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Direito Empresarial III

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Direito Empresarial III – Prof. Carlos da Fonseca Nadais
Elementos que compõem o crédito:
 fidúcia (confiança) e tempo.
Os créditos podem ser classificados em função:
 da sua garantia: 
a) crédito real, quando estiver garantido por um determinado bem do devedor (penhor/móveis ou hipoteca/imóveis), ficando esse bem vinculado ao cumprimento da obrigação; 
b) crédito pessoal, quando estiver garantido pela integridade dos bens do devedor (fiança e aval) e não por um bem específico;
da finalidade de sua utilização:
 a) crédito para consumo, quando utilizado para satisfação de suas necessidades individuais; 
b) crédito para produção, quando utilizado para produção de determinados bens (comercial, industrial, agrícola, imobiliário, etc...);
 do tempo decorrido entre cumprimento da obrigação atual e da futura: 
a) curto, 
b) médio ou 
c) longo prazo;
 do instrumento de sua realização: 
a) título de crédito; 
b) contrato (mútuo, venda a prazo, etc...);
. da pessoa que se beneficia do crédito (tomador do crédito): 
a) privado
 ou b) público;
. do local da obtenção do crédito: 
a) interno ou 
b) externo;
2. Obrigação Cambial
A obrigação cambial tem como vínculo jurídico obrigacional um título de crédito
. Teoria contratualista: O emitente de um título de crédito se obriga, em razão
de uma relação contratual.
. Teoria da declaração unilateral de vontade: a fonte da obrigação seria uma declaração unilateral de vontade livre e incondicional do devedor. 
. Teoria dúplice de Vivante: para esta teoria deve-se analisar:
i) perante seu credor: o fundamento será o contrato; 
ii) perante terceiro de boa-fé: o fundamento será uma declaração unilateral de vontade. 
Baseado nessa teoria que se conceitua titulos de crédito, no artigo 887 CC, são extraídas algumas características dos títulos de crédito: 
cartularidade 
literalidade 
autonomia 
Art. 887 CC. O título de crédito, documento (i) necessário ao exercício do direito literal (ii) e autônomo (iii) nele contido, somente produz efeito quando preencha os requisitos da lei.
Art. 784 CPC. São títulos executivos extrajudiciais:
I - a letra de câmbio, a nota promissória, a duplicata, a debênture e o cheque;
II - a escritura pública ou outro documento público assinado pelo devedor;
III - o documento particular assinado pelo devedor e por 2 (duas) testemunhas;
IV - o instrumento de transação referendado pelo Ministério Público, pela Defensoria Pública, pela Advocacia Pública, pelos advogados dos transatores ou por conciliador ou mediador credenciado por tribunal;
V - o contrato garantido por hipoteca, penhor, anticrese ou outro direito real de garantia e aquele garantido por caução;
VI - o contrato de seguro de vida em caso de morte;
VII - o crédito decorrente de foro e laudêmio;
VIII - o crédito, documentalmente comprovado, decorrente de aluguel de imóvel, bem como de encargos acessórios, tais como taxas e despesas de condomínio;
IX - a certidão de dívida ativa da Fazenda Pública da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, correspondente aos créditos inscritos na forma da lei;
X - o crédito referente às contribuições ordinárias ou extraordinárias de condomínio edilício, previstas na respectiva convenção ou aprovadas em assembleia geral, desde que documentalmente comprovadas;
XI - a certidão expedida por serventia notarial ou de registro relativa a valores de emolumentos e demais despesas devidas pelos atos por ela praticados, fixados nas tabelas estabelecidas em lei;
XII - todos os demais títulos aos quais, por disposição expressa, a lei atribuir força executiva.
Art. 94 LRF. Será decretada a falência do devedor que:
I – sem relevante razão de direito, não paga, no vencimento, obrigação líquida materializada em título ou títulos executivos protestados cuja soma ultrapasse o equivalente a 40 (quarenta) salários-mínimos na data do pedido de falência;
II – executado por qualquer quantia líquida, não paga, não deposita e não nomeia à penhora bens suficientes dentro do prazo legal;
Art. 97 LRF. Podem requerer a falência do devedor:
I – o próprio devedor, na forma do disposto nos arts. 105 a 107 desta Lei; Art. 105 LRF. O devedor em crise econômico-financeira que julgue não atender aos requisitos para pleitear sua recuperação judicial deverá requerer ao juízo sua falência, expondo as razões da impossibilidade de prosseguimento da atividade empresarial, (...):
5. Atributos dos títulos de créditos.
Art. 887 CC. O título de crédito, documento necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele contido, somente produz efeito quando preencha os requisitos da lei. 
do art. 887 CC podemos perceber que os atributos essenciais do título de crédito são: 
negociabilidade;
executividade;
autonomia; 
literalidade.
5.3. títulos de apresentação: o credor, para exigir a obrigação contida no título de crédito (princípio
da literalidade - módulo 02 item 6.2), deve apresentar o documento original ao exercício desse
direito (princípio da cartularidade - módulo 02 - item 6.1), desde que preenchido os requisitos
legais (princípio do formalismo - módulo 01 - item 5.1). Assim o devedor deve ter a oportunidade
de avaliar esses quesitos e, por esta razão, que se exige a apresentação do documento original.
5.4. títulos de circulação ou negociação: os títulos de crédito devem estar aptos a circular, uma vez
que sua principal função é a circulabilidade ou negociabilidade dos direitos incorporados ao título
de crédito (não necessariamente e exclusivamente o crédito, como podemos interpretar pelo
conhecimento de transporte ou conhecimento de depósito)
5.5. representam obrigações líquidas, certas e exigíveis: os títulos de crédito representam uma
obrigação líquida, certa e exigível (art. 803, I do CPC). A certeza quanto à existência (an debeatur)
e a liquidez determinada ou determinável (quantum debeatur), dão a natureza executiva ao título de
crédito (art. 784, I, CPC).
Art. 784 CPC. São títulos executivos extrajudiciais:
I - a letra de câmbio, a nota promissória, a duplicata, a debênture
[Empresarial II] e o cheque;
Art. 803 CPC. É nula a execução se:
I - o título executivo extrajudicial não corresponder a obrigação certa,
líquida e exigível;
5.6. eficácia processual abstrata ou de auto-executoriedade: Os títulos de crédito tem força
executiva e gera para o credor um poder processual independente do mérito da pretensão
consubstanciada no título. O título de crédito não é prova de crédito porque desta prova não há
necessidade, e o que autoriza a execução é exclusivamente o título, e não a obrigação que o gerou.
(art. 786 c.c. art. 784, I, CPC). Essa característica deriva do princípio da autonomia dos títulos de
crédito (módulo 02 - item 6.3)
Art. 786 CPC. A execução pode ser instaurada caso o devedor não satisfaça
a obrigação certa, líquida e exigível consubstanciada em título executivo.
Parágrafo único. A necessidade de simples operações aritméticas para
apurar o crédito exequendo não retira a liquidez da obrigação constante do
título.
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proibida a reprodução ou distribuição - somente com autorização expressa do autor
Em uma execução, pode o credor requerer a tutela jurisdicional com base na aparência formal do
título (legitimidade extrínseca). O juiz vai analisar se o documento, que instrui a inicial, possui
algum vício de forma. Caso haja deve o juiz reconhecê-lo de ofício, caso contrário mandará citar o
executado. Se houver algum vício, que não seja de forma (legitimidade intrínseca), o juiz não
poderá reconhecê-lo de oficio, pois só podem ser reconhecidos mediante provocação do executado,
através de embargos.
5.7. títulos de resgate: os títulos de crédito, como vimos na construção do conceito de crédito,
pressupõe o futuro pagamento em dinheiro, para que se extinga a relação cambiária. Ressalvando-se
apenas que, em não havendo data de vencimento no título de crédito, a exigência será à vista.
5.8. obrigação querableou quesível: uma obrigação cambiária é dita quesível ou querable, posto
que para ser cumprida, ou satisfeita, é necessário que o credor procure o devedor para exigir o
pagamento do título na data e local aprazado.
5.9. natureza pro solvendo: os títulos de crédito tem, via de regra, natureza pro solvendo (não pró
soluto), não implica em novação no que tange a relação causal (causa debendi), que subsiste a
relação cambiária, porque a duas relações subsistem (título + negócio incidente). Um exemplo,
tendo uma confissão de dívida1 sido paga com cheque2, somente após a compensação do cheque é
que também se quita o negócio (duas relações subsistem1e2 e também as duas relações1e2 se
extinguem concomitantemente). Outro exemplo, pelo contrato de compromisso de compra e
venda1, com promitente comprador obrigando-se a pagar o preço no prazo de 90 dias, a contar da
data de celebração da avença, e, representando esse preço, emite uma nota promissória2 no valor
do preço e na data avençada. A emissão da nota promissória não extingue a obrigação do
pagamento do preço, e, caso o promitente comprador não pague o preço, o promitente vendedor
poderá optar entre a) promover a ação de cobrança da referida nota promissória, ou b) interpelar o
promitente comprador para que no prazo de 15/30 dias (loteamento/parcelamento solo urbano) o
faça o pagamento, sob pena de rescisão da promessa de compra e venda. Percebe-se que as duas
relações subsistem concomitantemente e se extinguem da mesma forma.
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Princípios gerais dos títulos de crédito (módulo 02)
6. Princípios gerais dos títulos de crédito
Como vimos na Teoria dúplice de Vivante e, por conseguinte, no conceito de titulo de crédito,
determinado no art. 887, CC, extraímos algumas características dos títulos de crédito: cartularidade
(i), literalidade (ii) e autonomia (iii), que também se consubstanciam nos Princípios Gerais dos
títulos de crédito:
Art. 887 CC. O título de crédito, documento necessário (i) ao exercício do
direito literal (ii) e autônomo (iii) nele contido, somente produz efeito
quando preencha os requisitos da lei.
