de 
ser um país socialmente melhor (SOUZA, 2006a, p. 126).
Também houve o direcionamento de verbas públicas à educação pri-
mária e até mesmo o envio de alunos a outros países por meio de fomento 
público e arrendamento de terras (antes pertencentes aos representantes da 
Coroa espanhola ou da Argentina) (SOUZA, 2006a, p. 305-306). Esses fato-
res favoreceram o crescimento econômico do país e a independência em rela-
ção à Inglaterra, embora ele ainda se mantivesse em quase total isolamento 
em relação aos países vizinhos.
– 17 –
A crise no Império e a emergência do discurso republicano
Essas características exemplificam como a realidade econômica, social 
e política do Paraguai era diversa daquela do Brasil. Ao mesmo tempo, não 
havia um motivo contundente para que o nosso país tivesse receio do vizinho, 
mesmo que ele ameaçasse dominar o Rio Paraná, com o objetivo de chegar à 
Bacia do Rio da Prata.
Foi com base nessas possíveis ameaças que ocorreu a Guerra do Paraguai, 
na qual foram vitoriosos o Brasil e os demais países (Argentina e Uruguai), 
apoiados pela Inglaterra, a qual tinha como objetivo reduzir a autonomia 
paraguaia, um dos únicos países a não depender de seus investimentos e 
empréstimos. Enquanto isso, o Brasil contraía mais empréstimos para poder 
se armar durante esse período bélico.
Cabe observarmos que, mesmo com uma postura arrogante de Solano 
López em querer dominar o Rio da Prata e o Brasil não aceitando a intro-
missão ou o crescimento paraguaio, o único país beneficiado pela guerra foi 
a Inglaterra.
Tal acontecimento causou um desgaste político ainda maior para Dom 
Pedro II, além de dificuldade econômica para toda a nação. A principal con-
sequência política foi o fortalecimento do Exército, uma das instituições que 
mais questionou as ações do imperador. Entre as exigências militares estavam 
a autonomia política e a manutenção da hierarquia após a guerra3.
Isso fortaleceu também as discussões sobre o fim da escravidão, já que 
muitos soldados eram escravos e foram à guerra diante da promessa de ganha-
rem a liberdade. Ao retornarem, não apenas queriam a liberdade, mas tam-
bém o avanço do movimento abolicionista.
Além disso, muitos cargos mais altos da hierarquia militar já manti-
nham discussões sobre ideais republicanos, que questionavam diretamente 
o Poder Moderador de Dom Pedro II e a estrutura política legitimada por 
ele e seu grupo.
Como dito anteriormente, a Guerra do Paraguai causou endividamentos 
do governo brasileiro, visto que “o Tesouro Real indicou um gasto de 614 mil 
3 O site da Biblioteca Nacional oferece diversas fontes para análise da Guerra do Paraguai. 
Entre elas, trazemos o seguinte “dossiê”, disponível em: <http://bndigital.bn.gov.br/dossies/
guerra-do-paraguai>. Acesso em: 19 fev. 2018.
História do Brasil da construção da nação até o golpe de 1930
– 18 –
contos de réis. Para se ter uma ideia da magnitude desses gastos, basta com-
parar com o orçamento do império disponível para 1864, que era de 57 mil 
contos de réis” (DORATIOTO, 2002, p. 462). Por outro lado, no contexto 
da guerra, o Paraguai perdeu sua autonomia política e territorial.
O historiador José Murilo de Carvalho traz uma ideia do significado da 
Guerra do Paraguai para o contexto brasileiro e a situação política posterior:
De repente havia um estrangeiro inimigo que, por oposição, gerava 
o sentimento de identidade brasileira. São abundantes as indica-
ções do surgimento dessa nova identidade, mesmo que ainda em 
esboço. Podem-se mencionar a apresentação de milhares de volun-
tários no início da guerra, a valorização do hino e da bandeira, as 
canções e poesias populares. Caso marcante foi o de Jovita Feitosa, 
mulher que se vestiu de homem para ir à guerra a fim de vingar as 
mulheres brasileiras injuriadas pelos paraguaios. Foi exaltada como 
a Joana d’Arc nacional. Lutaram no Paraguai cerca de 135 mil 
brasileiros, muitos deles negros, inclusive libertos. (CARVALHO, 
2002, p. 38)
A citação constata de que forma um processo histórico tão polêmico e 
complexo como a Guerra da Tríplice Aliança pôde trazer outras perspectivas 
para o Brasil, entre elas, a ideia do Brasil como um país de povo unido para 
a luta. Isso traria mais que a exigência da liberdade para os escravizados 
que haviam lutado, e a busca do reconhecimento do exército na hierarquia 
política. A Guerra do Paraguai suscitou sentimentos de participação cívica 
e de cidadania.
Carvalho (2002) aponta que a escravidão estava tão enraizada em nos-
sas características sociais e políticas que apenas após a Guerra do Paraguai a 
questão voltou a ser debatida. Além do desejo de liberdade suscitado duranteo período de 1864 a 1870, o Brasil foi alvo de críticas por manter e ter em 
combate escravos, um constrangimento diante de seus aliados e inimigos.
No que se refere à segurança nacional, por que o Brasil manteria um 
exército permanente com escravos? Então, foi nesse período (1871) que a Lei 
n. 2.040, de 28 de setembro de 1871 (Lei do Ventre Livre) foi sancionada 
por Dom Pedro II, abrindo oficialmente precedentes para a abolição total da 
escravatura. Pensar em nuances desse contexto, tanto em seus aspectos sociais 
quanto políticos, é o objetivo da próxima seção.
– 19 –
A crise no Império e a emergência do discurso republicano
1.2 Resistência de escravos e luta abolicionista
havia mistura social, mas também não faltava hierarquia e respeito 
por ela. Nessa sociedade de perfil aristocrático (ou que se queria 
aristocrática), todos podiam conviver lado a lado, e apesar disso 
nunca deixariam de saber, cada qual, o seu lugar. A hierarquia 
era dada por uma série de marcas sociais e raciais – roupas, locais 
de residência, círculos de amizades, viagens, festas – claramente 
discriminadas a despeito da convivência num mesmo espaço. 
(SCHWARCZ, 2017, p. 23)
Esse é o panorama social do bairro de Laranjeiras, no Rio de Janeiro, 
onde vivia Afonso Henriques de Lima Barreto, escritor e neto de duas escra-
vas. O ano aproximado descrito pela historiadora é o de 1881, mesmo do 
nascimento do escritor. Embora Lima Barreto fosse filho de uma professora 
e de um tipógrafo, sua vida ainda seria marcada pelas consequências de um 
período quase não vivido por ele (tinha 7 anos quando ocorreu a abolição).
