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Estatuto da Criança e do Adolescente - Direitos Internacionais

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COMP. FLEX. CURRICULAR EM ECA 
Estatuto da Criança e do Adolescente – E.C.A 
Aula 1 – Direitos humanos da criança e do adolescente e Direito Internacional 
Infantojuvenil 
Apresentação 
O Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/1990) representa o marco da consolidação 
do Direito Infantojuvenil no Brasil, em um processo iniciado com a Constituição Federal. E o 
Direito Internacional teve um papel de destaque, principalmente por meio dos Tratados de 
Direitos Humanos que versam direitos relativos a crianças e adolescentes. 
Objetivos 
 Identificar as diversas legislações internacionais, entre Declarações e Convenções que 
reconhecem a criança como objeto de proteção ou sujeito de direito, assim como todos 
os demais seres humanos; 
 Compreender a atual posição da comunidade internacional sobre os direitos humanos de 
crianças e adolescentes. 
Direitos humanos de crianças e adolescentes 
Em face da condição de pessoas em desenvolvimento, ou seja, de seres que estão em processo 
de formação física e psicológica, crianças e adolescentes devem receber um tratamento 
diferenciado. 
Breve histórico evolutivo dos direitos das crianças e adolescentes: 
 1899-1905  No âmbito internacional, a primeira referência que se tem acerca da 
proteção dos direitos humanos da criança e do adolescente é a Juvenile Court Art de 
Illinois, criada em 1899, sendo considerada o primeiro Tribunal de Menores nos 
Estados Unidos, expandindo-se para a Europa somente a partir de 1905, quando grande 
parte dos Estados criaram Tribunais de Menores (SPOSATO, 2006). 
 1919  Em 1919, finda a Primeira Guerra Mundial, foi criado o Comitê de Proteção da 
Infância, pela liga das Nações, diante dos horrores vivenciados e da percepção de que a 
criança é um ser especial diante de sua vulnerabilidade, a qual, portanto, merece atenção 
e proteção especiais. 
A partir do século XX, houve uma adesão mais ampla da comunidade internacional em 
prol dos direitos humanos, o que acabou repercutindo nas declarações e convenções 
internacionais firmadas. 
 1924-1948  Posteriormente, em 1924, a Declaração de Genebra reconheceu a criança 
e o adolescente como seres detentores de proteção especial ao determinar que há a 
“necessidade de proporcionar à criança uma proteção especial”. Da mesma forma 
ocorreu na Declaração Universal dos Direitos Humanos das Nações Unidas, firmada em 
1948, que também defendia o “direito e assistência especiais” à criança. 
 1959  Em 1959, a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas aprovou a 
Declaração dos Direitos da Criança, passando a reconhecê-la como sujeito detentor de 
direitos e não mais apenas como objeto de proteção. 
 1969  Por sua vez, a Convenção Americana sobre os Direitos Humanos (Pacto de São 
José da Costa Rica, 1969) elencou, no artigo 19, que “toda criança tem direito às 
medidas de proteção que sua condição de menor requer, por parte da família, da 
sociedade e do Estado”. Dessa forma, percebemos que o dever de proteger e resguardar 
a criança e o adolescente não é uma função apenas do Estado, mas também da família 
com quem eles convivem, bem como da própria sociedade que os integra. 
Mais recentemente, a comunidade mundial criou novas bases para a 
formulação de um ordenamento jurídico que possa ser adotado por 
todos os países, independentemente das condições socioeconômicas 
destes, cuja característica fundamental é “a nobreza e a dignidade do 
ser humano criança”. 
Tais estruturas normativas foram fruto do esforço conjunto de diversos estudiosos e 
comunidades empenhadas na defesa e promoção da criança e do adolescente, que participaram 
das Regras Mínimas das Nações Unidas para a Administração da Justiça da Infância e da 
Juventude. São elas: 
 Regras de Beijing  Resolução 40/33 da Assembleia Geral, de novembro de 1985. 
 Diretrizes das Nações Unidas para a Prevenção da Delinquência Juvenil – 
Diretrizes de Riad  Assembleia da ONU, de novembro de 1990. 
 Regras Mínimas das Nações Unidas para a Proteção dos Jovens Privados de 
Liberdade  Assembleia Geral da ONU, de novembro de 1990. 
A proteção integral garantida ao público infantojuvenil surge a partir da Convenção sobre o 
Direito da Criança, aprovada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em 20 de novembro de 
1989, também conhecida como Convenção de Nova York. Esse momento foi tão importante que 
teve o maior número de ratificações e adesões mais rápidas da história, pois protege todas as 
crianças do planeta e não apenas grupos determinados. 
Nesse contexto, a comunidade internacional reconheceu que as crianças necessitam de atenção 
especial que as preserve das consequências danosas decorrentes de situações que podem colocá-
las em risco. 
No tópico seguinte, serão abordados documentos internacionais relevantes, estabelecendo a 
relação direta entre eles e a defesa dos interesses de crianças e adolescentes. 
Declaração de Genebra – Carta da Liga sobre a criança 
A Declaração de Genebra, ou Carta da Liga sobre a Criança, de 1924, é considerada o primeiro 
documento voltado à proteção da criança de forma ampla e genérica, pois não se limita a apenas 
um enfoque na defesa dos direitos humanos da criança, mas engloba a proteção à infância de 
maneira integral. Ela incorporou os princípios dos direitos da criança, incentivando os Estados a 
criarem meios que efetivamente garantissem a proteção desse grupo especial. 
Acerca da Declaração de Genebra, descreve Eglantine (apud DOLINGER, 2003, p. 82) cinco 
princípios basilares do documento, os quais devem ser seguidos tendo em vista a necessidade de 
se resguardar a criança como sujeito de direito: 
1 - A criança deve receber os meios necessários para seu desenvolvimento normal, tanto 
material, como espiritual. 
2 - A criança que estiver com fome deve ser alimentada; a criança que estiver doente precisa ser 
ajudada; a criança atrasada precisa ser ajudada; a criança delinquente precisa ser recuperada; o 
órfão e o abandonado precisam ser protegidos e socorridos. 
3 - A criança deverá ser a primeira a receber socorro em tempos de dificuldade. 
4 - A criança precisa ter possibilidade de ganhar seu sustento e deve ser protegida de toda forma 
de exploração. 
5 - A criança deverá ser educada com a consciência de que seus talentos devem ser dedicados ao 
serviço de seus semelhantes. 
Muito embora seja voltada para a garantia da proteção da criança e 
do adolescente, percebemos que a Declaração de Genebra foi um 
avanço para a época. 
No que diz respeito ao reconhecimento da vulnerabilidade da criança, a Declaração não as 
tratava como autênticos sujeitos de direitos e sim como objetos de proteção, como pode ser 
observado pelo emprego das palavras “a criança deve receber”, “deve ser alimentada”, “deve ser 
ajudada”, “deve ser educada”, diferentemente da Declaração de 1959, segundo a qual a criança 
tem direito a um nome, como veremos a seguir. 
Declaração dos Direitos da Criança 
Após a Segunda Guerra Mundial, diversos movimentos voltados a resguardar as crianças e 
adolescentes da devastação decorrente das guerras surgiram, a exemplo do Instituto 
Interamericano da Criança e da UNICEF (United Nations International Child Emergency 
Fund). 
Porém, foi em 1959 que se conseguiu mais abrangência aos direitos da infância, sendo firmada a 
Declaração Universal dos Direitos da Criança, a qual passa a tratar a criança como sujeito de 
direito e não mais como mero objeto de proteção. 
A Declaração, além de conceder uma nova percepção da criança, agora sujeito de direitos, 
ressalta também a necessidade da promoção do respeito aos direitos dela, sua sobrevivência, 
desenvolvimento e participação no combate à exploração e ao abuso. 
Princípios da Declaração dos Direitos da Criança 
A Declaração dos Direitos da Criança adotou dez princípios a serem seguidos pelos Estados e 
pela sociedade: 
a. A universalização dos direitos a todas as crianças, sem qualquer discriminação.b. As leis devem considerar a necessidade de atendimento do interesse superior da criança. 
c. O direito a um nome e a uma nacionalidade, devendo ser prestada assistência à gestante. 
d. A criança faz jus a todos os benefícios da previdência social, bem como de desfrutar 
alimentação, moradia, lazer e outros cuidados especiais. 
e. Aqueles que necessitarem devem receber cuidados especiais, bem como de receber 
amor e cuidado dos pais. 
f. A criança deverá crescer sob o amparo de seus pais, em ambiente de afeto e segurança, 
podendo a criança de tenra idade ser retirada de seus pais somente em casos 
excepcionais. 
g. O direito à educação escolar. 
h. A criança deve figurar entre os primeiros a receber proteção e auxílio; 
i. A criança faz jus à proteção contra o abandono e a exploração no trabalho; 
j. A criança deve crescer dentro de um espírito de solidariedade, compreensão, amizade e 
justiça entre os povos. 
Em consonância com os princípios que devem nortear a conduta política, social e econômica do 
Estado e da sociedade, a criança e o adolescente, independentemente da origem, raça, sexo, cor, 
classe social, deve ser percebida como sujeito de direito e como tal deve ser respeitada – o que 
acabou contribuindo para o surgimento, em 1966, do Pacto dos Direitos Econômicos, Sociais e 
Culturais, o qual prevê, no artigo 10, que: 
3. Medidas especiais de proteção e de assistência devem ser tomadas em benefício de 
todas as crianças e adolescentes, sem discriminação alguma derivada de razões de 
paternidade ou outras. Crianças e adolescentes devem ser protegidos contra a 
exploração econômica e social. O seu emprego em trabalhos de natureza a comprometer 
com sua moralidade ou a sua saúde, capazes de pôr em perigo a sua vida, ou de 
prejudicar o seu desenvolvimento normal deve ser sujeito à sanção da lei. Os Estados 
devem também fixar os limites de idade abaixo dos quais o emprego de mão de obra 
infantil será interdito e sujeito às sanções da lei (ONU, 2001 apud BASTOS, 2012, p. 