6.1. Princípio da cartularidade. Quando se afirma que o título de crédito é o "documento
necessário ao exercício do direito (...) nele contido" (i), entendemos que o exercício de qualquer
direito representado no título pressupõe uma posse legítima. Somente quem exibe a cártula (o papel
em que se lançaram os atos cambiários constitutivos de crédito) pode pretender a satisfação de uma
pretensão relativamente ao direto representado no título ou documento (módulo 1 - item 5.3).
O documento é um meio de prova, qualquer meio físico que se pode colocar algo é documento. O
título de crédito sempre terá uma manifestação física, só tendo valor o seu original. Para que o
credor de um título de crédito exerça os direitos por ele representados é indispensável que se
encontre na posse do documento. Exceção a essa regra são as duplicatas, que admitem a execução
judicial de crédito representado por este tipo de título, sem a sua apresentação pelo credor, segundo
o art. 15, § 2º, da Lei 5.474/68.
Art. 15 L 5.474/68 - A cobrança judicial de duplicata ou triplicata será
efetuada de conformidade com o processo aplicável aos títulos executivos
extrajudiciais, de que cogita o Livro II do Código de Processo Civil ,quando
se tratar:
I - de duplicata ou triplicata aceita, protestada ou não;
II - de duplicata ou triplicata não aceita, contanto que, cumulativamente:
a) haja sido protestada;
b) esteja acompanhada de documento hábil comprobatório da entrega e
recebimento da mercadoria; e
c) o sacado não tenha, comprovadamente, recusado o aceite, no prazo, nas
condições e pelos motivos previstos nos arts. 7º e 8º desta Lei.
§ 2º - Processar-se-á também da mesma maneira a execução de duplicata ou
triplicata não aceita e não devolvida, desde que haja sido protestada
mediante indicações do credor ou do apresentante do título, nos termos do
art. 14, preenchidas as condições do inciso II deste artigo
A exceção da apresentação do título de crédito para aparelhar a execução, ou ainda, a indicação para
protesto, é pertinente a duplicata virtual, onde todo o trâmite é feito por meios magnéticos ou
digitais, não havendo a necessidade da cártula propriamente dita. Abaixo um acórdão do Superior
Tribunal de Justiça que representa a jurisprudência dominante:
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proibida a reprodução ou distribuição - somente com autorização expressa do autor
EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL DUPLICATA VIRTUAL.
PROTESTO POR INDICAÇÃO. BOLETO BANCÁRIO
ACOMPANHADO DO COMPROVANTE DE RECEBIMENTODAS
MERCADORIAS. DESNECESSIDADE DE EXIBIÇÃO JUDICIAL DO
TÍTULO DECRÉDITO ORIGINAL. 1. As duplicatas virtuais - emitidas e
recebidas por meio magnético ou de gravação eletrônica - podem ser
protestadas por mera indicação, de modo que a exibição do título não é
imprescindível para o ajuizamento da execução judicial. Lei 9.492 /97. 2.
Os boletos de cobrança bancária vinculados ao título virtual,devidamente
acompanhados dos instrumentos de protesto por indicação e dos
comprovantes de entrega da mercadoria ou da prestação dos serviços,
suprem a ausência física do título cambiário eletrônico e constituem, em
princípio, títulos executivos extrajudiciais. (STJ - REsp 1024691 PR
2008/0015183-5 - Terceira Turma - rel. Min. NANCY ANDRIGHI - j.
22/03/2011 - DJe 12/04/2011)
6.2. Princípio da literalidade. Quando se afirma que o título de crédito é o "documento necessário
ao exercício do direito literal (...) nele contido" (ii), entendemos que o exercício de qualquer direito
representado será direito que literalmente estiver escrito no título de crédito, não se admitindo
interpretação extensiva ou restritiva. Assim, o título de crédito vale pelo que está escrito. O credor
pode exigir tudo o que está expresso na cártula, por outro lado, o devedor tem o direito de só pagar
o que está expresso no título. Em regra, não se pode colocar cláusulas de juros em título de crédito.
Pode-se até cobrar, mas não pode estar contida no título (art. 890 do CC).
Art. 890, CC. Consideram-se não escritas no título a cláusula de juros, a
proibitiva de endosso, a excludente de responsabilidade pelo pagamento ou
por despesas, a que dispense a observância de termos e formalidade
prescritas, e a que, além dos limites fixados em lei, exclua ou restrinja
direitos e obrigações.
Art. 51 D 2.044/08. Na ação cambial, somente é admissível defesa fundada
no direito pessoal do réu contra o autor, em defeito de forma do título e na
falta de requisito necessário ao exercício da ação.
6.3. Princípio da autonomia. Quando se afirma que o título de crédito é o "documento necessário
ao exercício do direito (...) autônomo nele contido" (ii), entendemos que o título de crédito
configura documento constitutivo de um direito novo, autônomo, originário e completamente
desvinculado das relação que lhe deu origem. As obrigações cambiais, constantes no título de
crédito, são autônomas e independentes (art.13 da Lei 7357/85), assim os vícios que comprometem
a validade de uma relação jurídica, documentada em título de crédito, não se estendem às demais
relações abrangidas no mesmo documento.
Art. 13 L 7.357/85. As obrigações contraídas no cheque são autônomas e
independentes.
Art. 43 D 2.044/08. As obrigações cambiais, são autônomas e
independentes umas das outras. (...)
Direito Empresarial III – Prof. Carlos da Fonseca Nadais
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proibida a reprodução ou distribuição - somente com autorização expressa do autor
Do princípio da autonomia extraem-se dois sub-princípios:
6.3.1. Subprincípio da abstração. Quando o título de crédito é posto em circulação
(saindo da esfera do credor original para terceiros), se desvincula da obrigação que lhe
deu origem (art. 17 LUG e art. 25 L 7.357/85). Aabstração somente se verifica se o
título circula, ou seja, só quando é transferido para terceiros de boa-fé, opera-se o
desligamento entre o título de crédito e a relação em que teve origem. Se o terceiro
estiver de má-fé o princípio não se aplica. Esse subprincípio está ligado ao aspecto
material do princípio da autonomia, pois diz respeito à obrigação.
Art. 17 LUG. As pessoas acionadas em virtude de uma letra não podem
opor ao portador as exceções fundadas sobre as relações pessoais delas com
o sacador ou com os portadores anteriores, a menos que o portador ao
adquirir a letra tenha procedido conscientemente em detrimento do devedor.
Art. 25 L 7.357/85. Quem for demandado por obrigação resultante de
cheque não pode opor ao portador exceções fundadas em relações pessoais
com o emitente, ou com os portadores anteriores, salvo se o portador o
adquiriu conscientemente em detrimento do devedor.
6.3.2. Subprincípio da Inoponibilidade de exceções contra terceiro de boa-fé. Quando o
título de crédito é objeto de execução, o portador do título não pode ser atingido por
defesas relativas a negócio do qual ele não participou. O título chega a ele
completamente livre dos vícios que eventualmente adquiriu em relações pretéritas. Esse
subprincípio está ligado ao aspecto processual do princípio da autonomia, pois diz
respeito ao processo de execução (art. 915 e art. 916 CC; art. 17 Lei 57.663/66 - LUG).
Art. 915 CC. O devedor, além das exceções fundadas nas relações pessoais
que tiver com o portador, só poderá opor a este as exceções relativas à
forma do título e ao seu conteúdo literal, à falsidade da própria assinatura, a
defeito de capacidade ou de representação no momento da subscrição, e à
falta de requisito necessário ao exercício da ação
Art. 916 CC. As exceções, fundadas em relação do devedor com os
portadores precedentes, somente poderão ser por ele opostas ao portador, se
este, ao adquirir o título, tiver agido de má-fé.
Art. 17 L 57.663/66 - LUG. As pessoas acionadas em virtude de uma letra
não podem opor ao portador as exceções fundadas sobre as relações
pessoais delas com o sacador ou com os portadores anteriores, a menos que
o portador ao adquirir a letra tenha procedido conscientemente em
detrimento do devedor.
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proibida a reprodução ou distribuição - somente com autorização expressa do autor
Classificação dos títulos de crédito (módulo 03)
7. Classificam-se os títulos de crédito segundo diversos critérios, sendo que cada doutrinador
utiliza parâmetros que entende serem mais relevantes. Faremos, então, um compendio das
classificações dos principais doutrinadores, lembrando que não há como esgotar a apresentação de
todas divisões possíveis, sendo que nem é intuito desse trabalho.
7.1. Quanto ao modelo:
7.1.1. livres. só exigem alguns dos requisitos legais, mas não têm uma forma prevista em lei
(podem ser feitos em casa, por exemplo). Ex.: nota promissória.
7.1.2. vinculados – necessariamente devem ser emitidos apenas por quem tem autorização
para isso. A forma é a essência do documento, sendo requisito de validade. Modelo previsto
em lei. Ex.: cheque. Um cheque somente será um cheque se lançado no formulário próprio
fornecido, por talão, pelo próprio banco sacado. Mesmo que se lancem, em um instrumento
diverso, todos os requisitos que a lei estabelece para o cheque, este instrumento não será
título de crédito, não produzirá os efeitos jurídicos do cheque.
7.2. Quanto à forma ou estrutura:
7.2.1. ordens de pagamento – representa uma determinação de pagamento. Tem-se três
situações jurídicas diferentes: a) sacador: aquele que dá a ordem, que emite, assina o
cheque; b) sacado: para quem a ordem é dada. No caso do cheque será o banco; c) tomador:
quem se beneficia pela ordem de pagamento (beneficiário).
Em geral, tem-se as três figuras intervenientes na ordem de pagamento, contudo, quando
vou trocar um cheque de minha propriedade, sacador e tomador confundem-se na mesma
pessoa, o mesmo ocorre na duplicata, que é a exceção à regra, eis que sua emissão gera só
sacador e tomador. São exemplos de ordens de pagamento: cheque e letra de câmbio. Por
não ser o cheque dinheiro propriamente dito, é lícita sua não aceitação.