Por que um país que logo teria o fim da escravidão e seria uma República, 
sinônimo de igualdade e de cidadania, viveria um futuro com diferenças 
sociais bem demarcadas e baseadas em raça, etnia e classe? Para Schwarcz 
(2017), a questão ia muito além da econômica ou mesmo se ligava apenas às 
regiões mais produtoras. Para ela,
De tão naturalizada, a escravidão não era privilégio de grandes 
proprietários. Os monarcas, mas também pequenos roceiros, 
negociantes, taberneiros, profissionais liberais, padres, comercian-
tes, e por vezes até escravos possuíam cativos. A escravidão entrou 
em cheio nas casas privadas e nos negócios públicos do Estado 
[...]. O escravismo era, sobretudo, um bom negócio. Mas era mais 
do que isso; ele moldou condutas, definiu desigualdades sociais, 
fez de raça e de cor dois marcadores de diferença fundamentais, 
ordenou etiquetas de mando e obediência, e criou uma sociedade 
condicionada pelo paternalismo e por uma hierarquia estrita. 
(SCHWARCZ, 2017, p. 29)
A historiadora traz a ideia de naturalização e de normalização da escra-
vidão para centenas de gerações do Brasil colonial. Entretanto, embora seja 
um argumento bastante aceitável, ainda não é suficiente para justificar a per-
manência desses princípios racistas tanto no tempo de Lima Barreto quanto 
nos séculos XX e XXI.
História do Brasil da construção da nação até o golpe de 1930
– 20 –
Nesse caso, outro aspecto a se pensar tem como base ideias da historia-
dora Beatriz Mamigonian. Para ela, mesmo com as tentativas de proibir o 
tráfico logo após a independência, com a promulgação da Lei de 7 de novem-
bro 1831 (a Lei Feijó), o Brasil não debatia o fim da escravidão pensando em 
igualdade e cidadania para os escravizados. As pautas de discussão acabavam 
sendo apenas sobre o peso econômico da decisão e reiterando o que esse tra-
balho e seu tráfico sustentavam no Brasil.
Ou seja, a maioria da população brasileira do século XIX de maneira 
alguma pensava que oferecer ao escravizado a liberdade era uma necessi-
dade de justiça. O que pressionava nesse sentido eram apenas os interesses 
ingleses, que exigiam o fim do tráfico negreiro para o Brasil visando a 
benefícios próprios. Em paralelo, outros países da América davam liber-
dade aos escravos.
Então, esse modelo escravagista não combinava com uma nação moderna, 
muito menos se o Brasil caminhasse para o republicanismo (MAMIGONIAN, 
2017, p. 9-29).
Dessa forma, apenas pelas independências de países da América Latina e 
da pressão exterior é que o governo desse período passou a obedecer ou discu-
tir algumas das leis anteriores à Áurea. Isso não significa que o surgimento dos 
discursos republicanos, ou mesmo os desdobramentos da Guerra do Paraguai 
e da própria campanha abolicionista, não foram ouvidos; pelo contrário, foi 
pelos meandros que a política brasileira não conseguiu contornar que esses 
acontecimentos laterais encontraram força e espaço para se instituir como 
políticas universais.
A questão abolicionista certamente foi uma das mais polêmicas e caras 
para o período posterior a 1850. Tendo em vista a sua proibição em breve, o 
tráfico cresceu muito nas décadas que antecederam 1850. A liberdade, que 
deveria ser dada àqueles que foram traficados ilegalmente, muitas vezes teve 
de ser defendida por juristas e advogados (MAMIGONIAN, 2017, p. 430-
433). Isso demonstra que ferir a lei não era algo grave, visto que moralmente 
uma maioria não se importava com a vida dos escravizados.
Além disso, podemos pontuar outras características sobre a alforria desse 
período – quando ela ocorria. Schwarcz (2017), ao falar sobre a vida de Lima 
Barreto, menciona a avó dele da seguinte forma:
– 21 –
A crise no Império e a emergência do discurso republicano
A avó de Lima, Geraldina Leocádia, fora alforriada quando a família 
se mudou para o Rio [de Janeiro]. Os Pereira de Carvalho pare-
cem ter se adiantado ao movimento que seria mais geral apenas na 
década de 1880, concedendo alforria condicional, mas preservando 
os libertos por perto. [...] Os motivos para receber a tão desejada 
carta de liberdade eram vários, porém não poucas vezes razões sim-
ples, pautadas em desígnios do coração, falavam mais alto. [...] 
Geraldina e os filhos permaneceriam próximos de seus ex-proprie-
tários. Havia muita ambivalência, de lado a lado, nessas trocas de 
favores; elas auxiliavam na inserção social futura dos “ingênuos”, 
mas igualmente mantinham laços de servidão e novas formas de 
dependência. (SCHWARCZ, 2017, p. 37)
A passagem referente à família de Lima Barreto demonstra que, 
quando a lei era aplicada, alguns acabavam cedendo à alforria. Ou seja, 
por pressões políticas ou sociais, os proprietários resolviam manter-se perto 
de seus ex-escravos. Esse gesto era baseado em um processo hierárquico, 
racista e classista, no qual práticas clientelistas eram estendidas a negros 
com a promessa de uma inserção social, já que, após a alforria, não eram 
mais propriedade, e isso significava também que não era mais obrigação de 
seus donos defendê-los.
Além disso, o trabalho de Geraldina era o de doméstica, muito comum 
para mulheres negras no mundo pós-escravidão. Esse foi um trabalho consi-
derado inferior e subestimado por muitas casas ao longo de um século4.
O caso da mãe de Lima Barreto também se relacionava com essa prática 
de dependência. Ao adquirir o “nome social” Pereira Carvalho, ela pôde estu-
dar e se tornar professora (SCHWARCZ, 2017, p. 37).
Nesse sentido, podemos entender que, por lei ou por vontade própria, 
negros e negras receberam suas alforrias, mas, em geral, não tiveram seus 
futuros planejados, muito menos uma inserção social que visava à igualdade. 
Um argumento para isso é o próprio estímulo à vinda de imigrantes euro-
peus, a fim de substituir o trabalho escravo negro, mesmo que em geral fosse 
muito mais caro e menos rentável em relação ao primeiro.
4 Para mais informações, ver o trabalho de Joaze Bernardino Costa (2015), que trata do traba-
lho doméstico e das mudanças que ocorreram apenas no século XXI, com o reconhecimento 
por lei do trabalho doméstico no Brasil.
