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LEI PENAL EXTRAVAGANTE 2

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Lavagem de Dinheiro
Lei 9613/98 
Caro aluno, você poderá encontrar o texto da Lei 9613/98 no final deste módulo. 
1 – Introdução
Entre os crimes que envolvem organizações criminosas, decorrendo delas e, ao mesmo tempo, viabilizando a sua perpetuação, a lavagem de dinheiro figura como uma das práticas mais comuns.
Este crime surgiu por volta dos anos vinte do século passado, quando as chamadas organizações criminosas procuraram meios de disfarçar e ocultar as grandes montas de bens e/ou valores, que obtinham através de outras práticas criminosas, e estes retornariam ao mercado econômico-financeiro como se fossem legais e lícitos, evitando suspeitas e saindo das possíveis rotas de investigações policiais. Como o fim último teria o de evitar igualmente o descobrimento pelas autoridades da cadeia criminal e a identificação de seus autores,
Com o crescimento do mercado econômico mundial o crime em estudo tomou dimensões mundiais, tornando-se uma preocupação universal e fazendo surgir uma neocriminalização de cunho internacional, uma vez que a maioria dos autores deste delito são poderosas organizações criminosas. Estas últimas conseguem dar uma aparência legal ao produto ilícito para refinanciarem novas atividades criminosas, fazendo com que economias inteiras de Nações caiam sob seu controle.
A Lei 9613/98, antes de ser aprovada com a sua redação, passou por várias mudanças, desde quando foi apresentado o anteprojeto de lei. Nesse sentido, devemos, antes de discutirmos a lei mencionada, analisar a evolução legislativa desse diploma.
                    Anteprojeto de lei do Ministério da Justiça de 05/07/96:
                   Sob coordenação de Francisco de Assis Toledo, Miguel Reale Júnir, Vicente Greco Filho e René Ariel Dotti.
                   O tipo legal era o seguinte:
                   “Art. 1º. Ocultar ou dissimular a verdadeira natureza, origem, localização, movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores sabendo serem oriundos, direta ou indiretamente, de crime:
                    Projeto de Lei 2688/97:
                   O tipo legal passou a ser o seguinte:
                   “Art. 1º. Ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores provenientes, direta ou indiretamente, de crime:
I-                  de tráfico ilícito de substâncias entorpecentes ou drogas afins;
II-               de terrorismo;
III-            de contrabando ou tráfico de armas, munições ou material destinado à sua produção;
IV-           de extorsão mediante seqüestro;
V-              contra a Administração Pública;
VI-           contra o sistema financeiro nacional;
VII-        praticado por organização criminosa.
Pena: reclusão de 3 (três) a 10 (dez) anos e multa”.
                    Diferenças entre o anteprojeto e o projeto:
·        anteprojeto: “sabendo serem oriundos”. Projeto: “provenientes. Tal alteração decorre da intenção do legislador de querer abarcar, também, o dolo eventual.
·        projeto: retirou o adjetivo “verdadeira” com o propósito de evitar controvérsias do tipo subjetivo.
·        projeto: ao rol foi incluído a extorsão mediante seqüestro e contra o sistema financeiro. No caso da extorsão mediante seqüestro, a sua introdução no rol se deu em virtude de reivindicação do Estado do Rio de Janeiro, tendo em vista a gravidade deste crime naquela unidade da Federação.
·        alteração dos limites de penas: no anteprojeto o mínimo era de 2 e o máximo 5 anos. No projeto, o mínimo passou a ser de 3 anos e o máximo 10.
 2 – Conceito
O conceito deste fenômeno lavagem de dinheiro ou ocultação de bens é para a maior parte da doutrina estrangeira o processo ou conjunto de operações mediante o qual bens ou dinheiro resultantes de atividades delitivas, ocultando tal procedência, se integram no sistema econômico ou financeiro (DIAZ - MAROTO, 1999, p.05).
São condutas que consistem em deixar com aparência de lícito ativos ilícitos, provenientes do cometimento de determinados delitos. A origem criminosa de dinheiro, de bens e de recurso de toda natureza é camuflada, deixando-os numa situação de aparente legalidade.
Consoante leciona Luiz Flávio Gomes (1998:229), o Ministro Evandro Lins e Silva, presidente da Comissão de Reforma do Código Penal Brasileiro, trabalhava com a seguinte definição de lavagem de dinheiro: prestar qualquer serviço financeiro destinado a encobrir a real origem de dinheiro, de qualquer outro bem ou valor.
Na ótica de doutrinador Jairo Saddi (1998:26), há alguns problemas no tal dispositivo no qual se caracteriza como tipo penal despido de conceito, vazio de conteúdo jurídico, a saber:
a)estrutural: como não se trata de crime tipicamente conceituado, mas acessório, sua estrutura depende da análise dos crimes antecedentes.
b)funcional: em face do princípio da reserva legal, há a necessidade de identificação do bem jurídico protegido. Há, todavia, pluralidade de bens, chamados, por isso, de complexos. Distinguem-se dos simples, que se referem a um único bem protegido, e dos de perigo, os quais abarcam a probabilidade de lesão.
Assim, pode-se verificar que o crime de Lavagem de Dinheiro ou ocultação de bens é de grande complexidade, o que torna seu estudo extremamente interessante e indispensável. Compreendido de inúmeras discussões controvertidas iniciando-se pela análise do próprio bem jurídico que se pretende proteger desde as suas origens mais remotas.
3 - Elementares do Tipo
Capítulo I - Artigo 1° - Ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores provenientes, direta ou indiretamente, de crime:
I a VIII – revogados pela Lei 12.683/12 ;
Pena: reclusão de três a dez anos e multa.
Primeiramente, são elementos descritivos objetivos:
Condutas principais: Ocultar ou Dissimular. Trata-se de crime de ação múltipla por apresentar uma pluralidade de núcleos
Objeto material: bens, direitos ou valores provenientes, direta ou indiretamente, de crimes;
Bem jurídico: o bem jurídico protegido é a ordem econômica e financeira, bem como a administração da Justiça.
Resultado: ocultação, dissimulação de produto ilícito, destruição de provas de crime grave precedente, manipulação do sistema financeiro e do mercado econômico por dinheiro sujo ou negro;
Sujeitos da conduta: ativo - qualquer pessoa; passivo – é o Estado - Administração Pública, Justiça Pública, ou, ainda, como preferem alguns doutrinadores difuso, devido a grande dimensão de prejudicados, direta ou indiretamente;
Atribuição: esgota-se com a configuração da tipicidade e ilicitude, impossível a verificação da culpabilidade. É crime material quanto às condutas comissivas e omissivas impróprias (comissivas por omissão) admitindo a tentativa. Quanto à mera conduta, esgota-se pelo simples fato de participar, exaurindo-se neste momento a atribuição.
Quanto aos elementos descritivos circunstanciais, quando o legislador delimita a conduta, não se fazem presentes neste artigo primeiro, caput e incisos.
Elemento normativo, sem embargos, são os crimes taxados pelo legislador brasileiro, de índole jurídica (foram descritos no tipo pelo legislador).