7.2.2. promessas de pagamento – tem apenas duas figuras: a) sacado (quem emite); e b)
tomador (pessoa que receberá o valor). São exemplos de promessa de pagamento: a nota
promissória e a cédula de crédito bancária.
7.3. Quanto às hipóteses de emissão:
7.3.1. abstratos. não precisam estar vinculados a um negócio jurídico anterior. Pode ser
criado por qualquer causa, para representar obrigação de qualquer natureza no momento do
saque. Por exemplo: letra de câmbio; nota promissória e cheque.
7.3.2. causais. só podem ser emitidos se houver uma causa prévia, explícita na lei, ou seja,
se ocorrer o fato que a lei elegeu como causa possível para sua emissão. Ex.: duplicata (só
pode ser emitida se houver compra e venda empresarial e só pode ser emitida pelo
empresário em sua atividade empresarial. Para emitir a duplicata deve-se ter uma nota fiscal
de prestação de serviços ou de compra e venda, sob pena de estar cometendo o crime de
duplicata simulada.
Art. 172 CP. Expedir ou aceitar duplicata que não corresponda, juntamente
com a fatura respectiva, a uma venda efetiva de bens ou a uma real
prestação de serviço.
Pena - Detenção de um a cinco anos, e multa equivalente a 20% sobre o
valor da duplicata.
Direito Empresarial III – Prof. Carlos da Fonseca Nadais
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proibida a reprodução ou distribuição - somente com autorização expressa do autor
7.4. Quanto à circulação ou forma de transferência:
7.4.1. ao portador. apesar de estar previsto no CC (art. 904 e ss CC), não tem validade
prática. O único exemplo existente no Brasil é o cheque de até cem reais. Não indica o nome
do beneficiário, qualquer pessoa que esteja de posse dele pode se beneficiar, circula de mera
tradição, sendo esta a regra. Hoje não temos mais títulos ao portador por força da L 8.021/90
- plano Collor.
7.4.2. nominativos ou nominais – há a indicação do beneficiário. Para circular precisa de
endosso ou cessão de crédito. Os nominativos à ordem circulam mediante tradição
acompanhada de endosso, e os com a cláusula não à ordem circulam com a tradição
acompanhada de cessão de crédito.
7.5. Quanto ao conteúdo da declaração cartular:
7.5.1. títulos próprios: são aqueles que efetivamente consubstanciam operações de crédito e
assim, todos os institutos do regime cambiário aplicam-se a eles: endosso, aval, protesto,
saque. Por exemplo: letra de câmbio, cheque, nota promissória, duplicata, debêntures (art.
585, I, CPC: cambiais; os demais incisos: contratuais - direito civil).
Art. 16 D 57.663/66 - O detentor de uma letra é considerado portador
legítimo se justifica o seu direito por uma série ininterrupta de endossos,
mesmo se o último for em branco. (documento de legitimação)
7.5.2. títulos impróprios: são aqueles que, embora atenda aos princípios cambiários
(cartularidade, literalidade, autonomia), documentam outros direitos que não os direitos de
crédito. Assim nem sempre representam créditos, também podem representar outros direitos.
São exemplos: conhecimento de depósito de mercadorias e warrant (títulos armazeneiros -
Decreto 1.102/1903); Conhecimento de transporte; títulos de crédito rurais (Decreto Lei
167/67).
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Letra de câmbio (módulo 04)
10.1. Conceito de letra de câmbio
Como vimos a letra de câmbio é o título de crédito com origem mais remota, passando por todos os
períodos de evolução do direito cambiário (módulo - 01 item 03), sendo considerado por muitos,
como título de crédito mais apropriado ao estudo da teoria geral dos atos cambiários.
A letra de câmbio é um título de crédito abstrato (i), correspondendo a documentoformal (ii),
decorrente de relação ou relações de crédito, entre duas ou mais pessoas (iii), pela qual a designada
sacador, dá ordem de pagamento (iv) pura e simples, à vista ou à prazo, a outra pessoa denominada
sacado, a seu favor ou de terceira pessoa chamada tomador ou beneficiário.
A abstração (i) decorre de poder se originar de qualquer causa (módulo 03 - item 7.3.1.); é
documento formal (ii) porque só pode ser considerada como tal se observar os requisitos essenciais
fixados em lei (art. 1° e 2° do Decreto 2.044/1908); as figuras jurídicas (iii) envolvidas, por ser uma
ordem de pagamento (iv), são sacador, sacado e tomador ou beneficiário (módulo 03 - item 7.2.1.).
Art. 1º D 2.044/1.908 *. A letra de câmbio é uma ordem de pagamento e
deve conter requisitos, lançados, por extenso, no contexto:
I. A denominação “letra de câmbio” ou a denominação equivalente na
língua em que for emitida.
II. A soma de dinheiro a pagar e a espécie de moeda.
III. O nome da pessoa que deve pagá-la. Esta indicação pode ser inserida
abaixo do contexto.
IV. O nome da pessoa a quem deve ser paga. A letra pode ser ao portador e
também pode ser emitida por ordem e conta de terceiro. O sacador pode
designar-se como tomador.
V. A assinatura do próprio punho do sacador ou do mandatário especial. A
assinatura deve ser firmada abaixo do contexto.
Art. 2º D 2.044/1.908 *. Não será letra de câmbio o escrito a que faltar
qualquer dos requisitos acima enumerados.
10.2. Pressuposto para a criação da letra de câmbio:
O pressuposto para a criação da letra de câmbio é a existência de direito de crédito de uma pessoa
em relação à outra, e, com base nesse direito o credor (sacador), dá ordem de pagamento ao seu
devedor na relação causal (sacado), para que lhe pague o valor no vencimento, especificados no
título.
10.3. Figuras intervenientes na letra de câmbio.
Numa letra de câmbio, como vimos no item 10.1, temos três figuras jurídicas (iii):
10.3.1. o sacador (emitente) que emite a letra de câmbio, que dá ordem de pagamento,
determina o valor que será pago ao tomador/credor/beneficiário;
10.3.2. o tomador (credor/beneficiário) que recebe a letra de câmbio
10.3.3. o sacado (devedor) aquele que deve realizar o pagamento da letra de câmbio ao
tomador/credor/beneficiário (dentro das condições estabelecidas); para quem a ordem é dada
e que deve dar o aceite no título.
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proibida a reprodução ou distribuição - somente com autorização expressa do autor
Podemos identificá-las na figura abaixo que representa uma letra de câmbio.
letra de câmbio e suas 'figuras jurídicas'
10.4. Requisitos para emissão da letra de câmbio.
Para que um documento produza efeitos de letra de câmbio, deve atender determinados requisitos
essenciais estabelecidos em lei (art. 1° e art. 2° do Decreto 2.044/1908 *). Tais requisitos podem ser
definidos em intrínsecos e extrínsecos.
10.4.1. Requisitos intrínsecos da letra de câmbio (internos).
Os requisitos intrínsecos, também chamados subjetivos ou substanciais, são aqueles
pertinentes a qualquer negócio jurídico, como capacidade, consentimento, forma e objeto
idôneo (art. 104 CC). Se não forem respeitados tais requisitos, o título será nulo (validade).
Art. 104 CC. A validade do negócio jurídico requer:
I - agente capaz;
II - objeto lícito, possível, determinado ou determinável;
III - forma prescrita ou não defesa em lei.
10.4.2. Requisitos extrínsecos da letra de câmbio (externos)
Os requisitos extrínsecos, também chamados objetivos ou formais, e podem ser divididos
em essenciais e não essenciais.
10.4.2.1. Requisitos extrínsecos essenciais:
São aqueles que a LUG considera imprescindíveis para que o documento valha como
uma letra de câmbio, ou seja, não terá valor cambiário, mas tão somente servirá de
indício de prova para o direito comum. (art. 1° e art. 2° do Decreto 2.044/1908 * c/c
art. 889 CC).
Art. 889 CC. Deve o título de crédito conter a data da emissão, a indicação
precisa dos direitos que confere, e a assinatura do emitente.
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proibida a reprodução ou distribuição - somente com autorização expressa do autor
a) denominação "letra de câmbio" - cláusula cambiária (art. 1°, I D 2.044/1.908).
A expressão “letra de câmbio” deve estar inserida no próprio texto da letra de
câmbio e na língua em que foi dada a ordem de pagamento;
b) ordem incondicional de pagamento de quantia determinada (art. 1°, II D
2.044/1.908 - LUG). A ordem de pagamento deve ser pura e simples, não tendo
lugar para a inserção de condições suspensivas ou resolutivas. A
incondicionalidade do pagamento é pressuposto necessário para a circulação do
título de crédito, assim uma cláusula impeditiva à circulação do título violaria o
princípio da literalidade (módulo 02 - item 6.2). A ordem de pagamento deve ser
em quantia determinada, ou seja, aquela que corresponda a uma soma de dinheiro.
c) nome da pessoa que deve pagar - sacado (art. 1°, III D 2.044/1.908)
Deve estar contida o nome da pessoa, natural ou jurídica, que irá pagar, ou seja, o
sacado, que é a pessoa que recebe a ordem do sacador de pagar o título, baseada
na relação de crédito que há entre os dois.
O nome do sacado pode ser abreviado se, dessa forma, for possível a sua
identificação. Também será possível que conste o nome do sacado em qualquer
lugar do anverso do título, não sendo obrigatório que seja feita no texto. Se o
sacado for incapaz absolutamente deverá indicar o representante legal, ao passo
que, no caso de sacado relativamente incapaz deverá o aceite ter também a
assinatura do seu assistente.
