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COMP. FLEX. CURRICULAR EM ECA Estatuto da Criança e do Adolescente – E.C.A Aula 1 – Direitos humanos da criança e do adolescente e Direito Internacional Infantojuvenil Apresentação O Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/1990) representa o marco da consolidação do Direito Infantojuvenil no Brasil, em um processo iniciado com a Constituição Federal. E o Direito Internacional teve um papel de destaque, principalmente por meio dos Tratados de Direitos Humanos que versam direitos relativos a crianças e adolescentes. Objetivos Identificar as diversas legislações internacionais, entre Declarações e Convenções que reconhecem a criança como objeto de proteção ou sujeito de direito, assim como todos os demais seres humanos; Compreender a atual posição da comunidade internacional sobre os direitos humanos de crianças e adolescentes. Direitos humanos de crianças e adolescentes Em face da condição de pessoas em desenvolvimento, ou seja, de seres que estão em processo de formação física e psicológica, crianças e adolescentes devem receber um tratamento diferenciado. Breve histórico evolutivo dos direitos das crianças e adolescentes: 1899-1905 No âmbito internacional, a primeira referência que se tem acerca da proteção dos direitos humanos da criança e do adolescente é a Juvenile Court Art de Illinois, criada em 1899, sendo considerada o primeiro Tribunal de Menores nos Estados Unidos, expandindo-se para a Europa somente a partir de 1905, quando grande parte dos Estados criaram Tribunais de Menores (SPOSATO, 2006). 1919 Em 1919, finda a Primeira Guerra Mundial, foi criado o Comitê de Proteção da Infância, pela liga das Nações, diante dos horrores vivenciados e da percepção de que a criança é um ser especial diante de sua vulnerabilidade, a qual, portanto, merece atenção e proteção especiais. A partir do século XX, houve uma adesão mais ampla da comunidade internacional em prol dos direitos humanos, o que acabou repercutindo nas declarações e convenções internacionais firmadas. 1924-1948 Posteriormente, em 1924, a Declaração de Genebra reconheceu a criança e o adolescente como seres detentores de proteção especial ao determinar que há a “necessidade de proporcionar à criança uma proteção especial”. Da mesma forma ocorreu na Declaração Universal dos Direitos Humanos das Nações Unidas, firmada em 1948, que também defendia o “direito e assistência especiais” à criança. 1959 Em 1959, a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas aprovou a Declaração dos Direitos da Criança, passando a reconhecê-la como sujeito detentor de direitos e não mais apenas como objeto de proteção. 1969 Por sua vez, a Convenção Americana sobre os Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica, 1969) elencou, no artigo 19, que “toda criança tem direito às medidas de proteção que sua condição de menor requer, por parte da família, da sociedade e do Estado”. Dessa forma, percebemos que o dever de proteger e resguardar a criança e o adolescente não é uma função apenas do Estado, mas também da família com quem eles convivem, bem como da própria sociedade que os integra. Mais recentemente, a comunidade mundial criou novas bases para a formulação de um ordenamento jurídico que possa ser adotado por todos os países, independentemente das condições socioeconômicas destes, cuja característica fundamental é “a nobreza e a dignidade do ser humano criança”. Tais estruturas normativas foram fruto do esforço conjunto de diversos estudiosos e comunidades empenhadas na defesa e promoção da criança e do adolescente, que participaram das Regras Mínimas das Nações Unidas para a Administração da Justiça da Infância e da Juventude. São elas: Regras de Beijing Resolução 40/33 da Assembleia Geral, de novembro de 1985. Diretrizes das Nações Unidas para a Prevenção da Delinquência Juvenil – Diretrizes de Riad Assembleia da ONU, de novembro de 1990. Regras Mínimas das Nações Unidas para a Proteção dos Jovens Privados de Liberdade Assembleia Geral da ONU, de novembro de 1990. A proteção integral garantida ao público infantojuvenil surge a partir da Convenção sobre o Direito da Criança, aprovada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em 20 de novembro de 1989, também conhecida como Convenção de Nova York. Esse momento foi tão importante que teve o maior número de ratificações e adesões mais rápidas da história, pois protege todas as crianças do planeta e não apenas grupos determinados. Nesse contexto, a comunidade internacional reconheceu que as crianças necessitam de atenção especial que as preserve das consequências danosas decorrentes de situações que podem colocá- las em risco. No tópico seguinte, serão abordados documentos internacionais relevantes, estabelecendo a relação direta entre eles e a defesa dos interesses de crianças e adolescentes. Declaração de Genebra – Carta da Liga sobre a criança A Declaração de Genebra, ou Carta da Liga sobre a Criança, de 1924, é considerada o primeiro documento voltado à proteção da criança de forma ampla e genérica, pois não se limita a apenas um enfoque na defesa dos direitos humanos da criança, mas engloba a proteção à infância de maneira integral. Ela incorporou os princípios dos direitos da criança, incentivando os Estados a criarem meios que efetivamente garantissem a proteção desse grupo especial. Acerca da Declaração de Genebra, descreve Eglantine (apud DOLINGER, 2003, p. 82) cinco princípios basilares do documento, os quais devem ser seguidos tendo em vista a necessidade de se resguardar a criança como sujeito de direito: 1 - A criança deve receber os meios necessários para seu desenvolvimento normal, tanto material, como espiritual. 2 - A criança que estiver com fome deve ser alimentada; a criança que estiver doente precisa ser ajudada; a criança atrasada precisa ser ajudada; a criança delinquente precisa ser recuperada; o órfão e o abandonado precisam ser protegidos e socorridos. 3 - A criança deverá ser a primeira a receber socorro em tempos de dificuldade. 4 - A criança precisa ter possibilidade de ganhar seu sustento e deve ser protegida de toda forma de exploração. 5 - A criança deverá ser educada com a consciência de que seus talentos devem ser dedicados ao serviço de seus semelhantes. Muito embora seja voltada para a garantia da proteção da criança e do adolescente, percebemos que a Declaração de Genebra foi um avanço para a época. No que diz respeito ao reconhecimento da vulnerabilidade da criança, a Declaração não as tratava como autênticos sujeitos de direitos e sim como objetos de proteção, como pode ser observado pelo emprego das palavras “a criança deve receber”, “deve ser alimentada”, “deve ser ajudada”, “deve ser educada”, diferentemente da Declaração de 1959, segundo a qual a criança tem direito a um nome, como veremos a seguir. Declaração dos Direitos da Criança Após a Segunda Guerra Mundial, diversos movimentos voltados a resguardar as crianças e adolescentes da devastação decorrente das guerras surgiram, a exemplo do Instituto Interamericano da Criança e da UNICEF (United Nations International Child Emergency Fund). Porém, foi em 1959 que se conseguiu mais abrangência aos direitos da infância, sendo firmada a Declaração Universal dos Direitos da Criança, a qual passa a tratar a criança como sujeito de direito e não mais como mero objeto de proteção. A Declaração, além de conceder uma nova percepção da criança, agora sujeito de direitos, ressalta também a necessidade da promoção do respeito aos direitos dela, sua sobrevivência, desenvolvimento e participação no combate à exploração e ao abuso. Princípios da Declaração dos Direitos da Criança A Declaração dos Direitos da Criança adotou dez princípios a serem seguidos pelos Estados e pela sociedade: a. A universalização dos direitos a todas as crianças, sem qualquer discriminação.b. As leis devem considerar a necessidade de atendimento do interesse superior da criança. c. O direito a um nome e a uma nacionalidade, devendo ser prestada assistência à gestante. d. A criança faz jus a todos os benefícios da previdência social, bem como de desfrutar alimentação, moradia, lazer e outros cuidados especiais. e. Aqueles que necessitarem devem receber cuidados especiais, bem como de receber amor e cuidado dos pais. f. A criança deverá crescer sob o amparo de seus pais, em ambiente de afeto e segurança, podendo a criança de tenra idade ser retirada de seus pais somente em casos excepcionais. g. O direito à educação escolar. h. A criança deve figurar entre os primeiros a receber proteção e auxílio; i. A criança faz jus à proteção contra o abandono e a exploração no trabalho; j. A criança deve crescer dentro de um espírito de solidariedade, compreensão, amizade e justiça entre os povos. Em consonância com os princípios que devem nortear a conduta política, social e econômica do Estado e da sociedade, a criança e o adolescente, independentemente da origem, raça, sexo, cor, classe social, deve ser percebida como sujeito de direito e como tal deve ser respeitada – o que acabou contribuindo para o surgimento, em 1966, do Pacto dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, o qual prevê, no artigo 10, que: 3. Medidas especiais de proteção e de assistência devem ser tomadas em benefício de todas as crianças e adolescentes, sem discriminação alguma derivada de razões de paternidade ou outras. Crianças e adolescentes devem ser protegidos contra a exploração econômica e social. O seu emprego em trabalhos de natureza a comprometer com sua moralidade ou a sua saúde, capazes de pôr em perigo a sua vida, ou de prejudicar o seu desenvolvimento normal deve ser sujeito à sanção da lei. Os Estados devem também fixar os limites de idade abaixo dos quais o emprego de mão de obra infantil será interdito e sujeito às sanções da lei (ONU, 2001 apud BASTOS, 2012, p. 47); Sobre o Pacto dos Direitos Civis e Políticos, o artigo 24 prevê que: 1. Qualquer criança, sem nenhuma discriminação de raça, cor, sexo, língua, religião, origem nacional ou social, propriedade ou nascimento, tem direito, da parte de sua família, da sociedade e do Estado, às medidas de proteção que exija a sua condição de menor. 