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Direito Civil II TRICOTOMIA

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A tricotomia existência-validade-eficácia
Embora, muitas vezes essas palavras sejam usadas como sinônimo, é importante lembrar que existem diferenças entre elas e ressaltar o significado de cada uma.
No plano de existência não se questiona a validade ou eficácia, bastar apenas existir, com todos os elementos materiais, e faltando apenas um elemento não ingressa no mundo jurídico; essa característica se vale do fato de que elemento é tudo que integra a essência de alguma coisa.
Para se tornar um ato válido, deve-se passar por uma triagem onde se identifica se é regular ou não, para então estabelecer um vínculo entre o ato ser existente e ter validade, tendo em vista que o fato pode existir, porém não ser válido.
O plano de validade é um dos requisitos do negócio jurídico, por ser uma das condições necessárias para o alcance de certo fim.
O novo Código Civil não adotou essa tricotomia, pois os fatos jurídicos já são baseados nessas requisitos. 
Uma vez estabelecida a validade do negócio jurídico, trata-se dois aspectos ligados a manifestação de vontade: a interpretação e a representação, seguidas das disciplinam-se a condição, o termo e o encargo, que são autolimitações da vontade.
Requisitos de existência
O que determina a existência de um negócio jurídico é sua estrutura, composta por: declaração da vontade, finalidade negocial e idoneidade do objeto.
Vale ressaltar, que estando ausentes qualquer um desses itens, o negócio inexiste.
Declaração de vontade
A vontade é um pressuposto básico para o negócio jurídico, pois, somente a vontade exteriorizada é o suficiente para compor essa relação. Ela possui um caráter subjetivo que se revela através da declaração.
Pelo princípio de autonomia da vontade, as pessoas possuem capacidade de concretizar os negócios jurídicos, desde que em conformidade com a lei, criando direitos e contraindo obrigações. Esse princípio pode sofrer algumas limitações, pois para evitar a opressão econômica dos mais fortes sob os mais fracos, o Estado interfere nestas manifestações. 
Uma vez que essa vontade é manifestada, o contraente adquire obrigação, o que chamamos de obrigatoriedade dos contratos, que estabelece uma lei entre as partes que não pode ser modificada, visando a segurança dos negócios em geral. Oposta a ela, encontra-se o princípio da revisão dos contratos ou da onerosidade excessiva, que autoriza a revisão dos contratos ante a ocorrência de fatos extraordinários e imprevisíveis. 
A manifestação de vontade pode ser expressa (se realiza através das palavras, faladas ou escritas, de gestos, sinais ou mimicas, onde se identifique de imediato a intenção do agente), tácita (quando a lei não exige que seja expressa) e presumida (quando não é declarado expressamente, mas a lei deduz através de certos comportamentos do agente)
O silêncio como manifestação de vontade
O silencio nada significa por não representar uma vontade, todavia, em caráter excepcional, em alguns casos ela pode ter um significado relevante e produzir efeitos jurídicos, podendo representar consentimento, portanto, cabe ao juiz examinar o caso e verificar se o silencio revela ou não vontade.
Reserva Mental
5.1 Conceito
Ocorre quando o declarante oculta sua verdadeira intenção, tendo objetivo de enganar o outro contraente, porém, se este não soube da reserva, ato subsiste e produz efeitos que o declarante não desejava. 
Este acontecimento é indiferente no mundo jurídico, e não possui ligação com a validade e eficácia do negócio jurídico. 
Efeitos
A reserva mental desconhecida da outra parte é irrelevante para o direito, pois a vontade declarada produzirá normalmente seus efeitos, por ser levada em consideração somente o que foi declarado. 
Se o declaratório, no entanto, conhece a reserva, não se torna nula a declaração de vontade, mas não há negócio. 
Finalidade Negocial
É o propósito de adquirir, conservar, modificar ou extinguir direitos, portanto, a existência de um negócio jurídico depende da expressão de vontade com finalidade negocial. Ela possui múltiplos efeitos.
Idoneidade do objeto
A idoneidade do objeto é essencial para realização do negócio jurídico, assim, se a intenção das partes é um contrato mutuo, a vontade deve recair sobre coisa fungível, para a celebração de comodato, é necessário que o bem dado em garantia seja infungível. 
Não se pode dar existência a um negócio, se o objeto sobre o qual recair não tiver idoneidade para tanto. 