47); 
Sobre o Pacto dos Direitos Civis e Políticos, o artigo 24 prevê que: 
1. Qualquer criança, sem nenhuma discriminação de raça, cor, sexo, língua, religião, 
origem nacional ou social, propriedade ou nascimento, tem direito, da parte de sua 
família, da sociedade e do Estado, às medidas de proteção que exija a sua condição de 
menor. 
2. Toda e qualquer criança deve ser registrada imediatamente após o nascimento e ter um 
nome. 
3. Toda e qualquer criança tem o direito de adquirir uma nacionalidade (ONU, 
2001 apud BASTOS, 2012, p. 48). 
Em decorrência da evolução do tratamento dispensado à criança e ao adolescente, em 1989, a 
Organização das Nações Unidas aprovou a Convenção das Nações Unidas sobre Direitos da 
Criança, “consagrando direitos relativos à infância que até então não eram considerados, e 
compreendendo as crianças e adolescentes como pessoas em processo de desenvolvimento” 
(BASTOS, 2012, p. 48). 
A Convenção foi norteada por quatro princípios basilares da proteção da criança e do 
adolescente, que são: 
a. o interesse superior da criança; 
b. a não discriminação; 
c. a sobrevivência e o desenvolvimento; e 
d. a participação das crianças na agenda política dos Estados. 
O principal destaque e diferencial da Convenção foram os direitos da personalidade, os quais, 
até aquele momento, não haviam sido tratados nas demais Convenções e Declarações. Nesse 
sentido, Stancioli (1999, apud BASTOS, 2012, p. 49) elucida que: 
Historicamente, as duas declarações internacionais, dedicadas aos direitos da criança (de 
1924, promulgada pela Liga das Nações, e de 1959, promulgada pelas Nações Unidas), 
adotaram um paradigma bem diverso deste da Convenção de 1989. Naquelas, as 
preocupações básicas eram o cuidado e a proteção das crianças. A atual, por outro lado, 
vai além, buscando “a noção de direitos da personalidade do menor, fundado na 
autonomia, [em consonância com] um conceito que inclui direitos civis similares aos dos 
‘adultos’, como liberdades de expressão, religião, associação, assembleia e direito à 
privacidade. 
Avançando na legislação protetora da criança e do adolescente, tem-se a criação das Regras 
Mínimas das Nações Unidas para a Administração da Infância e da Juventude, também 
conhecidas por Regras de Beijing ou Regras de Pequim. 
Atividade 
1. Observando a imagem a seguir, discorra sobre a violação dos Direitos Humanos da Criança e 
do Adolescente e a importância da proteção integral. 
 
Crianças e adolescentes são titulares de direitos humanos como qualquer pessoa. Em condição 
de pessoa em desenvolvimento, ou seja, a criança e o adolescente estão em processo de 
formação física e psicológica, devem receber um tratamento diferenciado, pois são detentores de 
proteção especial. 
Regras de Pequim ou Regras de Beijing, Diretrizes de RIAD e 
Regras de Tóquio 
As Regras de Beijing, as Regras de Riad e as Regras de Tóquio, ao contrário das demais 
Convenções, voltam-se à criminalidade juvenil, como veremos a seguir. 
 Regras de Beijing  As Regras de Beijing, firmadas em 1985, por meio da Resolução 
nº 43/33 da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), são também 
conhecidas como Regras Mínimas das Nações Unidas para a Administração da Justiça, 
da Infância e da Juventude. Elas têm como base fundamental a prevenção do crime e do 
tratamento do jovem infrator. 
O documento faz referência rigorosa às situações de julgamento de crianças e 
adolescentes que sejam autores de ilícitos penais, norteando direitos, tais como um 
julgamento justo e imparcial, conduzido por um Juízo especializado. 
 Diretrizes de Riad  Em 1990, foram publicadas as Diretrizes de Riad, também 
conhecidas como Diretrizes das Nações Unidas para a Prevenção da Delinquência 
Juvenil, as quais foram aprovadas por meio da Resolução nº 45/112. 
As Diretrizes de Riad abordam a necessidade da adoção de políticas públicas 
progressivas de prevenção à delinquência juvenil, voltadas ao controle social, e 
ressaltando a relevância da família, a exemplo das diretrizes 12 e 33, descritas a seguir: 
 Diretriz 12: Dado que a família é a unidade central responsável pela 
socialização primária da criança, devem ser feitos esforços pelos poderes 
públicos e organismos sociais para preservar a integridade da família, inclusive 
da família alargada. A sociedade tem a responsabilidade de ajudar a família a 
fornecer cuidados e proteção às crianças e a assegurar o seu bem estar físico e 
mental. Devem assegurar-se creches e infantários em número suficientes. 
 Diretriz 33: As comunidades devem adotar, ou reforçar, onde já existam, uma 
larga gama de medidas de apoio comunitário aos jovens, incluindo o 
estabelecimento de centros de desenvolvimento comunitário, instalações e 
serviços recreativos para responderem aos problemas especiais das crianças que 
se encontram em risco social. Ao promover estas medidas de auxílio, devem 
assegurar o respeito pelos direitos individuais (SHECAIRA, 
2008 apud BASTOS, 2012, p. 52). 
 Regras de Tóquio  No ano de 1990 também foram criadas as Regras de Tóquio, por 
meio da Resolução 45/113, conhecida como Regras Mínimas das Nações Unidas para 
Elaboração de Medidas não Privativas de Liberdade, as quais traçam princípios 
basilares voltados à promoção do uso de medidas de liberdade, bem como garantias 
mínimas para os jovens submetidos às penas substitutivas e ao aprisionamento, de modo 
a se evitar a violação dos direitos deles e, por conseguinte, assegurar-lhes a efetividade 
dos direitos humanos. As Regras de Tóquio ressaltam ainda a importância da 
participação da coletividade como forma de readaptação do infrator ao estabelecerem 
que: 
17.1. A participação da coletividade deve ser encorajada, pois constitui um recurso 
primário e um dos fatores mais importantes para reforçar laços entre os infratores 
submetidos a medidas não privativas de liberdade e suas famílias e comunidades.Esta 
participação deve complementar os esforços da administração da Justiça Criminal 
(BRASIL, 2009, p. 121). 
 
Como se pode perceber, as Regras de Beijing, as Diretrizes de Riad e as Regras de Tóquio 
compõem a Doutrina das Nações Unidas para a Proteção Integral à Infância, pois estas Regras 
constituíram os primeiros pilares do Sistema de Justiça da Infância e da Juventude pautado na 
especialidade e na garantia de direitos. 
Ainda falando em proteção dos direitos humanos das crianças, deve-se mencionar a Convenção 
sobre os Direitos da Criança da Organização das Nações Unidas (ONU), de 1989, abordada no 
tópico seguinte. 
Atividade 
2. No plano internacional, as Regras Mínimas para a Administração da Justiça, da Infância e da 
Juventude referem-se a qual instrumento jurídico? 
a) Regras de Riad. 
b) Regras de Beijing. 
c) Convenção Internacional Sobre os Direitos da Criança de 1989. 
d) Declaração Universal dos Direitos da Criança de 1959. 
e) Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948. 
Resposta correta: letra b. 
As Regras Mínimas das Nações Unidas para a Administração da Justiça, da 
Infância e da Juventude, também conhecidas por Regras de Beijing ou Regras de 
Pequim, são recomendações que foram apresentadas no 7º Congresso das Nações 
Unidas, sobre a prevenção e tratamento de jovens infratores, realizado em Milão, 
Itália, em 1985, e adotadas pela Assembleia Geral no mesmo ano. 
Convenção sobre os direitos da criança de 1989 
Adotado pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 1989, e vigente desde 1990, este 
tratado internacional de proteção dos direitos humanos possui apenas 54 artigos e se destaca dos 
anteriores pelo fato de ter sido ratificado por todos os países-membros, com exceção dos 
Estados Unidos, da Somália e do Sudão do Sul. 
Os direitos previstos na Convenção sobre os Direitos as Criança incluem: 
1 - Direito à vida e à proteção contra a pena capital. 
2 - Direito a ter uma nacionalidade. 
3 - Direito à proteção ante a separação dos pais. 
4 - Direito de deixar qualquer país e de entrar em seu próprio país. 
5 - Direito de entrar em qualquer Estado e sair dele, para fins de reunião familiar. 
6 - Direito à proteção para não ser levada ilicitamente ao exterior. 
7 - Direito à proteção de seus interesses no caso de adoção. 
8 - Direito à liberdade de pensamento, consciência e religião. 
9 - Direito de acesso a serviços de saúde, devendo o Estado reduzir a mortalidade infantil e 
abolir práticas tradicionais prejudiciais à saúde. 
10 - Direito a um nível adequado de vida e segurança social. 
11 - Direito à educação, devendo os Estados oferecer educação primária compulsória e gratuita. 
12 - Direito à proteção contra a exploração econômica, com fixação de idade mínima para 
admissão em emprego. 
13 - Direito à proteção contra o envolvimento na produção, tráfico e uso de drogas e substâncias 
psicotrópicas. 
14 - Direito à proteção contra a exploração e o abuso sexual. 
 
Nos termos do Art. 1 dessa Convenção, a criança é definida como: 
"Todo ser humano com menos de dezoito anos de idade, a não ser que, em 
conformidade com a lei aplicável, a maioridade seja alcançada antes." 
- Convenção sobre os direitos da criança. 
 
Esse importante tratado recepciona, portanto, a concepção do desenvolvimento integral da 
criança, reconhecendo assim sua absoluta prioridade e necessidade de proteção integral. 
A Convenção sobre os Direitos da Criança foi promulgada no Brasil pelo Decreto nº 99.710, de 
21 de novembro de 1990, ou seja, depois da vigência do Estatuto da Criança e do Adolescente. 