2. Toda e qualquer criança deve ser registrada imediatamente após o nascimento e ter um nome. 3. Toda e qualquer criança tem o direito de adquirir uma nacionalidade (ONU, 2001 apud BASTOS, 2012, p. 48). Em decorrência da evolução do tratamento dispensado à criança e ao adolescente, em 1989, a Organização das Nações Unidas aprovou a Convenção das Nações Unidas sobre Direitos da Criança, “consagrando direitos relativos à infância que até então não eram considerados, e compreendendo as crianças e adolescentes como pessoas em processo de desenvolvimento” (BASTOS, 2012, p. 48). A Convenção foi norteada por quatro princípios basilares da proteção da criança e do adolescente, que são: a. o interesse superior da criança; b. a não discriminação; c. a sobrevivência e o desenvolvimento; e d. a participação das crianças na agenda política dos Estados. O principal destaque e diferencial da Convenção foram os direitos da personalidade, os quais, até aquele momento, não haviam sido tratados nas demais Convenções e Declarações. Nesse sentido, Stancioli (1999, apud BASTOS, 2012, p. 49) elucida que: Historicamente, as duas declarações internacionais, dedicadas aos direitos da criança (de 1924, promulgada pela Liga das Nações, e de 1959, promulgada pelas Nações Unidas), adotaram um paradigma bem diverso deste da Convenção de 1989. Naquelas, as preocupações básicas eram o cuidado e a proteção das crianças. A atual, por outro lado, vai além, buscando “a noção de direitos da personalidade do menor, fundado na autonomia, [em consonância com] um conceito que inclui direitos civis similares aos dos ‘adultos’, como liberdades de expressão, religião, associação, assembleia e direito à privacidade. Avançando na legislação protetora da criança e do adolescente, tem-se a criação das Regras Mínimas das Nações Unidas para a Administração da Infância e da Juventude, também conhecidas por Regras de Beijing ou Regras de Pequim. Atividade 1. Observando a imagem a seguir, discorra sobre a violação dos Direitos Humanos da Criança e do Adolescente e a importância da proteção integral. Crianças e adolescentes são titulares de direitos humanos como qualquer pessoa. Em condição de pessoa em desenvolvimento, ou seja, a criança e o adolescente estão em processo de formação física e psicológica, devem receber um tratamento diferenciado, pois são detentores de proteção especial. Regras de Pequim ou Regras de Beijing, Diretrizes de RIAD e Regras de Tóquio As Regras de Beijing, as Regras de Riad e as Regras de Tóquio, ao contrário das demais Convenções, voltam-se à criminalidade juvenil, como veremos a seguir. Regras de Beijing As Regras de Beijing, firmadas em 1985, por meio da Resolução nº 43/33 da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), são também conhecidas como Regras Mínimas das Nações Unidas para a Administração da Justiça, da Infância e da Juventude. Elas têm como base fundamental a prevenção do crime e do tratamento do jovem infrator. O documento faz referência rigorosa às situações de julgamento de crianças e adolescentes que sejam autores de ilícitos penais, norteando direitos, tais como um julgamento justo e imparcial, conduzido por um Juízo especializado. Diretrizes de Riad Em 1990, foram publicadas as Diretrizes de Riad, também conhecidas como Diretrizes das Nações Unidas para a Prevenção da Delinquência Juvenil, as quais foram aprovadas por meio da Resolução nº 45/112. As Diretrizes de Riad abordam a necessidade da adoção de políticas públicas progressivas de prevenção à delinquência juvenil, voltadas ao controle social, e ressaltando a relevância da família, a exemplo das diretrizes 12 e 33, descritas a seguir: Diretriz 12: Dado que a família é a unidade central responsável pela socialização primária da criança, devem ser feitos esforços pelos poderes públicos e organismos sociais para preservar a integridade da família, inclusive da família alargada. A sociedade tem a responsabilidade de ajudar a família a fornecer cuidados e proteção às crianças e a assegurar o seu bem estar físico e mental. Devem assegurar-se creches e infantários em número suficientes. Diretriz 33: As comunidades devem adotar, ou reforçar, onde já existam, uma larga gama de medidas de apoio comunitário aos jovens, incluindo o estabelecimento de centros de desenvolvimento comunitário, instalações e serviços recreativos para responderem aos problemas especiais das crianças que se encontram em risco social. Ao promover estas medidas de auxílio, devem assegurar o respeito pelos direitos individuais (SHECAIRA, 2008 apud BASTOS, 2012, p. 52). Regras de Tóquio No ano de 1990 também foram criadas as Regras de Tóquio, por meio da Resolução 45/113, conhecida como Regras Mínimas das Nações Unidas para Elaboração de Medidas não Privativas de Liberdade, as quais traçam princípios basilares voltados à promoção do uso de medidas de liberdade, bem como garantias mínimas para os jovens submetidos às penas substitutivas e ao aprisionamento, de modo a se evitar a violação dos direitos deles e, por conseguinte, assegurar-lhes a efetividade dos direitos humanos. As Regras de Tóquio ressaltam ainda a importância da participação da coletividade como forma de readaptação do infrator ao estabelecerem que: 17.1. A participação da coletividade deve ser encorajada, pois constitui um recurso primário e um dos fatores mais importantes para reforçar laços entre os infratores submetidos a medidas não privativas de liberdade e suas famílias e comunidades.Esta participação deve complementar os esforços da administração da Justiça Criminal (BRASIL, 2009, p. 121). Como se pode perceber, as Regras de Beijing, as Diretrizes de Riad e as Regras de Tóquio compõem a Doutrina das Nações Unidas para a Proteção Integral à Infância, pois estas Regras constituíram os primeiros pilares do Sistema de Justiça da Infância e da Juventude pautado na especialidade e na garantia de direitos. Ainda falando em proteção dos direitos humanos das crianças, deve-se mencionar a Convenção sobre os Direitos da Criança da Organização das Nações Unidas (ONU), de 1989, abordada no tópico seguinte. Atividade 2. No plano internacional, as Regras Mínimas para a Administração da Justiça, da Infância e da Juventude referem-se a qual instrumento jurídico? a) Regras de Riad. b) Regras de Beijing. c) Convenção Internacional Sobre os Direitos da Criança de 1989. d) Declaração Universal dos Direitos da Criança de 1959. e) Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948. Resposta correta: letra b. As Regras Mínimas das Nações Unidas para a Administração da Justiça, da Infância e da Juventude, também conhecidas por Regras de Beijing ou Regras de Pequim, são recomendações que foram apresentadas no 7º Congresso das Nações Unidas, sobre a prevenção e tratamento de jovens infratores, realizado em Milão, Itália, em 1985, e adotadas pela Assembleia Geral no mesmo ano. Convenção sobre os direitos da criança de 1989 Adotado pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 1989, e vigente desde 1990, este tratado internacional de proteção dos direitos humanos possui apenas 54 artigos e se destaca dos anteriores pelo fato de ter sido ratificado por todos os países-membros, com exceção dos Estados Unidos, da Somália e do Sudão do Sul. Os direitos previstos na Convenção sobre os Direitos as Criança incluem: 1 - Direito à vida e à proteção contra a pena capital. 2 - Direito a ter uma nacionalidade. 3 - Direito à proteção ante a separação dos pais. 4 - Direito de deixar qualquer país e de entrar em seu próprio país. 5 - Direito de entrar em qualquer Estado e sair dele, para fins de reunião familiar. 6 - Direito à proteção para não ser levada ilicitamente ao exterior. 7 - Direito à proteção de seus interesses no caso de adoção. 8 - Direito à liberdade de pensamento, consciência e religião. 9 - Direito de acesso a serviços de saúde, devendo o Estado reduzir a mortalidade infantil e abolir práticas tradicionais prejudiciais à saúde. 10 - Direito a um nível adequado de vida e segurança social. 11 - Direito à educação, devendo os Estados oferecer educação primária compulsória e gratuita. 12 - Direito à proteção contra a exploração econômica, com fixação de idade mínima para admissão em emprego. 13 - Direito à proteção contra o envolvimento na produção, tráfico e uso de drogas e substâncias psicotrópicas. 