Requisitos de validade
Para que um negócio jurídico tenha validade, em caráter geral, é necessário: o agente capaz, um objeto licito, possível determinado ou determinável e a forma prescrita ou não defesa em lei.
Os requisitos de caráter especifico são aqueles pertinentes a determinado negócio, como por exemplo: na compra e venda, os elementos essenciais são, a coisa, o preço e o consentimento.
8.1 Capacidade do agente
É a aptidão para intervir em negócios jurídicos como declarante o declaratório, obtendo capacidade de fato ou de exercício, para que uma pessoa possa exercer, por si só, os atos da vida civil.
Adquire-se com a maioridade, com 18 anos, ou com a emancipação. Incapacidade é a restrição legal ao exercício da vida civil, podendo ser absoluta (proibição total do exercício, não dependendo somente da idade, mas também de outras causas que reflitam falta de higidez mental, mesmo que transitória) e relativa (que resulta na anulabilidade do ato, salvo em hipóteses especiais, ou quando o incapaz é assistido por seu representante legal).
Cabe ressaltar que a declaração da vontade é essencial para a existência do negócio jurídico, mas a capacidade é requisito necessário para sua validade e eficácia. 
8.2 Objeto lícito, possível, determinado ou determinável
Objeto lícito, é aquele que não atenta contra a lei, a moral e os bons costumes; objeto jurídico, objeto imediato ou conteúdo do negócio é sempre uma conduta humana se denomina prestação: dar, fazer ou não fazer.
O objeto deve ser, portanto, possível, pois quando impossível o negócio é nulo. Essa impossibilidade pode ser física (emana de leis físicas ou naturais) ou jurídica (quando o ordenamento jurídico proíbe, expressamente, negócios a respeito de determinados bens). Ele, portanto, dever ser determinado ou determinável, admitindo-se assim, a venda de coisa incerta, indicada ao menos pelo gênero e pela quantidade e será determinada pela escolha, bem como a venda alternativa.
8.3 Forma
Este é o terceiro requisito da validade, e representa um meio de revelação da vontade. Deve ser prescrita em lei.
No direito brasileiro, essa forma é, em regra, livre. As partes podem celebrar o contrato por escrito, público ou particular, ou verbalmente, a não ser em casos que a lei exija maior segurança e seriedade ao negócio.
Podem ser definidas em três espécies: forma livre (qualquer meio de vontade, não importo obrigatoriamente pela lei), forma especial ou solene (exigida pela lei, como requisito de validade, para assegurar a autenticidade do negócio, pode ser única ou múltipla) e a forma contratual (convencionada pelas partes).
Da condição, do termo e do encargo
Além dos elementos estruturais e essenciais, a validade do negócio jurídico pode conter elementos acidentais, sendo estes, a condição, o termo e o encargo ou modo. Esses elementos acrescentam á figura típica do ato de mudar-lhe os respectivos efeitos.
9.1 – Condição
É o acontecimento futuro e incerto de que depende a eficácia do negócio jurídico. Possui como elementos a voluntariedade (as partes devem querer e determinar o evento), a futuridade (se observa que, em se tratando de fato passado ou presente, ainda que ignorado, não se considera condição) e também que seja incerto (podendo verificar-se ou não).
– Condição voluntária e condição legal
A condição voluntária é estabelecida pelas partes, enquanto a legal, é estabelecida por lei.
Existem ainda, negócios jurídicos que não admitem condição, que são denominados atos puros, que são resumidamente,a) atos jurídicos, que por sua função, inadmitem incerteza; b) atos jurídicos de senso estrito; c) atos jurídicos de família, onde não se atua o princípio da autonomia privada; d) aos referentes ao exercício dos direitos personalíssimos.
Classificação das condições 
As espécies de condições podem ser classificadas quanto a licitude, quanto à possibilidade, quanto à fonte de onde promanam e quanto ao modo de atuação.
Quanto à licitude: Podem ser licitas, em geral, não contrárias à lei, à ordem pública ou aos bons costumes, ou ilícitas que são aquelas que atentam contra proibição expressa ou virtual do ordenamento jurídico.
Quanto à possibilidade: Sendo elas possíveis ou impossíveis, físicas ou juridicamente; fisicamente impossíveis são aquelas que não podem ser cumpridas por nenhum ser humano. A condição juridicamente impossível é a que esbarra na proibição expressa no ordenamento jurídico ou fere a moral ou os bons costumes. Existe ainda uma condição suspensiva, onde a eficácia do contrato está a ela subordinada, se o evento é impossível, o negócio jamais alcançará a necessária eficácia.
