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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO – PUC/SP FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO, CONTABILIDADE E ATUÁRIA CURSO DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS GESTÃO DE PESSOAS II APOSTILA 5 PROF. DAVID MORETTINI 2010 Apostila 5 – Gestão de Pessoas II – Prof. David Morettini 2 CONTEÚDO PROGRAMÁTICO AULA 12 – Comunicação: processo, comunicação interpessoal. 1 Introdução..................................................................................................................3 2 Funções da Comunicação.........................................................................................4 3 O Processo de Comunicação....................................................................................5 4 Direção da Comunicação..........................................................................................7 5 Comunicação Interpessoal........................................................................................9 AULA 13 – Comunicação: comunicação organizacional e barreiras à comunicação. 6 Comunicação Organizacional..................................................................................12 7 Escolha do Canal de Comunicação........................................................................18 8 Tipos de Barreiras à Comunicação Eficaz..............................................................20 AULA 14 – Conflito e negociação. 9 Conflito....................................................................................................................23 10 O Processo do Conflito.........................................................................................26 11 Negociação...........................................................................................................37 12 O Processo da Negociação...................................................................................40 13 Questões da Negociação......................................................................................43 REFERÊNCIAS..........................................................................................................47 Apostila 5 – Gestão de Pessoas II – Prof. David Morettini 3 AULA 12 – Comunicação: processo, comunicação interpessoal. 1 INTRODUÇÃO De acordo com Robbins (2005), as pesquisas indicam que as falhas de comunicação são as fontes mais frequentemente citadas de conflitos interpessoais. Como as pessoas passam cerca de 70 por cento de suas horas de vigília se comunicando – escrevendo, lendo, falando, escutando –, parece razoável afirmar que uma das principais forças que podem impedir o bom desempenho de um grupo é a falta de uma comunicação eficaz. Nenhum grupo pode existir sem comunicação, ou seja, sem a transferência de significados entre seus membros. Apenas através da transferência de significados de uma pessoa para outra é que as informações e as ideias podem ser transmitidas. (ROBBINS, 2005) Conforme Robbins (2005), a comunicação, contudo, é mais do que simplesmente transmitir um significado. Ela precisa ser compreendida. Em um grupo em que um indivíduo fala apenas alemão e os demais não sabem o idioma, ele não conseguirá ser bem-compreendido. Portanto, a comunicação precisa incluir a transferência e a compreensão do significado. Apostila 5 – Gestão de Pessoas II – Prof. David Morettini 4 2 FUNÇÕES DA COMUNICAÇÃO De acordo com W. G. Scott e T. R. Mitchell (1976 apud ROBBINS, 2005), a comunicação tem quatro funções básicas dentro de um grupo ou de uma organização: controle, motivação, expressão emocional e informação. A comunicação age no controle do comportamento das pessoas de diversas maneiras. As organizações possuem hierarquias e orientações formais que devem ser seguidas pelos funcionários. Quando estes são informados de que devem, por exemplo, comunicar qualquer problema de trabalho primeiramente a seu superior imediato ou seguir à risca suas instruções de trabalho, ou ainda adequar-se às políticas da empresa, a comunicação está desempenhando uma função de controle. Mas a comunicação informal também controla o comportamento. Quando um grupo de trabalho hostiliza ou reclama com um membro que está produzindo demais (e, assim, fazendo com que o resto do grupo pareça preguiçoso), esses indivíduos estão se comunicando informalmente e controlando o comportamento do colega. A comunicação facilita a motivação por esclarecer aos funcionários o que deve ser feito, qual a qualidade do seu desempenho e o que fazer para melhorá-lo. O estabelecimento de metas específicas, o feedback do progresso em relação a elas e o reforço do comportamento desejável estimulam a motivação e requerem comunicação. Para muitos funcionários, seu grupo de trabalho é sua fonte primária de interação social. A comunicação que ocorre dentro do grupo é um mecanismo fundamental para que seus membros expressem suas frustrações ou sentimentos de satisfação. A comunicação, portanto, fornece o meio para a expressão emocional de sentimentos e para a satisfação de necessidades sociais. A função final desempenhada pela comunicação se relaciona a seu papel como facilitadora de tomada de decisões. Ela proporciona as informações de que as pessoas e os grupos precisam para tomar decisões ao transmitir dados para que se identifiquem e avaliem alternativas. Apostila 5 – Gestão de Pessoas II – Prof. David Morettini 5 3 O PROCESSO DE COMUNICAÇÃO Conforme D. K. Berlo (1960 apud ROBBINS, 2005), antes que a comunicação se realize, é necessário um propósito, expresso na forma de mensagem a ser transmitida. Ela vai passar de uma fonte (o emissor) para um receptor. A mensagem é codificada (convertida em um formato simbólico) e transmitida através de uma mídia (canal) até o receptor, que traduz (decodifica) a mensagem iniciada pelo emissor. O resultado é a transferência de um significado de uma pessoa para outra. FIGURA 1: O Processo de Comunicação Fonte: Robbins, 2005, p. 233. A Figura 1 mostra o processo de comunicação. O modelo é composto de oito partes: (1) a fonte da comunicação, (2) a codificação, (3) a mensagem, (4) o canal, (5) a decodificação, (6) o receptor, (7) o ruído e (8) o feedback. • A fonte inicia a mensagem pela codificação de um pensamento. • A mensagem é o produto físico codificado pelo emissor. Quando falamos, a fala é a mensagem. Quando escrevemos, o texto escrito é a mensagem. Quando gesticulamos, os movimentos de nossos braços e as expressões em nosso rosto são a mensagem. • O canal é a mídia por onde a mensagem viaja. Ele é selecionado pelo emissor, que deve determinar qual canal é formal e qual é informal. Os canais formais são estabelecidos pela organização e transmitem mensagens que se referem às atividades relacionadas com o trabalho Fonte Mensagem Codificação a ser da enviada mensagem Receptor Mensagem Mensagem recebida decodificada Canal Ruído Feedback Apostila 5 – Gestão de Pessoas II – Prof. David Morettini 6 de seus membros. Tradicionalmente, eles seguem a rede de autoridade dentro da organização. Outras formas de mensagem, como as pessoais ou sociais, seguem os canais informais na organização. Estes canais informais são espontâneos e surgem como resposta às escolhas individuais. •O receptor é o sujeito a quem a mensagem se dirige. Antes que a mensagem seja recebida, seus símbolos precisam ser traduzidos em uma forma que possa ser compreendida pelo receptor. Isto é a decodificação da mensagem. • O ruído é composto pelas barreiras à comunicação que distorcem a clareza da mensagem. Exemplos de possíveis fontes de ruído incluem problemas de percepção, excesso de informações, dificuldades semânticas ou diferenças culturais. • O elo final do processo de comunicação é o círculo de feedback. O feedback faz a verificação do sucesso na transmissão de uma mensagem como pretendida inicialmente. Ele determina se a compreensão foi ou não obtida. Apostila 5 – Gestão de Pessoas II – Prof. David Morettini 7 4 DIREÇÃO DA COMUNICAÇÃO De acordo com Robbins (2005), a comunicação pode fluir em sentido vertical e horizontal. A dimensão vertical pode ser dividida em direções ascendente e descendente. a) Comunicação Descendente A comunicação, dentro de um grupo ou organização que flui dos níveis mais altos para os mais baixos é descendente. Ela é usada pelos executivos e líderes para atribuir tarefas, fornecer instruções de trabalho, informar aos subordinados sobre políticas e procedimentos, identificar problemas que necessitam de atenção e fornecer feedback sobre desempenho. A comunicação descendente não precisa ser oral nem face a face. Quando a empresa manda