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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ 
FABÍOLA SCHMIDT QUADROS 
 
 
 
 
 
 
 
 
LEI DA PALMADA: AUTONOMIA DOS PAIS E A INTERVENÇÃO DO 
ESTADO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CURITIBA 
2015 
FABÍOLA SCHMIDT QUADROS 
 
 
 
 
 
 
 
 
LEI DA PALMADA: AUTONOMIA DOS PAIS E A INTERVENÇÃO DO 
ESTADO 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao 
Curso de Direito da Faculdade de Ciências 
Jurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná, como 
requisito parcial para obtenção do grau de 
Bacharel em Direito 
Orientador: Prof. Marcelo Nogueira Artigas 
 
 
 
 
 
 
CURITIBA 
2015 
TERMO DE APROVAÇÃO 
FABÍOLA SCHMIDT QUADROS 
 
 
LEI DA PALMADA: AUTONOMIA DOS PAIS E A INTERVENÇÃO DO 
ESTADO 
 
 
Esta monografia foi julgada e aprovada para obtenção do título de bacharel em Direito no Curso de 
Ciências Jurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná 
 
 
Curitiba, de de 2015. 
 
_________________________ 
Professor Dr. Eduardo de Oliveira Leite 
Universidade Tuiuti do Paraná 
Coordenador do Núcleo de Monografias 
 
 
 
Orientador: Professor Marcelo Nogueira Artigas 
 Universidade Tuiuti do Paraná – Faculdade de Ciências Jurídicas 
 
 
 
 
 Professor: 
 Universidade Tuiuti do Paraná – Faculdades de Ciências Jurídicas 
 
 
 
 Professor: 
 Universidade Tuiuti do Paraná – Faculdades de Ciências Jurídicas 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Dedico especial agradecimento ao meu marido Valter Carretas que sempre 
me incentivou para a realização dos meus ideais, encorajando-me a enfrentar todos 
os obstáculos da vida. Meu eterno respeito, amor e gratidão. 
 Aos meus filhos Bruna, Luiz Henrique, Ana Carolina e Maria Fernanda com 
muito amor, que em todos os momentos tiveram paciência e compreensão nas 
minhas intensas horas de estudos, e que não mediram esforços para que eu 
chegasse até esta etapa da vida. 
À minha mãe querida, por acreditar em mim e me dar força para ir atrás dos 
meus sonhos. .Às minhas irmãs, cunhados e sobrinhos, pelo incentivo e apoio que 
me deram durante todo o curso. 
Agradeço imensamente ao professor Marcelo Nogueira Artigas pela 
paciência na orientação e incentivo que tornou possível a conclusão desta 
monografia. 
E aos queridos professores que durante o curso desempenharam com 
dedicação as aulas ministradas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
O presente trabalho versa sobre a Lei da Palmada nº 13.010/2014 que alterou o 
Estatuto da Criança e do Adolescente nº 8.069/90 na busca de garantir à criança e 
ao adolescente o direito de serem criados e educados sem o uso de castigo físico e 
tratamento cruel ou degradante. Tal alteração visa garantir o direito de uma criança 
ou jovem de ser educado sem o uso de castigos corporais. Embora, observa-se a 
preocupação em preservar estes direitos inerentes à criança e ao adolescente, 
ressalta-se também que, existe o dever do Estado em preservá-los e garanti-los, por 
meio de políticas publicas e ações diversas. Assim, esse trabalho tem como objetivo 
discutir a relação da autonomia dos pais e o papel do Estado como interventor de 
tais direitos no contexto familiar, bem como apresentar aspectos gerais, opiniões de 
especialistas sob a ótica jurídica e psicológica e apontamentos favoráveis e 
desfavoráveis acerca do tema. 
Palavras-chave: Lei da Palmada nº 13.010/14. Alteração Estatuto da criança e 
adolescente. Intervenção do Estado. Autonomia dos pais. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE SIGLAS 
 
CC CÓDIGO CIVIL 
CF CONSTITUIÇÃO FEDERAL 
ECA ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE 
FGV FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS 
OAB ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL 
ONU ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS 
UNICEF FUNDO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A INFÂNCIA, 
CECRIA CENTRO DE REFERÊNCIA, ESTUDOS E AÇÕES SOBRE 
CRIANÇAS E ADOLESCENTES 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 08 
2 APONTAMENTOS HISTÓRICOS DAS RELAÇÕES FAMILIARES ............ 11 
2.1 CONCEITO DE FAMÍLIA .............................................................................. 11 
2.2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA FAMÍLIA ......................................................... 12 
3 EXERCICIO DO PODER FAMILIAR ............................................................ 18 
3.1 PODER FAMILIAR E O ESTADO................................................................. 19 
4 A LEI 13.010/2014 (LEI DA PALMADA) ...................................................... 22 
4.1 BREVE HISTÓRICO DA TRAMITAÇÃO DA LEI Nº 13.010/2014 .............. 22 
4.2 DA LEI E SEUS OBJETIVOS ....................................................................... 23 
4.3 ALTERAÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE ......... 25 
5 NORMAS PROTETIVAS DE AFETO NAS RELAÇÕES FAMILIARES ....... 29 
5.1 PRINCÍPIOS NORTEADORES DO DIREITO DA CRIANÇA E DO 
ADOLESCENTE ............................................................................................. 30 
5.1.1 Principio da proteção integral ....................................................................... 30 
5.1.2 Principio do melhor interesse da criança e do adolescente .......................... 32 
5.1.3 Principio da dignidade da pessoa humana ................................................... 33 
5.1.4 Principio da solidariedade familiar ................................................................ 33 
5.1.5 Principio da afetividade ................................................................................. 34 
6 ARGUMENTOS FAVORÁVEIS E DESFAVORÁVEIS À LEI DA PALMADA 
Nº 13.010/2014 ................................................................................................................... 36 
7 VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E SUAS CONSEQUÊNCIAS NO 
DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE ...................... 41 
7.1 VIOLÊNCIA FAMILIAR ................................................................................ 42 
7.1.1 Violência física .............................................................................................. 42 
7.1.2 Violência sexual ............................................................................................ 43 
7.1.3 Violência Psicológica .................................................................................... 44 
7.1.4 Negligência ................................................................................................... 45 
7.2 CONSEQUÊNCIAS DA VIOLÊNCIA NO DESENVOLVIMENTO DAS 
CRIANÇAS E DOS ADOLESCENTES ........................................................... 46 
8 INTERVENÇÃO DO ESTADO E AUTONOMIA DOS PAIS SOB A ÓTICA 
DA LEI DA PALMADA .................................................................................. 48 
9 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 52 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS ......................................................................... 57 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
“Os filhos não precisam de pais gigantes, mas de seres 
humanos que falem a sua linguagem e sejam capazes de penetrar-
lhes o coração.” 
 Augusto Cury 
 
O presente trabalho tem como característica refletir sobre a Lei nº 13.010 de 
26 de junho de 2014, que versasobre a “Lei da Palmada”, rebatizada como “Lei 
Menino Bernardo”, a qual complementa o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 
8.069/90) estabelecendo o direito da criança e do adolescente de serem educados e 
cuidados sem o uso de castigos físicos ou de tratamento cruel e degradante. 
O Brasil assinou a Convenção sobre os Direitos da Criança1, desde 24 de 
setembro de 1990, assumindo a obrigação de assegurar à criança o direito de ser 
educada sem violência, trazendo para si a obrigação não somente de coibir após o 
ato violento, punindo o agressor, mas principalmente antes do acontecimento para 
que a criança e o adolescente se desenvolva sem maiores dificuldades para um vida 
adulta mais promissora, isso independentemente da existência da lei. 
A alteração da Lei prevê ainda que o Estado deverá atuar de forma 
articulada na elaboração de políticas públicas e na execução de ações destinadas a 
coibir o uso de castigo físico ou de tratamento cruel ou degradante e difundir formas 
não violentas na educação de menores. A lei ainda determina como punição pelas 
práticas que ela define penas de advertência, encaminhamento a programas de 
proteção à família e orientação psicológica. 
 Vale ressaltar no presente estudo, o histórico das relações familiares para 
compreender melhor o dever de cuidado ao menor, bem como as consequências 
jurídicas da falta deste. 
 A proteção do interesse das crianças e adolescentes encontra respaldo nos 
direitos e princípios fundamentais erigidos em nível constitucional. 
 A lei pela forma como se constituiu, tenta reforçar a preservação da 
dignidade de crianças e adolescentes, de modo que sejam observados direitos 
fundamentais como saúde, igualdade, lazer e trabalho. Para tanto, a importância da 
 