14 - Direito à proteção contra a exploração e o abuso sexual. Nos termos do Art. 1 dessa Convenção, a criança é definida como: "Todo ser humano com menos de dezoito anos de idade, a não ser que, em conformidade com a lei aplicável, a maioridade seja alcançada antes." - Convenção sobre os direitos da criança. Esse importante tratado recepciona, portanto, a concepção do desenvolvimento integral da criança, reconhecendo assim sua absoluta prioridade e necessidade de proteção integral. A Convenção sobre os Direitos da Criança foi promulgada no Brasil pelo Decreto nº 99.710, de 21 de novembro de 1990, ou seja, depois da vigência do Estatuto da Criança e do Adolescente. Complementando e fortalecendo o rol de medidas protetivas à criança e ao adolescente, as Nações Unidas adotou dois Protocolos Facultativos à Convenção sobre os Direitos da Criança, por meio da Resolução A/RES/54/263 da Assembleia Geral: o Protocolo Facultativo sobre Venda de Crianças, Prostituição Infantil e Pornografia Infantil, passando a vigorar em 18.01.2002, sendo aprovado pelo Congresso Nacional Brasileiro, por meio do Decreto Legislativo nº 230/2003, e promulgado pelo Decreto nº 5.007/2004; e o Protocolo Facultativo sobre o Envolvimento de Crianças em Conflitos Armados, o qual passou a vigorar em 12.02.2002. Sistema de controle do cumprimento dos direitos humanos de crianças Em 2011, a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) criou o texto do Terceiro Protocolo à Convenção sobre os Direitos da Criança, de 1989, cuja cerimônia oficial ocorreu em Genebra, em 28 de fevereiro de 2012, durante o período de sessões da ONU. Vinte países assinaram o Protocolo no mesmo dia da cerimônia oficial de abertura, inclusive o Brasil. Em 2014, o documento iniciou sua vigência, após completar o número necessário de ratificações. A Convenção assegura às crianças e seus representantes a possibilidade de recorrerem ao Comitê de Direitos das Crianças da Organização das Nações Unidas (ONU), por meio de petições individuais, sempre que não tiverem seus direitos garantidos pelas justiças de seus países, ou seja, sempre que, após a provocação das jurisdições domésticas, esgotarem-se todas as instâncias internas sem que qualquer resultado prático e positivo tenha ocorrido. Convém destacar que na apreciação das petições, o Comitê deverá seguir sempre o princípio do superior interesse da criança e garantir, salvo autorização expressa dos interessados, o sigilo das identidades das pessoas envolvidas nas comunicações. Porém, é importante ressaltar que não é suficiente o surgimento de regras e diretrizes voltadas à proteção da criança, se estas não forem efetivamente aplicadas e efetivadas, sendo necessário um conjunto articulado de ações por parte da comunidade internacional, da família e do Estado para garantir que crianças e adolescentes sejam efetivamente sujeitos de direitos e tenham seus direitos assegurados. Dessa forma, pode-se afirmar que o sistema de controle do cumprimento dos direitos humanos de crianças assume a finalidade de promover ações públicas que concedam a prioridade do atendimento, na promoção e controle dos direitos da criança e adolescente. Na promoção dos direitos é necessário um verdadeiro engajamento de todos os órgãos públicos, bem como da própria comunidade, pois é obrigação de todos a promoção e a efetivação dos direitos infantojuvenis, o que se dá por meio da elaboração e implementação de políticas públicas de atendimento – função fundamental do Conselho de Direitos da Criança e do Adolescente. No Brasil, o Sistema de Garantia de Direito é distribuído em três eixos fundamentais: o eixo de promoção de direitos; o eixo de defesa; e o eixo de controle social, sendo composto, por exemplo, dos Conselhos Nacional, Estaduais e Municipais dos Direitos da Criança e do Adolescente; e, no Campo da Defesa dos Direitos, pelo Poder Judiciário, pelo Ministério Público, pela Defensoria Pública, pelos Centros de Defesa (CEDECAS), pela Segurança Pública e pelos Conselhos Tutelares. Eixo de Promoção de Direitos: se dá por meio do desenvolvimento da política de atendimento dos direitos de crianças e adolescentes, integrante da política de promoção dos direitos humanos. Essa política deve-se dar de modo transversal, articulando todas as políticas públicas. Nele estão os serviços e programas de políticas públicas de atendimento dos direitos humanos de crianças e adolescentes, de execução de medidas de proteção de direitos e de execução de medidas sócioeducativas. Os principais atores responsáveis pela promoção desses direitos são as instâncias governamentais e da sociedade civil que se dedicam ao atendimento direto de direitos, prestando serviços públicos e/ou de relevância pública, como ministérios do governo federal, secretarias estaduais ou municipais, fundações, ONGs, etc. Exemplo: Conselhos de Direitos, incluídos toda área da assistência social, educação e saúde. Eixo de Defesa: tem a atribuição de fazer cessar as violaçõesde direitos e responsabilizar o autor da violência. Tem entre os principais atores, os Conselhos Tutelares, Ministério Público Estadual e Federal (centros de apoio operacionais, promotorias especializadas), Judiciário (Juizado da Infância e Juventude, Varas criminais especializadas, comissões judiciais de adoções) Defensoria Pública do Estado e da União, e órgãos da Segurança Pública, como Polícia civil, militar, federal e rodoviária, guarda municipal, ouvidorias, corregedorias e Centros de defesa de direitos, etc. Eixo de Controle Social: é responsável pelo acompanhamento, avaliação e monitoramento das ações de promoção e defesa dos direitos humanos de crianças e adolescentes, bem como, dos demais eixos do sistema de garantia dos direitos. O controle se dá primordialmente pela sociedade civil organizada e por meio de instâncias públicas colegiadas, a exemplo dos conselhos (CALS, 2007, p. 13). Atividade 3. Na Convenção acerca dos Direitos da Criança da Organização das Nações Unidas, criança é todo o ser humano: a) Imaturo do ponto de vista biológico e dependente econômica, social e emocionalmente. b) Apresenta desenvolvimento físico, psíquico e sexual incompatível com os caracteres da idade adulta. c) Menor de dezoito anos de idade, salvo se, nos termos da lei que lhe for aplicável, atingir a maioridade mais cedo. d) Relativamente incapaz de cuidar de si e zelar, autonomamente, por seu próprio bem-estar e desenvolvimento. e) Incapaz de responder civil e penalmente pelos atos da vida adulta. Resposta correta: letra c. Segundo a Convenção dos Direitos da Criança, de 1989, a criança é definida como “todo ser humano com menos de dezoito anos de idade, a não ser que, em conformidade com a lei aplicável, a maioridade seja alcançada antes”. 4. Assinale V (para verdadeiro) ou F (para falso) nas seguintes alternativas: a) As crianças e os adolescentes não são titulares de direitos humanos como qualquer pessoa. Verdadeiro Falso b) A criança faz jus a todos os benefícios da previdência social, bem como de desfrutar alimentação, moradia, lazer e outros cuidados especiais. Verdadeiro Falso c) A criança deve crescer em meio a um espírito de solidariedade, compreensão, amizade e justiça entre os povos. Verdadeiro Falso d) Toda criança tem direito às medidas de proteção que sua condição de menor requer, por parte da família, da sociedade e do Estado. Verdadeiro Falso e) A criança deve receber os meios necessários para seu desenvolvimento normal, tanto material, como espiritual. Verdadeiro Falso F, V, V, V, V. Segundo as novas diretrizes da legislação, a criança e o adolescente não são percebidos como meros objetos de direito, mas como verdadeiros sujeitos de direitos devendo, portanto, ser protegidos. As demais assertivas são todas verdadeiras. 5. Associe as colunas, utilizando a numeração correspondente. Declaração de Genebra 1 Declaração dos Direitos da Criança de 1959 2 Convenção sobre os Direitos da Criança de 1989 3 a) Passa a tratar a criança como sujeito de direitos e não mais como objeto de proteção. 1 2 3 b) Também conhecida como Convenção de Nova York. 1 2 3 c) Carta da Liga sobre a Criança. 1 2 3 a) 2 – Em 1959, a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas aprovou a Declaração dos Direitos da Criança, passando a reconhecer a criança como sujeito detentor de direitos e não mais apenas como objeto de proteção. b) 3 – A proteção integral garantida ao público infantojuvenil surge a partir da Convenção sobre o Direito da Criança, aprovada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em 20 de novembro de 1989, também conhecida como Convenção de Nova York. c) 1 – A Declaração de Genebra, ou também Carta da Liga sobre a Criança, é considerada o primeiro documento voltado à proteção da criança de forma ampla e genérica, pois não se limita a apenas um enfoque na defesa dos direitos humanos da criança. Ela engloba a proteção à infância de maneira integral, tendo incorporado os princípios dos direitos da criança, incentivando os Estados a criarem meios que efetivamente garantissem a proteção desse grupo especial. Aula 2 – Estatuto da Criança e do Adolescente: disposições preliminares Apresentação Utilização inicial do termo menor, a partir do primeiro Código de Menores, bem como a evolução dessa designação até ser empregada no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Criança e adolescente são sujeitos de direitos fundamentais. E é fundamental ressaltar a importância do critério de interpretação do ECA. Objetivos Descrever a evolução do tratamento jurídico conferido à criança e ao adolescente; Explicar a doutrina da proteção integral; Esclarecer a utilização da designação “menor”, a definição de criança e adolescente e o critério de interpretação do ECA. Disposições preliminares Ao longo da história jurídica, nem sempre as crianças e os adolescentes receberam um tratamento diferenciado por serem pessoas em pleno desenvolvimento. No Brasil, já houve um tempo em que a condição de seres em processo