uma correspondência para a casa de seus funcionários informando sobre a nova política de licença médica, está usando a comunicação descendente. b) Comunicação Ascendente A comunicação ascendente é a que se dirige aos escalões mais altos do grupo ou da organização. É utilizada para fornecer feedback aos executivos, informá-los sobre os progressos em relação às metas e relatar os problemas que estão ocorrendo. Ela mantém os dirigentes informados sobre como os funcionários se sentem em relação ao seu trabalho, seus colegas e à organização em geral. Os executivos também contam com este tipo de comunicação para obter ideias sobre como as coisas podem ser melhoradas. Alguns exemplos organizacionais de comunicação ascendente são os relatórios de desempenho, preparados pelas gerências para avaliação pelos dirigentes, as caixas de sugestões, as pesquisas sobre atitudes dos funcionários, os procedimentos de queixas, as discussões entre funcionários e executivos, e as Apostila 5 – Gestão de Pessoas II – Prof. David Morettini 8 sessões informais em que os funcionários têm oportunidade de identificar e discutir problemas com seus chefes ou com representantes da direção da empresa. c) Comunicação Lateral Quando a comunicação se dá entre os membros de um mesmo grupo ou de grupos do mesmo nível, entre executivos do mesmo nível ou entre quaisquer pessoas que estão em um nível horizontal equivalente dentro da organização, dizemos que esta comunicação é lateral. A comunicação horizontal geralmente é necessária para economizar tempo e facilitar a coordenação. Em alguns casos ela é estabelecida formalmente. Com frequência, elas são criadas informalmente para provocar um curtocircuito na hierarquia vertical e agilizar a ação. Assim, a comunicação lateral pode ser, do ponto de vista dos dirigentes da empresa, uma coisa boa ou ruim. Ela é boa quando ocorre com o conhecimento e o apoio dos superiores. Ela é ruim quando cria conflitos disfuncionais, violando os canais formais verticais, como por exemplo, quando os membros atropelam ou ultrapassam seus superiores hierárquicos para fazer com que as coisas sejam realizadas ou quando os chefes descobrem que foram iniciadas ações ou tomadas de decisões sem o seu conhecimento. Apostila 5 – Gestão de Pessoas II – Prof. David Morettini 9 5 COMUNICAÇÃO INTERPESSOAL Os membros do grupo trocam mensagens através de três métodos básicos: a comunicação oral, a escrita e a não-verbal. a) Comunicação oral De acordo com Robbins (2005), o principal meio de transmitir mensagens é a comunicação oral. As palestras, os debates formais entre duas pessoas ou em grupo e a rede informal de rumores são algumas formas comuns de comunicação oral. As vantagens da comunicação oral são a rapidez e o feedback. A principal desvantagem da comunicação oral surge nas organizações, ou sempre que uma mensagem tiver de ser transmitida para várias pessoas. Quanto maior o número de receptores, maior a probabilidade de distorções potenciais. Quando o conteúdo chega ao destinatário, está muito modificado em relação ao original. Dentro de uma organização, onde as decisões e outros comunicados são transmitidos verbalmente ao longo da hierarquia, tanto no sentido descendente como ascendente, existem muitas chances de ocorrer distorção nas mensagens. b) Comunicação escrita A comunicação escrita engloba memorandos, cartas, e-mails, transmissões de fax, jornais internos, informativos em murais e qualquer outro meio que use a linguagem escrita ou simbólica para comunicar as informações. Normalmente, a comunicação escrita é escolhida pelo emissor porque ela é tangível e verificável. Geralmente, tanto o emissor quanto o receptor mantêm registro das mensagens. Elas podem ficar armazenadas por muito tempo. Se houver dúvidas quanto a seu conteúdo, elas podem ser facilmente verificadas nos registros. Evidentemente, as mensagens escritas têm suas desvantagens. Elas consomem mais tempo. Há a ausência de feedback. A comunicação oral permite Apostila 5 – Gestão de Pessoas II – Prof. David Morettini 10 que o receptor se manifeste imediatamente em relação à mensagem. A comunicação escrita não possui este mecanismo de feedback embutido em si. Consequentemente, o envio de um e-mail não é garantia de que ele seja recebido, nem de que, caso recebido, seja compreendido pelo receptor da forma que o emissor pretendia. c) Comunicação não-verbal De acordo com L. R. Rashotte (2002 apud ROBBINS, 2005), todas as vezes que transmitimos uma mensagem verbal, também enviamos junto uma mensagem não-verbal. Em alguns casos o componente não-verbal pode estar sozinho. Em uma boate ou barzinho de paquera, por exemplo, enviam-se mensagens por um olhar rápido, um olhar mais demorado, um sorriso, um franzir de sobrancelhas, um movimento provocante do corpo. Portanto, a comunicação não-verbal inclui os movimentos do corpo, a entonação ou ênfase dada às palavras e o distanciamento físico entre o emissor e o receptor. Conforme J. Fast (1970 apud ROBBINS, 2005), demonstramos o nosso estado de espírito através da linguagem não-verbal do corpo, o que implica que raramente enviamos estas mensagens de forma consciente. Erguemos uma sobrancelha em sinal de descrédito. Coçamos a cabeça quando ficamos confusos. Cruzamos os braços para nos isolarmos ou nos protegermos. Levantamos os ombros com indiferença, piscamos um olho com intimidade, tamborilamos os dedos com impaciência ou batemos na testa quando nos damos conta de nosso esquecimento. De acordo com A. Mehrabian (1972 apud ROBBINS, 2005), as duas mensagens mais importantes enviadas pela linguagem corporal são (1) quanto uma pessoa gosta da outra e até que ponto está interessada em seus pontos de vista, e (2) o status relativo percebido entre emissor e receptor. Por exemplo, temos maior probabilidade de nos colocarmos perto das pessoas de quem gostamos e de tocá- las mais frequentemente. Da mesma forma, quando você percebe que tem um status maior que o de seu interlocutor, isto é demonstrado em seus gestos – como o Apostila 5 – Gestão de Pessoas II – Prof. David Morettini 11 de cruzar as pernas ou o de se sentar de maneiramais relaxada –, indicando sua posição de modo descontraído ou casual. Conforme Robbins (2005), a linguagem corporal se soma à comunicação verbal, geralmente complicando-a. Uma posição ou movimento do corpo por si só não tem um significado preciso ou universal, mas, quando somado à linguagem falada, completa a mensagem do emissor. Se você ler a ata de uma reunião, não sentirá impacto sobre o que foi dito da mesma forma que sentiria se participasse dela ou se a assistisse em vídeo, porque faltam a entonação e a ênfase dada às palavras que foram ditas. As expressões faciais também carregam uma mensagem. Uma expressão ríspida diz algo diferente de uma expressão risonha. As expressões faciais, ao lado das entonações de voz, podem mostrar arrogância, agressividade, medo, timidez e outras características que nunca seriam comunicadas se você apenas lesse uma transcrição do que foi dito. A maneira como as pessoas se colocam no espaço em termos de distância física entre elas também traz uma mensagem. O que é considerado uma distância adequada entre duas pessoas que conversam depende muito das normas culturais. Por exemplo, uma distância considerada formal em alguns países da Europa, nos Estados Unidos seria considerado como intimidade. Se alguém se aproxima fisicamente de você além do que é considerado adequado, isso pode significar agressividade ou interesse sexual. Se a distância permanece maior do que a esperada, pode significar desinteresse ou insatisfação com o que está sendo dito. Conforme Robbins (2005), é importante que o receptor esteja atento para esses aspectos da comunicação. Você deve buscar indícios não-verbais tanto quanto o entendimento do significado literal daquilo que é transmitido por um emissor. Você precisar estar particularmente consciente das possíveis contradições entre essas mensagens. O seu chefe pode lhe dizer que não há problema em conversar sobre o aumento de salário que você está querendo, mas você percebe sinais não-verbais de que não é o momento para discutir o assunto. Independentemente do que está sendo dito, uma pessoa que frequentemente olha para o relógio está enviando uma mensagem de que gostaria de encerrar a conversa. Apostila 5 – Gestão de Pessoas II – Prof. David Morettini 12 AULA 13 – Comunicação: comunicação organizacional e barreiras à comunicação. 