Pluralidade de sacados: quando várias pessoas são nomeadas sacadas pelo
sacador ocorre a luralidade de sacados. A LUG não trata da hipótese, mas o
Decreto 2.044/1908 a admite no art. 10 e art. 20, § 2º. Nesses casos a apresentação
deverá ser sucessiva, ainda que os sacados tenham sido nomeados conjunta ou
alternativamente. Assim, o portador fará a apresentação ao primeiro sacado e, se
este não aceitar, será apresentado ao próximo sacado se este for domiciliado na
mesma praça.
Art. 10 D 2.044/1908. Sendo dois ou mais os sacados, o portador deve
apresentar a letra ao primeiro nomeado; na falta ou recusa do aceite, ao
segundo, se estiver domiciliado da mesma praça; assim, sucessivamente,
sem embargo da forma da indicação na letra dos nomes sacados
Art. 20 D 2.044/1908. A letra deve ser apresentada ao sacado ou ao
aceitante para o pagamento, no lugar designado e no dia do vencimento ou,
sendo este dia feriado por lei, no primeiro dia útil imediato, sob pena de
perder o portador o direito de regresso contra o sacador, endossadores e
avalistas.
(...)
§ 2º No caso de recusa ou falta de pagamento pelo aceitante, sendo dois ou
mais os sacados, o portador deve apresentar a letra ao primeiro nomeado, se
estiver domiciliado na mesma praça; assim sucessivamente, sem embargo
da forma da indicação na letra dos nomes dos sacados.
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proibida a reprodução ou distribuição - somente com autorização expressa do autor
d) nome da pessoa para quem deve ser pago o título - tomador (art. 1°, IV D
2.044/1.908)
A letra de câmbio denomina tomador, beneficiário ou mesmo credor aquele que
irá receber o pagamento do título. A falta de menção do credor originário do
documento causa total ineficácia para Direito Cambiário, posto que a letra de
câmbio ao portador poderia, em tese, concorrer com o papel moeda. O art. 1°, IV
D 2.044/1.908 admitia os títulos ao portador ("A letra pode ser ao portador"), mas
temos a vedação expressa de "qualquer título" "ao portador" (art. 907 CC cc art.
1° e art. 2° L 8.021/90)
Art. 1° L 8.021/1990. A partir da vigência desta lei, fica vedado o
pagamento ou resgate de qualquer título ou aplicação, bem como dos seus
rendimentos ou ganhos, a beneficiário não identificado.
Art. 2° L 8.021/90. A partir dadata de publicação desta lei fica vedada:
II - a emissão de títulos e a captação de depósitos ou aplicações ao portador
ou nominativos-endossáveis;
Art. 907 CC/2002. É nulo o título ao portador emitido sem autorização de
lei especial.
Pluralidade de tomadores: No caso de indicação conjunta ou disjunta do tomador
da letra de câmbio, o seu possuidor é considerado, para os efeitos cambiais, p
credor único da obrigação, podendo endossar e protestar o título, bom como
mover as ações cambiárias cabíveis.
Art. 39 D 2.044/1908. O possuidor é considerado legítimo proprietário da
letra ao portador e da letra endossada em branco.
§ 1º No caso de pluralidade de tomadores ou de endossatários, conjuntos
ou disjuntos, o tomador ou o endossatário possuidor da letra é considerado,
para os efeitos cambiais, o credor único da obrigação.
Art. 8º D 2.044/1908. O endosso transmite a propriedade da letra de câmbio.
Para a validade do endosso, é suficiente a simples assinatura do próprio
punho do endossador ou do mandatário especial, no verso da letra. O
endossatário pode completar este endosso.
§ 3º É vedado o endosso parcial.
e) assinatura do sacador (art. 1°, V D 2.044/1.908 e art. 1.8 LUG). Da assinatura
do sacador decorre a constituição do crédito, pois o sacador torna-se codevedor da
letra de câmbio. Se o sacado não aceitar a ordem que lhe foi dirigida pelo sacador,
ou tendo aceito não a cumpriu no vencimento, o credor poderá cobrar o sacador,
uma vez atendidas as condições próprias do regime cambial. Entretanto tal
assertiva na LUG foi objeto de reserva (Anexo II, artigo 2º), de forma que o
Decreto 2.044/1908; em seu art.1º, V; art. 8°, segunda parte; art. 11 e art. 14,
segunda parte; traz a possibilidade de o ato cambiário ser praticado por
mandatário com poderes especiais.
Art. 8º D 2.044/1908. O endosso transmite a propriedade da letra de câmbio.
Para a validade do endosso, é suficiente a simples assinatura do próprio
punho do endossador ou do mandatário especial, no verso da letra. O
endossatário pode completar este endosso.
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Art. 11 D 2.044/1908. Para a validade do aceite é suficiente a simples
assinatura do próprio punho do sacado ou do mandatário especial, no
anverso da letra.
Art. 14. D 2.044/1908. O pagamento de uma letra de câmbio, independente
do aceite e do endosso, pode ser garantido por aval. Para a validade do aval,
é suficiente a simples assinatura do próprio punho do avalista ou do
mandatário especial, no verso ou no anverso da letra.
O mandato especial só é possível para operações civis, não para operações de
consumo (art. 51, VIII, CDC e Súmula 60, STJ – cláusula com mandato).
Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais
relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:
VIII - imponham representante para concluir ou realizar outro negócio
jurídico pelo consumidor;
Súmula 60 STJ - Obrigação Cambial - Procurador do Mutuário Vinculado
ao Mutuante. É nula a obrigação cambial assumida por procurador do
mutuário vinculado ao mutuante, no exclusivo interesse deste.
f) data do saque: requisito essencial previsto na LUG (art. 1.7, LUG), mas não
para o Decreto 2.044/1908 (art. 1°, D 2.044/1908), não a considerava como
requisito de validade do título. O dia e o ano podem ser escritos em algarismos,
mas o mês deve ser por extenso.
Art.1°. LUG. A letra contém:
7. A indicação da data em que, e do lugar, onde a letra é passada
10.4.2.2. Requisitos extrínsecos não essenciais (supríveis ou acidentais)
São aqueles que na sua ausência não afetam a validade do documento da letra de
câmbio, pois, a própria lei irá suprir a ausência destes requisitos (art. 2º LUG):
a) época do vencimento (art. 20, § 1º, primeira parte D 2.044/1908 e art. 2.2
LUG):
Não contendo a Letra de Câmbio a época do vencimento, será considerada como
pagável à vista, ou seja, contra a sua apresentação. São nulas as letras com
vencimentos diferentes ou sucessivos, conforme artigo 33 LUG.
Art. 20. D 2.044/1908. A letra deve ser apresentada ao sacado ou ao aceitante
para o pagamento, no lugar designado e no dia do vencimento ou, sendo este dia
feriado por lei, no primeiro dia útil imediato, sob pena de perder o portador o
direito de regresso contra o sacador, endossadores e avalistas.
§ 1º Será pagável à vista a letra que não indicar a época do vencimento. Será
pagável, no lugar mencionado ao pé do nome do sacado, a letra que não indicar
o lugar do pagamento.
Art. 33 LUG. Uma letra pode ser sacada:
A vista;
A um certo termo de vista;
A um certo termo de data
Pagável num dia fixado
As letras, quer com vencimentos diferentes, quer com vencimentos sucessivos,
são nulas.
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De modo reverso, pela leitura do art. 33 da LUG, temos que não são admissíveis:
i) datas incertas (próximo de 20/01/2014)
ii) datas impossíveis (31/02/2014)
iii) datas alternativas (20/01/2014 ou 21/01/2014)
iv) datas distintas/vencimentos parcelados (uma única letra de câmbio no valor de
$3.000, com vencimentos 20/01/2014; 25/01/2014/30/01/2014 cada parcela no
valor de $ 1.000)
b) lugar do pagamento (art. 20, § 1º, segunda parte D 2.044/1908 e art. 2.3 LUG):
Trata-se de requisito acessório, porque, se não constar da letra de câmbio, a lei
supre, considerando como sendo o lugar designado ao lado do nome do sacado,
que presume ser o lugar do seu domicílio.
Art. 2º LUG. O escrito em que faltar algum dos requisitos indicados no
artigo anterior não produzirá efeitos, salvo nos casos determinados nas
alíneas seguintes:
Na falta de indicação especial, o lugar designado ao lado do nome do
sacado considera-se como sendo o lugar do pagamento, e, ao mesmo
tempo, o lugar do domicilio do sacado.
Art. 20. D 2.044/1908. A letra deve ser apresentada ao sacado ou ao
aceitante para o pagamento, no lugar designado e no dia do vencimento ou,
sendo este dia feriado por lei, no primeiro dia útil imediato, sob pena de
perder o portador o direito de regresso contra o sacador, endossadores e
avalistas.
§ 1º Será pagável à vista a letra que não indicar a época do vencimento. Será
pagável, no lugar mencionado ao pé do nome do sacado, a letra que não
indicar o lugar do pagamento.
c) lugar do saque (artigo 2.4 LUG):
Art. 2º LUG. O escrito em que faltar algum dos requisitos indicados no
artigo anterior não produzirá efeitos, salvo nos casos determinados nas
alíneas seguintes:
A letra sem indicação do lugar onde foi passada considera-se como tendo-o
sido no lugar designado, ao lado do nome do sacador.
O STF Considera ainda vigente o artigo 54, § 1º do Decreto 2.044/1908, de forma
que, em sendo omisso o local ao lado do nome do sacador, não será caso de
nulidade do título, porque, segundo o Decreto 2.044/1908, o portador poderá
inserir o local do saque.
Súmula 387 STF - Cambial Emitida ou Aceita com Omissões, ou em Branco -
Complementação pelo Credor de Boa-Fé antes da Cobrança ou do Protesto. A
cambial emitida ou aceita com omissões, ou em branco, pode ser completada pelo
credor de boa-fé antes da cobrança ou do protesto.
