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DIREITO AMBIENTAL OAB - EXAME XXII ORGANIZADO E REVISADO Glauber M. B. da Silva Sumário 1. MEIO AMBIENTE....................................................................................................2 1.1 MEIO AMBIENTE NATURAL..........................................................................3 1.2 MEIO AMBIENTE CULTURAL........................................................................3 1.3 MEIO AMBIENTE ARTIFICIAL.......................................................................6 1.4 MEIO AMBIENTE DO TRABALHO..............................................................13 2. POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE..................................................15 3. PRINCÍPIOS DO DIREITO AMBIENTAL............................................................16 3.1 Princípio do desenvolvimento sustentável........................................................16 3.2 Princípio do poluidor-pagador...........................................................................17 3.3 Princípio da prevenção......................................................................................19 3.4 Princípio da precaução......................................................................................19 3.5 Princípio da participação...................................................................................19 3.6 Princípio da ubiquidade.....................................................................................20 4. PROTEÇÃO INTERNACIONAL DO MEIO AMBIENTE...................................20 5. MEIO AMBIENTE ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO...............................32 5. MEIO AMBIENTE ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO...............................32 6. COMPETÊNCIA EM MATÉRIA AMBIENTAL...................................................33 7. LICENCIAMENTO AMBIENTAL........................................................................36 8. SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DA NATUREZA .....................................................................................................................................45 9. POLÍTICA NACIONAL SOBRE MUDANÇA DO CLIMA.................................73 10. PROTEÇÃO DA FAUNA.....................................................................................79 10.1 Os crimes na lei de proteção à fauna...............................................................83 11. FLORA..................................................................................................................87 1. MEIO AMBIENTE Meio ambiente pode ser definido como tudo aquilo que nos circunda. O legislador infraconstitucional define o meio ambiente como “o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas” (artigo 3º, inciso I, da Lei nº 6.938/81 – Lei de Política Nacional do Meio Ambiente). O meio ambiente pode ser classificado para facilitar a identificação da atividade degradante e do bem imediatamente agredido. Portanto, o meio ambiente pode ser natural, artificial, cultural e do trabalho. 1.1 MEIO AMBIENTE NATURAL O meio ambiente físico é constituído pelo solo, água, ar, flora e fauna. De acordo com os incisos I e VII, do § 1º, do artigo 225, da Constituição, "para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas; (...) VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade". 1.2 MEIO AMBIENTE CULTURAL O artigo 216, da Constituição Federal, tem por meio ambiente cultural o meio ambiente natural ou artificial, o qual é permeado pela essência da pessoa humana detentora da criatividade. É composto por bens culturais tanto materiais, quanto imateriais, que devem ser tutelados pelo Direito. A preservação do patrimônio cultural é o bem jurídico protegido pelo Direito Ambiental, afinal é este o meio que garante a qualidade e manutenção da vida humana. A natureza jurídica do patrimônio cultural é difusa, uma vez que ao se afirmar que os bens a serem preservados são culturais, quer dizer que o valor daquele bem é de interesse de todos. O patrimônio cultural brasileiro é constituído de bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, incluindo as formas de expressão, os modos de criar, fazer e viver, as criações científicas, artísticas e tecnológicas, as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais, os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico. A Constituição Federal em seu artigo 5º, inciso LXXIII, estabelece a legitimidade para a propositura de ação popular com o fim de "anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência". Já o artigo 23, inciso VI, da Carta Magna, estabelece que a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, possuem competência comum para proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas. A Constituição Federal em seu artigo 5º, inciso LXXIII, estabelece a legitimidade para a propositura de ação popular com o fim de "anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência". Já o artigo 23, inciso VI, da Carta Magna, estabelece que a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, possuem competência comum para proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas. O parágrafo primeiro, do artigo 216, da Constituição Federal, menciona que o Poder Público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro, inclusive através do tombamento. O tombamento possui três classificações: a) Quanto à constituição: de ofício, voluntário ou compulsório. Será de ofício quando atingir bens públicos, processando-se através de simples notificação remetida à entidade a quem pertencer, União, Estado ou Município. A contrário sensu, será voluntário ou compulsório, quando se tratar de bens particulares. b) Quanto a eficácia: pode ser provisório ou definitivo. Tanto o tombamento de eficácia provisória quanto o de eficácia definitiva possuem iguais efeitos. A diferença está que o tombamento provisório ocorre com a notificação do proprietário, enquanto o tombamento definitivo exige a transcrição no Registro de Imóveis. c) Quanto aos destinatários: pode ser geral ou individual. O tombamento individual atinge um determinado bem e o geral atinge todos os bens situados em um bairro ou em uma cidade, por exemplo. Em 1985, na Conferência Mundial sobre as Políticas Culturais, a qual originou a Declaração do México, surgiu uma noção mais abrangente de patrimônio cultural ao declarar: "O patrimônio cultural de um povo compreende as obras de artistas, arquitetos, músicos, escritores e sábios, assim como as criações anônimas surgidas da almapopular e o conjunto de valores que dão sentido à vida. Ou seja, as obras materiais e não materiais que expressam a criatividade desse povo: a língua, os ritos, as crenças, os lugares e monumentos históricos, a cultura, as obras de arte e os arquivos e bibliotecas". Nesta conferência verificou-se um quarto princípio de que todas as culturas fazem parte do patrimônio comum da humanidade. Já em novembro de 1989, houve a Conferência Geral da UNESCO, realizada em Paris, dando origem a Recomendação sobre a Salvaguarda da Cultura Tradicional e Popular, ou seja, o documento base sobre a questão que fundamenta as propostas da UNESCO no sentido da preservação do também chamado patrimônio imaterial. Após esta Convenção, a cultura tradicional e popular foi considerada parte do Patrimônio Universal da Humanidade e da cultura viva. Depois disto, outras Convenções surgiram visando tanto a proteção dos bens imateriais, quanto a dos bens materiais. A ideia das Convenções é sempre abranger a cultura mundial e fazer com que internacionalmente os diversos costumes culturais sejam respeitados. Considerando que a crença faz parte da cultura de um povo, é importante mencionar que a liberdade de crença é um direito individual e coletivo que deve ser assegurado dentre as garantias constitucionais fundamentais. O artigo 5º, inciso VI, da Constituição Federal, dispõe: "é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias". A religião é de livre escolha do indivíduo, não podendo o Poder Público embaraçar, subvencionar ou determinar cultos religiosos ou igrejas, podendo, somente, colaborar com as religiões na medida do interesse público. Além disso, a defesa das línguas brasileiras é observada na própria Constituição Federal ao mencionar que o ensino fundamental regular deverá ser ministrado em língua portuguesa, assegurando-se às comunidades indígenas também a utilização de suas línguas maternas e processos próprios de aprendizagem. Neste contexto, verifica-se a preocupação com a língua pátria (português), bem como o respeito e interesse de preservação das línguas indígenas, as quais fazem parte da cultura brasileira. Não somente um dispositivo relata a preocupação da defesa das línguas nacionais, mas vários, um deles é o artigo 231, também da Carta Magna, in verbis: "São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens". Não podemos esquecer que a língua portuguesa é o idioma oficial da República Federativa do Brasil. Por fim, o desporto é previsto no artigo 217, da Constituição Federal. O Estado tem o dever de fomentar práticas desportivas formais e não-formais, como direito de cada um. Para tanto deve-se observar a autonomia das entidades desportivas dirigentes e associações, quanto a sua organização e funcionamento, sem se esquecer de averiguar a destinação de recursos públicos para a promoção prioritária do desporto educacional e, em casos específicos, para a do desporto de alto rendimento. Deve-se observar, também, o tratamento diferenciado para o desporto profissional e o não-profissional, a proteção e o incentivo às manifestações desportivas de criação nacional. Somente após o esgotamento das instâncias da justiça desportiva é que o Poder Judiciário admitirá ações relativas à disciplina e às competições desportivas. A justiça desportiva terá o prazo máximo de sessenta dias, contados da instauração do processo, para proferir decisão final. Logo, fica claro que o Poder Público, no todo, incentivará o lazer, como forma de promoção social. 