6 COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL A comunicação organizacional foca, principalmente, as redes formais, as redes de rumores e os meios eletrônicos utilizados para facilitar a comunicação. a) Redes formais As redes formais podem ser em cadeia, em roda e em todos os canais. O tipo cadeia segue rigidamente a cadeia formal de comando. Esta rede é do tipo encontrado em uma organização de três níveis rígidos. FIGURA 2: Rede Formal de Comunicação Organizacional em Cadeia. Fonte: Robbins, 2005, p. 238. � � � � � Apostila 5 – Gestão de Pessoas II – Prof. David Morettini 13 O tipo roda depende do líder para agir como conduto central de toda a comunicação do grupo. Esta rede de comunicação pode ser encontrada em uma equipe com um líder forte. FIGURA 2: Rede Formal de Comunicação Organizacional em Roda. Fonte: Robbins, 2005, p. 238. � � � � � Apostila 5 – Gestão de Pessoas II – Prof. David Morettini 14 O tipo de todos os canais permite que todos os membros do grupo se comuniquem ativamente uns cm os outros. Esse tipo de rede geralmente é encontrado na prática em equipes autogerenciadas, nas quais todos os membros do grupo têm liberdade para contribuir e ninguém assume o papel de líder. FIGURA 4: Rede Formal de Comunicação Organizacional em Todos os Canais. Fonte: Robbins, 2005, p. 238. Conforme Robbins (2005), a eficácia de cada rede depende da variável dependente com a qual estamos preocupados. Por exemplo, a estrutura tipo roda facilita a emergência de um líder, a rede tipo todos os canais é a melhor para a satisfação dos membros e o tipo cadeia é o indicado quando o mais importante é a precisão. Nenhuma delas, isoladamente, é a melhor para todas as ocasiões. b) Rede de Rumores A rede de rumores é um sistema informal de comunicação. De acordo com Robbins (2005), embora seja informal, isto não significa que não seja um importante � � � � � Apostila 5 – Gestão de Pessoas II – Prof. David Morettini 15 fonte de informações. Por exemplo, uma pesquisa recente revelou que 75 por cento dos funcionários sabem primeiro das notícias através da rede de rumores. A rede de rumores tem três principais características: • Primeiro, ela não é controlada pela direção da empresa. • Segundo, é tida pela maioria dos funcionários como mais confiável e fidedigna do que os comunicados formais vindos da cúpula da organização. • Terceiro, ela é largamente utilizada para servir aos interesses pessoais dos que a integram. A seguir, dois resultados importantes obtidos com algumas pesquisas (DAVIS, 1953; SUTTON e PORTER, 1968 apud ROBBINS, 2005) sobre a rede de rumores: • Embora a rede de rumores seja uma importante fonte de informações, apenas 10 por cento dos executivos agem como elemento de ligação, ou seja, passam a informação para mais de uma pessoa. • As evidências indicam que cerca de 75 por cento das informações que fluem pela rede de rumores são exatas. De acordo com Robbins (2005), raramente os rumores começam porque eles alimentam fofocas. Os rumores emergem como reação a situações importantes para as pessoas, quando há ambiguidade, e sob condições que despertam ansiedade. Os segredos e a competitividade que fazem parte da vida na organização – em torno de temas como a nomeação de novos chefes, a redistribuição das salas ou o realinhamento das atribuições de tarefas – criam as condições que estimulam e sustentam a rede de rumores. Conforme Robbins (2005), a rede de rumores é uma parte importante do sistema de comunicação de qualquer grupo ou organização e merece ser bem compreendida. Apostila 5 – Gestão de Pessoas II – Prof. David Morettini 16 Para os executivos, ela fornece um sentimento sobre o moral de sua organização, identifica os temas confusos que os funcionários consideram importantes e ajuda a canalizar a ansiedade dos funcionários. Funciona, portanto, como um mecanismo ao mesmo tempo de filtragem e de feedback, identificando os tópicos que os funcionários consideram relevantes. Para os executivos, a rede de rumores é particularmente importante por traduzir comunicações formais para a linguagem do próprio grupo c) Comunicação eletrônica Conforme Robbins (2005), a comunicação nas organizações atuais vem sendo aprimorada e enriquecida pela tecnologia da computação. Isso inclui o correio eletrônico (ou e-mail), redes intranet e extranet e a videoconferência. A utilização do correio eletrônico (e-mail), por exemplo, reduziu significativamente o número de memorandos, cartas e telefonemas que os funcionários tradicionalmente usavam para se comunicar entre si ou com fornecedores, clientes e outros grupos externos de interesse. Como ferramenta de comunicação, o e-mail apresenta diversos benefícios. Suas mensagens podem ser escritas, editadas e armazenadas rapidamente. Elas podem ser transmitidas, para um receptor apenas ou para milhares, com um simples toque do mouse. Elas podem ser lidas, por inteiro, de acordo com a conveniênciado receptor. E o custo de transmissão de um e-mail para diversos funcionários é apenas uma fração do necessário para imprimir, reproduzir e distribuir uma carta ou material impresso. Como desvantagens, temos o fato do e-mail ser utilizado para assuntos pessoais em demasia e pela falta de conteúdo emocional (não existência da comunicação não-verbal). Por esses motivos não é o canal ideal para transmitir notícias como demissões e fechamento de unidades. As intranets são redes privadas, internas, que funcionam da mesma forma que a Internet, mas cujo acesso é limitado às pessoas da organização. Utilizando a Apostila 5 – Gestão de Pessoas II – Prof. David Morettini 17 intranet, os funcionários da organização são capazes de trocar ideias sobre qualquer assunto. A rede extranet permite à empresa se conectar com fornecedores, clientes e parceiros estratégicos. Por exemplo, uma transportadora de cargas pode utilizar o sistema Electronic Data Interchange – EDI para trocar informações sobre pedidos e para emissão da documentação para manuseio da carga a ser transportada. Da mesma forma, os responsáveis pelas compras da rede Wal-Mart estão conectados com seus fornecedores via extranet, o que lhes permite trocar informações e fazer o controle dos estoques nas lojas. A videoconferência é uma extensão dos sistemas de intranet e extranet. Ela permite que os funcionários de uma empresa realizem reuniões com pessoas em lugares diferentes. Com as comunicações eletrônicas, não é mais necessário que você esteja à sua mesa ou diante de um estação de trabalho para estar “disponível”. O telefone celular, o pager e os palmtops permitem que você seja alcançado em qualquer lugar durante uma reunião, no horário de almoço, em visita a um cliente do outro lado da cidade ou descansando no clube aos sábados pela manhã. Apostila 5 – Gestão de Pessoas II – Prof. David Morettini 18 7 ESCOLHA DO CANAL DE COMUNICAÇÃO De acordo com Robbins (2005), as pesquisas mais recentes indicam que os canais diferem em relação à sua capacidade de transmitir informações. Alguns são valiosos por sua capacidade de (1) manejar diferentes sinais ao mesmo tempo, (2) facilitar um rápido feedback e (3) ser extremamente pessoal. Outros canais são pobres por serem fracos nestes três fatores. CANAL MUITO RICO CANAL POUCO RICO FIGURA 5: Riqueza de Informações dos Canais de Comunicação. Fonte: Robbins, 2005, p. 244. Como ilustra a Figura 5, a conversa face a face tem a mais alta pontuação em riqueza de canal, pois oferece o máximo de informações transmitidas durante um episódio de comunicação. Ou seja, ela oferece múltiplos sinais de informação (palavras, posturas, expressão facial, gestos, entonações), feedback imediato (tanto Conversas face a face Videoconferências Conversas telefônicas Discursos ao vivo Voice-mails Grupos de discussão on- line, softwares colaborativos (groupware) E-mails Discursos gravados Memorandos, cartas. Relatórios e boletins formais. Apostila 5 – Gestão de Pessoas II – Prof. David Morettini 19 verbal como não-verbal) e o toque pessoal de “estar ali”. As mídias escritas impessoais, como boletins e relatórios em geral, são os canais menos ricos. Conforme Robbins (2005), a escolha do canal depende de a mensagem ser rotineira ou não-rotineira. As mensagens rotineiras costumam ser diretas e apresentar um mínimo de ambiguidade. As não-rotineiras tendem a ser mais complicadas e podem levar a um erro de entendimento. Os executivos podem comunicar mensagens rotineiras eficientemente através de canais fracos em riqueza. Entretanto, a comunicação de mensagens não- rotineiras só será eficaz através de canais ricos. Apostila 5 – Gestão de Pessoas II – Prof. David Morettini 20 8 TIPOS DE BARREIRAS PARA A COMUNICAÇÃO EFICAZ Diversas barreiras podem dificultar ou distorcer a comunicação eficaz. A seguir serão ressaltadas as mais importantes: a) Filtragem De acordo com Robbins (2005), a