Elemento subjetivo do tipo: enquanto elemento subjetivo do tipo, o dolo pode ser direto ou eventual, atingindo, por exemplo, um diretor de instituição financeira que deixa de comunicar operação típica de lavagem de capitais. Afinal, ele ocupa a posição de garante em evitar o resultado.
Quanto ao parágrafo primeiro do artigo primeiro:
§1° - Incorre na mesma pena quem, para ocultar ou dissimular a utilização de bens, direitos ou valores provenientes de qualquer dos crimes antecedentes referidos neste artigo:
I - os converte em ativos lícitos;
II - os adquire, recebe, troca, negocia, dá ou recebe em garantia, guarda, tem em depósito, movimenta ou transfere;
III - importa ou exporta bens com valores não correspondentesaos verdadeiros;
As condutas principais continuam sendo ocultar ou dissimular; são condutas - meio todos os verbos dos incisos, que objetivam garantir a ocultação ou a dissimulação.
As modalidades de conduta podem ser diretas, quando o autor do delito de lavagem de dinheiro é o mesmo que o do crime precedente, e indireta, quando é terceiro que pratica o crime de lavagem, ou seja, que não praticou o delito anterior necessário para configurar a lavagem de dinheiro.
O parágrafo segundo do artigo primeiro traz uma conduta indireta em seu inciso primeiro: ´utiliza, a atividade econômica ou financeira, bens, direitos ou valores que sabe serem provenientes de qualquer dos crimes antecedentes referidos neste artigo´.
O inciso segundo do parágrafo segundo traz um delito formal de mera conduta "participar", como já ficou esclarecido anteriormente.
A tentativa é punida de acordo com o artigo 14, do Código Penal.
A lei brasileira comporta alguns problemas de relevância, primeiro, descreve como crime precedente o terrorismo, mas não existe uma tipificação do que seja o terrorismo para o Direito brasileiro; segundo, no artigo primeiro, parágrafo quarto, diz que se os crimes descritos nos incisos de I a VI forem praticados por organizações criminosas terão a pena aumentada de um a dois terços, mas ao mesmo tempo, traz o inciso VII, do artigo primeiro dizendo "praticado por organização criminosa", uma verdadeira incoerência; terceiro, no parágrafo quinto do artigo primeiro traz como causa de diminuição de pena a delação premiada, já descrita em lei própria, sendo então sem grande função este parágrafo.
O delito de lavagem de dinheiro permite a coautoria bem como a participação.
Todos que dominam funcionalmente o fato, ainda que não realizem a conduta estritamente descrita no tipo, são coautores.
A participação para que possa existir depende de um fato principal, todo o outro interveniente realiza uma atividade acessória. Essa acessoriedade, pois, que para a existência da participação é indispensável que se dê um fato principal, que é ele realizado pelo autor.
O delito de lavagem de dinheiro é autônomo, assim, quando o autor participa da execução de ambos os crimes, da lavagem e do crime precedente, incorre em concurso material, de acordo com o artigo 69, do Código Penal. Não se pode falar da aplicação do Princípio da Consunção, cujo fato posterior é consumido pelo anterior, como ocorre nos delitos de receptação e favorecimento real, pois, nestes crimes, o bem jurídico é apenas um.
Para a aplicação no princípio da consunção nos delitos de lavagem de dinheiro os crimes antecedentes teriam que incluir o desvalor da própria lavagem. As condutas de lavagem de dinheiro possuem tipificação autônoma.
Como o delito de lavagem de dinheiro não comporta o elemento pessoal culpa, e uma vez que a culpabilidade não é requisito necessário para a configuração deste crime, as excludentes só poderão ocorrer quanto à ilicitude e à tipicidade.
Causa de aumento de pena (§ 4º) - um a dois terços -, é a natureza jurídica do parágrafo quarto. Nos casos previstos nos incisos I a VI do caput deste artigo, se o crime for cometido de forma habitual ou por intermédio de organização criminosa.
Hipótese de delação premiada (§ 5º):
A pena será reduzida de um a dois terços e começará a ser cumprida em regime aberto, podendo o juiz deixar de aplicá-la ou substituí-la por pena restritiva de direitos, se o autor, co-autor ou partícipe colaborar espontaneamente com as autoridades, prestando esclarecimentos que conduzam à apuração das infrações penais e de sua autoria ou à localização dos bens, direitos ou valores objeto do crime.
Os delitos de lavagem de capitais possuem ampla repercussão. Daí porque a Lei 9.613/98, em seu art. 8° e parágrafo 1°, assinala a necessidade de ampla cooperação com as autoridades estrangeiras, expressamente autorizando a apreensão ou seqüestro de bens, direitos ou valores oriundos dos delitos antecedentes.
4 - Etapas (ou fases) da lavagem de capitais:
1.ª – A primeira etapa é a colocação do produto ilícito em circulação. A introdução, explica Fabiano Genofre:
se materializa por intermédio de depósitos bancários, compra de títulos negociáveis e de bens. Visando dificultar a identificação da origem do dinheiro, as organizações criminosas utilizam técnicas cada vez mais sofisticadas, procurando fracionar o montante utilizado, bem como proceder à aquisição e gerenciamento de atividades comerciais que usualmente empregam dinheiro em espécie.” (SILVA, José Geraldo; LAVORENTI, Wilson e GENOFRE, Fabiano. Leis Penais Especiais Anotadas, São Paulo: Millennium, 5.ª Ed., 2004, pág. 306)
2.ª – A segunda etapa é a ocultação, com o objetivo de fazer desaparecer todos os indícios ou evidências. Exemplos são os depósitos em paraísos fiscais e em contas “fantasmas”.
3.ª – A terceira etapa é a integração, fase em que os bens já se encontram com a devida aparência de licitude, podendo ser utilizados normalmente; isto é, o agente criminoso já reúne condições de adquirir imóveis, empresas, veículos etc.
A figura penal do crime de lavagem de capitais encontra-se na Lei n.º 9.613, de 3 de março de 1998.
5 - Da competência
A competência está estabelecida no art. 2.º, III, da Lei n. 9.613/98 e pode ser tanto da Justiça Federal quanto da Justiça Estadual. Será da Justiça Federal, nos termos do citado artigo, quando o crime for praticado contra o sistema financeiro ou a ordem econômico financeira, ou em detrimento de bens, serviços ou interesses da União, ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas; ou, ainda, quando o crime antecedente for de competência da Justiça Federal. Nas demais hipóteses, a competência será da Justiça Estadual.
6 – Da ação penal
A ação penal pelos crimes de lavagem de dinheiro, previstos na Lei n. 9.613/98, é pública incondicionada e não depende de processo anterior pelos crimes praticados que originaram a vantagem ilícita, pois são crimes autônomos. O art. 2.º, § 1.º, da Lei n. 9.613/98 dispõe que a denúncia será instruída com indícios suficientes da existência do crime antecedente, sendo puníveis os fatos previstos nessa lei, ainda que desconhecido ou isento de pena o autor daquele crime. Esse artigo demonstra que bastam os indícios da existência do crime anterior que originou a vantagem ilícita para a propositura da ação penal por lavagem de dinheiro.