Complementando e fortalecendo o rol de medidas protetivas à criança e ao adolescente, as 
Nações Unidas adotou dois Protocolos Facultativos à Convenção sobre os Direitos da Criança, 
por meio da Resolução A/RES/54/263 da Assembleia Geral: o Protocolo Facultativo sobre 
Venda de Crianças, Prostituição Infantil e Pornografia Infantil, passando a vigorar em 
18.01.2002, sendo aprovado pelo Congresso Nacional Brasileiro, por meio do Decreto 
Legislativo nº 230/2003, e promulgado pelo Decreto nº 5.007/2004; e o Protocolo Facultativo 
sobre o Envolvimento de Crianças em Conflitos Armados, o qual passou a vigorar em 
12.02.2002. 
Sistema de controle do cumprimento dos direitos humanos de 
crianças 
Em 2011, a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) criou o texto do 
Terceiro Protocolo à Convenção sobre os Direitos da Criança, de 1989, cuja cerimônia oficial 
ocorreu em Genebra, em 28 de fevereiro de 2012, durante o período de sessões da ONU. Vinte 
países assinaram o Protocolo no mesmo dia da cerimônia oficial de abertura, inclusive o Brasil. 
Em 2014, o documento iniciou sua vigência, após completar o número necessário de 
ratificações. 
A Convenção assegura às crianças e seus representantes a possibilidade de recorrerem ao 
Comitê de Direitos das Crianças da Organização das Nações Unidas (ONU), por meio de 
petições individuais, sempre que não tiverem seus direitos garantidos pelas justiças de seus 
países, ou seja, sempre que, após a provocação das jurisdições domésticas, esgotarem-se todas 
as instâncias internas sem que qualquer resultado prático e positivo tenha ocorrido. 
Convém destacar que na apreciação das petições, o Comitê deverá seguir sempre o princípio do 
superior interesse da criança e garantir, salvo autorização expressa dos interessados, o sigilo das 
identidades das pessoas envolvidas nas comunicações. 
Porém, é importante ressaltar que não é suficiente o surgimento de regras e diretrizes voltadas à 
proteção da criança, se estas não forem efetivamente aplicadas e efetivadas, sendo necessário 
um conjunto articulado de ações por parte da comunidade internacional, da família e do Estado 
para garantir que crianças e adolescentes sejam efetivamente sujeitos de direitos e tenham seus 
direitos assegurados. Dessa forma, pode-se afirmar que o sistema de controle do cumprimento 
dos direitos humanos de crianças assume a finalidade de promover ações públicas que 
concedam a prioridade do atendimento, na promoção e controle dos direitos da criança e 
adolescente. Na promoção dos direitos é necessário um verdadeiro engajamento de todos os 
órgãos públicos, bem como da própria comunidade, pois é obrigação de todos a promoção e a 
efetivação dos direitos infantojuvenis, o que se dá por meio da elaboração e implementação de 
políticas públicas de atendimento – função fundamental do Conselho de Direitos da Criança e 
do Adolescente. 
No Brasil, o Sistema de Garantia de Direito é distribuído em três eixos fundamentais: o eixo de 
promoção de direitos; o eixo de defesa; e o eixo de controle social, sendo composto, por 
exemplo, dos Conselhos Nacional, Estaduais e Municipais dos Direitos da Criança e do 
Adolescente; e, no Campo da Defesa dos Direitos, pelo Poder Judiciário, pelo Ministério 
Público, pela Defensoria Pública, pelos Centros de Defesa (CEDECAS), pela Segurança Pública 
e pelos Conselhos Tutelares. 
Eixo de Promoção de Direitos: se dá por meio do desenvolvimento da política de atendimento 
dos direitos de crianças e adolescentes, integrante da política de promoção dos direitos 
humanos. Essa política deve-se dar de modo transversal, articulando todas as políticas públicas. 
Nele estão os serviços e programas de políticas públicas de atendimento dos direitos humanos 
de crianças e adolescentes, de execução de medidas de proteção de direitos e de execução de 
medidas sócioeducativas. Os principais atores responsáveis pela promoção desses direitos são as 
instâncias governamentais e da sociedade civil que se dedicam ao atendimento direto de 
direitos, prestando serviços públicos e/ou de relevância pública, como ministérios do governo 
federal, secretarias estaduais ou municipais, fundações, ONGs, etc. Exemplo: Conselhos de 
Direitos, incluídos toda área da assistência social, educação e saúde. 
Eixo de Defesa: tem a atribuição de fazer cessar as violaçõesde direitos e responsabilizar o 
autor da violência. Tem entre os principais atores, os Conselhos Tutelares, Ministério Público 
Estadual e Federal (centros de apoio operacionais, promotorias especializadas), Judiciário 
(Juizado da Infância e Juventude, Varas criminais especializadas, comissões judiciais de 
adoções) Defensoria Pública do Estado e da União, e órgãos da Segurança Pública, como 
Polícia civil, militar, federal e rodoviária, guarda municipal, ouvidorias, corregedorias e Centros 
de defesa de direitos, etc. 
Eixo de Controle Social: é responsável pelo acompanhamento, avaliação e monitoramento das 
ações de promoção e defesa dos direitos humanos de crianças e adolescentes, bem como, dos 
demais eixos do sistema de garantia dos direitos. O controle se dá primordialmente pela 
sociedade civil organizada e por meio de instâncias públicas colegiadas, a exemplo dos 
conselhos (CALS, 2007, p. 13). 
Atividade 
3. Na Convenção acerca dos Direitos da Criança da Organização das Nações Unidas, criança é 
todo o ser humano: 
a) Imaturo do ponto de vista biológico e dependente econômica, social e emocionalmente. 
b) Apresenta desenvolvimento físico, psíquico e sexual incompatível com os caracteres da idade 
adulta. 
c) Menor de dezoito anos de idade, salvo se, nos termos da lei que lhe for aplicável, atingir a 
maioridade mais cedo. 
d) Relativamente incapaz de cuidar de si e zelar, autonomamente, por seu próprio bem-estar e 
desenvolvimento. 
e) Incapaz de responder civil e penalmente pelos atos da vida adulta. 
Resposta correta: letra c. 
Segundo a Convenção dos Direitos da Criança, de 1989, a criança é definida como “todo ser 
humano com menos de dezoito anos de idade, a não ser que, em conformidade com a lei 
aplicável, a maioridade seja alcançada antes”. 
4. Assinale V (para verdadeiro) ou F (para falso) nas seguintes alternativas: 
a) As crianças e os adolescentes não são titulares de direitos humanos como qualquer pessoa. 
Verdadeiro Falso 
b) A criança faz jus a todos os benefícios da previdência social, bem como de desfrutar 
alimentação, moradia, lazer e outros cuidados especiais. 
Verdadeiro Falso 
c) A criança deve crescer em meio a um espírito de solidariedade, compreensão, amizade e 
justiça entre os povos. 
Verdadeiro Falso 
d) Toda criança tem direito às medidas de proteção que sua condição de menor requer, por parte 
da família, da sociedade e do Estado. 
Verdadeiro Falso 
e) A criança deve receber os meios necessários para seu desenvolvimento normal, tanto 
material, como espiritual. 
Verdadeiro Falso 
F, V, V, V, V. 
Segundo as novas diretrizes da legislação, a criança e o adolescente não são percebidos como 
meros objetos de direito, mas como verdadeiros sujeitos de direitos devendo, portanto, ser 
protegidos. As demais assertivas são todas verdadeiras. 
5. Associe as colunas, utilizando a numeração correspondente. 
Declaração de Genebra 1 
Declaração dos Direitos da Criança de 1959 2 
Convenção sobre os Direitos da Criança de 1989 3 
a) Passa a tratar a criança como sujeito de direitos e não mais como objeto de proteção. 
1 2 3 
b) Também conhecida como Convenção de Nova York. 
1 2 3 
c) Carta da Liga sobre a Criança. 
1 2 3 
a) 2 – Em 1959, a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas aprovou a Declaração 
dos Direitos da Criança, passando a reconhecer a criança como sujeito detentor de direitos e 
não mais apenas como objeto de proteção. 
b) 3 – A proteção integral garantida ao público infantojuvenil surge a partir da Convenção 
sobre o Direito da Criança, aprovada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em 20 de 
novembro de 1989, também conhecida como Convenção de Nova York. 
c) 1 – A Declaração de Genebra, ou também Carta da Liga sobre a Criança, é considerada o 
primeiro documento voltado à proteção da criança de forma ampla e genérica, pois não se limita 
a apenas um enfoque na defesa dos direitos humanos da criança. Ela engloba a proteção à 
infância de maneira integral, tendo incorporado os princípios dos direitos da criança, 
incentivando os Estados a criarem meios que efetivamente garantissem a proteção desse grupo 
especial. 
Aula 2 – Estatuto da Criança e do Adolescente: disposições preliminares 
Apresentação 
Utilização inicial do termo menor, a partir do primeiro Código de Menores, bem como a 
evolução dessa designação até ser empregada no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). 
Criança e adolescente são sujeitos de direitos fundamentais. E é fundamental ressaltar a 
importância do critério de interpretação do ECA. 
Objetivos 
 Descrever a evolução do tratamento jurídico conferido à criança e ao adolescente; 
 Explicar a doutrina da proteção integral; 
 Esclarecer a utilização da designação “menor”, a definição de criança e adolescente e o 
critério de interpretação do ECA. 
Disposições preliminares 
Ao longo da história jurídica, nem sempre as crianças e os adolescentes receberam um 
tratamento diferenciado por serem pessoas em pleno desenvolvimento. No Brasil, já houve um 
tempo em que a condição de seres em processo de formação física e psicológica não conferia a 
crianças e adolescentes a titularidade de direitos humanos, diferentemente do que acontece hoje. 