filtragem se refere à manipulação da informação pelo emissor para que ela seja vista de maneira mais favorável pelo receptor. Por exemplo, quando um executivo diz ao seu superior exatamente aquilo que acredita que o chefe quer ouvir, ele está filtrando a informação. Quanto maior o número de níveis verticais, mais oportunidades para a ocorrência da filtragem. Mas pode-se esperar que a filtragem ocorra sempre que houver diferenças de status. Fatores como o medo de dar más noticias ou o desejo de sempre agradar ao chefe levam os funcionários a dizer a seus superiores exatamente aquilo que eles acreditam que os chefes querem ouvir, distorcendo, assim, a comunicação ascendente. b) Percepção seletiva O receptor no processo de comunicação vê e escuta seletivamente, com base em suas próprias necessidades, motivações, experiências, histórico e outras características pessoais. Os receptores também projetam seus interesses e expectativas quando decodificam as mensagens. O entrevistador que acredita que as mulheres sempre colocam a família antes do trabalho, ao selecionar novos funcionários verá essa tendência em todas as candidatas, quer elas pensem dessa forma ou não. Normalmente, não vemos a realidade; interpretamos o que vemos e chamamos isso de realidade. Apostila 5 – Gestão de Pessoas II – Prof. David Morettini 21 c) Sobrecarga de informação As pessoas têm uma capacidade finita de processar informações. Quando as informações com que temos de trabalhar excedem nossa capacidade de processamento, o resultado é a sobrecarga de informação. Atualmente, as demandas para atender a e-mails, telefones, faxes, reuniões e leituras profissionais aumentam o potencial da sobrecarga de informações entre executivos e profissionais de alta qualificação. (ROBBINS, 2005) Quando as pessoas têm mais informações do que conseguem organizar, elas tendem a selecionar, ignorar ou esquecer informações. O resultado é a perda de informações e comunicação menos eficaz. d) Emoções De acordo com Robbins (2005), a maneira como o receptor se sente no momento em que recebe a mensagem vai influenciar sua maneira de interpretá-la. Uma mesma mensagem pode ser interpretada por você de uma forma caso você se sinta aborrecido ou distraído, e de outra forma caso esteja feliz. Os estados emocionais mais extremos, como euforia ou depressão, têm mais probabilidade de impedir a comunicação eficaz. Nessas situações, tendemos a deixar de lado nossa racionalidade e objetividade para dar lugar apenas às nossas emoções. e) Linguagem Conforme Robbins (2005), as palavras têm significados diferentes para pessoas diferentes. A idade, a educação e o histórico cultural são as três variáveis mais óbvias que influenciam a linguagem usada por uma pessoa e as definições que ela dá às palavras. Nas organizações, os funcionários geralmente provêm de origens diferentes e, portanto, possuem padrões diversos de linguagem. Além disso, o agrupamento de Apostila 5 – Gestão de Pessoas II – Prof. David Morettini 22 funcionários em departamentos cria especialistas que desenvolvem seu próprio jargão ou linguagem técnica. Nas grandes organizações, os funcionários costumam ficar geograficamente dispersos – às vezes, até em diferentes países – e utilizam termos e frases específicos do local onde se encontram. A existência de níveis verticais também pode trazer problemas de linguagem. Por exemplo, foram encontradasdiferenças de sentido para palavras como incentivos e cotas em diferentes níveis hierárquicos. Os altos executivos sempre falam da necessidade de incentivos e cotas, embora tais termos sejam entendidos como manipulação e causem ressentimentos entre os executivos de escalão mais baixo. f) Medo da comunicação Conforme Robbins (2005), entre 5 e 20 por cento da população sofre em relação ao medo da comunicação, ou ansiedade. Embora a maioria deteste falar em público, o medo da comunicação é um problema bem mais sério porque afeta toda uma categoria de técnicas de comunicação. As pessoas que sofrem desse problema sentem tensão ou ansiedade, sem motivo aparente, em relação à comunicação oral ou escrita. Por exemplo, o medo da comunicação oral pode tornar extremamente difícil uma conversa com outra pessoa ou provocar uma grande ansiedade apenas por falar ao telefone. Consequentemente, essas pessoas preferirão lançar mão de faxes ou memorandos para transmitir suas mensagens quando um simples telefonema seria muito mais rápido e adequado. Apostila 5 – Gestão de Pessoas II – Prof. David Morettini 23 AULA 14 – Conflito e negociação. 9 CONFLITO De acordo com Robbins (2005), o conflito pode ser negativo, capaz de gerar condições caóticas que tornam praticamente impossível que os funcionários trabalhem em conjunto, mas, ele pode ser também positivo. Conforme L. L. Putnam e M. S. Poole (1987 apud ROBBINS, 2005), o conflito precisa ser percebido pelas partes envolvidas; a existência ou não do conflito é uma questão de percepção. Se ninguém tiver noção da existência do conflito, há um acordo geral de que ele não existe. Outros aspectos comuns no conflito são a oposição ou incompatibilidade e alguma forma de interação. Esses fatores estabelecem as condições que determinam o ponto inicial do processo de conflito. De acordo com K. W. Thomas, in M. D. Kunnette e L. M. Hough (1992 apud ROBBINS, 2005), o conflito é um processo que tem início quando uma das partes percebe que a outra afeta, ou pode afetar, negativamente alguma coisa que a primeira considera importante. Essa proposição descreve aquele ponto em qualquer atividade quando a interação “passa dos limites” e se torna um conflito entre as partes envolvidas. Engloba um amplo escopo de conflitos experimentados pelas pessoas nas organizações – incompatibilidade de objetivos, diferenças de interpretação dos fatos, desacordos baseados em expectativas de comportamento e assim por diante. Ela inclui todos os níveis de conflitos – dos atos explícitos e violentos até as formas mais sutis de desacordo. A seguir três visões sobre o conflito nas organizações: a) A visão tradicional sobre o conflito argumenta que o conflito deve ser evitado – ele seria a indicação de que alguma coisa não está funcionando direito dentro do grupo. Todo o conflito é ruim. Ele é visto como contraproducente e usado como sinônimo de violência, destruição e irracionalidade para reforçar seu aspecto negativo. Apostila 5 – Gestão de Pessoas II – Prof. David Morettini 24 A visão tradicional é consistente com as atitudes sobre comportamento de grupo que prevaleciam nas décadas de 1930 e 1940. O conflito era visto nesse contexto como uma disfunção resultante de falhas de comunicação, falta de abertura e de confiança entre as pessoas e fracasso dos executivos em atender às necessidades e aspirações de seus funcionários. Como, por esta visão, todo conflito deve ser evitado, precisamos apenas prestar atenção às suas causas e corrigir o mau funcionamento para melhorar o desempenho do grupo e da organização. b) A visão de relações humanas (final dos anos 40 até a metade da década de 1970) argumenta que o conflito é uma consequência natural e inevitável em qualquer grupo, não sendo necessariamente ruim, podendo mesmo ter o potencial de ser uma força positiva na determinação do desempenho do grupo. Segundo essa visão o conflito não pode ser eliminado. Ela aceita o conflito. c) A visão interacionista propõe não apenas que o conflito pode ser uma força positiva, como defende a tese de que um mínimo de conflito é absolutamente necessário para o desempenho eficaz do grupo. Ela encoraja, no sentido de que um grupo harmonioso, pacífico, tranquilo e cooperativo está na iminência de tornar-se estático, apático e insensível à necessidade de mudança e inovação. Segundo esta visão, o que torna o conflito bom ou ruim é a sua natureza. A visão interacionista não propõe que todos os conflitos sejam bons. Na verdade, alguns conflitos apoiam os objetivos do grupo e melhoram seu desempenho; estes são os conflitos funcionais, formas construtivas de conflito. Por outro lado, existem conflitos que atrapalham o desempenho do grupo; são formas destrutivas ou disfuncionais de conflito. Existem três tipos de conflitos que diferenciam um conflito funcional de um disfuncional: de tarefa, de relacionamento e de processo. O conflito de tarefa está relacionado ao conteúdo e aos objetivos do trabalho. O conflito de relacionamento se refere às relações interpessoais. Apostila 5 – Gestão de Pessoas II – Prof. David Morettini 25 O conflito de processo relaciona-se à maneira como o trabalho é realizado. De acordo com Robbins (2005), os estudos demonstram que os conflitos de relacionamento são