de formação física e psicológica não conferia a crianças e adolescentes a titularidade de direitos humanos, diferentemente do que acontece hoje. Como se deu, portanto, a evolução do tratamento jurídico conferido à criança e ao adolescente? Como ambos se tornaram sujeitos de direitos fundamentais? Evolução do tratamento jurídico conferido à criança e ao adolescente como sujeitos de direitos fundamentais A criança nem sempre foi vista e respeitada, no Brasil, como um ser detentor de direitos especiais e específicos, pela condição de pessoa em desenvolvimento. Ela era vista, podemos dizer, como um mini-adulto, sem proteção especial. Na sociedade contemporânea, as crianças ganharam mais espaço. A evolução do tratamento da criança e do adolescente, pelo mundo jurídico, pode ser resumida em quatro fases, como bem ressalta Garrido de Paula: “Fase da absoluta indiferença, em que não existiam normas relacionadas a essas pessoas;” “Fase da mera imputação criminal, em que as leis tinham o único propósito de coibir a prática de ilícitos por aquelas pessoas (Ordenações Afonsinas e Filipinas, Código Criminal do Império de 1830, Código Penal de 1890);” “Fase tutelar, conferindo-se ao mundo adulto poderes para promover a integração sócio familiar da criança, com tutela reflexa de seus interesses pessoais (Código Mello Mattos, de 1927 e Código de Menores, de 1979);” “Fase da proteção integral, em que as leis reconhecem direitos e garantias às crianças, considerando-as como uma pessoa em desenvolvimento (Estatuto da Criança e do Adolescente - Lei nº 8.069/1990).” (GARRIDO DE PAULA, 2002, p. 26) No cenário nacional foi longa a jornada em busca de uma proteção integral à criança. No Brasil colonial não havia qualquer proteção especial para a criança, a qual não era percebida como sujeito de direito. Nesse sentido, assevera Alberton (2005, p. 25) que: “as crianças, eram chamadas de ‘grumetes’, tinham expectativa de vida muito baixa, até por volta dos 14 anos; (...) as crianças eram consideradas um pouco mais do que animais, e por isso usavam sua força de trabalho que acreditavam ser necessário.” Em 1927, no Brasil, foi publicado o primeiro Código de Menores sendo direcionado às crianças expostas e às crianças abandonadas. O documento tratava não apenas da culpabilidade e da responsabilidade, mas também declarava como menor aquelas crianças e adolescentes identificadas como sujeitos em situação de vulnerabilidade e infração. Essa designação estava em consonância com o desenvolvimento intelectual, identificando que menores seriam aqueles com idade inferior a 18 anos. Na época, a responsabilidade sobre os menores ainda era inerente ao Estado, competindo a este estabelecer medidas repressivas e formas de se evitar a delinquência. Outro destaque inerente ao Código de Menores é que a puniçãoperdeu a natureza punitiva passando a ser percebida como de natureza pedagógica, havendo a mudança da sanção-castigo para sanção-educação. Pela primeira vez se identificava o caráter assistencial voltado às crianças e aos adolescentes brasileiros; porém, a doutrina adotada ainda era a doutrina da Situação Irregular, resultado do Código Civil de 1916, conhecido como normatização voltada aos direitos dos maiores, de modo que as crianças e adolescentes não eram, portanto, percebidos como sujeitos de direitos. Posteriormente, a Constituição de 1934 trouxe em seu texto questões pertinentes à criança e ao adolescente impedindo, por exemplo, o trabalho noturno realizado por menores de 16 anos de idade. A Constituição de 1937 trouxe em seu texto uma amplitude acerca da proteção da criança referindo que a infância e a juventude são objetos de cuidado e garantias especiais por parte do Estado e dos municípios, devendo ser garantido a elas o acesso ao ensino público e gratuito. “Art. 127. A infância e a juventude devem ser objeto de cuidados e garantias especiais por parte do Estado que tomara todas as medidas destinadas a assegurar-lhes condições físicas e morais de vida sã e de harmonioso desenvolvimento das suas faculdades. O abandono moral e intelectual ou físico da infância e da juventude importará falta grave dos responsáveis por sua guarda e educação, e cria ao Estado o dever de provê-las do conforto e dos cuidados indispensáveis à preservação física e moral. Aos pais miseráveis assiste o direito de invocar o auxílio e proteção do Estado para a subsistência e educação da sua prole.” (BRASIL, 1937) Em 1979 Foi publicado o novo Código de Menores (Lei nº 6.697/79), substituindo o código anterior, mas mantendo a natureza repressiva e assistencialista, fazendo menção ao menor em situação irregular, ou seja, os menores de 18 anos de idade que tivessem cometido alguma conduta infracional, ou que tivessem sofrido maus-tratos, ou que estivessem abandonados. Ao Juiz de Menores era concedido o poder de decidir o destino das crianças, permitindo tratamentos discricionários e julgamentos baseados na situação irregular. Na década de 1980 que se deu mais ênfase à preocupação com a proteção de crianças e adolescentes. O texto constitucional de 1988 trouxe uma gama de garantias dos direitos desse grupo especial, atribuindo não apenas ao Estado, mas também à família e à sociedade a responsabilidade de assegurar a efetividade de tais direitos. Foi com a Constituição de 1988 que se adotou a proteção integral da criança, “a população infanto-juvenil deixa de ser tutoria/discriminatória para tornar-se sujeito de direitos” (BRUÑOL, 2001, p. 39). “Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.” (BRASIL, 1988) A mudança ocorrida no tratamento da criança e do adolescente a partir da Constituição de 1988, adotando a teoria da proteção integral, possibilitou o surgimento de um tratamento jurídico específico para esse grupo especial: o ECA, Lei nº 8.069/1990, pautado no disposto no inciso XV, do art. 24, da Constituição Federal de 1988, e inspirado nas normas internacionais de direitos humanos, tais como a Declaração Universal de Direitos Humanos, a Declaração Universal dos Direitos da Criança e a Convenção sobre os Direitos da Criança. O ECA surge com uma nova proposta de proteção e efetividade dos direitos das crianças e dos adolescentes impondo mudanças nas políticas públicas voltadas ao tratamento destes, percebidos, então, como sujeitos de direitos. Doutrina da Proteção Integral da criança e do adolescente O ECA tem por objetivo a proteção integral, de modo que cada cidadão brasileiro que nasce tenha assegurado seu pleno desenvolvimento, desde as exigências físicas até o aprimoramento moral e espiritual. Nesse contexto moderno, com visão mais humana e amparada por um conjunto de princípios e regras que regem diversos aspectos da vida, desde o nascimento até a maioridade, a Lei nº 8.069/1990, estabelece a necessidade de proteção integral registrando em seu artigo 1º que “Esta Lei dispõe sobre a proteção integral à criança e ao adolescente”; abandonando, por conseguinte, a Doutrina da Situação Irregular para adotar a Doutrina da Proteção Integral. Por proteção integral, entende-se o conjunto amplo de mecanismos jurídicos voltados à tutela da criança e do adolescente, tendo ligação com o princípio do melhor interesse infanto-juvenil, considerando que a criança e o adolescente são sujeitos de direitos em relação à família, ao Estado e à sociedade. A Doutrina da Proteção Integral pondera, ainda, que a criança e o adolescente são pessoas que estão em desenvolvimento físico, o que lhes torna especiais frente aos adultos no sentido de necessitarem de estruturações especiais e diversas para atendê-los. O ECA deve ser interpretado e aplicado com foco nos fins sociais a que se destina, uma vez que, na verdade, em situação irregular estão as famílias, que carecem de infraestrutura e que abandonam as crianças. Os pais descumprem os deveres do poder familiar; o Estado não cumpre as políticas sociais básicas. Dessa forma, o ECA está voltado para o desenvolvimento da população infanto-juvenil do país, garantindo proteção especial a este segmento considerado como pessoas em desenvolvimento, não tendo a percepção apenas repressora e punitiva característica do Código de Menores – este, nitidamente de natureza judicial –, mas sim uma percepção pedagógica norteada de medidas socioeducativas e protetivas, buscando sempre a ressocialização da criança e do adolescente. Afirmando que apenas por meio da educação, do tratamento e da prevenção é que se terá uma redução da delinquência juvenil, diversos órgãos foram criados com a intenção de implementar o ECA e efetivar os direitos das crianças e adolescentes, como os Conselhos de Direitos, os Conselhos Tutelares, os Fundos da Criança, bem como a ação civil pública para a responsabilização de autoridades que, por ação ou omissão, descumprirem o estatuto. Atenção! É relevante ressaltar, por fim, que o ECA rompe com a barreira da situação irregular resguardada no Código de Menores, pois os direitos assegurados não estão direcionados apenas àqueles que se encontram em situação irregular, mas sim a toda e qualquer criança, todo e qualquer adolescente, independentemente da situação em que se encontre, pois todos são sujeitos de direitos. Menor, criança e adolescente Na concepção técnica jurídica, a expressão “menor” designa aquela pessoa que não atingiu ainda a maioridade, ou seja, os 18 anos de idade, não lhe sendo atribuída a imputabilidade penal, nos termos do art. 104 do ECA e do art. 27 do Código Penal. Por outro lado, a palavra menor utilizada pelo Código