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142 CAPÍTULO 7 ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE ÁGUA DECANTAÇÃO OU SEDIMENTAÇÃO Texto 07 INTRODUÇÃO O processo de sedimentação para a remoção de partículas sólidas em suspensão é um dos mais comuns no tratamento de água. Consiste na utilização das forças gravitacionais para separar partículas de densidade superior a da água, depositando-as em uma superfície ou zona. Ou seja, na sedimentação se verifica a deposição de matéria em suspensão, pela ação da gravidade. Este processo consiste em tornar as águas que carregam materiais em suspensão, mais lentos, provocando a sedimentação. Isso ocorre nos decantadores ou sedimentadores que são geralmente tanques retangulares com pontos de descarga. Em estações de tratamento de água convencionais os decantadores são horizontais simples que tem boa profundidade e volume, que retém a água por longo tempo, favorecendo a deposição dos flocos. Em algumas cidades podem-se observar decantadores verticais que tem um menor tempo de retenção da água, porem são necessários equipamentos como módulos tubulares que dificultam a saída dos flocos. As partículas que não são removidas na sedimentação, seja por seu pequeno tamanho ou por serem muito próxima a da água, deverão ser removidas por filtração. TEORIA DA SEDIMENTAÇÃO Partículas discretas: são partículas que não mudam de tamanho, forma ou densidade durante o processo. Partículas floculentas: podem apresentar-se aglomeradas e não mantém constantes suas características físicas. 143 A teoria da sedimentação admite a presença de partículas discretas, as quais, quando liberadas em um líquido de menor densidade, tem sua velocidade de sedimentação acelerada sob a ação da gravidade, agindo sobre ela, inicialmente, o peso aparente. E - empuxo Pa P - peso Por sua vez, o liquido age sob a partícula com uma força oposta ao seu peso aparente, chamada força de atrito ou de arraste que pode ser expressa por: 2 2 1 SD VACFa CD = coeficiente de arraste; = peso específico da água; A = área da secção transversal da partícula; vS = velocidade de sedimentação da partícula À medida que a sedimentação prossegue, a força de atrito que se opõe ao movimento da partícula torna-se cada vez maior, até que se alcança um equilíbrio entre estas forças e o movimento torna-se uniforme e a velocidade de sedimentação constante. OBS.: Para remoção de uma partícula discreta Re 1,0, ou seja, para a remoção da partícula discreta é necessário um regime o mais laminar possível. MECANISMO DA SEDIMENTAÇÃO veo vso vr ve vs vr L 144 Seja uma partícula qualquer, situada à altura H no inicio da zona de sedimentação de um decantador de fluxo horizontal. Esta partícula estará sujeita a duas velocidades: Velocidade horizontal – devido ao movimento da água no decantador, chamada de ve. Velocidade vertical – devido a ação da gravidade chamada de vs. Sob a ação da velocidade resultante (vr = ve + vs) a partícula sedimentará após um tempo (t) , em um determinado comprimento (L) do decantador. Teoricamente, todas as partículas com velocidade de sedimentação maior ou igual a velocidade de escoamento serão removidas. es vv No entanto, a Partícula crítica, que é uma partícula mais leve situada à entrada ou à superfície da zona de sedimentação, dotada de uma velocidade de escoamento (veo) e velocidade de sedimentação (vso) (também chamada de - velocidade crítica de sedimentação- vcs), exige para a sua remoção um tempo (t0) e um comprimento (L) do decantador. b vcs Vo h x vs L Onde, t0 será: 145 csV h t0 Assim, qualquer partícula dotada de vs > vo será removida. TIPOS DE DECANTADORES a) Em função das condições de funcionamento - Decantador convencional ou clássico i. Mecanizados ii. Simples - Decantador de alta taxa (Laminar). b) Em função do escoamento Fluxo vertical Fluxo horizontal Calha coletora 146 Cortina difusora (parede perfurada) – distribuir a água uniformemente ZONAS DE UM DECANTADOR 3 3 2 Calha coletora 4 1 2 1 4 ------- ------ lodo 1 – Zona de turbilhamento: localiza-se próximo a cortina. Nesta zona ocorre a transição de velocidades e não há sedimentação. 