quase sempre disfuncionais, porque, aparentemente, o atrito e as hostilidades interpessoais inerentes aos conflitos de relacionamento aumentam os choques de personalidades e reduzem a compreensão mútua, o que impede a realização das tarefas organizacionais. Por outro lado, níveis reduzidos de conflito de processo e níveis baixos a moderados de conflito de tarefa são funcionais. Para que o conflito de processo seja produtivo, seu nível tem de ser baixo. A discussão intensa sobre quem deve fazer o quê torna-se disfuncional quando gera incertezas sobre os papéis de cada um, aumenta o tempo de realização das tarefas e leva os membros a trabalhar com propósitos difusos. Um nível baixo a moderado de conflito de tarefa demonstra consistentemente um efeito positivo no desempenho do grupo por estimular a discussão de ideias que ajudam o trabalho em equipe. Apostila 5 – Gestão de Pessoas II – Prof. David Morettini 26 10 O PROCESSO DO CONFLITO De acordo com Robbins (2005), o processo do conflito pode ser visto como um processo de cinco estágios: • Oposição potencial ou incompatibilidade. • Cognição e personalização • Intenções. • Comportamento. • Consequências. Apostila 5 – Gestão de Pessoas II – Prof. David Morettini 27 DIAGRAMA 1: O Processo do Conflito Fonte: Robbins, 2005, p. 328. Estágio I: Oposição potencial ou incompatibilidade. Condições antecedentes: • Comunicação • Estrutura • Variáveis Pessoais Estágio II: Cognição e personalização. Conflito Percebido Conflito Sentido Estágio III: Intenções. Intenções para a administração do conflito: • Competição • Colaboração • Compromisso • Não-enfrentamento • Acomodação Estágio IV: Comportamento. Conflito aberto: • Comportamento das partes • Reação dos outros Estágio V: Consequências. Melhora do Piora do desempenho do grupo desempenho do grupo Apostila 5 – Gestão de Pessoas II – Prof. David Morettini 28 a) Estágio I: oposição potencialou incompatibilidade O primeiro passo do processo do conflito é a presença de condições que criam oportunidades para o seu surgimento. Elas não precisam levar diretamente ao conflito, mas uma delas deve existir para que ele apareça. Essas condições (que também podem ser consideradas como fontes ou causas dos conflitos) foram condensadas em três categorias gerais: comunicação, estrutura e variáveis pessoais. Na comunicação, as pesquisas sugerem que as diferentes conotações das palavras, os jargões, a troca insuficiente de informações e os ruídos no canal de comunicação são obstáculos para a comunicação e potenciais condições antecedentes para os conflitos. As evidências demonstram que as dificuldades semânticas são resultado de diferenças de treinamento, de percepção seletiva e de informações inadequadas sobre os outros. As pesquisas encontraram outro dado surpreendente: o potencial de conflito aumenta quando há escassez ou excesso de comunicação. A estrutura está relacionada com as variáveis: tamanho do grupo, grau de especialização nas tarefas delegadas aos membros do grupo, clareza de jurisdição, compatibilidade entre membros e metas, estilos de liderança, sistemas de recompensas e o grau de dependência entre os grupos. Quanto maior o grupo e mais especializadas suas atividades, maior a probabilidade de conflitos. O tempo de casa e os conflitos parecem estar inversamente relacionados. O potencial de conflito parece maior quando os membros do grupo são mais jovens e quando a rotatividade é grande. Quanto maior a ambiguidade na definição das responsabilidades pelas ações, maior o potencial de conflito. Essas ambigüidades de jurisdição aumentam a luta interna no grupo pelo controle de recursos e de território. Os grupos dentro das organizações possuem metas diferentes. Por exemplo, a área de compras está preocupada com a aquisição de insumos em tempo hábil e a preços baixos; a área de marketing está preocupada com a colocação dos produtos Apostila 5 – Gestão de Pessoas II – Prof. David Morettini 29 no mercado e com o aumento de receita; a área de controle de qualidade está preocupada em melhorar a qualidade e em assegurar que os produtos da empresa atinjam os padrões; e a área de produção busca a eficiência das operações mantendo constante o fluxo da produção. Essa diversidade de objetivos entre os grupos é uma grande fonte de conflitos. Um exemplo muito comum é haver conflitos entre a área de vendas e a área de crédito de uma organização. Quando a área de crédito rejeita um cliente por haver a possibilidade de inadimplência, a área de vendas costuma questionar o descredenciamento do cliente. Um modelo excessivamente participativo estimula o conflito. As pesquisas tendem a confirmar que a participação e o conflito estão altamente correlacionados, talvez porque a participação encoraje a promoção das diferenças. Os sistemas de recompensas também podem gerar conflitos quando o ganho de um se dá com a perda de outro. As variáveis pessoais incluem o sistema de valores de cada pessoa e as características de personalidade, responsáveis pelas diferenças entre os indivíduos. Você já conheceu alguém de quem não gostou logo de cara? Você discordou da maioria das opiniões dessa pessoa. Tudo nela o desagradou, até características como o som da voz, o jeito de sorrir e a personalidade. Quando temos de trabalhar com alguém assim, geralmente isso é uma fonte potencial de conflitos. As evidências indicam que determinados tipos de personalidade – por exemplo, indivíduos muito autoritários ou aqueles com autoestima baixa – tendem a causar conflitos. As diferenças de valores são a melhor explicação para diversas questões, como preconceitos, desacordos sobre a contribuição de alguém para o grupo e a recompensa merecida, ou a avaliação da qualidade de um determinado livro. Há julgamento de valores quando João não gosta de negros e Diana considera essa posição fruto da ignorância dele, ou quando um funcionário acha que deveria ganhar 55 mil reais por ano e seu chefe considera que ele merece 50 mil no máximo, ou quando Ana acha um livro maravilhoso enquanto Maria pensa que é um lixo. As diferenças em sistemas de valores são uma fonte importante de conflitos potenciais. Apostila 5 – Gestão de Pessoas II – Prof. David Morettini 30 b) Estágio II: cognição e personalização Se as condições citadas no Estágio I afetam negativamente o interesse de uma das partes, o potencial de oposição ou de incompatibilidade se realiza neste segundo estágio. As condições antecedentes só levam ao conflito se uma ou mais partes envolvidas forem afetadas por ele e estiverem conscientes disso. Isto é, uma ou todas as partes percebem as condições antecedentes como um conflito. Contudo, o fato de um conflito ser percebido não significa que será personalizado. Em outras palavras, “A pode estar consciente que A e B estão seriamente em desacordo... mas isso pode não deixar A tenso nem ansioso, e pode não ter nenhum impacto sobre a afeição de A por B”. É no nível do sentimento, quando as pessoas se envolvem emocionalmente, que as partes experimentam ansiedade, tensão, frustração ou hostilidade. Tenha em mente dois pontos. Primeiro, o Estágio II é importante por ser onde as questões do conflito costumam ser definidas. E a parte do processo em que os envolvidos decidem sobre o que é o conflito. Essa “definição de sentido” é crítica porque a maneira como o conflito é definido acabará determinando as consequências que ele pode acarretar. Por exemplo, se eu definir nosso desacordo salarial como uma situação de soma-zero (ou seja, se você conseguir o aumento que deseja, a quantia não estará disponível para mim), estarei muito menos disposto a colaborar do que se eu entender o conflito como uma situação potencial de ganha- ganha (ou seja, o total de recursos para os salários pode ser ampliado para que ambos possamos receber nossos aumentos). Assim, a definição de um conflito é importante porque delineia o conjunto das possíveis consequências. O segundo ponto é que as emoções têm um papel preponderante na configuração das percepções. Por exemplo, descobriu-se que emoções negativas produzem um excesso de simplificação das questões, diminuição da confiança e interpretações negativas do comportamento do outro. Em vez disso, os sentimentos positivos aumentam a tendência a enxergar o potencial de relações entre os elementos de um problema, a ter uma visão mais ampla da situação e a desenvolver soluções mais inovadoras. Apostila 5 – Gestão de Pessoas II – Prof. David Morettini 31 c) Estágio III: Intenções De acordo com Robbins (2005), as intenções ficam entre as percepções e emoções e o comportamento explícito das pessoas. Elas são decisões de agir de uma determinada maneira. As