1
 Convenção sobre os direitos da criança, ratificado pelo decreto nº 99.710/1990. Disponível 
em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/D99710.htm. Acessado em 05 apr2015. 
9 
 
família, cuja responsabilidade advém dos pais em nortear seus ensinamentos e a 
educação como um todo baseada no afeto e na solidariedade, propiciando um 
ambiente saudável, livre de quaisquer maus-tratos, assegurando pleno 
desenvolvimento do menor. Note-se, porém, que as responsabilidades não se 
reduzem aos pais, pois a própria lei anterior já dizia ser responsabilidade de todos, 
por isso, é de responsabilidade também do Estado e de toda a sociedade. 
 Tem se discutido muito o crescimento de casos de violência ao menor2, 
crises financeiras, separação dos pais, características individuais da criança como 
temperamento difícil, retardo mental, hiperatividade, entre outros3 são fatores que 
levam os pais a educar seus filhos com pequenos castigos e agressões, passando a 
ser condutas aceitáveis no meio social como limites de correção. Porém, em caso de 
situações em que os pais venham a cometer atos, ainda que com intuito de educar, 
que extrapolem limites, estes pelos quais consensualmente estabelece a sociedade 
como não sendo violentos, motivaram o Estado em certa medida intervir justamente 
porque tais limites podem ocorrer em diferentes condições sociais, humanas, 
psicológicas, culturais e educativas, propriamente dito, de conformidade com o 
ambiente em que vive os atores familiares. Daí surge relevante lacuna sobre a 
compreensão e segurança da fronteira entre o que é prejudicial e não prejudicial na 
educação do filho e seu futuro. 
 Por isso, buscam-se respostas para inquietantes questões: Havia mesmo 
necessidade de criar esta lei? A lei 8.069/90 que estatuiu o estatuto da criança e do 
adolescente era insuficiente? A lei da Palmada intervém na liberdade individual das 
famílias e dos educadores? A lei pode acarretar interpretações equivocadas e 
tornar-se arbitrária, levando risco às liberdade humanas? Na inexistência da lei da 
palmada, o juiz consegue suprir os riscos sociais inerentes à educação dos filhos 
nos limites entre a violência e a própria educação? O juiz recebe ferramentas 
jurídicas suficientemente satisfatórias para aplicar adequadamente eventuais 
punições de acordo com os fatos para proteger o menor e o adolescente? 
 
2
 AZEVEDO, Maria Amélia; GUERRA, Viviane Nogueira de Azevedo. Violência doméstica 
contra crianças e adolescentes: um cenário em (dês)construção. Disponível em: 
http://www.unicef.org/brazil/pt/Cap_01.pdf. Acesso em 30mar.2015 
3 GRUPO PESQUISA VIOLÊNCIA INTRAFAMILIAR. Violência contra crianças e 
adolescentes. Disponível em: http://violenciaintrafamiliarfmp.blogspot.com.br/2007/10/violncia-contra-
crianas-e-adolescentes.html. Acesso em: 30 mar. 2015. 
 
10 
 
 Ressalta-se que não será apresentada uma opinião técnica com relação ao 
tema, haja vista que tal desiderato demanda estudo aprofundado em outras ciências, 
deixando tal incumbência a doutrinadores e estudiosos, ou seja, o presente trabalho 
não tem o escopo de lançar maiores críticas a essa lei, tão somente, introduzir uma 
discussão à respeito da intervenção do Estado no âmbito familiar. 
 Como fonte de informação para pesquisa, além da lei nº 13.010/2014, que 
versa sobre a “Lei da Palmada”, foram pesquisados o Estatuto da Criança e 
Adolescente, Lei nº 8.069/90, a Constituição Federal de 1988, o Código Penal 
Brasileiro, bem como livros, artigos e estudos acerca do tema publicados na internet. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
 
2 APONTAMENTOS HISTÓRICOS DAS RELAÇÕES FAMILIARES 
 
 É necessário abordar o histórico das relações familiares, como pressuposto 
básico para compreender a origem do dever de cuidado em que estão submetidas 
as crianças e adolescentes, bem como as consequências jurídicas da falta deste. 
 A família é, indubitavelmente, umas das bases nucleares estruturantes da 
sociedade, seja na forma tradicional, ou sob as mais modernas formas de 
composição. Sendo inegável seu papel no núcleo do sistema jurídico-social. 
 Novos valores sociais foram instituídos através do advento da Constituição 
Federal de 1988, impondo a revalorização da pessoa humana. A família, portanto, é 
reconhecida como alicerce da sociedade e é admitida a pluralidade de formas, 
havendo a necessidade do Direito paralelamente reagir a essas mudanças, 
garantindo-lhes respeito e proteção. 
 
2.1 CONCEITO DE FAMÍLIA 
 
 A família é uma instituição responsável por promover a educação dos filhos 
e influenciar o comportamento dos mesmos no meio social e é relevante o papel 
desta para o desenvolvimento do menor. È nela que são transmitidos os valores 
morais e sociais que servem de base para o processo de socialização do indivíduo. 
 
 Segundo Silvio Rodrigues num conceito mais amplo de família diz: 
 
“Ser a formação por todas aquelas pessoas ligadas por vínculo de sangue, 
ou seja, todas aquelas pessoas provindas de um tronco ancestral comum, o 
que inclui, dentro da órbita da família, todos os parentes consangüíneos. 
Num sentido mais estrito, constitui a família o conjunto de pessoas 
compreendido pelos pais e sua prole”4 
 
 
 Para Maria Helena Diniz: 
 
“Família no sentido amplíssimo seria aquela em que indivíduos estão 
ligados pelo vínculo da consanguinidade ou da afinidade. Já a acepção lato 
sensu do vocábulo refere-se aquela formada além dos cônjuges ou 
companheiros, e de seus filhos, abrange os parentes da linhareta ou 
colateral, bem como os afins (os parentes do outro cônjuge ou 
 
4
 RODRIGUES, Sílvio. Direito Civil. Vol.6 - Direitode Família. 28. ed. São Paulo: Editora 
Saraiva, 2004.p.4. 
12 
 
companheiro). Por fim, o sentido restrito restringe a família à comunidade 
formada pelos pais (matrimônio ou união estável) e a da filiação.5 
 
 Desde os primórdios a concepção de família evoluiu ao longo dos anos, até 
a concepção atual que privilegia o afeto. Vale ressaltar que o contrato, a família e a 
propriedade, importantes institutos do Direito Civil, ganharam novos contornos, de 
unidade econômica para uma compreensão solidária e afetiva. Gustavo Tepedino 
sintetiza essa nova ordem que se descortina no âmbito familiar, ao sustentar que: 
“As relações de família, formais ou informais, indígenas ou exóticas, ontem 
como hoje, por muito complexas que se apresentem, nutrem-se todas elas, 
de substancias triviais e ilimitadamente disponíveis a quem delas queira 
tomar: afeto, perdão, solidariedade, paciência, devotamento, transigência, 
enfim, tudo aquilo que, de um modo ou de outro, possa ser reconduzido a 
arte e a virtude do viver em comum. A teoria e a prática das instituições de 
família dependem, em última análise, de nossa competência de dar e 
receber amor.” 6 
 
 Assim sendo, pode-se perceber que a família é um conjunto de indivíduos 
com ancestrais em comum, ligados por laços consangüíneos, de afinidade ou de 
afetividade, gerando a necessidade de convivência que, por sua vez, dá origem ao 
núcleo familiar. 
 
2.1.1 Evolução Histórica da Família 
 
 O presente tópico não tem o condão de esgotar, tampouco aprofundar os 
estudos sobre os aspectos da evolução histórica da família, todavia, é importante 
apontar alguns registros relevantes, indispensáveis ao tema principal deste trabalho. 
 Desde os primórdios, a família é considerada um elemento de grande 
importância para estrutura social, a primeira célula de organização social, que vem 
evoluindo gradativamente, desde os tempos mais remotos até a atualidade. 
 A organização familiar passou de entidade amplíssima para restrita, com o 
decurso do tempo. Na era primitiva, quando o conhecimento do uso da força era vital 
para estabelecer a sobrevivência, as relações familiares também mantinham essa 
 
5 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil brasileiro: Direito de Família. 23. ed. São Paulo: 
Saraiva, 2008. v. 5. p. 9 
6
 TEPEDINO, Gustavo. Temas de Direito Civil. Rio de Janeiro: Renovar, 1999.p. 64 
13 
 
base, onde o mais forte comandava o grupo, levando o homem ao poder e a mulher 
à submissão. 
 Acerca da formação dos grupos familiares há diversas teorias, dentre elas 
Pontes de Miranda ao citar o alemão, Bachofen, em meados de 1861, menciona que 
eram grandes os grupos e havia promiscuidade, o homem primitivo não possuía 
sensibilidade para estabelecer um padrão equânime.7 
 Neste período, o agrupamento familiar vivia em endogamia, pois 
caracterizava pelas relações individuais, cujo relacionamento sexual ocorria entre os 
integrantes da própria tribo. Posteriormente, passaram a se relacionar com mulheres 
de outras tribos, ocorrendo mais tarde exclusividade nas relações individuais, dando 
origem à família monogâmica8, sendo fundamental para o desenvolvimento da 
sociedade. 
 Com relação à sociedade romana, a família teve um papel importantíssimo, 
sendo abarcado não apenas pelo ponto de vista social, como também pelo aspecto 
econômico, religioso, político e jurídico. O grupo familiar era organizado sobre o 
princípio da autoridade, pois o pater era o membro de maior importância na família 
romana. 
 A família era uma entidade hierarquizada que se fundava no poder do pater, 
o qual era, ao mesmo tempo, chefe político, sacerdote e juiz, possuindo poder quase 
absoluto sobre a mulher, os filhos e os escravos, ou seja, era ele que determinava o 
funcionamento do grupo. 
 Os filhos eram tratados conforme o sexo. Os filhos homens, tão somente 
ganhavam a posição de sui júris com o falecimento do pater, assim podia constituir 
nova família, antes disso não detinha plena capacidade, não havendo sequer 
possibilidade de contrair obrigações por não ter seu próprio patrimônio9. Apenas os 
filhos homens poderiam herdar. 
 No período pós-romano, a visão da família recebe a influência do Direito 
Germânico, em especial, a espiritualidade cristã, ao centrar o núcleo da família entre 
 