1.3 MEIO AMBIENTE ARTIFICIAL O artigo 2º, do Estatuto da Cidade, Lei nº 10.257/01, elenca em seus incisos os objetivos traçados pela política de desenvolvimento urbano. Vejamos: I – garantia do direito a cidades sustentáveis, entendido como o direito à terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, à infraestrutura urbana, ao transporte e aos serviços públicos, ao trabalho e ao lazer, para as presentes e futuras gerações; II – gestão democrática por meio da participação da população e de associações representativas dos vários segmentos da comunidade na formulação, execução e acompanhamento de planos, programas e projetos de desenvolvimento urbano; III – cooperação entre os governos, a iniciativa privada e os demais setores da sociedade no processo de urbanização, em atendimento ao interesse social; IV – planejamento do desenvolvimento das cidades, da distribuição espacial da população e das atividades econômicas do Município e do território sob sua área de influência, de modo a evitar e corrigir as distorções do crescimento urbano e seus efeitos negativos sobre o meio ambiente; V – oferta de equipamentos urbanos e comunitários, transporte e serviços públicos adequados aos interesses e necessidades da população e às características locais; VI – ordenação e controle do uso do solo, de forma a evitar: a) a utilização inadequada dos imóveis urbanos; b) a proximidade de usos incompatíveis ou inconvenientes; c) o parcelamento do solo, a edificação ou o uso excessivos ou inadequados em relação à infraestrutura urbana; d) a instalação de empreendimentos ou atividades que possam funcionar como pólos geradores de tráfego, sem a previsão da infraestrutura correspondente; e) a retenção especulativa de imóvel urbano, que resulte na sua subutilização ou não utilização; f) a deterioração das áreas urbanizadas; g) a poluição e a degradação ambiental; h) a exposição da população a riscos de desastres. VII – integração e complementaridade entre as atividades urbanas e rurais, tendo em vista o desenvolvimento socioeconômico do Município e do território sob sua área de influência; VIII – adoção de padrões de produção e consumo de bens e serviços e de expansão urbana compatíveis com os limites da sustentabilidade ambiental, social e econômica do Município e do território sob sua área de influência; IX – justa distribuição dos benefícios e ônus decorrentes do processo de urbanização; X – adequação dos instrumentos de política econômica, tributária e financeira e dos gastos públicos aos objetivos do desenvolvimento urbano, de modo a privilegiar os investimentos geradores de bem-estar geral e a fruição dos bens pelos diferentes segmentos sociais; XI – recuperação dos investimentos do Poder Público de que tenha resultado a valorização de imóveis urbanos; XII – proteção, preservação e recuperação do meio ambiente natural e construído, do patrimônio cultural, histórico, artístico, paisagístico e arqueológico; XIII – audiência do Poder Público municipal e da população interessada nos processos de implantação de empreendimentos ou atividades com efeitos potencialmente negativos sobre o meio ambiente natural ou construído, o conforto ou a segurança da população; XIV – regularização fundiária e urbanização de áreas ocupadas por população de baixa renda mediante o estabelecimento de normas especiais de urbanização, uso e ocupação do solo e edificação, consideradas a situação socioeconômica da população e as normas ambientais; XV – simplificação da legislação de parcelamento, uso e ocupação do solo e das normas edilícias, com vistas a permitir a redução dos custos e o aumento da oferta dos lotes e unidades habitacionais; XVI – isonomia de condições para os agentes públicos eprivados na promoção de empreendimentos e atividades relativos ao processo de urbanização, atendido o interesse social. XVII - estímulo à utilização, nos parcelamentos do solo e nas edificações urbanas, de sistemas operacionais, padrões construtivos e aportes tecnológicos que objetivem a redução de impactos ambientais e a economia de recursos naturais. XVIII - tratamento prioritário às obras e edificações de infraestrutura de energia, telecomunicações, abastecimento de água e saneamento. Vale lembrar que compete à União, entre outras atribuições de interesse da política urbana: I – legislar sobre normas gerais de direito urbanístico; II – legislar sobre normas para a cooperação entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios em relação à política urbana, tendo em vista o equilíbrio do desenvolvimento e do bem-estar em âmbito nacional; III - promover, por iniciativa própria e em conjunto com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, programas de construção de moradias e melhoria das condições habitacionais, de saneamento básico, das calçadas, dos passeios públicos, do mobiliário urbano e dos demais espaços de uso público; IV - instituir diretrizes para desenvolvimento urbano, inclusive habitação, saneamento básico, transporte e mobilidade urbana, que incluam regras de acessibilidade aos locais de uso público; V – elaborar e executar planos nacionais e regionais de ordenação do território e de desenvolvimento econômico e social. O plano diretor é um planejamento municipal utilizado como instrumento de execução de todas as determinações existentes no Estatuto da Cidade (Lei 10.257 de 2001 ). Tal menção pode ser conferida no artigo 4o, do diploma ora tratado. A partir do artigo 39, a Lei nº 10.257/01, trata, especificamente, do plano diretor. No plano diretor são elencadas as exigências fundamentais de ordenação da cidade com o objetivo de cumprir a função social da propriedade. Todas as exigências devem visar o atendimento das necessidades dos cidadãos quanto à qualidade de vida, à justiça social e ao desenvolvimento das atividades econômicas. O plano diretor, aprovado por lei municipal, é o instrumento básico da política de desenvolvimento e expansão urbana. O plano diretor é parte integrante do processo de planejamento municipal, devendo o plano plurianual, as diretrizes orçamentárias e o orçamento anual incorporar as diretrizes e as prioridades nele contidas. O plano diretor deverá englobar o território do Município como um todo e a lei que instituir o plano diretor deverá ser revista, pelo menos, a cada dez anos. No processo de elaboração do plano diretor e na fiscalização de sua implementação, os Poderes Legislativo e Executivo municipais garantirão: I – a promoção de audiências públicas e debates com a participação da população e de associações representativas dos vários segmentos da comunidade; II – a publicidade quanto aos documentos e informações produzidos; III – o acesso de qualquer interessado aos documentos e informações produzidos. O plano diretor é obrigatório para cidades: I – com mais de vinte mil habitantes; II – integrantes de regiões metropolitanas e aglomerações urbanas; III – onde o Poder Público municipal pretenda utilizar os instrumentos previstos no § 4 o do art. 182 da Constituição Federal; IV – integrantes de áreas de especial interesse turístico; V – inseridas na área de influência de empreendimentos ou atividades com significativo impacto ambiental de âmbito regional ou nacional. VI - incluídas no cadastro nacional de Municípios com áreas suscetíveis à ocorrência de deslizamentos de grande impacto, inundações bruscas ou processos geológicos ou hidrológicos correlatos. No caso da realização de empreendimentos ou atividades enquadrados no item V, os recursos técnicos e financeiros para a elaboração do plano diretor estarão inseridos entre as medidas de compensação adotadas. As cidades com mais de quinhentos mil habitantes, deverá ser elaborado um plano