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Declarações cambiárias e atos cambiários: emissão; saque e endosso (módulo 05)
11. Declarações cambiárias
As declarações cambiárias são manifestações de vontade em relações cambiárias que podem ser:
11.1. originárias são as manifestações de vontade que dão origem ao título de crédito, faz nascer
a obrigação cambiária. As declarações originárias são: a) as emissões da nota promissória e do
cheque e b) os saques da letra de câmbio e da duplicata.
11.2. sucessivas são as manifestações da vontade emitidas depois da constituiçãodo título de
crédito. É a manifestação que sucede à declaração cambiária originária do título de crédito. As
declarações sucessivas são: c) endosso, d) aceite e e) aval.
11.3. necessárias são as manifestações de vontade imprescindíveis para a existência do título de
crédito, assim sem a declaração cambiária necessária o título de crédito não existe. São as
declarações necessárias justamente as declarações cambiárias originárias: a) emissões e b) saques.
11.4. eventuais são as manifestações de vontade que se não existirem não afetam a existência do
título de crédito. As declarações eventuais são c) endosso, d) aceite e e) aval.
Em regra, toda declaração cambiária originária é também uma declaração cambiária necessária. Na
letra de câmbio toda declaração cambiária sucessiva também será uma declaração cambiária
eventual.
Todas as manifestações de vontade emitidas no título de crédito são declarações cambiárias, tal
como o aceite, o endosso e o aval. A diferença está no conteúdo destas manifestações de vontade.
No aceite há a manifestação de vontade de aceitar o pagamento do título de crédito. No endosso há
a manifestação de vontade de transferir o título de crédito. No aval há a manifestação de vontade de
garantir o título de crédito. Todas estas manifestações de vontade são declarações cambiárias.
12. Atos cambiários.
O ato cambiário principal da letra de cambio é o saque (item 14), com o preenchimento da letra de
cambio com a determinação de ordem de pagamento. temos também os atos cambiários secundários
como: endosso (item - 15 - transferência); aceite (item - 16 - completa-se o título) e aval (item - 17 -
garantia). Passaremos rapidamente pela emissão (item - 13) e nos atentaremos agora pelo o saque e
o endosso.
13. Emissão
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14. Saque
O saque é o ato cambial de criação do título de crédito e dá ordem de pagamento ao sacado através
da letra de câmbio. Assim, tratando-se a letra de câmbio, de uma ordem de pagamento (módulo 03 -
item 7.2.1) correspondendo a uma obrigação originária (primeiro ato cambiário) e necessária (sem
o saque, não existe letra de câmbio), ou seja, é a primeira manifestação de vontade que se traduz no
título de crédito para ensejar seu nascimento.
A criação do letra de câmbio, decorre o surgimento de três figuras jurídicas diversas: sacador,
sacado e tomador (módulo 04 - item 10.3) e a autorização para o tomador procurar o sacado para,
dadas certas condições, poder receber dele a quantia referida no título (módulo 04 - item __).
Entretanto, o saque produz outro efeito: vincular o sacador ao pagamento da letra de câmbio.
obs. A emissão é a entrega do título ao beneficiário, que no caso do cheque e nota promissória
cria o título de crédito. Para letra de câmbio e duplicata o ato gerador do título é o saque.
15. Endosso
Uma das características dos títulos de crédito é a possibilidade de sua circulação (módulo 01 - item
5.3), considerados como bens móveis. O endosso é o ato pelo qual o credor de um título de crédito
com a cláusula à ordem (i) transmite os seus direitos à outra pessoa. Só os títulos de credito são
passíveis de endosso, mas nem todo título de crédito é passível de endosso. Nos títulos ao portador
a transferência se dá mediante a simples tradição e nos títulos nominativos ou à ordem opera-se a
circulação mediante o endosso. A cláusula à ordem (i) pode ser expressa ou tácita, ou seja, basta
que não tenha sido inserida a cláusula “não à ordem” na letra de câmbio para que ela seja
transferível por endosso (art. 11 LUG).
Art. 11 LUG. Toda a letra de câmbio, mesmo que não envolva
expressamente a cláusula à ordem, é transmissível por via de endosso.
O endosso é o ato exclusivamente cambiário abstrato (porque se desvincula da sua causa originária,
sendo sempre incondicionado - art. 17, 12.1 LUG - art. 25 L 7.357/85 lei do cheque - módulo 02 -
item 6.3.1) e formal (porque só pode ser considerada como tal se observado os requisitos essenciais
fixados em lei); e decorrente de declaração unilateral de vontade e manifestada no próprio título de
crédito e, portanto, uma declaração cambiária sucessiva (ocorre depois da criação do título) e
eventual (não é requisito essencial do título de crédito - módulo 04 - item 7.3), pela qual o portador
do título (titular do direito cambiário) – transfere o título de crédito e os direitos deles constantes
para terceiros, obrigando-o indiretamente pelo cumprimento da obrigação constante no título.
Art. 17 LUG. As pessoas acionadas em virtude de uma letra não podem
opor ao portador as exceções fundadas sobre as relações pessoais delas com
o sacador ou com os portadores anteriores, a menos que o portador ao
adquirir a letra tenha procedido conscientemente em detrimento do devedor.
Art. 25 L 7.357/85. Quem for demandado por obrigação resultante de
cheque não pode opor ao portador exceções fundadas em relações pessoais
com o emitente, ou com os portadores anteriores, salvo se o portador o
adquiriu conscientemente em detrimento do devedor.
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Existem outros meios de transferência de títulos como a sucessão hereditária, testamento,
operações societárias (cisão, incorporação e fusão) e a cessão de crédito, entretanto esse não se
confunde com endosso (arts. 286 a 298 CC).
15.1. Diferenças entre endosso e cessão de crédito:
O endosso é o ato pelo qual o credor de um título de crédito com a cláusula à ordem transmite os
seus direitos à outra pessoa. A cessão de crédito é o ato pelo qual o credor de um título de crédito
com a cláusula não à ordem transmite os seus direitos à outra pessoa.
No endosso, quem transfere o título de crédito responde pela existência do título e também pelo seu
pagamento, mas o devedor não pode alegar exceções pessoais contra o endossatário de boa-fé. Na
cessão de crédito, quem transfere o título de crédito só responde pela existência do título, mas não
responde pelo seu pagamento, mas o devedor pode alegar exceções pessoais contra o cessionário de
boa-fé.
O endosso é um ato unilateral de vontade, não receptício, ou seja, não precisa do conhecimento da
outra pessoa, que também exige-se uma forma escrita (ato solene). A cessão de crédito é ato
bilateral que pode ser concretizado por qualquer forma.
No endosso, o credor deve assinar no verso do título (se em branco ou em preto), enquanto que na
cessão de crédito sempre deve ter o nome do cedente. (prazo validade endosso)
15.2. Natureza jurídica do endosso:
Posto que para o endosso produzir efeitos, depende simplesmente da vontade do endossante, sua
natureza jurídica é a declaração unilateral de vontade e autônoma. O endosso transfere um direito
de crédito sem nenhum vício intrínseco. Há diversas teorias sobre a natureza jurídica, então
apresentamos a que nos parece mais adequada (ou menos temerária) e corroborada por ROSA JR,
para continuação dos nossos estudos.
15.3. Forma e local do endosso
Em regra, o endosso é dado no verso do título, podendo ser uma simples assinatura: “Pague-se”. Se
for dado na frente (anverso), deve-se apor alguma expressão caracterizando o endosso, será
obrigatória a identificação do ato cambiário praticado, não podendo o endossante se limitar a
assinar a letra.
15.4. Partes no endosso
15.4.1. endossante: é o signatário do endosso (aquele que transfere o título), logo somente o
credor pode ser o endossante, mesmo assim deve ter capacidade jurídica para assumir as
obrigações cambiárias (art. 42 L 2.044/1908). Assim, o primeiro endossante de qualquer
letra de câmbio será sempre o tomador ou beneficiário.
Art. 42. L 2.044/1908. Pode obrigar-se, por letra de câmbio, quem tem a
capacidade civil ou comercial.
15.4.2. endossatário: é o beneficiário do endosso, ou seja, aquele que se beneficiado
endosso (aquele que recebe o título), que, por sinal, pode endossar para outra pessoa, e assim
sucessivamente, e também, do mesmo modo, para tornar-se endossante deve ter capacidade
jurídica para endossar (item 11.2.4.1). Não há qualquer limite para o número de endossos de
um título de crédito; ele pode ser endossado diversas vezes.
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15.5. Requisitos do endosso
Os requisitos para existência válida de um endosso estão intimamente ligados ás suas
características. Vamos relacioná-los, bem rapidamente, posto que já foram esmiuçados.
15.5.1. Ato simples e puro, deve corresponder a uma declaração de vontade, pura e simples
(art. 12.1 LUG e art. 18 L 7.357/85 - lei do cheque).
15.5.2. É uma declaração abstrata, porque não têm vinculação com a causa que deu origem
ao título, e autônoma em relação às demais declarações constantes nos títulos.
15.5.3. Ato formal, pois é válida qualquer forma que indique, de maneira inequívoca, à
vontade da pessoa em transferir os direitos decorrentes do título. O endosso pode resultar
também da simples assinatura do endossante, sem identificar a pessoa do endossatário
(endosso em branco), entretanto esta liberdade na caracterização do endosso não significa
que não corresponda a ato formal.
O endosso é ato formal e, por isto, só pode ser lançado no título de crédito ou na folha de
alongamento (art. 13.1 LUG e art. 19 L 7.357/85), não podendo, portanto, ser formalizado
em documento separado
15.5.4. Não exigência da datação e do lugar do endosso, pois a legislação cambiária não as
exige. No caso de endosso sem data presume-se que foi feito antes de expirado o prazo para
protesto. (art. 20.2 LUG). A datação do endosso tem a vantagem de possibilitar apurar se, no
momento do endosso, o endossante tinha capacidade jurídica para praticar o ato.