7
 MIRANDA, Pontes de. Tratado de direito de família. atualizado por Vilson Rodrigues Alves 
Campinas - SP: Brookseller, 2001. p.33. 
8
 Característica da família monogâmica: Funda-se no predomínio do homem. Seu objetivo é 
procriar filhos, cuja paternidade seja indiscutida, já que logo eles serão os herdeiros das riquezas do 
pai.Os laços conjugais somente podiam ser quebrados pelo homem.Os dois cônjuges compartilham 
os afetos e cuidados com relação aos filhos.Forma uma unidade social com maior firmeza e mais 
coerente.A mulher tem maior proteção e uma posição de dignidade e hierarquia. 
9
 DANTAS, San Tiago. Direito de família e das sucessões. Rio de Janeiro: Forense, 1991, 
p.19 
14 
 
pais e os filhos, tendo o casamento um caráter de Sacramento, passa-se, pois 
daquele enfoque autocrático para um enfoque mais democrático e afetivo.10 
 Concernente à família na Idade Média, é inegável o domínio da Igreja 
Católica sobre as relações familiares fortemente influenciada pelo Direito Canônico. 
A família também era responsável pela educação da prole, bem como, pelo 
ensinamento dos preceitos religiosos. 
 O direito consuetudinário da Idade Média diverge das ideias adotadas pela 
tradição romana, e nesse aspecto, José Virgílio extrai algumas mudanças: “a) o 
exercício do pátrio poder é temporário, por isso que condiciona ao interesse do filho; 
b) a função do pátrio poder é também atribuição da mãe, na falta do pai; c) o pátrio 
poder não obsta a que o filho tenha bens próprios”.11 
 Com a Revolução Industrial, a família como unidade básica da produção 
econômica foi substituída pelas grandes empresas de capital intensivo, onde 
empregados trabalhavam por um salário. Assim, as esferas domésticas e 
econômicas se divorciaram e a ideia de família, assim como sua função, foi alterada. 
O homem passa a trabalhar na fábrica e a mulher ingressa no mercado de trabalho 
com a finalidade de ajudar no sustento da família, alias todos os membros incluindo 
as crianças. Essa desagregação de infância e mundo do trabalho criou novas visões 
sobre a infância. A Lei das Fábricas de 1833 visou limitar o trabalho de crianças em 
fábricas e tentou introduzir duas horas de escolarização obrigatória para todas elas. 
 Contudo, é no século XIX que se inicia o progresso da indústria, portanto a 
família começa a ganhar nova forma, perdendo a figura paterna seu autoritarismo. 
Vale ressaltar a existência da Constituição de 1891 que resulta da proclamação da 
República e prevê o casamento civil, havendo, portanto, a desvinculação da Igreja 
com o Estado. 
 A família evoluiu com o passar do tempo, no século XX, com o Código de 
1916, era concebida como uma entidade matrimonializada, patrimonializada, 
patriarcal e hierarquizada. Na época, a família patriarcal era o pilar central da 
legislação, um dos aspectos foi a indissolubilidade do casamento e a capacidade 
 
10
 CORRÊA, Marise Soares. A história e o discurso da lei: o discurso antecede à história. Porto 
Alegre: PUCRS, 2009. Tese (Doutorado em História), Faculdade de Filosofia e Ciências 
Humanas,Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 2009. p. 16. 
11
 ROCHA, José Virgílio Castelo Branco. O Pátrio poder. Rio deJaneiro: Tupã, 1960.p. 33. 
 
15 
 
relativa da mulher. O artigo 23312 do Código Civil de 1916 intitulava o marido como 
único chefe da sociedade conjugal e à mulher era imputada a função de colaboração 
no exercício dos encargos da família, conforme artigo 24013 da mesma lei. 
 Quanto ao instituto da filiação, havia distinção entre filhos legítimos e 
ilegítimos, naturais e adotivos, os filhos concebidos fora do casamento não 
possuíam qualquer direito. 
 Tais previsões jurídicas foram sendo modificadas, dado que não teriam 
condições de se manterem por muito tempo em nosso ordenamento jurídico, pois, 
assim como a sociedade dá seus precisos passos para a evolução, o direito com ela 
caminha de mãos dadas, o que deu inicio a nova ordem constitucional com o 
advento da Constituição Federal de 1988. 
 Com a promulgação da Carta Magna, houve um novo tratamento ao direito 
de família, recebendo novos contornos, compreendendo princípios e direitos 
conquistados pela sociedade, qual seja, garantir direitos a todos e igualdade plena 
entre os indivíduos de uma mesma sociedade. 
 Paulo Lôbo aduz: 
 
“Com a implosão, social e jurídica, da família patriarcal, cujos últimos 
estertores se deram antes do advento da Constituição de 1988, não faz 
sentido que seja reconstruído o poder do pai (pátrio) para o poder dos 
pais(familiar). A mudança foi muito mais intensa, na medida em que o 
interessados pais está condicionado ao interesse do filho, ou melhor, ao 
interesse de sua realização como pessoa em desenvolvimento”14 
 
 Uma nova base jurídica foi lançada visando auferir o respeito aos princípios 
constitucionais, tais como a igualdade, liberdade, e acima de tudo o respeito ao 
princípio da dignidade da pessoa humana. 
 
12 BRASIL. Presidência da República. Código Civil Lei 3071/16 | Lei nº 3.071, de 1º de janeiro 
de 1916. Disponível em: http://presrepublica.jusbrasil.com.br/legislacao/103251/codigo-civil-de-1916-
lei-3071-16. Revogado pela lei nº 10.406 de 10 de janeiro de 2002. Acessado em 30 mar.2015 
13
 BRASIL. Presidência da República. Código Civil Lei 3071/16 | Lei nº 3.071, de 1º de janeiro 
de 1916. Disponível em: http://presrepublica.jusbrasil.com.br/legislacao/103251/codigo-civil-de-1916-
lei-3071-16. Revogado pela lei nº 10.406 de 10 de janeiro de 2002. Acessado em 30 mar.2015. 
14
 LÔBO, Paulo Luiz Netto. Direito Civil, Famílias. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 268. 
 
16 
 
 Eduardo Silva15 em sua obra destaca que “A família despede-se da sua 
condição de unidade econômica e passa a ser uma unidade afetiva, uma 
comunidade de afetos, relações e aspirações solidárias.” 
 No que tange aos cônjuges, é importante destacar no art. 226 no parágrafo 
5º que os “direitos e deveres referentes à sociedade conjugal, serão exercidos 
igualmente pelo homem e pela mulher”, tirando qualquer dúvida com relação à 
antiga forma seguida pela sociedade antiga. 
 Aos filhos, por sua vez, com a promulgação da Constituição Federal de 
1988, em seu art. 227, parágrafo 6º, proíbe-se qualquer forma de discriminação, 
extinguindo com a distinção de filiação, reconhecendo a igualdade entre os filhos. 
No texto dispõe que: “Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por 
adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações 
discriminatórias relativas à filiação.” 
 Contudo, os nascidos dentro ou fora do casamento passaram à exercer 
todos os direitos e deveres, assegurando à eles a ampla igualdade entre todos os 
filhos, consagrados na Constituição Federal, no Código Civil e no Estatuto da 
Criança e Adolescente, evidenciando a proximidade do ordenamento jurídico com os 
anseios da realidade social. 
 O Estatuto da Criança e do Adolescente surgiu com o advento da Lei 8.069, 
de 13 de Julho de 1990, trazendo em seu Capítulo III, Seção I, o cuidado com o 
menor e sua inserção familiar, garantindo-lhe a Dignidade da Pessoa Humana, 
dentre outros tantos direitos de suma importância, qual trataremos mais adiante num 
capítulo específico. 
 Procurando adaptar-se à evolução social e às mudanças legislativas, 
promulgou-se o Código Civil de 2002, o qual introduziu algumas alterações que se 
faziam necessárias, confirmando o que fora constitucionalmente previsto, há uma 
base jurídica criada para a família, conforme nos ensina Carlos Roberto Gonçalves: 
 
“Todas as mudanças sociais havidas na segunda metade do século 
passado e o advento da Constituição Federal de 1988, com as inovações 
mencionadas, levaram à aprovação do Código Civil de 2002, com a 
convocação dos pais a uma “paternidade responsável” e a assunção de 
uma realidade familiar concreta [...], prioriza-se a família socioafetiva, a não 
discriminação de filhos, a co-responsabilidade dos pais quanto ao exercício 
 
15
 SILVA, Eduardo. “A Dignidade da pessoa humana e a comunhão plena de vida: o direito de 
família entre a Constituição e o Código Civil”. Editora dos Tribunais, 2002. p.450-451. 
17 
 
do poder familiar, e se reconhece o núcleo monoparental como entidade 
familiar.” 16 
 