Como se deu, portanto, a evolução do tratamento jurídico conferido à criança e 
ao adolescente? 
Como ambos se tornaram sujeitos de direitos fundamentais? 
Evolução do tratamento jurídico conferido à criança e ao 
adolescente como sujeitos de direitos fundamentais 
A criança nem sempre foi vista e respeitada, no Brasil, como um ser detentor de direitos 
especiais e específicos, pela condição de pessoa em desenvolvimento. Ela era vista, podemos 
dizer, como um mini-adulto, sem proteção especial. 
Na sociedade contemporânea, as crianças ganharam mais espaço. A evolução do tratamento da 
criança e do adolescente, pelo mundo jurídico, pode ser resumida em quatro fases, como bem 
ressalta Garrido de Paula: 
“Fase da absoluta indiferença, em que não existiam normas relacionadas a essas 
pessoas;” 
“Fase da mera imputação criminal, em que as leis tinham o único propósito de coibir a 
prática de ilícitos por aquelas pessoas (Ordenações Afonsinas e Filipinas, Código 
Criminal do Império de 1830, Código Penal de 1890);” 
“Fase tutelar, conferindo-se ao mundo adulto poderes para promover a integração sócio 
familiar da criança, com tutela reflexa de seus interesses pessoais (Código Mello 
Mattos, de 1927 e Código de Menores, de 1979);” 
“Fase da proteção integral, em que as leis reconhecem direitos e garantias às crianças, 
considerando-as como uma pessoa em desenvolvimento (Estatuto da Criança e do 
Adolescente - Lei nº 8.069/1990).” 
(GARRIDO DE PAULA, 2002, p. 26) 
No cenário nacional foi longa a jornada em busca de uma proteção integral à criança. No Brasil 
colonial não havia qualquer proteção especial para a criança, a qual não era percebida como 
sujeito de direito. Nesse sentido, assevera Alberton (2005, p. 25) que: 
“as crianças, eram chamadas de ‘grumetes’, tinham expectativa de vida muito baixa, até 
por volta dos 14 anos; (...) as crianças eram consideradas um pouco mais do que 
animais, e por isso usavam sua força de trabalho que acreditavam ser necessário.” 
Em 1927, no Brasil, foi publicado o primeiro Código de Menores sendo direcionado às 
crianças expostas e às crianças abandonadas. O documento tratava não apenas da 
culpabilidade e da responsabilidade, mas também declarava como menor aquelas 
crianças e adolescentes identificadas como sujeitos em situação de vulnerabilidade e 
infração. Essa designação estava em consonância com o desenvolvimento intelectual, 
identificando que menores seriam aqueles com idade inferior a 18 anos. Na época, a 
responsabilidade sobre os menores ainda era inerente ao Estado, competindo a este 
estabelecer medidas repressivas e formas de se evitar a delinquência. 
Outro destaque inerente ao Código de Menores é que a puniçãoperdeu a 
natureza punitiva passando a ser percebida como de natureza pedagógica, 
havendo a mudança da sanção-castigo para sanção-educação. Pela primeira 
vez se identificava o caráter assistencial voltado às crianças e aos 
adolescentes brasileiros; porém, a doutrina adotada ainda era a doutrina da 
Situação Irregular, resultado do Código Civil de 1916, conhecido como 
normatização voltada aos direitos dos maiores, de modo que as crianças e 
adolescentes não eram, portanto, percebidos como sujeitos de direitos. 
    
Posteriormente, a Constituição de 1934 trouxe em seu texto questões 
pertinentes à criança e ao adolescente impedindo, por exemplo, o trabalho 
noturno realizado por menores de 16 anos de idade. A Constituição de 
1937 trouxe em seu texto uma amplitude acerca da proteção da criança 
referindo que a infância e a juventude são objetos de cuidado e garantias 
especiais por parte do Estado e dos municípios, devendo ser garantido a 
elas o acesso ao ensino público e gratuito. 
“Art. 127. A infância e a juventude devem ser objeto de cuidados e garantias 
especiais por parte do Estado que tomara todas as medidas destinadas a 
assegurar-lhes condições físicas e morais de vida sã e de harmonioso 
desenvolvimento das suas faculdades. O abandono moral e intelectual ou 
físico da infância e da juventude importará falta grave dos responsáveis por 
sua guarda e educação, e cria ao Estado o dever de provê-las do conforto e 
dos cuidados indispensáveis à preservação física e moral. Aos pais 
miseráveis assiste o direito de invocar o auxílio e proteção do Estado para a 
subsistência e educação da sua prole.” 
(BRASIL, 1937) 
 
 Em 1979 
Foi publicado o novo Código de Menores (Lei nº 6.697/79), substituindo o código 
anterior, mas mantendo a natureza repressiva e assistencialista, fazendo menção ao 
menor em situação irregular, ou seja, os menores de 18 anos de idade que tivessem 
cometido alguma conduta infracional, ou que tivessem sofrido maus-tratos, ou que 
estivessem abandonados. Ao Juiz de Menores era concedido o poder de decidir o 
destino das crianças, permitindo tratamentos discricionários e julgamentos baseados na 
situação irregular. 
 Na década de 1980 
que se deu mais ênfase à preocupação com a proteção de crianças e adolescentes. O 
texto constitucional de 1988 trouxe uma gama de garantias dos direitos desse grupo 
especial, atribuindo não apenas ao Estado, mas também à família e à sociedade a 
responsabilidade de assegurar a efetividade de tais direitos. Foi com a Constituição de 
1988 que se adotou a proteção integral da criança, “a população infanto-juvenil deixa de 
ser tutoria/discriminatória para tornar-se sujeito de direitos” (BRUÑOL, 2001, p. 39). 
“Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, 
ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à 
saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à 
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, 
além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, 
exploração, violência, crueldade e opressão.” 
(BRASIL, 1988) 
A mudança ocorrida no tratamento da criança e do adolescente a partir da Constituição de 1988, 
adotando a teoria da proteção integral, possibilitou o surgimento de um tratamento jurídico 
específico para esse grupo especial: 
o ECA, Lei nº 8.069/1990, pautado no disposto no inciso XV, do art. 24, da 
Constituição Federal de 1988, e inspirado nas normas internacionais de direitos 
humanos, tais como a Declaração Universal de Direitos Humanos, a Declaração 
Universal dos Direitos da Criança e a Convenção sobre os Direitos da Criança. 
O ECA surge com uma nova proposta de proteção e efetividade dos 
direitos das crianças e dos adolescentes impondo mudanças nas 
políticas públicas voltadas ao tratamento destes, percebidos, então, 
como sujeitos de direitos. 
Doutrina da Proteção Integral da criança e do adolescente 
O ECA tem por objetivo a proteção integral, de modo que cada cidadão brasileiro que 
nasce tenha assegurado seu pleno desenvolvimento, desde as exigências físicas até o 
aprimoramento moral e espiritual. 
Nesse contexto moderno, com visão mais humana e amparada por um conjunto de 
princípios e regras que regem diversos aspectos da vida, desde o nascimento até a 
maioridade, a Lei nº 8.069/1990, estabelece a necessidade de proteção integral 
registrando em seu artigo 1º que “Esta Lei dispõe sobre a proteção integral à criança e 
ao adolescente”; abandonando, por conseguinte, a Doutrina da Situação Irregular para 
adotar a Doutrina da Proteção Integral. 
Por proteção integral, entende-se o conjunto amplo de mecanismos jurídicos voltados à tutela da 
criança e do adolescente, tendo ligação com o princípio do melhor interesse infanto-juvenil, 
considerando que a criança e o adolescente são sujeitos de direitos em relação à família, ao 
Estado e à sociedade. A Doutrina da Proteção Integral pondera, ainda, que a criança e o 
adolescente são pessoas que estão em desenvolvimento físico, o que lhes torna especiais frente 
aos adultos no sentido de necessitarem de estruturações especiais e diversas para atendê-los. 
O ECA deve ser interpretado e aplicado com foco nos fins sociais a que se destina, uma 
vez que, na verdade, em situação irregular estão as famílias, que carecem de 
infraestrutura e que abandonam as crianças. Os pais descumprem os deveres do poder 
familiar; o Estado não cumpre as políticas sociais básicas. 
Dessa forma, o ECA está voltado para o desenvolvimento da população infanto-juvenil 
do país, garantindo proteção especial a este segmento considerado como pessoas em 
desenvolvimento, não tendo a percepção apenas repressora e punitiva característica do 
Código de Menores – este, nitidamente de natureza judicial –, mas sim uma percepção 
pedagógica norteada de medidas socioeducativas e protetivas, buscando sempre a 
ressocialização da criança e do adolescente. 
Afirmando que apenas por meio da educação, do tratamento e da prevenção é que se 
terá uma redução da delinquência juvenil, diversos órgãos foram criados com a intenção 
de implementar o ECA e efetivar os direitos das crianças e adolescentes, como os 
Conselhos de Direitos, os Conselhos Tutelares, os Fundos da Criança, bem como a ação 
civil pública para a responsabilização de autoridades que, por ação ou omissão, 
descumprirem o estatuto. 
Atenção! 
É relevante ressaltar, por fim, que o ECA rompe com a barreira da situação 
irregular resguardada no Código de Menores, pois os direitos assegurados não estão 
direcionados apenas àqueles que se encontram em situação irregular, mas sim a toda e 
qualquer criança, todo e qualquer adolescente, independentemente da situação em que 
se encontre, pois todos são sujeitos de direitos. 
Menor, criança e adolescente 
Na concepção técnica jurídica, a expressão “menor” designa aquela pessoa que não 
atingiu ainda a maioridade, ou seja, os 18 anos de idade, não lhe sendo atribuída a 
imputabilidade penal, nos termos do art. 104 do ECA e do art. 27 do Código Penal. 