intenções foram separadas em um estágio próprio, porque precisamos inferir as intenções dos outros para sabermos como responder ao seu comportamento. Muitos conflitos são provocados simplesmente porque uma das partes infere erroneamente as intenções da outra. Além disso, costuma haver um certo lapso entre intenções e comportamento, de maneira que o comportamento nem sempre reflete fielmente as intenções de uma pessoa. Com o uso de duas dimensões – cooperação (o grau em que uma das partes tenta satisfazer os interesses da outra) e afirmação (o grau em que uma das partes tenta satisfazer os seus próprios interesses) – podem-se identificar cinco intenções para a administração de conflitos: • competir (afirmativa e não cooperativa) – quando uma pessoa busca a satisfação de seus próprios interesses, independentemente do impacto que isso terá sobre as outras partes em conflito. Exemplos incluem a tentativa de atingir suas metas em detrimento das metas dosoutros, a tentativa de convencer o outro de que você está certo e ele errado, e a tentativa de imputar a culpa de um problema a outra pessoa. • colaborar (afirmativa e cooperativa) – quando as partes conflitantes tentam satisfazer os interesses de ambas, temos uma situação de cooperação e busca de resultados mutuamente benéficos. As partes preferem solucionar o problema esclarecendo as diferenças em vez de tentar acomodar diversos pontos de vista. Exemplos desse tipo de intenção são a busca de uma solução ganha-ganha, que permita que ambas as partes alcancem suas metas, e a busca de uma conclusão que incorpore as perspectivas de ambas as partes. • evitar (não afirmativa e não cooperativa) – a pessoa reconhece que o conflito existe e tenta suprimi-lo ou livrar-se dele. Exemplos dessa Apostila 5 – Gestão de Pessoas II – Prof. David Morettini 32 intenção incluem a tentativa de simplesmente ignorar um conflito e a de evitar pessoas com quem se tem discordâncias. • acomodar-se (não afirmativa e cooperativa) – quando uma das partes procura apaziguar a outra, pode se dispor a colocar os interesses dela antes dos seus. Em outras palavras, uma das partes pode se sacrificar para que o relacionamento se mantenha. Exemplos disso são a disposição de sacrificar o seu objetivo par que a outra parte possa atingir o dela, o apoio para a opinião de alguém sem concordar totalmente com ela, e o perdão dado a alguém por um infração, permitindo assim que outras ocorram subsequentemente. • conceder ( entre as duas dimensões) – quando cada parte do conflito abre mão de algo, acontece um compartilhamento, que desemboca em um resultado de compromisso. Nessa intenção de conceder, não há exatamente vencedores e vencidos. O que há é uma disposição de fracionar o objeto do conflito, e aceitar uma solução que satisfaça parcialmente os interesses de ambas as partes. Exemplos disso podem ser a disposição de aceitar um aumento de 100 reais por mês em vez dos 200 reivindicados, uma concordância parcial com determinado ponto de vista e o reconhecimento de parte da culpa por uma infração. Conforme Robbins (2005), as pesquisas indicam que as pessoas têm uma disposição básica para administrar conflitos de uma determinada maneira. Mais especificamente, elas têm preferências entre os cinco tipos de intenções para administração de conflitos aqui descritos. É, portanto, mais adequado encarar as cinco intenções para a administração de conflitos como razoavelmente fixas, e não como um conjunto de alternativas que as pessoas escolhem para atender a situações especificas. Isso quer dizer que, quando confrontadas com uma situação de conflito, algumas pessoas sempre querem ganhar a qualquer preço, outras procuram uma solução ótima, algumas tentam fugir do conflito, outras tentam se acomodar e há as que procuram “repartir a diferença”. Apostila 5 – Gestão de Pessoas II – Prof. David Morettini 33 d) Estágio IV: comportamento Conforme Robbins (2005), é neste estágio que os conflitos se tornam visíveis. O estágio do comportamento inclui as declarações, as ações e as reações das partes envolvidas no conflito. Pode-se pensar neste estágio como um processo dinâmico de interação. Por exemplo, você me faz uma exigência; eu respondo discutindo; você me faz uma ameaça; eu ameaço você de volta; e assim por diante. A seguir, no Diagrama 2, uma visualização do comportamento conflitante. Conflito Esforços explícitos para destruir a outra parte Aniquilador Agressão física Ameaças e ultimatos Ataques verbais Questionamento explícito ou desafio Desacordos ou malentendidos leves Nenhum conflito Figura 2: Continuum de intensidade dos Conflitos Fonte: Robbins, 2005, p. 332. Todos os conflitos existem em algum ponto deste continuum. Na parte inferior, temos conflitos caracterizados por formas de tensão sutis, indiretas e muito controladas. Um exemplo seria o de um aluno que questionar em aula um comentário que o professor acabou de fazer. A intensidade dos conflitos vai crescendo à medida que subimos no continuum até chegar às formas altamente destrutivas. As greves, as revoltas e as guerras estão claramente nesse patamar. De maneira geral, pode-se dizer que os conflitos que atingem o patamar mais alto quase sempre são disfuncionais. Os conflitos funcionais geralmente estão confinados nos patamares mais baixos. (ROBBINS, 2005) Apostila 5 – Gestão de Pessoas II – Prof. David Morettini 34 Para diminuir a intensidade de um conflito disfuncional ou aumentar a intensidade de um conflito muito fraco, pode-se usar as técnicas de administração de conflitos conforme os Quadros 1 (Técnicas de Resolução de Conflitos) e 2 (Técnicas de Estimulação de Conflitos), a seguir. Resolução de problemas Encontros entre as partes conflitantes com o propósito de identificar o problema e resolvê-lo por meio de uma discussão aberta. Metas superordenadas Criação de uma meta compartilhada que não possa ser atingida sem a cooperação entre as partes conflitantes. Expansão de recursos Criar uma solução ganha-ganha para as partes conflitantes, através da expansão de recursos escassos. Não-enfrentamento Suprimir o conflito ou evadir-se dele. Suavização Minimizar as diferenças entre as partes conflitantes ao enfatizar seus interesses comuns. Concessão Cada uma das partes abre mão de algo valioso. Comando autoritário A administração usa sua autoridade formal para resolver o conflito e depois comunica seu desejo às partes envolvidas. Alteração de variáveis humanas Utilização de técnicas de mudança comportamental como treinamento em relações humanas, para alterar atitudes e comportamentos que causam conflitos. Alteração de variáveis estruturais Mudanças na estrutura formal da organização e nos padrões de interação entre as partes conflitantes, através de redesenho de atribuições, transferências, criação de posições coordenadas etc. QUADRO 1: Técnicas de Resolução de Conflitos Fonte: Robbins, 2005, p. 333. Apostila 5 – Gestão de Pessoas II – Prof. David Morettini 35 Comunicação Utilização de mensagens ambíguas ou ameaçadoras para aumentar os níveis de conflito. Inclusão de estranhos Incluir nos grupos de trabalho funcionários com históricos, valores, atitudes ou estilos gerenciais diferentes daqueles dos seus membros. Reestruturação da organização Realinhamento dos grupos de trabalho, alteração de regras e regulamentos, aumento da interdependência e outras mudanças estruturais similares que rompam o status quo. Nomeação de um advogado do diabo. Designação de um crítico que discuta, propositalmente, as posição defendidas pela maioria do grupo. QUADRO 2: Técnicas de Estimulação de Conflitos Fonte: Robbins, 2005, p. 333. e) Estágio V: consequências As consequências relacionadas ao jogo de ação e reação entre as partes de um conflito podem ser funcionais, quando resultam em melhoria do desempenho do grupo; ou disfuncionais, quando atrapalham o seu desempenho. (ROBBINS, 2005) Consequências funcionais – situações em que níveis baixos ou moderados de conflito, relacionadoà tarefa ou processo, podem melhorar a eficácia do grupo. Os conflitos são construtivos quando aumentam a qualidade das decisões, estimulam a criatividade e a inovação, encorajam o interesse e a curiosidade dos membros do grupo, oferecem um canal para o arejar dos problemas e liberar as tensões, e fomentam um ambiente de autoavaliação e de mudança. O conflito pode melhorar a qualidade do processo decisório por permitir que todos os pontos sejam avaliados nas decisões importantes, especialmente aqueles que não são usuais ou que são defendidos por minorias. O conflito é um antídoto para o pensamento grupal. Ele evita que o grupo passivamente “assine embaixo” de decisões