 O referido código harmonizado com a Constituição Federal de 1988, 
destacou-se a função social da família. Evidencia-se, portanto mudanças de 
paradigmas estabelecidas nos institutos do Direito de Família no aspecto desta não 
ser mais admitida sob o ponto de vista individualista e patrimonial, mas sob a 
perspectiva da pessoa humana, procurando atender o desenvolvimento de suas 
necessidades com base nas relações de afeto, proporcionando maior atenção entre 
seus integrantes. Para Eduardo de Oliveira Leite, “O Direito reconhece finalmente a 
nova família estruturada nas relações de autenticidade, afeto, amor diálogo e 
igualdade.” 17 
 O Código Civil de 2002 trouxe a igualdade dos cônjuges no âmbito familiar, 
dissolvendo-se o poder patriarcal. Também dedicou sobre a dissolução do vínculo 
conjugal, bem como a atualização da adoção, sem qualquer distinção entre os filhos 
biológicos e os adotados. Regulamentou ainda a união estável entre o homem e a 
mulher, assim como o reconhecimento de direitos decorrentes das relações 
concubinas. 
 Assim, a Constituição Federal de 1988 e o Direito Civil Contemporâneo, 
oportunizaram grandes mudanças no campo do Direito de Família, destacando o 
principio da dignidade da pessoa humana, posicionando filhos e pais em igualdade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
16
 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil brasileiro: direito de família, 6 ed. e atual. São 
Paulo: Saraiva, 2009. p. 17 – 18 
17 LEITE, Eduardo de Oliveira. Tratado de direito de família: origem e evolução do Casamento. 
Curitiba: Juruá, 1991., p. 367 
18 
 
3 EXERCICIO DO PODER FAMILIAR 
 
 O pátrio poder tem seu fundamento no direito grego e direito romano. Nada 
obstante, o pátrio poder foi praticado com mais rigidez no direito romano, por 
intermédio do instituto pater famílias que atingia toda a família.18 
 A Constituição Federal de 1988 veio para causar revolução no Direito de 
Família, como a igualdade entre todos os filhos, bem como o pai e mãe nas mesmas 
condições de direitos e deveres, sem distinção entre eles, comandando a estrutura 
da família, pregando, no âmbito familiar, a felicidade e o afeto mútuo, para que os 
filhos tenham a possibilidade de aperfeiçoar-se e desenvolver-se como cidadãos a 
fim de alcançar a ampla e irrestrita dignidade humana. 
 De forma harmônica, em 1990, o Estatuto da Criança e do Adolescente, veio 
reiterar, preceituando que o poder familiar será exercidopelo pai e pela mãe da 
criança na forma que dispuser a lei. Em 2002, houve a reforma do Código Civil e 
este por sua vez teve toda sua estrutura na Constituição Federal de 1988, adotando 
a figura do poder familiar exercido de forma igualitária entre os pais. 
 Assim no exercício do poder familiar, à vontade de um dos genitores não se 
sobrepõe a do outro, dando relevância ao melhor interesse da criança e do 
adolescente. 
 Denise Damo Comel, defende que: 
 
“Assim, o que se tem é que o Código Civil evoluiu da denominação de pátrio 
poder para poder familiar, sendo certo que não criou uma nova figura 
jurídica, mas assim o fez para compatibilizar a tradicional e secular existente 
aos novos conceitos jurídicos e valores sociais, em especial para que não 
evidenciasse qualquer discriminação entre os a ele sujeitos, também entre o 
casal de pais com relação ao encargo de criar e educar os filhos, 
destacando o caráter instrumental da função.”19 
 
 
 Sobre o tema, Maria Helena Diniz ressalta que: 
 
 “o poder familiar é uma espécie de função correspondente a um encargo 
privado, sendo o poder familiar um direito-função e um poder-dever, que 
estaria numa posição intermediária entre o poder e o direito subjetivo”.20 
 
18
 No Direito Romano os textos existentes mostram a rigidez com que funcionava o instituto o 
pater famílias tinha um poder de vida e morte sobre seus filhos. 
http://www.egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/anexos/28292-28303-1-PB.html Acessado em 30mar2015. 
19
 COMEL, Denise Damo. Do poder familiar.2003 São Paulo: RT p. 55 
20
 DINIZ, Maria Helena de. Curso de Direito Civil Brasileiro: Direito de Família. 22. ed. rev. 
Atual. São Paulo: Saraiva. 2007. v.5.p. 515. 
19 
 
 Assim sendo, é um encargo atribuído pelo Estado aos pais, em benefício 
dos filhos, de forma irrenunciável. Todavia, a análise será direcionada à pessoa do 
filho. 
 Com a evolução histórica, o filho passou de objeto para sujeito de direito, 
assim, a criança vem sendo protegida não apenas pelos pais, como também pelo 
Estado e pela sociedade em situações específicas, as quais mereçam atenção, 
como caso da violência ora discutido, quando os próprios membros causam conflitos 
e tensões não solúveis pela própria família, assegurando à criança, ao adolescente 
e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à 
educação, o respeito entre outros. Conforme disposto o art. 227 da Constituição 
Federal de 1988.21 
 
3.1 PODER FAMILIAR E O ESTADO 
 
 O poder familiar constitui responsabilidade comum dos pais aos filhos em 
prestar o necessário ao seu sustento proporcionando-lhes, alimentação, vestuário, 
educação, moradia, lazer, assistência à saúde, devendo ser exercida com maior 
interesse ao menor. 
 O Estado estabelece limites aos pais para o exercício do poder familiar, 
passando a intervir de forma subsidiaria em seu âmbito, cuja função é formular e 
executar políticas sociais, em parceria com a sociedade, bem como fiscalizar os pais 
no que tange o cumprimento do texto constitucional. Uma vez violada a norma 
constitucional, o Estado tem autorização para intervir nas relações familiares em prol 
da criança e do adolescente. Assim, a família base da sociedade, tem total proteção 
do estado, destacando-se na Constituição Federal nos seus arts. 226 e 227 que 
tratam de maneira específica o princípio da proteção integral a família e ao menor. 
Vejamos: 
 
Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. 
§ 1º - O casamento é civil e gratuita a celebração. 
§ 2º - O casamento religioso tem efeito civil, nos termos da lei. 
 
21
 BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. 
Constituição da República federativa do Brasil de 1988. Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acessado em 29 mar. 2015. 
20 
 
§ 3º - Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável 
entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua 
conversão em casamento. (Regulamento) 
§ 4º - Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada 
por qualquer dos pais e seus descendentes. 
§ 5º - Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos 
igualmente pelo homem e pela mulher. 
§ 6º - O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio, após prévia 
separação judicial por mais de um ano nos casos expressos em lei, ou 
comprovada separação de fato por mais de dois anos. 
§ 6º O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio. 
§ 7º - Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da 
paternidade responsável, o planejamento familiar é livre decisão do casal, 
competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e científicos para o 
exercício desse direito, vedada qualquer forma coercitiva por parte de 
instituições oficiais ou privadas. Regulamento 
§ 8º - O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um 
dos que a integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito 
de suas relações. 
 
 E também no art. 227, temos que: 
 
 
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, 
ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à 
saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, 
à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, 
além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, 
exploração, violência, crueldade e opressão. 
§ 1º O Estado promoverá programas de assistência integral à saúde da 
criança, do adolescente e do jovem, admitida a participação de entidades 
não governamentais, mediante políticas específicas e obedecendo aos 
seguintes preceitos: 
I - aplicação de percentual dos recursos públicos destinados à saúde na 
assistência materno-infantil; 
II - criação de programas de prevenção e atendimento especializado para 
os portadores de deficiência física, sensorial ou mental, bem como de 
integração social do adolescente portador de deficiência, mediante o 
treinamento para o trabalho e a convivência, e a facilitação do acesso aos 
bens e serviços coletivos, com a eliminação de preconceitos e obstáculos 
arquitetônicos. 
II - criação de programas de prevenção e atendimento especializado para 
as pessoas portadoras de deficiência física, sensorial ou mental, bem como 
de integração social do adolescente e do jovem portador de deficiência, 
mediante o treinamento para o trabalho e a convivência, e a facilitação do 
acesso aos bens e serviços coletivos, com a eliminação de obstáculos 
arquitetônicos e de todas as formas de discriminação. 
§ 2º - A lei disporá sobre normas de construção dos logradouros e dos 
edifícios de uso público e de fabricação de veículos de transporte coletivo, a 
fim de garantir acesso adequado às pessoas portadoras de deficiência. 
§ 3º - O direito a proteção especial abrangerá os seguintes aspectos: 
I - idade mínima de quatorze anos para admissão ao trabalho, observado o 
disposto no art. 7º, XXXIII; 
II - garantia de direitos previdenciários e trabalhistas; 
III - garantia de acesso do trabalhador adolescente à escola; 
III - garantia de acesso do trabalhador adolescente e jovem à escola; 
IV - garantia de pleno e formal conhecimento da atribuição de ato 
infracional, igualdade na relação processual e defesa técnica por 
profissional habilitado, segundo dispuser a legislação tutelar específica; 
21 
 
V - obediência aos princípios de brevidade, excepcionalidade e respeito à 
condição peculiar de pessoa em desenvolvimento, quando da aplicação de 
qualquer medida privativada liberdade; 
VI - estímulo do Poder Público, através de assistência jurídica, incentivos 
fiscais e subsídios, nos termos da lei, ao acolhimento, sob a forma de 
guarda, de criança ou adolescente órfão ou abandonado; 
VII - programas de prevenção e atendimento especializado à criança e ao 
adolescente dependente de entorpecentes e drogas afins. 
VII - programas de prevenção e atendimento especializado à criança, ao 
adolescente e ao jovem dependente de entorpecentes e drogas afins. 
§ 4º - A lei punirá severamente o abuso, a violência e a exploração sexual 
da criança e do adolescente. 
§ 5º - A adoção será assistida pelo Poder Público, na forma da lei, que 
estabelecerá casos e condições de sua efetivação por parte de 
estrangeiros. 
§ 6º - Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, 
terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações 
discriminatórias relativas à filiação. 
§ 7º - No atendimento dos direitos da criança e do adolescente levar-se- á 
em consideração o disposto no art. 204. 
§ 8º A lei estabelecerá: 
I - o estatuto da juventude, destinado a regular os direitos dos jovens; 
II - o plano nacional de juventude, de duração decenal, visando à 
articulação das várias esferas do poder público para a execução de políticas 
públicas. 
 