História do Brasil da construção da nação até o golpe de 1930
– 22 –
O Brasil foi o último país ocidental a abolira escravidão – cerca de um 
ano após o feito em Cuba. O historiador José Murilo de Carvalho mostra que 
a discussão só veio à tona em 1884 no Senado. Segundo ele:
O Brasil era o último país de tradição cristã e ocidental a libertar os 
escravos. E o fez quando o número de escravos era pouco significa-
tivo. Na época da independência, os escravos representavam 30% 
da população. Em 1873, havia 1,5 milhão de escravos, 15% dos 
brasileiros. Às vésperas da abolição, em 1887, os escravos não passa-
vam de 723 mil, apenas 5% da população do país. (CARVALHO, 
2002, p. 47)
Ou seja, dentro de processos de alforria – baseados em leis, como a dos 
Sexagenários e do Ventre Livre, ou mesmo por meio de fugas para quilombos 
– a quantidade de escravos já estava reduzida. Desse modo, é preciso que nos 
perguntemos: se o número de escravizados já era tão menor, por que houve 
(e ainda há) um problema tão sério em relação ao racismo e à desigualdade 
social, se considerada a categoria de raça?
José Murilo de Carvalho pondera sobre tal questionamento. Para ele, 
próximo à guerra civil dos Estados Unidos, havia ao menos 4 milhões de 
escravos, ou seja, um grande obstáculo para a construção de uma ideia de 
igualdade. À época, esse país era dividido entre Norte e Sul, e a escravidão só 
era permitida na parte austral. Tal perspectiva se difere do Brasil, visto que em 
nosso país, embora a escravidão fosse distribuída de maneira desigual, “havia 
escravos no país inteiro, em todas as províncias, no campo e nas cidades” 
(CARVALHO, 2002, p. 48).
Nesse caso, um diferencial entre a escravidão brasileira e a estaduni-
dense, especialmente se considerarmos os problemas sociais vividos após a 
abolição, é o fato de existirem grandes e pequenos proprietários de escravos. 
Esses escravizados poderiam ser usados para trabalho árduo nas lavouras, 
mas também ser de ganho. Outro aspecto é o fato de os libertos também 
terem a possibilidade de comprar ou incentivar a escravidão de alguém 
da sua cor. Nesse caso, Carvalho aponta que até mesmo escravos tinham 
escravos, assim como existiam 78% de libertos na Bahia (CARVALHO, 
2002, p. 48).
– 23 –
A crise no Império e a emergência do discurso republicano
Um dos aspectos que mais pesam sobre essa discussão e que podemos 
pontuar sobre essa questão social – uma consequência de séculos de escravi-
dão e da falta de igualdade e de cidadania – é que, mesmo aqueles que luta-
vam pela própria liberdade, quando a alcançavam, acabavam legitimando a 
escravidão. Para o autor,
embora repudiassem sua escravidão, uma vez libertos admitiam escra-
vizar os outros. Que os senhores achassem normal ou necessária a 
escravidão, pode entender-se. Que libertos o fizessem, é matéria para 
reflexão. Tudo indica que os valores da liberdade individual, base dos 
direitos civis, tão caros à modernidade europeia e aos fundadores da 
América do Norte, não tinham grande peso no Brasil. (CARVALHO, 
2002, p. 49)
Portanto, longe de normatizar ou justificar o racismo presente no Brasil 
pela própria culpabilidade de ex-escravizados, o que queremos, ao trazer tal 
citação, é demonstrar o quanto essa questão social é complexa, ainda mais ao 
ser refletida e discutida ainda nos séculos XIX e XX.
Se estudarmos a vida e a obra do escritor Lima Barreto, é possível perce-
ber que os escravizados que antes cuidavam de fazendas e faziam outros tra-
balhos semelhantes passaram, na sua maioria, a ocupar lugares marginais em 
cortiços e assumiram empregos apontados como subalternos, não somente 
nos anos seguintes, mas durante o século XX também.
Podemos destacar que a modernização no Brasil (empreendida na 
segunda metade do século XX) não foi acompanhada de preceitos sociais ou 
de igualdade para negros. Ela era desejosa de imigrantes brancos, a fim de 
deixar a “República Tropical” mais branca. Sobre isso, o historiador Carvalho 
aponta a seguinte ideia:
O argumento da liberdade individual como direito inalienável era 
usado com pouca ênfase, não tinha a força que lhe era característica 
na tradição anglo-saxônica. Não o favorecia a interpretação católica 
da Bíblia, nem a preocupação da elite com o Estado nacional. Vemos 
aí a presença de uma tradição cultural distinta, que poderíamos cha-
mar de ibérica, alheia ao iluminismo libertário, à ênfase nos direitos 
naturais, à liberdade individual. Essa tradição insistia nos aspectos 
comunitários da vida religiosa e política, insistia na supremacia do 
todo sobre as partes, da cooperação sobre a competição e o conflito, 
da hierarquia sobre a igualdade. (CARVALHO, 2002, p. 51)
História do Brasil da construção da nação até o golpe de 1930
– 24 –
Nesse caso, fica claro que as ideias de liberdade e de igualdade não 
tinham o mesmo peso para todos. A tradição e os costumes mantiveram-se 
junto ao fraco debate político, após 1888. Afinal, políticos que acreditavam 
que o país deveria indenizar os donos de escravos após a abolição não discu-
tiriam como dar aos ex-escravos uma cidadania plena (SCHWARCZ, 2017, 
p. 60-63).
1.3 As ferrovias e o interior do Brasil
A cultura do café, que se desenvolveu a partir de 1830, proporcionou 
muitas riquezas ao Brasil, o que permitiu o acúmulo de capital que, futu-
ramente, foi responsável por parte do investimento industrial do eixo São 
Paulo-Rio de Janeiro (CARVALHO, 1981, p. 56).
A primeira estrada de ferro foi construída pelos ingleses ainda em 1854, 
no Rio de Janeiro, por iniciativa do Barão de Mauá (com investimento pró-
prio de 10%), embora a lei que a tenha permitido ainda fosse de 1835, a Lei 
Feijó (PINTO, 1977, p. 22).
A ordem de construção dessa estrada foi de Dom Pedro II, cujo obje-
tivo central era interligar o Rio de Janeiro a São Paulo e Minas Gerais. O 
pagamento do empréstimo foi feito apenas na década de 1870, porém, antes 
disso, as relações do Brasil com a Inglaterra se estreitaram, após a resolução 
da questão Christie.
A empresa que se instalou a partir de 1860 foi a The São Paulo Railway 
Company, que construiu ferrovia de Santos até Jundiaí. Além do desenvol-
vimento maior ainda dessa região, logo migrantes do Brasil começaram a se 
aproximar de onde se projetavam as novas ferrovias, aumentando o povoa-
mento do interior e estimulando o desenvolvimento da Politécnica do Rio 
de Janeiro, visto que em geral a mão de obra engenheira era inglesa (TELES, 
1994, p. 471). Após 1870, foram logo construídas as ferrovias paulista 
(1872), a mogiana (1875) e a sorocabana (1875). O mapa a seguir permite-
-nos entender a interiorização e o desenvolvimento causados pelo aumento 
das ferrovias:
– 25 –
A crise no Império e a emergência do discurso republicano
Mapa 1 – Ferrovias do Brasil em 1876.