2 – Zona de sedimentação: onde ocorre a sedimentação das partículas ou flocos. 3 – Zona de ascensão: a velocidade se eleva e há um arraste de flocos não sedimentados. 4 – Zona de repouso: local onde o lodo fica depositado. PARÂMETROS DE DIMENSIONAMENTO 1 – Relação entre o Comprimento (L) e Largura (b): 1025,2 b L 147 2 – Relação entre Comprimento (L) e altura (H) de decantadores convencionais: HLH 254 3- Profundidade H erficialA Qxt H sup Usual: 4 a 4,5 m 4 – Velocidade de escoamento máximo BH Q ve e BL Q vs partículas discretas → es vv partículas floculentas → 018 vvsmáximo 5 – Tempo de detenção Decantadores convencionais – 1,5 a 3 horas (usual – 2 a 2,5 horas) Decantadores laminares – 15 a 60 minutos Valor prático: t = 2 horas 148 6 – Taxa de escoamento superficial - TAS – é a relação Q/A, usualmente representada por m 3 /m 2 .dia, que é numericamenteigual a velocidade crítica de sedimentação. csvTAS Projeto Operação TAS (m 3 /m 2 .d) t (h) Instalações pequenas Nova tecnologia (Floculação) Nova tecnologia (Floculação) Precária Boa Excelente 20 - 30 35 - 45 40 - 60 3 - 4 1,5 - 2,5 1,5 – 2,5 7 – Número de unidades: Q < 10.000 m 3/d → mínimo 2 unidades (limpeza) Q > 10.000 m 3/d → critérios econômicos (terreno, forma, tamanho). 149 Etapas do Dimensionamento 1. Cálculo da área superficial do decantador S S A Q TASV Tas Q AS 2. Cálculo do volume do decantador HAV sdec 3. Verificação do tempo de detenção hidráulico Q Vdec h 4. Definição da geometria do decantador Os decantadores geralmente são retangulares com relação comprimento-largura entre 2 e 4. LBAS 5. Verificação da nova área superficial 6. Cálculo da taxa de escoamento superficial SA Q TAS 7. Cálculo da Velocidade horizontal h h A Q V 150 8. Cálculo do Raio Hidráulico hB BH Rh 2 9. Cálculo do Número de Reynolds hh e RV R OK000.20 10. Dimensionamento das calhas de coleta de água decantada A vazão nas calhas de coleta de água decantada pode ser estimada como: TASHql 018,0 ql = vazão linear nas calhas de coleta de água decantada (l/s/m) H = altura útil do decantador (m) TAS = taxa de escoamento superficial no decantador (m 3 /m 2 /dia) Cálculo do comprimento total de vertedor. v l L Q q Admitindo que o comprimento da calha de coleta de água de lavagem não exceda a 20% do comprimento do decantador, tem-se que: Cálculo do número de calhas calha v calhas L L N 2 Cálculo do espaçamento entre as calhas calhasN L Esp 151 11. Dimensionamento da cortina difusora de passagem do sistema de floculação para o decantador. Será admitida uma velocidade na passagem em torno de 0,2 m/s. Logo, tem-se que: furosAvQ . Serão adotados furos com geometria quadrada, tendo os mesmos largura de 0,1 m. 11.1 Cálculo do número de orifícios oseçaodofur furos orifícios A A N Disposição das passagens na cortina difusora 11.2 Cálculo da área individual de influência de cada orifício 11.3 Cálculo do número de fileiras horizontais e verticais 12. Cálculo da Velocidade de escoamento nos orifícios orifícios h A Q V 13. Verificação do Gradiente de Velocidade nos orifícios jV G .. gD Vf j H .2. . 2 hB hB RD hh .2 ..4 .4 hh e DV R . 152 A cortina difusora será confeccionada em madeira, de modo que pode-se adotar um valor de rugosidade equivalente a 0,5 mm. 14. Cálculo do fator de atrito 2 9,0 74,5 .7,3 log eh RD Q f 15. Cálculo da perda de carga unitária gD Vf j H .2. . 2 16. Cálculo do Gradiente de Velocidade jV G .. O valor do Gradiente de velocidade nas passagens deve ser igual ao gradiente de velocidade da última câmara de floculação. 