Por outro lado, a palavra menor utilizada pelo Código de Menores, era sinônimo 
de pessoa carente, abandonada, delinquente, infratora, pivete, ou seja, a pessoa 
estigmatizada como sendo um indivíduo em situação irregular. Isso estava em 
conformidade com a doutrina da época, a Doutrina da Situação Irregular, a qual 
acabou por provocar o preconceito e a marginalização, gerando até mesmo 
traumas nos sujeitos. 
Voltado para a proteção integral dos infantes e dos jovens respeitando as 
peculiaridades de seu desenvolvimento e condições de amadurecimento, o 
legislador considerou ser mais adequado substituir o termo menor cuja 
conotação era pejorativa para a criança e o adolescente. 
O ECA tem como objetivo distinguir o atendimento socioeducativo, pela 
definição dos conceitos de criança e adolescente, fundadono aspecto da idade, 
não levando em consideração sua condição social ou econômica, ponderando 
apenas o processo de desenvolvimento físico e intelectual em que estão tais 
indivíduos. Dessa forma, conforme previsto no artigo 2º, criança é toda pessoa 
até doze anos de idade incompletos. Já adolescente é aquele que estiver entre os 
doze e os dezoito anos de idade. 
A distinção entre criança e adolescente tem importância em diversos aspectos, entre eles 
na aplicação de medidas socioeducativas quando da prática de um ato infracional, pois, 
para a criança, não será aplicada qualquer medida socioeducativa, mas de proteção. As 
medidas socioeducativas serão aplicadas somente aos adolescentes, conforme previsto 
pelo artigo 105 do ECA. 
Exemplo! 
Outro exemplo que ressalta a importância da distinção entre crianças e adolescentes é a 
Lei nº 13.257/2016 que dispõe políticas públicas e estabelece princípios e diretrizes para 
a formulação e a implementação de políticas públicas para a primeira infância, ou seja, 
os primeiros 06 anos de vida. 
É relevante ressaltar que o ECA, no artigo 2º, em seu parágrafo único, permite que o 
atendimento aos adolescentes ultrapasse o limite dos 18 anos de idade em situações 
excepcionais. Isso ocorre em face da hipótese da maioridade civil, pois, à época da 
entrada em vigor do estatuto, estava vigente o antigo Código Civil, a Lei nº 
3.071/1916. Com a chegada do novo Código Civil em 2002, a Lei nº 10.406/2002, foi 
alterada a maioridade civil, sendo esta reduzida para 18 anos de idade (CC, art. 
5º, caput). 
É possível, dessa forma, o atendimento aos adolescentes que tenham mais de 18 anos de 
idade, por exemplo, a possibilidade de adoção de maior de 18 anos, nas hipóteses em 
que o adotando já se encontre sob os cuidados e a guarda dos adotantes, conforme 
previsto no artigo 40 do ECA, ou quando, por exemplo, é autorizada a aplicação e o 
cumprimento de medida socioeducativa de internação até os 21 anos de idade, conforme 
previsto no artigo 121, parágrafo 5º do mesmo estatuto. 
Atenção! 
É importante destacar a Lei nº 13.431/2017, que estabeleceu o sistema de garantia de 
direitos da criança e do adolescente vítima ou testemunha de violência. Ela cria 
mecanismos para prevenir e coibir a violência e dispõe sobre a hipótese de aplicação 
excepcional de seus preceitos para as pessoas entre 18 e 21 anos: 
“Art. 3. Na aplicação e interpretação desta lei serão considerados os fins 
sociais a que ela se destina e, especialmente, as condições peculiares da 
criança e do adolescente como pessoas em desenvolvimento, às quais o 
Estado, a família e a sociedade devem assegurar a fruição dos direitos 
fundamentais com absoluta prioridade.” 
“Parágrafo único. A aplicação desta lei é facultativa para as vítimas e 
testemunhas de violência entre 18 (dezoito) e 21 (vinte e um) anos, 
conforme disposto no parágrafo único do art. 2º da Lei nº 8.069, de 13 de 
julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente).” 
(BRASIL, 2017) 
Sendo assim, o jovem terá um tratamento diferenciado, como escuta e depoimento especiais, 
visando oferecer a ele um sistema que lhe proteja os direitos de maneira mais eficaz, mesmo que 
a apuração da violência ocorra depois de a vítima ou testemunha ter atingido a maioridade. 
Criança e adolescente como sujeitos de direitos fundamentais 
Os direitos fundamentais da criança e do adolescente estão previstos no ECA, a partir do artigo 
7º, os quais, pela leitura do Livro, depreendemos que são os mesmos direitos de qualquer pessoa 
humana. No entanto, por se tratarem de pessoas em desenvolvimento, deverão ter oportunidades 
que potencializem o seu estado físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de 
liberdade e dignidade. Conforme o disposto no artigo 3º do ECA, incluído pela Lei nº 
13.257/2016: 
“Art. 3º. A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à 
pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-
lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes 
facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de 
liberdade e de dignidade.” 
“Parágrafo único. Os direitos enunciados nesta Lei aplicam-se a todas as crianças e 
adolescentes, sem discriminação de nascimento, situação familiar, idade, sexo, raça, 
etnia ou cor, religião ou crença, deficiência, condição pessoal de desenvolvimento e 
aprendizagem, condição econômica, ambiente social, região e local de moradia ou outra 
condição que diferencie as pessoas, as famílias ou a comunidade em que vivem.” 
(BRASIL, 2016) 
Em consonância com o previsto no artigo descrito, podemos estabelecer três princípios básicos 
que norteiam a proteção dos direitos fundamentais da criança e do adolescente, resguardando a 
situação de sujeitos de direito deles. São eles: 
A - A criança e os adolescentes gozam de todos os direitos fundamentais assegurados a toda 
pessoa humana; 
B - Possuem direito à proteção integral; 
C - A eles são garantidos todos os instrumentos necessários para assegurar seu desenvolvimento 
físico, mental, moral e espiritual, em condições de liberdade e dignidade. 
 
Adotando a Doutrina de Proteção Integral, que atribui a função de resguardar a criança e o 
adolescente não apenas ao Estado mas também à família e à própria sociedade, e seguindo a 
orientação do texto constitucional (art. 227, CF/1988), o ECA mantém tal diretriz de forma 
expressa estabelecendo que, primeiramente, a família e, supletivamente, o Estado e a sociedade 
têm o dever de assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos fundamentais. 
Deixa claro que não é suficiente que um órgão ou entidade se encarregue de tal função; é 
necessário que haja um esforço conjunto, uma atuação articulada entre família, Estado e 
sociedade: 
“Art. 4º. É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do 
poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos 
referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à 
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à 
convivência familiar e comunitária. 
Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende: 
a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias; 
b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância 
pública; 
c) preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas; 
d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a 
proteção à infância e à juventude.” 
(BRASIL, 1990) 
Atenção! 
 
É importante ressaltar que o ECA destaca, em primeiro lugar, a participação da família 
como forma de resguardar a criança e o adolescente, pois se entende que antes de 
qualquer outro órgão, a família é responsável por todo o trabalho desenvolvido em 
benefício das crianças e dos adolescentes, pela proteção e segurança destes. 
No artigo 19 do ECA é enfatizado novamente o convívio não apenas com a família, mas 
com a comunidade, agora como direito; registrando expressamente que “Toda criança 
ou adolescente tem direito a ser criado e educado no seio da sua família e 
excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência familiar e 
comunitária, em ambiente que garanta seu desenvolvimento integral”. Nota-se, por 
conseguinte, a preocupação não apenas com relação ao jovem infrator, como ocorria nos 
códigos anteriores (Código de Menores), mas efetivamente com o ser humano criança e 
com o ser humano adolescente. 
Digiácomo e Digiácomo referem-se à garantia de prioridade prevista no parágrafo único 
do artigo 4º, que deverá ser promovida e fiscalizada pelo Ministério Público, do 
seguinte modo: 
“[...] o princípio da prioridade absoluta à criança e ao adolescente deve 
nortear a atuação de todos, em especial do Poder Público, para 
defesa/promoção dos direitos asseguradosa crianças e adolescentes. A 
clareza do dispositivo em determinar que crianças e adolescentes não apenas 
recebam uma atenção e um tratamento prioritários por parte da família, 
sociedade e, acima de tudo, do Poder Público, mas que esta prioridade seja 
absoluta (ou seja, antes e acima de qualquer outra), somada à regra básica de 
hermenêutica, segundo a qual “a lei não contém palavras inúteis”, não dá 
margem para qualquer dúvida acerca da área que deve ser atendida em 
primeiríssimo lugar pelas políticas públicas e ações de governo. O 
dispositivo, portanto, estabelece um verdadeiro comando normativo dirigido 
em especial ao administrador público, que em suas metas e ações não tem 
alternativa outra além de priorizar – e de forma absoluta – a área infanto-
juvenil, como vem sendo reconhecido de forma reiterada por nossos 
Tribunais (exemplos dessa jurisprudência se encontram compilados ao longo 
da presente obra).” 
(DIGIÁCOMO; DIGIÁCOMO, 2017) 
A destinação privilegiada dos recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção à 
infância e à juventude está assegurada no próprio ECA por meio dos artigos 59, 87, 88 e 
artigo 261, parágrafo único. 
Voltado à proteção da criança e do adolescente, o ECA estabelece ainda, em seu artigo 
5º, que é dever de todos a função de velar por direitos das crianças e adolescentes, 
impedindo que sejam submetidos a negligência, discriminação, exploração, violência, 
crueldade e opressão: 
“Art. 5º. Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de 
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, 
punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus 
direitos fundamentais.” 
(BRASIL, 1990) 
Tal previsão não faz diferenciação diante da ação ou da omissão. Não é relevante de que forma 
a conduta ocorreu, de modo que, em ambas as situações, o indivíduo deverá ser punido, pois o 
objetivo primordial é resguardar os direitos fundamentais da criança e do adolescente afirmando 
o princípio da proteção integral destes, bem como o princípio da prioridade absoluta. 