PERGUNTA: como se revestem as condutas do crime de lavagem de dinheiro?
RESPOSTA: São condutas que consistem em deixar com aparência de lícito ativos ilícitos, provenientes do cometimento de determinados delitos. A origem criminosa de dinheiro, de bens e de recurso de toda natureza é camuflada, deixando-os numa situação de aparente legalidade.
CRIMES DE TRÂNSITO
(LEI Nº 9.503, DE 23 DE SETEMBRO DE 1997) 
Caro aluno, você poderá encontrar o texto da Lei 9503/97 no final deste módulo. 
1. Breves considerações
Inicialmente aclamado como "legislação de primeiro mundo", a verdade é que passados mais de seis anos desde que entrou em vigor, o "novo" Código de Trânsito Brasileiro ainda suscita dúvidas e inspira críticas. A sua parte criminal inovou na forma de definir tipos penais, e o objetivo original do legislador era reprimir com rigor as infrações de trânsito no sentido de garantir à coletividade maior segurança no tráfego de veículos automotores.
Assim conceitua Damásio E. de Jesus sobre este tipo de crime: “são delitos em que o sujeito desenvolve a atividade em um país sem atingir qualquer bem jurídico de seus cidadãos”.
2. Objetividade jurídica
A incolumidade pública, no que tange à segurança do tráfego de veículos automotores.
3. Sujeito ativo
Qualquer pessoa, legalmente habilitada ou não.
4. Sujeitos passivos
A coletividade (sujeito passivo principal). Secundariamente, aparecem como sujeitos passivos as pessoas eventualmente vítimas de perigo de dano. A existência de um sujeito passivo secundário é meramente acidental, não sendo necessária ao aperfeiçoamento do tipo.5. Natureza dos crimes de trânsito
Grande parte da doutrina classifica os crimes de trânsito em crimes de dano (homicídio culposo e lesão corporal culposa) e de perigo (abstrato ou presumido e concreto).
É por isso que a moderna doutrina penal conclui pela inconstitucionalidade dos delitos de perigo abstrato em nossa legislação. Essa interpretação se deve à reforma penal de 1984 que baseou nosso direito penal na culpabilidade e também aos princípios estabelecidos pela Constituição de 1988.
Por outro lado, fugindo desse conceito, a doutrina de DAMÁSIO defende que os crimes de trânsito são de lesão e de mera conduta, demonstrando ser inadequada a classificação tradicional (Crimes de Trânsito, SP, Editora Saraiva, 2002, p. 18).
Noutro sentido, LUIZ FLÁVIO GOMES escreve que os crimes de trânsito devem ser classificados de acordo com a doutrina tradicional, mas são de perigo concreto. Para este autor, os crimes de trânsito dos artigos 304, 306, 308, 309, 310 e 311"não são de perigo abstrato", isto é, "não basta ao acusador apenas comprovar que o sujeito dirigia embriagado (art. 306) ou sem habilitação (art. 309) ou que participava de ‘racha’ (art. 308), etc." (CTB: primeiras notas interpretativas, publicado no Boletim IBCCRIM n.º61/1997). Prosseguindo: Doravante exige-se algo mais para a caracterização do perigo pressuposto pelo legislador. Esse algo mais consiste na comprovação de que a conduta do agente (desvalor da ação), concretamente, revelou-se efetivamente perigosa para o bem jurídico protegido.
6. Crimes em espécies
6.1. Homicídio culposo (Art. 302, CTB)
Objeto Jurídico: que é o bem ou interesse que a Lei protege quando incrimina determinada conduta, a vida humana, protegida constitucionalmente no caput. do artigo 5º da CF.
Sujeito Ativo: é a pessoa que comete o crime, que em regra somente o Homem (Ser Humano), maior de 18 anos.         No caso do Homicídio Culposo somente o condutor de veículo automotor, habilitado ou não, trata-se de um crime próprio em razão de ser cometido por uma categoria de pessoa, por ter exigido o tipo penal a qualidade ou característica. Além de ser o condutor deve agir com culpa, causando o resultado por imprudência, imperícia ou negligência. Em crimes culposos não se admite participação, porém admite-se coautoria.
Sujeito Passivo: pessoa ou entidade que sofre os efeitos do delito (vítima do crime). Estado – sujeito passivo constante ou formal. Vítima – sujeito passivo eventual ou material.
Elemento objetivo do tipo: refere-se ao aspecto material do fato, descrito pela norma. A conduta deve ocorrer na direção de veículo automotor. Para alguns doutrinadores, o correto seria empregar o termo “matar alguém, culposamente, na direção de veículo automotor”.
Veículo Automotor: estar na posição de dirigi-lo e em movimento pelo próprio motor.
Via Pública: muito embora não esteja expresso no tipo, não se faz referência ao lugar da infração, podendo o evento suceder em qualquer lugar (garagem, estacionamento, terreno particular, canteiro de obras).
Elemento subjetivo do tipo: o tipo em exame é considerado tipo penal aberto – porque a conduta culposa não é descrita, é impossível descrever todas as hipóteses de culpa.
No crime culposo o agente viola o dever de cuidado, a atenção ou a diligência a que está adstrito, causa um resultado que poderia prever ou que previu, supõe levianamente que não ocorreria. (homem médio, padrão, modelo razoável).
Imprudência: o agente atua com participação, inconsideração, afoiteza, sem cautela, não usa poderes inibidores.
Negligência: inércia psíquica, indiferença do agente que podendo tomar as cautelas necessárias o faz por displicência ou preguiça mental.
Imperícia: incapacidade, falta de conhecimentos técnicos no exercício de arte ou profissão.
Consumação: por tratar o homicídio ser um crime de dano (efetivasse com lesão de bem jurídico) e de crime material (reclama a produção do resultado para sua consumação), somente com a morte da vítima, devidamente comprovada na forma do art. 158 do C. P. P..
Tentativa: não se admite na forma culposa.
6.2. Lesões Corporais Culposas (Art. 303)
Objetividade jurídica: incolumidade física das pessoas integridade física e psíquica da pessoa saúde e integridade corporal.
Sujeito ativo: condutor de veículo, habilitado ou não, deve estar na direção do veículo. Um motociclista esteja dirigindo adequadamente, quando um pedestre sem respeitar a sinalização, provoca um acidente, vindo o motociclista cair ao solo ocasionando várias lesões corporais. O pedestre será responsabilizado? C. P. ou C. T. B.? Certamente incidirá o art. 129 § 6º do C. P.
Sujeito passivo: qualquer pessoa, considerando que pessoa o ser vivo já nascido, muito embora em Instituto do Direito Civil tutela-se desde a concepção.
Concurso de pessoas: também só admite a coautoria.
Elemento objetivo do tipo: mesmas considerações do homicídio, ou seja, praticar lesão, deve ser entendido como ofender ou lesionar culposamente... tipo penal aberto – comportamento não é determinado.