 
 Deste modo, é dever dos pais, do Estado e também de toda sociedade 
prover a proteção integral das crianças e adolescentes, bem como buscar a 
efetivação dos seus direitos fundamentais. 
 Em suma, o Estado é legitimo para interferir na relação familiar, com a 
intenção de defender os menores que o habitam, fiscalizando o adimplemento de tal 
encargo, podendo suspender ou até excluir o poder familiar, desde que seja em 
situações específicas e determinadas na lei. Mais adiante, trataremos sobre a 
intervenção do estado no poder familiar num capítulo específico direcionado à Lei da 
Palmada (Lei Nº 13.010/2014) que é o tema do presente trabalho. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
22 
 
4 A LEI 13.010/2014 (LEI DA PALMADA) 
 
 A Lei da Palmada n° 13.010/2014 altera a Lei nº 8.069/1990, que dispõe 
sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente, para estabelecer o direito da criança 
e do adolescente de serem educados e cuidados sem o uso de castigos corporais 
ou de tratamento cruel ou degradante.22 
 A Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, passa a vigorar acrescida dos 
seguintes arts.: 18-A, 18-B e 70-A. 
 O desafio desta explanação é justamente tratar acerca destes três artigos 
que vem causando polêmica sobre sua eficácia ou não dentro do contexto normativo 
voltado a pretensão objetiva de proteger as crianças e adolescentes contra atos 
violentos e degradantes desferidos por pais e educadores no processo de 
desenvolvimento do indivíduo. 
 
4.1 BREVE HISTÓRICO DA TRAMITAÇÃO DA N° 13.010/2014 
 
 Inicialmente o Projeto de Lei n° 2.654/200323 foi apresentado à Câmara dos 
Deputados em 2003 pela deputada Maria do Rosário (PT-RS). 
 Posteriormente atendendo a nova disposição da ONU (Organização das 
Nações Unidas), o novo texto de Projeto de Lei de n° 7.672/1024 foi enviado ao 
Poder Executivo, relatado pela deputada Teresa Surita (PMDB-RR), que apresentou 
texto substitutivo ao projeto inicial, tendo o mesmo sido aprovado na Comissão 
Especial no dia 14 de dezembro de 2011. 
 No dia 21 de maio de 2014 foi aprovada a redação final do Projeto de Lei de 
n° 7.672/10 pela Câmara dos Deputados, que visou ampliar os direitos das crianças 
e adolescentes, incluindo no Estatuto da Criança e Adolescente um trecho que visa 
impedir a agressão constituída como agressão física chamada de palmada. 
 
22
 BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia Assuntos Jurídicos. LEI Nº 
13.010, DE 26 DE JUNHO DE 2014. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-
2014/2014/Lei/L13010.htm Acessado em 08JAN2015 
23
 BRASIL. Câmara dos Deputados. Projeto de Lei 2654/2003. Disponível em 
http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=146518 Acessado em 
08JAN2015. 
24
 BRASIL. Câmara dos Deputados. Projeto de Lei 7672/2010. Disponível em: 
http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=483933 Acessado em 
08JAN2015. 
23 
 
 A Lei da Palmada foi uma expressão criada pela mídia, mas quando foi 
aprovada, a Comissão de Constituição de Justiça e Cidadania da Câmara dos 
Deputados batizou o projeto de lei de Lei Menino Bernardo, em homenagem ao 
menino de 11 (onze) anos, Bernardo Boldrini, encontrado morto em um matagal na 
cidade de Três Passos no Rio Grande Do Sul, dia 14 de abril de 2015.2526 
 No dia 04 de junho de 2014 a Lei da Palmada foi aprovada pelo Senado e no 
dia 27 de junho do mesmo ano foi sancionada pela Presidente Dilma Roussef e 
publicada no Diário Oficial da União. 
 Todavia, a presidência vetou o trecho que determina que os que exercem 
cargo público, profissionais da saúde, assistência social ou de educação, tem 
obrigação de denunciar às autoridades de casos os quais tem conhecimento 
envolvendo suspeita ou confirmação de castigo físico, tratamento cruel ou 
degradante com maus tratos contra criança ou adolescente, sob pena de ser 
multado com o pagamento de três a 20 (vinte) salários mínimos. Assim, o veto 
justificou afirmando que ampliar o rol de profissionais que têm esse dever “acabaria 
por obrigar profissionais sem habilitação específica e cujas atribuições não 
guardariam qualquer relação com a temática”.27 
 
4.2 DA LEI E SEUS OBJETIVOS 
 
 Com o advento da lei da palmada, fica estabelecido que as crianças e 
adolescentes tem o direito de ser educados e cuidados sem o uso de castigo físico 
ou tratamento cruel ou degradante, alterando portanto o Estatuto da Criança e do 
Adolescente. 
 O referido estatuto condena maus-tratos contra o menor, mas não define se 
os maus-tratos seriam físicos ou morais. Desta forma, com alteração ora 
 
25
 Menino Bernardo Uglione Boldrini, 11, foi encontrado morto em um matagal na cidade de 
Frederico Westphalen (a 447 km de Porto Alegre). O pai do garoto, o médico Leandro Boldrini, a 
madrasta, a enfermeira Graciele Ugulini, e uma amiga dela, a assistente social Edelvânia 
Wirganovicz, são suspeitos e foram presos preventivamente. O corpo foi encontrado na segunda-feira 
(14), enterrado em um matagal. http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2014/04/16/amiga-
de-madrasta-diz-que-menino-foi-dopado-e-morto-com-injecao-letal.htm 
 
27
 DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO. Disponível em: 
http://www.jusbrasil.com.br/diarios/72283103/dou-secao-1-27-06-2014-pg-11. Acessado em 09 
jan.2015. 
24 
 
mencionada, o “castigo físico” passa a ser definido como “ação de natureza 
disciplinar ou punitiva com o uso da força física que resulte em dor ou lesão à 
criança ou adolescente”. 
 O que significa que os pais que agredirem fisicamente seus filhos serão 
encaminhados para cursos de orientação e tratamento psicológico ou psiquiátrico, 
mais advertência. 
 A nova lei trouxe um implemento a mais, o qual não contempla a lei original. 
A lei da palmada vai além do ambiente doméstico, e se estende também aos 
integrantes da família ampliada, responsáveis ou qualquer outra pessoa 
encarregada de cuidar, tratar, educar ou vigiar crianças. 
 A deputada Teresa Surita, relatora do projeto da Lei da Palmada, em 
entrevista à Revista Crescer, esclarece a necessidade de sua criação: 
“Essa é uma lei educativa. O nosso objetivo maior é a mudança dos valores 
da sociedade porque o Brasil tem a cultura do bater. Na década de 50, as 
crianças e adolescentesapanharam muito. Existia a palmatória na escola, o 
castigo de ajoelhar no milho, que, felizmente, foram se transformando. Hoje, 
a família não admite que ninguém bata. A babá não pode bater nem a 
escola, mas os pais querem ter esse direito porque acham que a surra ou a 
palmada vão educar, mas já está comprovado de que bater não educa. Não 
existe palmada pedagógica. Quando você agride uma criança, está 
causando medo, não reflexão, muito menos educação. Se você for em 
qualquer pronto-socorro ou em delegacias, vai se deparar com casos de 
violência em crianças. Em casos como esses, os pais agressores serão 
encaminhados para assistência psicológica e psiquiátrica. [...] Essa 
preocupação cabe ao Estado porque têm crianças que morrem por maus-
tratos e agressão. Mas tudo começa com a palmada. A maioria dos 
Conselhos Tutelares não dá continuidade para casos de violência. Nós 
estamos trabalhando na reeducação da sociedade, na mudança de cultura. 
Vamos falar de Isabella Nardoni, um caso extremo. Quantas vezes, depois 
que aconteceu o processo, os vizinhos disseram que já haviam escutado 
gritos, choros e brigas no apartamento. Foram muitos! O caso ficou muito 
conhecido no Brasil, mas quantos casos existem assim e ninguém sabe? A 
violência doméstica é uma coisa velada. Não se fala abertamente. Com 
essa lei, queremos evitar casos mais graves como esses.28 
 
 A Deputada ainda complementa em sua entrevista: 
 
“[...] Outro motivo para criação da Lei é porque o Brasil assinou com a 
Organização das Nações Unidas (ONU), para fazer essa mudança para que 
as nossas crianças possam ter esse direito e, por fim, porque até hoje não 
houve nenhuma campanha nesse sentido.” 
 