15.6. Efeitos do endosso
15.6.1. transferência dos direitos decorrentes do título: abrange o a) efeito natural, pois
decorre de sua própria natureza - e b) efeito real, pois opera a transferência da propriedade
do título (art. 8° D 2.044/1908). O endossatário torna-se credor do título e do crédito, no
lugar do primitivo beneficiário, entretanto para que o endosso se aperfeiçoe há a necessidade
da tradição do titulo para o endossatário (art. 16. 1 LUG, art. 910 §2° CC e art. 22 L
7.357/85 - lei do cheque). Desse modo a transferência do título depende do endosso e da
tradição.
Art. 8º D 2.044/1908. O endosso transmite a propriedade da letra de câmbio
Art. 14. 1 LUG. O endosso transmite todos os direitos emergentes da letra.
Art. 16. 1 LUG. O detentor de uma letra é considerado portador legítimo, se
justifica o seu direito por uma série ininterrupta de endossos, mesmo se o
último for em branco.
Art. 22 L 7.357/85. O detentor de cheque "à ordem’’ é considerado portador
legitimado, se provar seu direito por uma série ininterrupta de endossos,
mesmo que o último seja em branco.
Art. 910 CC. O endosso deve ser lançado pelo endossante no verso ou
anverso do próprio título.
§ º A transferência por endosso completa-se com a tradição do título.
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15.6.2. Em regra, o endossante garante o aceite e o pagamento do título no seu vencimento,
salvo, cláusula em contrário que deverá estar expressa no título (art. 15. 1 LUG; art. 21. L
7.357/85 - lei do cheque) bem como responde pela existência lícita do crédito O endossante
torna-se coobrigado pelo pagamento do crédito (art. 43 LUG). Assim, o credor poderá
cobrar do endossante, do sacado ou do sacador, solidários com a obrigação cambial.
Art. 15. 1. LUG O endossante, salvo clausula em contrário, é garante tanto
na aceitação como no pagamento da letra.
Art. 21 L 7.357/85. Salvo estipulação em contrário, o endossante garante o
pagamento.
Art. 43 LUG. O portador de uma letra pode exercer os seus direitos de ação
contra os endossantes, sacador e outros coobrigados.
15.7. Endosso sem garantia
O endosso, portanto, não transfere apenas o crédito, mas também a efetiva garantia do seu
pagamento. Pode o endosso conter a cláusula sem garantia, que exonera, expressamente, o
endossante da responsabilidade pela obrigação constante no título.
Desse modo, o endosso sem garantia é uma exceção, pois esta cláusula permite que se realize o
endosso próprio (módulo 05 - item 15.12.1), entretanto afasta a garantia do pagamento. No
endosso com cláusula sem garantia há a transferência de um direito autônomo, um direito limpo, e,
portanto, incide o principio da autonomia e abstração, que apenas suprime o efeito da garantia do
pagamento.
15.8. Clausula proibitiva de novo endosso.
A cláusula proibitiva de novo endosso transfere o direito de crédito autônomo constante no título de
crédito, entretanto o endossante que a insere não vai garantir o pagamento dos endossos que forem
realizados adiante, entretanto endossante que a insere garante o pagamento das relações cambiárias
existentes anteriores ao seu endosso. Resumidamente endossante que insere a cláusula proibitiva de
novo endosso está apenas afirmando que não garantirá o pagamento dos futuros endossos
posteriores ao seu.
15.9. Endosso parcial.
Como vimos o instituto do endosso visa dar efetividade a uma das propriedades mais importantes
dos títulos de crédito: a circulabilidade. O endosso parcial dificulta a circulabilidade e é nulo de
pleno direito (art. 12. 2 LUG; art. 912, CC e art. 18 § 1º L 7357/85 - lei do cheque), sendo que o
endossante, mesmo inserindo tal cláusula (que é nula), continua obrigado pela totalidade do crédito.
Art. 912, CC. Considera-se não escrita no endosso qualquer condição a que
o subordine o endossante.
Parágrafo único. É nulo o endosso parcial.
Art. 12.2, LUG. O endosso deve ser puro e simples. Qualquer condição a
que ele seja subordinado, considera-se como não escrita.
O endosso parcial é nulo.
Art. 18 L 7.357/85. O endosso deve ser puro e simples, reputando-se nãoescrita
qualquer condição a que seja subordinado.
§ 1º São nulos o endosso parcial e o do sacado.
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15.10. Endosso condicional.
O endosso condicional não gera efeitos (como endosso parcial), mas não se qualifica como nulo,
somente a condição, resolutiva ou suspensiva, se torna ineficaz, posto que a lei considera como
"não escrita". A leitura dos dispositivos legais (item 11.2.8) deixa clara essa distinção separando
convenientemente a "nulidade", contida nos parágrafos; da "ineficácia", contida no caput. (art. 12.1
LUG; art. 912 caput CC e art. 18 caput L 7.357/85 - lei do cheque)
15.11. Endosso em preto e em branco.
O endosso poderá ser feito em preto ou em branco, diferenciando-se pela indicação ou não do
endossatário (beneficiário).
15.11.1. Endosso em preto é aquele que identifica, expressamente, a quem está sendo
transferida a titularidade do crédito, também chamado nominal, complemento ou pleno.
15.11.2. Endosso em branco é aquele que não indica o nome do endossatário, também
chamado de endosso ao portador. Nesse caso o endossante simplesmente assina o verso do
título, sem identificar a quem está endossando.
O art. 19, da Lei 8.088/90 (Plano Collor) determina que “Todos os títulos, valores
mobiliários e cambiais serão emitidos sempre sob a forma nominativa, sendo transmissíveis
somente por endosso em preto.”, desse modo, poder-se-ia concluir que no Brasil não existe
mais o endosso em branco, entretanto a doutrina majoritária entende ainda existir, porque é
permitido pela LUG, que é lei específica, seguindo-se o princípio da especialidade.
A extinção do endosso em branco levaria, em tese, a denúncia da Convenção de Genebra.
Segundo ULHOA a interpretação mais adequadaseria que "não se aplica à letra de câmbio,
nota promissória e duplicata. Trata-se de norma destinada aos títulos de crédito impróprios
de investimento".
15.12. Classificação do endosso:
Os endossos podem ser subdivididos em endossos próprios e endossos impróprios.
15.12.1. endosso próprio: configura uma declaração cambiária sucessiva e eventual feita
pelo credor de um título de crédito nominal à ordem em que se transfere a titularidade do
direito de crédito a uma terceira pessoa (art. 16. 1 LUG e art. 22 L 7.357/85 - lei do cheque),
que em regra se torna devedor cambiário indireto e de regresso (translativa do título e do
crédito). O endosso próprio se aperfeiçoa com a assinatura no verso da cártula e com a
tradição, que é a entrega da cártula ao endossatário (módulo 05 - item 11.2.6.a). É também
chamado de endosso regular ou endosso propriamente dito.
15.12.2. endosso impróprio: Configura uma declaração cambiária que legitima a posse que
determinada pessoa exerce sobre o título, sem, contudo, transferir-lhe o crédito. Nesse
sentido a impropriedade se manifesta pela inoperância de um de seus efeitos: a transferência
de titularidade. É também chamado de endosso irregular. São exemplos de endosso desse
tipo: endosso-mandato e o endosso-caução.
15.12.2.1. endosso-mandato ou endosso-procuração: confere ao endossatário apenas
a) o direito de cobrar o crédito representado pelo título, e b) a legitimidade da posse
sobre a cártula exercida pelo detentor. O crédito continua pertencendo ao endossante
(art. 18 LUG; art. 917 CC e art. 23 L 7.357/85 Lei cheque). Ex: boleto bancário.
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Art. 18 LUG. Quando o endosso contém a menção "valor a cobrar", "para
cobrança", "Por procuração", ou qualquer outra menção que implique um
simples mandato, o portador pode exercer todos os direitos emergentes da
letra, mas só pode endossá-la na qualidade de procurador.
Art. 26 L 7.357/85. Quando o endosso contiver a cláusula ‘’valor em
cobrança’’, ‘’para cobrança’’, ‘’por procuração’’, ou qualquer outra que
implique apenas mandato, o portador pode exercer todos os direitos
resultantes do cheque, mas só pode lançar no cheque endosso-mandato. Neste
caso, os obrigados somente podem invocar contra o portador as exceções
oponíveis ao endossante.
Art. 917 CC. A cláusula constitutiva de mandato, lançada no endosso, confere
ao endossatário o exercício dos direitos inerentes ao título, salvo restrição
expressamente estatuída.
15.12.2.2. endosso-caução ou endosso-pignoratício ou endosso em garantia: atribuise
um penhor sobre o título de crédito. O título de crédito é considerado um bem
móvel, logo pode ser onerado por penhor, em favor de um credor do endossante. O
crédito não se transfere para o endossatário (por isso é um endosso impróprio), agora
credor pignoratício do endossante (art. 19 LUG e art. 918 CC)
Cumprida a obrigação garantida pelo penhor, deve a cártula retornar à posse do
endossante. Somente o não cumprimento da obrigação garantida é que o endossatário
apropria-se do crédito representado pelo título de crédito. Se o débito que se está
garantindo ainda não venceu, não se pode colocar o título endossado em circulação,
caso contrário, haverá um ilícito civil. Tem-se um débito com dois garantidores, mas a
cobrança advém somente se o devedor principal não pague. Ex.: Contrato de
empréstimo em banco, tendo como garantia uma nota promissória, cujo devedor é
beneficiário.
Art. 19 LUG. Quando o endosso contém a menção "valor em garantia",
"valor em penhor" ou qualquer outra menção que implique uma caução, o
portador pode exercer todos os direitos emergentes da letra, mas um endosso
feito por ele só vale como endosso a título de procuração.
Art. 918 CC. A cláusula constitutiva de penhor, lançada no endosso, confere
ao endossatário o exercício dos direitos inerentes ao título.
§ 1º. O endossatário de endosso-penhor só pode endossar novamente o título
na qualidade de procurador.