de Menores, era sinônimo de pessoa carente, abandonada, delinquente, infratora, pivete, ou seja, a pessoa estigmatizada como sendo um indivíduo em situação irregular. Isso estava em conformidade com a doutrina da época, a Doutrina da Situação Irregular, a qual acabou por provocar o preconceito e a marginalização, gerando até mesmo traumas nos sujeitos. Voltado para a proteção integral dos infantes e dos jovens respeitando as peculiaridades de seu desenvolvimento e condições de amadurecimento, o legislador considerou ser mais adequado substituir o termo menor cuja conotação era pejorativa para a criança e o adolescente. O ECA tem como objetivo distinguir o atendimento socioeducativo, pela definição dos conceitos de criança e adolescente, fundadono aspecto da idade, não levando em consideração sua condição social ou econômica, ponderando apenas o processo de desenvolvimento físico e intelectual em que estão tais indivíduos. Dessa forma, conforme previsto no artigo 2º, criança é toda pessoa até doze anos de idade incompletos. Já adolescente é aquele que estiver entre os doze e os dezoito anos de idade. A distinção entre criança e adolescente tem importância em diversos aspectos, entre eles na aplicação de medidas socioeducativas quando da prática de um ato infracional, pois, para a criança, não será aplicada qualquer medida socioeducativa, mas de proteção. As medidas socioeducativas serão aplicadas somente aos adolescentes, conforme previsto pelo artigo 105 do ECA. Exemplo! Outro exemplo que ressalta a importância da distinção entre crianças e adolescentes é a Lei nº 13.257/2016 que dispõe políticas públicas e estabelece princípios e diretrizes para a formulação e a implementação de políticas públicas para a primeira infância, ou seja, os primeiros 06 anos de vida. É relevante ressaltar que o ECA, no artigo 2º, em seu parágrafo único, permite que o atendimento aos adolescentes ultrapasse o limite dos 18 anos de idade em situações excepcionais. Isso ocorre em face da hipótese da maioridade civil, pois, à época da entrada em vigor do estatuto, estava vigente o antigo Código Civil, a Lei nº 3.071/1916. Com a chegada do novo Código Civil em 2002, a Lei nº 10.406/2002, foi alterada a maioridade civil, sendo esta reduzida para 18 anos de idade (CC, art. 5º, caput). É possível, dessa forma, o atendimento aos adolescentes que tenham mais de 18 anos de idade, por exemplo, a possibilidade de adoção de maior de 18 anos, nas hipóteses em que o adotando já se encontre sob os cuidados e a guarda dos adotantes, conforme previsto no artigo 40 do ECA, ou quando, por exemplo, é autorizada a aplicação e o cumprimento de medida socioeducativa de internação até os 21 anos de idade, conforme previsto no artigo 121, parágrafo 5º do mesmo estatuto. Atenção! É importante destacar a Lei nº 13.431/2017, que estabeleceu o sistema de garantia de direitos da criança e do adolescente vítima ou testemunha de violência. Ela cria mecanismos para prevenir e coibir a violência e dispõe sobre a hipótese de aplicação excepcional de seus preceitos para as pessoas entre 18 e 21 anos: “Art. 3. Na aplicação e interpretação desta lei serão considerados os fins sociais a que ela se destina e, especialmente, as condições peculiares da criança e do adolescente como pessoas em desenvolvimento, às quais o Estado, a família e a sociedade devem assegurar a fruição dos direitos fundamentais com absoluta prioridade.” “Parágrafo único. A aplicação desta lei é facultativa para as vítimas e testemunhas de violência entre 18 (dezoito) e 21 (vinte e um) anos, conforme disposto no parágrafo único do art. 2º da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente).” (BRASIL, 2017) Sendo assim, o jovem terá um tratamento diferenciado, como escuta e depoimento especiais, visando oferecer a ele um sistema que lhe proteja os direitos de maneira mais eficaz, mesmo que a apuração da violência ocorra depois de a vítima ou testemunha ter atingido a maioridade. Criança e adolescente como sujeitos de direitos fundamentais Os direitos fundamentais da criança e do adolescente estão previstos no ECA, a partir do artigo 7º, os quais, pela leitura do Livro, depreendemos que são os mesmos direitos de qualquer pessoa humana. No entanto, por se tratarem de pessoas em desenvolvimento, deverão ter oportunidades que potencializem o seu estado físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade. Conforme o disposto no artigo 3º do ECA, incluído pela Lei nº 13.257/2016: “Art. 3º. A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se- lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade.” “Parágrafo único. Os direitos enunciados nesta Lei aplicam-se a todas as crianças e adolescentes, sem discriminação de nascimento, situação familiar, idade, sexo, raça, etnia ou cor, religião ou crença, deficiência, condição pessoal de desenvolvimento e aprendizagem, condição econômica, ambiente social, região e local de moradia ou outra condição que diferencie as pessoas, as famílias ou a comunidade em que vivem.” (BRASIL, 2016) Em consonância com o previsto no artigo descrito, podemos estabelecer três princípios básicos que norteiam a proteção dos direitos fundamentais da criança e do adolescente, resguardando a situação de sujeitos de direito deles. São eles: A - A criança e os adolescentes gozam de todos os direitos fundamentais assegurados a toda pessoa humana; B - Possuem direito à proteção integral; C - A eles são garantidos todos os instrumentos necessários para assegurar seu desenvolvimento físico, mental, moral e espiritual, em condições de liberdade e dignidade. Adotando a Doutrina de Proteção Integral, que atribui a função de resguardar a criança e o adolescente não apenas ao Estado mas também à família e à própria sociedade, e seguindo a orientação do texto constitucional (art. 227, CF/1988), o ECA mantém tal diretriz de forma expressa estabelecendo que, primeiramente, a família e, supletivamente, o Estado e a sociedade têm o dever de assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos fundamentais. Deixa claro que não é suficiente que um órgão ou entidade se encarregue de tal função; é necessário que haja um esforço conjunto, uma atuação articulada entre família, Estado e sociedade: “Art. 4º. É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende: a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias; b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública; c) preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas; d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude.” (BRASIL, 1990) Atenção! É importante ressaltar que o ECA destaca, em primeiro lugar, a participação da família como forma de resguardar a criança e o adolescente, pois se entende que antes de qualquer outro órgão, a família é responsável por todo o trabalho desenvolvido em benefício das crianças e dos adolescentes, pela proteção e segurança destes. No artigo 19 do ECA é enfatizado novamente o convívio não apenas com a família, mas com a comunidade, agora como direito; registrando expressamente que “Toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e educado no seio da sua família e excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária, em ambiente que garanta seu desenvolvimento integral”. Nota-se, por conseguinte, a preocupação não apenas com relação ao jovem infrator, como ocorria nos códigos anteriores (Código de Menores), mas efetivamente com o ser humano criança e com o ser humano adolescente. Digiácomo e Digiácomo referem-se à garantia de prioridade prevista no parágrafo único do artigo 4º, que deverá ser promovida e fiscalizada pelo Ministério Público, do seguinte modo: “[...] o princípio da prioridade absoluta à criança e ao adolescente deve nortear a atuação de todos, em especial do Poder Público, para defesa/promoção dos direitos asseguradosa crianças e adolescentes. A clareza do dispositivo em determinar que crianças e adolescentes não apenas recebam uma atenção e um tratamento prioritários por parte da família, sociedade e, acima de tudo, do Poder Público, mas que esta prioridade seja absoluta (ou seja, antes e acima de qualquer outra), somada à regra básica de hermenêutica, segundo a qual “a lei não contém palavras inúteis”, não dá margem para qualquer dúvida acerca da área que deve ser atendida em primeiríssimo lugar pelas políticas públicas e ações de governo. O dispositivo, portanto, estabelece um verdadeiro comando normativo dirigido em especial ao administrador público, que em suas metas e ações não tem alternativa outra além de priorizar – e de forma absoluta – a área infanto- juvenil, como vem sendo reconhecido de forma reiterada por nossos Tribunais (exemplos dessa jurisprudência se encontram compilados ao longo da presente obra).” (DIGIÁCOMO; DIGIÁCOMO, 2017) A destinação privilegiada dos recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude está assegurada no próprio ECA por meio dos artigos 59, 87, 88 e artigo 261, parágrafo único. Voltado à proteção da criança e do adolescente, o ECA estabelece ainda, em seu artigo 5º, que é dever de todos a função de velar por direitos das crianças e adolescentes, impedindo que sejam submetidos a negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão: “Art. 5º. Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais.” (BRASIL, 1990) Tal previsão não faz diferenciação diante da ação ou da omissão. Não é relevante de que forma a conduta ocorreu, de modo que, em ambas as situações, o indivíduo deverá ser punido, pois o objetivo primordial é resguardar os direitos fundamentais da criança e do adolescente afirmando o princípio da proteção integral destes, bem como o princípio da prioridade absoluta. Como já foi dito anteriormente, as crianças e os adolescentes possuem os mesmos direitos fundamentais que qualquer outra pessoa, ou seja, possuem direito à vida, à saúde, à educação, ao lazer, à liberdade, entre outros, ressalvado o fato de serem pessoas em desenvolvimento. Ciente de tal situação especial, o ECA registra, no artigo 15, um tópico destinado ao direito à liberdade e ao respeito, a saber: “A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como pessoas humanas em processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garantidos na Constituição e nas leis” (BRASIL, 1990). Como se observa, o ECA enfatiza novamente que se está tratando não de objetos de proteção, mas de sujeitos de direitos e, como tal, devem ser tratados e respeitados, ressaltando o princípio da dignidade humana previsto pela Declaração Universal dos Direitos do Homem e consagrado universalmente. Como bem ressalta o artigo transcrito anteriormente, à criança e ao adolescente são destinados não apenas os direitos humanos fundamentais, mas também os direitos civis e sociais, de tal forma que a violação de tais direitos repercutirá em sanções legais, para mera exemplificação. Vejamos a decisão acerca do abandono paterno: “INDENIZAÇÃO DANOS MORAIS. RELAÇÃO PATERNO-FILIAL. PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. PRINCÍPIO DA AFETIVIDADE. A dor sofrida pelo filho, em virtude do abandono paterno, que o privou do direito à convivência, ao amparo afetivo, moral e psíquico, deve ser indenizável, com fulcro no princípio da dignidade da pessoa humana.” (TA/MG. 7ª C. Civ. Ap. Civ. n° 408.550-5. Rel. Juiz Unias Silva. J. em 01/04/2004) A relação de paternidade não é apenas um direito do pai, mas da criança e do adolescente, devendo-lhes ser, portanto, assegurado. O descumprimento de tal direito importará a possibilidade de ação judicial e a respectiva indenização, ainda que não se tenha por interesse tornar patrimonial o sentimento, a relação entre pai e filho. O que se pretende em si é aplicar uma sanção ao descumprimento do direito inerente à criança e ao adolescente. Critério de interpretação do estatuto Quando se fala em Estatuto da Criança e do Adolescente, em hipótese alguma poderá a interpretação da norma ocorrer de modo a prejudicar a criança ou o adolescente – e não poderia ser diferente, uma vez que são os destinatários da Doutrina de Proteção Integral adotada pela legislação específica. O ECA, em seu artigo 6º, inspirado no artigo 5º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (BRASIL, 1942), estabelece que a lei deverá ser interpretada considerando-se “os fins sociais a que ela se dirige, as exigências do bem comum, os direitos e deveres individuais e coletivos, e a condição peculiar da criança e do adolescente como pessoas em desenvolvimento” (BRASIL, 1990). Nesse sentido, já se manifestou o Supremo Tribunal Federal: “ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE – INTERPRETAÇÃO. O Estatuto da Criança e do Adolescente há de ser interpretado dando-se ênfase ao objetivo visado, ou seja, a proteção e a integração do menor no convívio familiar e comunitário, preservando-se-lhe, tanto quanto possível, a liberdade. Estatuto da Criança e do Adolescente – segregação. O ato de segregação, projetando-se no tempo medida de internação do menor, surge excepcional, somente se fazendo alicerçado uma vez atendidos os requisitos do artigo 121 da Lei nº 8.069/90.” (STF. 1ª T. HC nº 88945/SP. Rel. Min. Marco Aurélio Melo. J. em 04/03/2008). Dessa forma, podemos afirmar que, ao interpretar o ECA, sempre será priorizado o fim social ligado à proteção integral da criança e do adolescente, sobrepondo-se a qualquer outro bem ou interesse judicialmente tutelado, levando em conta a destinação social da lei e a condição de pessoas em desenvolvimento. Saiba mais! Negligência deriva do latim negligentia e significa desatenção, desleixo. É um ato omissivo, por exemplo, a falta de cuidados pelo responsável legal. Discriminação é a segregação, a diferenciação, seja por motivos relacionados a etnia, religião, gênero, orientação sexual, nacionalidade etc., por exemplo, quando não se quer proximidade com criança ou adolescente em razão da cor deles. Exploração é a forma de extrair de modo irregular algum proveito da conduta da criança ou do adolescente, como ocorre, por exemplo, com os denominados “pais de rua”, os quais colocam os filhos para pedir esmolas nos semáforos. Violência, crueldade e opressão são condutas coercitivas contra o adolescente, causando-lhe dor e sofrimento. Cabe dano moral para criança de 3 anos? A Ministra Nancy Andrighi do Superior Tribunal de Justiça (STJ), no julgamento do Recurso Especial de nº 107.775-9, em 23 de fevereiro de 2010, citando o art. 3º do ECA, reconheceu que as crianças e os adolescentes possuem o mesmo direito que a pessoa humana adulta, e assim fixou uma indenização no valor de R$ 4.000,00 a uma criança de três anos em razão de deficiência na prestação do serviço médico e recusa na feitura do exame radiológico (Resp. 103.775-9, j. 23-2-2010). Atenção! Nas comunidades indígenas, não é comum a utilização da expressão adolescente. Em relação às crianças e adolescentes indígenas, o Conselho Nacional dos Direitos da Criança baixou, em 2003, a Resolução 91, regulamentando a aplicação do ECA para eles, devendo ser observadas as peculiaridades socioculturais das comunidades indígenas, em consonância com o art. 231 da CF (BRASIL, 1988). Ocorre que o índio, ao passar pela puberdade e pelo seu respectivo “ritual de passagem”, deixa de ser criança e é considerado um adulto. O ECA tem por objetivo a proteção integral, de modo que cada cidadão brasileiro que nasce tenha assegurado seu pleno desenvolvimento, desde as exigências físicasaté o aprimoramento moral e religioso. O ECA adota, por conseguinte, a teoria de Proteção Integral, definindo que a função de resguardar a criança e o adolescente não é apenas uma função do Estado, mas também da família e da própria sociedade. Seguindo a orientação constitucional, o estatuto mantém a mesma diretriz de forma expressa estabelecendo que, primeiramente, a família e, supletivamente, o Estado e a sociedade têm o dever de assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos fundamentais. Deixa claro que não é suficiente que um órgão ou entidade se encarregue de tal função, é necessário que haja um esforço conjunto, uma atuação articulada entre família, Estado e sociedade. Atividade 1. O artigo 4º da Lei Federal nº 8.069/90, ECA, estabelece que é dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária e, em seu parágrafo único, esclarece que a garantia de prioridade compreende, além de outras, a: a) Primazia na destinação de recursos voltados à proteção e ao socorro nas instituições públicas. b) Primazia na destinação de recursos para atendimento emergencial exclusivamente no sistema público de saúde. c) Primazia na formulação e na execução das políticas públicas voltadas ao esporte. d) Destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude. e) Destinação privilegiada de recursos materiais e financeiros voltados ao atendimento em instituições particulares especializadas. Resposta correta: letra d. O princípio da prioridade absoluta à criança e ao adolescente tem por base a atuação de todos (família, comunidade e Estado), para defesa e promoção dos direitos assegurados a crianças e adolescentes. 2. O ECA, em vigor no Brasil a partir da Lei nº 8.069, desde 1990, dispõe sobre a atenção integral à criança e ao adolescente. De acordo com tal estatuto, assinale a alternativa correta: a) É considerada adolescente a pessoa entre 14 e 18 anos. b) É considerada adolescente a pessoa a partir dos 15 anos de idade completos. c) É considerada criança a pessoa até 12 anos de idade incompletos. d) É considerada adolescente a pessoa a partir dos 13 anos. e) É considerada criança a pessoa até 12 anos completos. Resposta correta: letra c. O ECA tem como objetivo distinguir o atendimento socioeducativo, pela definição dos conceitos de criança e adolescente fundados no aspecto da idade, não levando em consideração a condição social ou econômica, ponderando apenas o processo de desenvolvimento físico e intelectual em que tanto a criança como o adolescente estejam. 3. Assinale V (Verdadeiro) ou F (Falso) para as assertivas a seguir: a) O ECA tem por objetivo a proteção integral, de modo que cada cidadão brasileiro que nasce tenha assegurado seu pleno desenvolvimento, desde as exigências físicas até o aprimoramento moral e espiritual. Verdadeiro Falso b) Devemos entender por proteção integral o conjunto amplo de mecanismos jurídicos voltados à tutela da criança e do adolescente, não tendo ligação com o princípio do melhor interesse infanto-juvenil. Verdadeiro Falso c) Criança é aquela pessoa com 12 anos incompletos; adolescente, dos 12 anos completos aos 18 anos incompletos. Verdadeiro Falso d) O ECA está voltado para o desenvolvimento da população infanto-juvenil do país, garantindo proteção especial a este segmento considerado composto por pessoas em desenvolvimento. Verdadeiro Falso Resposta correta: V, F, V, V. A terceira assertiva é falsa, pois fere a real intenção do ECA, uma vez que todos os mecanismos criados para a promoção e a proteção dos direitos da criança e do adolescente devem sempre estar em consonância com o melhor interesse de ambos. 