 
28
 MENEGUEÇO, Bruna. “Objetivo da Lei da Palmada é educar, não punir” diz relatora. 
Disponível em: http://revistacrescer.globo.com/Revista/Crescer/0,,EMI284938-15046,00.html. Acesso 
em 14 de janeiro de 2015. 
25 
 
 O legislador acredita que é importante compreender a criação da lei para 
sociedade, complementando o Estatuto da Criança e Adolescente por tratar de 
questões culturais e preventivas. 
 Estima-se uma mudança cultural através de denúncias de violência contra o 
infante, contando com testemunhos de terceiros, como vizinhos, parentes, 
funcionários, assistentes sociais que certifiquem os castigo corporal e que tenham 
intenção de denunciar o responsável ao Conselho Tutelar. Ressalta-se que as 
punições de casos de violência mais grave já estão abarcados no Código Penal e no 
próprio ECA, haja vista, que o propósito da lei em comento é a elaboração de 
campanhas educativas destinadas a conscientizar o público sobre a ilicitude do uso 
da violência contra criança e adolescente, ainda que sob a alegação de propósitos 
pedagógicos. 
 
4.3 ALTERAÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE 
 
 A Lei 13.010/2014 trouxe modificações significativas no Estatuto da Criança 
e do Adolescente no que tange a violência contra a criança, tendo em seu conteúdo 
novas conceituações normativas. 
 Na área de prevenção, especificamente relacionado aos direitos individuais 
de cunho fundamental da criança e do adolescente, a lei 13.010/2014 trouxe duas 
novas figuras nessa área especifica dos direitos fundamentais: a objetividade 
jurídica trazida pela lei com o acréscimo do art. 18-A e 18-B29, sobre o direito da 
criança e o adolescente com maior detalhamento e definições acerca da educação e 
cuidados sem uso de violência, como castigos físicos, tratamento cruel ou 
degradante, analisemos o novo conteúdo: 
 
18-A. A criança e o adolescente têm o direito de ser educados e cuidados 
sem o uso de castigo físico ou de tratamento cruel ou degradante, como 
formas de correção, disciplina, educação ou qualquer outro pretexto, pelos 
pais, pelos integrantes da família ampliada, pelos responsáveis, pelos 
agentes públicos executores de medidas sócio educativas ou por qualquer 
pessoa encarregada de cuidar deles, tratá-los, educá-los ou protegê-los. 
Parágrafo único. Para os fins desta Lei, considera-se: 
 
29
 BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos jurídicos. Lei 
13.010/2010 de 26 de junho de 2014. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-
2014/2014/Lei/L13010.htm . Acessado em 09 jan. 2015. 
26 
 
I - castigo físico: ação de natureza disciplinar ou punitiva aplicada com o uso 
da força física sobre a criança ou o adolescente que resulte em: 
a) sofrimento físico; ou b) lesão; 
II - tratamento cruel ou degradante: conduta ou forma cruel de tratamento 
em relação à criança ou ao adolescente que: 
a) humilhe; ou b) ameace gravemente; ou c) ridicularize” 
 
Art. 18-B. Os pais, os integrantes da família ampliada, os responsáveis, os 
agentes públicos executores de medidas sócio educativas ou qualquer 
pessoa encarregada de cuidar de crianças e de adolescentes, tratá-los, 
educá-los ou protegê-los que utilizarem castigo físico ou tratamento cruel ou 
degradante como formas de correção, disciplina, educação ou qualquer 
outro pretexto estarão sujeitos, sem prejuízo de outras sanções cabíveis, às 
seguintes medidas, que serão aplicadas de acordo com a gravidade do 
caso: 
I - encaminhamento a programa oficial ou comunitário de proteção à família; 
II - encaminhamento a tratamento psicológico ou psiquiátrico; 
III - encaminhamento a cursos ou programas de orientação; 
IV - obrigação de encaminhar a criança a tratamento especializado; 
V - advertência. 
Parágrafo único. As medidas previstas neste artigo serão aplicadas pelo 
Conselho Tutelar, sem prejuízo de outras providências legais.” 
 
 
 Como visto, o caput objetiva um enunciado propositivo para que essa cultura 
da não violência possa ser considerada agora também como uma diretriz para 
interpretação de cada um dos casos concretos, como violência dentro da família, 
vida comunitária e também na escola. 
 Na primeira parte do art. 18-A, a criança e o adolescente tem direito de 
serem educados e cuidados sem o uso de castigos físicos, bem como tratamento 
cruel ou degradante, logo são sujeitos de direito. 
 Segundo opiniões de defensores das alterações citadas não é possível mais 
educar a criança ou adolescente seja no âmbito familiar ou escolar com uso do 
castigo físico, os quais tenham tratamentos cruéis, degradantes, vexatório e 
humilhante. Até porque tratamento dessa natureza não pode ser estratégia ou 
pretexto de processo educativo. Como formas de correção, disciplina, educação ou 
qualquer outro pretexto pelos pais, pelos integrantes da família ampliada, pelos 
responsáveis, pelos agentes públicos, executores de medidas socioeducativas ou 
qualquer pessoa encarregada de cuidar deles, ainda que temporariamente, deverá 
cuidá-los, educá-los e protegê-los. 
 O parágrafo único do art. 18-A traz uma conceituação normativa sobre o que 
é castigo físico como sendo a ação de natureza disciplinar ou punitiva aplicada com 
o uso da força física sobre a criança ou o adolescente que resulte em: a) sofrimento 
físico ou; b) lesão. 
27 
 
 E também conceituou tratamento cruel ou degradante: conduta ou forma 
cruel de tratamento em relação à criança ou ao adolescente que: a) humilhe; ou b) 
ameace gravemente; ou c) ridicularize. E não precisa ser conjugado, pode ser um ou 
outro. 
 A forma de violência está contemplada no art. 18-B que cuida 
especificamente das medidas legais aplicáveis à título de responsabilização 
estatutária, ou seja, além da possibilidade de serem responsabilizados pelas 
medidas legais previstas no ECA, é possível também em relação as pessoas 
agressoras serem adotadas outras responsabilidades no âmbito civil,administrativo 
e penal, quais sejam: I - encaminhamento a programa oficial ou comunitário de 
proteção à família; II - encaminhamento a tratamento psicológico ou psiquiátrico; III - 
encaminhamento a cursos ou programas de orientação; IV - obrigação de 
encaminhar a criança a tratamento especializado; V – advertência e; ainda no 
parágrafo único: As medidas previstas neste artigo serão aplicadas pelo Conselho 
Tutelar, sem prejuízo de outras providências legais. 
 O Estatuto da Criança e Adolescente no seu artigo 70 versa que: 
 “é dever de todos prevenir a ocorrência de ameaça ou violação dos direitos 
da criança e do adolescente”. 
 
 Com a nova lei, acrescentou o art. 70-A que dispõe o seguinte: 
“Art. 70-A. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios deverão 
atuar de forma articulada na elaboração de políticas públicas e na execução 
de ações destinadas a coibir o uso de castigo físico ou de tratamento cruel 
ou degradante e difundir formas não violentas de educação de crianças e de 
adolescentes, tendo como principais ações: 
I - a promoção de campanhas educativas permanentes para a divulgação 
do direito da criança e do adolescente de serem educados e cuidados sem 
o uso de castigo físico ou de tratamento cruel ou degradante e dos 
instrumentos de proteção aos direitos humanos; 
II - a integração com os órgãos do Poder Judiciário, do Ministério Público e 
da Defensoria Pública, com o Conselho Tutelar, com os Conselhos de 
Direitos da Criança e do Adolescente e com as entidades não 
governamentais que atuam na promoção, proteção e defesa dos direitos da 
criança e do adolescente; 
III - a formação continuada e a capacitação dos profissionais de saúde, 
educação e assistência social e dos demais agentes que atuam na 
promoção, proteção e defesa dos direitos da criança e do adolescente 
para o desenvolvimento das competências necessárias à prevenção, à 
identificação de evidências, ao diagnóstico e ao enfrentamento de todas as 
formas de violência contra a criança e o adolescente; 
IV - o apoio e o incentivo às práticas de resolução pacífica de conflitos que 
envolvam violência contra a criança e o adolescente; 
V - a inclusão, nas políticas públicas, de ações que visem a garantir os 
direitos da criança e do adolescente, desde a atenção pré-natal, e de 
28 
 
atividades junto aos pais e responsáveis com o objetivo de promover a 
informação, a reflexão, o debate e a orientação sobre alternativas ao uso de 
castigo físico ou de tratamento cruel ou degradante no processo educativo; 
VI - a promoção de espaços intersetoriais locais para a articulação de ações 
e a elaboração de planos de atuação conjunta focados nas famílias em 
situação de violência, com participação de profissionais de saúde, de 
assistência social e de educação e de órgãos de promoção, proteção e 
defesa dos direitos da criança e do adolescente. 
Parágrafo único. As famílias com crianças e adolescentes com deficiência 
terão prioridade de atendimento nas ações e políticas públicas de 
prevenção e proteção” 
 