153 EXEMPLO 7. Dimensionar um sistema de sedimentação utilizando decantadores convencionais para receber água floculada de uma ETA. Para o dimensionamento adotar: População: hab Per-capita: L/hab.d K1 = K2 = Uso da ETA = Velocidade de sedimentação dos flocos: 40m/d Número de unidades de sedimentação: 4 Altura da Lâmina líquida: 4,5 m Relação comprimento/ largura: 4 1. Cálculo da vazão: 2. Cálculo da área superficial do decantador: S S A Q TASV Tas Q AS 3. Cálculo do volume do decantador HAV sdec 4. Verificação do tempo de detenção hidráulico Q Vdec h 5. Definição da geometria do decantador LBAS 6. Verificação da nova área superficial 154 7. Cálculo da taxa de escoamento superficial SA Q TAS 8. Cálculo da Velocidade horizontal h h A Q V 9. Cálculo do Raio Hidráulico hB BH Rh 2 10. Cálculo do Número de Reynolds hh e RV R OK000.20 11. Dimensionamento das calhas de coleta de água decantada A vazão nas calhas de coleta de água decantada pode ser estimada como: TASHql 018,0 Cálculo do comprimento total de vertedor. v l L Q q Admitindo que o comprimento da calha de coleta de água de lavagem não exceda a 20% do comprimento do decantador, tem-se que: Cálculo do número de calhas calha v calhas L L N 2 155 Cálculo do espaçamento entre as calhas calhasN L Esp 12. Dimensionamento da cortina difusora de passagem do sistema de floculação para o decantador. Será admitida uma velocidade na passagem em torno de 0,2 m/s. Logo, tem-se que: furosAvQ . Serão adotados furos com geometria quadrada, tendo os mesmos largura de 0,1 m. 12.1 Cálculo do número de orifícios oseçaodofur furos orifícios A A N Disposição das passagens na cortina difusora 12.2 Cálculo da área individual de influência de cada orifício 12.3 Cálculo do número de fileiras horizontais e verticais 13. Cálculo da Velocidade de escoamento nos orifícios orifícios h A Q V 14. Verificação do Gradiente de Velocidade nos orifícios 156 jV G .. gD Vf j H .2. . 2 hB hB RD hh .2 ..4 .4 hh e DV R . A cortina difusora será confeccionada em madeira, de modo que pode-se adotar um valor de rugosidade equivalente a 0,5 mm. 15. Cálculo do fator de atrito 2 9,0 74,5 .7,3 log eh RD Q f 16. Cálculo da perda de carga unitária gD Vf j H .2. . 2 17. Cálculo do Gradiente de Velocidade jV G .. 157 Decantação de alta taxa de escoamento superficial Nos decantador convencional de fluxo horizontal todas as partículas dotadas de vs > ve serão removidas, ao longo do comprimento L durante um determinado tempo T. Se for colocada uma bandeja C – C’ a uma altura H menor que H0, as partículas com vs < ve também poderiam ser removidas, além de se reduzir o tempo necessário para a remoção. veo vs L H veo vs L H 158 Com o objetivo de aumentar a eficiência e diminuir o tempo de detenção surgiram os decantadores de andares ou de fundos múltiplos. Os primeiros decantadores foram construídos em Estocolmo, com 2 andares, Tóquio e Paris, com 3 andares. No entanto, a remoção de lodo tornou-se um problema ser resolvido, pois deveria repetir-se com maior freqüência. A solução encontrada foi a utilização de raspadores mecânicos. Porém, estes decantadores não apresentavama eficiência esperada. Estudos demonstraram que o problema estava no regime de escoamento, com Re entre 2000 a 200.000, o que interferia no fenômeno da sedimentação. Sugeriu-se, então, que se mantivesse Re < 500. VR R He 4 Para diminuir Re deveria diminuir RH, ou seja, aumentar o número de células. Surgiu então os decantadores de altas taxas. Os decantadores de altas taxas consistem, essencialmente, de uma série de tubos (circulares, quadrados ou hexagonais), ou lâminas planas paralelas colocadas em um tanque apropriado, com um ângulo de inclinação (usualmente entre 50 a 60º), o que permite uma alta limpeza devido ao escoamento continuo do lodo. Este tipo de decantador permite taxas de escoamento superficial entre 4 a 10 vezes maiores que as usadas nos decantadores convencionais, normalmente entre 120 a 300 m³/m².d, sendo a mais comum de 200 m³/m².dia. Os períodos de detenção são normalmente menores que 15 minutos e se obtêm em fluxo mais estável que os decantadores convencionais. Bases teóricas para dimensionamento dos decantadores de altas taxas: 159 Vcs = velocidade crítica de sedimentação Ve = velocidade no sentido do escoamento l = comprimento das placas L = l_ d = espaçamento entre as placas d Sc = constante crítica