Como já foi dito anteriormente, as crianças e os adolescentes possuem os mesmos direitos 
fundamentais que qualquer outra pessoa, ou seja, possuem direito à vida, à saúde, à educação, 
ao lazer, à liberdade, entre outros, ressalvado o fato de serem pessoas em desenvolvimento. 
Ciente de tal situação especial, o ECA registra, no artigo 15, um tópico destinado ao direito à 
liberdade e ao respeito, a saber: “A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e 
à dignidade como pessoas humanas em processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos 
civis, humanos e sociais garantidos na Constituição e nas leis” (BRASIL, 1990). 
Como se observa, o ECA enfatiza novamente que se está tratando não de objetos de proteção, 
mas de sujeitos de direitos e, como tal, devem ser tratados e respeitados, ressaltando o princípio 
da dignidade humana previsto pela Declaração Universal dos Direitos do Homem e consagrado 
universalmente. 
Como bem ressalta o artigo transcrito anteriormente, à criança e ao adolescente são destinados 
não apenas os direitos humanos fundamentais, mas também os direitos civis e sociais, de tal 
forma que a violação de tais direitos repercutirá em sanções legais, para mera exemplificação. 
Vejamos a decisão acerca do abandono paterno: 
“INDENIZAÇÃO DANOS MORAIS. RELAÇÃO PATERNO-FILIAL. 
PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. PRINCÍPIO DA 
AFETIVIDADE. A dor sofrida pelo filho, em virtude do abandono paterno, 
que o privou do direito à convivência, ao amparo afetivo, moral e psíquico, 
deve ser indenizável, com fulcro no princípio da dignidade da pessoa 
humana.” 
(TA/MG. 7ª C. Civ. Ap. Civ. n° 408.550-5. Rel. Juiz Unias Silva. J. em 01/04/2004) 
A relação de paternidade não é apenas um direito do pai, mas da criança e do adolescente, 
devendo-lhes ser, portanto, assegurado. O descumprimento de tal direito importará a 
possibilidade de ação judicial e a respectiva indenização, ainda que não se tenha por interesse 
tornar patrimonial o sentimento, a relação entre pai e filho. O que se pretende em si é aplicar 
uma sanção ao descumprimento do direito inerente à criança e ao adolescente. 
Critério de interpretação do estatuto 
Quando se fala em Estatuto da Criança e do Adolescente, em hipótese alguma poderá a 
interpretação da norma ocorrer de modo a prejudicar a criança ou o adolescente – e não poderia 
ser diferente, uma vez que são os destinatários da Doutrina de Proteção Integral adotada pela 
legislação específica. 
O ECA, em seu artigo 6º, inspirado no artigo 5º da Lei de Introdução às Normas do Direito 
Brasileiro (BRASIL, 1942), estabelece que a lei deverá ser interpretada considerando-se “os 
fins sociais a que ela se dirige, as exigências do bem comum, os direitos e deveres individuais e 
coletivos, e a condição peculiar da criança e do adolescente como pessoas em desenvolvimento” 
(BRASIL, 1990). Nesse sentido, já se manifestou o Supremo Tribunal Federal: 
“ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE – 
INTERPRETAÇÃO. O Estatuto da Criança e do Adolescente há de ser 
interpretado dando-se ênfase ao objetivo visado, ou seja, a proteção e a 
integração do menor no convívio familiar e comunitário, preservando-se-lhe, 
tanto quanto possível, a liberdade. Estatuto da Criança e do Adolescente – 
segregação. O ato de segregação, projetando-se no tempo medida de 
internação do menor, surge excepcional, somente se fazendo alicerçado uma 
vez atendidos os requisitos do artigo 121 da Lei nº 8.069/90.” 
(STF. 1ª T. HC nº 88945/SP. Rel. Min. Marco Aurélio Melo. J. em 04/03/2008). 
Dessa forma, podemos afirmar que, ao interpretar o ECA, sempre será priorizado o fim social 
ligado à proteção integral da criança e do adolescente, sobrepondo-se a qualquer outro bem ou 
interesse judicialmente tutelado, levando em conta a destinação social da lei e a condição de 
pessoas em desenvolvimento. 
Saiba mais! 
Negligência deriva do latim negligentia e significa desatenção, desleixo. É um ato omissivo, 
por exemplo, a falta de cuidados pelo responsável legal. 
Discriminação é a segregação, a diferenciação, seja por motivos relacionados a etnia, religião, 
gênero, orientação sexual, nacionalidade etc., por exemplo, quando não se quer proximidade 
com criança ou adolescente em razão da cor deles. 
Exploração é a forma de extrair de modo irregular algum proveito da conduta da criança ou do 
adolescente, como ocorre, por exemplo, com os denominados “pais de rua”, os quais colocam 
os filhos para pedir esmolas nos semáforos. 
Violência, crueldade e opressão são condutas coercitivas contra o adolescente, causando-lhe 
dor e sofrimento. 
Cabe dano moral para criança de 3 anos? 
A Ministra Nancy Andrighi do Superior Tribunal de Justiça (STJ), no julgamento do Recurso 
Especial de nº 107.775-9, em 23 de fevereiro de 2010, citando o art. 3º do ECA, reconheceu que 
as crianças e os adolescentes possuem o mesmo direito que a pessoa humana adulta, e assim 
fixou uma indenização no valor de R$ 4.000,00 a uma criança de três anos em razão de 
deficiência na prestação do serviço médico e recusa na feitura do exame radiológico (Resp. 
103.775-9, j. 23-2-2010). 
Atenção! 
Nas comunidades indígenas, não é comum a utilização da expressão adolescente. 
Em relação às crianças e adolescentes indígenas, o Conselho Nacional dos Direitos da 
Criança baixou, em 2003, a Resolução 91, regulamentando a aplicação do ECA para eles, 
devendo ser observadas as peculiaridades socioculturais das comunidades indígenas, em 
consonância com o art. 231 da CF (BRASIL, 1988). 
Ocorre que o índio, ao passar pela puberdade e pelo seu respectivo “ritual de passagem”, 
deixa de ser criança e é considerado um adulto. 
 
O ECA tem por objetivo a proteção integral, de modo que cada cidadão brasileiro que 
nasce tenha assegurado seu pleno desenvolvimento, desde as exigências físicasaté o 
aprimoramento moral e religioso. 
   
O ECA adota, por conseguinte, a teoria de Proteção Integral, definindo que a função de 
resguardar a criança e o adolescente não é apenas uma função do Estado, mas também 
da família e da própria sociedade. Seguindo a orientação constitucional, o estatuto 
mantém a mesma diretriz de forma expressa estabelecendo que, primeiramente, a 
família e, supletivamente, o Estado e a sociedade têm o dever de assegurar, com 
absoluta prioridade, a efetivação dos direitos fundamentais. 
Deixa claro que não é suficiente que um órgão ou entidade se encarregue de tal 
função, é necessário que haja um esforço conjunto, uma atuação articulada entre 
família, Estado e sociedade. 
Atividade 
1. O artigo 4º da Lei Federal nº 8.069/90, ECA, estabelece que é dever da família, da 
comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a 
efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao 
lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência 
familiar e comunitária e, em seu parágrafo único, esclarece que a garantia de prioridade 
compreende, além de outras, a: 
a) Primazia na destinação de recursos voltados à proteção e ao socorro nas instituições públicas. 
b) Primazia na destinação de recursos para atendimento emergencial exclusivamente no sistema 
público de saúde. 
c) Primazia na formulação e na execução das políticas públicas voltadas ao esporte. 
d) Destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção à infância 
e à juventude. 
e) Destinação privilegiada de recursos materiais e financeiros voltados ao atendimento em 
instituições particulares especializadas. 
Resposta correta: letra d. 
O princípio da prioridade absoluta à criança e ao adolescente tem por base a atuação de todos 
(família, comunidade e Estado), para defesa e promoção dos direitos assegurados a crianças e 
adolescentes. 
2. O ECA, em vigor no Brasil a partir da Lei nº 8.069, desde 1990, dispõe sobre a atenção 
integral à criança e ao adolescente. De acordo com tal estatuto, assinale a alternativa correta: 
a) É considerada adolescente a pessoa entre 14 e 18 anos. 
b) É considerada adolescente a pessoa a partir dos 15 anos de idade completos. 
c) É considerada criança a pessoa até 12 anos de idade incompletos. 
d) É considerada adolescente a pessoa a partir dos 13 anos. 
e) É considerada criança a pessoa até 12 anos completos. 
Resposta correta: letra c. 
O ECA tem como objetivo distinguir o atendimento socioeducativo, pela definição dos 
conceitos de criança e adolescente fundados no aspecto da idade, não levando em consideração 
a condição social ou econômica, ponderando apenas o processo de desenvolvimento físico e 
intelectual em que tanto a criança como o adolescente estejam. 
3. Assinale V (Verdadeiro) ou F (Falso) para as assertivas a seguir: 
a) O ECA tem por objetivo a proteção integral, de modo que cada cidadão brasileiro que nasce 
tenha assegurado seu pleno desenvolvimento, desde as exigências físicas até o aprimoramento 
moral e espiritual. 
Verdadeiro Falso 
b) Devemos entender por proteção integral o conjunto amplo de mecanismos jurídicos voltados 
à tutela da criança e do adolescente, não tendo ligação com o princípio do melhor interesse 
infanto-juvenil. 
Verdadeiro Falso 
c) Criança é aquela pessoa com 12 anos incompletos; adolescente, dos 12 anos completos aos 
18 anos incompletos. 
Verdadeiro Falso 
d) O ECA está voltado para o desenvolvimento da população infanto-juvenil do país, garantindo 
proteção especial a este segmento considerado composto por pessoas em desenvolvimento. 
Verdadeiro Falso 
Resposta correta: V, F, V, V. 