15.13. Endosso póstumo ou tardio.
É efetuado após o protesto por falta de pagamento ou de expirar o prazo legal para sua efetivação,
ou seja, uma transferência intempestiva. Se o endosso for feito antes de findar o prazo para
protesto, o seu efeito é o mesmo do endosso anterior, contudo, se o endosso for feito após o
protesto (ou seu prazo) o efeito é de cessão de ordinária de crédito (art. 20 LUG). Assim o endosso
póstumo produz efeitos idênticos aos de cessão de crédito (módulo 05 - item 11.2.1.), entretanto não
se trata de cessão, pois a transferência se deu pela clausula à ordem (cessão de crédito se dá pela
cláusula não à ordem), mas seus efeitos são idênticos. É também chamado de endosso tardio.
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Art. 20 LUG. O endosso posterior ao vencimento tem os mesmos efeitos
que o endosso anterior. Todavia, o endosso posterior ao protesto por falta de
pagamento, ou feito depois de expirado o prazo fixado para se fazer o
protesto, produz apenas os efeitos de uma cessão ordinária de créditos.
15.14. Endosso de retorno e reendosso
O reendosso é o endosso realizado para alguém que já fazia parte da relação cambiária, posto que
nada o impede de realizar um novo endosso. O reendosso pressupõe um endosso de retorno, que é o
recebimento de um título em o sujeito que já havia participado da relação cambiária e assim volta a
participar dela. O endosso de retorno provém do recebimento do título já endossado (ou originário)
e o reendosso da retransmissão, por novo endosso desse mesmo título.
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Aceite (módulo 06)
16. Aceite
Aceite é a declaração cambiária manifestada pelo sacado pelo qual aceita a obrigação que lhe é
dirigida, tornando-se, então, obrigado a pagar pela letra de câmbio ou duplicata
Δ conforme
destacado no título, assim o aceite é o reconhecimento da ordem de pagamento, transformando-se
em um devedor cambiário. Desse modo, até antes do aceite é mero sacado, nada podendo lhe ser
exigido, porque o sacado não é devedor cambiário, (i) até que faça o aceite (art. 28 da LUG e art. 2º
L 5474/68 - lei das duplicatas), e estará vinculado ao pagamento do título apenas se concordar em
atender à ordem que lhe é dirigida.
Art. 28 LUG. O sacado (i) obriga-se pelo aceite pagar a letra a data do
vencimento.
Art. 2º L 5474/68. No ato da emissão da fatura, dela poderá ser extraída uma
duplicata para circulação como efeito comercial, não sendo admitida
qualquer outra espécie de título de crédito para documentar o saque do
vendedor pela importância faturada ao comprador.
§ 1º. A duplicata conterá:
VIII - a declaração do reconhecimento de sua exatidão e da obrigação de
pagá-la, a ser assinada pelo comprador, como aceite, cambial;
Δ No cheque, é uma ordem de pagamento, não existe o aceite, pois o banco não tem nenhuma
obrigação na relação cambiária e o próprio emitente reconhece a obrigação na emissão do
cheque (art. 6° L 7.357/85). Na nota promissória, que é promessa de pagamento, também não
existe o aceite, posto que pela emissão da nota promissória pelo próprio devedor, também
reconhece a obrigação (omissão na L 2.044/1908 - só trata assunto na letra de câmbio).
Art. 6º L 7.357/85. O cheque não admite aceite considerando-se não escrita
qualquer declaração com esse sentido.
O aceite é ato formal, pois somente pode ser feito no título; abstrato, na medida em que
desvinculado da relação original, e um ato de declaração unilateral de vontade, sendo uma
declaração cambiária sucessiva (módulo 05 - item 11)
16.1. Local da aposição do aceite
O aceite pode ser feito em qualquer lugar do título, se for no anverso pode constituir-se de mera
assinatura, entretanto sefor lançada a assinatura no verso, deve identificar o aceite praticado pela
expressão “aceito”, "concordo", "prometo pagar" ou outra equivalente (art. 25 LUG; art. 11 L
2.044/1908). ressalta-se que a datação do aceite não é exigência legal.
Art. 25 LUG. O aceite é escrito na própria letra. Exprime-se pela palavra
"aceite" ou qualquer outra palavra equivalente; o aceite é assinado pelo
sacado. Vale como aceite a simples assinatura do sacado aposta na parte
anterior da letra.
Art. 11 L 2.044/1908. Para a validade do aceite é suficiente a simples
assinatura do próprio punho do sacado ou do mandatário especial, no
anverso da letra.
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16.2. Falta de aceite e recusa do aceite.
A falta de aceite e a recusa de aceite são institutos distintos.
A falta de aceite caracteriza-se quando não puder ser obtido em razão do sacado não ser localizado
pelo portador ou por sua morte, interdição, etc., inviabilizando a própria apresentação da letra de
câmbio.
Art. 13 L 5.474/68. A duplicata é protestável por falta de aceite de
devolução ou pagamento
A recusa do aceite (art. 26 e 44 LUG) ocorre quando não existe qualquer impedimento para sua
obtenção, tanto que a letra é apresentada, mas sacado não o firma, não recepciona a ordem de
pagamento dada pelo sacador.
Art. 44 LUG. A recusa de aceite ou de pagamento deve ser comprovada por
um ato formal (protesto por falta de aceite ou falta de pagamento).
Art. 26 LUG O aceite é puro e simples, mas o sacado pode limitá-lo a uma
parte da importância sacada.
Qualquer outra modificação introduzida pelo aceite no enunciado da letra
equivale a uma recusa de aceite. O aceitante fica, todavia, obrigado nos
termos do seu aceite.
Assim sendo é lícito ao sacado se recusar a apor a assinatura mesmo que seja lícita a obrigação. Em
recusando, a dívida entre sacador e beneficiário vence automaticamente (art. 19, I, L 2.044/1908 e
Art. 21 L 9. 492/97 - lei de protestos). Na recusa do aceite, deve-se protestar o título. Sem o
protesto, não poderá o portador executar o sacador, os endossantes e seus respectivos avalistas.
Art. 19 L 2.044/1908. A letra é considerada vencida, quando protestada:
I. pela falta ou recusa do aceite;
II. pela falência do aceitante.
Art. 21 L 9.492/97. O protesto será tirado por falta de pagamento, de aceite
ou de devolução.
A recusa do aceite gera a antecipação dos direitos insculpidos no título de crédito (art. 43 LUG).
Art. 43 LUG. O portador de uma letra pode exercer os seus direitos de ação
contra os endossantes, sacador e outros co-obrigados:
No vencimento:
Se o pagamento não foi efetuado.
Mesmo antes do vencimento:
1 - Se houve recusa total ou parcial de aceite;
16.3. Prazos para efetivação do aceite (arts. 21 e 23 LUG)
Os prazos para efetivação do aceite estão definidos em lei, e são eles:
16.3.1. à vista: é o mero pagamento. O tomador deve procurar o sacado até o máximo de 1
ano após o saque, sendo apresentada não para aceite, mas para pagamento (art. 34 LUG).
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Art. 34 LUG. A letra à vista é pagável a apresentação. Deve ser apresentada
a pagamento dentro do prazo de um ano, a contar da sua data. O sacador
pode reduzir este prazo ou estipular um outro mais longo. Estes prazos
podem ser encurtados pelos endossantes.
O sacador pode estipular que uma letra pagável à vista não deverá ser
apresentada a pagamento antes de uma certa data. Nesse caso, o prazo para a
apresentação conta-se dessa data.
16.3.2. certo termo da vista. Pode-se estipular o pagamento após um certo termo do aceite
dado pelo sacado. Ex.: 30 dias após o aceite. O beneficiário tem até um ano para apresentar
o título para o sacado dar o aceite, a partir de então começa a correr o prazo do pagamento
(art. 23 LUG). Passado o prazo de um ano o beneficiário não mais poderá cobrar seu crédito
pela letra nem do sacado, tampouco do sacador, somente podendo cobrar deste por meio de
algum outro título que comprove a dívida, eis que a letra de câmbio já estará prescrita
Art. 23 LUG As letras a certo termo de vista devem ser apresentadas ao
aceite dentro do prazo de um ano das suas datas.
16.3.3. certo termo da data do saque. Começa a contar o prazo para o pagamento da data
que a letra é emitida (art. 21 LUG).
Art. 21 LUG. A letra pode ser apresentada, até o vencimento, ao aceite do
sacado, no seu domicílio , pelo portador ou até por um simples detentor.
16.3.4. data certa. Elege-se uma data que é aposta na letra de câmbio. Ex.: pague no dia 20
de janeiro de 2014.
16.3.5. Prazo de respiro
O prazo de respiro e lapso de tempo dado ao sacado para que decide pelo aceite ou não. Se
destina a possibilitar ao sacado a realização de consultas ou a mediação acerca da
conveniência de aceitar ou recusar o aceite. Caso não seja dado até o dia seguinte, será
considerado como não aceito.
Art. 24 LUG. O sacado pode pedir que a letra lhe seja apresentada uma
segunda vez no dia seguinte ao da primeira apresentação. Os interessados
somente podem ser admitidos a pretender que não foi dada satisfação a este
pedido no caso de ele figurar no protesto
16.4. Espécies de aceite
16.4.1. total: o aceitante concorda em pagar o valor total do título e nas condições descritas
na cártula (art. 28.1. LUG).
Art. 28 LUG. O sacado obriga-se pelo aceite pagar a letra a data do
vencimento.