Fonte: Imperial Instituto Artístico/Wikimedia Commons.
História do Brasil da construção da nação até o golpe de 1930
– 26 –
Entendemos que o interior do Rio de Janeiro e especialmente o de São 
Paulo foram os maiores beneficiados pela chegada das ferrovias ao Brasil, 
devido à presença das fazendas de café. Entretanto, é importante salientar 
que o interior do Brasil continuou ainda pouco conhecido. 
No que se refere à economia do período, além do próprio café, outros 
segmentos começaram a despertar o interesse daqueles que estavam relacio-
nados ao café e às ferrovias, como o abastecimento de água, o saneamento, 
os portos, as máquinas a vapor, a navegação, a eletricidade, a telegrafia e a 
telefonia. É perceptível que ainda no império de Dom Pedro II uma rede 
de transportes e de comunicação dava sinais de crescimento. O progresso 
parecia chegar à nação tropical, ao passo que nela ainda persistiam tantos 
problemas sociais e políticos, especialmente se considerarmos que as polí-
ticas públicas eram direcionadas para manter os segmentos econômicos de 
uma minoria.
Dessa forma, é possível perceber que os investimentos eram realizados 
de acordocom os interesses de uma classe privilegiada. Contudo, é impor-
tante considerar que esse acúmulo de capital financiou parte do crescimento 
industrial de 1920 a 1940.
Conclusão
O objetivo deste capítulo foi trazer alguns debates vividos no século 
XIX que criaram as condições para que o poder monárquico, a escravidão 
e a ordem social vigente fossem questionados e para compreender como 
algumas práticas políticas e econômicas, como a imigração e a construção 
das ferrovias, mudaram o cenário brasileiro do interior (a começar por 
São Paulo). Esses processos também estão diretamente ligados ao modo 
como se deu a Proclamação da República no país, por meio da tomada do 
poder pelos militares, instituindo uma política republicana e sem grandes 
transformações – o que trouxe consequências para as primeiras décadas do 
século XX.
– 27 –
A crise no Império e a emergência do discurso republicano
Ampliando seus conhecimentos
O trecho a seguir, de autoria de Márcia Janete Espig, faz referência 
ao período em que a estrada de ferro entre o Estado de São Paulo e o 
Estado do Rio Grande do Sul foi construída, ou seja, a partir de meados 
do século XIX. Para isso, tanto o trabalho de imigrantes europeus quanto 
o de migrantes brasileiros foi contratado. As mudanças ocasionadas pela 
construção das estradas de ferro desencadearam transformações sociais e 
políticas nas regiões envolvidas e no país, conforme podem ser percebidas 
no decorrer do texto.
A construção da Linha Sul da Estrada de 
Ferro São Paulo-Rio Grande (1908-1910): 
mão de obra e migrações
(ESPIG, 2012, p. 852-862)
Foi em seus momentos finais que o Império brasileiro aprovou 
um projeto há muito acalentado pelo poder público, assinan-
do-se o decreto que autorizava a construção de um caminho 
de ferro que faria a ligação da província de São Paulo ao sul 
do Brasil. Em 9 de novembro de 1889, através do Decreto 
n. 10.432, o engenheiro João Teixeira Soares recebeu do 
Governo Imperial autorização para “construcção, uso e goso” 
da ferrovia que passou a ser denominada Estrada de Ferro 
São Paulo-Rio Grande (EFSPRG). No dia 14 de novembro, 
Teixeira Soares assinou o contrato com o Governo Federal, e 
apenas seis dias após a assinatura do decreto e um dia após a 
assinatura do contrato, caía a Monarquia e com ela o compro-
misso entre as partes.
[...]
História do Brasil da construção da nação até o golpe de 1930
– 28 –
A questão da imigração recebeu destaque no Decreto 
Imperial. As Cláusulas 39 a 46 organizavam a colonização nas 
terras servidas por suas linhas férreas. A Companhia deveria 
estabelecer em terras a serem demarcadas até dez mil famílias 
de agricultores nacionais e estrangeiros, no prazo máximo de 
quinze anos. Cada família teria direito a um lote de terras de 
dez hectares e uma casa construída. Enquanto tivessem seu 
sustento provido pela Estrada de Ferro, os colonos trabalha-
riam 15 dias por mês em seus lotes e os demais dias para a 
Companhia, mediante um salário acordado entre as partes. 
[...] O governo estabelecia também que 15% das famílias 
poderiam ser nacionais; as outras seriam compostas de imi-
grantes europeus ou das possessões portuguesas e espanholas 
que chegassem ao país por conta própria ou por conta do 
governo. Neste sentido, colocava a Cláusula XLIV, o único 
compromisso do Governo seria o de encaminhar os imigran-
tes para as localidades, onde seriam recebidos pelos agentes 
dos contratantes.
[...] Permaneceu, portanto, um dos problemas que se torna-
riam centrais na construção da EFSPRG: a carência de mão 
de obra considerada adequada para a dura tarefa de abertura 
de caminhos para a ferrovia. A noção do que seria “ade-
quado” incluía preconceitos contra a mão de obra nacio-
nal e especialmente contra os trabalhadores do interior da 
região, os caboclos.
[...]
As referências a imigrantes e migrantes evoluem paulatina-
mente na documentação durante 1908. Fontes como jornais e 
relatos memorialísticos de descendentes ou imigrantes atestam 
o fornecimento de passagens para imigrantes de zonas pobres 
da Europa para a colonização das zonas contíguas ao caminho 
de ferro e para sua construção.
– 29 –
A crise no Império e a emergência do discurso republicano
Sugestão complementar
Como sugestão complementar, indicamos o blog do Instituto Moreira 
Salles5, que tem um variado acervo iconográfico, principalmente do século 
XIX. Disponível em: <https://blogdoims.com.br/categorias/>. Acesso em: 
27 fev. 2018.
Atividades
1. Elabore uma ideia que considere duas perspectivas políticas diferentes 
sobre as consequências da Guerra do Paraguai para o Brasil.
2. Quais relações podemos estabelecer entre a abolição da escravidão 
em 1888 e as consequências sociais para aqueles que foram libertos?
3. De que forma é possível estabelecer uma relação entre a construção 
das ferrovias em São Paulo e o processo de interiorização no século 
XIX? Além disso, qual era a estratégia econômica envolvida no estí-
mulo das ferrovias?
4. Com base na leitura do capítulo e do trecho do artigo de Márcia 
Janete Espig, na seção “Ampliando seus conhecimentos”, estabeleça 
uma relação entre a construção das ferrovias e a imigração no Brasil.