de transporte urbano integrado, compatível com o plano diretor ou nele inserido e devem elaborar plano de rotas acessíveis, compatível com o plano diretor no qual está inserido, que disponha sobre os passeios públicos a serem implantados ou reformados pelo poder público, com vistas a garantir acessibilidade da pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida a todas as rotas e vias existentes, inclusive as que concentrem os focos geradores de maior circulação de pedestres, como os órgãos públicos e os locais de prestação de serviços públicos e privados de saúde, educação, assistência social, esporte, cultura, correios e telégrafos, bancos, entre outros, sempre que possível de maneira integrada com os sistemas de transporte coletivo de passageiros. O plano diretor deverá conter no mínimo: I – a delimitação das áreas urbanas onde poderá ser aplicado o parcelamento, edificação ou utilização compulsórios, considerando a existência de infraestrutura e de demanda para utilização, na forma do art. 5o do Estatuto da Cidade. II – disposições requeridas pelos arts. 25, 28, 29, 32 e 35 do Estatuto da Cidade. III – sistema de acompanhamento e controle. Além do conteúdo previsto no art. 42 do Estatuto da Cidade, o plano diretor dos Municípios incluídos no cadastro nacional de municípios com áreas suscetíveis à ocorrência de deslizamentos de grande impacto, inundações bruscas ou processos geológicos ou hidrológicos correlatos deverá conter: I - parâmetros de parcelamento, uso e ocupação do solo, de modo a promover a diversidade de usos e a contribuir para a geração de emprego e renda; II - mapeamento contendo as áreas suscetíveis à ocorrência de deslizamentos de grande impacto, inundações bruscas ou processos geológicos ou hidrológicos correlatos; III - planejamento de ações de intervenção preventiva e realocação de população de áreas de risco de desastre; IV - medidas de drenagem urbana necessárias à prevenção e à mitigação de impactos de desastres; e V - diretrizes para a regularização fundiária de assentamentos urbanos irregulares, se houver, observadas a Lei 11.977, de 7 de julho de 2009, e demais normas federais e estaduais pertinentes, e previsão de áreas para habitação de interesse social por meio da demarcação de zonas especiais de interesse social e de outros instrumentos de política urbana, onde o uso habitacional for permitido. VI - identificação e diretrizes para a preservação e ocupação das áreas verdes municipais, quando for o caso, com vistas à redução da impermeabilização das cidades. Vale lembrar que a identificação e o mapeamento de áreas de risco levarão em conta as cartas geotécnicas. O conteúdo do plano diretor deverá ser compatível com as disposições insertas nos planos de recursos hídricos, formulados consoante a Lei 9.433, de 8 de janeiro de 1997. Os Municípios adequarão o plano diretor às disposições deste artigo, por ocasião de sua revisão, observados os prazos legais. Os Municípios enquadrados no inciso VI do art. 41 da Lei 10.257 de 2001 e que não tenham plano diretor aprovado terão o prazo de 5 (cinco) anos para o seu encaminhamento para aprovação pela Câmara Municipal. Os entes municipais que pretendam ampliar o seu perímetro urbano após a data de publicação da Lei 10.257 de 2001 deverão elaborar projeto específico que contenha, no mínimo: I - demarcação do novo perímetro urbano; II - delimitação dos trechos com restrições à urbanização e dos trechos sujeitosa controle especial em função de ameaça de desastres naturais; III - definição de diretrizes específicas e de áreas que serão utilizadas para infraestrutura, sistema viário, equipamentos e instalações públicas, urbanas e sociais; IV - definição de parâmetros de parcelamento, uso e ocupação do solo, de modo a promover a diversidade de usos e contribuir para a geração de emprego e renda; V - a previsão de áreas para habitação de interesse social por meio da demarcação de zonas especiais de interesse social e de outros instrumentos de política urbana, quando o uso habitacional for permitido; VI - definição de diretrizes e instrumentos específicos para proteção ambiental e do patrimônio histórico e cultural; e VII - definição de mecanismos para garantir a justa distribuição dos ônus e benefícios decorrentes do processo de urbanização do território de expansão urbana e a recuperação para a coletividade da valorização imobiliária resultante da ação do poder público. O projeto específico deverá ser instituído por lei municipal e atender às diretrizes do plano diretor, quando houver. Quando o plano diretor contemplar as exigências estabelecidas acima mencionada, o Município ficará dispensado da elaboração do projeto específico ora tratado. A aprovação de projetos de parcelamento do solo no novo perímetro urbano ficará condicionada à existência do projeto específico e deverá obedecer às suas disposições. Para um aprofundamento do estudo do meio ambiente artificial, é importante a leitura na íntegra do Estatuto da Cidade ( Lei 10.257 de 2001). 1.4 MEIO AMBIENTE DO TRABALHO O meio ambiente do trabalho é conceituado pelo conjunto de fatores físicos, climáticos e/ou qualquer outro que estejam presentes no local de trabalho do indivíduo. Tais fatores podem ou não estar interligados. O meio ambiente pode ter várias subdivisões, como meio ambiente físico ou natural, meio ambiente cultural, meio ambiente artificial e meio ambiente do trabalho. O tema do presente resumo será este último, o qual é definido pela Constituição Federal de 1988, em seus artigos 7º, inciso XXII, e 200, inciso VIII. Vejamos o que transcrevem estes dispositivos: "Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: XXII - redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança". "Art. 200. Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos termos da lei: VIII - colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho". As regras de segurança e saúde/medicina do trabalho são estabelecidas a partir do artigo 154, da Consolidação das Leis Trabalhistas. A coordenação, orientação, controle e supervisão da fiscalização e de outras atividades relacionadas com a segurança e medicina do trabalho, no âmbito nacional, é de competência do órgão de âmbito nacional. Já quanto à fiscalização do cumprimento das normas de segurança e medicina do trabalho compete, especialmente, às Delegacias Regionais do Trabalho, porém somente no limite de sua jurisdição. A proibição do trabalho do menor de 18 (dezoito) anos em atividades insalubres ou perigosas, especialmente, assim entendidas para os destinatários incapazes, foi assim determinada pela Secretaria de Inspeção do Trabalho, juntamente com o Diretor do Departamento de Segurança e Saúde no Trabalho. O elenco de atividades ou locais insalubres ou perigosos para os trabalhadores menores de 18 (dezoito) anos, foi assim elaborado tendo em vista o princípio da proteção integral à criança e ao adolescente. Desta forma, conclui-se que não é extensivo aos maiores de 18 (dezoito) anos. Por fim, é de se notar que os trabalhos técnicos ou administrativos serão permitidos, porém deverão ser realizados fora das áreas de risco à saúde e à segurança. Há um conceito jurídico mencionado pelo doutrinador Renato Corrado, citado pelos autores do livro Direito do Trabalho - Délio Maranhão e Luís Inácio B. Carvalho, que explica: "o conceito jurídico de trabalho supõe que esta ‘se apresente como objeto de uma prestação devida ou realizada por um sujeito em favor de outro’. Tal ocorre quando: 1. uma atividade humana é desenvolvida pela própria pessoa física; 2. essa atividade se destina à criação de um bem materialmente avaliável; 3. surja de relação por meio da qual um sujeito presta, ou se obriga a prestar, a própria força de trabalho em favor de outro sujeito, em troca de uma retribuição". A relação de trabalho é definida como uma prestação de serviços exercido por pessoa natural a terceiros, ou seja, uma pessoa física empresta sua força de trabalho a uma outra pessoa. Não importa se em troca a pessoa física tem remuneração ou não, se é de forma eventual ou não, ou, ainda, se é desprovida de qualquer subordinação. Estes elementos são exigidos apenas para caracterizar as relações de emprego e não de trabalho. Sobre o embargo e a interdição a seção II, do capítulo V, da CLT, dispõe sobre o embargo e a interdição. Dentre estes artigos, verifica-se que existe um procedimento a ser seguido por um estabelecimento que pretende ter iniciadas suas atividades. O primeiro passo, o qual não é objeto deste presente resumo, é a prévia inspeção e aprovação das instalações do estabelecimento pela autoridade regional competente em matéria de segurança e medicina do trabalho. Depois é expedido um laudo técnico do serviço que demonstre grave e iminente risco para o trabalhador, podendo assim, o Delegado Regional do Trabalho interditar o estabelecimento, setor de serviço, máquina ou equipamento, ou, ainda, embargar obra, indicando na decisão as providências que deverão ser adotadas para prevenção de infortúnios de trabalho. Não só a Delegacia Regional do Trabalho, como também agente de inspeção do trabalho e entidade sindical são competentes para requerer a interdição ou o embargo. Após o laudo técnico do serviço competente, poderá, independentemente de recurso interposto pela parte interessada, haver o levantamento da interdição pelo Delegado Regional do Trabalho. Por derradeiro, quanto aos empregados, estes receberão seus salários comumente, como se estivessem em efetivo exercício no caso de haver paralisação dos serviços em razão de interdição ou embargo. 2. POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE Preceitua o artigo 225, da Constituição Federal, que "todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações". Entende-se assim que o direito material aqui tutelado estende-se a brasileiros e estrangeiros residentes no Brasil, conforme o artigo 5º, "caput", da Constituição. Outrossim, devemos entender que o conceito do que é essencial à sadia qualidade de vida do homem deve ser definido de acordo com um padrão mínimo de interpretação do dispositivo supramencionado, combinado com o artigo 6º, da Constituição, que fixa o piso vital mínimo. Como um dos princípios fundamentais da República Federativa do Brasil é a dignidade da pessoa humana, entende-se que a qualidade de vida não se refere apenas a fatores fisiológicos, mas também a valores culturais, educacionais, relacionados ao trabalho, lazer, entre outros. Note-se, ainda, que a proteção do meio ambiente é um dever não só do Poder Público, mas de toda a coletividade, assim como o deverde preservá-lo. O direito ao meio ambiente é voltado para a satisfação das necessidades humanas. Note-se, porém, que se a Política Nacional do Meio Ambiente protege a vida em todas as suas formas, e não é só o homem que possui vida, então todos os seres vivos são protegidos. O ser não humano só poderá ser tutelado pelo Direito Ambiental se a sua existência garantir a sadia qualidade de vida do homem, tendo em vista que numa sociedade organizada este é destinatário de toda e qualquer norma. É certo que o Direito Ambiental possui uma necessária visão antropocêntrica, pois o homem é o único animal racional, a quem incumbe a preservação das espécies. Entende-se, porém, que a Constituição teria deslocado tal visão ao prever a proibição de práticas cruéis contra animais. Há muitas questões sobre o tema, que ainda não são solucionadas. Contudo, a maioria dos doutrinadores entendem que no caso de conflito do Direito Constitucional do animal de não ser submetido à práticas cruéis e a do homem, de manifestar sua cultura, deve prevalecer o direito cultural do homem, salvo se tratar-se de animais ameaçados de extinção. Cumpre dizer, no entanto, que atualmente tal visão tem sofrido alterações, na medida em que, com a evolução, o homem tem se mostrado mais consciente em relação a tais práticas cruéis e absurdas, e as pessoas estão lutando para proteger os animais, que fazem parte, naturalmente, do meio ambiente, que é tão importante ao homem. Aos defensores dessa teoria, o Direito Ambiental teria por objeto a tutela de toda e qualquer vida. Aqui, a natureza deve ser protegida, não apenas em função do homem, mas por ela mesma, pelos valores que representa, muitas vezes dirigidos contra o próprio homem. De acordo com tal posição, os animais assumiriam papel de destaque em face a proteção ambiental, enquanto destinatários diretos do Direito Ambiental. Assim, para essa corrente, o termo "todos", empregado no artigo 225, da Constituição, tem um alcance muito maior, e não se refere apenas aos brasileiros e estrangeiros aqui residentes. 3. PRINCÍPIOS DO DIREITO AMBIENTAL 3.1 Princípio do desenvolvimento sustentável O princípio do desenvolvimento sustentável está esculpido na Constituição Federal em seu artigo 225, segundo o qual, "todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê- lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações". Isso ocorre já que os recursos ambientais não são inesgotáveis, sendo inadmissível que atividades econômicas desenvolvam-se sem a observância deste fato, tornando-se imprescindível a coexistência harmônica entre economia e meio ambiente. Assim, o desenvolvimento é permitido, desde que se dê de forma sustentável, planejada, evitando o esgotamento dos recursos ambientais. Note-se que o critério de desenvolvimento sustentável deve ser observado em todo o território nacional, tanto nas áreas rurais quanto urbanas, e pela sociedade, respeitadas as necessidades culturais do país. Evidente que o desenvolvimento econômico é extremamente valioso para a sociedade, no entanto, deve coexistir com a preservação ambiental, de modo que um não acarrete a anulação do outro. Como a degradação ambiental implicou na diminuição da capacidade econômica do país, impossibilitando que as futuras gerações tenham uma vida com qualidade, a livre iniciativa, que rege as atividades econômicas, passou a ter outro significado. Limitou-se à liberdade de agir e dispor, anteriormente defendida pela Lei Maior, diante da necessidade de proteção ao meio ambiente. Nesse sentido, preceitua o artigo 170, da Constituição Federal, que "a ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: (...) VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação". O princípio do desenvolvimento sustentável não visa impedir o desenvolvimento econômico, mas sim minimizar a degradação ambiental causada pelas atividades econômicas. Assim, o princípio não veda a instalação de indústria que deteriorem o meio ambiente, mas obriga a proteção ambiental, de modo a não comprometer as necessidades das gerações futuras. 3.2 Princípio do poluidor-pagador O princípio do poluidor-pagador, ao contrário do que se possa imaginar, não se refere à reparação de dano causado pela poluição por meio do pagamento, mas busca evitar a ocorrência de danos ambientais ou a recuperação do dano ocorrido. Assim, ao poluidor impõe-se o dever de arcar com as despesas de prevenção dos danos ao ambiente que possam ser causados pela atividade. Já, se a atividade causar algum dano ambiental, o poluidor será responsável pela sua reparação. Tal princípio é abarcado pela Constituição Federal em seu artigo 225, § 3º, que dispõe que "as condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados". Note-se que o princípio do poluidor-pagador trata da responsabilidade civil, uma vez que o pagamento resultante da poluição não possui caráter de pena, nem de sujeição à infração administrativa. Desse modo, conclui-se que o princípio em questão enseja a responsabilidade civil objetiva, a prioridade da reparação específica do dano ambiental e a solidariedade para suportar os danos causados ao meio ambiente. Portanto, vamos conceituar alguns termos abaixo: - Responsabilidade civil objetiva: não há aqui nenhum julgamento de valor sobre os atos do responsável, basta que o dano esteja relacionado com tais atos, já que aquele que exerce uma atividade deve assumir os riscos causados por ela. - Prioridade da reparação do dano ambiental: o ressarcimento do dano ambiental pode se dar por duas maneiras. A primeira denomina-se reparação natural ou específica, em que há o ressarcimento "in natura". A segunda trata de reparação em dinheiro. No entanto, não cabe ao poluidor escolher entre um modo e outro de reparação. Primeiramente, deve-se verificar se é possível o retorno ao "status quo ante" por meio da reparação específica, e só se esta restar infrutífera é que haverá condenação ao pagamento em dinheiro. Importante dizer que isso não significa que um dano ambiental seja reversível e inteiramente reparável, tendo em vista que não se conseguiria restaurar por completo um ecossistema afetado. Assim, o termo pagador não exige reparação em pecúnia, já que tem por conteúdo a reparação específica do dano. - Poluidor: de acordo com o artigo 225, da Lei Maior, tanto as pessoas físicas quanto as jurídicas de direito público ou privado poderão ocupar o polo passivo em ação por responsabilidade civil por dano ambiental, tendo em vista que é dever do Poder Público e de toda coletividade preservar e defender o meio ambiente. Prevê ainda o art. 3º, da Lei nº 6.938/81, que "para os fins previstos nesta Lei, entende-se por: (...) II - degradação da qualidade ambiental, a alteração adversa das características do meio ambiente; III - poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente: a) prejudiquem a saúde, a segurançae o bem-estar da população; b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas; c) afetem desfavoravelmente a biota; d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente; e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos; IV - poluidor, a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental". 