16.4.2. parcial ou limitado: diz respeito ao valor do título, pois o sacado não aceita pagar
como está determinado na cártula, e faz algum tipo de ressalva, ou seja, o aceitante pode
aceitar pagar apenas uma parte do valor estipulado na ordem de pagamento. Neste caso, o
credor terá que protestar por falta de aceite o restante do valor (recusa de aceite), pois haverá
necessidade de protesto do valor que não foi aceito pelo sacado a fim de que assim seja
possível cobrar do sacador o valor não aceito pelo sacado. (art. 26.1. LUG)
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16.4.3. modificativo: diz respeito às condições do título, como local e data do pagamento
(art. 26.2 LUG). Sendo alterada a data do pagamento o beneficiário pode cobrar do sacador
na data originária ou do sacado na data alterada, o mesmo quanto ao lugar. Se o credor não
acatar o aceite modificativo, ele poderá recusá-lo e neste caso haverá o vencimento
antecipado da letra de câmbio (recusa de aceite).
Art. 26 LUG. O aceite é puro e simples, mas o sacado pode limitá-lo a uma
parte da importância sacada (16.4.2.).
Qualquer outra modificação introduzida pelo aceite (16.4.3.) no enunciado
da letra equivale a uma recusa de aceite. O aceitante fica, todavia, obrigado
nos termos do seu aceite.
Lembrando novamente que a recusa do aceite tem como consequencia a antecipação das obrigações
constates no título. (art. 43 LUG).
Para evitar esse a ocorrência do aceite parcial ou modificativo, o sacado pode incluir a “cláusula
não-aceitável” no título (art. 22 LUG), retirando do beneficiário a possibilidade de ele ir até o
sacado fazer o aceite, assim, a dívida não vence antecipadamente e o beneficiário só poderá
procurar o sacado para receber na data do pagamento. Com essa cláusula, a negativa do sacado em
acolher a ordem que lhe fora dirigida não importará em nenhuma consequência prática excepcional
em relação ao sacador, posto que a recusa do aceite ocorre após o vencimento do título, época em
que ele já deveria estar preparado para a eventualidade de pagá-lo.
Art. 22 LUG. O sacador pode em qualquer letra, estipular que ela será
apresentada ao aceite, com ou sem fixação de prazo.
Pode proibir na própria letra a sua apresentação ao aceite, salvo se se tratar
de uma letra pagável em domicílio de terceiro, ou de uma letrapagável em
localidade diferente da do domicílio do sacado, ou de uma letra sacada a
certo termo de vista.
O sacador pode também estipular que a apresentação ao aceite não poderá
efetuar-se antes de determinada data.
Todo endossante pode estipular que a letra deve ser apresentada ao aceite,
com ou sem fixação de prazo, salvo se ela tiver sido declarada não aceitável
pelo sacador.
16.5. Aceite por intervenção
A intervenção é o ato cambiário pelo que uma pessoa, estranha ou não à letra de câmbio, estranha
ou não à letra de câmbio, nela intervém, espontaneamente ou por força de indicação feita pelo
sacador, dos devedores indiretos e regresso. Assim o aceite por intervenção ocorre quando o sacado
não faz o aceite porém uma terceira pessoa intervém na relação cambiária fazendo o aceite no lugar
do sacado, tornando-se devedor cambiário. Apesar de disciplinada é um instituto de pouco uso.
Art. 56 LUG. O aceite por intervenção pode realizar-se em todos os casos
em que portador de uma letra aceitável, tem direito de ação antes do
vencimento.
Quando na letra se indica uma pessoa para em caso de necessidade a aceitar
ou a pagar no lugar do pagamento, o portador não pode exercer o seu direito
de ação antes do vencimento contra aquele que indicou essa pessoa e contra
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os signatários subseqüentes a não ser que tenha apresentado a letra a pessoa
designada e que, tendo esta recusado o aceite, se tenha feito o protesto.
Nos outros casos de intervenção, o portador pode recusar o aceite por
intervenção.
Se, porém , o admitir, perde o direito de ação antes do vencimento contra
aquele por quem a aceitação foi dada e contra os signatários subseqüentes.
16.6. Cancelamento do aceite
O aceite produz efeitos importantes na relação entre sacador, o portadores e os devedores indiretos,
como vimos no início desse módulo. A irrevogabilidade é regra, mas uma vez dado o aceite, ele
ainda pode ser cancelado. Se o sacado dá o aceite e antes de devolver ao tomador ele se arrepende,
pode riscar o aceite, sendo que a dívida vencerá imediatamente. Essa possibilidade está prevista no
art. 29 da LUG e segue o princípio da literalidade (módulo 02 - item 6.1), o cancelamento do aceite
deve vir na letra de câmbio. O sacado até pode recusar o aceite em documento a parte, depois de
entregue a letra de câmbio ao tomador, mas valerá apenas para o sacador ou para o tomador, não
tendo efeitos o cancelamento para terceiros.
Art. 29 LUG. Se o sacado, antes da restituição da letra, riscar o aceite que
tiver dado, tal aceite é considerado como recusado.
Salvo prova em contrário, a anulação do aceite considera-se feita antes da
restituição da letra.
Se porém, o sacado tiver informado por escrito o portador ou qualquer outro
signatário da letra de que a aceita, fica obrigado para com estes, nos termos
do seu aceite.
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Aval (módulo 07)
17. Aval
Passamos pela emissão (módulo 05 - item - 13), saque (módulo 05 - item - 14); endosso (módulo 05
- item - 15) e o aceite (módulo 06 - item - 16) e agora atentaremos para outro ato cambial
importante no direito cambiário: o aval.
O aval é um ato cambial em que um terceiro (avalista), estranha ou não a operação correspondente
ao título de crédito, assume obrigação cambiária autônoma e incondicional de garantir pessoalmente
(art. 32.1 LUG), total ou parcialmente, o pagamento do título ou o cumprimento da obrigação
cambiária nas condições nele estabelecidas, tornando-se sempre um devedor cambiário de regresso
(art. 32.3 LUG e art. 899 §1° CC), que por sua vez poderá ser um devedor cambiário direto ou
indireto
Não existe fiança nos títulos de crédito, eis que ela é acessória de um contrato, e nas relações
cambiárias fala-se apenas em aval, que é uma relação autônoma, independente da do avalizado
(sem direito do benefício de ordem), assim não se confunde com a fiança, que é uma garantia
contratual, típico e próprio do direito civil.
Art. 30 LUG. O pagamento de uma letra pode ser no todo ou em parte
garantido por aval.
Esta garantia é dada por um terceiro ou mesmo por um signatário da letra.
Art. 32 LUG. O dador de aval é responsável da mesma maneira que a
pessoa por ele afiançada [leia-se avalizada].
A sua obrigação mantém-se, mesmo no caso de a obrigação que ele garantiu
ser nula por qualquer razão que não seja um vicio de forma.
Se o dador de aval paga a letra, fica sub-rogado nos direitos emergentes da
letra contra a pessoa a favor de quem foi dado o aval e contra os obrigados
para com esta em virtude da letra.
Art. 29 L 7.357/85. O pagamento do cheque pode ser garantido, no todo ou
em parte, por aval prestado por terceiro, exceto o sacado, ou mesmo por
signatário do título.
Art. 31 L 7.357/85. O avalista se obriga da mesma maneira que o avaliado.
Subsiste sua obrigação, ainda que nula a por ele garantida, salvo se a
nulidade resultar de vício de forma.
Parágrafo único - O avalista que paga o cheque adquire todos os direitos
dele resultantes contra o avalizado e contra os obrigados para com este em
virtude do cheque.
Art. 899 CC. O avalista equipara-se àquele cujo nome indicar; na falta de
indicação, ao emitente ou devedor final.
§ 1° Pagando o título, tem o avalista ação de regresso contra o seu avalizado
e demais coobrigados anteriores.
§ 2o Subsiste a responsabilidade do avalista, ainda que nula a obrigação
daquele a quem se equipara, a menos que a nulidade decorra de vício de
forma.
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17.1. Local da aposição do aval:
O aval pode ser aposto tanto no verso quanto no anverso (frente) do título (art. 31 LUG, art. 14 D
2.044/1908; art. 30 L 7.357/85 - lei do cheque e art. 898 CC):
17.1.1. quando feito no anverso, é feito pela simples assinatura;
17.1.2. quando feito no verso: deve ser precedido das expressões "por aval", "bom para
aval", "em garantia de …", etc.
Art. 31 LUG. O aval é escrito na própria letra ou numa folha anexa.
Exprime-se pelas palavras "bom para aval" ou por qualquer fórmula
equivalente; e assinado pelo dador do aval.
O aval considera-se como resultante da simples assinatura do dador aposta
na face anterior da letra, salvo se se trata das assinaturas do sacado ou do
sacador.
Art. 14 D 2.044/1908.. O pagamento de uma letra de câmbio, independente
do aceite e do endosso, pode ser garantido por aval. Para a validade do aval,
é suficiente a simples assinatura do próprio punho do avalista ou do
mandatário especial, no verso ou no anverso da letra.
Art. 30 L 7.357/85. O aval é lançado no cheque ou na folha de
alongamento. Exprime-se pelas palavras ‘’por aval’’, ou fórmula
equivalente, com a assinatura do avalista. Considera-se como resultante da
simples assinatura do avalista, aposta no anverso do cheque, salvo quando
se tratar da assinatura do emitente.
Art. 898 CC. O aval deve ser dado no verso ou no anverso do próprio título.
§ 1o Para a validade do aval, dado no anverso do título, é suficiente a
simples assinatura do avalista.
§ 2o Considera-se não escrito o aval cancelado.
17.2. Data do aval:
Quando não há data do aval aposto no título, considera-se que foi feito antes do vencimento do
titulo.
17.3. Natureza jurídica do aval:
A doutrina majoritária entende que o aval é uma declaração unilateral de vontade que consiste em
uma garantia autônoma, ou seja, se a obrigação do avalizado tiver algum defeito, este defeito não
poderá ser alegado pelo seu avalista. Do mesmo modo, as defesas pessoais do avalizado não
poderão ser alegadas pelo avalista, pois nesta no aval, também engloba o principio da autonomia
(módulo 02 - item 6.3)
17. 4. Efeitos jurídicas do aval:
O aval

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