5 O Instituto Moreira Salles é uma organização sem fins lucrativos que dispõe de um vasto 
acervo de obras de arte. Possui sedes em Poços de Caldas (MG), São Paulo (SP) e Rio de Ja-
neiro (RJ).
Republicanismo no 
Brasil Imperial
Vertigem e aceleração do tempo. Essa seria, sem dúvida, a 
sensação mais forte experimentada pelos homens e mulhe-
res que viviam ou circulavam pelas ruas do Rio de Janeiro 
na virada do século XIX para o século XX. Ainda que, de 
forma menos contundente, o mesmo sentimento parecia 
estar presente nas principais cidades brasileiras, que, tal 
como a cidade-capital, cresciam como nunca [...] haviam 
crescido, complexificavam suas funções e recebiam levas 
de imigrantes europeus [...] Marasmo. E um tempo que 
parecia transcorrer tão lentamente que sua marcha inexo-
rável mal era percebida. Assim, nas fazendas, nas vilas do 
interior e nos sertões do país, essa mesma virada do século 
seria percebida. (NEVES, 2008, p. 14)
A citação acima representa parte da realidade brasileira após 
a Proclamação da República, na virada do século XIX para o XX. O 
interior do país era marcado pelos trabalhos da agricultura e pelas 
relações sociais: coronelistas e escravistas. Nesse mesmo período, 
chegavam imigrantes1 aos portos brasileiros, novos bairros come-
çavam a ser formados, com novas opções de lazer e de transporte, 
junto com a influência da moda europeia.
1 Sobre a política de imigrantes direcionada pelo governo brasileiro, sugerimos a 
leitura de Biondi (2010).
2
História do Brasil da construção da nação até o golpe de 1930
– 32 –
Se a Proclamação da República pouco havia transformado o cenário 
brasileiro no ano de 1889, esse novo tempo que se abria permitiu que, aos 
poucos, mudanças sociais e políticas alcançassem mais partes do país e fossem 
realizadas transformações relacionadas às exigências do capitalismo ocidental.
Se na virada do século havia a promessa de uma nova política para o 
Brasil, por que então permaneciam tantos problemas sociais e políticos? Para 
compreender parte dessa questão, é preciso refletir sobre como aconteceu a 
Proclamação da República e quais interesses incentivaram tal processo.
A partir da segunda metade do século XIX, as propostas políticas do 
Partido Republicano ganharam novos limites e debates, tanto dentro de sua 
própria formação quanto no que se refere à política imperial de Dom Pedro 
II. Questões como a Guerra do Paraguai e a abolição da escravatura foram 
influenciadas pelos entraves políticos daquele tempo, ou seja, consequente-
mente colaboraram para que o governo imperial e suas medidas fossem con-
testadas e deslegitimadas.Os símbolos e mitos, criados após a Proclamação da República, visavam 
à aceitação do ideal republicano, de modo que esse novo sistema fosse aceito, 
defendido e vivido por aquele que deveria dar apoio político necessário para 
a estruturação da República – o povo.
Dessa forma, neste capítulo, além de tudo isso, abordaremos também 
as características da Constituição de 1891, a fim de discutir a forma como 
o Brasil estava se reestruturando pelos caminhos republicanos, assim como 
estabelecer as principais diferenças da Carta anterior, de 1824.
2.1 Partido Republicano
Para o Partido Republicano Paulista, o ano de 1870 não é o princípio 
de sua história, mas um marco. Nessa data aconteceu a fundação do partido 
na capital do Império brasileiro (Rio de Janeiro), acontecimento que está 
atrelado a mudanças que ocorriam no Brasil, como a diminuição da produção 
de açúcar no Nordeste (que não conseguia manter a mão de obra escrava ocu-
pada) e o aumento do poder econômico e político do Sudeste com a produ-
ção cafeeira. Porém, para que fosse possível conquistar mais poder, o partido 
– 33 –
Republicanismo no Brasil Imperial
precisaria relacionar-se com os ideais republicanos e enfrentar a questão da 
abolição da escravatura no Brasil.
Nesse mesmo período, entraves contra o governo de Dom Pedro II se 
intensificaram, principalmente devido ao fim da Guerra do Paraguai, que 
convocou escravos sob a promessa de serem alforriados após o conflito – 
motivo pelo qual o movimento abolicionista ganhou mais apoio na década 
de 1870.
No Exército, coronéis e soldados passaram a defender a estruturação da 
instituição, assim como o discurso de um partido que se coloca a favor de 
princípios tão diversos à autoridade do imperador.
Portanto, ao fim da Guerra do Paraguai, somado ao desgaste da ima-
gem de Dom Pedro II, o Exército e o movimento abolicionista, embora em 
posições sociais diferentes, tinham interesses políticos contrários às ações do 
grupo aliado ao imperador.
Além disso, o mundo ocidental caminhava para um período de disputas 
entre os países da Europa, em especial estabelecendo impérios, fortalecidos 
por grandes nações, cujo capitalismo não aceitava mais o trabalho escravo, 
principalmente porque este já não existia nas colônias inglesas – entretanto, 
com o trabalho escravo no Brasil, a produção tornava-se mais barata, o que 
desagradava a concorrente Inglaterra. 
As ideias referentes à ciência, à tecnologia, ao ideal de civilidade e de 
progresso afirmavam-se nesses países. Desse modo, aqueles que mais se adap-
tassem a esses princípios alcançariam destaque na corrida imperialista e novos 
mercados consumidores.
Apesar do que ocorria no mundo, as práticas econômicas e as políti-
cas do contexto brasileiro eram diversas. Os que regiam a política imperial 
tinham divergências na postura que deveriam adotar. O Partido Republicano, 
por exemplo, que era diferente politicamente da ordem vigente no Brasil (a 
Monarquia), não seria aceito sem relutância.
Antônio da Silva Jardim, a respeito dos ataques sentidos pelo Partido 
Republicano nas décadas de 1870 e de 1880, aponta problemas políticos 
internos ao partido:
História do Brasil da construção da nação até o golpe de 1930
– 34 –
Penso que o Partido Republicano, sob pena de covardia, deve, ao 
menos, não recuar da atual fase de agitação política, em que por 
vezes não cedeu, mesmo diante das armas [...] conservando o sólido 
princípio fundamental do Partido Republicano, e as suas gloriosas 
tradições guerreiras e pacíficas, já é tempo de dar-lhe uma melhor 
direção política, mais científica e mais patriótica, quanto à doutrina-
ção e processos; direção não vazada unicamente nos moldes demo-
cráticos, que o confundiram no passado com o Partido Liberal e no 
presente revelam o perigo de fazê-lo absorvido por este Partido, o que 
obriga os republicanos a não aceitarem o modo por quê, por falta de 
estudo conveniente, o sr. Quintino Bocaiúva concebe a República; 
modo vago, estéril, anárquico, atrasado e utópico. (JARDIM apud 
BASTOS, 1986, p. 191)
A citação deixa evidente que não havia homogeneidade de pensamento, 
visto que Silva Jardim criticou duramente Quintino Bocaiúva – também 
republicano, mas de cunho mais liberal. De modo geral, ressaltamos que essa 
perspectiva heterogênea pode ser considerada importante para a construção 
de uma política mais democrática no Brasil.