Placas paralelas – Sc= 1 Tubos circulares – Sc= 4/3 Condutos quadrados – Sc=11/8 = ângulo de inclinação das placas ou tubos Vcs é igual a taxa de escoamento superficial entre cada placa, expressa em m³/m².d (em geral entre 20 a 30 m³/m².dia). Ve é igual a taxa de escoamento superficial equivalente à dos decantadores convencionais, expressa em m³/m².d (120 a 300 m³/m².dia). l d 160 L = nos módulos patentiados são utilizados valores de L entre 10 e 12. Excelentes resultados tem sido obtidos em projetos que utilizam placas planas paralelas com valores de L entre 20 e 24. - a eficiência dos decantadores decresce à medida que se aumenta a inclinação alem de 60º. Obs. Manter Re <500 (preferencialmente manter Re<250) 161 Exemplo de Dimensionamento: EXEMPLO 8: Dimensionar um sistema de sedimentação composto por decantadores laminares (alta taxa ) para uma estação de tratamento de água, adotando os seguintes dados: População: ___________ hab. Per-capita: ___________L/hab.d K1 = K2 = Uso da ETA = Velocidade de sedimentação dos flocos: 0,0463 cm/s Número de unidades de sedimentação: 04 Decantador laminar composto por placas paralelas Relação entre o comprimento e largura do decantador: 1,5 Comprimento da placa: l =1,2 metros Espaçamento entre as placas: w = 6,0 cm Espessura das placas: 0,5 cm Ângulo das placas com a horizontal: 60o 60 o 1,2 m 6,0 cm 162 Solução: 1) Cálculo da Vazão: 2) Cálculo da relação l/w w l L 3) Cálculo da velocidade de escoamento entre as placas (v0) senL Sv v cs cos. .0 senLvv s cos..0 Sc = constante crítica ---- Placas paralelas – Sc= 1 4) Cálculo da área útil entre as placas útilAVQ .0 5) Cálculo da área superficial útil entre as placas o u su sen A A 60 163 Admitindo uma relação entre o comprimento do decantador e sua largura igual a 3/2, tem-se que: 2 .3 . 2B LBAsu Portanto, vamos adotar a largura do decantador como sendo igual a: 6) Cálculo do número de espaçamentos entre as placas w L N útile B A L útilútil w L N útile 7) Cálculo do número de placas 1espplacas NN 8) Cálculo do comprimento do decantador perpendicular as placas 164 EspNwNL placasep . 9) Cálculo do comprimento do decantador relativo ao plano horizontal 60sen 60cos. p d L lLxL 10) Arranjo dos poços de lodo e definição das dimensões finais do decantador laminar 60 o 1,2 m 6,0 cm x 60 o Lp Ld 60 o x x 0,5 m x 0,5 m 165 xmB 5,0.2 Em função de alguns valores de B, tem-se que: B (m) X (m) H (m) 0,5 1,0 1,5 2,0 Admitindo que cada poço de lodo tenha uma largura de 2,5 metros, tem-se que: poçoA Portanto, o número de poços pode ser calculado em função da área total do decantador. poçosN 60 o 60 o 0,5 m B B h 166 Portanto, vamos adotar _____ poços, tendo os mesmos a seguinte configuração: 11) Verificação do dimensionamento hidráulico dLxL xLLd 7,5 m 10,0 m 2,5 m 2,5 m 167 d po L L 60sen o dp senLL 60. 12) Cálculo do número de espaçamentos EspNwNL espespp .1. 13) Cálculo da Velocidade de Escoamento entre as Placas wBN Q A Q v espútil .. 0 14) Cálculo da Velocidade de Sedimentação sencos. .0 L SV V cs 15) Cálculo da Taxa de Escoamento Virtual 168 d v A Q q 16) Cálculo do Número de Reynolds hB hB RD hh .2 ..4 .4 hh e DV R . 17) Dimensionamento das calhas de coleta de água decantada Admitindo-se uma vazão linear por metro de calha igual a 1,5 l/s.m, tem-se que: Cálculo do comprimento total de vertedor v l L Q q Uma vez que o comprimento da calha de coleta de água de lavagem é necessariamente igual ao comprimento do decantador laminar, tem-se que: calhaL 169 Cálculo do número de calhas calha v calhas L L N .2 Portanto, vamos adotar um total de 08 calhas, com 10,0 metros de comprimento. Logo, vL v l L Q q Cálculo do espaçamento entre as calhas 170 Definição das alturas do decantador laminar H1 Função da geometria do poço de lodo H1 = H2 Entrada de água floculada (0,4 a 0,8 metros) H2 = H3 Função da altura das placas 3H H4 Função da distância entre as calhas de coleta de água decantada 24 Esp H H 1 H 2 H 3 H 4 171
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