Elemento subjetivo do tipo: culpa e as suas modalidades.
Tentativa: inadmissível
Consumação: com a efetiva ofensa à integridade comprovada pela forma do art. 158 do C. P. P. – obs.: descrever crime de dano e material – lesão a bem jurídico com produção de resultado.
Ação penal: pública condicionada à representação do ofendido, ou seja, o Estado necessita da condição ou procedibilidade para exercer o Ius puniendi – prazo decadencial de 6 meses.
Cabível o perdão judicial.
Lei 9.099/95: muito embora são aplicáveis os dispositivos desta lei, a lesão corporal culposa do C.T.B. não é considerada como delito de “menor potencial ofensivo”.
As causas de aumento de pena no homicídio culposo também são aplicáveis nos de lesão corporal
6.3. Omissão de Socorro (Art. 304)
Objetividade jurídica: a vida e a saúde das pessoas.
Sujeito ativo: apenas o condutor do veículo envolvido em acidente com vítima.
A este segundo o próprio C. T. B. impõe o dever de prestar socorro.
O motorista não envolvido no acidente, bem como o passageiro, ou o transeunte se omitirem-se no socorro, responderão pelo art. 135 do C. P.
Sujeito passivo: a vítima do acidente de trânsito que precise de auxílio, socorro. (grave e iminente perigo).
Trata-se de crime omissivo próprio ou puros: são os que perfazem simples abstenção, independentemente de um resultado posterior. Conduta negativa de não fazer o que a lei determina, consiste na omissão da transgressão da norma jurídica.
Elemento subjetivo do tipo: consiste na vontade livre e consciente de não prestar socorro à vítima de acidente, com a consciência do perigo da não prestação do socorro. Portanto, é o dolo, não admite-se modalidade culposa.
Consumação: ocorre com a omissão do agente, ou seja, é de natureza formal (que são aqueles cuja a lei descreve uma ação e um resultado, mas a redação do dispositivo deixa claro que o crime consuma-se no modo da ação, sendo o resultado mero exaurimento do delito). Após a produção do perigo, o condutor não socorre ou não aciona a autoridade pública para proceder o socorro o crime de omissão de socorro se consuma, desde que não tenha agido com culpa no acidente.
Lesões leves: o agente responderá mesmo que as lesões sejam leves ou então que a omissão seja suprida por terceiro, incide a figura criminosa em relação ao espírito da lei que impõe o dever de solidariedade humana.
Tentativa: não se admite.
Concurso de pessoas: pode haver participação de outra pessoa em instigar, como também pode haver a co-autoria.
Ação Penal: Pública Incondicionada – a autoridade pública lavrará o TC e encaminhará ao JECRIM nos termos da Lei Nº 9099/95. Aplica-se: transação penal e a suspensão condicional do processo.
PERGUNTA: nos crimes de omissão de socorro, quem pratica o referido crime, responde pelo art. 135, CP ou perante o CTB?
RESPOSTA: se na condução de veículo automotor, responderá perante o CTB.
6.4. Evasão do Local doAcidente (Art. 305)
Objetividade Jurídica: É a administração da Justiça.
Sujeito Ativo: é o condutor de veículo automotor envolvido em acidente de trânsito.
Sujeito Passivo: por ser um crime pluriofensivo, primariamente figura o Estado, representado pela Administração da Justiça interessada na responsabilização penal ou civil do autor do fato. Outro sujeito passivo é a pessoa economicamente interessada na reparação civil.
Elemento Objetivo do Tipo: é a ação de distanciar-se ou afastar-se para não ser responsabilizado.
Elemento Subjetivo do Tipo: consiste na conduta dolosa, onde o agente dispõe de controle livre e consciente de afastar-se do local.
Elemento Subjetivo Especial do Tipo: consiste no porquê do afastamento para fugir da responsabilidade civil e penal.
Consumação: crime formal, não exige produção de resultado, portanto, no momento da fuga se dá a consumação, independentemente de o agente atingir ou não sua finalidade de eximir-se da responsabilidade.
Tentativa: é admissível.
Ação Penal: Pública Incondicionada. A autoridade policial lavrará o TC encaminhando-o ao JECRIM (transação e Suspensão Condicional do Processo).
6.5. Embriaguez ao Volante (Art. 306)
Objetividade Jurídica: Imediata – Segurança viária e mediata – a incolumidade pública.
Incolumidade Pública: é a segurança de todos os cidadãos em geral, sem determinação e limitação de pessoas contra danos físicos pessoais e patrimoniais, derivados do desencadeamento por obra do homem, de forças naturais, do alterado funcionamento dos meios de transporte e de comunicação, etc.
Sujeito Ativo: qualquer pessoa que seja condutor de veículo automotor, habilitado ou não, porém se estiver se estiver conduzindo outro tipo de veículo poderá ser enquadrado no art. 34, LCP
Sujeito Passivo: a coletividade, cuja incolumidade é resguardada, porém, pode haver pessoa eventualmente exposta ao perigo, a “dano potencial”.
Elemento Objetivo do Tipo: conduzir veículo automotor com a capacidade psicomotora alterada em razão da influência de álcool ou de outra substância psicoativa que determine dependência. O tipo penal apresenta um único núcleo (conduzir), razão pela qual o é classificado como crime de ação única. O tipo prevê ainda que as condutas serão constatas pela concentração igual ou superior de 6 decigramas de álcool por litro de sangue / 0,3 miligrama de álcool por litro de ar alveolar ou sinais que indiquem a alteração da capacidade psicomotora.
 Substâncias de Efeito Análogo: podendo ser os entorpecentes ou os estimulantes: maconha, cocaína, morfina, LSD, ópio de derivados, éter, clorofórmio, alucinógenos.
Provas: bafômetro, exame de sangue, exame clínico e o testemunhal.
Elemento subjetivo do tipo: é o dolo, que consiste na vontade livre e consciente de dirigir nas condições descritas.
Consumação: no momento em que o agente conduz o veículo automotor sob efeito de álcool ou substância de efeito análogo de maneira perigosa. Delito instantâneo.
Tentativa: há divergência doutrinária. Aqueles que defendem a tese da possibilidade apontam a hipótese em que o condutor embriagado se coloca na direção de veículo automotor, fazendo-o funcionar, mas é impedido por outrem.
Derrogação do art. 34 da LCP:
Em encontro realizado na Escola Superior do Ministério Público em 1998 concluiu-se:
“O artigo 34 da LCP foi parcialmente revogado, uma vez que a ocorrência de dirigir embriagado ou imprimir velocidade incompatível enseja a incidência dos artigos 306 ou 311 do CTB, ao passo que as demais formas de direção perigosa (fazer ziguezague, cavalo-de-pau, fechada proposital, empinar moto) acarreta a aplicação da norma contravencional.
Ação Penal: Pública Incondicionada – competência da Justiça Comum, deve ser instaurado inquérito policial.
Lei 9.099/95: embora não seja crime de menor potencial ofensivo, em tese são aplicáveis a transação penal (na hipótese de produção de danos) e a suspensão condicional do processo.