 Ressalta-se que a pretensão do legislador com estas novas inserções mais 
descritivas dos atos, tanto de violência, de proteção e de assistência as famílias, tem 
como objetivo legal trazer uma nova cultura nas relações familiares, seja elas 
ampliadas ou não, e, da mesma forma os responsáveis pelas crianças, com deveres 
pré determinados na lei de proteger, educar e de inserir os menores no processo de 
formação da cultura da não-violência. 
 Além disso, o artigo 70-A, diz ser dever da União, dos Estados e dos 
Municípios desenvolver políticas públicas com o objetivo de incentivar aos 
responsáveis de crianças e adolescentes a educá-los sem o uso de castigos físicos. 
 Na sequencia será apontado, algumas das normas protetivas acerca do 
afeto nas relações familiares. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
29 
 
5 NORMAS PROTETIVAS DE AFETO NAS RELAÇÕES FAMILIARES 
 
 O direito, como ciência social, é um conjunto de regras dotadas de sanções 
que regem as relações dos homens que vivem em sociedade, tem como função 
social regular fatos sociais. Assim sendo, diante do afeto que se fundam nas 
relações familiares, para o que se propõe a lei, é imprescindível compreender as 
normas presentes no ordenamento jurídico brasileiro, estabelecidas quanto à 
proteção do afeto. 
 Tratar com respeito a questão do afeto por lei federal ou quaisquer outras 
normas do nosso sistema jurídico, é tarefa por demais ousada e árdua do legislador 
que, por sua vez, posiciona-se como definidor de sentimentos, os quais dependem 
de infinitas diversidades culturais, sociais, ambientais, econômicas entre muitos 
outros fatores que se correlacionam, formando um quadro de análise altamente 
complexo e de extrema responsabilidade. Portanto, não é possível dizer que o 
direito positivo e sua ciência possam integrar missões tão difíceis como esta para 
amparar direitos humanos e sociais. 
 Outrossim, o que parece possível, é que a lei possa garantir à criança e ao 
adolescente,com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à 
educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à 
liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda 
forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. 
Porém, determinar afeto por lei, a missão é bem mais intrincada. 
 Contudo, se verifica aparente pretensão prioritária do legislador, pela lógica 
dos efeitos da norma, de alcançar minimamente a ternura e o afeto entre familiares 
no que diz respeito à formação e desenvolvimento das crianças e adolescentes do 
nosso país, buscando substituir a rigidez antiga pela habilidade do afeto e o amor, 
coisa que não é possível prever até que a uso da lei possa comprovar estes 
resultados ao longo do tempo. 
 Maria Isabel Pereira da Costa sobre afetividade nos ensina que: 
 
“O tratamento carinhoso e respeitoso é, sem dúvida, o que melhor atende 
ao interesse da criança e do adolescente. Então, se faltar o carinho, o afeto 
e o respeito pela personalidade da criança, que está em fase de formação, 
se está negando a essa criança um direito fundamental protegido pela 
30 
 
constituição.”
30 
 
 
 Assim sendo, essa prioridade, como é definida na própria lei anterior do 
ECA, se traduz no dever de todos de atender o melhor interesse da criança e do 
adolescente, o que se constitui em princípio amparados pela Constituição Federal 
pelo art. 22731, que garantem um direito fundamental. 
 Como supramencionado, o Brasil signatário da Convenção sobre o Direito 
das Crianças, ratifica seu compromisso constitucional no âmbito internacional, 
colaborando com a universalização do bem para as crianças e adolescentes nas 
relações familiares em que os pais compreendam a capacidade dos filhos de 
aprender e se desenvolver sem o emprego da violência. 
 
5.1 PRINCIPIOS NORTEADORES DO DIREITO DA CRIANÇA E DO 
ADOLESCENTE 
 
 A criança e o adolescente têm direitos e garantias na Constituição Federal 
de 1988, no Código Civil de 2002, no Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990, 
bem como tratados internacionais e leis ordinárias, como exaustivamente citado 
anteriormente, devendo ser protegidos pela família, sociedade e Estado na mais 
absoluta prioridade e proteção integral psicológica, social e humana. 
 Desta forma, é necessário explanar os direitos do menor, por se tratar de 
pessoas em desenvolvimento, sujeitos de direito, e que portanto, tem um conjunto 
de direitos fundamentais que deve ser assegurados. 
 
5.1.1 Princípio da proteção integral30
 COSTA, Maria Isabel Pereira da. Família: do autoritarismo ao afeto. Como e a quem indenizar 
a omissão do afeto? Revista brasileira de direito de família Porto Alegre: Síntese, IBDFAM, v. 7, n. 32, 
Out./Nov., 2005. p. 34 
31
 Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente 
e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à 
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e 
comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, 
violência, crueldade e opressão. 
31 
 
 Em nome da prioridade de proteção integralizada como condição de pessoa 
humana em desenvolvimento, a lei tem papel fundamental e, pelo que se vê ela se 
apresenta com objetivos de dar a sociedade, meios de prover condições para agir 
em proteção das crianças e adolescentes. 
 Tal proteção está consagrada no art. 227 da Constituição Federal de 1988, 
que estabelece que: 
 
“É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao 
adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, 
à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à 
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, 
além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, 
exploração, violência, crueldade e opressão”. 
 
 O que se verifica a priori quanto a nossa Constituição, é que por si mesma 
ela já contempla todos os tipos de cuidados e proteção das nossas crianças e 
adolescentes, sendo suficiente para agir independentemente das leis 
complementares existentes, pois a norma constitucional pela forma como se 
apresenta é auto aplicável32. Porém, se faz necessário definir com mais clareza 
quem são as pessoas sujeitas à penalidades, sanções e recomendações de 
medidas, as quais a lei se proporá a fazer. 
 A Declaração dos Direitos das Crianças originou a doutrina da Proteção 
Integral, que apenas entrou no ordenamento jurídico com o advento da Constituição 
Federal de 1988. A Declaração teve seu crescimento primeiramente no âmbito 
internacional, dando destaque à Convenção Internacional sobre os Direitos da 
Criança de 1989, aprovada por unanimidade pela Assembleia Geral das Nações 
Unidas, definindo o conjunto de direitos, reconhecendo que a criança e o 
adolescente são sujeitos de direito, necessitando de cuidados e proteção especial, 
decorrente de sua vulnerabilidade. 
 O principio da Proteção Integral também está conceituada no art. 3º do 
Estatuto da Criança e do Adolescente, determinando que: 
 
32
 A Doutrina clássica classifica em normas auto-aplicáveis e normas não auto-aplicáveis, mas 
José Afonso não faz tal diferenciação, considerando que todas as normas constitucionais são auto-
aplicáveis, pois são revestidas de eficácia jurídica, ou seja, dotada de capacidade para produzir 
efeitos no mundo jurídico, seja em maior ou menor grau. 
32 
 
“Art. 3. A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais 
inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata 
esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as 
oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, 
mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de 
dignidade.” 
 Consequentemente, esse princípio reflete em todo o sistema jurídico, 
devendo cada ato administrativo ser analisado em consonância com a Constituição 
Federal de 1988 em seu art. 227, assim como com o Estatuto da Criança e 
adolescente. 
 
5.1.2 Princípio do melhor interesse da criança e do adolescente 
 
 O principio do melhor interesse da criança e do adolescente também está 
previsto no art. 227 da Constituição Federal de 1988 e no art. 6º do Estatuto da 
Criança e do Adolescente. 
 Paulo Luiz Netto Lôbo, esclarece que: 
 
“O princípio do melhor interesse significa que a criança – incluído o 
adolescente,segundo a Convenção Internacional dos Direitos da Criança – 
deve ter seus interesses tratados com prioridade, pelo Estado, pela 
sociedade e pela família, tanto na elaboração quanto na aplicação dos 
direitos que lhe digam respeito, notadamente nas relações familiares, como 
pessoa em desenvolvimento e dotada de dignidade.[…] No Passado 
recente, em havendo conflito, a aplicação do direito era mobilizada para os 
interesses dos pais, sendo a criança mero objeto da decisão.” 33 
 
 Tal princípio pode ser traduzido como todas as condutas que devem ser 
tomadas levando em consideração o que é melhor para o menor, e por serem 
pessoas em desenvolvimento e vulneráveis, devem ser protegidas pela família, pelo 
Estado e pela sociedade, garantindo o desenvolvimento de sua personalidade e os 
direitos fundamentais essenciais. 
 
5.1.3 Princípio da dignidade da pessoa humana 
 
 
33
 LÔBO, Paulo Luiz Netto. Direito Civil: Famílias. 4ª ed. São Paulo: Saraiva, 2011. P. 75-76. 
33 
 
 A Constituição Federal em seu artigo 227 assegura o direito à vida, o 
respeito, mas principalmente busca assegurar a dignidade da pessoa humana. É um 
principio compreendido como macroprincípio que atinge à todos de forma indistinta e 
muito amplo. 
 A Dignidade da Pessoa Humana é o bem maior do ordenamento jurídico 
brasileiro, cujo principio está inserido na Constituição Federal como principio 
fundamental, no art. 1º inc. III, da CF. 
 É dever da família, do Estado e da sociedade, resguardar o menor de 
qualquer ofensa ou ato de atentatório contra sua dignidade. Desta forma, possuem 
obrigação solidária, ou seja, responsabilidade pelos danos causados ao menor, 
ainda que por omissão ou negligência, posto que o mesmo se encontra num estado 
incompleto de desenvolvimento. 
 Em suma, este princípio tem como finalidade que o menor seja tratado com 
o devido respeito por todos, em especial no seu âmbito familiar. 
 