A terceira assertiva é falsa, pois fere a real intenção do ECA, uma vez que todos os mecanismos 
criados para a promoção e a proteção dos direitos da criança e do adolescente devem sempre 
estar em consonância com o melhor interesse de ambos. 
4. Julgue certo ou errado o item subsecutivo acerca do ECA. 
“O poder público, a família, a sociedade e a comunidade devem garantir a efetivação dos 
direitos da criança e do adolescente”. 
Resposta correta: CERTO. 
É função não apenas do Estado resguardar, promover e proteger os direitos das crianças e dos 
adolescentes, mas também da família e da comunidade, conforme preceitua o Estatuto da 
Criança e do Adolescente. 
5. Preencha corretamente as lacunas do texto a seguir. 
É dever da família, da , da sociedade em geral e do assegurar, 
com , a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à 
educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à 
liberdade e à convivência familiar e comunitária. 
Comunidade; poder público; absoluta prioridade. 
 
Aula 3 – Dos direitos fundamentais da criança e do adolescente 
Apresentação 
Direitos fundamentais da criança e do adolescente, como o direito à vida e à saúde, o direito à 
liberdade, ao respeito e à dignidade, o direito à convivência familiar e à comunitária, o direito à 
educação, à cultura, ao esporte e ao lazer, o direito à profissionalização e à proteção no trabalho, 
compreendendo que tais indivíduos em formação são sujeitos de direitos básicos. A condição de 
pessoas em desenvolvimento desse grupo especial o torna detentor de oportunidades e 
faculdades que potencializam seu estado físico, mental, moral, espiritual e social, em condições 
de liberdade e dignidade. 
Objetivos 
 Descrever os direitos fundamentais da criança e do adolescente; 
 Reconhecer que a criança e o adolescente são sujeitos de direitos fundamentais; 
 Demonstrar que a criança e o adolescente são detentores de oportunidades e faculdades 
que potencializam o estado físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de 
liberdade e dignidade. 
Direitos e garantias fundamentais da criança e do adolescente 
As crianças e os adolescentes foram reconhecidos, pela Constituição Federal de 1988 e, 
posteriormente, pelo Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990, como sujeitos de direitos 
humanos fundamentais e, consequentemente, passaram a receber um tratamento jurídico 
diferenciado. 
Mas quais são os direitos devidos a esse grupo especial de seres em 
desenvolvimento? 
Eles são os mesmos direitos de qualquer pessoa humana, a começar pelo direito à vida, pois, 
sem ela, todos os outros direitos não fazem sentido. 
Dos direitos fundamentais 
Recepcionando a Doutrina da Proteção Integral, a Constituição da República Federativa 
do Brasil (CF), promulgada em 5 de outubro de 1988, passou a atribuir uma gama de garantias 
e direitos à criança e ao adolescente, corroborando a teoria de que são sujeitos de direitos. O 
artigo 227 faz referência expressa aos direitos considerados fundamentais, os quais, portanto, 
não podem ser suprimidos ou desconsiderados por qualquer indivíduo ou pelo Poder Público: 
"Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente 
e jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao 
lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência 
familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, 
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão." 
- Brasil, 2008-B. 
Os direitos descritos no artigo 227 da CF são de caráter prestacional, ou seja, os pais ou 
responsáveis, a sociedade e o Poder Público têm o dever de prestá-los. Eles foram 
recepcionados pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) de tal forma que: 
 Do art. 7º ao art. 14º - Estão previstos o direito à vida e à saúde. 
 Do art. 15º ao art. 18º - Estão previstos os direitos relacionados à liberdade, ao respeito 
e à dignidade humana. 
 Do art. 19º ao art. 52º - Estão previstos os direitos relativos ao direito à convivência 
familiare comunitária. 
 Artigo 59º - Estão previstos os pontos relativo à cultura, ao esporte e ao lazer. 
 Do art. 60º ao art. 69º - Estão previstos os direitos relativos à profissionalização e ao 
trabalho. 
Direito à vida e à saúde 
Dentre os direitos fundamentais protegidos e assegurados pela lei, o direito à vida destaca-se 
pela importância, pois não seria possível tratar de qualquer outro tipo de tutela de direitos ou 
princípios e regras sem a existência da vida humana. 
Com ele, desponta o direito à saúde, pois não há sentido em defender o direito à vida sem que 
haja saúde. Para tanto, o referido artigo obriga o Poder Público, nas esferas federal, estadual e 
municipal, a reservar parte do orçamento à aplicação de ações com vistas ao atendimento do 
bem coletivo. 
As medidas protetivas não se destinam apenas às crianças e aos adolescentes, mas também 
àquele que ainda vai nascer, passando, por conseguinte, pelo cuidado com a gestante e o 
atendimento hospitalar. 
Desse modo, a redação das Leis nº 13.257/2016 e nº 13.798/2019 garante o acesso aos 
programas e às políticas de saúde da mulher e de planejamento reprodutivo. Institui a Semana 
Nacional de Prevenção da Gravidez na Adolescência, objetivando difundir informações sobre 
medidas preventivas e educativas que permitam a redução da gravidez juvenil. 
Da mesma maneira, o ECA determina que o Estado e os empregadores da iniciativa privada têm 
o dever de proporcionar condições adequadas para o aleitamento materno (art. 9º). O direito ao 
aleitamento está previsto inclusive na Consolidação dos Direitos Trabalhistas, a qual, em seu 
artigo 396, prevê o direito de aleitamento à empregada, bem como às mães que estejam 
cumprindo medida socioeducativa de privação de liberdade, conforme o artigo 63 §2º da Lei nº 
12.594/2012, que cria o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE). 
Recuperação da criança e do adolescente internados 
Assegurar condições adequadas para a recuperação da criança e do adolescente internados 
também é tema do ECA. Este determina que as instituições hospitalares devam proporcionar 
condições aos pais ou responsável, para que permaneçam com a criança ou o adolescente 
internado em tempo integral. 
Desfrutar a companhia dos pais é um direito deles e, como tal, deve ser 
resguardado. Caso haja violação desse direito, responde-se judicialmente. 
O artigo 10º do ECA traz um rol de obrigações a serem cumpridas por todos os 
estabelecimentos de saúde e hospitais, sejam eles públicos ou particulares, visando 
regular a adequada identificação dos recém-nascidos e de suas genitoras, para evitar a 
troca de identidades e garantir a orientação e o acompanhamento técnico no período das 
primeiras amamentações: 
"Art. 10. Os hospitais e demais estabelecimentos de atenção à saúde de gestantes, 
públicos e particulares, são obrigados a: 
I. Manter registro das atividades desenvolvidas, através de prontuários 
individuais, pelo prazo de dezoito anos; 
II. Identificar o recém-nascido mediante o registro de sua impressão 
plantar e digital e da impressão digital da mãe, sem prejuízo de outras 
formas normatizadas pela autoridade administrativa competente; 
III. Proceder a exames visando ao diagnóstico e terapêutico de 
anormalidades no metabolismo do recém-nascido, bem como prestar 
orientação aos pais; 
IV. Fornecer declaração de nascimento onde constem necessariamente as 
intercorrências do parto e do desenvolvimento do neonato; 
V. Manter alojamento conjunto, possibilitando ao neonato a permanência 
junto à mãe; 
VI. Acompanhar a prática do processo de amamentação, prestando 
orientações quanto à técnica adequada, enquanto a mãe permanecer na 
unidade hospitalar, utilizando o corpo técnico já existente. 
- Brasil, 2008-A. 
SUS, pessoa com deficiência e integridade da criança 
Conforme prevê o ECA, fica a cargo do Sistema Único de Saúde (SUS) a promoção de 
programas de assistência médica e odontológica (art. 14, ECA) para a prevenção das 
enfermidades que afetam a população infantil, bem como a realização de campanhas de 
educação sanitária para pais e educadores de modo que o “oferecimento irregular ou não 
oferecimento dos programas preventivos poderá implicar em responsabilidade civil e 
administrativa do gestor” (art. 208, VII, ECA). Assegura, ainda, que criança e adolescentes 
tenham acesso integral às linhas de cuidado voltadas à saúde, por intermédio do SUS, observado 
o princípio da equidade (art. 11, ECA). 
Este dispositivo está de acordo com as diversas normas internacionais e pátrias sobre a matéria, 
como a Convenção dos Direitos da Criança (art. 23), a Convenção Internacional sobre os 
Direitos das Pessoas com Deficiência, a Lei nº 7.853/1989, que dispõe sobre as pessoas 
portadoras de deficiência e sua integração social, e a Lei nº 13.146/2015, que instituiu 
o Estatuto da Pessoa com Deficiência. 
Com o fim de evitar a violência contra a criança ou o adolescente, a suspeita de que tenham 
sofrido castigo físico, tenham sido submetidos a tratamento cruel e degradante, ou estejam 
sofrendo ou tenham sofrido maus-tratos, indiferentemente de quem esteja praticando tais atos, 
ou ainda que decorra de negligência, deverá ser comunicada ao Conselho Tutelar, que 
encaminhará a notícia ao Ministério Público (art. 136, IV, ECA), para que seja proposta a ação 
penal competente contra os infratores ou seja requerido o afastamento do agressor da moradia 
comum, resguardando a criança ou o adolescente (art. 130, ECA; art. 21, II, Lei nº13.431/2017), 
ou ainda a suspensão ou destituição do poder familiar (art. 201, III; art. 155 a 163, ECA). 
Como se vê é necessária a perfeita articulação entre os órgãos para que os direitos da criança e 
do adolescente sejam efetivamente resguardados e respeitados. Os doutrinadores afirmam que a 
clara omissão da comunicação exigida pelo ECA representa uma infração administrativa, 
conforme previsto no artigo 245 do estatuto. 