3.3 Princípio da prevenção A prevenção é preceito fundamental no Direito Ambiental, uma vez que a maioria dos danos ambientais são irreparáveis e irreversíveis. De acordo com o Princípio 15, da Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, "para proteger o meio ambiente medidas de precaução devem ser largamente aplicadas pelos Estados segundo suas capacidades. Em caso de risco de danos graves ou irreversíveis, a ausência de certeza científica absoluta não deve servir de pretexto para procrastinar a adoção de medidas efetivas visando a prevenir a degradação do meio ambiente". Frisa-se que a prevenção e preservação do meio ambiente devem ser concretizadas por meio de uma consciência ecológica, desenvolvida pela educação ambiental. O estudo prévio de impacto ambiental, o manejo ecológico, o tombamento e as sanções administrativas constituem formas de auxílio ao princípio da prevenção. Da mesma forma, os incentivos fiscais e a concessão de maiores benefícios aqueles que utilizem tecnologias limpas também são instrumentos explorados na efetivação do princípio em comento. A legislação severa é também considerada meio de efetivação do princípio da prevenção. Para tanto, a imposição de multas deve levar em conta o poder econômico do poluidor, bem como os benefícios experimentados com a atividade degradante e o lucro obtido à custa da agressão. Importante dizer que o objetivo das multas não é impedir o desenvolvimento da atividade, e sim o de excluir do mercado o poluidor que não se deu conta de que os recursos ambientais são escassos e pertencem à coletividade. 3.4 Princípio da precaução Esse princípio pode ser conceituado como a adoção de medidas que visem evitar danos ambientais desconhecidos pela ciência. Não se confunde com o princípio da prevenção, que significa adoção de medidas que visem evitar danos ambientais conhecidos pela ciência; 3.5 Princípio da participação Conforme preceitua o artigo 225, da Constituição Federal, a defesa do meio ambiente depende de atuação presente do Estado e da sociedade. A omissão participativa acarreta prejuízo que será suportado por toda a coletividade, motivo pelo qual o direito ao meio ambiente possui natureza difusa. Outrossim, o fato da administração do meio ambiente ficar sob a custódia do Estado não elide o dever do povo atuar na conservação e preservação do seu direito. Existem dois elementos primordiais para a efetivação do princípio da participação, quais sejam, a informação e a educação ambiental. - Informação ambiental: determina o art. 225, § 1º, VI, da Constituição Federal, que "para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: (...) VI- promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente". A ordem econômica e financeira constitucional tem por princípio a proteção do meio ambiente, por meio da comunicação social, que deverá ser livre, já que de acordo com o artigo 220, do diploma legal em questão, a manifestação de pensamento, a criação, a expressão e a informação não devem sofrer qualquer restrição, observado o disposto na Lei Maior. - Educação ambiental: é por meio da educação ambiental que se tenta trazer consciência ecológica ao povo, permitindo a efetivação do principio da participação para a proteção do direito ao meio ambiente. A educação ambiental envolve as seguintes atividades: a) reduzir os custos ambientais; b) efetivar o princípio da prevenção; c) fixar a ideia de consciência ecológica; d) incentivar a realização do princípio da solidariedade, entre outros. 3.6 Princípio da ubiquidade Por meio do princípio da ubiquidade, o objeto de proteção do meio ambiente deve ser levado em conta toda vez que uma política, atividade, obra tiver que ser criada e desenvolvida. Tal ocorre tendo em vista que toda a atividade pode afetar a vida e sua qualidade, devendo passar por uma consulta ambiental para se analisar a possibilidade de que haja degradação do meio ambiente. Não há como pensar no meio ambiente dissociado dos demais aspectos da sociedade, motivo pelo qual faz-se necessária uma atuação globalizada e solidária. Como a poluição e degradação não respeitam fronteiras, fundamental que se pense em sentido global, e que se aja em âmbito local para acabar ou diminuir com os efeitos daquelas. 4. PROTEÇÃO INTERNACIONAL DO MEIO AMBIENTE O tema a ser estudado é um assunto de preocupação bastante recente, tanto no âmbito nacional quanto no internacional. Nas palavras de Guido Fernando Silva Soares, meio ambiente é "um complexo dinâmico, composto de elementos vivos e não vivos, os quais sofrem substanciais modificações pela ação do homem". O meio ambiente passou a ter relevância jurídica a partir do momento que se percebeu a sua importância para a vida humana. Assim, as preocupações com a sua proteção repercutiram em regramentos para disciplinar a conduta humana, a fim de se evitar drásticas transformações da natureza, que acabam por prejudicar a própria existência humana. Com isto verifica-se que o Direito somente se incumbirá de cuidar das modificações da natureza, sejam elas benéficas ou maléficas, se tais alterações provierem da vontade livre do homem. Já o Direito Internacional do Meio Ambiente cuidará dos temas referentes às alterações do meio ambiente que se originem da conduta do ser humano e que ultrapasse os interesses de um único Estado. Internacionalmente existem dois grandes acontecimentos que marcaram o interesse na proteção ao meio ambiente. O primeiro deles ocorreu em 1972, ocasião em que houve uma reunião em Estocolmo, realizada pela Conferência das Nações Unidas, onde foi adotada a Declaração de Estocolmo sobre o Meio Ambiente Humano, que se equivale à Declaração Universal dos Direitos Humanos, mormente quanto a matéria de proteção ambiental. O segundo deles ocorreu no ano de 1992, na reunião de aniversário de 20 (vinte) anos da primeira reunião da ONU sobre o tema. Essa ocorreu no Rio de Janeiro, tendo sido denominada Conferência das Nações Unidas sobre meio Ambiente e Desenvolvimento. Segundo o doutrinador Guido Fernando Silva Soares, há no Direito Internacional do Meio Ambiente algumas categorias temáticas distintas, vejamos algumas delas. São extensas porções do mundo identificadas como unidades ambientais, é um conjunto composto de elementos interdependentes. A Antártica é um exemplo dessa categoria. Os megaespaços ambientais são normalmente de difícil ocupação e exploração de recursos pelos seres humanos, portanto, são espaços que constituem um habitat preservado no seu estado natural, por isso, e também da fragilidade destes locais, é que os Estados possuem essa preocupação pela preservação. A Antártica, tendo em vista o megaespaço que é, possui cinco tratados internacionais que foram elaborados, ratificados por diversos Estados visando a sua proteção. E são eles: Tratado da Antártica, Convenção para a Conservação das Focas Antárticas, Convenção sobre a Conservação de Recursos VivosMarinhos Antárticos, Convenção sobre o Regime Jurídico das Atividades Relativas aos Recursos Minerais da Antártica e Protocolo ao Tratado da Antártica sobre Proteção ao Meio Ambiente. Os últimos quatro tratados multilaterais foram elaborados com o intuito de complemento e corroboração ao Tratado da Antártica. Um pouco de cada um deles será tratado a seguir. a) Tratado da Antártica: assinado em Washington em 1959, e aderido pelo Brasil após 20 (vinte) anos de vigência, ou seja, em 1975, através do Decreto nº 75.963, simboliza a prevalência da ciência sobre a política, uma vez que ocorrido em uma época em que as preocupações com o meio ambiente eram demonstradas somente por sociedades científicas, alguns aventureiros e exploradores ecologistas. O tratado da Antártica prevê expressamente a proibição de seu uso para fins militares, seja para estabelecimento de bases e fortificações ou para realização de manobras ou experiências com qualquer tipo de armas. O mesmo tratado multilateral determina a proibição de explosões nucleares, e também o depósito de lixo ou resíduos radioativos no Continente Gelado. Conforme visto no resumo "Espaços sob a Soberania dos Estados e Espaços Internacionais Comuns", a Antártica é um espaço comum a todos os Estados e, portanto, insuscetível de domínio. Visando isto, o Tratado da Antártica, em seu artigo IV, §2º, proíbe a instalação de equipamentos ou estações e expedições que com isso pretendam proclamar, contestar ou apoiar reivindicações sobre soberania territorial ou, ainda, que pretendam criar direitos de soberania decorrentes da prática de quaisquer atos. Neste mesmo tratado há uma previsão de obrigação na promoção e apoio a pesquisas científicas a serem realizadas na Antártica, bem como de cooperação de troca de informações científicas entre pessoas sob a soberania de cada Estado. Também determina o Tratado que deverá haver um sistema de verificação internacional a fim de observar o real cumprimento pelos Estados das normas e objetivos do tratado. E, por fim, deve haver motivação