Bocaiúva tinha como proposta uma revolução “mais branda”, sem armas 
e/ou conflitos, e só foi eleito por ter:
falseado o regime republicano de fiscalização, de discussão 
pública, falseado o regime representativo, para que se desse a dita-
dura de um pequeno grupo paulista, descubro na sua eleição, o 
que eu sentia de longos meses: uma conspiração de alguns velhos 
elementos do Partido Republicano gastos para a ação patriótica, 
somente capazes da intriga para a cobiça do poder, aliada à falta 
de compreensão da situação política atual, com o pretenso fim de 
paralisar a ação republicana, por medo dos perigos que ela conti-
nuasse a trazer; pela incerteza do gozo do poder, e pela aspiração 
mesquinha das posições que possa dar um eleitorado republicano 
dentro do regime monárquico; e ainda, o que tem mais importân-
cia do que pudera parecer, pelo receio do predomínio moral dos 
novos elementos republicanos em ação. (JARDIM apud BASTOS, 
1986, p. 191)
Com base nisso, é possível afirmar que Silva Jardim mantinha ideias 
mais diretas impostas pelo ideário republicano. Tal perspectiva apoiava uma 
mudança clara, diferentemente dos liberais, que eram reconhecidos por osci-
larem entre seus interesses e os de Dom Pedro II.
– 35 –
Republicanismo no Brasil Imperial
Silva Jardim defendia que o movimento fosse revolucionário no sentido 
maior do termo, ou seja, com ampla participação popular, com o intuito de 
que o sistema, após implementado, não fosse apenas de acordo com os inte-
resses de um grupo mais privilegiado.
Outras ideias de Silva Jardim também corroboram com essas afirmações:
Por que razão o 7 de abril [de 1831 – o movimento que obrigou D. 
Pedro I a abdicar] degenera em movimento monárquico? – indagava. 
“Porque o grupo dos exaltados deixou-se vencer pelo dos moderados... 
É mister evitar a nossa entrega ao liberalismo, sequioso de poder, tor-
nando-se republicano de um dia para outro. É preciso tirar o Partido 
Republicano deste perigo: que a República seja a Monarquia sem o 
Imperador! [...] O momento é o mais oportuno para a instituição da 
república no Brasil, é o mais adequado para a sua instituição sem grande 
abalo social. A nação inteira está mesmo à espera de um novo estado de 
coisas, sente-se nas vésperas de uma reorganização. O partido dito con-
servador invade o terreno das reformas liberais. O partido liberal arvora 
a bandeira da federação, que bandeira arvoraremos nós? Certo que a da 
república imediata, e, pois, a da revolução [...] apelamos para todos que 
a pátria habitam, a fim de que nos auxiliem no trabalho e na regenera-
ção da pátria. Pedimos o concurso da mulher, porque sabemos que sem 
o impulso do seu coração, jamais revolução gloriosa ou reforma eficaz o 
homem realizou; pedimos o concurso dos moços porque sabemos que 
na mocidade alia-se o entusiasmo científico ao entusiasmo patriótico; 
pedimos o concurso dos velhos porque sabemos que a sua inflexão con-
sagra e santifica o denodo cívico, o impulso rebelde e a audácia política. 
Pedimos o concurso de todos, qualquer que seja a sua nacionalidade: – 
dos estrangeiros – se é que essa palavra estrangeiros existe nos nossos 
dicionários – a que colaborem conosco na reorganização da terra que 
adotaram... (JARDIM apud BASTOS, 1986, p. 192-195)
O discurso do jornalista Silva Jardim deixa evidente que os liberais per-
cebiam no republicanismo um meio de permanecer no poder, pois, mesmo 
com as diferenças em relação a Dom PedroII, sempre estiveram ao seu lado. 
Silva Jardim traz em suas palavras a disputa entre liberais e conservadores 
desde a independência do país. Esses grupos, em geral, eram diferentes, mas 
em diversos momentos tinham pautas comuns2.
Ricardo Salles afirma que liberais e conservadores eram entendidos como 
integrantes de grupos políticos que ocupavam lugares, por vezes, opostos. O 
2 Para saber mais, sugerimos a leitura de Salles (2012).
História do Brasil da construção da nação até o golpe de 1930
– 36 –
primeiro estava relacionado às classes médias e urbanas, com profissionais de 
todas as áreas; o segundo dizia respeito, em sua maioria, aos produtores rurais.
Na década de 1860, emergia com mais força a questão abolicionista, 
assim como o argumento liberal da descentralização do poder. Esses interesses 
entre as propostas dos conservadores (SALLES, 2012, p. 5-9).
Do mesmo modo, a federalização é apontada como uma resposta ao 
conturbado período político por parte dos conservadores. O que se destaca, 
entretanto, é o pedido de apoio das mais diversas camadas sociais. Para 
Silva Jardim, elas traziam interesses também diversos aos dos liberais e aos 
dos conservadores: entre eles, estavam especialmente os estrangeiros e as 
mulheres, algo bastante atípico para esse tempo, visto que elas não tinham 
o direito de votar.
O apoio da ciência, isto é, do conhecimento que reflete sobre a socie-
dade e acrescenta outras perspectivas políticas e sociais, também está presente 
na fala de Silva Jardim, quando ele diz “o entusiasmo científico ao entusiasmo 
patriótico”. Essas correntes ou teorias científicas chegaram ao Brasil e seus 
debates estavam relacionados ao progresso, ao ideal de modernidade, bem 
como à formação e ao futuro do povo. Por isso, podemos entender que uma 
nação moderna, que visa ao progresso e ao crescimento, deve aliar sua política 
às novas perspectivas.
Percebemos ainda no discurso de Silva Jardim diversas propostas que 
não são conservadoras nem comuns a esse período brasileiro, especialmente 
se lembrarmos que o coronelismo, o clientelismo e a escravidão eram as prá-
ticas mais em voga, de modo que pouco estava sendo debatido para que elas 
fossem transformadas. Coronéis recebiam cargos por meio da política regio-
nal ou federal e eram nomeados em um posto imperial que se manteve na 
República (SCHWARCZ; STARLING, 2015, p. 322).
Em um governo oligárquico e com influência federalista, coronéis 
tinham o controle da região e faziam trocas políticas com o governo federal. 