6.6. Violação da Suspensão ou Proibição (Art. 307)
Objetividade jurídica: Administração Pública, prestigiando-se a autoridade administrativa ou judicial que impôs a penalidade.
Sujeito ativo: condutor do veículo a quem foi imposto à penalidade.
Sujeito passivo: o Estado, titular da Administração Pública.
Elemento objetivo do tipo: violar (transgredir, infringir, desobedecer) é essencial que a decisão aplicada tenha trânsito em julgado.
Elemento subjetivo do tipo: é o dolo, exigindo-se prévia e efetiva ciência do agente acerca da penalidade que se lhe fora imposta.
Consumação: quando imposta a sanção, o condutor no instante em que dirigi veículo consuma-se o crime, pois é um crime de mera conduta, não exige produção de resultado.
Tentativa: é admissível: exemplo: o condutor que impedido por alguém de movimentar veículo, após ter dado a partida, ou então aquele que através de ato fraudulento ingressa com pedido junto à repartição de trânsito, sendo descoberto pela autoridade.
Concurso de agentes: é possível participação para que o condenado viole a penalidade imposta, através de induzimento, instigação ou auxílio.
Ação Penal: Pública Incondicionada.
Lei 9.099/95: Apesar de trata-se de crime de menor potencial ofensivo, será de difícil aplicação a transação penal e suspensão condicional do processo, porque o agente, para ter violado a restrição imposta na esfera judicial, foi condenado ou então já teria transacionado, portanto, as condições legais para aplicação estariam impedidas.
Em relação ao parágrafo único – tal entrega deve ocorrer quando transitada em julgado a sentença condenatória, e intimado o condenado a entregar os documentos (Permissão ou Habilitação) ao Juiz.
6.7. Participação em competição não autorizada (Art. 308)
Objetividade jurídica: incolumidade pública (segurança viária da coletividade) e a incolumidade privada (segurança individual dos participantes e transeuntes).
Sujeito ativo: qualquer pessoa que esteja participando de competição não autorizada, habilitado ou não. Por tratar de crime de concurso necessário (plurissubsistente) o tipo exige dois ou mais agentes.
Sujeito passivo: a coletividade e eventualmente as pessoas que assistem o evento, como também os transeuntes.
Elemento objetivo do tipo: participar na direção de veículo automotor – tomar parte, associar; via pública - o racha em lugar deserto ou propriedade privada não caracteriza o crime;  corrida - disputa ou competição não seja autorizada por autoridade competente. (Art. 67 do CTB); desde que resulte dano potencial à incolumidade pública ou privada: deve ocorrer dano, seja de velocidade excessiva ou de elevado poder ofensivo (caminhão), manobras arriscadas, perigosas.
Elemento subjetivo do tipo: é o dolo, inexiste forma culposa, vontade livre e consciente de fazer parte da competição ilegal.
Consumação: quando a participação tem início.
Tentativa: é possível quando os condutores estão prontos para iniciar a disputa e são impedidos pela ação policial ou por terceiros.
Ação Penal: Pública Incondicionada. A autoridade policial deverá instaurar o inquérito policial.
Lei 9.099/95: Não se trata de crime de menor potencial ofensivo, porém são aplicáveis a transação penal e suspensão condicional do processo.
6.8. Dirigir sem habilitação (Art. 309)
Objetividade jurídica: incolumidade pública no que se refere à segurança das pessoas no trânsito.
Sujeito ativo: qualquer pessoa.
Sujeito passivo: a coletividade.
Elemento objetivo do tipo: é dirigir, por em movimento, fazer manobra, operar mecanismo de controle fazendo o veículo seguir um trajeto e rumo. Imprescindível em via pública, pois dirigir veículo no interior de uma fazenda não caracteriza o ilícito.
Elemento subjetivo do tipo: é o dolo, inexiste forma culposa.
Consumação: no momento em que se dirige o veículo de forma irregular gerando perigo de dano.
Elemento normativo do tipo: “sem a devida permissão para dirigir, ou habilitação, ou ainda, cassado o direito de dirigir”. Se existira permissão ou a habilitação o fato será atípico.
Tentativa: é inadmissível, por ser o crime unissubsistente ação composta de um só ato.
Crime de perigo à coletividade: revelado pela expressão “perigo de dano” que constitui elemento da figura típica. Para configuração do crime, o motorista deve dirigir o veículo em habilitação e de maneira irregular, perigosa, expondo um número indeterminado de pessoas a efetivo e real perigo (perigo coletivo).
Pena: detenção, 06 meses a 01 ano, ou multa
Ação Penal: Pública Incondicionada. A autoridade policial deverá elaborar o TC encaminhando-o ao Juizado Especial Criminal.
Lei 9.099/95: trata-se de crime de menor potencial ofensivo, aplicação da transação penal e suspensão condicional do processo.
6.9. Entrega da direção de veículo a quem não tem condições de dirigir (Art. 310)
Objetividade jurídica: incolumidade pública.
Sujeito ativo: qualquer pessoa, proprietária, possuidora ou mera detentora do veículo automotor.
Sujeito passivo: a coletividade.
Concurso de pessoas: é possível nas condições de partícipe, ou seja, daquele que instiga o autor a proceder com a forma descrita no tipo.
Elemento objetivo do tipo: consiste nas condutas de permitir, confiar ou entregar a direção de veículo automotor a pessoa não habilitada; com habilitação cassada; com direito de dirigir suspenso; que por estado de saúde, física ou mental, não esteja em condições de conduzi-lo com segurança; que, por embriaguez, não esteja em condições de dirigir.
Elemento subjetivo do tipo: é o dolo, que consiste na vontade livre e consciente em entregar veículo automotor às mãos de pessoas sem direito de dirigir (situação de proibição jurídica) ou sem condições pessoas de fazê-lo (situação de proibição de fato).
Consumação: quando se coloca o veículo em movimento pela pessoa a quem foi permitida, confiada ou entregue a direção. Trata-se de crime de perigo, que se consuma com a produção deste. A tentativa é possível, a exemplo de quando aquela pessoa aciona o motor e antes de movimentá-lo, porém, é impedida por policiais.
Concurso de agentes: é possível, quando os pais consentem que filho não habilitado.
Ação Penal: Pública Incondicionada. A autoridade policial deverá elaborar o TC encaminhando-o ao Juizado Especial Criminal. Trata-se de crime de menor potencial ofensivo – transação penal e suspensão condicional do processo.
6.10. Excesso de velocidade em determinados locais (Art. 311)
Objetividade jurídica: incolumidade pública, em relação da segurança viária.
Sujeito ativo: qualquer pessoa, habilitado ou não que esteja na direção do veículo.
Sujeito passivo: a coletividade, de forma imediata e a pessoa eventualmente exposta a perigo.
Concurso de pessoas: pode haver participação, na hipótese de acompanhante no veículo, induzir ou instigar o condutor a desenvolver velocidade, desde que exista o liame subjetivo ou psicológico, entre o condutor e o partícipe.       