Ainda no que se refere à integridade da criança e do adolescente, e visando inibir práticas 
ilegais, o ECA prevê, em seu artigo 13º §1º, o parto anônimo. As gestantes que tiverem 
interesse em entregar o filho para adoção devem ser encaminhadas, sem qualquer forma de 
constrangimento, à Justiça da Infância e Juventude, bem como deverão receber orientação não 
apenas jurídica mas psicológica. Dessa forma, a criança, resguardada a identificação da 
paternidade (Lei nº 8.560/1992), poderá permanecer no seio familiar ou então ser adotada 
legalmente. O §2º confere máxima prioridade ao atendimento das crianças na faixa etária da 
primeira infância caso haja suspeita ou confirmação de violência de qualquer natureza. Um 
projeto terapêutico singular que inclua intervenção em rede e, se necessário, acompanhamento 
domiciliar deve ser formulado. 
A Lei nº 13.010/2014 (BRASIL, 2014), que ampliou a redação do caput do art. 13, para 
estabelecer o direito da criança e do adolescente de serem educados e cuidados sem o uso 
de castigos físicos 
1
 (É toda ação de natureza disciplinar ou punitiva aplicada com o uso da força 
física sobre a criança ou o adolescente que resulte em: a) sofrimento físico; ou b) lesão.) ou 
de tratamento cruel ou degradante 
2 
(É a conduta ou forma cruel de tratamento em relação à 
criança ou ao adolescente que: a) humilhe; ou b) ameace gravemente; ou c) ridicularize.), foi 
batizada inicialmente como “Lei da Palmada”. Atualmente ela é reconhecida como “Lei Menino 
Bernardo”, em homenagem ao menino gaúcho Bernardo Boldrini, de 11 anos, que foi 
encontrado morto no mês de março de 2014, na cidade de Três Passos (RS). O crime foi 
cometido pelo pai e pela madrasta. 
Atividade 
1. Acerca dos direitos fundamentais inerentes à criança e ao adolescente, assinale a 
opção correta: 
a) Incumbe ao poder público proporcionar assistência psicológica à gestante e à mãe no pré e no 
pós-natal, desde que esta não manifeste interesse em entregar os filhos à adoção.b) No SUS, não há previsão legal de atendimento preferencial da parturiente pelo médico que a 
acompanhou no período pré-natal. 
c) É previsto atendimento pré e perinatal à gestante, por meio do SUS, incluindo assistência 
psicológica, como forma de prevenir ou minorar as consequências de estado puerperal. 
d) Incumbe ao poder público proporcionar apoio alimentar somente à nutriz; pois isso, resultará 
no desenvolvimento físico adequado da criança. 
e) Para que a gestante seja encaminhada aos diferentes níveis de atendimento, basta que haja 
necessidade específica. 
Resposta correta: letra c. 
Uma gestação adequada previne doenças e permite o desenvolvimento sadio do 
feto, de maneira que o recém-nascido terá melhores condições de vida. Por 
intermédio da Lei nº 13.257/2016, a gestante teve ampliado o rol de suas 
garantias para uma gestação saudável e para um parto que respeite a dignidade 
desse momento especial e importante no ciclo da vida. O § 4º do artigo 8º prevê o 
dever de prestar assistência psicológica à mulher durante a gestação, e após o 
parto, com foco na prevenção do estado puerperal. 
Do direito à liberdade, ao respeito e à dignidade 
O Capítulo II do ECA vincula-se ao princípio da dignidade humana referenciado pelo texto 
constitucional em seus artigos 1º e 5º. O princípio reconhecido internacionalmente aplica-se a 
todo e qualquer indivíduo indiferentemente de idade, sexo, raça, cor e condição econômica, 
entre outros. 
Dessa forma, a liberdade, o respeito e a dignidade da pessoa humana são valores 
sociais que permeiam todo o sistema normativo. 
O artigo 15º do ECA garante a liberdade, o respeito e a dignidade às crianças e adolescentes, 
considerando a peculiaridade de se tratar de pessoas em processo de desenvolvimento e sujeitos 
de direitos civis, humanos e sociais. 
O texto legal garante a liberdade sob as suas mais variadas formas: 
 A liberdade de ir e vir bem como de estar nos logradouros públicos e espaços 
comunitários ressalvadas as restrições legais; 
 A liberdade de opinião e de expressão; 
 O direito de crença e de culto religioso, de brincar, de praticar esportes e se divertir; 
 A liberdade de participar da vida familiar e comunitária sem discriminação, de 
participar da vida política e buscar refúgio, auxílio e orientação. 
 
São direitos que devem ser assegurados e muitos dependem da articulação de diversos órgãos 
para efetivação, a exemplo da Lei nº 10.891/2004 que criou a Bolsa Atleta para atletas 
olímpicos e paraolímpicos, de forma a incentivar a prática de esportes; a necessidade de 
participação da família na orientação e educação das crianças e dos adolescentes que, muitas 
vezes, acabam por necessitar de apoio e orientação de órgãos e programas específicos de 
atendimento à criança. 
No que diz respeito ao divertimento, há outros dispositivos que tutelam o ingresso e a 
permanência de crianças e adolescentes em shows e casas de espetáculos (art. 74-76, ECA). 
Atenção! 
O direito ao respeito previsto no ECA se vincula à integridade física, psicológica e 
moral, abrangendo a preservação da identidade, da autonomia, dos valores, da ideias e 
das crenças bem como a preservação dos espaços e objetos pessoais da criança e do 
adolescente, evitando traumas e exposições que muitas vezes trazem consequências 
irreversíveis. Ressaltamos que a violação de qualquer desses direitos caracteriza o 
desrespeito ao princípio da proteção integral e do melhor interesse da criança, sendo 
passível, em algumas situações, de indenização, como na divulgação de imagem sem 
autorização dos pais ou responsáveis. 
Diante do exposto é que a lei estabelece que não se trata apenas de um dever dos pais ou 
do Estado mas de todos, sejam governantes ou não, a proteção da criança e do 
adolescente inibindo todo o tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou 
constrangedor (art. 18, ECA). A criança e o adolescente detêm o direito de serem 
educados sem o uso de castigo físico, tratamento cruel ou degradante como forma de 
correção, disciplina e educação. 
Dessa forma, e considerando o respeito aos direitos da criança e do adolescente, todos 
têm o dever de atuar em defesa destes diante de uma violação ou ameaça de violação, 
sob pena de responsabilização pela omissão. 
A liberdade de participar da vida familiar e comunitária sem discriminação é um direito 
garantido pelo artigo 15º do ECA. 
Direito à convivência familiar e comunitária 
O ECA enfatiza a necessidade da convivência familiar e comunitária, sendo percebida como 
direito fundamental, uma vez que os laços familiares têm como objetivo educar, preparar e 
proteger emocionalmente as crianças e os adolescentes, conduzindo-os no desenvolvimento 
integral. Por sua vez, a comunidade permitirá ao jovem em fase de aprendizado o envolvimento 
com os valores sociais e políticos que lhe regerão a vida cidadã. Essa percepção encontra 
embasamento e fortalecimento no artigo 6º da Declaração Universal dos Direitos da 
Criança e do artigo 226 da CF. 
A Lei nº 13.257/2016, Lei da Primeira Infância, estabelece políticas públicas para a primeira 
infância, período que abrange os primeiros 06 anos de vida (art. 2º). As políticas públicas para 
qualquer pessoa entre 0 e 18 anos não podem ser iguais, é necessário elaborar programas 
diferentes a partir das necessidades de cada faixa etária, peculiaridade social e regional. 
O ECA, em suas disposições gerais, estabelece no art. 19 que “é direito da criança e do 
adolescente ser criado e educado no seio de sua família e, excepcionalmente, em família 
substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária, em ambiente que garanta seu 
desenvolvimento integral”. Dessa forma, em busca da efetividade do princípio do melhor 
interesse, a preferência para a criação das crianças e dos adolescentes será em primeiro lugar 
dos parentes consanguíneos; porém, ao se tornar nociva ou mesmo perigosa, ou a manutenção 
da convivência com a família natural não sendo mais possível, a lei permite que a criança ou o 
adolescente seja inserido numa família substituta por meio de um processo de guarda, tutela ou 
mesmo adoção. 
Se, de um lado, a lei prioriza o convívio familiar; por outro, ela possibilita o convívio fora dela. 
Há programas de acolhimento institucional que configuram uma situação transitória, a qual não 
pode durar mais de dois anos. Fica claro, portanto, que o principal objetivo é evitar o 
afastamento prolongado ou indefinido da criança ou do adolescente, não prejudicando os laços 
familiares. Durante o período de acolhimento há, também, a preocupação com a família. Esta 
deverá ser inserida em programas e serviços de orientação e promoção social. Até mesmo em 
casos em que os pais estejam privados da liberdade deve ser assegurado à criança ou ao 
adolescente o direito de visitá-los para que não percam os vínculos familiares. 
A mesma lei também introduziu o artigo 19-B, destacando o apadrinhamento. Este consiste em 
um programa de atendimento, nos termos do artigo 86 e seguintes do ECA, podendo ser 
realizado no âmbito das entidades de atendimento governamental ou não. Consiste em oferecer 
à criança e ao adolescente com poucas chances de adoção a oportunidade de desenvolver 
vínculos externos às instituições em que residem e proporcionar o fortalecimento de valores 
sociais, morais, educacionais e cognitivos. O ECA (art. 20), em consonância com o texto 
constitucional (art. 227 §6º, CF), veda expressamente toda e qualquer discriminação entre os 
filhos, sejam eles havidos ou não durante a relação do casamento. 
Ainda sobre a convivência familiar, é importante mencionar o artigo 2º do ECA, no qual se 
adota a expressão “poder familiar” em substituição à expressão “pátrio poder”, sendo percebido 
o conjunto de direitos e deveres que competem aos pais, em absoluta igualdade de condições. O 
poder familiar, porém, somente poderá ser exercido por aquele que possuir plena capacidade

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