Quanto à fonte de onde promanam: São classificadas em casuais, as quais dependem do acaso, de fato alheio a vontade das partes, ou dependem da vontade de um terceiro; as potestativas, que decorrem do poder ou vontade de uma das partes, podendo assim, provocar ou impedir sua ocorrência, essas são divididas em puramente potestativas, que são consideradas ilícitas pelo art. 122 do Código Civil, pois sujeitam-se ao livre arbítrio de uma das partes ou mero capricho e as simplesmente ou meramente potestativas, que são admitidas por dependerem não só da vontade de uma das partes como também de um acontecimento que escapa de seu controle; as mistas, que são condições que dependem simultaneamente da vontade de uma das partes e da vontade um terceiro.
As condições puramente potestativas, podem perder caráter, em razão de algum acontecimento inesperado, casual, que venha dificultar sua realização. As potestativas eram chamadas de promíscuas pelos romanos, porque de um momento para o outro podiam deixar de ser, passando a reger-se pelo acaso.
9.4 Retroatividade e irretroatividade da condição
A questão da retroatividade ou não da condição, diz respeito aos efeitos ex tunc e ex nunc, quando se admite a retroatividade, é como se o ato tivesse sido puro ou simples desde a origem.
O novo Código Civil não possui uma regra geral a respeito da retroatividade, no entanto, no sentido de que, com a superveniência da condição resolutiva, extingue-se o direito a que ela se opõe.
Não possuem grande importância essa questão, pois quer a retroatividade, quer seja a irretroatividade, são tantas as exceções, num e noutro caso, que acaba por existir mais similitude do que diferença.
9.5 Pendência, implemento e frustação da condição
São consideradas sob três estados. Enquanto não se verifica ou frustra o evento futuro e incerto, a condição encontra-se pendente, a verificação da condição é chamada de implemento e não realizada, ocorre a frustação.
Pendente, a condição suspensiva, enquanto não se adquire o direito que visa o negócio jurídico.
Verificada, a condição suspensiva, o direito é adquirido. 
Frustrada, a condição, onde o evento não se realiza no período previsto, ou se é certo que não se realizará, é como se o negócio jurídico nunca tivesse existido.
Termo
10.1 – Conceito
Termo é o dia ou momento que começa ou extingue a eficácia do negócio jurídico, podendo ter como unidade de medida e hora, o dia, o mês ou o ano.
Determinados negócios não admitem termo, como por exemplo, a aceitação ou renúncia de herança.
10.2 – Espécies
O termo pode ter várias espécies, temos então, o termo convencional, que é o posto no contrato pela vontade das partes, o termo de direito, o qual decorre da lei, e o termo de graça, que é a dilação de prazo concedida ao devedor.
Aplica-se ao termo todas as disposições relativas ás condições, desde que não contrariem a sua natureza.
10.3 – Os prazos e sua contagem
Prazo é o intervalo entre o termo a quo e o termo as quem, ou entre manifestação de vontade e o advento do termo. 
Os dias como unidade de tempo, contam-se da meia-noite à meia-noite seguinte, já os prazos, exclui o dia do começo e inclui-se o do vencimento, e se esse cair em feriado, prolonga-lo até o próximo dia útil, podendo o devedor renunciar ao prazo e antecipar o pagamento.
Os negócios onde não se estabelecem prazos, são “exequíveis desde logo”, porém a regra não é absoluta, pois alguns atos dependem de tempo.
11 – Encargo ou modo
É uma determinação que, imposta pelo autor de liberdade, a esta adere, restringindo-a.
O encargo é muito comum nas doações feitas ao município, em regra, são identificadas pelas expressões “para que”, “a fim de que”, “com a obrigação de”. Ele deve ser licito e possível, ausente uma dessas características, o negócio é inexistente.
O modo, tem a função de da relevância ou eficácia jurídica a motivos ou interesses particulares do autor da liberdade, reduzindo os efeitos dela e constituindo em obrigação de dar, de fazer ou não fazer.
A característica mais marcante, é sua obrigatoriedade, podendo seu cumprimento ser exigido por ação cominatória. Não se confunde o modo ou encargo com a situação subjetiva conhecida por ônus.

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