Elemento objetivo do tipo: consiste em transitar com o veículo imprimindo velocidade excessiva, sabendo que tal atitude compromete a segurança viária.         Trafegar – andar no tráfego, transitar. Termo incorreto, pois o certo seria conduzir ou dirigir.
Elemento subjetivo do tipo – é o dolo, que consiste na vontade livre e consciente em dirigir em velocidade excessiva, presente o discernimento de que a conduta expõe a coletividade a perigo de dano.
Consumação: quando o condutor nos locais designados no tipo, desenvolve no veículo velocidade incompatível com a segurança das pessoas. Não admite tentativa, pois é crime unissubsistente (infração que se aperfeiçoa com um único ato).
Concurso de agentes: é possível em participação, acompanhante de veículo que instiga o condutor a desenvolver velocidade incompatível.
Ação Penal: Pública Incondicionada. A autoridade policial deverá elaborar o TC encaminhando-o ao Juizado Especial Criminal, crime de menor potencial ofensivo – transação penal e suspensão condicional do processo.
6.11. Fraude Processual (Art. 312)
Objetividade jurídica: Administração da Justiça, fidelidade das provas, necessária pra o correto julgamento da questão civil ou criminal submetida a justiça.
Sujeito ativo: qualquer pessoa, pouco importando que tenha ou não interesse na solução da lide.
Sujeito passivo: o Estado, e eventualmente pode ser terceiro lesado, com a fraude (sujeito passivo secundário).
Concurso de pessoas: pode haver participação, induzindo, instigando ou auxiliando o autor à inovação artificiosa, bem como a coautoria, quando realiza os elementos do tipo junto com o autor, em ambos os casos com liame subjetivo.
Elemento objetivo do tipo: o agente, em caso de acidente de trânsito com vítima, na pendência de procedimento preparatório, inquérito policial ou processo penal, ainda que não iniciados, modifica, de forma ardilosa, os objetos materiais (estado de lugar, de coisa ou de pessoa), alterando a situação preexistente, com o fito de induzir a erro o agente policial, o perito ou o juiz.  
Elemento subjetivo do tipo: além do dolo, que consiste na vontade livre e consciente de inovar artificiosamente (elemento subjetivo geral), há outro elemento subjetivo, com a finalidade de induzir a erro (elemento subjetivo específico) o agente policial, perito ou juiz..
Consumação: no momento da inovação, independente de qualquer prejuízo. Por ser um crime formal, seu momento consumativo é antecipado, não reclama de produção de resultado.
Tentativa: é possível, porque é um crime plurissubsistente.
Concurso de agentes: é possível coautoria e participação, psicologicamente vinculados à inovação artificiosa.
Ação Penal: Pública Incondicionada. 
Lei 9455/97
Lei de Tortura 
                            Artigo 1º - Constitui crime de tortura:
                             Inciso I: constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental:
                            a) com o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira pessoa;
                            b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa;
                            c) em razão de discriminação racial ou religiosa.
                             Pena: reclusão, de 2 a 8 anos.
                             Objetividade jurídica: a incolumidade física e mental das pessoas.
                             O dispositivo típico apresenta o núcleo constranger, que significa forçar a vítima a fazer ou deixar de fazer algo. Por apresentar um único núcleo, o crime em questão é classificado como de ação única.
Meio de execução: violência (consiste no emprego de qualquer desforço físico sobre a vítima - ex/ socos) ou grave ameaça (consiste na promessa de mal grave, injusto e iminente ex/ ameaça de estupro).
                             Consumação: trata-se de um crime material, em que consta no tipo a conduta e o resultado, havendo a necessidade da ocorrência deste último para que o crimes se consume. Assim, o crime só se consumará quando a vítima sobre física ou mentalmente.
                             Tentativa: sendo o crime material, é possível. Assim, quando o agente empregar a violência ou a grave ameaça, mas mesmo assim não atingir o resultado (a vítima não sobre física ou mentalmente), haverá tentativa.
                             Elemento subjetivo: encontramos nas três alíneas.
                            Nos casos da alínea ‘a’ e ‘b’, mesmo que a especial finalidade do agente não venha a ocorrer o crime estará consumado se a vítima vier a ser submetida a sofrimento físico ou mental.
                             Questão intrigante:
                            Haveria crime autônomo de tortura, em concurso com o roubo, quando o agente emprega a violência ou grave ameaça para obter o número da senha do cartão do banco ?
                            Resp/ Neste caso, como a finalidade do agente é a subtração, e não a tortura (aliás, a tortura éo meio de execução do roubo), o roubo a absorverá. obs/ agora, se o agente tortura a vítima para que ela realize um furto (alínea ‘b’), por exemplo; responderá pelo furto em concurso material com a tortura. É possível, também, no caso da alínea ‘c’ o agente responder pela tortura em concurso material com racismo.
                             Deve-se observar que a lei não elencou a hipótese de ter como motivação o sadismo, razão pela qual, nestes casos, o agente deverá responder por lesão corporal ou constrangimento ilegal.
                             Sujeito ativo: qualquer pessoa, mas se o agente for funcionário público, a pena será aumentado de 1/6 a 1/3.
                             Sujeito passivo: não só a pessoa contra quem é dirigida a violência ou grave ameaça, mas também a pessoa prejudicada pela conduta.
                             Ação penal: pública incondicionada.
                             Inciso II: submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar castigo ou medida de caráter preventivo:
                             Pena: reclusão, de 2 a 8 anos.
                             Objetividade jurídica: incolumidade física e mental da pessoa sujeita a guarda, poder ou autoridade de outrem.
                             Sujeito ativo: crime próprio, pois só pode ser cometido por que exerce autoridade, guarda ou poder sobre a vítima.
                             Sujeito passivo: é quem está sujeito poder, guarda ou autoridade do agente.
                             Meios de execução: crime de ação livre, podendo ser cometido por qualquer meio - omissivo ou comissivo.
                             Consumação: quando a vítima é submetida a intenso sofrimento físico ou mental.
                             Tentativa: é possível.
                             Elemento subjetivo: com o fim de aplicar castigo ou medida de caráter preventivo. obs/ há necessidade do chamado animus corrigendi.
                             Elemento normativo: intenso sofrimento ...
                            obs/ a expressão intenso é que diferencia a tortura dos maus-tratos, previsto no artigo 136, CP.
                             Ação penal: pública incondicionada.
                             § 1º: na mesma pena incorre quem submete pessoa presa ou sujeita a medida de segurança a sofrimento físico ou mental, por intermédio da prática de ato não previsto em lei ou não resultante de medida legal.
                             obs/ nesta hipótese, vislumbramos os casos de condenados que são submetidos a tratamentos não previstos na LEP, tais como: cela escura, solitária, aplicação de choques etc, caracterizadores da tortura.
                             § 2º: aquele que se omite em face dessas condutas, quando tinha o dever de evitá-las ou apurá-las, incorre na pena de detenção de 1 a 4 anos.