política quanto a preservação da Antártica, a qual deverá ser demonstrada através dos Governos dos Estados pela formulação, consideração e recomendação de normas relativas à preservação e conservação dos recursos vivos da Antártica. b) Convenção para a Conservação das Focas Antárticas: no ano de 1972 foi adotada em Londres pelos mesmos Estados-parte do Tratado da Antártica, acima comentado, tendo sido assinado pelo Brasil somente em 1991 e promulgada pelo Decreto nº 66. c) Convenção sobre a Conservação de Recursos Vivos Marinhos Antárticos: esta convenção, igualmente a convenção anterior, foi também assinada, em Cambrera, pelos Estados partes do Tratado de Washington. Contudo, desta vez o Brasil assinou juntamente com aqueles Estados, tendo sido promulgada pelo Decreto nº 93.935, no ano de 1987. d) Convenção sobre o Regime Jurídico das Atividades Relativas aos Recursos Minerais da Antártica: a presente convenção foi assinada em Wellington no ano de 1988. Também foi assinada pelo Brasil, Estados Unidos, Finlândia, União Soviética e Uruguai. e) Protocolo ao Tratado da Antártica sobre Proteção ao Meio Ambiente: no ano de 1991, em Madri, foi subscrito pelo Brasil e encaminhado para aprovação do Congresso Nacional. Este protocolo complementa o Tratado da Antártica no sentido de proibir qualquer atividade relacionada a exploração dos recursos minerais do Continente Gelado, exceto se for destinado a pesquisa científica. Também podem ser considerados megaespaços ambientais o espaço sideral, a Amazônia e a Bacia do Prata, contudo, seguindo orientação do doutrinador Guido Fernando Silva Soares, estes espaços serão considerados em outras classes a seguir comentadas. Nesta classificação serão considerados os temas de proteção aos trabalhadores nos micro espaços e também as regulamentações sobre transporte transfronteiriço e manuseio de materiais tóxicos ou de alta periculosidade, bem como os estudos de impacto ambiental para o licenciamento e funcionamento de estabelecimentos comerciais e industriais que venham a acarretar em perigo ao meio ambiente mais extenso do que os ambientes nacionais (como o EIA/RIMA). Algumas Convenções podem ser mencionadas e que se encaixam nesta classificação, como a "Convenção Relativa à Proteção dos Trabalhadores contra Radiações Ionizantes", adotada em 1960 em Genebra, e promulgada no Brasil pelo Decreto nº 62.151/68; a "Convenção sobre a Proibição do Desenvolvimento, Produção e Armazenamento de Armas Bacteriológicas e de Toxinas, e sua Destruição" havida em 1972, e adotada conjuntamente em Londres, Moscou, Washington, no Brasil somente em 1976, pelo Decreto nº 77.374; a "Convenção sobre Proteção dos Trabalhadores contra Riscos Profissionais devidos à Contaminação do Ar, ao Ruído e às Vibrações no Local de Trabalho", que foi adotada em Genebra no ano de 1977, e promulgada pelo Brasil no ano de 1986, pelo Decreto nº 93.413. Outras Convenções foram assinadas também no âmbito europeu como é o caso da importante Convenção das Nações Unidas sobre Avaliação de Impacto Ambiental em um Contexto Transfronteiriço e a Convenção sobre Efeitos Transfronteiriços de Acidentes Industriais. E não podemos esquecer a Convenção Europeia sobre Responsabilidade Civil por Danos Resultantes de Atividades Danosas ao Meio Ambiente, a qual dá um valor autônomo ao meio ambiente e que deve ser protegido como tal. De todas estas, a Convenção que mais tipicamente adota medidas legais que permitem a implementação de seus dispositivos é a Convenção de Basileia sobre Movimentos Transfronteiriços de Resíduos Perigosos e Seu Depósito, havida em 1989. Esta convenção é vigente no Brasil, tendo sido complementada pelo Protocolo sobre Responsabilidade e Reparação por Danos Resultantes de Movimento Transfronteiriço de Resíduos Perigosos e seu Depósito. Entende-se por resíduos perigosos o lixo industrial altamente tóxico e não suscetível de reciclagem. Estes resíduos quando transportados para outros Estados sob o pagamento de royalties devem ter acompanhamento de autoridades governamentais especialmente indicadas para legitimar este ato, bem como os Estados que importam, que exportam e que servem de passagem para tais resíduos perigosos devem ter conhecimento do movimento e conjuntamente exarar autorização expressa. Ademais, estes movimentos devem ser comunicados ao Secretariado da Convenção de Basileia para, se for o caso, haver a aplicação de sanções. As formas de vida que são protegidas são relacionadas diretamente à vida humana e, por isso, têm sido preservadas com o intuito de evitar a extinção da vida selvagem. Entende-se por vida selvagem todos aqueles componentes da flora, fauna e seus habitats. O homem captura tais espécies selvagens com o fim comercial e estético, vindo a modificar e destruir de maneira drástica o habitat destes espécimes. Em razão de desregradas capturas realizadas pelos seres humanos é que se iniciou a preocupação com a proteção da vida selvagem. A pesca internacional também passou a ser tema de regulamentações desde o século XX, pois até então havia o pensamento de que a atividade de pesca não acarretaria prejuízos, pois seria uma atividade inesgotável. Assim também a inquietação quanto a desertificação e a determinadas pragas, como a havida na África quanto aos gafanhotos, começou a surgir. Algumas convenções se prestam a avaliar esse tema, dentre elas podemos citar: a Convenção para a Proteçãoda Fauna e da Flora e das Belezas Cênicas Naturais dos Países da América; Convenção Internacional para a Proteção dos Vegetais; Convenção Internacional para a Conservação do Atum e Afins, do Atlântico; Convenção relativa a Zonas Úmidas de Importância Internacional, Particularmente como Habitat das Aves Aquáticas; e, finalmente, a Convenção sobre Comércio Internacional das Espécies da Flora e da Fauna Selvagens em Perigo de Extinção. A primeira convenção relevante é a Convenção para a Proteção da Fauna e da Flora e das Belezas Cênicas Naturais dos Países da América. Uma convenção conservacionista da flora e fauna foi assinada pelos Estados responsáveis pelo território que está sob a égide de sua soberania. Esta convenção foi promulgada pelo Brasil através do Decreto nº 58.054/66. Determina a criação de parques e reservas nacionais, monumentos naturais e reservas estritas de vida selvagem que tenham como fim a proteção de espécies animais e vegetais ameaçadas, contudo a grande crítica a esta convenção é a ausência de sanções ou outras medidas executórias de suas normas. A Convenção Internacional para a Proteção dos Vegetais, a segunda a ser estudada, foi assinada em Roma, no ano de 1951, tendo sido promulgada no Brasil somente no ano de 1961, através do Decreto nº 51.342. A terceira delas é a Convenção Internacional para a Conservação do Atum e Afins, do Atlântico. O Brasil faz parte dela desde o começo, tendo inclusive sido assinada no Rio de Janeiro, no ano de 1966. Também são partes desta convenção a Cuba, o Uruguai e a Venezuela. A penúltima convenção foi adotada em Ramsar, no Irã, no ano de 1971, e é denominada de Convenção relativa a Zonas Úmidas de Importância Internacional, Particularmente como Habitat das Aves Aquáticas. Esta foi a primeira convenção a regulamentar um dos componentes da fauna, qual seja, a ave aquática e seu habitat. Ao Brasil esta convenção tem importância particular, uma vez que em nosso país foram indicadas regiões que são tidas por zonas úmidas de importância internacional, como, por exemplo, o Parque Nacional do Pantanal Mato-grossense, a Lagoa do Peixe, a área de Mamirauá, a Ilha do Bananal de Goiás e de Tocantins e Reentrâncias Maranhenses. Por fim, a última convenção de grande importância foi assinada em Washington, no ano de 1973, denominada de Convenção sobre Comércio Internacional das Espécies da Flora e da Fauna Selvagens em Perigo de Extinção, que se encarrega de classificar as espécies em três categorias: a) Espécies ameaçadas de extinção: estas espécies são as atingidas pelo comércio nacional e internacional e, portanto, possuem um regulamento rigoroso deste comércio. b) Espécies ainda não sob ameaça de extinção: estas espécies, embora ainda não estejam ameaçadas de extinção, isto pode vir a acontecer em razão da falta de regulamentação da sua comercialização, por isso, faz-se necessária a normatização rigorosa com o propósito de evitar exploração incompatível com a sobrevivência dos espécimes. c) Espécies declaradas sujeitas a regulamentação: a declaração é feita por qualquer dos Estados parte, desde que no limite de sua competência com o fim de regulamentar o impedimento ou restrição de sua exploração necessitando da cooperação dos demais Estados parte para controlar o comércio. As espécies particulares também são protegidas e regulamentadas por várias convenções protecionistas. Uma convenção bastante importante que foi assinada pelo Brasil é o Acordo Internacional sobre Madeiras Tropicais de 1995. O