Durante a República, os coronéis dependiam de uma rede complexa de poder 
para se manter nesse status, o que desmitifica a ideia de poder absoluto.
O clientelismo, por sua vez, refere-se ao uso do que é público para inte-
resses privados – no caso, de acordo com o que propunham os coronéis. 
– 37 –
Republicanismo no Brasil Imperial
À medida que a República cresce e o poder oligárquico diminui, as práticas 
clientelistas e coronelistas também, tornando-os intermediários entre o poder 
e o povo3.
O fim da escravidão era um dos maiores embates da época, visto que 
uma parte dos republicanos ou defendiam sua protelação, ou sua manuten-
ção. Enquanto decisões na justiça usavam como argumento a proibição de 
1831, assim como o aumento de quilombos e o fim da Guerra do Paraguai, 
o discurso republicano ia se aproximando cada vez mais da defesa do fim do 
escravismo (FERNANDES, 2006, p. 182).
Nesse caso, precisamos considerar que nem todo republicano era abolicio-
nista ou, ao menos, defendia de imediato o fim da escravidão, já que alguns pro-
telavam tal ideia, por serem eles mesmos conservadores ou donos de escravos.
Ainda assim, de acordo com o historiador Sérgio Buarque de Holanda, 
“foram os republicanos os que, retomando a bandeira caída por terra, se dis-
puseram a levar às consequências últimas os princípios que outrora tiveram 
em comum com os liberais genuínos” (HOLANDA, 1985, p. 261).
Na época, para que o Brasil prosperasse como outras nações no mundo 
ocidental, ele não poderia mais ser sinônimo de país escravagista. Por isso, o 
republicanismo em geral defendia a abolição, visto que não era possível pro-
por um regime republicano e, ao mesmo tempo, manter escravos.
É nesse sentido que positivistas, ou militares influenciados pelo positi-
vismo, quando passavam a fazer parte do partido, acabavam levantando sus-
peitas sobre os republicanos, já que esses nem sempre eram abolicionistas. 
Corrobora essa ideia o Manifesto do Congresso do Partido Republicano, feito na 
cidade de Itu, em 1873:
“Fique, portanto, bem firmado que o Partido Republicano, tal 
como consideramos, capaz de fazer a felicidade do Brasil, quanto à 
questão do estado servil, fita desassombrado o futuro, confiando na 
índole do povo e nos meios de educação, os quais unidos ao todo 
harmônico de suas reformas e de seu modo de ser hão de facilitar-
-lhe a solução mais justa, mais prática e moderada, selada com o 
cunho da vontade nacional”.
3 Para saber mais, recomendamos a leitura de Carvalho (2010).
História do Brasil da construção da nação até o golpe de 1930
– 38 –
Parece que esta declaração seria suficiente para apagar todas as dúvi-
das. A questão não nos pertence exclusivamente porque é social e não 
política: está no domínio da opinião nacional e é de todos os parti-
dos, e dos monarquistas mais do que nossa, porque compete aos que 
estão na posse do poder, ou aos que pretendem apanhá-lo amanhã, 
estabelecer os meios de seu desfecho prático. E se os nossos contrários 
políticos pressagiam para um futuro demasiadamente remoto o esta-
belecimento, no país, do sistema governamental que pretendemos, o 
que vem interpelar-nos hoje e desde já sobre esses meios? (Manifesto 
do Congresso do Partido Republicano Paulista apud PESSOA, 
1973, p. 65)
É evidente no trecho a falta de homogeneidade em relação ao tema da 
abolição. Também é perceptível que esse assunto se tornou uma das principais 
pautas de discussão do grupo republicano.
Do mesmo modo, no discurso percebemos que a monarquia é mencio-
nada por ter “criado” o problema, já que a escravidão era algo recorrente na 
história do Brasil desde os tempos coloniais, não sendo, portanto, de respon-
sabilidade exclusiva do Partido Republicano.
Entretanto, enquanto o Império se negava a sanar o problema, o movi-
mento abolicionista crescia. Isso fez com que o Partido Republicano se 
aproximasse da defesa do fim da escravidão, devido à demanda social ou à 
cobrança de atitude coerente com o ideário republicano.
É importante pontuarmos também em que condições ocorreu a 
Convenção de Itu, em 1873:
Assim, se essa não era com certeza a primeira ocasião em que se 
formavam movimentos republicanos, a alternativa começou a se 
revelar mais viável a partir de 1870. A cisão do Partido Liberal 
levou, então, à formação do Partido Republicano Paulista, em 18 
de abril de 1873, que se reuniu na hoje famosa Convenção de Itu. 
O grupo criticava, sobretudo, o centralismo do trono e da adminis-
tração, e propunha uma reforma pacífica, através da implementação 
de uma república federativa. O manifesto de 1870 começava assim: 
“Centralização – desmembramento; descentralização – unidade”, 
mostrando com a ideia de federação e sua união com um regime 
político definido como “americano e para a América” faziam parte 
da ementa inicial do partido. (SCHWARCZ; STARLING, 2015, 
p. 301-302)
– 39 –
Republicanismo no Brasil Imperial
Com base nas afirmações das historiadoras Lilia M. Schwarcz e Heloisa 
M. Starling, os grupos que até então oscilavam entre o apoio a Dom Pedro 
II e a oposição a ele, como era o caso dos liberais, passaram a apoiar novas 
posturas políticas, as quais, com base em ideias constitucionais e/ou republi-
canas, colaboraram para o fim do governo imperial.
Esse período marcava o ápice da produção de café,gerando riquezas. 
Em contrapartida, o discurso republicano, por mais que se colocasse contra a 
autoridade e a interferência do imperador, era composto daqueles que defen-
diam o trabalho escravo ou concordavam com as elites políticas de províncias 
como São Paulo e Minas Gerais.
Na citação, também é notável a discussão sobre o modo como a República 
deveria ser discutida e como chegaria ao poder, ou seja, uma reforma pacífica. 
A possibilidade de federalização também estava entre as opções, isto é, cada 
Estado independente e respondendo a um poder central.
A abolição não era somente um tema de discordância entre os republica-
nos. Positivistas, em maioria militares, também se aproximaram do republi-
canismo após as décadas de 1860 e 1870. Nesse contexto, o Exército passou 
a ter problemas com o sistema monárquico do país, especialmente após a 
Guerra do Paraguai.
Esse problema intensificou-se pela insistência dos militares em terem 
uma instituição mais organizada, acompanhada de uma carreira hierarqui-
zada e de maior participação política. Dom Pedro II e seu grupo político, 
porém, pouco negociavam sobre as novas demandas sociais e políticas decor-
rentes da Guerra do Paraguai.