4. Julgue certo ou errado o item subsecutivo acerca do ECA. “O poder público, a família, a sociedade e a comunidade devem garantir a efetivação dos direitos da criança e do adolescente”. Resposta correta: CERTO. É função não apenas do Estado resguardar, promover e proteger os direitos das crianças e dos adolescentes, mas também da família e da comunidade, conforme preceitua o Estatuto da Criança e do Adolescente. 5. Preencha corretamente as lacunas do texto a seguir. É dever da família, da , da sociedade em geral e do assegurar, com , a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. Comunidade; poder público; absoluta prioridade. Aula 3 – Dos direitos fundamentais da criança e do adolescente Apresentação Direitos fundamentais da criança e do adolescente, como o direito à vida e à saúde, o direito à liberdade, ao respeito e à dignidade, o direito à convivência familiar e à comunitária, o direito à educação, à cultura, ao esporte e ao lazer, o direito à profissionalização e à proteção no trabalho, compreendendo que tais indivíduos em formação são sujeitos de direitos básicos. A condição de pessoas em desenvolvimento desse grupo especial o torna detentor de oportunidades e faculdades que potencializam seu estado físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade. Objetivos Descrever os direitos fundamentais da criança e do adolescente; Reconhecer que a criança e o adolescente são sujeitos de direitos fundamentais; Demonstrar que a criança e o adolescente são detentores de oportunidades e faculdades que potencializam o estado físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade. Direitos e garantias fundamentais da criança e do adolescente As crianças e os adolescentes foram reconhecidos, pela Constituição Federal de 1988 e, posteriormente, pelo Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990, como sujeitos de direitos humanos fundamentais e, consequentemente, passaram a receber um tratamento jurídico diferenciado. Mas quais são os direitos devidos a esse grupo especial de seres em desenvolvimento? Eles são os mesmos direitos de qualquer pessoa humana, a começar pelo direito à vida, pois, sem ela, todos os outros direitos não fazem sentido. Dos direitos fundamentais Recepcionando a Doutrina da Proteção Integral, a Constituição da República Federativa do Brasil (CF), promulgada em 5 de outubro de 1988, passou a atribuir uma gama de garantias e direitos à criança e ao adolescente, corroborando a teoria de que são sujeitos de direitos. O artigo 227 faz referência expressa aos direitos considerados fundamentais, os quais, portanto, não podem ser suprimidos ou desconsiderados por qualquer indivíduo ou pelo Poder Público: "Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão." - Brasil, 2008-B. Os direitos descritos no artigo 227 da CF são de caráter prestacional, ou seja, os pais ou responsáveis, a sociedade e o Poder Público têm o dever de prestá-los. Eles foram recepcionados pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) de tal forma que: Do art. 7º ao art. 14º - Estão previstos o direito à vida e à saúde. Do art. 15º ao art. 18º - Estão previstos os direitos relacionados à liberdade, ao respeito e à dignidade humana. Do art. 19º ao art. 52º - Estão previstos os direitos relativos ao direito à convivência familiare comunitária. Artigo 59º - Estão previstos os pontos relativo à cultura, ao esporte e ao lazer. Do art. 60º ao art. 69º - Estão previstos os direitos relativos à profissionalização e ao trabalho. Direito à vida e à saúde Dentre os direitos fundamentais protegidos e assegurados pela lei, o direito à vida destaca-se pela importância, pois não seria possível tratar de qualquer outro tipo de tutela de direitos ou princípios e regras sem a existência da vida humana. Com ele, desponta o direito à saúde, pois não há sentido em defender o direito à vida sem que haja saúde. Para tanto, o referido artigo obriga o Poder Público, nas esferas federal, estadual e municipal, a reservar parte do orçamento à aplicação de ações com vistas ao atendimento do bem coletivo. As medidas protetivas não se destinam apenas às crianças e aos adolescentes, mas também àquele que ainda vai nascer, passando, por conseguinte, pelo cuidado com a gestante e o atendimento hospitalar. Desse modo, a redação das Leis nº 13.257/2016 e nº 13.798/2019 garante o acesso aos programas e às políticas de saúde da mulher e de planejamento reprodutivo. Institui a Semana Nacional de Prevenção da Gravidez na Adolescência, objetivando difundir informações sobre medidas preventivas e educativas que permitam a redução da gravidez juvenil. Da mesma maneira, o ECA determina que o Estado e os empregadores da iniciativa privada têm o dever de proporcionar condições adequadas para o aleitamento materno (art. 9º). O direito ao aleitamento está previsto inclusive na Consolidação dos Direitos Trabalhistas, a qual, em seu artigo 396, prevê o direito de aleitamento à empregada, bem como às mães que estejam cumprindo medida socioeducativa de privação de liberdade, conforme o artigo 63 §2º da Lei nº 12.594/2012, que cria o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE). Recuperação da criança e do adolescente internados Assegurar condições adequadas para a recuperação da criança e do adolescente internados também é tema do ECA. Este determina que as instituições hospitalares devam proporcionar condições aos pais ou responsável, para que permaneçam com a criança ou o adolescente internado em tempo integral. Desfrutar a companhia dos pais é um direito deles e, como tal, deve ser resguardado. Caso haja violação desse direito, responde-se judicialmente. O artigo 10º do ECA traz um rol de obrigações a serem cumpridas por todos os estabelecimentos de saúde e hospitais, sejam eles públicos ou particulares, visando regular a adequada identificação dos recém-nascidos e de suas genitoras, para evitar a troca de identidades e garantir a orientação e o acompanhamento técnico no período das primeiras amamentações: "Art. 10. Os hospitais e demais estabelecimentos de atenção à saúde de gestantes, públicos e particulares, são obrigados a: I. Manter registro das atividades desenvolvidas, através de prontuários individuais, pelo prazo de dezoito anos; II. Identificar o recém-nascido mediante o registro de sua impressão plantar e digital e da impressão digital da mãe, sem prejuízo de outras formas normatizadas pela autoridade administrativa competente; III. Proceder a exames visando ao diagnóstico e terapêutico de anormalidades no metabolismo do recém-nascido, bem como prestar orientação aos pais; IV. Fornecer declaração de nascimento onde constem necessariamente as intercorrências do parto e do desenvolvimento do neonato; V. Manter alojamento conjunto, possibilitando ao neonato a permanência junto à mãe; VI. Acompanhar a prática do processo de amamentação, prestando orientações quanto à técnica adequada, enquanto a mãe permanecer na unidade hospitalar, utilizando o corpo técnico já existente. - Brasil, 2008-A. SUS, pessoa com deficiência e integridade da criança Conforme prevê o ECA, fica a cargo do Sistema Único de Saúde (SUS) a promoção de programas de assistência médica e odontológica (art. 14, ECA) para a prevenção das enfermidades que afetam a população infantil, bem como a realização de campanhas de educação sanitária para pais e educadores de modo que o “oferecimento irregular ou não oferecimento dos programas preventivos poderá implicar em responsabilidade civil e administrativa do gestor” (art. 208, VII, ECA). Assegura, ainda, que criança e adolescentes tenham acesso integral às linhas de cuidado voltadas à saúde, por intermédio do SUS, observado o princípio da equidade (art. 11, ECA). Este dispositivo está de acordo com as diversas normas internacionais e pátrias sobre a matéria, como a Convenção dos Direitos da Criança (art. 23), a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, a Lei nº 7.853/1989, que dispõe sobre as pessoas portadoras de deficiência e sua integração social, e a Lei nº 13.146/2015, que instituiu o Estatuto da Pessoa com Deficiência. Com o fim de evitar a violência contra a criança ou o adolescente, a suspeita de que tenham sofrido castigo físico, tenham sido submetidos a tratamento cruel e degradante, ou estejam sofrendo ou tenham sofrido maus-tratos, indiferentemente de quem esteja praticando tais atos, ou ainda que decorra de negligência, deverá ser comunicada ao Conselho Tutelar, que encaminhará a notícia ao Ministério Público (art. 136, IV, ECA), para que seja proposta a ação penal competente contra os infratores ou seja requerido o afastamento do agressor da moradia comum, resguardando a criança ou o adolescente (art. 130, ECA; art. 21, II, Lei nº13.431/2017), ou ainda a suspensão ou destituição do poder familiar (art. 201, III; art. 155 a 163, ECA). Como se vê é necessária a perfeita articulação entre os órgãos para que os direitos da criança e do adolescente sejam efetivamente resguardados e respeitados. Os doutrinadores afirmam que a clara omissão da comunicação exigida pelo ECA representa uma infração administrativa, conforme previsto no artigo 245 do estatuto. Ainda no que se refere à integridade da criança e do adolescente, e visando inibir práticas ilegais, o ECA prevê, em seu artigo 13º §1º, o parto anônimo. As gestantes que tiverem interesse em entregar o filho para adoção devem ser encaminhadas, sem qualquer forma de constrangimento, à Justiça da Infância e