máximo que o Direito Internacional do Meio Ambiente alcançou, no tocante as espécies selvagens, foi a adoção da Convenção sobre a Diversidade Biológica assinada no Rio de Janeiro durante a ECO-92. Esta convenção reflete a importância da preservação dos recursos da biodiversidade para a vida do homem. Por fim, no que se refere à desertificação, a Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação Naqueles Países que Experimentam Séries Secas e/ou Desertificação é o topo dos regulamentos. A referida convenção foi adotada em Nova York, no ano de 1994, na sede da ONU, e foi assinada pelo Brasil na mesma data, qual seja, 17 de julho de 1994, e remetida imediatamente à aprovação do Congresso Nacional. Os espaços marinhos e oceânicos são os mais atingidos pelos superpetroleiros, os quais cada dia mais possuem tamanhos dimensionais bastante elevados com capacidade de destruição do meio ambiente. O grande vilão dos mares e oceanos são as atividades de transporte internacional marítimo, que causam poluições a estes espaços. Portanto, com o fim de preservar os espaços marítimos e oceânicos, quatro convenções coletivas foram firmadas, quais sejam: a) Convenção Marpol, também conhecida como Convenção Internacional para a Prevenção da Poluição por Navios: foi assinada em 1973, tendo sido complementada pelo Protocolo de 1978. Tanto a convenção, quanto o protocolo, foram assinados pelo Brasil,por meio do do Decreto nº 2508. b) Convenção sobre Alijamento de 1972, também conhecida como Convenção sobre Prevenção de Poluição Marinha por Alijamento de Resíduos e outras Matérias: inicialmente adotada em Londres, Cidade do México, Moscou e Washington, no Brasil isso ocorreu 10 (dez) anos depois, ou seja, em 1982, pelo Decreto nº 87.566. c) Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar: esta convenção é a considerada mais perfeita codificação de regras escritas e costumeiras existente na normatização internacional dos Estados. Foi adotada na cidade de Montego Bay, Jamaica, no ano de 1982. Também é tida como um conjunto de normas inovadoras sobre os mares e oceanos, destacando-se a regulamentação dos fundos marítimos e oceânicos, bem como a instituição da zona econômica e exclusiva, sem esquecer dos deveres quanto a preservação do meio ambiente nas águas do alto mar. No Brasil, foi ratificada pelos Decretos 99.165/1990 e 1.530/1995. d) Convenção Internacional sobre Responsabilidade Civil por Danos Causados por Poluição por Óleo e Convenção Internacional sobre Responsabilidade e Reparação por danos Relacionados com o Transporte de Substâncias Tóxicas e Perigosas por Mar: ambas as convenções tratam sobre legitimidade de intervenção em alto-mar, contra os navios mercantes em caso de baixa por poluição por óleo, bem como sobre a responsabilidade civil pelos danos causados por derramamentos de óleo no meio ambiente marinho ou oceânico. A evolução no tocante a proteção ao meio ambiente de natureza internacional verifica-se pela ratificação pelo Brasil da Convenção Internacional sobre o Preparo, Resposta e Cooperação em Caso de Poluição por Óleo, promulgada pelo Decreto nº 2870, em 1998. De alta complexidade no Direito Internacional do Meio Ambiente, este tópico trata de recursos hídricos regionais, os quais se submetem a regimes jurídicos bastante particulares, que são elaborados com vistas para as necessidades de cada Estado envolvido. Em razão disto é que não existe nenhum ordenamento internacional global que trate destes assuntos, ou seja, sobre água doce. No século XX começaram a perceber a possibilidade de utilização de rio internacional para suprir necessidades humanas. Com isto, vieram as complexidades e contradições quanto a delimitação de fronteira e navegação. Ademais, em razão da escassez de água limpa surgiram regramentos mais severos quanto ao uso tradicional dos rios como escoadouros de resíduos urbanos e industriais. Três grandes destaques de macroespaços ambientais com a presença de água doce, naAmérica do Sul, são a Antártica, o complexo da Bacia do Prata e a Amazônia. Assim, com a iniciativa do Brasil a fim de proteger a Bacia do Prata criou- se o Tratado da Bacia do Prata, que foi firmado entre Brasil, Argentina, Bolívia, Paraguai e Uruguai, visando também colocar um fim nos conflitos quanto a exploração desta Bacia, em função das hidrelétricas. Já no que se refere a Amazônia, outro tratado foi firmado entre Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela, chamado de Tratado de Cooperação Amazônica. Tanto a Bacia do Prata quanto a Amazônia representam repositórios naturais de recursos da biodiversidade, sendo de preservação, interesse e responsabilidade de toda a humanidade. Grande tema da globalidade, a Proteção Internacional do Meio Ambiente foi dividida em algumas categorias temáticas pelo doutrinador Guido Fernando Silva Soares, vejamos algumas delas. No entre-guerras surgiram as primeiras manifestações do Direito Internacional do Meio Ambiente, em razão de uma arbitragem havida entre Estados Unidos e Canadá tendo como objeto a poluição atmosférica gerada por uma fábrica canadense, situada no próprio Canadá, mas que causava danos atmosféricos no território dos Estados Unidos. Conhecido como o "Caso da Fundição Trail", foi julgado no ano de 1941 por um tribunal arbitral ad hoc. Ocorre que os empresários responsáveis pelos danos da fábrica canadense não atenderam às reivindicações americanas no tocante ao pagamento de indenizações e cessação da atividade poluidora. Este fato incitou os Estados Unidos litigarem em face do Canadá, em nome próprio, para defender os direitos de seus cidadãos. Da lide proposta e dos resultados da arbitragem surgiram normas internacionais que foram inscritas nas Declarações de Estocolmo, no ano de 1972, e na do Rio de Janeiro, no ano de 1992. O combate à poluição atmosférica tanto local quanto transfronteiriça, bem como do clima, necessariamente abrange o controle de fontes poluentes geradas na terra, provindas de emissores industriais ou de queima de combustíveis fósseis, nos veículos de transporte. Em razão disto é imprescindível a regulamentação destas atividades poluentes. Contudo, o fato de minimizar as atividades danosas à atmosfera e ao clima atingem a economia dos países que necessitam suportar o alto índice de poluição local, bem como lidar com a poluição gerada em outros países. Infelizmente ainda não se conseguiu equilibrar a necessidade de desenvolvimento industrial com a preservação ambiental. Algumas convenções internacionais que estão em vigência mundial merecem ser lembradas, ainda que simplesmente citadas. I) Convenção de Viena para a Proteção da Camada de Ozônio: foi promulgada pelo Brasil pelo Decreto nº 99.280/90. II) Protocolo de Montreal sobre Substâncias que Destroem a Camada de Ozônio: foi promulgada pelo Brasil pelo Decreto nº 99.280/90. III) Ajustes ao Protocolo de Montreal sobre Substâncias que Destroem a Camada de Ozônio: promulgados no Brasil pelo Decreto nº 181/91. IV) Emenda ao Protocolo de Montreal sobre Substâncias que Destroem a Camada de Ozônio: foi submetida à aprovação do Congresso Nacional pela Mensagem Presidencial nº 537/91. V) Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima: ratificada pelo Brasil pelo Decreto nº 2652/98. VI) Protocolo de Quioto à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima: adotado em 1997. A grande dificuldade para a implantação do Protocolo de Quioto e da Convenção sobre Mudança do Clima é o fato de exigirem cooperação de vários países. Contudo, os mais poluentes como os Estados Unidos não colaboram, pois para tanto precisariam se adaptar a novas formas de vida, o que geraria grandes sacrifícios. A atividade nuclear tem duas faces, uma delas é o uso militar e a outra é o uso civil. Quando utilizada pacificamente, destina-se ao desenvolvimento tecnológico melhorando a vida humana. Porém, quando usa-se a atividade nuclear de maneira nada pacífica pode ocasionar grandes tragédias, como é o caso de Hiroshima e Nagasaki. Pacificamente a atividade nuclear é bem aceita, pois foi dela que surgiu a radiologia, a medicina nuclear, a energia elétrica, a criação das hidrelétricas e dos quilowatts das termoelétricas. Em razão dos prós e contras da atividade nuclear os Estados, após a Segunda Guerra Mundial, regularam, em nível normativo internacional, a utilização pacífica da energia nuclear. Com isto surgiu a AIEA - Agência Internacional de Energia Atômica, com sede em Viena, que é uma organização intergovernamental que tem por finalidade o controle internacional de materiais nucleares e de informações científicas e tecnológicas e o estabelecimento de padrões internacionais de segurança física e de segurança nuclear. Existem 9 (nove) tratados internacionais multilaterais, mais importantes, que tratam deste assunto: I) Tratado de Proscrição das Experiências com Armas Nucleares na Atmosfera, no Espaço Cósmico e sob a Água: promulgado pelo Brasil no ano de 1966, pelo Decreto nº 58.256. II) Tratado sobre Princípios Reguladores das Atividades dos Estados na Exploração e Uso do Espaço Cósmico, Inclusive a Lua e Demais Corpos Celestes: promulgado pelo Brasil através do Decreto nº 64.362/69. III) Tratado sobre a Proibição da Colocação de Armas Nucleares e Outras Armas de Destruição em Massa no Leito do Mar, e no Fundo do Oceano e em Seu Subsolo: promulgado pelo Brasil pelo Decreto nº 97.211/88. IV) Convenção sobre a Proibição do Desenvolvimento, Produção e Armazenamento de Armas Bacteriológicas (Biológicas) e de Toxinas: promulgada pelo Brasil através do Decreto nº 77.374/76. V) Convenção sobre a Proibição do uso Militar ou Hostil de Técnicas de Modificação Ambiental: ratificada pelo Brasil no ano de 1991, pelo Decreto nº 225. VI) Convenção sobre Proteção Física de Material Nuclear: promulgada no Brasil pelo Decreto nº 95/91. VII) Convenção sobre Pronta Notificação de Acidentes Nucleares: promulgada pelo Brasil através do Decreto nº 9/91. VIII) Convenção sobre Assistência no caso de Acidente Nuclear ou Emergência Radiológica: promulgada no Brasil pelo Decreto n º 9/91. IX) Convenção sobre a Proibição do Desenvolvimento, Produção, Estocagem e Uso das Armas Químicas e sobre a Destruição das Armas Químicas Existentes no Mundo: aprovada no Brasil pelo Decreto Legislativo nº 9/96. A América Latina é uma das poucas regiões do mundo isenta de armamentos nucleares, em virtude de um tratado assinado na Cidade do México em 1967, e aprovado no Brasil pelo Decreto nº 50/67, denominado Tratado para a Proscrição de Armas Nucleares na América Latina, conhecido como Tratado de Tlatelolco. Um importante tema que também merece nossa atenção é o patrimônio mundial: natural e cultural. Primeiramente entende-se por patrimônio cultural aquele que é construído pelo homem no curso da história, é o caso dos monumentos, das inteiras cidades antigas e modernas ou partes delas, das inscrições pré-históricas. Por sua vez, patrimônio natural, a contrario sensu, entende-se aqueles formados pela própria natureza, como é o caso das cavernas, das formações corais, das paisagens naturais selvagens de grande beleza. A necessidade da proteção destes patrimônios começou a surgir logo após a Segunda Guerra Mundial, no âmbito de atuação da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura - UNESCO. Com o crescimento do Direito Internacional do Meio Ambiente nosanos 60, começou-se a perceber que o homem é integrante do meio ambiente global e que tem como habitat mais característico o que ele mesmo constrói, denominado patrimônio mundial cultural. Esta consciência de proteção destes patrimônios tem origem nos conceitos de necessidade de proteção da biodiversidade. Assim, o meio cultural é o traço mais evidente do homem e, portanto, condição essencial para a sua existência no estágio em que se encontra visando uma evolução biológica. Para o Brasil, dois são os tratados internacionais relevantes, a Convenção sobre a Proteção da Herança Arqueológica, Histórica e Artística das Nações Americanas e a Convenção relativa à Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural. Em razão desta última convenção, assinada sob a égide da UNESCO, os bens que integram o patrimônio mundial, sejam eles cultural ou natural, devem ser cuidados não só pelo Estado que os contenha, mas por todos os outros, em âmbito internacional, através de programas de financiamento e cooperação internacionais com o fim de preservar tais patrimônios. Por fim, integrando o patrimônio mundial natural encontram-se alguns bens brasileiros, como o Parque Nacional de Iguaçu, no Paraná, as Reservas da Mata Atlântica da Costa do Descobrimento, na Bahia e no Espírito Santo, e as Reservas Florestais do Sudeste da Mata Atlântica, no Paraná e em São Paulo. Já entre os patrimônios mundiais culturais, estão o Conjunto Arquitetônico e Urbanístico de Ouro Preto em Minas Gerais, o Centro Histórico da Cidade de Olinda em Pernambuco, o Centro Histórico de Salvador na Bahia, o Santuário de Bom Jesus de Matozinhos em Minas Gerais, o Conjunto Urbanístico de Brasília no Distrito Federal, o Parque Nacional da Serra da Capivara em Piauí, o Centro Histórico de São Luis no Maranhão e o Centro Histórico da Cidade de Diamantina em Minas Gerais. Sobre a responsabilidade e reparação do dano podemos dizer que a responsabilidade civil dos Estados, antigamente, era subjetiva, ou seja, para se exigir de um Estado a reparação de prejuízos por ele causado era necessário provar a violação de uma norma anterior, a verificação de um dano e sua imputabilidade a um Estado. Contudo, com o advento das normas internacionais sobre o meio ambiente e a consciência da inevitabilidade de o homem conviver com atividades perigosas veio a baila às relações internacionais o sistema da responsabilidade objetiva ou também conhecida como responsabilidade por risco. Com a responsabilidade objetiva ou por risco ao se verificar uma norma que define uma obrigação de reparação, já é o suficiente para caracterizar o dano, definindo o seu autor e estabelecendo as suas consequências. Neste caso imediatamente se institui obrigações de seguros e indica o juiz nacional a quem a vítima deve recorrer. A responsabilidade subjetiva é excepcionada pelas normas particulares da responsabilidade objetiva. Estas normas têm origem nos usos e costumes internacionais devendo ser eles regidos em nível universal pelas convenções coletivas abaixo mencionadas: I) Convenção de Viena sobre Responsabilidade Civil por Danos Nucleares: visa a responsabilidade por danos nucleares. II) Convenção Internacional sobre Responsabilidade Civil por Danos Causados por Poluição por Óleo: visa a responsabilidade civil por danos derivados de poluição marinha por óleo. III) Convenção sobre Responsabilidade Internacional por Danos Causados por Objetos Espaciais: visa a responsabilidade por danos causados por objetos espaciais. Claro que existem outras convenções de vocação universal, contudo algumas delas se acham no aguardo da vigência internacional, e outras têm caráter regional. Um último tema a tratar nesse capítulo é o comércio e o meio ambiente. As normas de proteção ao meio ambiente têm reflexos, por vezes, contraditórios às normas que regulam o comércio internacional. Na atualidade a globalização não exige somente a economia e o comércio internacional, mas também, a par disto, vem exigindo a regulamentação ambiental. A segunda metade do século XX mostra a tendência de unificação dos mercados e, junto com ele vem a unificação da proteção ao meio ambiente, isto se justifica pelo desconhecimento de fronteiras políticas ou ideológicas essenciais do meio ambiente. A Organização Mundial do Comércio (OMC) atua ao lado da regulamentação internacional do comércio, tal organização é intergovernamental e dispõe de mecanismos para impelir os Estados a cumprirem corretamente suas normas e decisões, através de sanções de ordem econômica e comercial. Conjuntamente com a regulamentação do meio ambiente, embora não exista uma organização intergovernamental que se dedique de forma exclusiva ao tema, há diversas convenções e tratados internacionais que protegem o meio ambiente. Contudo, há certa contraposição e conflito entre os regulamentos do comércio internacional e as normas de proteção ao meio ambiente, como, por exemplo, a questão da liberdade de comércio amplamente aplicada pela OMC, o que a restringe severamente. Estes conflitos sempre irão existir, isto é fato, pois as normas de proteção ao meio ambientes, não importa se tenham procedência nacional ou internacional, sempre vão influir na economia e no comércio internacional, em virtude da elevação do preço do produto a ser comercializado em função da própria configuração dos custos dos processos produtivos. Necessário, portanto, que as empresas se harmonizem às normas ambientais regionais. Para tentar amenizar as problemáticas de um e outro setor, soluções vêm sendo estudadas pela Comissão da OMC sobre Meio Ambiente. 5. MEIO AMBIENTE ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO Nesse capítulo iremos tratar do meio ambiente ecologicamente equilibrado conforme dispõe o artigo 225 da Constituição Federal. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações. Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público ao poder público algumas medidas que são: I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas; II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético; III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção; IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade; V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente; VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente; VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade. Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar
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