                             Hipótese de crime omissivo. Ocorre, porém, que este parágrafo apresenta um erro, pois quem tem o dever de evitar ou apurar tais condutas, tem o dever jurídico de agir, e se não o faz responde pelo resultado, ou seja, pela tortura. Mas não é isto que ocorre, pois a pena fixada neste caso é mais branda, ao invés da reclusão, foi fixada a detenção, e pela metade do tempo daquela.
                            Nada obstante, analisando a figura de quem deve apurar ou evitar a ocorrência destas condutas, chegamos à resposta de somente os policiais podem fazê-lo, razão pela qual quando responderem nesta modalidade omissiva, não poderão ter a pena aumentada em razão do fato de serem policiais, conforme prescreve o parágrafo quarto.
                             § 3º: se resulta lesão corporal de natureza grave ou gravíssima, a pena é de reclusão de 4 a 10 anos; se resulta morte, a reclusão é de 8 a 16 anos.
                             Devemos nos atentar à figura da morte resultante da tortura, pois, neste caso, estamos diante de um crime preterdoloso, em que há dolo no antecedente e culpa no consequente.
                            Pois bem, a responsabilização penal poderá se dar nos seguintes moldes:
                            - caso o agente tenha a finalidade de matar, e utiliza a tortura para atingir este fim, ele responderá por homicídio qualificado pela tortura;
                            - caso o agente torture o agente para um dos fins previstos na lei (artigo 1º, inciso I e alíneas), e sobrevenha morte, a responsabilização se dará pela tortura com a pena agravada em razão da morte;
                            - caso o agente torture e vítima e, após a conclusão de tal ato, simplesmente execute a mesma. Neste caso, responderá por tortura em concurso material com homicídio qualificado (assegurar ocultação ou impunidade).
                             § 4º: aumenta-se a pena de um sexto até um terço:
                            I. se o crime é cometido por agente público;
                            II. se o crime é cometido contra criança, gestante, deficiente e adolescente;
                            III. se o crime é cometido mediante seqüestro.
                             Inciso I - aplica-se a causa de aumento de pena quando o agente for funcionário público, conforme o que preceitua o artigo 327, CP, desde que, obviamente, haja nexo de causalidade entre a conduta e a função desempenhada pelo agente.
                            Inciso III - para que incida esta causa, deverá a privação da liberdade durar tempo prolongado - absolutamente desnecessário.
                             Mesmo que se reconheça mais de uma causa de aumento, o juiz só poderá aplicar uma.
                             § 5º: a condenação acarretará a perda do cargo, função ou emprego público, e a interdição para seu exercício pelo dobro do prazo da pena aplicada.
                             Este efeito da sentença não é automático, muito embora obrigatório, devendo, pois, o MP interpor embargos de declaração no caso de omissão.
                             § 6º: o crime de tortura é inafiançável e insuscetível de graça ou anistia.
                             § 7º: o condenado por crime previsto nesta Lei, salvo a hipótese do § 2º, iniciará o cumprimento da pena em regime fechado.
                             Artigo 2º: O disposto nesta Lei aplica-se ainda quando o crime não tenha sido cometido em território nacional, sendo a vítima brasileira ou encontrando-se o agente em local sob jurisdição brasileira.
                             Para que esta Lei seja aplicada, deve: a vítima ser brasileira (pouco importando aonde ela esteja) ou estar o agente em território nacional.
Contravenções Penais
Decreto 3688/41 
O Direito Penal, para quem o concebe em seu sentido formal, é o ramo do Direito Público que estabelece as infrações penais, bem como lhes atribui as respectivas penas. Entende-se como sendo o conjunto de normas jurídicas estabelecidas pelo Estado, que associam o crime como fato, e a pena como legítima conseqüência. Já em sentido material, considera-se crime os comportamentos considerados altamente reprováveis ou danosos ao organismo social, que afetam gravemente bens jurídicos indispensáveis à sua própria conservação e progresso.
O Direito Penal tem a finalidade de proteger os bens jurídicos mais importantes (vida, liberdade, patrimônio, etc.), servindo, também como ferramenta de orientação social, bem como prevenir as infrações, mediante o exemplo da pena (prevenção geral) e que esta sirva como forma de punição (prevenção especial).
Além disso, tem como objeto principal as infrações penais, as quais, no Brasil, foram adotadas duas espécies: o crime, considerado o mesmo que delito, e a contravenção. Entretanto, apesar de existirem duas espécies, os conceitos são bem parecidos, diferenciando-se apenas na gravidade da conduta e no tipo (natureza) da sanção ou pena.
Com relação à gravidade da conduta,os crimes e delitos se distinguem por serem infrações mais graves, enquanto a contravenção refere-se às infrações menos graves, sendo, inclusive, chamadas pelo Direito italiano de delito-anão.
A legislação brasileira, ao definir as espécies de infração penal, apresentou um sistema bipartido, ou seja, duas espécies (crime = delito ≠ contravenção). Situação diferente ocorre com alguns países tais como a França e a Espanha que adotaram o sistema tripartido (crime ≠ delito ≠ contravenção).
Por serem os crimes condutas mais graves, são repelidos através da imposição de penas mais graves (reclusão ou detenção e/ou multa). As contravenções, por serem condutas menos graves, são sancionadas com penas menos graves (prisão simples e/ou multa).
A escolha se determinada infração penal será crime/delito ou contravenção é discutível se é puramente política ou não, da mesma forma que o critério de escolha dos bens que devem ser protegidos pelo Direito Penal. Além disso, o que hoje é considerado crime pode vir, no futuro, a ser considerado infração e vice-versa. O exemplo disso aconteceu com a conduta de portar uma arma ilegalmente. Até 1997, tal conduta caracterizava uma mera contravenção, porém, com o advento da Lei 9.437/97, esta infração passou a ser considerada crime/delito.
Em se tratando de diferença entre crime e contravenção, em relação ao perigo de ofensa ou lesão ao bem ou interesse.
Neste sentido esclarece Manoel Pedro Pimentel:
...contra a ofensa ou a lesão dos bens e interesses jurídicos do mais alto valor, o legislador coloca duas linhas de defesa: se ocorre dano ou o perigo próximo do dano, alinham-se os dispositivos que, no Código Penal, protegem os bens e interesses através da incriminação das condutas ofensivas, lesivas, causadoras de dano ou criadoras de perigo próximo, resultando as categorias dos crimes de dano e de perigo; se o perigo de ofensa ou de lesão não é veemente, e se o bem ou interesse ameaçados não são relevantes, alinham-se na Lei das Contravenções Penais os tipos contravencionais de perigo abstrato ou presumido e de perigo concreto. Conclui-se, portanto, que a Lei das Contravenções Penais forma a primeira linha de combate ao crime, ensejando a inocuização do agente quando ele ainda se encontra no simples estado perigoso. Com sanções de pequena monta, prisão simples ou multa, impostas mediante processo sumaríssimo, alcança-se o principal objetivo que é coatar a conduta perigosa, capaz de ameaçar, no seu desdobramento, o bem ou interesse tutelados. (Manoel Pedro Pimentel - Contravenções Penais, São Paulo: Revista dos Tribunais, p.3)
 Parte Geral:
 Artigo 1°: Dispõe sobre o Princípio da Especialidade.