que podem estar baseadas em premissas fracas. O conflito desafia o status quo e, por isso, estimula a criação de novas ideias, promove a reavaliação das metas e das atividades do grupo e aumenta a probabilidade de que este responda às mudanças. Apostila 5 – Gestão de Pessoas II – Prof. David Morettini 36 Consequências Disfuncionais – as consequências mais indesejáveis são o descompasso na comunicação, a redução da coesão do grupo e a subordinação das metas do grupo às prioridades das lutas entre seus componentes. Em situações extremas, o conflito pode paralisar o grupo e até ameaçar potencialmente sua sobrevivência. A seguir, alguns exemplos de organizações que estimulam o conflito funcional: (ROBBINS, 2005) • A Walt Disney Company estimula grandes reuniões espontâneas e destituídas de regras com o propósito de criar atritos que levem a novas ideias criativas. • A Hewlett-Packard recompensa os divergentes reconhecendo os indivíduos “quixotescos”, aqueles que sustentam suas ideias mesmo quando elas são rejeitadas pela direção da empresa. • A Herman Miller, fabricante de móveis para escritório, possui um sistema formal pelo qual os funcionários avaliam e criticam seus chefes. • A IBM também tem um sistema formal que encoraja a dissensão (divergência). Os funcionários podem questionar seus chefes impunemente. Se o desacordo for passível de resolução, o sistema oferece um mediador para o conflito. • O grupo Shell e a General Electric utilizam a figura do “advogado do diabo” em seus processos decisórios. Quando o comitê de política, por exemplo, estuda uma mudança importante – como entrar ou sair de um setor de negócios, ou realizar um grande investimento de capital – , geralmente é criado um grupo para desenvolver argumentações pró e contra a decisão. Esse processo frequentemente resulta em decisões e alternativas que ainda não haviam sido consideradas. Apostila 5 – Gestão de Pessoas II – Prof. David Morettini 37 11 NEGOCIAÇÃO De acordo com Robbins (2005), a negociação permeia as interações de praticamente todo o mundo em grupos e em organizações. Hoje, nas organizações baseadas no trabalho em equipe, em que os membros precisam trabalhar com colegas sobre os quais não têm nenhuma autoridade e com quem não podem sequer compartilhar a chefia, as habilidades de negociação tornam-se críticas. Negociação é o processo pelo qual duas ou mais partes trocam bens ou serviços e buscam um acordo sobre as vantagens dessa troca para elas. (WALL JR, 1965 apud ROBBINS, 2005) Esta definição, conforme Robbins (2005) negociação e barganha tem a mesma conotação. Conforme R. E. Walton e R. B. McKersie (1965 apud ROBBINS, 2005), existem duas abordagens gerais para a negociação – a barganha distributiva e a barganha integrativa. A principal característica da barganha distributiva é que ela opera em condições de soma-zero: tudo o que eu conseguir ganhar será à sua custa e vice- versa. Por exemplo, você vê, em um jornal, o anúncio de um carro usado. Parece ser exatamente o que você procura. Você vai ver o carro. Ele está em ótimo estado e você quer ficar com ele. O proprietário diz o preço. Você não quer pagar tanto assim. Vocês dois, então, negociam o preço. Essa estratégia de negociação é chamada de barganha distributiva. Cada centavo que o vendedor tirar do preço será um centavo que o comprador poupará. Por outro lado, cada centavo a mais no preço será um centavo de prejuízo para o comprador. Na barganha distributiva, cada uma das partes possui um ponto-alvo que define o que ele quer conseguir. Cada uma delas tem também um ponto de resistência, que marca o pior resultado aceitável – o ponto mínimo abaixo do qual é melhor sair da negociação do que aceitar um acordo. Na barganha distributiva, a tática usada é tentar fazer com que o oponente concorde com seu ponto-alvo, ou chegue o mais perto possível dele. Exemplos dessa tática são as tentativas de convencer seu oponente de que o alvo dele não pode ser atingido e a melhor solução é um acordo próximo do seu alvo; de convencê-lo de que o seu alvo é justo e o dele, injusto; e de persuadir o oponente a Apostila 5 – Gestão de Pessoas II – Prof. David Morettini 38 sentir-se emocionalmente generoso e, assim, aceitar um resultado próximo do seu alvo. Ao contrário da barganha distributiva, a resolução de problemas de maneira integrativa opera sob a premissa de que há um ou mais acordos que podem gerar uma solução ganha-ganha. Por exemplo, um representante de vendas de uma confecção de roupas esportivas femininas fecha um contrato de venda de 15 mil reais com um pequeno varejista. O representante envia o pedido para o departamento de crédito de sua empresa. É informado, então, de que a empresa não aprovaria o crédito por causa do histórico de mau pagador do cliente. No dia seguinte, o representante e o gerente de crédito se reúnem para discutir o problema. O representante não quer perder o negócio. O gerente de crédito também não quer, mas tem medo de trabalhar com um cliente inadimplente. Eles examinam suas posições abertamente. Depois de muita discussão, chegam a uma solução que favorece ambos: o gerente de crédito aprova a venda, mas o dono da loja terá de oferecer uma garantia bancária que assegure o pagamento caso o débito não seja saldado em 60 dias. Em termos do comportamento intra-organizacional, se tudo se mantiver estável, a barganha integrativa é preferível à barganha distributiva. A barganha integrativa constrói relacionamentos de longo prazo e facilita o trabalho conjunto no futuro. Ela une os negociadores e todos saem da mesa de barganha sentindo-se vitoriosos. A barganha distributiva, por seu lado, deixa uma das partes sentindo-se como a perdedora. Acaba gerando animosidades e aprofunda as divisões entre pessoas que precisam trabalhar juntas constantemente. Para que haja mais barganhas integrativas nas organizações, precisa-se desenvolver as condições necessárias para este tipo de negociação, tais como: as partes envolvidas precisam ser francas em suas informações e preocupações, ter sensibilidade em relação às necessidades mútuas, ter a capacidade de confiar umas nas outras e mostrar disposição de manter uma certa flexibilidade. Como essas condições raramente são encontradas nas organizações, não é surpreendente que as negociações tenham geralmente uma dinâmica do tipo ganhar-a-qualquer-custo. Apostila 5 – Gestão de Pessoas II – Prof. David Morettini 39 Característica da Barganha Característica Distributiva Característica Integrativa Recursos disponíveis Motivações primárias Interesses primários Foco do relacionamento Quantidade fixa dos recursos a serem divididos. Eu ganho, você perde. Oposição de um ao outro. Curto prazo. Quantidade variável dos recursos a serem divididos. Eu ganho, você ganha. Convergência ou congruência com o outro. Longo prazo. Quadro 3: Barganha distributivaX Barganha integrativa. Fonte: Baseado em R. J. Lewicki e J. A. Litterer. Negotiation, Homewood: Irwin, 1985, p. 280 apud Robbins, 2005, p. 337. Apostila 5 – Gestão de Pessoas II – Prof. David Morettini 40 12 O PROCESSO DE NEGOCIAÇÃO De acordo com R. J. Lewicki (1981apud ROBBINS, 2005), a negociação compreende cinco passos: • Preparação e planejamento. • Definição das regras básicas. • Esclarecimentos e justificativas. • Barganha e solução de problemas. • Conclusão e implementação. a) Preparação e planejamento Antes de começar a negociação é preciso responder as seguintes questões: Qual é a natureza do conflito? Qual o histórico dessa negociação? Quem está envolvido e quais são suas percepções sobre o conflito? O que você pretende com essa negociação? Quais são as suas metas? – Se você fosse um gerente de suprimentos da Dell Computer, por exemplo, e sua meta fosse conseguir um desconto significativo de seu fornecedor de teclados, você deveria certificar-se de que esse objetivo fosse a coisa mais importante na sua discussão, não permitindo que outros assuntos tomassem importância maior. Ajuda muito colocar no papel as metas seguidas por um conjunto de resultados possíveis – do “mais desejável” até o “mínimo aceitável” – para manter sua atenção focada. Você também pode preparar uma avaliação daquilo que acredita serem as metas da outra parte. O que provavelmente ela irá querer? Qual a firmeza das posições assumidas por ela? Quais seriam os acordos aceitáveis por ela? Quando você consegue antecipar a posição do seu oponente, está mais preparado para contra-argumentar com fatos ou números que embasem sua posição. Apostila 5 – Gestão de Pessoas II – Prof. David Morettini 41 Após reunir as informações necessárias, você as utiliza para elaborar uma estratégia. Precisa antecipar