5.1.4 Princípio da solidariedade familiar 
 
 O Principio da Solidariedade está fundamentado no preâmbulo da CF/88 ao 
declarar à constituição do Estado Democrático fundado nos princípios de uma 
sociedade fraterna. 
 Maria Berenice Dias esclarece que: 
 
 “tal princípio tem procedência nas relações afetivas em que ficam 
percebidas a fraternidade e a reciprocidade, sendo que nada mais é do que 
o dever que cada pessoa tem para com o próximo”.34 
 
 A solidariedade ocorre em âmbito familiar no plano material e imaterial. O 
primeiro diz respeito ao dever de prestar alimentos, de modo que no segundo a 
solidariedade se desenvolve no âmbito moral, ou seja, não abrange apenas o auxilio 
material aos membros da família, mas também o afeto e apoio moral, vivendo em 
ambiente recíproco de compreensão e cooperação. 
 Neste diapasão Paulo Luiz Netto Lôbo alude que: 
 
34
 DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 8.ed. São Paulo: Revista dos 
Tribunais,2011. p. 66 e 67. 
34 
 
 
“Assim, podemos afirmar que o princípio da solidariedade é o grande marco 
paradigmático que caracteriza a transformação do Estado liberal e 
individualista em Estado democrático e social, com suas vicissitudes e 
desafios, que o conturbado século XX nos legou. É a superação do 
individualismo jurídico pela função social dos direitos.”35 
 
5.1.5 Princípio da afetividade 
 
 Assim como os demais princípios, o da afetividade também está amparado 
na Constituição Federal nos seus arts. 226 §4º, 227, caput, §5º c/c o §6º, conformedispõe: 
“Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. 
(...) 
§ 4º - Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada 
por qualquer dos pais e seus descendentes”. 
 
“Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, 
ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à 
saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, 
à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, 
além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, 
exploração, violência, crueldade e opressão. 
(...) 
§ 5º - A adoção será assistida pelo Poder Público, na forma da lei, que 
estabelecerá casos e condições de sua efetivação por parte de 
estrangeiros. 
§ 6º - Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, 
terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações 
discriminatórias relativas à filiação” . 
 
 
 Embora não esteja explícito, ele trata da igualdade entre os filhos, 
independente de sua origem, da igualdade de direitos quando provenientes de 
adoção, entidade familiar formada por qualquer dos pais, e ainda, quando se garante 
ao menor o direito à convivência familiar, segundo nos ensina Paulo Lôbo36 
 O principio da efetividade está atrelado ao principio da dignidade da pessoa 
humana que compõe a base do direito de família. Assim, para Maria Berenice Dias: 
 
“o princípio da afetividade decorre das obrigações que o Estado impõe aos 
seus cidadãos, por isso, segundo a autora,a Constituição elenca um rol 
 
35
 LÔBO, Paulo Luiz Netto. Op cit., p.05 
36
 LÔBO, Paulo Luiz Netto. Op cit., p. 48/49 
35 
 
imenso de direitos individuais e sociais para garantir a dignidade de 
todos”.37 
 
 Ressalta-se ainda que de acordo com a Declaração Universal dos Direitos 
da Criança, é assegurado o direito ao amor e à compreensão, sendo ainda garantido 
o direito de crescer na companhia dos pais, num ambiente cujo afeto e segurança 
moral o integrem.38 
 A afetividade é essencial para o pleno desenvolvimento saudável das 
crianças e adolescentes promovendo à eles formação com caráter de qualidade. Isto 
posto, não havendo afetividade entre os integrantes de uma família, em especial nos 
menores, na qual se encontram em fase de desenvolvimento e construção da 
personalidade, poderá gerar danos irreparáveis, capazes de mexer com a estrutura 
do ser humano, frustrando toda proteção que o ordenamento jurídico propicia à 
relação familiar. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
37
 DIAS; Maria Berenice; BASTOS, Eliene Ferreira; MORAES, Naime Márcio Martins. Afeto e 
estruturas familiares. Ibdfam, 2010. P. 365. 
38
 DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS DAS CRIANÇAS. Disponível em: 
http://www.dhnet.org.br/direitos/sip/onu/c_a/lex41.htm. Acessado em 03 apr2015. 
36 
 
6 ARGUMENTOS FAVORÁVEIS E DESFAVORÁVEIS À LEI DA PALMADA Nº 
13.010/2014 
 
 A temática acerca da relação familiar no contexto de violência ou não 
violência depende de uma série de reflexões, estas as quais envolve inclusive 
ânimos de transformação social para uma perspectiva de futuro melhor para as 
nossas crianças e adolescentes de agora. 
 Indubitavelmente, tal conclusão faz com que toda a problemática se 
constitua de grande complexidade sobre os mais diversos aspectos, sentidos, 
interpretações e conclusões sobre tudo pode acontecer, e sobre todos os 
acontecimentos. A análise ocorre de acordo com inúmeros fatores intrínsecos que 
formam conceitos, definições e especialmente interpretações voltadas a partir de um 
momento histórico, de um momento cultural, econômico, social, em consonância 
com as pretensões sobre as quais se objetiva aproximar as leis da justiça. 
 Nesta esteira a incapacidade inerente e própria da sociedade na 
harmonização das opiniões e correntes se dá justamente por conta da liberdade 
individual e coletiva, expressadas de acordo com as circunstancias e momentos 
específicos de cada sociedade. Porém, evidentemente, todos os atores desta 
relevante transformação contínua na sociedade visam, de qualquer modo, neste 
contexto, a proteção, o bem estar e o desenvolvimento das nossas crianças e 
adolescentes. 
 Para Ricardo Monezi, pesquisador e professor do Instituto de Medicina 
Comportamental da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), a criança, desde 
pequena, tem percepções sociais. E afirma que tapas diários e agressões podem 
desencadear traumas na fase adulta. 
"Para ela não interessa se dói ou não. O espaço dela está sendo invadido. 
A questão da Lei da Palmada deve tirar de cena o uso da agressividade 
com fins educacionais, que faz parte da cultura do brasileiro. Você substitui 
o diálogo por uma agressão física. Os piores prejuízos são da esfera 
psicossocial. Uma dos fatores é a criança achar que deve usar a violência 
para tudo. Além disso, há aqueles que podem desenvolver fobias e 
depressão".39 
 
39
 MONEZI, Ricardo apud TIEPO, Priscila. Advogada explica e pais comentam a Lei da 
Palmada. Disponível em: http://mulher.uol.com.br/gravidez-e-
filhos/noticias/redacao/2014/06/17/advogada-explica-e-pais-comentam-a-lei-da-palmada-opine-
tambem.htm acessado em 31mar2015. 
37 
 
 
 Do ponto de vista psicológico Sanira Amaral Logrado, coach e especialista 
em psicologia sistêmica, complementou que é triste o País ter que aprovar leis para 
coibir a agressão dentro do lar, e comparou a nova norma à Lei Maria da Penha, que 
protege quem é mais fraco e não pode se defender. Acrescentou ainda: 
“Nesse sentido, o aspecto positivo dessa lei é que chama atenção para o 
fato de que a educação tem que ser diálogo, não violência. Os pais 
necessitam ter o exercício do diálogo e compreender que a violência não 
pode fazer parte da educação. A discussão provocada por essa medida é 
interessante para que a sociedade avalie a violência cometida contra a 
criança dentro de muitos lares de forma ‘educativa”40 
 
 Entretanto, Sanira reiterou que o aspecto negativo da Leia da Palmada é 
que ela intervém na intimidade da família e faz com que os pais fiquem na dúvida 
em como educar seus filhos. Com isso, acabam por pecar na permissividade. 
 
“É certo que a educação é um processo longo e exigente, para o qual não 
há receitas prontas, mas os pais devem educar, ou construir o seu modo de 
educar pautado em valores e princípios éticos. A força física apenas gera 
medo e o medo faz obedecer, mas não transmite princípios, nem impõe 
respeito. Educar é também dar exemplos e assim direcionar os filhos para 
um bom desenvolvimento emocional e para isso é imprescindível, os pais 
terem consciência do seu próprio funcionamento, ou seja, o que faz, para 
que faz e não só o porquê faz”41 
 
 No aspecto jurídico, Roberta Densa, advogada integrante da Comissão de 
Direitos Infanto-Juvenis da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de São Paulo 
aduz: 
“As palmadas não serão punidas, mas apenas aquelas agressões que 
possam causar dano físico às crianças. "Esse nome mais confunde do que 
esclarece. O estatuto já falava sobre agressão às crianças. Essa lei vem 
 
40 LOGRADO, Sanira apud RODRIGUES, Deivid. Profissionais opinam sobre a Lei da Palmada. 
Disponível em: http://www.atribunamt.com.br/2014/06/profissionais-opinam-sobre-lei-da-palmada/. 
Acessado em 30 mar2015 
41
 LOGRADO, Sanira apud RODRIGUES, Deivid. Op cit. 
 
38

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