                    Correlato ao artigo 12, CP.
                   Diante disto, todas as regras gerais do CP são aplicáveis às contravenções, salvo se o presente Decreto dispuser de modo diverso.
 Artigo 2°: Aplicação da Lei Penal no Espaço - Territorialidade
                    A lei de contravenções é aplicável somente aos fatos ocorridos no território nacional, tendo em consideração para tanto o disposto no artigo 5° do CP. Por consequência do disposto no artigo 2° não há que se falar em extraterritorialidade para as contravenções.
 Artigo 3°: Voluntariedade da ação ou omissão.
                    Para a caracterização da conduta basta a ação ou omissão voluntária, sendo o dolo e culpa exigíveis somente quando o dispositivo da parte especial assim o exigir. Elemento subjetivo da contravenção penal: é a voluntariedade. “É a simples vontade, despida de qualquer finalidade ou direção. Correspondente ao querer, prescindindo de que o comportamento seja dirigido a certo efeito” (Damásio de Jesus – Lei das Contravenções Penais anotada, 8. Ed. São Paulo: Saraiva, 2001, p. 26).
 Artigo 4°: Não é admitida a tentativa contravencional
                   Tendo em vista que o artigo em questão afasta a responsabilização na modalidade tentada, conclui-se que a natureza jurídica do dispositivo é de excludente da ilicitude.
 Artigo 5° e 6°: Penas
                   As penas são: prisão simples e multa.
                   A pena de prisão simples é privativa de liberdade, não podendo ser superior a 5 anos. A pena de multa deve ser calculada com base no critério bifásico previsto no Código Penal.
 Artigo 7°: Reincidência
Reincidência: etimologicamente, a palavra reincidência exprime o ato ou efeito de incidir novamente, de recair, isto é, uma obstinação, uma teimosia na prática ou abstenção de certa conduta genericamente determinada. Embora o significado de reincidência encampe qualquer espécie de recaída, interessa-nos, em sede de Direito Penal, especificamente a reincidência criminosa, a qual encontra-se definida pelo nosso diploma penal, nos seguintes termos:
art. 63 - Verifica-se a reincidência quando o agente comete novo crime, depois de transitar em julgado a sentença que, no País ou no estrangeiro, o tenha condenado por crime anterior.
Também sobre esta mesma matéria, de acordo com o Decreto-Lei 3.688/41, dispõe o seu art. 7º - Verifica-se a reincidência quando o agente pratica uma contravenção depois de passar em julgado a sentença que o tenha condenado, no Brasil ou no estrangeiro, por qualquer crime, ou, no Brasil, por motivo de contravenção. Portanto, é possível a reincidência nas contravenções.
Assim, interpretando essas duas normas penais conjuntamente e, conseqüente, solucionando-se esse conflito aparente de normas, em face do critério da especialidade e considerando os dois pressupostos para a caracterização da reincidência: o trânsito em julgado de sentença penal condenatória por crime anterior e a prática do novo crime, temos:
As hipóteses de reincidência (art. 63 do CP/ art. 7º da Lei de Contravenções Penais):
a) o sujeito que, após ser condenado irrecorrivelmente pela prática de um crime, no Brasil ou no exterior, comete outro crime - deve ser tido como reincidente, em razão do art. 63 do CP;
b) o sujeito que, após ser condenado irrecorrivelmente pela prática de um crime, no Brasil ou no exterior, comete uma contravenção penal - deve ser tido como reincidente, em razão do art. 7°, 1° parte, da LCP;
c) o sujeito que, após ser condenado irrecorrivelmente pela prática de uma contravenção, no Brasil, comete outra contravenção penal - deve ser tido como reincidente, em razão do art. 7°, 2 parte, da LCP;
d) o sujeito que, após ser condenado irrecorrivelmente pela prática de uma contravenção, no Brasil, comete um crime - não deve ser tido como reincidente, em razão do art. 63 do CP e art. 7° da LCP, ou seja, Crime (transitado em julgado) + crime (cometimento): é reincidente.
Art. 7º da LCP – crime (transitado em julgado) + contravenção penal (cometimento): é reincidente.
Art. 7º da LCP – contravenção penal (transitado em julgado) + contravenção penal (cometimento): é reincidente.
Não se caracteriza a reincidência: contravenção penal (transitado em julgado) + crime (cometimento): não é reincidente - gera maus antecedentes.
Vale destacar os exemplos trazidos pelo professor Damásio com o fim de explicar a necessidade do trânsito em julgado da sentença penal condenatória. Vejamos:
"a) o sujeito comete um crime no dia 10 de janeiro, vindo a praticar outro no dia 12 de janeiro: não é reincidente (trata-se de reiteração criminal);
b) o sujeito comete um crime; no transcorrer da ação penal, vem a cometer outro crime: não é reincidente;
c) o sujeito pratica um crime, sendo condenado; recorre; enquanto os autos se encontram no Tribunal, vem a cometer outro: não é considerado reincidente;
d) o sujeito, condenado irrecorrivelmente pela prática de um crime, dias após pratica novo delito; é considerado reincidente".
Assim, em decorrência desse conceito legal de reincidência, o qual exige a prática de novo crime depois da condenação penal transitada em julgado, poderá o agente manter a primariedade, embora condenado por vários crimes. Para tanto, basta que ele não tenha praticado nenhum dos delitosapós o trânsito em julgado da primeira condenação.
Outras considerações:
A reincidência ocorrerá após a prática de crime ou contravenção no Brasil e após a prática de crime no estrangeiro. Não há reincidência após a prática de contravenção no estrangeiro.
O Brasil adotou o sistema da temporariedade da reincidência, art. 64 do CP.
Transação da pena não gera reincidência nem maus antecedentes.
A reincidência não se comunica aos demais agentes e os participes do crime.
A reincidência é comprovada por certidão cartorária. Todavia, a jurisprudência admite
A folha de antecedentes para comprovar a reincidência. 
Artigo 8°: Erro de Proibição
                   À luz da Lei 7210/84, que reformou a parte geral do CP, a natureza jurídica do presente dispositivo é de causa excludente da culpabilidade, na modalidade erro de proibição.
 Artigo 11: Sursis e Livramento Condicional
                   A diferença do Sursis das contravenções e daquele aplicável aos crimes recai exclusivamente no período de prova, que para o artigo em questão é de 01 a 03 anos, enquanto que para os crimes dependerá da espécie de sursis. Em relação ao livramento condicional, aplica-se o disposto no artigo 83 do CP.
 PERGUNTA: como se diferencia, segundo a doutrina, o crime, do delito, da contravenção penal?
RESPOSTA: Com relação à gravidade da conduta, os crimes e delitos se distinguem por serem infrações mais graves, enquanto a contravenção refere-se às infrações menos graves, sendo, inclusive, chamadas pelo Direito italiano de delito-anão.

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