a resposta para qualquer situação que aparecer. Como parte da estratégia, você precisa determinar a melhor alternativa para um acordo negociado e o menor valor aceitável para negociar um acordo. Qualquer oferta acima do menor nível aceitável é melhor do que o impasse. Por outro lado, você não deve esperar sucesso na negociação se não for capaz de oferecer à outra parte uma proposta mais atraente do que o mínimo dela. Se partir para a negociação tendo uma ideia sobre o mínimo do oponente, mesmo que não seja capaz de satisfazê-lo, você poderá conseguir que ele o modifique. b) Definição das Regras Básicas Conforme Robbins (2005), depois de ter feito seu planejamento e elaborado sua estratégia, você estará pronto para definir, com seu oponente, as regras e procedimentos que guiarão a negociação. Quem serão os negociadores? Onde a negociação será realizada? Quais as limitações de tempo existentes? Quais serão os itens que estarão em negociação? Haverá algum procedimento a ser seguido caso se chegue a um impasse? Durante essa fase, as partes também exporão suas propostas ou demandas. c) Esclarecimento e justificativa Depois que as posições iniciais forem estabelecidas, ambas as partes começarão a explicar, ampliar, esclarecer, reforçar e justificar suas demandas originais. Não é preciso haver confronto. Na verdade, esta é mais uma oportunidade de explicar e informar a outra parte sobre as questões envolvidas, por que elas são Apostila 5 – Gestão de Pessoas II – Prof. David Morettini 42 importantes e como cada um chegou às demandas iniciais. Neste momento, pode ser interessante oferecer à outra parte algum material informativo que ajude você a fundamentar a sua posição. d) Barganha e solução de problemas A essência do processo de negociação é o verdadeiro toma-lá-dá-cá na tentativa de se chegar a um acordo. Ambas as partes terão, inevitavelmente de fazer algumas concessões. e) Conclusão e implementação O passo final do processo de negociação é a formalização do acordo alcançado e o desenvolvimento de quaisquer procedimentos necessários para sua implementação e monitoramento. Em grandes negociações – que podem incluir acordos trabalhistas, barganhas sobre aluguéis, compras de imóveis ou a discussão dos termos de uma oferta de trabalho em uma empresa –, o acordo deve ser fechado com todas as especificidades expressas em um contrato formal. Em muitos casos, entretanto, o fechamento da negociação nada mais é do que um aperto de mãos. Apostila 5 – Gestão de Pessoas II – Prof. David Morettini 43 13 QUESTÕES DA NEGOCIAÇÃO De acordo com Robbins (2005), existem quatro questões atuais sobre a negociação: • O papel dos traços de personalidade • As diferenças quanto ao gênero na negociação • Os efeitos das diferenças culturais nos estilos de negociação • A utilização de terceiros para ajudar a resolver as diferenças a) O papel dos traços de personalidade na negociação Conforme Robbins (2005), diversos estudos sobre a relação entre personalidade e negociação indicam que não há efeitos diretos significativos dos traços de personalidade sobre o processo de barganha nem sobre os resultados da negociação. Essa conclusão é importante porque sugere que devemos nos concentrar nos assuntos e fatores situacionais de cada barganha, e não na personalidade do oponente. b) Diferenças quanto ao gênero na negociação De acordo com Robbins (2005), homens e mulheres negociam de maneira semelhante, mas o gênero influencia o resultado da negociação. O fato de existir um estereótipo, não comprovado, definindo as mulheres como mais cooperativas, agradáveis e voltadas para o relacionamento nas negociações, quando comparadas aos homens, implica que os homens tendem a conseguir melhores resultados nas negociações, ainda que a diferença seja pequena. Já se postulou que essa diferença se deve ao fato de que os homens e mulheres atribuem valores diferentes aos resultados. “Pode ser que um aumento Apostila 5 – Gestão de Pessoas II – Prof. David Morettini 44 salarial ou uma sala mais ampla sejam menos importantes para as mulheres do que a construção e manutenção de uma boa relação interpessoal.” Quando homens e mulheres possuem bases de poder semelhantes, não há diferenças significativas em seus estilos de negociação. c) Diferenças culturais nas negociações De acordo com Robbins (2005), os estilos de negociação variam claramente de acordo com a cultura do país. Os franceses gostam do conflito. Eles frequentemente conquistam reconhecimento e constroem sua reputação pensando e agindo contra os outros. Em consequência, levam muito tempo para negociar seus acordos e não se mostram muito preocupados com o fato de seus oponentes gostarem ou não deles. Os chineses também alongam as negociações, mas porque acreditam que elas são um processo interminável. No momento em que você pensa que discutiu todos os detalhes e chegou a uma solução com um executivo chinês, ele pode exibir um sorriso e simplesmente iniciar todo o processo novamente. Como os japoneses, os chineses usam a negociação, mais do que para ajustar pontas soltas em um acordo, para construir um relacionamento e um comprometimento visando ao trabalho conjunto. Os norte-americanos são internacionalmente conhecidos por sua impaciência e pelo desejo de ser apreciado. Os negociadores mais astutos de outros países costumam usar essas características para levar vantagens, alongando as negociações e criando condicionantes de amizade no acordo final. Apostila 5 – Gestão de Pessoas II – Prof. David Morettini 45 • Italianos, alemães e franceses não elogiam os executivosantes de criticá-los. • Os norte-americanos têm o hábito de fazer primeiramente os elogios, o que é visto pelos europeus como manipulação. • Os israelenses, acostumados a reuniões muito rápidas, não têm paciência com conversas sem relevância. • Os executivos ingleses costumam se queixar de conversas demasiadas em uma negociação. • Os executivos indianos têm o costume de interromper o que o outro está falando. Quando um interlocutor ouve tudo, sem interromper nem fazer perguntas, os indianos acham que eles não estão prestando atenção. • Os norte-americanos costumam misturar sua vida profissional com a pessoal. Para eles, é absolutamente normal perguntar a um colega, por exemplo, como foi seu fim de semana. Em algumas culturas, essa pergunta pode parecer intrusiva pois existe uma separação total entre o lado profissional e o privado. • Os brasileiros utilizam a palavra “Não” com muita frequência. Em um estudo de negociações de meia-hora, os brasileiros usaram a palavra não, em média, 83 vezes, enquanto os japoneses cinco e os norte-americanos nove. • Os brasileiros não costumam impor períodos de silêncio durante uma negociação. Os japoneses e os norte-americanos já usam esta comunicação não verbal com mais frequência. • Os brasileiros costumam interromper seus oponentes com mais frequência do que os norte-americanos e japoneses. • Os brasileiros costumam ter mais contatos físicos com seus oponentes do que os norte-americanos e japoneses. QUADRO 4: Características culturais de alguns países em uma negociação. Fonte: Robbins, 2005, p. 340. Apostila 5 – Gestão de Pessoas II – Prof. David Morettini 46 d) Negociações por meio de uma terceira parte Conforme Robbins (2005), em situações de impasse, isto é, na falta da capacidade de resolver suas diferenças por meio da negociação direta, as partes podem optar pela utilização de uma terceira parte capaz de ajudar a encontrar uma solução. Existem dois papéis básicos da terceira parte: • Mediador – é um terceiro neutro que facilita uma solução negociada por meio do emprego da razão e da persuasão, da sugestão de alternativas e assim por diante. Os mediadores são muito utilizados em negociações trabalhistas e em disputas jurídicas cíveis. Para a eficácia do mediador, ele precisa ser visto como neutro e não coercitivo pelas partes. • Árbitro – é um terceiro com autoridade para ditar um acordo. A arbitragem pode ser voluntária (requerida pelas partes) ou compulsória (imposta por lei ou contrato). A autoridade do árbitro varia de acordo com as regras estabelecidas pelos negociadores. Por exemplo, ele pode estar limitado a escolher uma das últimas ofertas de um dos negociadores ou sugerir um ponto de acordo que não seja comprometedor, ou pode ser livre para fazer qualquer julgamento que considerar correto. Apostila 5 – Gestão de Pessoas II – Prof. David Morettini 47 REFERÊNCIAS ROBBINS, Stephen Paul; tradução técnica Reynaldo Marcondes. Comportamento Organizacional. 11. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005.
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