O positivismo – idealizado por Auguste Comte – chegou ao Brasil ainda 
na década de 1860. É desse tempo, portanto, o início das influências positi-
vistas que, no caso do Exército brasileiro, tinham em Benjamim Constant e 
Deodoro da Fonseca dois expoentes. No Brasil, os seguidores dessa corrente 
filosófica defendiam uma união firmada por meio da ideia de nação, a fim de 
se ter o progresso do país.
Comte preocupou-se em pensar na organização e na ordem social de um 
contexto para obter progresso. Suas ideias foram concebidas no século XIX, 
em meio às grandes transformações sociais e políticas após as décadas de 1840 
História do Brasil da construção da nação até o golpe de 1930
– 40 –
e 1850. Nesse caso, tanto ele quanto Émile Durkheim, Karl Marx e Max 
Weber foram os responsáveis pela difusão do pensamento sobre as mudanças 
que colaboraram para a institucionalização das disciplinas ligadas às ciências 
sociais, especialmente a sociologia.
Comte, em um escrito chamado Curso de filosofia positivista, de 1842, 
defendia que o espírito humano teria passado por três fases: a primeira era 
o momento em que sociedades baseadas em princípios transcendentais e 
militarismo iriam diminuir; a segunda era aquela em que todos os fenôme-
nos atribuídos a seres sobrenaturais seriam contestados e, posteriormente, 
as sociedades teriam na metafísica suas explicações. Ainda na segunda 
fase, o ser humano passaria a observar os fenômenos sociais no decorrer 
do tempo, a fim de decidir o que era melhor, uma ideia que deveria ser 
coletiva (incluindo sacrifícios individuais) (ARON, 2002) e relacionada ao 
uso da tecnologia, bem como do domínio da natureza. Na terceira fase, a 
organização humana estaria na relação, organização e domínio da natureza 
e da história.
A França do século XIX, tempo e lugar de Comte, era marcada por uma 
sociedade capitalista industrial, e o crescimento econômico dessa modali-
dade política e econômica era defendido pelo positivista como exemplo a 
ser seguido.
Nesse caso, a união do espírito humano, livre de guerras e de violência, 
em nome de um bem maior (unido pela história humana e pelo domínio da 
natureza), chegaria a um estágio final de desenvolvimento da humanidade, 
que teria apenas um pensamento, no qual seu “espírito” estaria baseado ape-
nas nas ideias positivistas.
José Murilo de Carvalho afirma que, para Comte, uma boa pátria seria 
uma boa mátria (CARVALHO, 1990, p. 13), visto que era nas ideias do 
gênero feminino para humanidade e República que o filósofo encontrava seus 
argumentos – que estavam baseados na representação da República na ima-
gem feminina (no caso de Comte, em Clotilde de Vaux) –, um imaginário 
que colaborava para legitimar um poder político.
– 41 –
Republicanismo no Brasil Imperial
Utópica ou filosófica, a corrente positivista chegou ao Brasil como uma 
promessa que endossaria os ânimos republicanos, fossem eles abolicionistas, 
liberais ou militares. Pregava a separação entre religião e Estado, visto que 
a principal responsável pelo desenvolvimento deveria ser a ciência. Nesse 
período, havia influências oligárquicas do clero e da própria elite cafeicultora 
mais conservadora e monarquista. São exemplos: Benjamim Constant, que 
era positivista; Bocaiúva, que era liberal; e Silva Jardim, abolicionista e repu-
blicano (CARVALHO, 1990).
Existiam discussões e divergências sobre o fim da monarquia e do futuro 
do Brasil, caso a proclamação ocorresse. Contudo, havia uma disputa política 
e econômica de pequenos grupos sociais, sempre privilegiados ao longo de 
nossa história. Manter o interesse desses grupos tornou-se uma das principais 
premissas dos embates políticos do período.
Mesmo mudando a história política do Brasil, o ato conduzido pelos 
militares foi também um golpe, o que colabora para o entendimento 
sobre o porquê da dificuldade de implementação de um sistema polí-
tico republicano. Nesse contexto, embora o Partido Republicano tenha 
sido responsável por boa parte da discussão e do desgaste da imagem da 
monarquia, o novo governo iniciou com Deodoro da Fonseca, restando 
ao Partido Republicano dois importantes ministérios: o da justiça e o 
da agricultura.
Nesse contexto, Campos Salles, chefe da pasta da justiça, emitiu, entre 
outros, dois decretos importantes: o n. 85-A, de 23 de dezembro de 1889 
(BRASIL, 1889), e o n. 295, de 29 de março de 1890 (BRASIL, 1890). 
Neles, as determinações eram as seguintes:
“todos aqueles que derem origem a falsas notícias e boatos alarmantes 
dentro ou fora do país ou concorrerem pela imprensa, por telegrama 
ou qualquer outro modo de pô-los em circulação”. O Decreto nº 
295, feito para preservar o governo “da injúria e dos ataques pessoais 
que visavam ao desprestígio da autoridade e tinham por fim levantar 
contra ela a desconfiança para favorecer a execução de planos subver-
sivos”. (RAMOS, 2010, p. 5)
História do Brasil da construção da nação até o golpe de 1930
– 42 –
Essas leis serviram para instaurar a censura em um período (início da 
República) que deveria ser de inauguração de uma participação mais cidadã 
e democrática.
Outra questão que destoa bastante do que desejavam muitos republica-
nos consta na seguinte citação:
organização de um partido republicano construtor, preliminar-
mente revolucionário, em que realmente se deseje para a pátria 
uma presidência poderosa, instituída pela vontade popular, a 
princípio por aclamação, sujeita em seguida ao sufrágio univer-
sal, – capaz de ser autoridade, na qual se deposite uma caute-
losa confiança, inteiramente fiscalizada pela Assembleia Nacional, 
câmara financeira, e pela opinião pública, por meio de todos os 
seus órgãos, – tornada assim o delegado representativo da pátria, 
síntese da liberdade; e pois Governo, na combinação feliz dos dois 
elementos que esta palavra resume: – Poder e Povo. (JARDIM 
apud BASTOS, 1986, p. 191)
As principais características levantadas por Jardim são a participação do 
povo na escolha de seu presidente, bem como o respeito que este deveria ter 
com seus eleitores. Contudo, se considerarmos o contexto, o voto era direcio-
nado a alguns grupos de homens, excluindo mulheres e classes mais simples, 
pois era exigida a alfabetização.
Percebemos que o modo como a República brasileira foi proposta e o 
seu início são bastante diversos. Sabemos também que a ideia de República 
triunfou, mas, para que o povo aderisse a ela – como queria Antônio da Silva 
Jardim –, era preciso buscar laços identitários e ter uma memória forjada, 
para que elos coletivos existissem.
2.2 O fim do regime monárquico e a 
construção de mitos e símbolos
O símbolo feminino ilustrado

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