Juventude, bem como deverão receber orientação não apenas jurídica mas psicológica. Dessa forma, a criança, resguardada a identificação da paternidade (Lei nº 8.560/1992), poderá permanecer no seio familiar ou então ser adotada legalmente. O §2º confere máxima prioridade ao atendimento das crianças na faixa etária da primeira infância caso haja suspeita ou confirmação de violência de qualquer natureza. Um projeto terapêutico singular que inclua intervenção em rede e, se necessário, acompanhamento domiciliar deve ser formulado. A Lei nº 13.010/2014 (BRASIL, 2014), que ampliou a redação do caput do art. 13, para estabelecer o direito da criança e do adolescente de serem educados e cuidados sem o uso de castigos físicos 1 (É toda ação de natureza disciplinar ou punitiva aplicada com o uso da força física sobre a criança ou o adolescente que resulte em: a) sofrimento físico; ou b) lesão.) ou de tratamento cruel ou degradante 2 (É a conduta ou forma cruel de tratamento em relação à criança ou ao adolescente que: a) humilhe; ou b) ameace gravemente; ou c) ridicularize.), foi batizada inicialmente como “Lei da Palmada”. Atualmente ela é reconhecida como “Lei Menino Bernardo”, em homenagem ao menino gaúcho Bernardo Boldrini, de 11 anos, que foi encontrado morto no mês de março de 2014, na cidade de Três Passos (RS). O crime foi cometido pelo pai e pela madrasta. Atividade 1. Acerca dos direitos fundamentais inerentes à criança e ao adolescente, assinale a opção correta: a) Incumbe ao poder público proporcionar assistência psicológica à gestante e à mãe no pré e no pós-natal, desde que esta não manifeste interesse em entregar os filhos à adoção.b) No SUS, não há previsão legal de atendimento preferencial da parturiente pelo médico que a acompanhou no período pré-natal. c) É previsto atendimento pré e perinatal à gestante, por meio do SUS, incluindo assistência psicológica, como forma de prevenir ou minorar as consequências de estado puerperal. d) Incumbe ao poder público proporcionar apoio alimentar somente à nutriz; pois isso, resultará no desenvolvimento físico adequado da criança. e) Para que a gestante seja encaminhada aos diferentes níveis de atendimento, basta que haja necessidade específica. Resposta correta: letra c. Uma gestação adequada previne doenças e permite o desenvolvimento sadio do feto, de maneira que o recém-nascido terá melhores condições de vida. Por intermédio da Lei nº 13.257/2016, a gestante teve ampliado o rol de suas garantias para uma gestação saudável e para um parto que respeite a dignidade desse momento especial e importante no ciclo da vida. O § 4º do artigo 8º prevê o dever de prestar assistência psicológica à mulher durante a gestação, e após o parto, com foco na prevenção do estado puerperal. Do direito à liberdade, ao respeito e à dignidade O Capítulo II do ECA vincula-se ao princípio da dignidade humana referenciado pelo texto constitucional em seus artigos 1º e 5º. O princípio reconhecido internacionalmente aplica-se a todo e qualquer indivíduo indiferentemente de idade, sexo, raça, cor e condição econômica, entre outros. Dessa forma, a liberdade, o respeito e a dignidade da pessoa humana são valores sociais que permeiam todo o sistema normativo. O artigo 15º do ECA garante a liberdade, o respeito e a dignidade às crianças e adolescentes, considerando a peculiaridade de se tratar de pessoas em processo de desenvolvimento e sujeitos de direitos civis, humanos e sociais. O texto legal garante a liberdade sob as suas mais variadas formas: A liberdade de ir e vir bem como de estar nos logradouros públicos e espaços comunitários ressalvadas as restrições legais; A liberdade de opinião e de expressão; O direito de crença e de culto religioso, de brincar, de praticar esportes e se divertir; A liberdade de participar da vida familiar e comunitária sem discriminação, de participar da vida política e buscar refúgio, auxílio e orientação. São direitos que devem ser assegurados e muitos dependem da articulação de diversos órgãos para efetivação, a exemplo da Lei nº 10.891/2004 que criou a Bolsa Atleta para atletas olímpicos e paraolímpicos, de forma a incentivar a prática de esportes; a necessidade de participação da família na orientação e educação das crianças e dos adolescentes que, muitas vezes, acabam por necessitar de apoio e orientação de órgãos e programas específicos de atendimento à criança. No que diz respeito ao divertimento, há outros dispositivos que tutelam o ingresso e a permanência de crianças e adolescentes em shows e casas de espetáculos (art. 74-76, ECA). Atenção! O direito ao respeito previsto no ECA se vincula à integridade física, psicológica e moral, abrangendo a preservação da identidade, da autonomia, dos valores, da ideias e das crenças bem como a preservação dos espaços e objetos pessoais da criança e do adolescente, evitando traumas e exposições que muitas vezes trazem consequências irreversíveis. Ressaltamos que a violação de qualquer desses direitos caracteriza o desrespeito ao princípio da proteção integral e do melhor interesse da criança, sendo passível, em algumas situações, de indenização, como na divulgação de imagem sem autorização dos pais ou responsáveis. Diante do exposto é que a lei estabelece que não se trata apenas de um dever dos pais ou do Estado mas de todos, sejam governantes ou não, a proteção da criança e do adolescente inibindo todo o tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor (art. 18, ECA). A criança e o adolescente detêm o direito de serem educados sem o uso de castigo físico, tratamento cruel ou degradante como forma de correção, disciplina e educação. Dessa forma, e considerando o respeito aos direitos da criança e do adolescente, todos têm o dever de atuar em defesa destes diante de uma violação ou ameaça de violação, sob pena de responsabilização pela omissão. A liberdade de participar da vida familiar e comunitária sem discriminação é um direito garantido pelo artigo 15º do ECA. Direito à convivência familiar e comunitária O ECA enfatiza a necessidade da convivência familiar e comunitária, sendo percebida como direito fundamental, uma vez que os laços familiares têm como objetivo educar, preparar e proteger emocionalmente as crianças e os adolescentes, conduzindo-os no desenvolvimento integral. Por sua vez, a comunidade permitirá ao jovem em fase de aprendizado o envolvimento com os valores sociais e políticos que lhe regerão a vida cidadã. Essa percepção encontra embasamento e fortalecimento no artigo 6º da Declaração Universal dos Direitos da Criança e do artigo 226 da CF. A Lei nº 13.257/2016, Lei da Primeira Infância, estabelece políticas públicas para a primeira infância, período que abrange os primeiros 06 anos de vida (art. 2º). As políticas públicas para qualquer pessoa entre 0 e 18 anos não podem ser iguais, é necessário elaborar programas diferentes a partir das necessidades de cada faixa etária, peculiaridade social e regional. O ECA, em suas disposições gerais, estabelece no art. 19 que “é direito da criança e do adolescente ser criado e educado no seio de sua família e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária, em ambiente que garanta seu desenvolvimento integral”. Dessa forma, em busca da efetividade do princípio do melhor interesse, a preferência para a criação das crianças e dos adolescentes será em primeiro lugar dos parentes consanguíneos; porém, ao se tornar nociva ou mesmo perigosa, ou a manutenção da convivência com a família natural não sendo mais possível, a lei permite que a criança ou o adolescente seja inserido numa família substituta por meio de um processo de guarda, tutela ou mesmo adoção. Se, de um lado, a lei prioriza o convívio familiar; por outro, ela possibilita o convívio fora dela. Há programas de acolhimento institucional que configuram uma situação transitória, a qual não pode durar mais de dois anos. Fica claro, portanto, que o principal objetivo é evitar o afastamento prolongado ou indefinido da criança ou do adolescente, não prejudicando os laços familiares. Durante o período de acolhimento há, também, a preocupação com a família. Esta deverá ser inserida em programas e serviços de orientação e promoção social. Até mesmo em casos em que os pais estejam privados da liberdade deve ser assegurado à criança ou ao adolescente o direito de visitá-los para que não percam os vínculos familiares. A mesma lei também introduziu o artigo 19-B, destacando o apadrinhamento. Este consiste em um programa de atendimento, nos termos do artigo 86 e seguintes do ECA, podendo ser realizado no âmbito das entidades de atendimento governamental ou não. Consiste em oferecer à criança e ao adolescente com poucas chances de adoção a oportunidade de desenvolver vínculos externos às instituições em que residem e proporcionar o fortalecimento de valores sociais, morais, educacionais e cognitivos. O ECA (art. 20), em consonância com o texto constitucional (art. 227 §6º, CF), veda expressamente toda e qualquer discriminação entre os filhos, sejam eles havidos ou não durante a relação do casamento. Ainda sobre a convivência familiar, é importante mencionar o artigo 2º do ECA, no qual se adota a expressão “poder familiar” em substituição à expressão “pátrio poder”, sendo percebido o conjunto de direitos e deveres que competem aos pais, em absoluta igualdade de condições. O poder familiar, porém, somente poderá ser exercido por aquele que possuir plena capacidade
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